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AULA 02 Espécies de Leis (2018.1)

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CEDERJ - UFRRJ 
CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS 
INSTITUIÇÕES DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 
PROFESSOR: Afranio Faustino de Paula Filho 
 
AULA 02 - NOTA DE AULA COMPLEMENTAR: 
 
ESPÉCIES DE LEIS: 
 
Como tivemos oportunidade de frisar no caderno didático, no penúltimo Pará-
grafo da página 43, “as diversas leis interagem a fim de formar um todo harmonioso”. 
Em seguida, no mesmo texto fazemos um pequeno comentário sobre algumas destas 
leis. 
O que propomos neste material complementar é que você conheça um pouco 
mais sobre essas espécies de leis em sentido estrito, que, conforme já explicado na 
página 33 do caderno didático, são aquelas relacionadas no art. 59, da Constituição 
Federal, que são: 
 as Emendas à Constituição, 
 as leis complementares, 
 as leis ordinárias, 
 as leis delegadas, 
 os decretos legislativos e 
 as resoluções. 
 
As medidas provisórias, embora relacionadas no mesmo artigo, são elabo-
radas pelo Presidente da República, ou seja, pelo Poder Executivo, sendo, portan-
to, leis em sentido amplo. 
 
Além das medidas provisórias são também leis em sentido amplo os decretos, 
os regulamentos, as portarias, e várias outras expedidas pelos poderes Executivo e 
Judiciário, através de seus diversos órgãos. 
 
Segue-se um breve comentário sobre as diversas espécies de leis até aqui men-
cionadas: 
 
 CONSTITUIÇÃO - é considerada a lei mais importante de um país, à qual to-
das as outras estão submetidas. Em princípio, ela deve ser elaborada por uma 
Assembléia Nacional Constituinte, isto é, por um grupo de pessoas escolhi-
das pelo povo com a única atribuição de escrevê-la. 
Grifamos a expressão “deve ser”, porque, em casos excepcionais, como o 
de nossa atual Constituição Federal brasileira, a sua elaboração coube ao Con-
gresso Nacional, que, além de suas competências normais de Poder Legislativo, 
no período de elaboração da Constituição, entre 1986 e 1988, funcionou tam-
bém como Assembléia Constituinte, tendo, por este motivo, sido denominado 
pela doutrina como Congresso Constituinte. 
 EMENDA À CONSTITUIÇÃO – destina-se a modificar o texto da Constituição, 
mediante um processo de elaboração que, no Brasil, prevê 2 turnos de votação 
e aprovação por, no mínimo, maioria qualificada1 de 3/5 (três quintos) dos 
 
 
1 Existem 3 tipos de maioria, a saber: Maioria absoluta – compõe-se a partir do primeiro número in-
teiro acima da metade de uma assembléia. Se uma assembléia compõe-se de 501 deputados, por 
exemplo, sua maioria absoluta será de 251 deputados; Maioria relativa ou maioria simples – a que 
exige maior número de votos, desde que estejam presentes no plenário, da Câmara dos Deputados ou 
do Senado Federal, mais da metade dos parlamentares. Por exemplo: em uma assembléia de 501 
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parlamentares de cada Casa do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e 
Senado Federal), em cada um dos 2 turnos. 
O texto da Emenda à Constituição se integra ao da própria Constitui-
ção, dele passando a fazer parte. Isto não acontece com o da Lei Complemen-
tar, que tem vida própria e continua à parte do texto constitucional. 
 LEI COMPLEMENTAR - são assim chamadas as leis que complementam, obje-
tivam explicar melhor a Constituição. Elas regulamentam matérias importan-
tes à compreensão da própria Constituição e que nela estão indicadas. Sua 
aprovação exige o voto da maioria absoluta dos parlamentares do Poder Legis-
lativo, o que lhe dá maior força hierárquica do que às outras leis, exceção feita, 
é claro, à própria Constituição e às suas Emendas. 
 LEI ORDINÁRIA ou COMUM – representa a maior parte das leis em sentido 
estrito. 
Conforme sejam elaboradas pelo Poder Legislativo federal, estadual ou 
municipal são chamadas de leis federais, estaduais ou municipais, respectiva-
mente. 
A lei federal está hierarquicamente acima da lei estadual e da munici-
pal; a lei estadual, apenas hierarquicamente acima da lei municipal. 
É a Constituição federal que determina quais matérias podem ser objeto 
de deliberação por lei ordinária ou lei complementar. Confira, por exemplo, o 
artigo 48, a seguir parcialmente transcrito, que fala da competência do Con-
gresso Nacional para editar leis ordinárias. 
Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta 
para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especi-
almente sobre: 
 I - sistema tributário, arrecadação e distribuição de rendas; 
 (...) 
 III - fixação e modificação do efetivo das Forças Armadas; 
 (...) 
 V - limites do território nacional, espaço aéreo e marítimo e bens do domínio da União; 
 VI - incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de Territórios ou Estados, ouvidas as 
respectivas Assembléias Legislativas; 
 VII - transferência temporária da sede do Governo Federal; 
 VIII - concessão de anistia; 
 IX - organização administrativa, judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública da União e 
dos Territórios e organização judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública do Distrito Federal; 
 (...) 
 
 
deputados, caso estejam presentes a uma sessão 251 deles, ou seja, sua maioria absoluta, pode haver 
deliberação e a maioria relativa ou simples será aquela que expressar a vontade da maioria daqueles 
251 deputados. Assim, se 100 votaram sim; 91 votaram não; e 60 se abstiveram, prevalece a vontade 
dos 100 que votaram sim; e, Maioria qualificada – refere-se sempre a um número fracionário. Por 
exemplo: a Constituição Federal só pode ser modificada por 3/5 dos votos totais dos senadores e dos 
deputados federais. Assim, considerando que a Câmara dos Deputados tem 513 deputados federais, 
são necessários 308 votos para que haja modificação. No caso do Senado Federal, se são 81 senado-
res, a modificação da Constituição exigirá 49 votos. 
 
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 XI – criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública; (Redação dada pela Emenda 
Constitucional nº 32, de 2001) 
 XII - telecomunicações e radiodifusão; 
 XIII - matéria financeira, cambial e monetária, instituições financeiras e suas operações; 
 XIV - moeda, seus limites de emissão, e montante da dívida mobiliária federal. 
 XV - fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, observado o que dispõem os arts. 
39, § 4º; 150, II; 153, III; e 153, § 2º, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) 
 
 LEI DELEGADA – aquela elaborada pelo Presidente da República em razão de 
uma delegação de competência concedida pelo Congresso Nacional, após sua 
solicitação. 
A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do 
Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercí-
cio. 
O §1º, do art. 68, da CF relaciona os assuntos que não podem ser objeto 
de delegação do Congresso Nacional 
. 
 DECRETO LEGISLATIVO – é assim denominada a lei de que se utiliza o Con-
gresso Nacional para exercer suas competências constitucionais exclusivas, is-
to é, que não podem ser delegadas, previstas no art. 49 da Constituição Fede-
ral. 
Constituição Federal: 
 Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos 
ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional; 
 II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças 
estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados os 
casos previstos em lei complementar; 
 III - autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do País, quando a 
ausência exceder a quinze dias; 
 IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender 
qualquer uma dessas medidas; 
 V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos li-
mites de delegação legislativa; 
(...) 
 XVII - aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com área superior a dois 
mil e quinhentos hectares. 
 
 RESOLUÇÃO – é a lei através da qual cada uma das duas casas do Congresso 
Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal) exercem individualmente 
suas competências constitucionais como, por exemplo, a elaboração do regi-
mento interno respectivo. Para maiores detalhes, basta consultar os artigos 51 
e 52 da Constituição Federal. 
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 MEDIDA PROVISÓRIA – é uma lei que, como foi visto, se constitui em exceção 
à regra do art. 59, que enumera as leis em sentido estrito. É, portanto, uma lei 
em sentido amplo, visto que é da competência do Presidente da República, que 
é o chefe do Poder Executivo, o qual pode, em hipóteses relevantes e urgen-
tes, conforme estabelece a Constituição no art. 62, editar medidas provisó-
rias, com força de lei, as quais devem, por isso, ser obedecidas por todos. 
Uma das situações que configuram a urgência para a edição de medi-
das provisórias é a do recesso parlamentar (período que vai de 18 a 31 de ju-
lho e de 23 de dezembro a 1º de fevereiro) 
As medidas provisórias devem ser submetidas ao Congresso Nacional e 
aprovadas por este, sendo convertidas em leis ordinárias no prazo de 60 dias, a 
contar da sua publicação, prorrogável uma vez por igual período. Se não forem 
aprovadas e convertidas neste período, perdem a sua validade, devendo o Con-
gresso Nacional dispor sobre as situações que eram por ela alcançadas. 
 DECRETOS, REGULAMENTOS e PORTARIAS – são todos atos administrati-
vos, isto é, documentos expedidos pelos diversos órgãos da Administração Pú-
blica, através de seus titulares. 
Cada um tem a sua função, senão vejamos: 
Os decretos são atos administrativos da alçada dos chefes de Poder 
Executivo (presidente da República, governadores e prefeitos). 
Os regulamentos são regras disciplinadoras de assuntos previstos em 
lei. Assim como a lei complementar explica melhor a Constituição, o regula-
mento explica melhor a lei. 
As portarias são destinadas ao exercício da competência de altas auto-
ridades da Administração Pública, tais como Ministros, Reitores, Diretores de 
Institutos, etc. 
É importante ressaltar que estas não são as únicas leis em sentido am-
plo, previstas na legislação brasileira, pois existem muitas outras que serão 
examinadas em outro momento do nosso estudo. 
 
A HIERARQUIA DAS LEIS 
Hierarquia, ensina-nos o dicionário, é relação de subordinação. Deste modo, 
considerando que as diversas leis (em sentido amplo) são editadas por autoridades 
administrativas que têm um peso hierárquico dentro da Administração Pública, é na-
tural que haja uma hierarquia entre elas. 
Assim, um Decreto, que é documento privativo de chefes de Poder Executivo, 
há de ser hierarquicamente superior, por exemplo, a uma Portaria Ministerial que é 
editada por um Ministro, autoridade subordinado ao Presidente da República, que é o 
chefe do Poder Executivo Federal. 
Deste modo, podemos dizer que os atos administrativos, que como foi visto são 
leis em sentido amplo, têm a hierarquia daqueles que o expediram. 
O mesmo não ocorre com as espécies normativas elaboradas pelo Poder Legis-
lativo, denominadas leis em sentido estrito, pois prevalece o entendimento de que to-
das situam-se no mesmo nível hierárquico, exceto as Emendas à Constituição, que 
está acima das demais leis referidas no art. 59 da Constituição Federal. 
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Portanto, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisó-
rias, decretos legislativos e resoluções são todas espécies normativas de mesmo nível 
hierárquico, até porque destinando-se a disciplinar situações diferentes definidas pela 
própria Constituição Federal, não há como possam confrontar-se e mesmo quando 
isto aconteça, como no caso de uma lei ordinária e uma medida provisória, prevalecerá 
aquela que for mais recente e não porque uma seja hierarquicamente superior à outra. 
Assim sendo, quando duas leis tiverem a mesma hierarquia e disposições di-
vergentes, prevalecerá as disposições da lei mais recente. Esta é uma regra geral apli-
cável a todas as normas de mesma hierarquia. 
Desta forma, consideradas as espécies até aqui estudadas, a hierarquia entre 
as leis se dá da forma como apresentamos a seguir: 
1. As normas da Constituição prevalecem sobre todas as outras; 
2. as da Emenda à Constituição sobre as que se lhe seguem; 
3. Não há hierarquia entre as demais espécies normativas constitucionais, 
de modo que, havendo conflito entre alguma delas, como no caso da lei 
ordinária e da medida provisória prevalecerá a mais atual. 
4. Todas as espécies normativas constitucionais prevalecem sobre as leis 
em sentido amplo: os decretos, os regulamentos, os regimentos, etc. 
5. Finalmente, entre os decretos, os regulamentos e as portarias, bem co-
mo outros atos normativos de caráter administrativo, prevalece a hie-
rarquia da autoridade que as editou, de modo que o decreto, que é 
expedido pelo chefe do Executivo (presidente da república), prevalece 
sobre a portaria de um ministro, e assim por diante. 
Além da respectiva força hierárquica que cada norma pode possuir, como vi-
mos acima, elas também se submetem a uma relação de subordinação, decorrente da 
forma federativa adotada pelo Estado brasileiro, conforme tenham sido elaboradas 
pelo Poder Legislativo federal, estadual ou municipal. 
Portanto, de uma forma geral, a hierarquia das leis pode ser representada por 
uma pirâmide, como a que está apresentada na página 44 do caderno didático, cujos 
degraus devem ser os seguintes: 
1. Constituição Federal e suas emendas; 
2. Espécies normativas federais ou leis federais; 
3. Constituições Estaduais e suas emendas; 
4. Espécies normativas estaduais ou leis estaduais; 
5. Leis orgânicas dos Municípios; 
6. Leis municipais; 
7. Decretos; Regulamentos; Portarias; e demais atos administrativos, com 
a hierarquia determinada pela posição hierárquica da autoridade que 
as editou.

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