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DIP II - Profª Natalia Cintra

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Direito Internacional Público II 
Professora: Natália Cintra de Oliveira Tavares 
 
 
1. Introdução 
Organização Internacional: ​sujeitos de direito internacional público que 
possuem personalidade jurídica internacional. Existem requisitos para se classificar algo 
como OI, apesar de não existir resoluções, tratados ou convenções que conceitue OIs. 
 
O Direito Internacional Público começou a surgir com o Tratado de Westifĺalia, o 
nascimento dos Estados e sua eventual expressão e autonomia perante o Papa. Nascia o 
conceito de soberania estatal. Os Estados começaram se relacionar entre si e trazendo uma 
complexidade para o planeta. Prova disso é que acontece a ​Primeira Guerra Mundial e com 
isso temos figuras diferentes atuando no sistema internacional - ​Sociedade das Nações ​(uma 
das primeiras organizações internacionais expressivas do direito na esfera das relações 
internacionais que precedeu a ONU). Além dela, surgiu a ​Organização Internacional do 
Trabalho - OIT ​- uma das OIs mais perenes e antigas. 
Entretanto, o que alterou muito o cenário de direito internacional público e às 
relações internacionais foi a ​Segunda Guerra Mundial​, afinal, foi criada a ​Organização das 
Nações Unidas - ONU​. Com isso, outras OIs foram criadas e hoje temos um número maior 
de OIs do que de Estados - ​landscape internacional​. 
Por esse motivo é muito difícil criar uma teoria geral das OIs porque elas são 
extremamente distintas e variadas entre si (MERCOSUL, União Europeia, OPEP, OIPI) e 
cada uma tem suas especificidades. Uma das mais expressivas é a ONU acompanhada da 
União Europeia. Isso porque quando pensamos em OI falamos em ​ordem jurídica 
internacional que é descentralizada, anárquica, livre de Estado Soberano, horizontal e, em 
tese, Estados iguais, e então observamos que a União Europeia tem a figura do Estado 
Soberano super estatal, sendo assim, temos uma alteração nessa visão “descentralizadora” das 
OIs ao menos em nível regional. 
 
 
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OBS.: a professora não acredita que o mundo esteja uniforme o suficiente para a criação de 
uma união global dos Estados, e acha que isso só pode acontecer em nível regional como já 
acontece na União Europeia, porém, sobre o Mercosul, destaque que a OI já existe a muitos 
anos e que está longe de ser uma União. 
 
O que temo hoje é aquilo que os autores denominam de ​institucionalização do 
direito internacional público​, ou seja, se antes era um direito internacional puramente 
estatal, hoje temos cada vez mais os interesses dos Estados convertidos em uma instituição 
que busca pelos interesses e objetivos na forma de OI. A Institucionalização também ocorre 
na forma de ONGs que são expressivas e fornecem, muitas vezes , apoio aos Estados - Ex.: 
Comitê Internacional da Cruz Vermelha que consegue fazer acordos com Estados - não são 
tratados, então ele tem um pouco de personalidade jurídica internacional. 
 
Mesmo com esse cenário de institucionalização do direito internacional público, 
ou seja, que a evolução seja diminuir um pouco a importância de alguns Estados para 
Aumentar de outros, os ​sujeitos de DIP ainda é o Estado Soberano e sua personalidade 
jurídica se dá só pelo fato de existir. Porém ​as OIs não existem só por existir​, afinal, são os 
Estados que vão decidir se haverá a criação, ou não, de determinada OI, ou seja, a ​doutrina 
do voluntarismo​ que se baseia na vontade soberana dos Estados. 
As ​OIs não são organismos de fato, ​são organismos de direito pois se baseiam 
na vontade coordenada dos Estados em criar uma organização internacional. 
As ​OIs são órgãos diferente e autônomos dos Estados ​, ou seja, não é porque o 
Estado criou a organização internacional que ela vai ser/estar submetida ao Estado. Dessa 
forma, os seus órgãos decisórios, as suas resoluções, seus processos, suas ações para as quais 
foram criadas tem uma vontade autônoma dos Estados. 
 
OBS.: Essa autonomia é questionável - vide ONU: autonomia relativa pois alguns Estados 
têm mais força que outros. 
OBS2.: são os Estados (e algumas empresas) que financiam as OIs, isso torna a autonomia 
são tão absoluta. 
 
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As ​OIs possuem personalidade jurídica distinta dos Estados​, ou seja, por mais 
que os Estados tenham uma personalidade jurídica soberana, a das OI são distintas. Não é 
porque o Estado criou uma OI que terão a mesma personalidade jurídica, elas possuem uma 
personalidade jurídica ​única e singular​, que não é superior à dos Estados (a mais 
expressiva). 
É importante que as OIs tenham um ​propósito​, ou seja, uma meta, um objetivo. 
 
● Requisitos para a formação de OIs 
1. livre vontade dos Estados em constituir - doutrina do voluntarismo. 
2. Criação de um acordo constitutivo - tratado - Ex.: Carta da ONU: 
acordo social. 
3. autonomia para com os Estados - vontade autônoma 
4. Personalidade Jurídica distinta dos Estados 
5. Propósito - meta, objetivo. 
 
OIs são criadas por Estados de maneira livre, por meio de um acordo constitutivo que 
dá a essas Organizações Internacionais uma Personalidade Jurídica internacional 
distinta dos Estados que as criaram e, também, da vontade autônoma desses. Além de 
que deve existir um propósito na sua constituição. 
 
2. OIs e ONGs 
OIs e ONGs são diferentes​. As ​ONGs podem ser Organizações que são apoiadas 
pelos Estados, mas isso não as tornam intergovernamentais e isso significa que elas ​são 
sujeitos de direito privado​. Em alguns casos, como o da Cruz Vermelha, devido sua 
grande expressividade internacional, é possível dizer em uma ​Personalidade Jurídica 
Internacional EXCEPCIONAL. 
Não podemos dizer que as ​OIs são organizações intergovernamentais, apesar de 
ser consolidado, é um termo equivocado, elas são interestatais ​, isso porque é entre Estados e 
não entre governos. Por exemplo, os nossos governos mudam e o Brasil continua inserido em 
Organizações Internacionais as quais está vinculado. 
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As OIs, por serem criações dos Estados que são os sujeitos de Direito 
Internacional, são consideradas como ​sujeitos derivados. 
 
● Características das OIs 
1. interestatais 
2. sujeito derivado de direito internacional 
 
2.1 Carta Constitutiva das OIs 
Toda Constitutiva de uma OI devem conter os propósitos e a estrutura dela - 
passam a ter competência. Por meio desse acordo se falam quais são os Órgãos, os poderes. 
Destacando que alguns intelectuais passaram a questionar a competência porque ​uma coisa 
são os propósitos e os objetivos, outra é o poder que ela tem perante esses temas sob os 
quais pode atuar. 
As OIs geralmente não se privam em fazer coisas que estão só em suas Cartas 
Constitutivas,e essa atitude foi questionada e gerou as ​Teses da Competência - Cançado 
Trindade. 
 
- Primeira Tese de Competência: ​uma OI não pode atuar fora do que fala o 
seu Acordo Constitutivo - Grigory Tunkin, Rússia. No caso da ONU, ele 
afirma isso porque defende que ela foi criada num contexto da Guerra Fria, de 
polarização política, e que para garantir a viabilidade da organização foram 
estabelecidos critérios, como o veto no Conselho de Segurança 
 
United For Peace (1950): resolução da ONU feita para evitar a inviabilidade de veto. 
Quando um país veta demais não impedirá que uma ação ocorra, e quem assume é a 
Assembleia Geral. 
 
- Segunda Tese de Competência: ​Poderes Inerentes. Organização 
Internacional é como um Estado - Seyersted. A OI, para ele tem uma 
existência fática e não jurídica. Ou seja, os objetivos presentes na carta das 
OIs não são exaustivos pois seus poderes são inerentes a sua existência fática. 
 
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Criticado porque coloca as OI como entidades soberanas. 
 
- Terceira Tese de Competência: ​Poderes Implícitos. Criada por um parecer 
da Corte Internacional de Justiça que afirma que as Cartas Constitutivas vão 
definir quais são os objetivos e os poderes implícitos e explícitos das OIs, logo 
admite que existe a possibilidade de existir poderes e competências implícitas 
sendo estes implícitos limitados pelos propósitos. 
 
3. Organização das Nações Unidas - ONU 
A Organização das Nações Unidas - ONU é uma organização que ​admite adesão​, 
ou seja, ela admite adesão de membros, de classificação ​universal ​e ​político​, afinal ela foi 
criada após Segunda Guerra para substituir a Liga das Nações para evitar que conflitos da 
dimensão da 2ª GM voltassem a acontecer. Logo, o ​objetivo principal é a 
instauração/manutenção da paz. ​O acordo constitutivo da ONU é a Carta da ONU ​. 
A Carta da ONU não contém nenhum artigo indicando sua personalidade jurídica 
de direito internacional, isso porque os plenipotenciários que a fizeram acreditavam que 
poderia passar a percepção de criação de um supraestado. Essa questão foi levada à Corte 
Internacional de Justiça, em 1949, que definiu que não importava pois a ​personalidade 
jurídica da ONU é objetiva e implícita ​. Isso tem ​implicações​: 
1. a Personalidade jurídica da ONU se dá por causa de 
suas ações praticadas. 
2. a ONU não se relaciona apenas com os Estados 
membros. 
Os países, quando desejam entrar na ONU devem enviar um pedido ao CS que 
fará, ou não, recomendação à Assembleia Geral, então ocorrerá uma votação com critério de 
maioria de ⅔ dos membros presentes. 
 
3.1 Carta da ONU 
A Carta da ONU estabelece quais as funções, competências e qual âmbito de 
atuação vai ter a atuação da organização. Ex.: a instituição fala que algumas matérias, 
principalmente de segurança e que envolvem questões militares, é de função do Conselho de 
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Segurança. No entanto, surgiu o ​United For Peace devido o grande número de vetos de 
alguns membros do CS. Então, essa resolução diz que quando se entende que o CS não 
consegue atuar em determinada causa que é de sua competência devido a super utilização do 
veto, essa capacidade torna-se da Assembleia Geral da ONU. 
Há também a ​Resolução 1514/1960​ da época da descolonização Afro-asiática. 
 
O Art. 7, § 1º da Carta da ONU elenca os ​órgãos principais da instituição. Nele está 
presente o Conselho de Tutela que foi herdado da Liga das Nações Unidas. Esse Conselho 
surgiu no período entre guerras quando alguns Estados se desfazem e/ou ficam sem governo 
gerando necessidade de apoio internacional a fim de que seus povos estabeleçam algum 
novo governo. Hoje esse Conselho é subutilizado pois não há mais necessidade. 
 
O ​Art. 73 da Carta da ONU criou um novo Conselho que discorre sobre os Territórios sem 
Governo ​: assegurar com respeito a cultura dos povos interessados, progresso político, 
econômico, social e educacional, tratamento equitativo etc.; desenvolver capacidade de 
governo próprio; consolidar a paz e a segurança internacional, etc. 
 
OBS.: nenhum desses conselhos conseguiu expressar o que é o princípio da determinação 
dos povos que foi muito aclamado pelos povos colonizados, especialmente na década de 60. 
 
Essa resolução foi criada porque a ONU se viu no papel de guardiã dos direitos 
humanos e do princípio da autodeterminação dos povos - ​declaração de outorga de 
independência aos países e povos coloniais​. Posterior às independências, a ONU criou o 
Comitê de Descolonização​ que foi mais atuante que o CS. 
 
Cançado Trindade entende esse Comitê como positivo (porém, parte da doutrina discorda). 
Ele crê que a atuação da ONU foi boa porque corroborou com os princípios da 
Organização. Nada disso estava na Carta da ONU, foi tudo uma interpretação extensiva e 
ampliativa, até porque muitos países eram contra a descolonização. 
 
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● art. 10, CONU: estabelece uma competência ampla e genérica para a 
Assembleia Geral. Ela pode discutir qualquer assunto e qualquer questão que 
estiver dentro das finalidades, ou seja, de competência de quaisquer órgãos. 
● art. 103, CONU: ​mesmo que aprendemos em DIP I que não existe hierarquia 
entre as normas na ordem jurídica internacional, este artigo diz que caso 
algum país-mebro faça um acordo multilateral com outros que ​infrinja a 
Carta da ONU, a Carta prevalece​. Então, uma vez que um Estado é 
signatário da Carta da ONU, ele aceita a superioridade dela e isso não é uma 
diluição da soberania, afinal, o Estado que aceitou a condição. 
● art. 1º, CONU: propósitos da ONU 
● art. 2º, CONU: princípios da ONU - ​igualdade de soberania, boa-fé nas 
relações internacionais, solução pacífica de conflitos, abstenção da força, 
não-intervenção nos assuntos internos dos países. 
 
Muitos Estados estão dentro da ONU e infringem alguns desses princípios, porém a ONU 
acredita que seja mais vantajoso eles estarem dentro da organização do que fora a fim de 
controlá-los ao menos minimamente. 
 
● art. 5º, CONU: suspensão dos membros 
● art. 6º, CONU: expulsão dos membros 
 
Os membros serão expulsos da ONU pela Assembleia Geral com recomendação do CS que 
deve especificar quais foram os princípios infringidos persistentemente. Ainda não ocorreu 
nenhum caso de expulsão. 
 
3.2 Órgãos da ONU 
● Assembleia Geral 
Órgão principal ​da ONU, afinal, participam todos os membros com igualdade de 
voto. No caso de uma delegação permanente é possível que hajam 5 delegados. ​Plural pois 
admite entidades, organizações internacionais e Estados observadores (ex.: Santa Sé, UE, 
Palestina, Cruz Vermelha) - ​observadores são possuem direito a voto.7 
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Os membros se ​reúnem anualmente e em algumas Assembleias 
Extraordinárias convocadas ou pelo Secretário Geral da ONU, pelo CS ou por todos os 
Estados-membros. Além disso pode criar órgãos submetidos a ele como é o caso do Conselho 
de Direitos Humanos. 
A maioria das eleições é realizada com decisão de maioria de ⅔ como em casos 
de expulsão ou de recomendações relativas à manutenção da paz. Os ​atos normativos da 
ONU e da Assembleia Geral sou ou recomendações ou declarações e ​não possuem efeitos 
vinculantes (exceção as resoluções acordo)​. 
 
● Conselho de Segurança (arts. 39 a 51, CONU) 
O CS pode, em tese, ​estabelecer bloqueios econômicos, comunicativos e etc a 
fim de evitar agressão de um Estado a outro. Se ele entende que o bloqueio não funciona, 
pode haver intervenção militar. Faz o controle, também, da ​entrada e expulsão de 
membros​. 
- 15 membros: 5 permanentes e 10 eleitos pela Assembleia Geral (critérios 
geográficos - 2 Europa Oci; 1 Europa Ori; 2 Am. Latina; 5 África + Ásia - e 
contribuição com os princípios da ONU). 
- Em questões diretas ou de interesse, podem ser convidados Estados não 
membros (sem direito a voto). 
 
Em relação às votações, quando for ​matéria processual ​(Onde vamos nos reunir? 
NY?) é necessário que existam ​9 votos (não necessariamente dos membros permanentes). Em 
matéria substancial (vamos invadir a Coréia do Norte?) é necessário ​9 votos, sendo 5 dos 
membros permanentes​. 
 
DUPLO VETO: 
Problema: a CONU não estabelece quais são as questões processuais e as materiais, isso fica 
a cargo do CS. Quando não há o consenso, deve haver o duplo veto, pois se ele não ocorre 
invalida o veto. 
QUESTÃO X: 
1. É processual ou não? 
a. SIM - não tem veto. 
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b. NÃO - pode ser vetado. 
 
As decisões do CS são obrigatórias ​, ou seja, são vinculantes, diferente das 
decisões proferidas pela Assembleia Geral. 
 
● Conselho Econômico e Social (ECOSOC - art. 55, CONU) 
Conselho muito importante no passado que, hoje, perdeu um pouco. Sua função é 
voltada para ​cooperação internacional, melhoria de vida, aplicação de direitos sociais, 
culturais e humanos. Foi nesse âmbito que a Declaração Universal dos Direitos Humanos 
foi feita em 1948. 
Essa função principal foi perdida que a Comissão de Direitos Humanos, criada 
pela ECOSOC foi de tanta importância que a ONU criou o Conselho de Direitos Humanos, 
então a comissão perdeu sua necessidade, já que o Conselho é um órgão vinculado à 
Assembleia e pode ser independente depois de certo tempo de funcionamento. 
O Conselho é positivo pois é um órgão permanente, já a comissão tinha reuniões 
anuais, logo, as questões de direitos humanos não precisam gerar uma assembleia 
extraordinária e podem ser tratadas no momento. 
 
- 54 membros eleitos pela Assembleia Geral com recomendação do CS. 
- o CDH possui 47 membros divididos por regiões 
- Mandato de 3 anos podendo ser renovado (a CONU não estabelece o tempo de 
renovação) 
 
● Conselho de Tutela 
● Corte Internacional de Justiça (CIJ ou CPIJ) 
A Corte (Permanente) Internacional de Justiça é o ​órgão judiciário principal do 
sistema ONU​. Em regra, todos os membros da ONU também são membros da CIJ, e é 
possível que não-membros da ONU sejam da CIJ (e nesse caso, a Assembleia Geral tem que 
aprovar com recomendação do CS, com possibilidade de veto). 
- 15 juízes escolhidos pela Assembleia Geral com recomendação do CS e 
indicados pela Corte Permanente de Arbitragem. 
- mandato de 9 anos renovável por mais 9 anos. 
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- Critério de escolha: capacidade jurídica, histórico acadêmico - currículo (​não 
pode dois juízes de mesma nacionalidade). 
 
As ​funções são: 1. ​consultiva​, ou seja, os Estados e a própria ONU pode levar à 
corte algumas questões para que ela se posicione sobre o correto. 2. ​decisória ​em relação aos 
litígios que acontecem entre os Estados, especialmente. Se o Estado não cumprir a sentença, a 
outra parte pode levar a questão ao CS que aplicará, ou não, medidas que acham cabíveis para 
o cumprimento da sentença. Lembrando que as decisões do CS são vinculantes. 
 
OBS.: A CIJ não julga indivíduos, ela julga os Estados. 
 
● Secretariado​ ​- Atual Secretário Geral: Ban-Ki-moon (Coreano) 
O Secretariado é um órgão ​administrativo da ONU e funciona 
permanentemente​. O Secretário Geral, apesar de liderar um órgão administrativo, ​assume 
funções políticas (participa das reuniões de Assembleia, das do CS, do ECOSOC, auxilia os 
Estados em soluções pacíficas de controvérsias ​- essas funções não estão expressas na carta 
da ONU​). ​Não tem poder decisório ​, apenas de influência, por exemplo, sobre quem lidera as 
agências vinculadas à ONU. 
O Secretariado também é responsável pelo ​registro de tratados​. Logo, todos os 
tratados que ocorrem, principalmente, entre os membros da ONU devem ser registrados no 
Secretariado. Isso é para ter um controle dos tratados e facilitar que um país que não aderiu 
inicialmente possa aderir. 
O Secretário Geral é recomendado pelo CS (sujeita a veto) e eleito por ⅔ dos 
votos da Assembleia (logo, quem escolhe, são os membros permanentes) e o mandato pode 
ser renovado infinitamente. 
 
4. Aplicabilidade dos atos e resoluções da ONU 
É importante para os estudantes de direito o estudo das Organizações 
Internacionais pois, do ponto de vista do advogado, é necessário que se saiba ​qual ato 
vincula o País​, isso, inclusive, pode ser usado em petições. Também é importante porque o 
nosso ​ensino de Direito é extremamente estatal​ e da ideia de construção do Estado. 
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Quando começamos a estudar as OIs tiramos a nossa atenção dos Estados e que 
esses Estados estão reunidos em uma instituição e, mesmo assim, dentro do sistema estatal. 
Por exemplo, dentro da ONU temos 193 Estados que criam cada vez mais instrumentos para 
deixar a organização menos influente, isso porque partimos da soberania estatal. Por isso, 
quando olhamos para os OIs temos que observar sua natureza jurídica e seu controle de 
legalidade. 
Existem ​problemas que envolvem o estudo das OIs assim como os indivíduos. 
Não basta saber que o indivíduo é um sujeito de direito internacional e que tem seus direitos 
protegidos. Temos que saber o porquê deles serem indivíduos de direito internacional e é pelo 
motivo dele incomodar o Estado, ele pode demandar de um Estado internacionalmente e pode 
ser responsabilizado penalmente. Isso é muito pesado no âmbito do direito internacional 
porque há pouco tempo o Direito Internacional iniciava e acabava no Estado.Como já foi visto, ​os atos da Assembleia Geral não são vinculantes (exceto as 
resoluções acordo) enquanto os ​do Conselho de Segurança são vinculantes ​. As ​resoluções 
da ONU, quando elaboradas, são elaboradas por comitês especializados no referido assunto 
que discutem quais serão os princípios a serem aplicados, sendo assim, essas resoluções 
ganham âmbito normativo - ​opinio juris -,​ ​opinião jurídica internacional​. 
Sempre que pensamos em Direito Internacional pensamos em Tratados e nos 
esquecemos dos ​costumes​, destacando que, em muitas vezes, não se tem um tratado sobre 
determinado assunto que gera uma disputa política muito grande, todavia isso pode já ser um 
costume - ​direito internacional costumeiro​. 
 
5. Controle de Legalidade dos Atos da ONU 
No âmbito do Direito Internacional ​não há um órgão legislativo e nem uma 
Suprema Corte​, o que se tem estabelecido da prática da ONU é que seus ​órgãos analisam a 
legalidade dos atos conforme a CONU. 
 
Lembrando que se o uso da CONU for exacerbado, nunca se chegará no objetivo dela, logo 
o United for Peace. Por isso temos a interpretação extensiva do que seria prática e do que 
poderia ser feito por cada órgão. 
 
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O ​controle dos atos da ONU acontece por causa da existência da ​Corte 
Internacional de Justiça​. Dessa forma, se há algum debate sobre a legalidade de algum ato 
da ONU, essa discussão é levada até a CIJ e quem pode ​demandar isso são os Estados ou os 
demais órgãos da ONU. Pode ser criado também um ​Conselho de Juristas ​ad hoc​, sem 
vinculação com a ONU, porém especialistas no tema. 
Quando ocorre um ato da ONU que prejudica algum de seus membros, não há o 
Devido Processo Legal, isso porque na ONU não existe nenhum meio de defesa para esses 
membros que são prejudicados. O que acontece é que esses casos são levados para algum 
conselho jurídico onde será dado uma audiência justa para que não haja impressão de 
injustiças nas decisões. 
 
6. Cláusula da Competência Nacional Exclusiva 
art. 2, VII, CONU 
 
Nenhum dispositivo da CONU autoriza a ONU a obrigar seus membros a 
cumprir o dispositivos e a ONU não é autorizada a intervir em assuntos que sejam de 
interesse exclusivo dos Estados. 
A Competência Nacional Exclusiva existe porque sem ela não existiria ONU. O 
medo inicial era a criação de um órgão supra estatal e, para isso, existe uma porção de 
cláusulas em que a ONU teria alguns motivos de interferência em assuntos internos. 
Todavia, a única cláusula vinculante, ou seja, que obriga certos Estados a receber 
imigrantes é a Convenção sobre Refugiados. ​A CIJ diz que aquilo que recai ou não 
unicamente na jurisdição de um Estado é relativo e deve ser estudado caso a caso pois 
depende do desenvolvimento das relações internacionais​. 
Existem muitas ações contraditórias quando um Estado veta algo que diz ser de 
competência nacional exclusiva em uma ocasião, e aprova em outras. Isso acontece mais 
entre os membros permanentes que levantaram essa cláusula para vetar algumas resoluções 
que vão de encontro com seus interesses econômicos e políticos. Algumas vezes, os casos são 
passados do CS para a Assembléia Geral porque nela não tem veto. 
 
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7. Processo Decisório 
O estudo do processo decisório tem sentido para enxergarmos a evolução dele. A 
força que as OIs vem ganhando no cenário internacional representa uma evolução do sistema 
de supremacia e soberania estatal. Tínhamos um direito internacional extremamente voltado 
para os Estados e hoje temos um novo sujeito de direito internacional ganhando força 
comparável com os Estados. 
Nesse sentido, falar de Processo Decisório das OIs, falar que o CS tem uma certa 
unanimidade e a Assembleia Geral é maioria simples e temos que entender o porque disso 
acontecer, a diferença e a consequência no âmbito internacional. A perda da unanimidade 
absoluta que permeava na Liga das Nações caiu por terra com a criação da Assembleia Geral 
da ONU, fator que democratizou a organização e deu mais poder a ela, uma vez que depende 
menos de um Estado individualmente devido o voto de maioria simples. 
As OIs passam a ser influentes no âmbito regional. Por exemplo, o Sistema 
Econômico Latino Americano - SELA, inclui todos os membros da América Latina, pelo 
princípio da pluralidade (diferente do MERCOSUL) e isso faz com que ela promova uma 
justiça econômica dentro da América Latina, ou seja, qualquer abusividade de países que 
tentam criar uma dependência, que tentam criar uma certa coercitividade de políticas 
econômicas, ela tenta dar auxílio a esse país, ou seja, garantir uma cooperação econômica 
entre os países para que a América Latina não perca forças. 
 
Quando falamos em consenso temos que pensar que ela é menos formal pois não admite 
critérios de como vai se chegar a uma decisão. É uma negociação.. 
SELA = AS MAIS IMPORTANTES É CRITÉRIO CONSENSUAL; MAS TAMBÉM PODE 
SER MAIORIA QUALIFICADA. 
LIGA DAS NAÇÕES = UNANIMIDADE 
ONU - AG = MAIORIA SIMPLES 
ONU - CS = UNANIMIDADE (TEM O DUPLO VETO, ENTÃO, SE VOR VOTAÇÃO 
PARA COISA PROCESSUAL, NÃO PRECISA DA UNANIMIDADE; UNANIMIDADE 
APENAS NA VOTAÇÃO SUBSTANCIAL] 
OTAN/OCDI = UNANIMIDADE 
ONU - DIREITOS DO MAR = CONSENSO 
OEA = (ANTES DO TIAR) UNANIMIDADE; (APÓS O TIAR) MAIORIA 
QUALIFICADA/ESPECIAL DE ⅔ 
ALADI = MAIORIA QUALIFICADA/ESPECIAL DE ⅔ 
GRUPO ANDINO = COMISSÃO É MAIORIA QUALIFICADA/ESPECIAL DE ⅔; JUNTA 
É UNANIMIDADE 
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8. Privilégios e imunidades das OIs 
Na ONU, por exemplo, temos funcionários vinculados ao secretariado, 
contratados, consultores e etc. Os Estados têm território, todavia, as OIs não. As 
Organizações Internacionais possuem sedes, prédios que funcionam, e/ou não, como sede. 
O fato das OIs não possuírem território as impossibilitam de exercer 
soberania em âmbito internacional como os Estados​. O não exercício da soberania e o fato 
da pretensão da personalidade jurídica individual, única e separada dos Estados significa que 
ela terá que ser um resguardo em relação aos Estados no momento que deseja funcionar. 
Do mesmo jeito que representantes dos Estados estrangeiros têm uma 
representação consular em outros territórios e possuem algumas imunidades e privilégios, as 
OIs também tem esse fator. 
 
Ex. os funcionários ou consultores da ONU possuem direito a 
um passaporte diferenciado com certos privilégios. 
 
Para que uma OI possa exercer as suas funções fielmente, sem ingerência estatal, 
precisa ter a imunidade de atuação - ​necessidade funcional​. 
 
Convenção Geral sobre Privilégios e Imunidades - ONU (1946) 
Convenção Geral sobre Privilégios e Imunidades das Agências Especiais - ONU (1947) 
 
As OIs, em suas CartasConstitutivas ou em anexos, podem dizer sobre os 
privilégios e as imunidades das organizações internacionais e de seus funcionários. 
 
Por causa da Lei Antiterrorismo dos EUA e, consequentemente, o impedimento da entrada 
de Palestinos em territórios Estado-unidense - mesmo que a Palestina seja um membro 
observados da Assembleia Geral da ONU, que não tem direito a voto, porém com influência 
política - ​destaca-se que a sede da ONU é nos EUA, logo dificultaria a participação da 
Palestina na ONU. Criou-se um acordo, no qual no art. 21 ficou determinado que os litígios 
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entre EUA e ONU que influenciam no funcionamento desta serão levados à arbitragem 
internacional. 
 
Isso foi uma grande evolução para o Direito Internacional, uma vez que as OIs 
não só acabaram diminuindo a força da soberania estatal, como também enfatiza que o 
Direito Internacional deve ser mais forte e hierarquicamente superior 
- ​princípio da superioridade jurídica internacional 
 
9. Responsabilidades das OIs 
A partir do momento que existem sujeitos e entes com personalidade, com 
atuação, com compromisso com a sociedade internacional sobre determinados assuntos, eles 
têm responsabilidade perante aquilo que eles fazem. Então a ​partir do momento que as OIs 
passam a existir e elas passam a ter força no âmbito do direito internacional e no âmbito da 
sociedade internacional, consequentemente elas ​vão ter responsabilidade sobre o que elas 
fazem​, ou elas vão ter que responder, internacionalmente sobre o que fazem. 
O Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, toma decisões que são 
vinculantes, muitas vezes extremamente violentas do ponto de vista da soberania estatal, 
podem causar mortes de civis, enfim, podem influenciar em conflitos já existentes, em 
conflitos que ainda não existem mas que tem algum tipo de controvérsia. Dessa forma, ele 
tem, ou deveria ter, um alto grau de responsabilidade. 
Não existe um sistema que fale qual é o tipo de responsabilização que o 
Conselho de Segurança toma​. Então a atuação dele, desde 1945 foi criada a ONU, até agora 
é uma atuação praticamente livre e livre de responsabilização. 
 
Convenção de Viena (2002): tratado sobre responsabilidade internacional de OIs. Hoje já 
existem mais de 50 tratados que não seguiram em frente. 
 
Como se responsabilizar as OIs se elas não podem ser demandadas e nem 
demandar na CIJ e não há nenhum tipo de corte internacional que possa decidir sobre algum 
tipo de conflito sobre, por exemplo, a competência das OIs? Kosovo, Ex- Iugoslávia, 
demandou, por exemplo, dos países - tanto individualmente como coletivamente - que são 
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Faculdade Nacional de Direito - UFRJ 
Direito Internacional Público II 
Ingrid Grandini - 2017.2 
signatários da OTAN (no caso exposto que esta bombardeou aquela), foi considerado 
improcedente porque os países alegaram que quem cometeu o ato foi a OTAN. 
Então, foi esclarecido que ​toda ação das organizações internacionais que 
constitua um ilícito​, ou seja, uma violação a uma norma de direito internacional, ​pode ser 
por ação ou omissão​. Ex: ONU omissa no conflito de Ruanda. 
Tem também a ​responsabilidade compartilhada​, que aí resolveria essa questão 
aqui. Então por esse acordo de responsabilidade internacional das OIs, seriam responsáveis 
não só as OIs​, vai depender de como o ilícito aconteceu, de quem foram ​os atores incisivos 
para a implementação de uma ação, ou seja, atores solidários da ação cometida. 
 
Teoria do Órgão: os funcionários das OIs são presentantes, ou representam a vontade da OI. 
Não é uma vontade individual, é a vontade da organização como um todo (“agente público da 
OI”). 
 
Alguns autores vão dizer "ah, as organizações internacionais poderiam limitar sua 
responsabilidade no limite das suas regras​". No caso ​não​, porque as organizações 
internacionais elas atuam num ​âmbito muito mais amplo​. 
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