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1/4 Ação Socioeducativa Para que seja possível a aplicação de medida socioeducativa, é necessária a promoção da ação socioeducativa, não podendo o juiz aplicar diretamente tal medida sem prévio procedimento judicial. O Ministério Público é o legitimado exclusivo para a propositura da ação socioeducativa. Não pode o juiz, de ofício, dar início ao procedimento judicial. Ressalte-se que a ação socioeducativa é modalidade de ação pública incondicionada, não havendo necessidade de representação do ofendido. O principal objetivo é a aplicação de medida socioeducativa, que visa, acima de tudo, à recuperação e orientação do adolescente. Como vimos no tópico anterior, se não for o caso de arquivamento ou remissão, o promotor oferece representação, que é peça inicial da ação socioeducativa. O artigo 182, parágrafo 2º, dispõe que a representação independe de prova pré- constituída de autoria e materialidade. A justa causa, que conhecemos como lastro probatório mínimo no Processo Penal, encontra-se bastante minimizada no Estatuto, para o qual bastam indícios de autoria e materialidade para o oferecimento de representação. No entanto, entendemos pela necessidade de prova inicial de autoria e materialidade, devendo a justa causa do Processo Penal ser estendida ao procedimento menorista para que o adolescente responda à ação socioeducativa apenas se presente lastro probatório mínimo de materialidade. Nesse sentido, Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, HC 83904 de 04/10/2007, de relatoria da Ministra Jane Silva: 1. Hipótese na qual o Magistrado de 1º grau rejeitou a representação oferecida contra o adolescente, por entender que a ausência de laudo de constatação impede o prosseguimento do feito, tendo ainda acrescentado que a falta de descrição da quantidade do entorpecente apreendido impede, inclusive, que seja verificada a tipicidade do ato infracional. 2. O Colegiado de origem deu provimento ao apelo ministerial, com base no art. 182, § 2º, do ECA, que afirma ser desnecessária a produção de prova pré-constituída de autoria e materialidade da conduta infracional para o oferecimento de representação. 3. Tratando-se de ato infracional, torna-se ainda mais relevante a exigência do referido laudo, em virtude em observância ao próprio espírito do Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual visa à reintegração do jovem à sociedade, restando caracterizada a afronta aos objetivos do sistema. 4. Caso seja reconhecida a desnecessidade do laudo preliminar, estar-se-ia admitindo a sujeição do jovem a procedimento de apuração de prática de ato infracional, muitas vezes em regime de internação provisória, sem que 2/4 haja sequer prova inicial da materialidade da conduta, o que é vedado na ações penais, devendo ser tal entendimento estendido aos feitos que tramitam perante o juízo menorista, com maior razão (...) (grifos nossos) Em sentido contrário, Márcio Mothé Fernandes:1 Embora diferente do Processo Penal, tal possibilidade não acarretará qualquer prejuízo para o adolescente, haja vista que ao final do procedimento, com exeção da medida de advertência, somente poderá ser aplicada medida socioeducativa mediante “a existência de provas suficientes da autoria e da materialidade da infração” (art. 114), a serem apuradas em Juízo. O promotor oferece representação visando à aplicação de uma medida socioeducativa. O juiz vai promover o juízo de admissibilidade da representação analisando se estão presentes as condições da ação: possibilidade jurídica do pedido, legitimidade e interesse de agir. Se o juiz recebe a representação, dá início ao procedimento judicial. Primeiramente, o juiz vai determinar a citação do adolescente, embora a lei fale em notificação. O procedimento trazido pelo Estatuto constitui verdadeira ação, sendo a citação o ato próprio de comunicação para determinado adolescente responder a ela. Ele vai aprazar uma audiência de apresentação mediante decisão interlocutória, decidindo ainda pela manutenção ou decretação de internação provisória. Essa audiência equivale a um interrogatório e é imprescindível ao desenvolvimento do procedimento. O adolescente deve ser citado pessoalmente, jamais por edital ou com hora certa. Se não for localizado ou se, tendo sido citado, não comparece, o feito será sobrestado. O juiz expede mandado de busca e apreensão do adolescente e fica aguardando. Quando o adolescente completar 18 anos, o processo deverá ser arquivado, em virtude de prescrição socioeducativa (salvo nos casos de maior proporção, em que ainda poderia haver internação após os 18 anos). Conclusão: só há revelia inicial, nunca há revelia superveniente nesse procedimento, porque a presença física do adolescente na audiência de apresentação obsta a revelia, não sendo necessária sua presença na audiência de continuação. Feita a audiência de apresentação, o juiz vai inquirir o adolescente. É controvertida a necessidade da presença de advogado nessa primeira audiência. Entendemos pela necessidade sob pena de nulidade absoluta, tendo 1 Ação Sócioeducativa Pública, Lumen Juris , 2ª. Ed, p. 44 3/4 em vista que nessa audiência poderá o Juiz conceder remissão, que poderá a qualquer momento antes da sentença, desde que com prévia oitiva do adolescente e manifestação do Ministério Público. Neste sentido, recente decisão proferida pela Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça no HC 67826, de relatoria da Ministra Maria Thereza de Assis Moura, em 09/06/2009: CRIANÇA E ADOLESCENTE. HABEAS CORPUS. AUDIÊNCIA DE APRESENTAÇÃO. DEFESA TÉCNICA. PRESCINDIBILIDADE. CONSTRANGIMENTO. RECONHECIMENTO. 1. A remissão, nos moldes dos arts. 126 e ss. do ECA, implica a submissão a medida sócio educativa sem processo. Tal providência, com significativos efeitos na esfera pessoal do adolescente, deve ser imantada pelo devido processo legal. Dada a carga sancionatória da medida possivelmente assumida, é imperioso que o adolescente se faça acompanhar por advogado, visto que a defesa técnica, apanágio da ampla defesa, é irrenunciável. 2. Ordem concedida para anular o processo e, via de consequência, reconhecer a prescrição do ato infracional imputado à paciente. (grifos nossos) No mesmo sentido, decisão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, em 15/09/2009, no julgamento do HC 92390, de relatoria do Ministro Napoleão Nunes Maia Filho: 1. A jurisprudência deste Superior Tribunal firmou-se no sentido de reconhecer a nulidade da audiência de apresentação - e, por consequência, dos demais atos decisórios que lhe são posteriores -, em razão da ausência de defesa técnica. 2. Parecer do MPF pela concessão da ordem. 3. Ordem concedida, para anular a audiência de apresentação, e todos os atos decisórios que lhe são posteriores, para que seja renovada com a presença da defesa técnica. A decisão que aplica medida socioeducativa na audiência de apresentação tem natureza de sentença definitiva, atacável mediante apelação. A jurisprudência vem considerando erro grosseiro a interposição de agravo. Caso os pais não sejam localizados, determina o artigo 184 a nomeação de curador especial ao adolescente. Se esse não tiver advogado constituído, o juiz nomeia defensor para apresentação de defesa prévia em três dias, com rol de testemunhas (artigo 186) e apraza audiência em continuação (que é semelhante a uma audiência de instrução e julgamento). Nessa serão ouvidas as testemunhas da representação e da defesa prévia, juntada ao relatório da equipe interprofissional, debates orais do MinistérioPúblico e da defesa, pelo prazo de 20 minutos prorrogáveis por mais dez, culminando com a sentença. 4/4 Não fica prejudicada a defesa do adolescente quando presente o defensor público, operador da defesa técnica, que acumula as funções de defensor e curador especial na audiência de apresentação. (STJ REsp 912049 / RS – Min. Arnaldo Esteves Lima - 5ª. Turma) Ao proferir sentença, o juiz aplicará a medida socioeducativa adequada, podendo cumulá-la com medida de proteção ou até mesmo, aplicar duas medidas sócioeducativas. Se, no entanto, estiver comprovada a inexistência do fato, não houver prova da existência deste, não constituir ato infracional ou não existir prova de ter o adolescente concorrido para o ato infracional, o juiz não aplicará nenhuma medida, absolvendo o adolescente. Caso o menor esteja internado, será colocado imediatamente em liberdade. Da descisão que concede remissão com aplicação de medida socioeducativa será cabível apelação, assim como da decisão que promove o arquivamento, a que absolve ou sanciona o adolescente. Prazo para conclusão do procedimento O artigo 183 dispõe que, quando o adolescente se encontrar preso provisoriamente, o prazo para encerramento do procedimento é de 45 dias. Consoante o artigo 108, o prazo máximo para a internação provisória é de 45 dias, o que justifica a norma do artigo 183 do Estatuto.
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