Buscar

1.3.3. Schumpeter II Inovacao Concorrencia e Estrutura de Mercado

Prévia do material em texto

Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
1.	KALECKI:	
DEMANDA	EFETIVA,	CICLO	E	TENDÊNCIA
1.3.		Inovação,	Desenvolvimento	e	Tendência
SCHUMPETER	 II:	Inovações,	Concorrência e	Estrutura	de	Mercado
POSSAS,	M.		(2002).	“Concorrência	schumpeteriana”.	 In:	KUPFER,	D.,	HASENCLEVER,	
L.	(org.).	Economia	Industrial,	cap.	18.
A	visão	de	Schumpeter
Concorrência	Schumpeteriana
Conclusão
SCHUMPETER,	 J.	(1961[1943]).	Capitalismo,	Socialismo	e	Democracia.	Caps.	7	e	8
24/05/16 1
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Concorrência Schumpeteriana: “processo ininterrupto de introdução e difusão
de inovações em sentido amplo” que conforma a dinâmica evolucionária da
economia, cujas transformações devem ser avaliadas ao longo do tempo.
A	visão	de	Schumpeter
“Em que consiste a noção – mais que isso, a “teoria” – de concorrência
proposta por Schumpeter? Trata-se de uma noção não ortodoxa, mas
potencialmente a mais interessante de todas, hoje conhecida como
concorrência schumpeteriana. Sua principal característica é que ela se
insere numa visão dinâmica e evolucionária do funcionamento da
economia capitalista. Por ela, a evolução desta economia é vista ao longo
do tempo (e por isso é dinâmica e evolucionária) como baseada num
processo ininterrupto de introdução e difusão de inovações em sentido
amplo, isto é, de quaisquer mudanças no “espaço econômico” no qual
operam as empresas, sejam elas mudanças nos produtos, nos processos
produtivos, nas fontes de matérias-primas, nas formas de organização
produtiva, ou nos próprios mercados, inclusive em termos geográficos.”
(POSSAS,M.L.. (2002), p.246)
24/05/16 2
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Inovação e concorrência: a inovação é o principal instrumento de concorrência
na busca por lucros extraordinários por meio de diferenciação e criação de
vantagens competitivas, que serão dissipadas ao longo do tempo por meio de
imitações ou da introdução de novas inovações.
A	visão	de	Schumpeter
“Por sua vez, qualquer inovação, nesse sentido amplo, é entendida como
resultado da busca constante de lucros extraordinários, mediante a
obtenção de vantagens competitivas entre os agentes (empresas), que
procuram se diferenciar uns dos outros nas mais variadas dimensões do
processo competitivo, tanto os tecnológicos quanto os de mercado
(processos produtivos, produtos, insumos, organização: mercados, clientela,
serviços pós-venda).” (POSSAS,M.L.. (2002), p.247)
Concorrência Schumpeteriana
“A concorrência schumpeteriana caracteriza-se pela busca permanente de
diferenciação por parte dos agentes, por meio de estratégias deliberadas,
tendo em vista a obtenção de vantagens competitivas que proporcionem
lucros de monopólio, ainda que temporários”. (POSSAS,M.L.. (2002), p.247)
24/05/16 3
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Inovação: novos produtos e processos, novas formas de organização da
produção e dos mercados, novas fontes de matérias-primas, novos
mercados.
Concorrência Schumpeteriana
“Há muitas formas ou dimensões da concorrência, sendo a
concorrência em preços apenas a mais tradicional e mais simples, mas
não a mais importante ou mais frequente. A concorrência se dá
também por diferenciação do produto (inclusive qualidade) e,
especialmente, por inovações, que no sentido schumpeteriano – muito
amplo, como se viu – envolve toda e qualquer criação de novos
espaços econômicos (novos produtos e processos, novas formas de
organização da produção e dos mercados, novas fontes de matérias-
primas, novos mercados).” (POSSAS,M.L.. (2002), p.247)
24/05/16 4
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Concorrência e estrutura de mercado: as estratégias das empresas (inovação,
preço, vendas, investimento) transformam endogenamente as estruturas de
mercado e moldam a dinâmica industrial.
Concorrência Schumpeteriana
“A interação, ao longo do tempo, entre as estratégias das empresas –
não apenas de inovação, mas também de investimento, de preços, etc. –
ou seja, estratégias competitivas, de um modo geral – e as estruturas de
mercado preexistentes gera uma dinâmica industrial, pela qual a
configuração de uma indústria, em termos de produtos e processos
(tecnologias) utilizados, de participações no mercado das empresas, de
rentabilidade, de crescimento, etc. vai se transformando ao longo do
tempo.
Assim, as estruturas demercado são relevantes, mas não algo único nem
imutável. (...) Em outras palavras, essas estruturas são em grande
medida endógenas ao processo competitivo, e sua evolução deve ser
vista no contexto da interação dinâmica entre estratégia empresarial e
estrutura de mercado. (...) ” (POSSAS,M.L.. (2002), p.247-8)
24/05/16 5
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Concorrência e estrutura de mercado: monopólio é um resultado potencial e
(muitas vezes) temporário do próprio processo de concorrência que permite a
realização de lucros extraordinários que recompensam o arriscado esforço
inovador sem desestimular a manutenção da busca por inovações em função da
pressão permanente da concorrência potencial.
Concorrência Schumpeteriana
“Por isso mesmo, concorrência não é o contrário de monopólio. Se bem-
sucedida, a busca de novas oportunidades, ou inovações em sentido amplo,
deve gerar monopólios, em maior ou menor grau de duração. Se eles serão
ou não eliminados eventualmente, por meio de novos concorrentes e/ou
imitadores, é algo que não pode ser preestabelecido.(...)” (POSSAS, M.L..
(2002), p.247)
“Da mesma forma, as situações monopolíticas criadas a partir de inovações
bem-sucedidas não devem ser vistas como intrinsecamente
anticompetitivas, pois constituem o objetivo mesmo, e o resultado
esperado, do processo competitivo, ainda que de forma temporária e
restrita. É por isso que, como já visto, monopólio (uma configuração de
mercado, às vezes temporária) e concorrência (um processo) não são
incompatíveis entre si – muito ao contrário!” (POSSAS,M.L.. (2002), p.248)
24/05/16 6
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Concorrência e estrutura de mercado: fortalecer a concorrência não significa
necessariamente tornar o mercado mais atomizado, o que, na verdade, poderia
ser até prejudicial à dinâmica capitalista, ao diminuir (eventualmente) o
potencial inovador das empresas.
Conclusão
“Nesse sentido, fortalecer a concorrência não implica obrigatoriamente
“enfraquecer” (reduzir seu tamanho e/ou sua lucratividade) as empresas, com
por vezes se depreende do antigo e muito citado slogan segundo o qual “as leis
antitruste foram criadas para proteger a concorrência, e não os concorrentes”.
No enfoque schumpeteriano, concorrência fortalecida requer um ambiente
intensamente competitivo, o qual, por sua vez, supõe empresas competidoras
fortes, isto é, empresas competitivas, por sua capacitação e por sua eficiência
técnica, produtiva e organizacional.
Na visão schumpeteriana da concorrência, um mercado atomístico, composto
de empresas economicamente insignificantes e desprovidas de qualquer poder
de mercado, como paradigma competitivo, é uma lamentável ficção da
ortodoxia econômica que, se verdadeira, debilitaria o ambiente competitivo e o
processo de concorrência ao ponto de tornar este último inoperante, com
consequentes prejuízos ao consumidor e ao bem-estar social, quando visto em
perspectiva dinâmica.” (POSSAS, M.L.. (2002), p.251)
24/05/16 7
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
A concorrência perfeita nunca existiu e tampouco o crescimento da produção
desacelerou com o surgimento das grandes corporações modernas.
Capítulo	7 - O	PROCESSO	DA	DESTRUIÇÃO	CRIADORA
“PODEREMOS USAR de duas maneiras as teorias da concorrência
monopolista e oligopolista e suas variações populares para explicar a
opinião de que a realidade capitalista é desfavorável ao rendimento
máximo da produção. Pode existir quem digaque isso sempre ocorreu e
que a produção continuou a expandir-se a despeito da sabotagem secular
perpetrada pela burguesia dominante. (...).
Em primeiro lugar, essa tese implica a criação de uma imaginária idade de
ouro de concorrência perfeita que, em dado momento, se metamorfoseou
na era monopolista, quando é evidente que a concorrência perfeita jamais
foi mais real do que é atualmente. Em segundo, é necessário observar que
a média de crescimento da produção não decresceu a partir de 1890, data
a partir da qual se deve contar a prevalência dos grandes
empreendimentos ou, pelo menos, da indústria manufatureira, segundo
supomos.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]), p.108)
24/05/16 8
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
O capitalismo não se “reveste de caráter estacionário”.
A inovação, e consequente transformação, é o impulso fundamental do
capitalismo...
“O capitalismo é, por natureza, uma forma ou método de transformação
econômica e não, apenas, reveste caráter estacionário, pois jamais poderia
tê-lo. (...) O impulso fundamental que põe e mantém em funcionamento a
máquina capitalista procede dos novos bens de consumo, dos novos
métodos de produção ou transporte, dos novos mercados e das novas
formas de organização industrial criadas pela empresa capitalista. (...)
(A) história da aparelhagem produtiva de uma fazenda típica, desde os
princípios da racionalização da rotação das colheitas, da lavra e da engorda
do gado até a agricultura mecanizada dos nossos dias — juntamente com
os silos e as estradas-de-ferro — é uma história de revoluções, como o é a
história da indústria de ferro e aço, desde o forno de carvão vegetal até os
tipos que hoje conhecemos, a história da produção da eletricidade, da roda
acionada pela água à instalação moderna, ou a história dos meios de
transporte, que se estende da antiga carruagem ao avião que hoje corta os
céus.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]), p.110)
24/05/16 9
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
A inovação, e consequente transformação, é o impulso fundamental do
capitalismo, “revolucionando incessantemente a estrutura econômica a
partir de dentro”. O capitalismo evolui por meio de um processo de
destruição criadora, ao qual as empresas devem se adaptar para sobreviver.
“A abertura de novos mercados, estrangeiros e domésticos, e a
organização da produção, da oficina do artesão a firmas, como a U.S.
Steel, servem de exemplo do mesmo processo de mutação industrial —
se é que podemos usar esse termo biológico — que revoluciona
incessantemente * a estrutura econômica a partir de dentro, destruindo
incessantemente o antigo e criando elementos novos. (*Essas revoluções
não são permanentes, num sentido estrito; ocorrem em explosões
discretas, separadas por períodos de calma relativa. O processo, como
um todo, no entanto, jamais para, no sentido de que há sempre uma
revolução ou absorção dos resultados da revolução, ambos formando o
que é conhecido como ciclos econômicos.) Este processo de destruição
criadora é básico para se entender o capitalismo. É dele que se constitui
o capitalismo e a ele deve se adaptar toda a empresa capitalista para
sobreviver.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.110)
24/05/16 10
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Os resultados desse processo de destruição criadora devem ser avaliados ao
longo do tempo e não a partir de um único período de tempo.
Um sistema que utiliza plenamente sua capacidade num determinado
momento pode revelar-se inferior a outro que nunca utiliza plenamente sua
capacidade, mas que promove desenvolvimento a longo prazo.
“Em primeiro lugar, uma vez que estamos tratando de um processo cujos
elementos necessitam de tempo considerável para surgirem nas suas
formas verdadeiras e efeitos definitivos, de nada adianta estudar o
rendimento desse processo ex visu de determinada época. Devemos
estudá-lo através de um período longo de tempo, que se desenrole por
décadas ou séculos. Um sistema qualquer — econômico ou não — que
em algum período de tempo utiliza ao máximo as suas possibilidades
pode, à proporção que o tempo passa, revelar-se inferior a um outro que
não alcança em nenhum momento esses resultados, pois a incapacidade
deste pode consistir em um nível ou ímpeto de um rendimento a longo
prazo.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.111)
24/05/16 11
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
A análise de uma firma ou indústria deve contemplar o “papel que
desempenham na tempestade eterna da destruição criadora” e não
considerando a vigência de uma “calmaria perene”.
“Em segundo, já que estudamos um processo orgânico, a análise do que
acontece a qualquer das suas partes isoladas — digamos, numa firma ou
indústria particular — pode, na verdade, esclarecer certos detalhes do
mecanismo, mas não propiciar conclusões de ordem geral. Todos os
exemplos de estratégia econômica adquirem a sua verdadeira
significação apenas em relação a esse processo e dentro da situação por
ele criada. Necessitam ser observados no papel que desempenham na
tempestade eterna da destruição criadora, pois não podem ser
compreendidos independentes deste processo ou baseados na hipótese
de que há uma calmaria perene.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.111)
24/05/16 12
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Observações estanques e isoladas geram conclusões distorcidas sobre o
comportamento da indústria oligopolista (alto preço e restrição da
produção).
“Mas é precisamente essa a hipótese adotada por economistas que, ex
visu de um determinado período de tempo, procuram exemplos no
comportamento da indústria oligopolista — que consiste de umas
poucas firmas — e observam as conhecidas marchas e contramarchas
em que ela vive e que nada parecem visar senão altos preços e
restrições da produção. Aceitara os dados de uma situação passageira
como se não houvesse passado ou futuro, e acreditam ter
compreendido o cerne da questão interpretando o comportamento
dessas firmas mediante a aplicação do princípio do lucro máximo a
esses dados.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.111)
24/05/16 13
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Os economistas focam, em geral, na análise sobre “como o capitalismo
administra a estrutura existente, ao passo que o problema crucial é saber
como ele as cria e destrói”.
“As dissertações habituais dos teóricos e o relatório governamental
comum praticamente nunca tentam entender esse comportamento
como conseqüência de determinada época da História e de esforço
para enfrentar uma situação que tudo indica que	 mudará, ou seja,
como uma tentativa dessas empresas de firmar-se em um terreno que
lhe foge sob os pés. Em outras palavras, o problema usualmente
estudado é o da maneira como o capitalismo administra a estrutura
existente, ao passo que o problema crucial é saber como ele as cria e
destrói.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.111)
24/05/16 14
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
A concorrência não se dá via preço (tradicional modus operandi da
concorrência), mas via novas mercadorias, novas técnicas, novas fontes de
suprimento, novo tipo de organização, que determinam superioridade de
custo ou qualidade (compara-se bombardear uma porta a arrombá-la).
“O primeiro conceito que se descarta é o tradicional modus operandi da
concorrência. Os economistas emergem, por fim, de uma fase em que se
preocupavam apenas com a concorrência dos preços. Tão logo a
concorrência de qualidade e o esforço de venda são admitidos no recinto
sagrado da teoria, o fator variável do preço é apeado da sua posição
dominante. Nada obstante, é ainda a concorrência, dentro de um
conjunto rígido de condições invariáveis, métodos de produção e
particularmente de formas de organização industrial, que continua
praticamente a monopolizar-lhes a atenção. Mas, na realidade capitalista
e não na descrição contida nos manuais, o queconta não é esse tipo de
concorrência, mas a concorrência de novas mercadorias, novas técnicas,
novas fontes de suprimento, novo tipo de organização (a unidade de
controle na maior escala possível, por exemplo) — a concorrência que
determina uma superioridade decisiva no custo ou na qualidade e que
fere não a margem de lucros e a produção de firmas existentes, mas seus
alicerces e a própria existência.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.112)
24/05/16 15
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Inovação (e não preço) é o principal instrumento de concorrência e a
“poderosa alavanca que, a longo prazo, expande a produção e reduz os
preços”.
“Tal tipo de concorrência é muito mais eficaz do que o outro, da mesma
maneira que é mais eficiente bombardear uma porta do que arrombá-
la, e, de fato, tão mais importante que se torna indiferente, no sentido
ordinário, se a concorrência faz sentir seus efeitos mais ou menos
rapidamente. De qualquer maneira, a poderosa alavanca que, a longo
prazo, expande a produção e reduz os preços é constituída de outro
material. ” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.112)
24/05/16 16
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
A concorrência, que estimula a busca por inovações, se faz sentir não apenas
quando está presente em termos reais, mas também quando existe apenas
em termos potenciais.
“Dificilmente seria necessário observar aqui que a concorrência a que nos
vimos referindo atua não somente quando está presente, mas também
quando constitui apenas ameaça constante. O homem de negócios sente-
se cercado pela concorrência mesmo quando está sozinho no seu campo
ou, quando não está, ocupa tal posição que nenhum perito
governamental poderá descobrir uma concorrência eficaz entre ele e
outras pessoas do mesmo ramo ou de ramos afins, e que se vê forçado a
concluir, durante o trabalho de investigação, que as reclamações
competitivas só são pura fantasia. Em muitos casos, embora não em
todos, essa pressão forçará a longo prazo um comportamento muito
semelhante ao que seria induzido por um sistema de concorrência
perfeita.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.112)
24/05/16 17
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Críticas ao ideal de concorrência perfeita e defesa da concorrência imperfeita
Capítulo 8 - AS	PRÁTICAS MONOPOLISTAS
“O QUE DISSEMOS até agora certamente dará ao leitor condições
suficientes para interpretar a maioria dos casos práticos que
provavelmente encontrará e a compreender a falta de propriedade da
maioria dessas críticas à economia do lucro que, direta ou indiretamente,
depende da inexistência da concorrência perfeita. Sendo possível, no
entanto, que a legitimidade da nossa argumentação não se torne
evidente à primeira vista, será útil estendermo-nos um pouco mais sobre
o assunto e tornar mais explícitos certos pontos.” (SCHUMPETER, J.
(1961[1943]),p.114)
24/05/16 18
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Práticas restritivas de curto prazo viabilizam o processo arriscado de busca
por inovações (“atirar num alvo que se move”), cujas vantagens se fazem
sentir a longo prazo.
“1. Acabamos de ver que, como realidade inegável ou simples ameaça, o
impacto das inovações — novas técnicas, por exemplo — sobre a estrutura
de uma indústria reduz consideravelmente o efeito a longo prazo e a
importância de práticas que visam, através da restrição da produção,	 à
conservação de posições tradicionais e	à exploração ao máximo dos lucros
que nelas se baseiam. Devemos admitir ainda que práticas restritivas desse
tipo, enquanto conservarem a eficácia, adquirem uma nova significação na
tempestade eterna da destruição criadora, uma significação que não teriam
num estado estacionário ou numa fase de crescimento lento e equilibrado.
O investimento a longo prazo em condições de rápida mutação,
especialmente aquelas que mudam ou podem mudar a qualquer momento
sob o efeito de novas mercadorias e técnicas, assemelha-se a atirar num alvo
que não	é apenas indistinto, mas se move — e aos arrancos, por falar nisso.
Daí a necessidade de se recorrer a expedientes de proteção, como patentes,
ocultamento temporário de certos processos ou, em alguns casos, contratos
de longa duração obtidos com antecedência.” (SCHUMPETER, J.
(1961[1943]),p.114-5)
24/05/16 19
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Práticas restritivas de curto prazo viabilizam o processo arriscado de busca
por inovações (“atirar num alvo que se move”), cujas vantagens se fazem
sentir a longo prazo.
“Ao analisar tal estratégia em determinadas épocas, o economista ou o
agente do Governo deparam-se com políticas de preços que lhes
parecem predatórias e restrições à produção que consideram
desperdício da oportunidade de produzir. Não percebem que restrições
desse tipo são, nas condições desse vendaval eterno, meros incidentes,
muitas vezes inevitáveis, de um processo de expansão a longo prazo
que protegem e nunca impedem. Não há mais paradoxo neste caso do
que haveria em dizer que os carros correm cada vez mais rapidamente
porque possuem freios.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.115)
24/05/16 20
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Uma análise superficial pode perceber apenas as restrições à produção e a
alta de preços, sem notar os efeitos a longo prazo sobre a qualidade e a
própria quantidade.
“2. Esta tese torna-se muito mais clara nos casos dos setores da economia
que em determinada época recebem todo o impacto das novas mercadorias
e métodos sobre a estrutura industrial. (...)
Como vimos anteriormente, essas empresas são agressoras por natureza e
empregam com notável eficácia a arma da concorrência. Apenas em
raríssimos casos a sua intromissão deixa de melhorar em quantidade e
qualidade a produção, através de novos métodos — embora não os utilizem
ao máximo — e por meio da pressão exercida sobre firmas antigas. As
condições em que se encontram esses agressores, no entanto, são de tal
tipo que eles necessitam, para o ataque e defesa, de outra proteção além do
preço e da qualidade dos produtos que vendem, os quais devem ser
constantemente manipulados de forma a dar a impressão de que se limitam
a restringir a produção e manter altos os preços.” (SCHUMPETER, J.
(1961[1943]),p.116)
24/05/16 21
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Sem as restrições iniciais, que asseguram o retorno por certo período de
tempo em caso de sucesso, muitas inovações não seriam desenvolvidas.
“Por um lado, o planejamento em grande escala poderia fracassar se
não se soubesse desde o início que a concorrência seria desencorajada
pela exigência de grandes capitais ou falta de experiência, ou que
existem meios para desencorajar e controlar os rivais e, dessa maneira,
ganhar tempo e espaço para ulterior desenvolvimento. Até mesmo a
conquista do domínio financeiro sobre firmas rivais, que ocupam
posições inexpugnáveis e somente seriam derrotadas por esse meio,
ou a obtenção de privilégios que se chocam com a opinião pública
sobre o fair-play — tarifas ferroviárias preferenciais — surgem, na
medida em que se considera o seu efeito a longo prazo sobre a
produção total, sob luz diferente.” (SCHUMPETER, J.
(1961[1943]),p.116)
24/05/16 22
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
A perspectiva de lucros extraordinários é que move os capitalistas a
arriscarem-se pelos caminhos incertos da busca por inovações em
ambiente de concorrência imperfeita.
“A criação de uma empresa particular, por outro lado, seria impossível
se não soubesse de início que haveria oportunidade de situações
excepcionalmente favoráveis que, se exploradas de acordo com o
critério de preço, qualidade e quantidade, produziriam lucros
suficientes para contrabalançar condições excepcionalmente
desfavoráveis, desde que enfrentadas da mesma maneira. Mais uma
vez essa possibilidade requer estratégia que, a curto prazo, é
freqüentementede natureza restritiva e, na maioria dos casos,
consegue dificilmente atender a seus objetivos. Em outros casos,
todavia, revela-se tão bem sucedida que produz lucros muito maiores
do que os necessários para provocar um investimento
correspondente. São essas justamente as iscas que atraem os capitais
para os caminhos virgens.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.117)
24/05/16 23
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Exemplo de concorrência imperfeita – indústria de automóveis
“Um bom exemplo ilustrativo desse ponto — na verdade de grande parte do
nosso argumento geral — é a história das indústrias de automóveis e rayon no
após-guerra. A primeira ilustra muito bem a natureza e o valor do que
poderíamos chamar concorrência depurada. O tempo da bonança terminou
mais ou menos pelas alturas de 1916. Numerosas firmas, no entanto, se
estabeleceram na indústria, a maioria das quais sendo eliminada pelas alturas
de 1925. De uma luta de vida ou morte surgiram três companhias que hoje
absorvem mais de 80% das vendas totais. Sofrem a pressão da concorrência
até o ponto em que, a despeito das vantagens de uma posição tradicional e de
uma complicada organização de vendas e serviços, qualquer fracasso em
manter ou melhorar a qualidade dos seus produtos ou qualquer nova tentativa
de entrar em combinação monopolista provocaria o aparecimento de novos
concorrentes. Entre si, as três empresas atuam de maneira que se poderia
considerar de respeito mútuo e não competitiva: abstêm-se de certas táticas
agressivas (que, por falar nisso, estariam também ausentes num estado de
concorrência perfeita); trabalham no mesmo ritmo, e procuram obter
vantagens marginais. Essa situação prevalece há mais de 15 anos e hoje não é
claro que, se as condições de concorrência teoricamente perfeita tivessem
prevalecido durante esse período, carros melhores e mais baratos teriam sido
oferecidos ao público ou maiores salários e empregos mais seguros para os
operários.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.118)
24/05/16 24
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Não é verdade que toda concorrência imperfeita é prejudicial ao sistema
econômico e, portanto, não deve ser regra evitá-la, apesar de não ser
verdade que sempre é favorável.
“Embora exaustiva como vem sendo, a nossa argumentação não
abrange todos os casos de estratégia restritiva ou reguladora, muitos
dos quais sem dúvida exercem efeito prejudicial sobre o
desenvolvimento a longo prazo da produção e que, sem maior exame,
se atribui a todos eles. E, mesmo no caso abrangido pelo nosso
argumento, o efeito líquido depende das circunstâncias e da maneira e
grau em que a indústria se controla em cada caso individual. É tão
admissível, na verdade, que um sistema onipresente de cartéis possa
sabotar todo o progresso, como é admissível que possa conseguir com
menos desvantagens sociais e privadas os resultados que são
atribuídos à concorrência perfeita. E é justamente por isso que o nosso
argumento não chega a constituir uma alegação válida contra a
regulamentação-estatal. Demonstra apenas que não há qualquer razão
que justifique o desmembramento indiscriminado dos trustes ou a
condenação de todas as práticas que podem ser qualificadas de
restrições ao comércio.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.119)
24/05/16 25
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
O que quer dizer “preço rígido”?
“3. Examinemos agora brevemente a questão dos preços rígidos, que
despertaram tanta atenção ultimamente. A questão dos preços é, na
verdade, apenas um aspecto particular do problema que vimos
discutindo. Definiremos a rigidez da seguinte maneira: um preço é
rígido se menos sensível às alterações da oferta e da procura do que
seria numa situação de concorrência perfeita. (...) ” (SCHUMPETER, J.
(1961[1943]),p.119)
24/05/16 26
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Novas mercadorias podem satisfazer necessidades antigas a preços
menores, sem alterar o preço de outras mercadorias.
“Já chamamos a atenção para a importância da introdução de novas
mercadorias para o processo capitalista em geral e para o mecanismo
competitivo em particular. Uma nova mercadoria pode modificar
radicalmente a estrutura dos preços preexistente e satisfazer uma
determinada necessidade a preços mais baixos por unidade de serviço
(o serviço de transporte, por exemplo), sem que necessite variar sequer
um dos preços habituais. Em outras palavras, a flexibilidade, no sentido
lato da palavra, pode ser acompanhada de rigidez, no sentido formal.
Sabemos de outros casos, mas não deste tipo, nos quais a redução do
preço constitui a única razão para o aparecimento de uma nova marca,
enquanto a antiga continua cotada da mesma maneira. Mais uma vez,
deparamo-nos aqui com uma redução de preços que não se reflete nas
estatísticas.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.120)
24/05/16 27
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Ou ainda, uma mesma mercadoria pode contar com incremento de
qualidade sem que seu preço seja alterado.
“Além disso, a grande maioria das mercadorias de consumo —
particularmente os aparelhos modernos — é apresentada em primeiro
lugar de forma insatisfatória e experimental e com a qual não poderia
conquistar os mercados potenciais. O melhoramento da qualidade dos
produtos constitui, pois, um aspecto praticamente geral da evolução das
indústrias e empresas individuais. E implique ou não esse
melhoramento novas despesas, o preço constante por unidade de uma
mercadoria em fase de aperfeiçoamento não deve ser considerado
rígido sem estudos adicionais.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.120)
24/05/16 28
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Rigidez de preços é um fenômeno de curto prazo. No longo prazo, os preços
se adaptam ao progresso tecnológico, que, em geral, dita melhora de
qualidade e queda dos preços.
“Restam ainda, naturalmente, numerosos casos de rigidez autêntica de
preços — preços que são mantidos inalterados por questão de política
comercial ou que continuam inflexíveis — porque é difícil alterá-los, como
acontece com o caso dos preços fixados pelos cartéis depois de difíceis
negociações. Para se compreender a influência a longo prazo desse fator
sobre o desenvolvimento a longo prazo da produção é, antes de tudo,
necessário levar em conta que essa rigidez é, essencialmente, um fenômeno
a curto prazo. Não se conhecem exemplos de rigidez a longo prazo. Seja qual
for a indústria manufatureira ou grupo de artigos manufaturados que
submetamos a estudo, em um período longo de tempo, verificaremos quase
sem exceção que, a longo prazo, os preços jamais deixam de se adaptar ao
progresso tecnológico — muitas vezes reagem baixando de maneira
espetacular — a menos que contrariados por acontecimentos, política
monetária ou, em alguns casos, por variações independentes nas escalas de
salário que, naturalmente, devem ser levadas em conta mediante correções
apropriadas, da mesma maneira que ocorre com os casos de variações da
qualidade dos produtos.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.120-1)
24/05/16 29
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Tampouco é verdade que grandes corporações são avessas ao progresso
como forma de proteger seus investimentos. Ao contrário, priorizam a
existência de departamentos de pesquisa e desenvolvimento, dos quais
depende sua permanência no mercado.
“4. Uma outra doutrina cristalizou-se em lema, isto é, de que, na era dos
grandes empreendimentos, a manutenção do valor dos investimentos
— a conservação do capital — tornou-se o principal objetivo dos chefes
de empresa e parece impedir todas as medidas tendentes a uma
redução dos preços. Daí a noção de que a ordem capitalista é
incompatível com o progresso. (...)
Mais uma vez, sentimos a tentação de levantar uma questão de fato.
Tão logo está em condições de enfrentar as despesas, a primeira coisa
que uma firma moderna fazé fundar um departamento de pesquisas,
cujos funcionários sabem que o pão de cada dia depende do êxito que
obtiverem na descoberta de novas invenções. Essa prática,
evidentemente, não sugere qualquer aversão ao progresso tecnológico.”
(SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.125)
24/05/16 30
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Monopolista: difícil encontrar casos efetivos, mas, se existir, só será mantida
se o monopolista agir como se estivesse sujeito à concorrência efetiva, tendo
em vista a existência de concorrência potencial.
“5. Demos ao presente capítulo o título acima porque ele trata quase
exclusivamente dos fatos e problemas que a opinião corrente associa ao
monopólio ou às práticas monopolistas. Até agora, abstivemo-nos, na
medida do possível, de usar tais termos a fim de reservar para uma
seção separada alguns comentários sobre uns poucos tópicos
especificamente pertinentes. Mas nada diremos, todavia, que já não
tenha sido aqui encontrado, de uma forma ou outra.
(a) Comecemos com a própria palavra. Monopolista significa único
vendedor. (...) Não é fácil descobrir, e nem mesmo imaginar, uma
moderna empresa comercial protegida dessa maneira e, mesmo se
protegida por direitos ou restrições de importação, que seja capaz de
exercer esse poder, exceto, talvez, temporariamente. (...) De maneira
geral, a posição de vendedor único pode ser conquistada e mantida, fora
do campo das utilidades públicas, por algumas décadas, apenas se a
empresa não agir como entidade monopolista.” (SCHUMPETER, J.
(1961[1943]),p.127-8)
24/05/16 31
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
As vantagens obtidas por uma empresa monopolista (métodos, recursos)
podem levar a produção maior e preços menores do que aqueles passiveis de
serem alcançados via concorrência perfeita.
“(b) A teoria do monopólio simples e característico ensina que, na ausência de
uma força limitadora, o preço do monopólio é mais alto e a produção menor do
que nos casos de preços e produção competitiva. Esse conceito é verdadeiro,
contanto que o método e a organização da produção — e as demais condições —
sejam exatamente iguais em ambos os casos. Na realidade, todavia, o monopolista
dispõe de métodos superiores que, ou não estão absolutamente ao alcance da
massa de concorrentes, ou eles não podem desfrutá-los tão prontamente, pois há
vantagens que, embora não totalmente inalcançáveis no nível competitivo, são
obtidas, na verdade, apenas no nível monopolista, pois esta última posição, por
exemplo, pode alargar a esfera de influência dos cérebros privilegiados e diminuir
a dos inferiores, ou porque o monopólio possui uma situação financeira
desproporcionadamentemais alta.
Em todos os casos em que isso acontece, por conseguinte, o conceito não mais se
sustenta. Em outras palavras, este elemento na defesa da concorrência pode
falhar inteiramente, pois os preços do monopólio não são necessariamente mais
altos, nem a produçãomenor do que os preços e a produção competitiva o seriam
nos níveis de eficiência produtiva e administrativa que estão dentro do alcance do
tipo de firma compatível com a hipótese competitiva.” (SCHUMPETER, J.
(1961[1943]),p.129-30)
24/05/16 32
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
As vantagens obtidas por uma empresa monopolista (métodos, recursos)
podem levar a produção maior e preços menores do que aqueles passíveis
de serem alcançados via concorrência perfeita.
“A motivação carece também de importância prática. Ainda que os
preços monopolistas fossem o único objetivo, a pressão de métodos
mais modernos e as imensas instalações tenderiam, de maneira geral,
a ajustar o preço monopolista ideal ao mesmo nível ou abaixo do preço
competitivo, no sentido anteriormente exposto, realizando —
parcialmente, totalmente, ou mais do que totalmente — o trabalho do
mecanismo competitivo, mesmo que restrições fossem feitas e
sobrasse sempre um excesso de capacidade produtiva.” (SCHUMPETER,
J. (1961[1943]),p.130)
24/05/16 33
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
A posição de monopólio (transitória) reflete uma recompensa ao “inovador
vitorioso”, uma proteção contra a desorganização temporária do mercado e
tempo para assegurar um planejamento de longo prazo.
“(c) A curto prazo, as autênticas posições monopolistas, ou aquelas a que a elas se
assemelham, sãomuitomais freqüentes. (...)
Novos métodos de produção ou novas mercadorias, especialmente as últimas,
não conferem por si a posição monopolista, mesmo se usadas ou produzidas por
uma única firma. Os produtos decorrentes de um novo método têm de concorrer
com os fabricados de acordo com sistemas antigos e a nova mercadoria deve ser
promovida, isto é, criar a sua própria curva de procura. De maneira geral, nem as
patentes nem as práticas monopolistaspodem evitar essa situação.
Por isso mesmo, há ou pode haver uma característica autenticamente
monopolista nos lucros privados que constituem os prêmios oferecidos pela
sociedade capitalista ao inovador vitorioso. A importância quantitativa dessa
característica, no entanto, a sua natureza fugaz e a sua função no processo em
que surge a relegam a uma classe especial. A principal vantagem para uma firma
na posição de vendedora única, obtida por patente ou estratégia monopolista,
não consiste tanto na oportunidade de agir temporariamente de acordo com o
esquema monopolista, mas na proteção que consegue contra a desorganização
temporária do mercado e o espaço de tempo que garante para um planejamento
a longo prazo. Aqui, no entanto, este argumento se funde com a análise feita
anteriormente.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.131-2)
24/05/16 34
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Crítica ao ideal da concorrência perfeita e defesa das vantagens da
concorrência imperfeita.
“6. Recordando o que dissemos acima, verificamos que a maioria dos
fatos e argumentos esboçados no presente capítulo tende a empanar a
auréola que envolvia a concorrência perfeita, ao mesmo tempo que
apresenta em luz mais favorável a sua alternativa. Reformulemos, pois,
essa argumentação desse ponto-de-vista. (...) ” (SCHUMPETER, J.
(1961[1943]),p.132)
24/05/16 35
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Concorrência perfeita é incompatível com a introdução de inovações, que
cria assimetrias. O progresso tecnológico elimina a concorrência perfeita.
“A concorrência perfeita implica o livre acesso a todas as indústrias. É exato,
dentro do contexto da teoria geral, que o livre acesso a todas as indústrias é
condição indispensável à distribuição ideal dos recursos e, daí, à produção
máxima. Se nosso mundo econômico consistisse de certo número de
indústrias tradicionais, produzindo mercadorias familiares, de acordo com
métodos também tradicionais e virtualmente invariáveis, e se nada ocorresse
senão o aparecimento de outros homens e novas economias, conjugando
recursos para o estabelecimento de novas firmas do velho tipo, todos os
obstáculos levantados ao acesso a uma qualquer indústria significariam uma
perda para a comunidade. A condição de acesso perfeitamente livre a uma
nova esfera de atividade, no entanto, pode, na realidade, tornar impossível
qualquer acesso. E dificilmente concebível a introdução, desde o início, de
novos métodos de produção e novas mercadorias em condições de perfeita e
imediata concorrência. Significa isso também que o que chamamos de
progresso econômico é incompatível com a concorrência perfeita. Na
verdade, a concorrência perfeita desaparece, e sempre desapareceu, em
todos os casos em que surge qualquer inovação — automaticamente ou
graças a medidas tomadas com esse fim — mesmo que existam todas as
outras condições para ela.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.134)
24/05/16 36
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Não é correto dizer que concorrência perfeita é o melhor sistema, uma vez
que se considera a qualidade equantidade de produção da grande empresa
capitalista no tempo.
“Levando-se em consideração, no entanto, todos os aspectos do
problema, não é mais correto dizer que a concorrência perfeita é o
melhor sistema, pois, embora uma firma, que seja forçada a aceitar os
preços e não a impô-los, utilize na realidade toda sua capacidade
suscetível de produzir ao custo marginal abrangido pelos preços
vigorantes, não se segue necessariamente que a empresa teria a
quantidade ou a qualidade de capacidade que o grande
empreendimento criou e foi capaz de criar justamente porque se
encontra numa posição em que pode usá-la estrategicamente.”
(SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.135)
24/05/16 37
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
A concorrência perfeita desperdiça oportunidades de desenvolvimento
tecnológico.
“Por outro lado, atuando nas condições prevalecentes na evolução
capitalista, o sistema da concorrência perfeita exibe alguns tipos
próprios de desperdício. A firma compatível com a concorrência
perfeita é, em muitos casos, inferior em eficiência interna,
especialmente tecnológica. Se está neste caso, desperdiça
oportunidades. Pode, também, nas suas tentativas para melhorar seus
métodos de produção, desperdiçar capital, pois se encontra em
posição menos satisfatória para evoluir e julgar as novas
possibilidades. E, como já vimos antes, uma indústria perfeitamente
competitiva é muito mais suscetível de ser desbaratada — propagar os
bacilos da depressão — sob o impacto do progresso ou de
perturbação externa do que o grande empreendimento.”
(SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.136)
24/05/16 38
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
O progresso e a expansão da produção total a longo prazo decorrem da
existência das grandes empresas e não apesar delas.
A concorrência perfeita é um sistema impossível e inferior.
“Por conseguinte, não basta argumentar que, em virtude de a concorrência
perfeita ser impossível nas modernas condições industriais — ou porque
sempre o foi — o grande empreendimento ou o monopólio devam ser
aceitos como males necessários, inseparáveis do progresso econômico,
que é protegido da sabotagem pelas forças inerentes à sua maquinaria
econômica. Devemos, pelo contrário, reconhecer que a grande empresa
transformou-se no mais poderoso motor desse progresso e, em particular,
da expansão a longo prazo da produção total, não apenas a despeito, mas
em grande parte devido a essa estratégia que parece tão restritiva quando
estudada em casos individuais e do ponto-de-vista de uma determinada
época. Nesse sentido, a concorrência perfeita é não apenas sistema
impossível, mas inferior, e de nenhuma maneira se justifica que seja
apresentada como modelo de eficiência ideal. Daí o erro de se basear a
regulamentação estatal da indústria no princípio de que o grande
empreendimento deve ser forçado a atuar como atuaria a respectiva
indústria num regime de concorrência perfeita.” (SCHUMPETER, J.
(1961[1943]),p.136)
24/05/16 39
Inovações,	Concorrência	 e	Estrutura	de	Mercado
Inovações
Instrumentomais poderoso de competição
Novos produtos, processos, mercados, nova forma de organização industrial e
novas fontes dematéria-prima
Concorrência
Busca por lucros extraordinários mediante obtenção de vantagens competitivas
por meio da introdução e difusão (imitação) de inovações, que criam e atenuam
assimetrias.
Mudançaestrutural
Diferenciação e vantagens competitivas que resultam das estratégias
concorrenciais das empresas conferem poder de mercado, ainda que temporário,
tornando a estrutura endógena ao processocompetitivo.
Dinâmicacapitalista
Sistema econômico movido pela concorrência (efetiva e potencial) cujo principal
instrumento é a inovação que gera progresso tecnológico (muitas vezes
acompanhado demelhor qualidade e menor preço) e crescimento, transformando
continuamente a estrutura produtiva ao longo do processo de desenvolvimento
econômico (ao contrário deumsistema “paralisado” emconcorrência perfeita).24/05/16 40

Continue navegando