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Direito Internacional Público II Professora: Natália Cintra de Oliveira Tavares 1. Introdução Organização Internacional: sujeitos de direito internacional público que possuem personalidade jurídica internacional. Existem requisitos para se classificar algo como OI, apesar de não existir resoluções, tratados ou convenções que conceitue OIs. O Direito Internacional Público começou a surgir com o Tratado de Westifĺalia, o nascimento dos Estados e sua eventual expressão e autonomia perante o Papa. Nascia o conceito de soberania estatal. Os Estados começaram se relacionar entre si e trazendo uma complexidade para o planeta. Prova disso é que acontece a Primeira Guerra Mundial e com isso temos figuras diferentes atuando no sistema internacional - Sociedade das Nações (uma das primeiras organizações internacionais expressivas do direito na esfera das relações internacionais que precedeu a ONU). Além dela, surgiu a Organização Internacional do Trabalho - OIT - uma das OIs mais perenes e antigas. Entretanto, o que alterou muito o cenário de direito internacional público e às relações internacionais foi a Segunda Guerra Mundial, afinal, foi criada a Organização das Nações Unidas - ONU. Com isso, outras OIs foram criadas e hoje temos um número maior de OIs do que de Estados - landscape internacional. Por esse motivo é muito difícil criar uma teoria geral das OIs porque elas são extremamente distintas e variadas entre si (MERCOSUL, União Europeia, OPEP, OIPI) e cada uma tem suas especificidades. Uma das mais expressivas é a ONU acompanhada da União Europeia. Isso porque quando pensamos em OI falamos em ordem jurídica internacional que é descentralizada, anárquica, livre de Estado Soberano, horizontal e, em tese, Estados iguais, e então observamos que a União Europeia tem a figura do Estado Soberano super estatal, sendo assim, temos uma alteração nessa visão “descentralizadora” das OIs ao menos em nível regional. Faculdade Nacional de Direito - UFRJ Direito Internacional Público II Ingrid Grandini - 2017.2 OBS.: a professora não acredita que o mundo esteja uniforme o suficiente para a criação de uma união global dos Estados, e acha que isso só pode acontecer em nível regional como já acontece na União Europeia, porém, sobre o Mercosul, destaque que a OI já existe a muitos anos e que está longe de ser uma União. O que temo hoje é aquilo que os autores denominam de institucionalização do direito internacional público, ou seja, se antes era um direito internacional puramente estatal, hoje temos cada vez mais os interesses dos Estados convertidos em uma instituição que busca pelos interesses e objetivos na forma de OI. A Institucionalização também ocorre na forma de ONGs que são expressivas e fornecem, muitas vezes , apoio aos Estados - Ex.: Comitê Internacional da Cruz Vermelha que consegue fazer acordos com Estados - não são tratados, então ele tem um pouco de personalidade jurídica internacional. Mesmo com esse cenário de institucionalização do direito internacional público, ou seja, que a evolução seja diminuir um pouco a importância de alguns Estados para Aumentar de outros, os sujeitos de DIP ainda é o Estado Soberano e sua personalidade jurídica se dá só pelo fato de existir. Porém as OIs não existem só por existir, afinal, são os Estados que vão decidir se haverá a criação, ou não, de determinada OI, ou seja, a doutrina do voluntarismo que se baseia na vontade soberana dos Estados. As OIs não são organismos de fato, são organismos de direito pois se baseiam na vontade coordenada dos Estados em criar uma organização internacional. As OIs são órgãos diferente e autônomos dos Estados , ou seja, não é porque o Estado criou a organização internacional que ela vai ser/estar submetida ao Estado. Dessa forma, os seus órgãos decisórios, as suas resoluções, seus processos, suas ações para as quais foram criadas tem uma vontade autônoma dos Estados. OBS.: Essa autonomia é questionável - vide ONU: autonomia relativa pois alguns Estados têm mais força que outros. OBS2.: são os Estados (e algumas empresas) que financiam as OIs, isso torna a autonomia são tão absoluta. 2 Faculdade Nacional de Direito - UFRJ Direito Internacional Público II Ingrid Grandini - 2017.2 As OIs possuem personalidade jurídica distinta dos Estados, ou seja, por mais que os Estados tenham uma personalidade jurídica soberana, a das OI são distintas. Não é porque o Estado criou uma OI que terão a mesma personalidade jurídica, elas possuem uma personalidade jurídica única e singular, que não é superior à dos Estados (a mais expressiva). É importante que as OIs tenham um propósito, ou seja, uma meta, um objetivo. ● Requisitos para a formação de OIs 1. livre vontade dos Estados em constituir - doutrina do voluntarismo. 2. Criação de um acordo constitutivo - tratado - Ex.: Carta da ONU: acordo social. 3. autonomia para com os Estados - vontade autônoma 4. Personalidade Jurídica distinta dos Estados 5. Propósito - meta, objetivo. OIs são criadas por Estados de maneira livre, por meio de um acordo constitutivo que dá a essas Organizações Internacionais uma Personalidade Jurídica internacional distinta dos Estados que as criaram e, também, da vontade autônoma desses. Além de que deve existir um propósito na sua constituição. 2. OIs e ONGs OIs e ONGs são diferentes. As ONGs podem ser Organizações que são apoiadas pelos Estados, mas isso não as tornam intergovernamentais e isso significa que elas são sujeitos de direito privado. Em alguns casos, como o da Cruz Vermelha, devido sua grande expressividade internacional, é possível dizer em uma Personalidade Jurídica Internacional EXCEPCIONAL. Não podemos dizer que as OIs são organizações intergovernamentais, apesar de ser consolidado, é um termo equivocado, elas são interestatais , isso porque é entre Estados e não entre governos. Por exemplo, os nossos governos mudam e o Brasil continua inserido em Organizações Internacionais as quais está vinculado. 3 Faculdade Nacional de Direito - UFRJ Direito Internacional Público II Ingrid Grandini - 2017.2 As OIs, por serem criações dos Estados que são os sujeitos de Direito Internacional, são consideradas como sujeitos derivados. ● Características das OIs 1. interestatais 2. sujeito derivado de direito internacional 2.1 Carta Constitutiva das OIs Toda Constitutiva de uma OI devem conter os propósitos e a estrutura dela - passam a ter competência. Por meio desse acordo se falam quais são os Órgãos, os poderes. Destacando que alguns intelectuais passaram a questionar a competência porque uma coisa são os propósitos e os objetivos, outra é o poder que ela tem perante esses temas sob os quais pode atuar. As OIs geralmente não se privam em fazer coisas que estão só em suas Cartas Constitutivas,e essa atitude foi questionada e gerou as Teses da Competência - Cançado Trindade. - Primeira Tese de Competência: uma OI não pode atuar fora do que fala o seu Acordo Constitutivo - Grigory Tunkin, Rússia. No caso da ONU, ele afirma isso porque defende que ela foi criada num contexto da Guerra Fria, de polarização política, e que para garantir a viabilidade da organização foram estabelecidos critérios, como o veto no Conselho de Segurança United For Peace (1950): resolução da ONU feita para evitar a inviabilidade de veto. Quando um país veta demais não impedirá que uma ação ocorra, e quem assume é a Assembleia Geral. - Segunda Tese de Competência: Poderes Inerentes. Organização Internacional é como um Estado - Seyersted. A OI, para ele tem uma existência fática e não jurídica. Ou seja, os objetivos presentes na carta das OIs não são exaustivos pois seus poderes são inerentes a sua existência fática. 4 Faculdade Nacional de Direito - UFRJ Direito Internacional Público II Ingrid Grandini - 2017.2 Criticado porque coloca as OI como entidades soberanas. - Terceira Tese de Competência: Poderes Implícitos. Criada por um parecer da Corte Internacional de Justiça que afirma que as Cartas Constitutivas vão definir quais são os objetivos e os poderes implícitos e explícitos das OIs, logo admite que existe a possibilidade de existir poderes e competências implícitas sendo estes implícitos limitados pelos propósitos. 3. Organização das Nações Unidas - ONU A Organização das Nações Unidas - ONU é uma organização que admite adesão, ou seja, ela admite adesão de membros, de classificação universal e político, afinal ela foi criada após Segunda Guerra para substituir a Liga das Nações para evitar que conflitos da dimensão da 2ª GM voltassem a acontecer. Logo, o objetivo principal é a instauração/manutenção da paz. O acordo constitutivo da ONU é a Carta da ONU . A Carta da ONU não contém nenhum artigo indicando sua personalidade jurídica de direito internacional, isso porque os plenipotenciários que a fizeram acreditavam que poderia passar a percepção de criação de um supraestado. Essa questão foi levada à Corte Internacional de Justiça, em 1949, que definiu que não importava pois a personalidade jurídica da ONU é objetiva e implícita . Isso tem implicações: 1. a Personalidade jurídica da ONU se dá por causa de suas ações praticadas. 2. a ONU não se relaciona apenas com os Estados membros. Os países, quando desejam entrar na ONU devem enviar um pedido ao CS que fará, ou não, recomendação à Assembleia Geral, então ocorrerá uma votação com critério de maioria de ⅔ dos membros presentes. 3.1 Carta da ONU A Carta da ONU estabelece quais as funções, competências e qual âmbito de atuação vai ter a atuação da organização. Ex.: a instituição fala que algumas matérias, principalmente de segurança e que envolvem questões militares, é de função do Conselho de 5 Faculdade Nacional de Direito - UFRJ Direito Internacional Público II Ingrid Grandini - 2017.2 Segurança. No entanto, surgiu o United For Peace devido o grande número de vetos de alguns membros do CS. Então, essa resolução diz que quando se entende que o CS não consegue atuar em determinada causa que é de sua competência devido a super utilização do veto, essa capacidade torna-se da Assembleia Geral da ONU. Há também a Resolução 1514/1960 da época da descolonização Afro-asiática. O Art. 7, § 1º da Carta da ONU elenca os órgãos principais da instituição. Nele está presente o Conselho de Tutela que foi herdado da Liga das Nações Unidas. Esse Conselho surgiu no período entre guerras quando alguns Estados se desfazem e/ou ficam sem governo gerando necessidade de apoio internacional a fim de que seus povos estabeleçam algum novo governo. Hoje esse Conselho é subutilizado pois não há mais necessidade. O Art. 73 da Carta da ONU criou um novo Conselho que discorre sobre os Territórios sem Governo : assegurar com respeito a cultura dos povos interessados, progresso político, econômico, social e educacional, tratamento equitativo etc.; desenvolver capacidade de governo próprio; consolidar a paz e a segurança internacional, etc. OBS.: nenhum desses conselhos conseguiu expressar o que é o princípio da determinação dos povos que foi muito aclamado pelos povos colonizados, especialmente na década de 60. Essa resolução foi criada porque a ONU se viu no papel de guardiã dos direitos humanos e do princípio da autodeterminação dos povos - declaração de outorga de independência aos países e povos coloniais. Posterior às independências, a ONU criou o Comitê de Descolonização que foi mais atuante que o CS. Cançado Trindade entende esse Comitê como positivo (porém, parte da doutrina discorda). Ele crê que a atuação da ONU foi boa porque corroborou com os princípios da Organização. Nada disso estava na Carta da ONU, foi tudo uma interpretação extensiva e ampliativa, até porque muitos países eram contra a descolonização. 6 Faculdade Nacional de Direito - UFRJ Direito Internacional Público II Ingrid Grandini - 2017.2 ● art. 10, CONU: estabelece uma competência ampla e genérica para a Assembleia Geral. Ela pode discutir qualquer assunto e qualquer questão que estiver dentro das finalidades, ou seja, de competência de quaisquer órgãos. ● art. 103, CONU: mesmo que aprendemos em DIP I que não existe hierarquia entre as normas na ordem jurídica internacional, este artigo diz que caso algum país-mebro faça um acordo multilateral com outros que infrinja a Carta da ONU, a Carta prevalece. Então, uma vez que um Estado é signatário da Carta da ONU, ele aceita a superioridade dela e isso não é uma diluição da soberania, afinal, o Estado que aceitou a condição. ● art. 1º, CONU: propósitos da ONU ● art. 2º, CONU: princípios da ONU - igualdade de soberania, boa-fé nas relações internacionais, solução pacífica de conflitos, abstenção da força, não-intervenção nos assuntos internos dos países. Muitos Estados estão dentro da ONU e infringem alguns desses princípios, porém a ONU acredita que seja mais vantajoso eles estarem dentro da organização do que fora a fim de controlá-los ao menos minimamente. ● art. 5º, CONU: suspensão dos membros ● art. 6º, CONU: expulsão dos membros Os membros serão expulsos da ONU pela Assembleia Geral com recomendação do CS que deve especificar quais foram os princípios infringidos persistentemente. Ainda não ocorreu nenhum caso de expulsão. 3.2 Órgãos da ONU ● Assembleia Geral Órgão principal da ONU, afinal, participam todos os membros com igualdade de voto. No caso de uma delegação permanente é possível que hajam 5 delegados. Plural pois admite entidades, organizações internacionais e Estados observadores (ex.: Santa Sé, UE, Palestina, Cruz Vermelha) - observadores são possuem direito a voto.7 Faculdade Nacional de Direito - UFRJ Direito Internacional Público II Ingrid Grandini - 2017.2 Os membros se reúnem anualmente e em algumas Assembleias Extraordinárias convocadas ou pelo Secretário Geral da ONU, pelo CS ou por todos os Estados-membros. Além disso pode criar órgãos submetidos a ele como é o caso do Conselho de Direitos Humanos. A maioria das eleições é realizada com decisão de maioria de ⅔ como em casos de expulsão ou de recomendações relativas à manutenção da paz. Os atos normativos da ONU e da Assembleia Geral sou ou recomendações ou declarações e não possuem efeitos vinculantes (exceção as resoluções acordo). ● Conselho de Segurança (arts. 39 a 51, CONU) O CS pode, em tese, estabelecer bloqueios econômicos, comunicativos e etc a fim de evitar agressão de um Estado a outro. Se ele entende que o bloqueio não funciona, pode haver intervenção militar. Faz o controle, também, da entrada e expulsão de membros. - 15 membros: 5 permanentes e 10 eleitos pela Assembleia Geral (critérios geográficos - 2 Europa Oci; 1 Europa Ori; 2 Am. Latina; 5 África + Ásia - e contribuição com os princípios da ONU). - Em questões diretas ou de interesse, podem ser convidados Estados não membros (sem direito a voto). Em relação às votações, quando for matéria processual (Onde vamos nos reunir? NY?) é necessário que existam 9 votos (não necessariamente dos membros permanentes). Em matéria substancial (vamos invadir a Coréia do Norte?) é necessário 9 votos, sendo 5 dos membros permanentes. DUPLO VETO: Problema: a CONU não estabelece quais são as questões processuais e as materiais, isso fica a cargo do CS. Quando não há o consenso, deve haver o duplo veto, pois se ele não ocorre invalida o veto. QUESTÃO X: 1. É processual ou não? a. SIM - não tem veto. 8 Faculdade Nacional de Direito - UFRJ Direito Internacional Público II Ingrid Grandini - 2017.2 b. NÃO - pode ser vetado. As decisões do CS são obrigatórias , ou seja, são vinculantes, diferente das decisões proferidas pela Assembleia Geral. ● Conselho Econômico e Social (ECOSOC - art. 55, CONU) Conselho muito importante no passado que, hoje, perdeu um pouco. Sua função é voltada para cooperação internacional, melhoria de vida, aplicação de direitos sociais, culturais e humanos. Foi nesse âmbito que a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi feita em 1948. Essa função principal foi perdida que a Comissão de Direitos Humanos, criada pela ECOSOC foi de tanta importância que a ONU criou o Conselho de Direitos Humanos, então a comissão perdeu sua necessidade, já que o Conselho é um órgão vinculado à Assembleia e pode ser independente depois de certo tempo de funcionamento. O Conselho é positivo pois é um órgão permanente, já a comissão tinha reuniões anuais, logo, as questões de direitos humanos não precisam gerar uma assembleia extraordinária e podem ser tratadas no momento. - 54 membros eleitos pela Assembleia Geral com recomendação do CS. - o CDH possui 47 membros divididos por regiões - Mandato de 3 anos podendo ser renovado (a CONU não estabelece o tempo de renovação) ● Conselho de Tutela ● Corte Internacional de Justiça (CIJ ou CPIJ) A Corte (Permanente) Internacional de Justiça é o órgão judiciário principal do sistema ONU. Em regra, todos os membros da ONU também são membros da CIJ, e é possível que não-membros da ONU sejam da CIJ (e nesse caso, a Assembleia Geral tem que aprovar com recomendação do CS, com possibilidade de veto). - 15 juízes escolhidos pela Assembleia Geral com recomendação do CS e indicados pela Corte Permanente de Arbitragem. - mandato de 9 anos renovável por mais 9 anos. 9 Faculdade Nacional de Direito - UFRJ Direito Internacional Público II Ingrid Grandini - 2017.2 - Critério de escolha: capacidade jurídica, histórico acadêmico - currículo (não pode dois juízes de mesma nacionalidade). As funções são: 1. consultiva, ou seja, os Estados e a própria ONU pode levar à corte algumas questões para que ela se posicione sobre o correto. 2. decisória em relação aos litígios que acontecem entre os Estados, especialmente. Se o Estado não cumprir a sentença, a outra parte pode levar a questão ao CS que aplicará, ou não, medidas que acham cabíveis para o cumprimento da sentença. Lembrando que as decisões do CS são vinculantes. OBS.: A CIJ não julga indivíduos, ela julga os Estados. ● Secretariado - Atual Secretário Geral: Ban-Ki-moon (Coreano) O Secretariado é um órgão administrativo da ONU e funciona permanentemente. O Secretário Geral, apesar de liderar um órgão administrativo, assume funções políticas (participa das reuniões de Assembleia, das do CS, do ECOSOC, auxilia os Estados em soluções pacíficas de controvérsias - essas funções não estão expressas na carta da ONU). Não tem poder decisório , apenas de influência, por exemplo, sobre quem lidera as agências vinculadas à ONU. O Secretariado também é responsável pelo registro de tratados. Logo, todos os tratados que ocorrem, principalmente, entre os membros da ONU devem ser registrados no Secretariado. Isso é para ter um controle dos tratados e facilitar que um país que não aderiu inicialmente possa aderir. O Secretário Geral é recomendado pelo CS (sujeita a veto) e eleito por ⅔ dos votos da Assembleia (logo, quem escolhe, são os membros permanentes) e o mandato pode ser renovado infinitamente. 4. Aplicabilidade dos atos e resoluções da ONU É importante para os estudantes de direito o estudo das Organizações Internacionais pois, do ponto de vista do advogado, é necessário que se saiba qual ato vincula o País, isso, inclusive, pode ser usado em petições. Também é importante porque o nosso ensino de Direito é extremamente estatal e da ideia de construção do Estado. 10 Faculdade Nacional de Direito - UFRJ Direito Internacional Público II Ingrid Grandini - 2017.2 Quando começamos a estudar as OIs tiramos a nossa atenção dos Estados e que esses Estados estão reunidos em uma instituição e, mesmo assim, dentro do sistema estatal. Por exemplo, dentro da ONU temos 193 Estados que criam cada vez mais instrumentos para deixar a organização menos influente, isso porque partimos da soberania estatal. Por isso, quando olhamos para os OIs temos que observar sua natureza jurídica e seu controle de legalidade. Existem problemas que envolvem o estudo das OIs assim como os indivíduos. Não basta saber que o indivíduo é um sujeito de direito internacional e que tem seus direitos protegidos. Temos que saber o porquê deles serem indivíduos de direito internacional e é pelo motivo dele incomodar o Estado, ele pode demandar de um Estado internacionalmente e pode ser responsabilizado penalmente. Isso é muito pesado no âmbito do direito internacional porque há pouco tempo o Direito Internacional iniciava e acabava no Estado.Como já foi visto, os atos da Assembleia Geral não são vinculantes (exceto as resoluções acordo) enquanto os do Conselho de Segurança são vinculantes . As resoluções da ONU, quando elaboradas, são elaboradas por comitês especializados no referido assunto que discutem quais serão os princípios a serem aplicados, sendo assim, essas resoluções ganham âmbito normativo - opinio juris -, opinião jurídica internacional. Sempre que pensamos em Direito Internacional pensamos em Tratados e nos esquecemos dos costumes, destacando que, em muitas vezes, não se tem um tratado sobre determinado assunto que gera uma disputa política muito grande, todavia isso pode já ser um costume - direito internacional costumeiro. 5. Controle de Legalidade dos Atos da ONU No âmbito do Direito Internacional não há um órgão legislativo e nem uma Suprema Corte, o que se tem estabelecido da prática da ONU é que seus órgãos analisam a legalidade dos atos conforme a CONU. Lembrando que se o uso da CONU for exacerbado, nunca se chegará no objetivo dela, logo o United for Peace. Por isso temos a interpretação extensiva do que seria prática e do que poderia ser feito por cada órgão. 11 Faculdade Nacional de Direito - UFRJ Direito Internacional Público II Ingrid Grandini - 2017.2 O controle dos atos da ONU acontece por causa da existência da Corte Internacional de Justiça. Dessa forma, se há algum debate sobre a legalidade de algum ato da ONU, essa discussão é levada até a CIJ e quem pode demandar isso são os Estados ou os demais órgãos da ONU. Pode ser criado também um Conselho de Juristas ad hoc, sem vinculação com a ONU, porém especialistas no tema. Quando ocorre um ato da ONU que prejudica algum de seus membros, não há o Devido Processo Legal, isso porque na ONU não existe nenhum meio de defesa para esses membros que são prejudicados. O que acontece é que esses casos são levados para algum conselho jurídico onde será dado uma audiência justa para que não haja impressão de injustiças nas decisões. 6. Cláusula da Competência Nacional Exclusiva art. 2, VII, CONU Nenhum dispositivo da CONU autoriza a ONU a obrigar seus membros a cumprir o dispositivos e a ONU não é autorizada a intervir em assuntos que sejam de interesse exclusivo dos Estados. A Competência Nacional Exclusiva existe porque sem ela não existiria ONU. O medo inicial era a criação de um órgão supra estatal e, para isso, existe uma porção de cláusulas em que a ONU teria alguns motivos de interferência em assuntos internos. Todavia, a única cláusula vinculante, ou seja, que obriga certos Estados a receber imigrantes é a Convenção sobre Refugiados. A CIJ diz que aquilo que recai ou não unicamente na jurisdição de um Estado é relativo e deve ser estudado caso a caso pois depende do desenvolvimento das relações internacionais. Existem muitas ações contraditórias quando um Estado veta algo que diz ser de competência nacional exclusiva em uma ocasião, e aprova em outras. Isso acontece mais entre os membros permanentes que levantaram essa cláusula para vetar algumas resoluções que vão de encontro com seus interesses econômicos e políticos. Algumas vezes, os casos são passados do CS para a Assembléia Geral porque nela não tem veto. 12 Faculdade Nacional de Direito - UFRJ Direito Internacional Público II Ingrid Grandini - 2017.2 7. Processo Decisório O estudo do processo decisório tem sentido para enxergarmos a evolução dele. A força que as OIs vem ganhando no cenário internacional representa uma evolução do sistema de supremacia e soberania estatal. Tínhamos um direito internacional extremamente voltado para os Estados e hoje temos um novo sujeito de direito internacional ganhando força comparável com os Estados. Nesse sentido, falar de Processo Decisório das OIs, falar que o CS tem uma certa unanimidade e a Assembleia Geral é maioria simples e temos que entender o porque disso acontecer, a diferença e a consequência no âmbito internacional. A perda da unanimidade absoluta que permeava na Liga das Nações caiu por terra com a criação da Assembleia Geral da ONU, fator que democratizou a organização e deu mais poder a ela, uma vez que depende menos de um Estado individualmente devido o voto de maioria simples. As OIs passam a ser influentes no âmbito regional. Por exemplo, o Sistema Econômico Latino Americano - SELA, inclui todos os membros da América Latina, pelo princípio da pluralidade (diferente do MERCOSUL) e isso faz com que ela promova uma justiça econômica dentro da América Latina, ou seja, qualquer abusividade de países que tentam criar uma dependência, que tentam criar uma certa coercitividade de políticas econômicas, ela tenta dar auxílio a esse país, ou seja, garantir uma cooperação econômica entre os países para que a América Latina não perca forças. Quando falamos em consenso temos que pensar que ela é menos formal pois não admite critérios de como vai se chegar a uma decisão. É uma negociação.. SELA = AS MAIS IMPORTANTES É CRITÉRIO CONSENSUAL; MAS TAMBÉM PODE SER MAIORIA QUALIFICADA. LIGA DAS NAÇÕES = UNANIMIDADE ONU - AG = MAIORIA SIMPLES ONU - CS = UNANIMIDADE (TEM O DUPLO VETO, ENTÃO, SE VOR VOTAÇÃO PARA COISA PROCESSUAL, NÃO PRECISA DA UNANIMIDADE; UNANIMIDADE APENAS NA VOTAÇÃO SUBSTANCIAL] OTAN/OCDI = UNANIMIDADE ONU - DIREITOS DO MAR = CONSENSO OEA = (ANTES DO TIAR) UNANIMIDADE; (APÓS O TIAR) MAIORIA QUALIFICADA/ESPECIAL DE ⅔ ALADI = MAIORIA QUALIFICADA/ESPECIAL DE ⅔ GRUPO ANDINO = COMISSÃO É MAIORIA QUALIFICADA/ESPECIAL DE ⅔; JUNTA É UNANIMIDADE 13 Faculdade Nacional de Direito - UFRJ Direito Internacional Público II Ingrid Grandini - 2017.2 8. Privilégios e imunidades das OIs Na ONU, por exemplo, temos funcionários vinculados ao secretariado, contratados, consultores e etc. Os Estados têm território, todavia, as OIs não. As Organizações Internacionais possuem sedes, prédios que funcionam, e/ou não, como sede. O fato das OIs não possuírem território as impossibilitam de exercer soberania em âmbito internacional como os Estados. O não exercício da soberania e o fato da pretensão da personalidade jurídica individual, única e separada dos Estados significa que ela terá que ser um resguardo em relação aos Estados no momento que deseja funcionar. Do mesmo jeito que representantes dos Estados estrangeiros têm uma representação consular em outros territórios e possuem algumas imunidades e privilégios, as OIs também tem esse fator. Ex. os funcionários ou consultores da ONU possuem direito a um passaporte diferenciado com certos privilégios. Para que uma OI possa exercer as suas funções fielmente, sem ingerência estatal, precisa ter a imunidade de atuação - necessidade funcional. Convenção Geral sobre Privilégios e Imunidades - ONU (1946) Convenção Geral sobre Privilégios e Imunidades das Agências Especiais - ONU (1947) As OIs, em suas CartasConstitutivas ou em anexos, podem dizer sobre os privilégios e as imunidades das organizações internacionais e de seus funcionários. Por causa da Lei Antiterrorismo dos EUA e, consequentemente, o impedimento da entrada de Palestinos em territórios Estado-unidense - mesmo que a Palestina seja um membro observados da Assembleia Geral da ONU, que não tem direito a voto, porém com influência política - destaca-se que a sede da ONU é nos EUA, logo dificultaria a participação da Palestina na ONU. Criou-se um acordo, no qual no art. 21 ficou determinado que os litígios 14 Faculdade Nacional de Direito - UFRJ Direito Internacional Público II Ingrid Grandini - 2017.2 entre EUA e ONU que influenciam no funcionamento desta serão levados à arbitragem internacional. Isso foi uma grande evolução para o Direito Internacional, uma vez que as OIs não só acabaram diminuindo a força da soberania estatal, como também enfatiza que o Direito Internacional deve ser mais forte e hierarquicamente superior - princípio da superioridade jurídica internacional 9. Responsabilidades das OIs A partir do momento que existem sujeitos e entes com personalidade, com atuação, com compromisso com a sociedade internacional sobre determinados assuntos, eles têm responsabilidade perante aquilo que eles fazem. Então a partir do momento que as OIs passam a existir e elas passam a ter força no âmbito do direito internacional e no âmbito da sociedade internacional, consequentemente elas vão ter responsabilidade sobre o que elas fazem, ou elas vão ter que responder, internacionalmente sobre o que fazem. O Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, toma decisões que são vinculantes, muitas vezes extremamente violentas do ponto de vista da soberania estatal, podem causar mortes de civis, enfim, podem influenciar em conflitos já existentes, em conflitos que ainda não existem mas que tem algum tipo de controvérsia. Dessa forma, ele tem, ou deveria ter, um alto grau de responsabilidade. Não existe um sistema que fale qual é o tipo de responsabilização que o Conselho de Segurança toma. Então a atuação dele, desde 1945 foi criada a ONU, até agora é uma atuação praticamente livre e livre de responsabilização. Convenção de Viena (2002): tratado sobre responsabilidade internacional de OIs. Hoje já existem mais de 50 tratados que não seguiram em frente. Como se responsabilizar as OIs se elas não podem ser demandadas e nem demandar na CIJ e não há nenhum tipo de corte internacional que possa decidir sobre algum tipo de conflito sobre, por exemplo, a competência das OIs? Kosovo, Ex- Iugoslávia, demandou, por exemplo, dos países - tanto individualmente como coletivamente - que são 15 Faculdade Nacional de Direito - UFRJ Direito Internacional Público II Ingrid Grandini - 2017.2 signatários da OTAN (no caso exposto que esta bombardeou aquela), foi considerado improcedente porque os países alegaram que quem cometeu o ato foi a OTAN. Então, foi esclarecido que toda ação das organizações internacionais que constitua um ilícito, ou seja, uma violação a uma norma de direito internacional, pode ser por ação ou omissão. Ex: ONU omissa no conflito de Ruanda. Tem também a responsabilidade compartilhada, que aí resolveria essa questão aqui. Então por esse acordo de responsabilidade internacional das OIs, seriam responsáveis não só as OIs, vai depender de como o ilícito aconteceu, de quem foram os atores incisivos para a implementação de uma ação, ou seja, atores solidários da ação cometida. Teoria do Órgão: os funcionários das OIs são presentantes, ou representam a vontade da OI. Não é uma vontade individual, é a vontade da organização como um todo (“agente público da OI”). Alguns autores vão dizer "ah, as organizações internacionais poderiam limitar sua responsabilidade no limite das suas regras". No caso não, porque as organizações internacionais elas atuam num âmbito muito mais amplo. 16
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