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processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 1 IV – COMPETÊNCIA 1. CONCEITO Competência é parcela de poder atribuída a um determinado ente (competência administrativa, judicial, etc.). A competência é a medida da jurisdição. O Estado de Direito é um Estado de competências, pois é um Estado onde os poderes agem no limite das competências a eles atribuídas. E quem atribui essa competência e limite é o Direito. Art. 86. As causas cíveis serão processadas e decididas, ou simplesmente decididas, pelos órgãos jurisdicionais, nos limites de sua competência, ressalvada às partes a faculdade de instituírem juízo arbitral. 2. PRINCÍPIOS A competência jurisdicional no Brasil é regida por três princípios: 2.1. Princípio do Juiz Natural É o princípio fundamental sobre competência, pois garante o direito de ser julgado por um juízo competente. A criação de uma vara especializada não viola o princípio, pois é especializada para julgar qualquer causa sobre aquela matéria. 2.2. Princípio da Tipicidade da Competência Competência é aquela que foi tipicamente prevista em lei, a lei é quem atribui competência. Não há vácuo de competência, sempre deverá haver juiz competente para julgar uma causa. A doutrina e jurisprudência criaram a situação de competência implícita, visto que ao legislador seria impossível prever todas as situações de competência. A tese da competência implícita, portanto, é uma forma de fechar o sistema, já que não pode haver vácuo de competência. Ex: não há nenhum texto na CF que diz que cabe ao STF o julgamento de embargos de declaração, mas é lógico que o STF julgue os embargos contra sua decisão. 2.3. Princípio da Indisponibilidade da Competência As regras de competência são indisponíveis pelo juiz. Só a lei pode autorizar qualquer relativização/alteração de uma regra de competência. Matéria de competência é atividade exclusiva do legislador. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 2 Assim, os três princípios básicos sobre competência dizem que: temos direito a ser julgados por um juiz previamente determinado e competente, que essa competência é prevista em lei e somente a lei pode alterá-la. 3. REGRA FUNDAMENTAL DA COMPETÊNCIA Competenzcompetenz A palavra acima é um substantivo alemão que traduz a regra fundamental da competência segundo a qual todo juiz é juiz da sua própria competência. Todo juiz tem competência para julgar a sua própria competência, para dizer se é competente ou não. Essa competência é a competência mínima que o juiz tem, porque, por mais incompetente que seja o juiz ele sempre terá competência de se dizer incompetente. 4. FOROS CONCORRENTES, FORUM SHOPPING, FORUM NON CONVENIENS 4.1. Foros Concorrentes Em muitos casos o legislador confere ao autor vários foros competentes para julgar a mesma causa. Há foros concorrentes quando sempre houver mais de um foro para julgar a causa. Ex: quando o dano for nacional, posso propor a ação competente em qualquer das capitais e em Brasília. 4.2. Forum Shopping A escolha por um dos foros concorrentes pelo autor é chamada de forum shopping. Essa terminologia designa a situação de o autor poder escolher um entre vários foros concorrentes. Contudo, a escolha do foro começou a ser usada com abuso, escolhendo o autor não o foro que lhe é mais conveniente, mas sim, mais prejudicial ao réu. O forum shopping é um fato da vida. O forum non conveniens é uma teoria contra o fato do forum shopping, quando abusivo. 4.3. Forum Non Conveniens Para reagir ao abuso do forum shopping, a jurisprudência criou a doutrina do forum non conveniens. Segundo ela, o autor não pode escolher, entre as opções de foro, qualquer um deles. O princípio da boa-fé é a base desse princípio. Normalmente essa teoria se aplica ao conflito de competência internacional, às várias competências concorrentes, principalmente quando internacionais. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 3 O STJ disse que não adota essa teoria, mas não fundamentou a decisão. Com certeza será novamente vista e discutida, frente à falta de fundamentação da decisão que nega a aplicação. Pergunta-se: Relacione princípio da boa-fé, foros concorrentes, e forum shopping e forum nos conveniens e a regra da Competenzcompetenz. 5. DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA 5.1. Lei em Sentido Amplo a) Constituição Federal Em razão do Princípio da Tipicidade, cabe à lei, em sentido amplo, distribuir a competência. A CF faz a primeira distribuição de competência, visto que é a Lei Maior em nosso ordenamento. E o faz repartindo a jurisdição brasileira em cinco Justiças: Federal, Militar, Eleitoral, Trabalhista e Estadual. A Justiça Estadual possui uma competência residual, pois a CF não disse o que cabe aos Estados, mas apenas às outras quatro justiças. Portanto, aos Estados cabe a competência remanescente. b) CE, Leis Federais e Regimentos Feita a primeira distribuição da competência pela CF, cabe às Constituições Estaduais fazer a distribuição da competência dentro de seus respectivos territórios. Paralelamente a isso, as leis federais também distribuem competência. Esse emaranhado de leis vai afunilando até chegarmos aos Regimentos Internos dos Tribunais, os quais são atos normativos que distribuem competência (porque competência é determinada por lei em sentido amplo). Tais regimentos funcionam da seguinte forma: pegam a competência que cabe ao tribunal, a qual foi determinada pela CF e pelas leis, e a distribui internamente. Logo, o regimento não cria competência nova; competência que o tribunal não possui, apenas distribuí a competência ao Tribunal já atribuída. Pergunta-se: Qual é a natureza da decisão de um juiz que julga causa fora do âmbito de sua justiça? Ex: juiz federal julga causa trabalhista. Existem duas correntes que explicam o problema posto: 1ª C – Inexistência da Decisão. Defende que se o juiz julga uma causa fora da sua justiça (sem competência constitucional) este juiz é um „não juiz‟ e a decisão processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 4 dada é uma „não decisão‟, essa decisão, assim, não existe. Para essa corrente, um juiz só é juiz em sua justiça. Ada Pelegrini Grinover assim se manifesta. Contudo, não é o pensamento majoritário, prevalecendo o da segunda corrente. 2ª C – Nulidade da Decisão. Entende que a decisão proferida é nula, ela existe, mas é nula, revelando incompetência constitucional. O juiz, por mais incompetente que seja, tem a competência de se dizer incompetente (como acima explanado). 5.2. Concretização e Perpetuação da Competência A CF, as leis, os regimentos, todos estes documentos são normas gerais que determinam a competência de forma abstrata. Definem os juízes que podem julgar uma causa futura, mas não sabemos, concretamente, qual será o juízo que julgará nossa causa. Quando um caso concreto aparecer é preciso definir quem, dentre todos os juízes competentes existentes, julgará a causa. Assim, o momento de concretização, determinação, fixação da competência, regulado no art. 87, CPC, é o da propositura da ação: CPC. Art. 87. Determina-se a competênciano momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia. É a propositura da ação que determina o juízo competente. Dessa forma, a ação se reputa proposta na data da distribuição ou na data do despacho inicial, se não houver necessidade de distribuição (quando há apenas um juízo). A partir disso, aquele juízo deverá proferir a decisão, ocorrendo o fenômeno da perpetuação da jurisdição (perpetuatio jurisdicionis). A perpetuação da jurisdição é uma regra que tem por objetivo estabilizar o processo, mantendo-o perante o mesmo juízo. Porém, só podemos falar da perpetuação da jurisdição se o juízo é competente para a causa (a competência é pressuposto da perpetuação). Assim, havendo incompetência, não se fala em perpetuação. 5.3. Exceções à Perpetuação da Jurisdição Há dois fatos que podem acontecer, os quais quebram a perpetuação da competência. A causa sai de um juízo e vai para outro. CPC. Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia. (a competência em razão da matéria ou da hierarquia são exemplos de competência absoluta). processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 5 a) Supressão do Órgão Judiciário Se o órgão desaparece, deixa de existir, as causas que ali corriam devem ser redistribuídas. b) Alteração de Regra de Competência Absoluta Se sobrevier uma alteração de regra de competência absoluta, a causa terá de sair do juízo no qual se encontra e ir para o agora competente. A mudança superveniente de competência absoluta quebra a perpetuação da competência (tratando-se de competência relativa não se fala em quebra da perpetuação). Ex: ente federal pede para entrar numa causa que está correndo na justiça estadual. É fato superveniente que altera a competência absoluta, devendo os autos ser remetidos à justiça federal. Obs.: Se a lei que modifica a competência absoluta vier após a sentença (após a decisão, até mesmo de Tribunal), não há redistribuição do processo, pois a causa já foi julgada. Ex: EC 45 (fato superveniente que muda a competência absoluta) fez com que as causas que tramitaram na justiça estadual passassem a correr na justiça do trabalho. Mas as causas que já tinham sido julgadas não foram remetidas ao juízo do trabalho, continuaram na justiça estadual, correndo os recursos da decisão da justiça estadual. 6. CLASSIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA 6.1. Competência Internacional O CPC dividiu a competência em dois capítulos: a competência internacional e a interna. Abaixo iremos estudar tudo sobre competência interna, contudo, temos de saber as regras básicas da competência internacional, ou seja, em quais situações o judiciário brasileiro será competente para julgar causas internacionais. Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando: I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III - a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no n o I, reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal. Art. 89. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II - proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 6 Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas. 6.2. Competência Originária É a competência para conhecer e julgar a causa primeiramente. É o primeiro juízo que examina a causa. Normalmente, a competência originária pertence aos juízes monocráticos de primeira instância. Há casos, contudo, que o tribunal conhece a causa primeiramente. Ex: ADI – competência originária do STF. Obs.: a validade de um ato é analisada no momento no qual é praticado. Assim, se o juiz pratica um ato, temos de analisar a validade no momento no qual o juiz age. 6.3. Competência Derivada É a competência para conhecer da causa num segundo momento, em grau de recurso. Normalmente é atribuída aos tribunais. Há casos, contudo, em que juiz monocrático tem competência derivada. Ex: embargos de declaração; embargos infringentes de alçada previsto na Lei de Execução Fiscal nº. 6.830/80. 6.3. Competência Absoluta A regra de competência absoluta é regra criada para atender uma especial finalidade pública. Por esse fato, é regra que não pode ser alterada pela vontade das partes. É uma regra cujo desrespeito pode ser conhecido de ofício pelo juiz; qualquer das partes pode alegar a incompetência absoluta enquanto o processo estiver pendente (não há preclusão). Art. 113. A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada, em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de exceção. § 1 o Não sendo, porém, deduzida no prazo da contestação, ou na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos, a parte responderá integralmente pelas custas. § 2 o Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao juiz competente. Terminado o processo a incompetência absoluta ainda dá ensejo à ação rescisória. Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente. Assim, a incompetência absoluta é violação grave do ordenamento. Obs.: podemos alegar a incompetência absoluta a qualquer tempo, mas aquele que alega tardiamente a incompetência absoluta arca com os custos do retardamento. No novo projeto do CPC, podemos alegar a incompetência a qualquer tempo, mas findo o processo não cabe mais a ação rescisória. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 7 6.4. Competência Relativa a) Conceito A regra de competência relativa é criada para proteger a parte. Por esse fato, as regras de competência relativa podem ser alteradas pela vontade das partes. Exatamente por conta desta premissa, o juiz não pode, de ofício, conhecer de incompetência relativa. STJ Súmula 33 - Incompetência Relativa - Declaração de Ofício - A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício. b) Alegação de Incompetência Relativa Só o réu pode alegar incompetência relativa e no primeiro momento que lhe couber falar nos autos, sob pena de preclusão. Ainda, a alegação de incompetência relativa feita pelo réu nesse primeiro momento deve ser feita de forma especial: por meio de petição avulsa/autônoma, distinta da contestação, que se chama exceção de incompetência. O réu tem prazo de 15 dias para alegar a incompetência relativa, não o fazendo, ocorre o fenômeno da preclusãotemporal. Obs.: a jurisprudência aceita que a incompetência relativa seja alegada dentro da contestação. O projeto do novo CPC aprova essa posição da jurisprudência. Em concurso público o que respondemos? A letra da lei, que diz que a peça deve ser autônoma. A jurisprudência diz que pode a incompetência ser alegada no bojo da contestação, desde que não cause prejuízo ao autor. As duas posições estão corretas, devemos, assim, verificar a assertiva. c) Incompetência e Extinção do Processo Reconhecida a incompetência (absoluta ou relativa), a causa deve ser remetida ao juízo competente. Há dois casos, contudo, nos quais a incompetência gera a extinção do processo: c.1. Incompetência no âmbito dos juizados especiais c.2. Incompetência internacional: falta competência internacional ao Brasil para julgar causa que, por exemplo, deveria ser proposta na Austrália. d) Distinção entre Incompetência Absoluta e Relativa Reconhecida a incompetência absoluta os atos decisórios já praticados serão nulos. No caso de incompetência relativa não há nulidade alguma, sendo os autos simplesmente remetidos ao juízo competente. Obs.: MP pode alegar incompetência relativa para réu incapaz; o autor não pode alegar a incompetência relativa, pois ele propôs a ação; o réu pode alegar a incompetência relativa antes de contestar; a incompetência absoluta pode ser alegar a qualquer momento até o processo acabar, sem exceção. Assim, pode ser alegada até o STJ, STF. e) Alteração Voluntária de Regras de Competência Relativa Pode ocorrer de duas maneiras. e.1. Tacitamente: de forma silenciosa. Basta o réu não alegar a exceção de incompetência, ocorrendo a preclusão. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 8 e.2. Expressamente: a modificação expressa da competência relativa é feita pelo foro de eleição. e.2.1. Foro de eleição: é cláusula contratual pela qual os negociantes escolhem um determinado território onde as causas relativas àquele negócio deverão ser ajuizadas. O foro é sempre escrito, mas nada impede que haja dois foros de eleição. Ex: se o negociante A propuser a ação o foro é X, se a outra parte a propuser, o foro é Y. O foro de eleição e a arbitragem convivem normalmente. e.2.1. Foro de eleição em contratos de adesão: CPC. Art. 112. Argúi-se, por meio de exceção, a incompetência relativa. Parágrafo único. A nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu. Os contratos de adesão podem ter cláusulas de foro de eleição e essas cláusulas serem abusivas. Sendo abusivas, o juiz pode declará-las nulas e remeter os autos a comarca do réu. Se o juiz não o fizer e citar o réu e este também nada alegar, há a preclusão: CPC. Art. 114. Prorrogar-se-á a competência se dela o juiz não declinar na forma do parágrafo único do art. 112 desta Lei ou o réu não opuser exceção declinatória nos casos e prazos legais. É hipótese mista, híbrida, pois é caso de incompetência relativa que juiz conhece de ofício, mas não pode fazê-lo a qualquer tempo, pois se o réu vier ao processo e não falar nada, ocorre a preclusão. 7. CRITÉRIOS DE DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA 7.1. Competência Objetiva a) Conceito: aquela que é determinada de acordo com a demanda. A demanda é o fator, o critério, o dado relevante para saber qual o juízo competente. b) Elementos da Demanda: a demanda tem partes, pedido e causa de pedir. O legislador toma os elementos da demanda para distribuir a competência. b.1. Partes - competência em razão da pessoa (absoluta): o legislador leva em consideração uma das partes presentes em juízo para determinar a competência. Foro privilegiado é exemplo de competência em razão da pessoa. Ex: VARAS DA FAZENDA PÚBLICA – juízo com competência fixada em razão da presença de uma determinada parte, qual seja a Fazenda Pública. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 9 Obs.: em pequenas cidades normalmente não há vara da fazenda pública, o juiz é competente para tudo, para todas as causas. O sujeito quer demandar contra o Estado, o fazendo, assim, na sua cidade. O Estado vem, em sua defesa, alegando que a causa deve ir para a capital, onde há vara da fazenda pública. Essa alegação do Estado não procede. Isso, porque a ação contra o Estado somente é proposta na vara da fazenda quando esta existe na comarca, não existindo, a ação tramita na vara da cidade na qual foi proposta, sem nenhum problema. É o que quer dizer a súmula 206, STJ: STJ – Súmula 206. Vara Privativa Instituída por Lei Estadual - Competência Territorial - A existência de vara privativa instituída por lei estadual, não altera a competência territorial resultante das leis de processo. (Vara da Fazenda Pública apenas na capital, por exemplo, não atrai as causas de outras comarcas, tramitando a ação no juízo comum). b.2. Pedido – competência em razão do valor da causa (relativa): a competência em razão do valor é determinada pelas normas de organização judiciária. Todavia, há regras no CPC que já determinam essa competência, como, por exemplo, a competência dos Juizados Especiais no caso de acidente de trânsito, independentemente do valor da causa. Art. 91. Regem a competência em razão do valor e da matéria as normas de organização judiciária, ressalvados os casos expressos neste Código. O Juizado Especial possui competência em razão do valor da causa, mas não apenas em razão do valor. Algumas causas são de competência do juizado independentemente do valor da causa. Ex: acidente de trânsito. Os Juizados Especiais são encarados como uma opção ao demandante. Ele demanda no Juizado se quiser. Assim, se a causa é inferior a 40 salários mínimos pode demandar no Juizado ou na Justiça Comum Estadual. Obs.: No caso de Juizado Federal ou Estadual da Fazenda Pública não há essa opção, a competência é absoluta. Se formularmos demanda acima do teto do Juizado, o juiz, ao invés de se declarar incompetente e extinguir o processo, processa a causa concedendo o teto. É como se a parte estivesse renunciando a diferença. b.3. Cauda de pedir – competência em razão da matéria (absoluta): é a competência em razão da natureza da relação discutida. Ao juiz de direito compete julgar os processos de insolvência e as ações sobre o estado e capacidade da pessoa. Art. 92. Compete, porém, exclusivamente ao juiz de direito processar e julgar: I - o processo de insolvência; II - as ações concernentes ao estado e à capacidade da pessoa. Pergunta-se: Relacione os elementos da demanda e competência objetiva. A competência objetiva é aquela determinada em razão dos elementos da demanda. Como três são esses elementos, três são as espécies de competência objetiva. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 10 7.2. Competência Funcional a) Conceito Trata-se de competência absoluta. O legislador pega as funções exercidas dentro de um processo e distribui essas funções entre órgãos, atribuindo cada função a um órgão (juiz faça isso; tribunal faça aquilo). A competência funcional, assim, é a competência para exercer uma função dentro do processo. Ex: a divisão entre competência originária e derivada é competência funcional. É critério de distribuiçãode competência dentro do processo. A competência funcional dos Tribunais está disposta na CF e nas normas de organização judiciária. A competência funcional dos juízes está no CPC: Art. 93. Regem a competência dos tribunais as normas da Constituição da República e de organização judiciária. A competência funcional dos juízes de primeiro grau é disciplinada neste Código. b) Classificação b.1. Competência Funcional Horizontal: aquela que resulta da distribuição de funções na mesma instância; no mesmo grau de jurisdição. Ex: Tribunal do Júri – na mesma instância o juiz pronuncia; o Júri condena; o juiz dosa a pena. Há distribuição das funções na mesma instância, mas por órgãos distintos. Ex: Tribunal cível – a causa está em uma das câmaras do tribunal e alguém alega inconstitucionalidade. A causa vai para o órgão especial, a inconstitucionalidade é julgada e depois volta para o órgão de origem. Assim, o julgamento de inconstitucionalidade é exemplo de competência funcional horizontal. b.2. Competência Funcional Vertical: competência dividida entre instâncias; há mudança de grau de jurisdição. É o que ocorre com a divisão entre competência originária (juiz de primeiro grau) e competência derivada (tribunais). Ex: recursos. 7.3. Competência Territorial a) Conceito Determina em que comarca a causa deve ser processada. A competência territorial é, em regra, competência relativa. Contudo, há casos de competência territorial absoluta. Alguns autores, quando estão diante de uma regra de competência territorial absoluta, dizem que é caso de competência funcional: Ex.1: LACP, 3.747/85 - Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional (na verdade, o legislador quis dizer que a competência do foro do local do dano é competência absoluta, mas absoluta territorial, e não absoluta funcional) para processar e julgar a causa. Parágrafo único A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 11 Ex.2: ECA, LEI 8.069/90 - Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência originária dos tribunais superiores. O ECA não faz a confusão terminológica entre competência funcional e territorial. O artigo acima trata da competência territorial absoluta. Ex.3: DA MESMA FORMA, O ESTATUTO DO IDOSO, LEI. 10.741/03 - Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do domicílio do idoso, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas as competências da Justiça Federal e a competência originária dos Tribunais Superiores. O legislador disse que o foro do domicílio do idoso é o competente, de forma absoluta (não pode ser modificado pelas partes), para julgar as causas que envolvam idoso. É do nosso ordenamento jurídico que as ações coletivas sejam de competência absoluta, como vimos nos três artigos acima citados. Contudo, há situações nas quais a ação é individual, e não coletiva. Pode, assim, o idoso querer propor ações individuais e escolher outro foro que não o de seu domicílio. Esse foro é uma proteção para que o idoso, ao ser demandado, saiba que o processo irá correr contra ele em seu domicílio. Contudo, se ele quiser demandar em outro foro que não o de seu domicílio, fica impossibilitado em razão da competência territorial absoluta? Ou seja, essa previsão é uma proteção ao idoso ou uma obrigação? É uma proteção, não pode o idoso ser obrigado a demandar em seu domicílio. Ele pode demandar em seu domicílio, não é obrigado a fazê-lo. Assim como o consumidor pode demandar em seu domicílio, o alimentante, etc. Assim, o art. 80, EI é aplicado em causas coletivas sem dúvida. Quando as ações forem individuais, é opcional, podendo a ação ser interposta onde o idoso quiser, como acontece com as ações de consumo e de alimentos. b) Regras Gerais de Competência Territorial b.1. Foro do Domicílio do Réu: as ações pessoais devem ser ajuizadas no domicílio do réu. Ação pessoal é aquela que versa sobre direito pessoal. Ainda, as ações de direito real sobre móveis também serão ajuizadas no domicílio do réu: Art. 94. A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu. Ainda: réu com mais de um domicílio (demandado em qualquer deles); domicílio incerto/desconhecido (demandado onde for encontrado ou domicílio do autor); sem domicílio no país (domicílio do autor); autor sem domicílio no Brasil (qualquer foro); pluralidade de réus com domicílios diversos (demandados em qualquer deles). Art. 94. §1 o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles. §2 o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado onde for encontrado ou no foro do domicílio do autor. §3 o Quando o réu não tiver domicílio nem processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 12 residência no Brasil, a ação será proposta no foro do domicílio do autor. Se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro. §4 o Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor. Obs.: não confundir discussão de imóvel com discussão de direito real. A ação de despejo, por exemplo, é uma ação pessoal que envolve um imóvel (e não um direito real). Assim, posso reivindicar um imóvel e tratar-se de uma ação pessoal, pois falar de bem imóvel não significa falar de direito real. Podemos, assim, pretender um bem móvel ou imóvel fundado ou não em direito real. Ainda, lembrar que os navios e os aviões são bens móveis, pois se movem. b.2. Foro da Situação do Imóvel, Domicílio do Réu ou Foro de Eleição: as ações reais imobiliárias podem ser ajuizadas nesses três diferentes foros. Trata-se de foros concorrentes. Art. 95. Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio ou de eleição, [...]. b.3. Foro da Situação do Imóvel (forum rei sitae – competência absoluta): todavia, o autor deverá ajuizar a ação no foro da situação do imóvel quando se tratar de ações reais imobiliárias que versem sobre: i) propriedade ii) posse iii) servidão iv) direito de vizinhança v) nunciação de obra nova vi) divisão e demarcação de terras [...] não recaindo o litígio sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova. b.4. Foro Competente para a Herança b.4.1. Regra - domicílio do autor da herança: inventário, partilha, arrecadação, cumprimento de disposições de última vontade, ações em que o espólio for réu. Art. 96. O foro do domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade e todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. b.4.1. Exceções: Parágrafo único. É, porém, competente o foro:I - da situação dos bens,se o autor da herança não possuía domicílio certo. II - do lugar em que ocorreu o óbito se o autor da herança não tinha domicílio certo e possuía bens em lugares diferentes. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 13 b.5. Último Domicílio do Réu Ausente: é o foro competente no caso de ausência e para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias. Art. 97. As ações em que o ausente for réu correm no foro de seu último domicílio, que é também o competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias. b.6. Domicílio do Representante: quando for réu o incapaz. Art. 98. A ação em que o incapaz for réu se processará no foro do domicílio de seu representante. b.7. Foro da Capital do Estado: se união/território for autora/réu/intervenientes, a causa será processada na capital do Estado. Caso o processo corra perante outro juiz, intervindo a união nesse processo, a causa é remetida para a capital do Estado. Art. 99. O foro da Capital do Estado ou do Território é competente: I - para as causas em que a União for autora, ré ou interveniente; II - para as causas em que o Território for autor, réu ou interveniente. Parágrafo único. Correndo o processo perante outro juiz, serão os autos remetidos ao juiz competente da Capital do Estado ou Território, tanto que neles intervenha uma das entidades mencionadas neste artigo. Todavia, sendo processo de insolvência o foro da capital deixa de ser o competente, além de outros casos previstos na lei. Excetuam-se: I - o processo de insolvência; II - os casos previstos em lei. Por fim, temos as seguintes regras de competência territorial: Art. 100. É competente o foro: I - da residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a conversão desta em divórcio, e para a anulação de casamento. II - do domicílio ou da residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos; III - do domicílio do devedor, para a ação de anulação de títulos extraviados ou destruídos; IV - do lugar: a) onde está a sede, para a ação em que for ré a pessoa jurídica; b) onde se acha a agência ou sucursal, quanto às obrigações que ela contraiu; c) onde exerce a sua atividade principal, para a ação em que for ré a sociedade, que carece de personalidade jurídica; d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento; V - do lugar do ato ou fato: a) para a ação de reparação do dano; b) para a ação em que for réu o administrador ou gestor de negócios alheios. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 14 Parágrafo único. Nas ações de reparação do dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato. 7.4. Competência da Justiça Federal (art. 109, CF) TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS JUÍZES FEDERAIS EM RAZÃO DA MATÉRIA JUÍZES FEDERAIS COMPETÊNCIA FUNCIONAL DOS JUÍZES FEDERAIS JUÍZES FEDERAIS JUIZ ESTADUAL JULGANDO CAUSAS FEDERAIS JUÍZES FEDERAIS EM RAZÃO DA PESSOA ART. 108, CF ART. 109, III, V-A, X, XI, CF ART. 109, X, CF Art. 109, §3º, CF ART. 109, I, II, VIII, CF a) Competência dos Tribunais Regionais Federais (Art. 108, CF) a.1. Competência Originária a.1.1. Conflito de Competência: CF. Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao mesmo Tribunal. i) Entre Juízes Federais: o caso de conflito de competência entre juízes federais vinculados ao mesmo tribunal, compete ao respectivo TRF julgá-lo. Se os juízes federais forem de tribunais diversos, quem julga é o STJ. ii) Entre Juízes Federais e Juízes Estaduais investidos de função federal: ocorre que a Súmula nº. 3 do STJ ampliou esta competência, incluindo os conflitos de competência entre juízes estaduais investidos de função federal e juízes federais, vinculados ao mesmo tribunal regional federal. STJ. Súmula nº. 3. Conflito de Competência - Juiz Estadual - Juiz Federal - Jurisdição Federal - Compete ao Tribunal Regional Federal dirimir conflito de competência verificado, na respectiva Região, entre Juiz Federal e Juiz Estadual investido de jurisdição federal. ii) Entre Juizado Especial Federal e Juízo Federal: ainda, o conflito entre juizado especial federal e juiz federal também é de competência do TRF: Súmula 428, STJ - Competência - Conflitos de Competência entre Juizado Especial Federal e Juízo Federal da Mesma Seção Judiciária - Compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e juízo federal da mesma seção judiciária. a.1.2. Ação Rescisória: CF. Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 15 A ação rescisória proposta contra suas decisões e a ação rescisória proposta contra decisões dos juízes federais de sua região. Assim, mesmo que o autor da ação rescisória seja a União, se objeto for uma sentença de juiz estadual, a competência é do TJ, e não do TRF. Obs.: se o STJ ampliou a hipótese da alínea “e” do Art. 108, I, CF, para acrescentar o juiz estadual investido de função federal, tem de ampliar também a letra “b”, ou seja, tratando-se de ação rescisória de decisão de juiz estadual investido de função federal, cabe, também ao TRF, julgar esta rescisória. a.1.3. Mandado de Segurança e Habeas Data: CF. Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: c) os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal. Os mandados de segurança e habeas corpus contra ato do próprio TRF ou de juiz federal são julgados pelo TRF. Da mesma forma, compete ao TRF julgas os mandados de segurança e os habeas data contra ato de juiz estadual investido de jurisdição federal. Obs.: Todo Tribunal é competente para julgar Ação Rescisória de seus julgados e o Mandado de Segurança contra ato do Tribunal. São duas regras sem exceção. a.1.4. Juízes Federais nos Crimes Comuns e de Responsabilidade e Membros do MPU: CF. Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. a.1.5. HC quando a autoridade coatora for Juiz Federal: CF. Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: d) os "habeas-corpus", quando a autoridade coatora for juiz federal. a.2. Competência Derivada: Compete ao TRF julgar os recursos contra as decisões dos juízes federais e dos juízes estaduais investidos de competência federal. CF. Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercícioda competência federal da área de sua jurisdição. b) Competência em Razão da Pessoa (Incisos I, II, VIII do art. 109, CF) CF. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 16 autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho. Regra Geral: se a união, entidade autárquica e empresa pública federal (CEF, INFRAERO, Correios) forem parte na ação, o juiz federal é competente para julgar a causa. Se fizer parte do processo sociedade de economia mista federal, a competência é da justiça estadual (Banco do Brasil, Petrobrás). Entidade Autárquica: ainda, entidade autárquica federal é designação genérica que abrange: as autarquias (INSS), os conselhos de fiscalização profissional (entidades autárquicas em sentido amplo), fundações autárquicas (FUNAI), e as agencias reguladoras federais. STJ Súmula nº 66 - 15/12/1992 - DJ 04.02.1993. Competência - Execução Fiscal - Conselho de Fiscalização Profissional. Compete à Justiça Federal processar e julgar execução fiscal promovida por Conselho de fiscalização profissional. MPF: nesse rol do art. 109, CF não se fala em MPF, assim: Pergunta-se: A presença do MPF, por si só, torna a causa de competência da Justiça Federal? A questão é polêmica. Para Didier e outros doutrinadores, não é a presença do MPF que torna a causa de competência da justiça federal. É preciso que a causa se encaixe em uma das hipóteses de competência da justiça federal, (art. 109, CF). Assim, o MPF pode demandar na Justiça Estadual, sendo a causa de competência da Justiça Estadual, e vice-versa. Contudo, há decisão do STJ, de relatoria de Teori Zavaski, em que não se adota este entendimento. Para ele, se o MPF for parte a causa se torna da justiça federal. Súmulas 150, 224 e 254, STJ: Se a união (ou demais entidades federais previstas) pede para intervir em causa estadual, o juiz estadual não tem competência para examinar o direito da união de intervir, deve remeter o processo ao juiz federal, o qual fará essa análise: Súmula 150, STJ - Competência - Interesse Jurídico - União, Autarquias ou Empresas Públicas - Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas. Se, porventura, o juiz federal não admitir a intervenção da união, ele deve excluir a união e remeter os autos de volta à justiça estadual, já que não há mais razão para que a justiça federal examine a causa: Súmula 224, STJ - Excluído do Feito o Ente Federal - Conflito de Competência - Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito. Chegando à justiça estadual, o juiz estadual não pode discutir a decisão do juiz federal, dizendo que não concorda com o que disse o juiz federal: processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 17 Súmula 254, STJ - Exclusão de Ente Federal da Relação Processual - Reexame da Decisão - A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não pode ser reexaminada no Juízo Estadual. Exceções à Competência da JF: há quatro situações nas quais a causa não será de competência da justiça federal, mesmo que a união, as entidades autárquicas e as empresas públicas federais estejam na ação. I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, EXCETO as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho. Ações de Falência (e recuperação judicial): competência da Justiça Estadual, mesmo que delas façam parte entes da justiça federal. Ações Eleitorais: Justiça Eleitoral. Ações Trabalhistas: Justiça do Trabalho. Obs.: as causas envolvendo servidor público (aquele que se submete ao regime estatutário), não são causas trabalhistas. Assim, se o servidor for federal a ação correrá na justiça federal e não do trabalho. Ações de acidente do trabalho: Justiça Estadual. Temos dois tipos de acidente: o acidente do trabalho e o acidente de outra natureza. i) acidente do trabalho: o acidente do trabalho gera duas espécies de indenização: i.1. Ação trabalhista acidentária indenizatória: busca a indenização pelos prejuízos decorrentes do acidente do trabalho. Essa ação é proposta contra o empregador, movida na Justiça do Trabalho. i.2. Ação previdenciária acidentária trabalhista: além da ação trabalhista, o acidente do trabalho dá direito a um benefício previdenciário. Essa ação é proposta contra o INSS, movida na Justiça Estadual (essa é a exceção). ii) acidente de outra natureza: o acidente de outra natureza que não trabalhista, também gera duas espécies de indenização: ii.1. Ação indenizatória: proposta contra o causador do acidente. Se o causador do acidente for privado, a competência é da Justiça Estadual; se o causador do dano é ente da justiça federal, a competência é da justiça federal. ii.2. Ação previdenciária acidentária não trabalhista: o acidente de outra natureza também gera pretensão previdenciária contra o INSS. Essa ação será de competência da Justiça Federal, pois é contra o INSS e este é uma autarquia federal, seguindo a regra do art. 109, I, CF (essa ação não foi excepcionada pelo CF, a única ação que foi excepcionada por a previdenciária acidentária trabalhista). Portanto, a ação trabalhista acidentária indenizatória corre na justiça do trabalho; ação previdenciária acidentária trabalhista corre na justiça processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 18 estadual; a ação previdenciária acidentária não trabalhista corre na justiça federal. CF. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País. Inexistência de Ente Federal: é causa da justiça federal em razão da pessoa, mas não há nenhum ente federal nela envolvido. Há apenas Estado estrangeiro, organismo internacional, município ou pessoa domiciliada no país. Princípio da Imunidade da Jurisdição: como conciliar essa hipótese com o princípio da imunidade da jurisdição, segundo o qual nenhum Estado se submete à jurisdição do outro? Tratando-se de ato de soberania do Estado, não se aplica essa norma. A norma só será aplicada quando o Estado puder ser processado. Ex: ação de despejo; ação de responsabilidade civil. Recurso ao STJ: essa causa tramita na justiça federal, mas o recurso contra a decisão proferida nesta causa vai para o STJ e não para o TRF. Quem exerce a 2ª instância nestas causas é o STJ. É o chamado Recurso Ordinário Constitucional. CF. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: VIII - os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais. Mandado de segurança e habeas data: os atos da autoridade federal impugnados por mandado de segurança ou habeas datasão impugnações julgadas pela justiça federal. Autoridade federal: faz referência tanto aa autoridade que pertence ao quadro funcional federal quanto à autoridade privada no exercício de função pública federal Ex: as autoridades acadêmicas das instituições privadas de ensino superior são autoridades federais que exercem função pública por delegação. TFR (antigo Tribunal Federal de Recursos) Súmula 15. Competência - Mandado de Segurança - Ensino Superior - Dirigente de Estabelecimento Particular - Compete à Justiça Federal julgar Mandado de segurança contra ato que diga respeito ao ensino superior, praticado por dirigente de estabelecimento particular. c) Competência em Razão da Matéria (Incisos III, V-A, X, XI, Art. 109, CF) CF. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 19 Causas que se fundam exclusivamente em tratados/contratos internacionais: se a causa é uma causa que se funda em tratado internacional, pouco importa quem são as pessoas, podem até ser duas pessoas físicas, desde que a causa verse sobre tratado ou contrato da união com Estado estrangeiro ou organismo internacional. O problema é que hoje em dia quase tudo é regulado por tratado internacional. Assim, para restringir a aplicação do inciso III, a jurisprudência passou a entender que o inciso III só pode ser aplicado se o tratado ou contrato for a única fonte que regula o caso. Se houver direito interno que regula o caso, o inciso III não se aplica, ou seja, a competência não é da justiça federal. Ex: alimentos internacionais. Se alguém vem ao Brasil demandar ação de alimentos aqui no Brasil e mora em outro país, é ação de alimentos internacional, a qual tramitará na Justiça Federal. É caso raro de competência da justiça federal em causa de família. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral. V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente. V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo. Trata-se de competência em razão da matéria que se aplica tanto para causas criminais como para as cíveis. Federalização das Causas que versem sobre Direitos Humanos: CF. Art. 109, § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador- Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). Essa federalização é chamada de Incidente de Deslocamento de Competência. Diz que, se houver grave violação a direitos humanos, pode o Procurador Geral da República, pedir que o STJ que a causa saia da Justiça Estadual e passe a Justiça Federal. Assim, o PGR pode pedir a federalização de uma causa que tramita na processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 20 Justiça Estadual e, em razão da grave violação de direitos humanos, vá para a justiça federal. Essa situação gerou polêmica, pois parecia haver desconfiança em relação à idoneidade da justiça estadual para o julgamento de causas que versassem sobre direitos humanos, gerando um mal estar. Isso fez com que o STJ, ao examinar o primeiro pedido de federalização (causa envolvendo morte de freira americana no Pará), negasse o pedido de federalização, dizendo que as autoridades estaduais estavam sendo diligentes e eficientes no cumprimento de suas obrigações. O STJ, assim, estabeleceu um pressuposto para a federalização: exigência de demonstração da ineficiência das autoridades estaduais. Obs.: recentemente surgiu o IDC nº. 2, onde o STJ admitiu a intervenção de amicus curiae (alguém que intervém no processo visando ajudar o tribunal a decidir melhor). O STJ permitiu esta intervenção sem previsão legal. É novidade recente e algo positivo. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira. Qualquer crime contra a organização do trabalho é de competência da Justiça Federal. Já os crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira serão de competência federal quando determinado pela lei. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: VII - os "habeas-corpus", em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição. CF. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: X – [...] as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização. Ações de naturalização e de opção de nacionalidade: ações de competência da justiça federal em razão da matéria. Observem que são causas de jurisdição voluntária. CF. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: XI - a disputa sobre direitos indígenas. Direitos cíveis ou criminais Pressupõe direitos dos índios como grupo humano: como, por exemplo, uma ação de demarcação de terras. Tratando-se de direito pessoal/individual de apenas um índio, não há competência da justiça federal. A Súmula 140, STJ, embora seja súmula em matéria criminal, demonstra bem a ideia aqui referida: processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 21 STJ. Súmula 140. Competência - Crime - Índios - Processo e Julgamento - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima. d) Competência Funcional dos Juízes Federais (Inciso X, Art. 109, CF) CF. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização. Cumprir carta rogatória: a carta rogatória é aquele pedido de cooperação feito pelo juiz estrangeiro ao juiz brasileiro. Executar sentença estrangeira: após a homologação, que é realizada pelo STJ. e) Juiz Estadual julgando Causas Federais (Art. 109, §3º, CF) Previsão: há situações nas quais um juiz estadual pode julgar causas federais. O art. 109, §3º autoriza que juiz estadual julgue causas federais. CF. Art. 109. §3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, (previsão expressa na CF) sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, (primeiro requisito)e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas (lei infraconstitucional) sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual. Recurso: quando o juiz estadual julga causas federais, o recurso contra a decisão dele vai para o TRF e não para o respectivo TJ. CF. Art. 109. § 4º - Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau. Pressupostos: Não existir sede da justiça federal na localidade Existência de autorização legislativa: há autorização para as seguintes causas: i) causas contra o INSS: a CF autoriza expressamente. Obs.: não confundir essa situação com a situação da ação previdenciária acidentária trabalhista (esta é sempre na justiça estadual). As demais ações contra o INSS são da justiça federal e poderão correr na justiça estadual quando, na localidade, não houver justiça federal e existir autorização legislativa (o que existe expressamente em relação ao INSS). ii) leis infraconstitucionais: a CF autoriza que as leis infraconstitucionais prevejam autorizações para o julgamento na justiça estadual. Ex: execução fiscal federal; juiz estadual pode cumprir cartas rogatórias federais quando não houver justiça federal na comarca usucapião especial rural, se um ente federal figurar como parte: STJ Súmula nº 11 - processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 22 26/09/1990 - DJ 01.10.1990. União - Ação de Usucapião Especial - Competência – Foro. A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação de usucapião especial, não afasta a competência do foro da situação do imóvel. Obs.1: se sobrevier a criação de vara federal na comarca, a causa terá de ser redistribuída (sair da justiça estadual e ser distribuída na justiça federal); Obs.2: Súmula 183, STJ foi cancelada. Assim, a ação civil pública não é um exemplo de causa que pode tramitar na justiça estadual com recurso para o TRF. Uma ação civil pública federal terá de tramitar sempre na justiça federal. Obs.3: Mandado de Segurança Previdenciário - Súmula 216, TFR, Competência - Processo e Julgamento - Mandado de Segurança - Autoridade Previdenciária - Compete à Justiça Federal processar e julgar mandado de segurança impetrado contra ato de autoridade previdenciária, ainda que localizada em comarca do interior. A CF disse que causas previdenciárias podem tramitar no interior se lá não existir sede da justiça federal. A súmula acima, contudo, diz que em se tratando de mandado de segurança previdenciário não cabe competência da justiça estadual (como prevê o §3º do art. 109, CF), mas apenas a justiça federal. Obs.4: STF. Súmula 689. Ação do Segurado Contra a Instituição Previdenciária - Competência Jurisdicional - Processo e Julgamento. O segurado pode ajuizar ação contra a instituição previdenciária perante o juízo federal do seu domicílio ou nas varas federais da Capital do Estado- Membro. Assim, o beneficiário que vive em comarca do interiro que possua vara federal pode optar em propor em seu domicílio ou na capital. Se sua cidade não possuir vara federal, pode propor perante o juízo estadual ou pode optar por ingressar na vara federal de sua capital. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar. 8. CONEXÃO E CONTINÊNCIA 8.1. Introdução Hipóteses de modificação legal da competência e não por força da vontade, como é o caso do foro de eleição. Eles devem ser estudados conjuntamente e tudo que for estudado daqui em diante vale para as duas hipóteses. Imagine duas causas pendentes idênticas. Elas geram o que chamamos de litispendência (nome que se dá a pendência de duas causas idênticas). Obs.: a palavra litispendência possui outro sentido que não apenas o que se refere a lides pendentes idênticas. Pode se referir, ainda, a existência de um processo (lide pendente). Assim, se uma questão afirmar que o recurso prolonga a litispendência, a questão está certa. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 23 Agora, imagine duas causas diferentes pendentes ao mesmo tempo, mas, embora diferentes, possuem algum vínculo, estão ligadas entre si. Quando isso ocorre, surge o que chamamos de conexão e continência. Assim, conexão e continência é o nome que se dá a uma relação de semelhança entre causas distintas que estão tramitando. Se as causas são semelhantes é conveniente que elas sejam reunidas em um único juízo para que este as processe e as julgue, já que são semelhantes. Essa reunião das causas é medida de economia processual e, também, evitar a desarmonia entre as decisões proferidas. 8.2. Efeitos da Conexão e Continência a) Reunião dos Processos Reúne-se em um único juízo para processamento simultâneo das causas por razões de economia processual e harmonia das decisões. b) Modificação da Competência Essa reunião significa dizer que um juízo perde a competência para julgar a causa e o outro juízo ganha competência para julgar mais uma causa. Essa modificação da competência, contudo, só ocorre nos casos de competência relativa (conexão e continência mudam competência relativa: em razão do valor e território). Art. 102. A competência, em razão do valor e do território, poderá modificar-se pela conexão ou continência, observado o disposto nos artigos seguintes. Exatamente porque a conexão e continência só podem mudar a competência relativa, pode haver conexão sem haver reunião dos processos. Isso, porque pode haver a semelhança entre as causas, mas em razão da competência absoluta não ser cabível a reunião deles, assim, as causas são conexas, mas não há reunião. Ex: Conexão entre causa em vara de família e em vara cível. São varas de competência absoluta distintas, sendo impossível a reunião das causas, pois o juiz cível não julga causa de família e vice-versa. Quando isso acontece – as causas são conexas, mas não pode haver a reunião em razão da diferença de competência absoluta – uma das causas terá de ser suspensa e esperar a decisão da outra, para que, assim, não haja contradição das decisões. Art. 110. Se o conhecimento da lide depender necessariamente da verificação da existência de fato delituoso, pode o juiz mandar sobrestar no andamento do processo até que se pronuncie a justiça criminal. Parágrafo único. Se a ação penal não for exercida dentro de 30 (trinta) dias, contados da intimação do despacho de sobrestamento, cessará o efeito deste, decidindo o juiz cível a questão prejudicial. Dessa forma, a reunião dos processos é efeito da conexão, que, porventura pode não ocorrer se houver diferença de competência absoluta. Somente a competência relativa pode ser alterada por conexão e continência. Ex: a diferença de competência funcional não permite a reunião dos processos, conforme súmula 235, STJ (pois competência funcional é absoluta). processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 24 STJ. Súmula 235 - Conexão - Reunião de Processos - Coisa Julgada - A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado. c) Atribuição de Competência Absoluta A conexão retira a competência de um juízo e atribui a outro competência absoluta para julgar a causa conexa. E por atribuir competênciaabsoluta pode ser conhecida de ofício ou alegada por qualquer das partes. d) Alegação por Qualquer das Partes/Juiz Ainda, qualquer das partes pode suscitar a conexão. O autor a alega na inicial e o réu na contestação. E suscitar a conexão não é alegar a incompetência relativa, a qual só pode ser alegada pelo réu (não pode ser alegada pelo autor nem conhecida de ofício). Art. 105. Havendo conexão ou continência, o juiz, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, pode ordenar a reunião de ações propostas em separado, a fim de que sejam decididas simultaneamente. e) Alegação de Conexão x Alegação de Incompetência Relativa A incompetência relativa só pode ser alegada pelo réu. Contudo, suscitar a conexão é dizer que um juiz perdeu a competência e outro ganhou a competência, a qual pode ser suscitada por qualquer das partes. E a competência que se ganha com a conexão é absoluta. 8.4. Alteração da Competência Pelas Partes As partes só podem alterar competência relativa (valor e território). Para tanto, deve existir contrato escrito que aluda expressamente ao negócio jurídico. Essa modificação de competência obriga herdeiros e sucessores. Art. 111. A competência em razão da matéria e da hierarquia é inderrogável por convenção das partes; mas estas (as partes) podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde serão propostas as ações oriundas de direitos e obrigações. §1 o O acordo, porém, só produz efeito, quando constar de contrato escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico. §2 o O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes. 8.5. Juízo Competente O juízo competente para a ação principal também o é para a acessória, para a reconvenção, ação declaratória incidental, de garantia e todas que envolvam terceiro: Art. 108. A ação acessória será proposta perante o juiz competente para a ação principal. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 25 Art. 109. O juiz da causa principal é também competente para a reconvenção, a ação declaratória incidente, as ações de garantia e outras que respeitam ao terceiro interveniente. 8.6. Reunião das Causas As causas conexas serão reunidas no juízo prevento. Ou seja, a prevenção determinará em qual dos juízos as causas haverão de ser reunidas. Há duas regras sobre prevenção (no novo CPC, elas serão eliminadas, mantendo-se apenas uma): a.1. Causas tramitando na mesma comarca: prevento é o juízo que despachou primeiro. a.2. Causas tramitando em comarcas diversas: prevento será o juízo onde primeiro ocorrer a citação. Estas regras, que se complementam, estão nos art. 106 e 219, CPC: Art. 106. Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar. Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição. Obs.: tratando a ação de imóvel que se encontra em mais de uma comarca, a competência será determinada também pela prevenção (primeiro despacho ou primeira citação?) Art. 107. Se o imóvel se achar situado em mais de um Estado ou comarca, determinar-se-á o foro pela prevenção, estendendo-se a competência sobre a totalidade do imóvel. 8.7. Conceito de Conexão e Continência a) Haverá conexão quando o pedido (objeto) ou a causa de pedir das ações for igual. Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando lhes for comum o objeto ou a causa de pedir. b) Haverá continência quando as partes forem iguais, a causa de pedir for igual e o pedido (objeto) de uma abranger o pedido da outra ação. A continência é mais difícil de ser encontrada, pois exige a igualdade de partes e de causa de pedir. Art. 104. Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras. Ex: ação1 - anulação de contrato; ação2 - apenas a anulação de uma cláusula do contrato. Ambas possuem mesmas partes e pedido, mas a que pede a anulação do contrato todo abrange o pedido da outra de anulação de uma cláusula. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 26 Obs.1: DESNECESSIDADE DA CONTINÊNCIA - Isso, porque, pelo CPC, toda continência é uma conexão, pois, se na continência é preciso que a causa de pedir seja a mesma e para que haja conexão a causa de pedir tem de ser igual, a conexão abrange a continência. Obs.2: CONCEITO MÍNIMO - O conceito de conexão do art. 103 é conceito mínimo. Significa dizer que os casos previstos no art. 103 são casos de conexão, mas são apenas exemplos, não exaurindo as hipóteses de conexão. Há outros casos de conexão não previstos no art. 103, são os casos de conexão atípica. Pergunta-se: Como identificar as outras hipóteses de conexão fora do art. 103, CPC? Sempre que a decisão de uma causa interferir na solução da outra, haverá conexão. É a chamada conexão por prejudicialidade. Há conexão porque a solução de uma causa prejudica a outra. Ex: investigação de paternidade e alimentos. A solução da primeira interfere na segunda, mas não se encaixam no art. 103, pois não possuem a mesma causa de pedir nem o mesmo pedido; ação de despejo por falta de pagamento e consignação dos aluguéis. Obs.3: CAUSAS REPETITIVAS – CONEXÃO POR AFINIDADE – Causas repetitivas são causas de massa – causa tipo - nas quais várias pessoas vão ao judiciário reclamar seus direitos (causas previdenciárias para aposentadoria), nunca foram consideradas conexas entre si, embora sejam praticamente idênticas; chamadas de repetitivas; o juiz faz modelo de sentença que aplica a todas as causas, e nunca o foram porque a solução de uma não interfere na solução da outra. Até porque, se fossem conexas, haveria um problema de onde seriam elas reunidas, além de serem milhões de causas. Assim, do ponto de vista tradicional, as causas repetitivas não são consideradas conexas. Ocorre que está acontecendo uma transformação na legislação brasileira para criar um novo modelo de conexão para estas causas repetitivas que foge desse padrão de reunião no mesmo juízo para julgamento (até porque essa reunião seria inviável). Seria uma conexão que ocorreria nos tribunais superiores. Os tribunais pegariam uma dessas causas repetitivas e decidiriam a causa modelo, enquanto as demais ficariam paradas a espera dessa decisão modelo. Esse modelo novo de conexão para causas repetitivas, por enquanto, só se aplica no STJ e no STF no julgamento dos recursos extraordinários repetitivos. O professor chama esse modelo de modelo de conexão por afinidade. (Ver editoriais 25, 101, 105 no site do Freddie ou material da monitoria). 9. CONFLITO DE COMPETÊNCIA 9.1. Conceito Há conflito de competência sempre que mais de um órgão jurisdicional discutir sobre a competência para julgar determinada causa. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 27 9.2. Espécies de Conflito a) Conflito Positivo Os juízes discutem para julgar a causa. Art. 115. Há conflito de competência: I - quando dois ou mais juízes se declaram competentes; b) ConflitoNegativo Os juízes discutem para não julgar a causa. Art. 115. Há conflito de competência: II - quando dois ou mais juízes se consideram incompetentes; c) Causas Conexas O conflito pode ocorrer para julgar uma única causa ou pode ser em relação a causas conexas. Art. 115. Há conflito de competência: III - quando entre dois ou mais juízes surge controvérsia acerca da reunião ou separação de processos. 9.3. Hipóteses de Conflito O conflito pode ocorrer entre juízes; entre juiz e tribunal; entre tribunais. 9.4. Competência para julgar o Conflito de Competência a) Conceito O assunto que costuma ser cobrado em sede de conflito de competência gira em torno da competência para julgar um conflito de competência. b) Regra Básica Primeiro temos de lembrar que o conflito pode ocorrer entre juízes; entre juiz e tribunal; entre tribunais. Segundo, lembrar que não existe conflito se entre os órgãos houver diferença hierárquica. Ex: ou seja, um juiz da Bahia não pode conflitar com TJ da Bahia; nenhum juízo do Brasil conflita com o STF; não há conflito entre TJ e STJ. Cabe conflito entre TRT e STJ. c) Competência dos Tribunais c.1. STF: só julga conflito que envolva Tribunal Superior. Tribunal Superior x Tribunal Superior/TRF/Juiz. c.2. STJ: o problema é a competência do STJ para julgar conflito de competência. Quase todos os casos são de competência dele. Assim, compete ao STJ o resto. c.3. TRF: só julga conflito entre juízes da mesma região. Juízes Federais x Juízes Federais/Juízes Estaduais investidos de função federal. Obs.: Se forem juízes de tribunais diversos, a competência é do STJ. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 28 c.4. TJ: julga conflito entre juízes estaduais vinculados ao respectivo TJ. d) TRF e Respectivas Regiões O problema é quando estamos diante de conflito entre juízes federais, pois não sabemos quais são os Estados vinculados a cada TRF, assim: d.1. TRF da 1ª Região: Bahia, Piauí, Maranhão, Minas Gerais, Goiás, DF, Mato Grosso, Tocantins, Roraima, Acre, Amapá e Amazonas (12 Estados). Se os juízes federais destes Estados conflitarem, o TRF da 1ª Região julga; se for conflito com juiz federal vinculado a outro tribunal, o STJ julga. d.2. TRF da 2ª Região: RJ e Espírito Santo. d.3. TRF da 3ª Região: SP e MS. d.4. TRF da 4ª Região: RS, PR, SC. d.5. TRF da 5ª Região: Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, RN, Ceará. Obs.: Havendo Justiças diversas (TRT x TRF) o STJ julga; se ficar tudo no âmbito da justiça do trabalho, o TRT julga. 9.5. Procedimento a) Alegação de Conflito Ele pode ser suscitado pelos próprios juízos conflitantes; pelas próprias partes; pelo MP. Se o MP não suscitar o conflito, caberá a ele intervir obrigatoriamente no conflito. Art. 116. O conflito pode ser suscitado por qualquer das partes, pelo Ministério Público ou pelo juiz. Parágrafo único. O Ministério Público será ouvido em todos os conflitos de competência; mas terá qualidade de parte naqueles que suscitar. Ainda, a parte que ofereceu exceção de incompetência (pediu para modificar o juízo) não pode suscitar o conflito. Art. 117. Não pode suscitar conflito a parte que, no processo, ofereceu exceção de incompetência. Parágrafo único. O conflito de competência não obsta, porém, a que a parte, que o não suscitou, ofereça exceção declinatória do foro. b) Forma de Alegação O conflito de competência é suscitado de ofício pelo juiz ou por meio de petição, quando feito pelas partes ou MP. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 29 c) Competência Compete ao Presidente do Tribunal a análise do conflito. Art. 118. O conflito será suscitado ao presidente do tribunal: I - pelo juiz, por ofício; II - pela parte e pelo Ministério Público, por petição. Parágrafo único. O ofício e a petição serão instruídos com os documentos necessários à prova do conflito. Ainda, é incidente processual que sempre será julgado por um tribunal. d) Processamento d.1. Oitiva dos Juízes ou do Juiz Suscitado: Art. 119. Após a distribuição, o relator mandará ouvir os juízes em conflito, ou apenas o suscitado, se um deles for suscitante; dentro do prazo assinado pelo relator, caberá ao juiz ou juízes prestar as informações. d.2. Sobrestamento do Processo: Art. 120. Poderá o relator, de ofício, ou a requerimento de qualquer das partes, determinar, quando o conflito for positivo, seja sobrestado o processo, mas, neste caso, bem como no de conflito negativo, designará um dos juízes para resolver, em caráter provisório, as medidas urgentes. d.3. Decisão de plano do Relator: caso o conflito suscitado já tenha sido resolvido por jurisprudência dominante do Tribunal, o relator poderá decidir o caso de plano. Dessa decisão caberá agravo em cinco dias. Art. 120. Parágrafo único. Havendo jurisprudência dominante do tribunal sobre a questão suscitada, o relator poderá decidir de plano o conflito de competência, cabendo agravo, no prazo de cinco dias, contado da intimação da decisão às partes, para o órgão recursal competente. d.4. Oitiva do MP e Julgamento: decorrido o prazo assinalo pelo relator para prestar informações (art. 119, CPC), o MP será ouvido em cinco dias e o conflito será apresentado para julgamento. Art. 121. Decorrido o prazo, com informações ou sem elas, será ouvido, em 5 (cinco) dias, o Ministério Público; em seguida o relator apresentará o conflito em sessão de julgamento. d.5. Decisão do Tribunal: decide qual o juiz competente e a validade dos atos praticados pelo incompetente. Art. 122. Ao decidir o conflito, o tribunal declarará qual o juiz competente, pronunciando- se também sobre a validade dos atos do juiz incompetente. Parágrafo único. Os autos do processo, em que se manifestou o conflito, serão remetidos ao juiz declarado competente. d.6. Regimentos Internos: no conflito entre os órgãos de um Tribunal, o regimento disporá sobre a forma de sua solução. Ainda, tais regimentos determinarão a solução do conflito de atribuições entre judiciário e administração. Art. 123. No conflito entre turmas, seções, câmaras, Conselho Superior da Magistratura, juízes de segundo grau e desembargadores, observar-se-á o que dispuser a respeito o regimento interno do tribunal. processo civil – freddie Didier jr. - Intensivo I processo de conhecimento – dos órgãos judiciários e dos auxiliares da justiça – competência 30 Art. 124. Os regimentos internos dos tribunais regularão o processo e julgamento do conflito de atribuições entre autoridade judiciária e autoridade administrativa.
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