Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Gisele Mano e Lucianna Schmitt Disciplina Saúde Coletiva 03 Sumário CapítuLo 1 – Disciplina Saúde Coletiva ...................................................................................... 05 1.1 Sistemas de saúde: estudos comparados .............................................................................. 05 1.1.1 o que é política de saúde? ........................................................................................... 05 1.1.2 o que são sistemas de proteção social? ..................................................................... 06 1.1.3 o que são sistemas de saúde? ...................................................................................... 06 1.2 Formação do sistema de saúde brasileiro e a reforma sanitária .................................... 10 1.2.1 Como se formou o sistema de saúde brasileiro? ....................................................... 10 1.2.2 o que foi a reforma sanitária brasileira? .................................................................. 15 1.3 o Sistema Único de Saúde – SuS: estrutura organizacional ............................................ 17 1.3.1 os fundamentos do SuS ................................................................................................. 18 1.3.2 a gestão do SuS .............................................................................................................. 21 1.4 a participação social no SuS ................................................................................................... 24 1.5 A assistência médica supletiva, o gasto e o financiamento da saúde no Brasil: entre o público e o privado. ............................................................................................................. 26 05 Introdução prezado aluno, bem-vindo à disciplina de Saúde Coletiva. Nesta unidade 1, vamos discutir a formação e os modelos dos sistemas de saúde. 1.1 Sistemas de saúde: estudos comparados para um melhor entendimento dos sistemas de saúde vamos discutir alguns conceitos relacionados a este contexto. 1.1.1 o que é política de saúde? política de saúde é concebida como uma política pública, e pode ser entendida como a atribuição definida politicamente de direitos e deveres legais dos cidadãos. Esses direitos constituem a transferência de dinheiro e serviços com o objetivo de compensar condições de necessidades e risco para o cidadão que goza de tal direito e não consegue acesso a esses bens com seus próprios recursos ou dotes individuais1. 1 OSZALAK, Oscar e O’DONNELL, Guillermo (1976). Estado y políticas estatales en América Latina: Hacia una estrategia de investigación. Buenos Aires: CLACSO. Capítulo 1Disciplina Saúde Coletiva 06 Disciplina Saúde Coletiva Laureate International Universities A palavra política é grega: ta politika, vinda de polis Polis é a cidade entendida como a comunidade organizada, formada pelos cida-dãos nascidos nela, livres e iguais, portadores de dois direitos inquestionáveis: a iso-nomia (igualdade perante a lei) e a isogoria (o direito de expor e discutir em público opiniões sobre ações que a Cidade deve ou não deve realizar). A política pública é resultado de um processo que envolve interesses divergentes, confrontos e negociações entre várias instâncias instituídas, ou arenas, e entre os atores que delas fazem parte. A política pública pode ser definida como um conjunto de ações e omissões que manifesta uma modalidade de intervenção do Estado em relação a uma questão que chama a atenção, o interesse e a mobilização de outros atores da sociedade civil. Dessa intervenção, pode-se inferir uma determinada direção, uma determinada orientação normativa, que, presumivelmente, afetará o futuro curso do processo social desenvolvido, até então, em torno do tema. (Oszlak e O’Donnell, 1976:21). É a ação ou omissão do Estado, enquanto resposta social, diante dos problemas de saúde e seus determinantes, bem como em relação à produção, distribuição e regulação de bens, serviços e ambientes que afetam a saúde dos indivíduos e da coletividade (Paim et al., 2006)2. 1.1.2 o que são sistemas de proteção social? o termo proteção social é compreendido como a garantia de inclusão a todos os cidadãos que se encontram em situação de vulnerabilidade e/ou em situação de risco, inserindoos na rede de proteção social local. A proteção social é hierarquizada em básica e especial (PNAS, 2004)3. agora que já relembramos e compreendemos alguns conceitos importantes no contexto político da saúde, vamos compreender e caracterizar os sistemas de saúde. 1.1.3 o que são sistemas de saúde? Os modelos mais adotados de sistemas de saúde são os instituídos pelo Estado, e as primeiras iniciativas estatais nessa direção remontam ao final do século XIX na Alemanha, por iniciativa de Bismarck (Otto Von Bismarck). Geralmente, a iniciativa estatal abrange outras áreas submetidas a riscos sociais, como classicamente a do envelhecimento e perda da capacidade laboral. os sistemas de saúde compõem juntos os sistemas de previdência, o aparato estatal de 2 paim, Jairnilson Silva e Carmen Fontes teixeira. "política, planejamento e gestão em saúde: balanço do estado da arte." Rev Saúde Pública 40.Esp (2006). 3 _____. Política Nacional de Assistência Social – PNAS/2004; Norma Operacional Básica – NOB/Suas. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – Secretaria Nacional de assistência Social, 2004. 07 proteção social, tendo como característica a universalização da cobertura visando garantir segurança para os cidadãos. No entanto, é no século XX, quando se ampliam os limites da cidadania com a adoção, por vários países, de garantias sociais como Direito Social, que ocorrem, notadamente após a Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento e a consolidação dos sistemas de saúde em diversos países, como o sistema inglês Health National Services (NHS), que serviu de inspiração para vários outros sistemas em outros países. a cobertura populacional, o acesso e a oferta de bens e serviços decorrem de fatores políticos – o tipo de Estado e o grau de organização social – e econômicos – a inserção na economia capitalista mundial e o grau de riqueza expresso pelo Produto Interno Bruto (PIB) ou Produto Nacional Bruto (PNB) – e, de alguma forma, são expressos nos modelos de financiamento dos sistemas de saúde. os sistemas de saúde e os sistemas de proteção social adquirem estrutura diferenciada no tempo e no espaço, admitindo formas múltiplas de organização, cobertura, financiamento e participação das instituições privadas. No caso da saúde, a forma como a sociedade se organiza para proteger seus indivíduos e grupos sociais contra os riscos de adoecer e morrer é que vai determinar a configuração do sistema de saúde, assim como a natureza das relações entre Estado e sociedade, público e privado, vai definir a oferta dos serviços de saúde. a tipologia mais frequentemente empregada para os sistemas de saúde é baseada em diferentes estudos que vinculam os sistemas de saúde aos sistemas de proteção social, historicamente criados a partir de três classificações: a assistência social; o seguro social; e a seguridade social (ou sistemas nacionais e universais de saúde). O quadro 1, adaptado de Immergut por Lobato & Giovanella, traz a emergência das legislações em países da Europa de acordo com essas três classificações. Otto Von Bismarck Fonte: https://upload.wi- kimedia.org/wikipedia/ commons/4/4d/Bundesar- chiv_Bild_146-1990-023- 06A%2C_Otto_von_Bismarck. jpg 08 Disciplina Saúde Coletiva Laureate International Universities Quadro 1 - Legislação de proteção social à saúde: ano de criação dos seguros sociais de saúde e serviços nacionais desaúde. Legislação de proteção social à saúde: ano de criação dos seguros sociais de saúde e serviços nacionais de saúde. Países da Europa Países Assistência social Seguro social Seguridade social Alemanha 1883Leis municipais nos séculos XVIII e XIX 1888, 1930 e 1944Austrália 1944Bélgica 1849, 1898 1973Dinamarca 1892 1942Espanha 1839, 1859 1928, 19451843, 1852, 1898França 1913, 1929, 1943Holanda 1943 19781886Itália 1944 1979Portugal 1909, 1953, 1956 1969Noruega 1911 19461793, 1815, 1850, 1898Reino Unido 1946 19691891, 1910, 1931Suécia 1911, 1964Suíça os sistemas de saúde compõem-se de estruturas com atividades bastante distintas, mas conexas, que podem ser classificadas em dois grandes agrupamentos: as estruturas assistenciais e as estruturas voltadas para a realização das funções do sistema. as estruturas assistenciais são integradas pela rede de serviços (hospitais, ambulatórios, consultórios, laboratórios clínicos e radiológicos, entre outros) e o pessoal de saúde (profissionais e técnicos com formação específica em saúde e trabalhadores da saúde). Suas principais atividades vinculam-se ao acesso e à produção de serviços de acordo com os parâmetros definidos pelo sistema de saúde. as estruturas voltadas para as funções são integradas pelos sistemas de planejamento, informação, controle e avaliação (no caso brasileiro, as unidades vinculadas a órgãos estatais, como ministérios, secretarias estaduais e municipais de saúde, agência reguladora, entre outras). Suas principais atividades residem na organização e na regulação do funcionamento do sistema de saúde, destacando-se as medidas para sua racionalização. os principais componentes dos sistemas de saúde são a cobertura, os recursos (humanos, econômicos, a rede de serviços, os insumos, a tecnologia e o conhecimento em saúde) e as organizações. a dinâmica dos sistemas de saúde pode ser caracterizada por funções e relações que se estabelecem entre seus componentes, resultam em políticas, ações e serviços prestados, 09 determinam o desempenho dos sistemas e contribuem para os resultados nas condições de saúde da população – conforme esquematizado na figura 1. NÃO DEIXE DE VER... Filme SOS Saúde Sicko, de Michel Moore, disponível no link a seguir. https://www.youtube.com/watch?v=VoBleMNAwUg.. Componentes Cobertura Recursos Funções Financiamento Prestação de serviços Regulação Gestão Contexto social, político e econômico Atores/agentes Interesses Projetos Estratégias Desempenho dos sistemas Condições de saúde Figura 1- Dinâmica dos sistemas de saúde. O financiamento dos sistemas de saúde ocorre exclusivamente por recursos públicos (impostos, contribuições sociais e renúncia fiscal) ou fundos privados (desembolso direto, copagamento) e, alternativamente, por um mix dessas fontes, conformando diversos modelos de financiamento. Destacam-se quatro como os principais meios de financiamento da saúde: modelos assistencialista, previdencialista, universalista unificado e universalista diversificado. No modelo previdencialista, as camadas de baixa renda são as mais prejudicadas, pois não há recursos definidos para custeio de serviços. Os trabalhadores formais são financiados pelas contribuições sociais sobre a folha de salário, e as camadas de alta renda o são também pelo pagamento direto aos serviços prestados. No modelo universalista, há um mix de fontes de financiamento: recursos fiscais para camadas de baixa renda, pagamento direto pelos serviços para trabalhadores formais e camadas médias, e exclusivamente pagamento direto pelos serviços para camadas de alta renda. Convém salientar que o tipo de cobertura populacional propiciada pelo sistema de saúde (universal, parcial e/ou segmentada) se dá em função do modelo de financiamento adotado e do tipo fiscal das fontes de recurso (tipo de impostos). 10 Disciplina Saúde Coletiva Laureate International Universities apesar de todos os esforços para cumprir com as recomendações do sistema de saúde no âmbito da prestação da atenção, ainda persistem grandes entraves que impossibilitam a consolidação dos princípios do nosso sistema de saúde. Dentre eles, os mais relevantes são: desigualdade de acesso aos serviços de saúde, inadequação dos serviços às necessidades de saúde da população e da demanda do local, baixo nível de qualidade dos serviços oferecidos, pouca ou ausência de integralidade das ações (CNS, 1987 ). tipos de sistemas de saúde: Sistemas nacionais de saúde Sistemas baseados no seguro social Sistemas de mercado Sistema financiado com recursos fiscais provenientes de impostos pagos por toda a sociedade. Sistema financiado com contribuições sociais pagas por empresas e trabalhadores. Sistema financiado com os prêmios pagos às seguradoras. Exemplos: Inglaterra; Canadá; Suécia; Espanha; Itália. Exemplos: Alemanha; França; América Latina. Exemplos: Estados Unidos; Suíça; Austrália. Acesso universal (para toda a população). Acesso restrito a grupos especiais (trabalhadores, por exemplo). Acesso via mercado, mediante pagamento. 1.2 Formação do sistema de saúde brasileiro e a reforma sanitária 1.2.1 Como se formou o sistema de saúde brasileiro? A primeira iniciativa do Estado brasileiro na construção do sistema de saúde poderia se aproximar da noção de proteção social e data de 1923, com a edição da Lei Eloy Chaves e a criação das Caixas de pensão e aposentadoria, que também garantiam a assistência médica aos contribuintes. Da década de 1920 até o final de 1980, o que pode ser reconhecido como sistema de saúde pautava-se majoritariamente pela noção de seguro social (garantia de acesso apenas a quem contribui) e se caracterizava por uma miríade de instituições públicas e algumas privadas sem articulação entre si. Nesse período, a assistência médica vinculava-se à previdência social e as ações coletivas de saúde eram de responsabilidade do Ministério da Saúde. Paralelamente, desde a década de 1940, foram instituídas as primeiras modalidades de assistência médica suplementar, inicialmente dirigidas aos funcionários públicos da união e de alguns estados. Contudo, a primeira empresa de medicina de grupo brasileira surge em 1957 para prestar serviços à Volkswagen, que inaugurava a sua fábrica em São Bernardo do Campo. Esse arremedo de sistema imperou no Brasil durante 65 anos, sendo voltado à população urbana, mais especificamente para os trabalhadores formais e para parcelas do funcionalismo público federal e de alguns estados, como São Paulo. Suas bases de financiamento eram as contribuições compulsórias sobre as folhas de salário. aos demais brasileiros, a maior parte da população, estava reservada a assistência médica privada, por meio das Santas Casas ou a estatal, realizada pelas poucas instituições públicas de saúde existentes, geralmente vinculadas ao governo federal e aos estados e municípios mais ricos. 11 A promulgação da Constituição Federal de 1988 rompeu com essa situação, ao menos no plano do ideário. a adoção do conceito de seguridade social e a criação do sistema único de saúde representam uma grande inflexão na política de saúde no Brasil. É também essa mesma Carta que legitima a atuação do setor privado de saúde, que se arregimenta no sistema supletivo de assistência médica. o sistema de saúde brasileiro é constituído por pelo menos dois subsistemas: um governamental, o Sistema Único de Saúde (SUS), e outro privado, o Sistema Supletivo de Assistência Médica (SSAM). De uma perspectiva operacional, há vários pontos de contatos entre eles, principalmente em relação aos profissionais de saúde e alguns serviços assistenciais. Porém, em termos de possibilidade de acesso da população, háuma inexpugnável barreira, uma espécie de muro intransponível para a maior parte da população, justamente para a parcela relativamente mais necessitada. Como será argumentado a seguir, o problema não é a existência de um segmento público e de outro privado no sistema de saúde, mas sim o tipo de relação estabelecida entre eles, a qual se constitui em enorme empecilho para a efetivação de um sistema universal de saúde no cotidiano da população, tal como preconizado pela Constituição. o sistema de saúde brasileiro é constituído por uma variedade de organizações públicas e privadas estabelecidas em diferentes períodos históricos. No início do século XX, campanhas realizadas sob moldes quase militares implementaram atividades de saúde pública. a natureza autoritária dessas campanhas gerou oposição por parte da população, políticos e líderes militares. Tal oposição levou à Revolta da Vacina, em 1904, episódio de resistência a uma campanha de vacinação obrigatória contra a varíola sancionada por oswaldo Cruz, o então diretor geral de Saúde Pública. O modelo de intervenção do Estado brasileiro na área social data das décadas de 1920 e 1930, quando os direitos civis e sociais foram vinculados à posição do indivíduo no mercado de trabalho. o sistema de proteção social brasileiro expandiu-se durante o governo do presidente Getúlio Vargas (1930-1945) e dos governos militares (1964-1984). O processo de tomada de decisão e a gestão do sistema eram realizados sem participação da sociedade e estavam centralizados em grandes burocracias. o sistema de proteção social era fragmentado e desigual. o sistema de saúde era formado por um Ministério da Saúde subfinanciado e pelo sistema de assistência médica da previdência social, cuja provisão de serviços se dava por meio de institutos de aposentadoria e pensões divididos por categoria ocupacional (por exemplo, bancários, ferroviários, entre outros), cada um com diferentes serviços e níveis de cobertura. As pessoas com empregos esporádicos tinham uma oferta inadequada de serviços, composta por serviços públicos, filantrópicos ou serviços de saúde privados pagos do próprio bolso. Após o golpe militar de 1964, reformas governamentais impulsionaram a expansão de um sistema de saúde predominantemente privado, especialmente nos grandes centros urbanos. Seguiu-se uma rápida ampliação da cobertura, que incluiu a extensão da previdência social aos trabalhadores rurais. Entre 1970 e 1974, foram disponibilizados recursos do orçamento federal para reformar e construir hospitais privados. a responsabilidade pela oferta da atenção à saúde foi estendida aos sindicatos, e as instituições filantrópicas ofereciam assistência de saúde a trabalhadores rurais. os subsídios diretos a empresas privadas para a oferta de assistência médica a seus empregados foram substituídos por descontos no imposto de renda, o que levou à expansão da oferta dos cuidados médicos e à proliferação de planos de saúde privados. a maior cobertura da previdência social e um mercado de saúde baseado em pagamentos a prestadores do setor privado com base nos serviços realizados (fee for service) geraram uma crise de financiamento na previdência social que, associada à recessão econômica da década de 1980, alimentou os anseios pela reforma. 12 Disciplina Saúde Coletiva Laureate International Universities NÃO DEIXE DE VER... Filme Políticas de Saúde no Brasil - Um Século de Luta pelo Direito à Saúde, disponível no link a seguir. https://www.youtube.com/watch?v=L7NzqtspLpc. processo histórico da organização do setor de saúde e o antecedente para o sistema brasileiro de cuidado da saúde. Colonialismo português (1500 − 1822) Império (1822 − 1889) República Velha (1889 − 1930) Ditadura Vargas (1930 − 1945) Instabilidade democrática (1945 − 1964) Contexto macroeconômico e socioeconômico Contexto político Sistema de saúde Principais desafios de saúde Contexto macroeconômico e socioeconômico Contexto político Sistema de saúde Principais desafios de saúde Contexto macroeconômico e socioeconômico Contexto político Sistema de saúde Principais desafios de saúde Exploração de matérias-primas e monopólio comercial por Portugal Controle político e cultural de Portugal Século XVI: • Criação de hospitais da Santa Casa de Misericórdia em Santos, São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Belém e Olinda • Organização sanitária incipiente Centralismo político e sistema de coronelismo, que dava aos grandes proprietários de terra o controle político de províncias e localidades • Estruturas de saúde com ênfase na polícia sanitária • Administração da saúde centrada nos municípios • Criação das primeiras instituições de controle sanitário dos portos e de epidemias (1828 e 1850) Doenças pestilenciais e assistência à saúde para a população Doenças pestilenciais e prioridade da vigilância sanitária (portos e comércio) Abertura dos portos (1808), surgimento do capitalismo moderno e início da industrialização Economia agroexportadora (capital comercial), crise do café e insalubridade nos portos Estado liberal-oligárquico, revoltas militares e emergência das questões sociais • Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP; 1897) • Reformas das competências da DGSP (Oswaldo Cruz; 1907) • Caixas de Aposentadoria e Pensão (Lei Eloy Chaves; 1923) • Incipiente assistência à saúde pela previdência social • Dicotomia entre saúde pública e previdência social Doenças pestilenciais (febre amarela, varíola, peste) e doenças de massa (tuberculose, sífilis, endemias rurais) Industrialização, mas com manutenção da estrutura agrária “Estado Novo” − Estado autoritário entre 1937 e 1938 identificado com o nazifascismo • Saúde pública institucionalizada pelo Ministério da Educação e Saúde Pública • Previdência social e saúde ocupacional institucionalizadas pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio • Campanhas de saúde pública contra a febre amarela e a tuberculose • Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP) estendem a previdência social à maior parte dos trabalhadores urbanos (1933 − 1938) Predominância de endemias rurais (doença de Chagas, esquistossomose ancilostomíase, malária, tuberculose, sífilis) e deficiências nutricionais Ditadura militar (1964 − 1985) Internacionalização da economia Milagre econômico (1968 – 1973) Final do milagre econômico Penetração do capitalismo no campo e nos serviços • Golpe militar, ditadura (1964) • Reforma administrativa (1966) • Crise política (eleições de 1974) Abertura política lenta, segura e gradual (1974 − 1979) • Liberalização Criação do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (1976); movimentos sociais • 1º Simpósio de Política de Saúde do Congresso (1979) • Transição política (1974 − 1984) Criação da Associação Brasileira em Pós-Graduação em Saúde Coletiva (1979) Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP) unificados no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), privatização da assistência médica e capitalização do setor da saúde (1966) • Capitalização da medicina pela previdência social • Crise do sistema de saúde • Programas de Extensão de Cobertura (PEC) para populações rurais com menos de 20.000 habitantes • Crise na previdência social • Instituto Nacional da Assistência Médica da Previdência Social − Inamps (1977) • Centralização do sistema de saúde, fragmentação institucional, beneficiando o setor privado • Inamps financia estados e municípios para expandir a cobertura Predominância da morbidade moderna (doenças crônicas degenerativas, acidentesde trabalho e de trânsito) Persistência de endemias rurais com urbanização Doenças infecciosas e parasitárias predominando nas regiões nordeste, norte e centro-oeste Transição democrática (1985 − 1988) Fim da recessão, reconhecimento da dívida social e planos de estabilização econômica • Início da “Nova República” (1985) • Saúde incluída na agenda política • 8ª Conferência Nacional de Saúde • Ampliação do Movimento de Reforma Sanitária • Assembleia Nacional Constituinte • Nova Constituição (1988) • Inamps continua a financiar estados e municípios • Expansão das ações integradas de saúde (AIS) • Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde − SUDS (1987) • Contenção das políticas privatizantes • Novos canais de participação popular • Redução da mortalidade infantil e de doenças preveníveis por imunização • Persistência de doenças cardiovasculares e cânceres • Aumento nas mortes violentas e relacionadas à Aids • Epidemia de dengue Democracia (1988 − 2010) Crise econômica (hiperinflação) Ajuste macroeconômico (Plano Real; 1994) Estabilidade econômica, recuperação dos níveis de renda, movimento cíclico (altos e baixos), persistência das desigualdades, continuidade da política monetarista Presidente Fernando Collor de Mello eleito e submetido a impeachment Restante do mandato presidencial (1993 − 1994) exercido pelo Vice-Presidente Itamar Franco Governos de Fernando Henrique Cardoso (1995 − 1998 e 1999 − 2002) − Partido da Social- Democracia Brasileira (PSDB) Reforma do Estado (1995) Governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003 − 2006 e 2007 − 2010) − Partido dos Trabalhadores • Criação do SUS • Descentralização do sistema de saúde • 9ª Conferência Nacional de Saúde • Extinção do Inamps (1993) • Criação do Programa de Saúde da Família (1994) • Crise de financiamento e criação da Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (1996) • Tratamento gratuito para HIV/Aids pelo SUS • Financiamento via piso da atenção básica (1998) • 10ª e 11ª Conferências Nacionais de Saúde • Normas Operacionais Básicas (NOB) e de assistência à saúde (regionalização) • Regulamentação dos planos de saúde privados • Criada a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (1999) • Criada a Agência Nacional de Saúde Suplementar para regulamentar e supervisionar os planos de saúde privados (2000) • Criada a lei dos medicamentos genéricos • Lei Arouca institui a saúde do indígena como parte do SUS • Emenda Constitucional 29 visando à estabilidade de financiamento do SUS define as responsabilidades da União, estados e municípios (2000) • Aprovada a Lei da Reforma Psiquiátrica (2001) • Expansão e consolidação do PHC • Criado o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência − Samu (2003) • Estabelecido o Pacto pela Saúde (Pacto de Defesa do SUS, Pacto de Gestão, Pacto pela Vida; 2006) • Política Nacional de Atenção Básica (2006) • Política Nacional de Promoção da Saúde (2006) • 12ª e 13ª Conferências Nacionais de Saúde • Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde e Política Nacional de Saúde Bucal (Brasil Sorridente; 2006) • Unidades de Pronto-Atendimento (UPA 24h) criadas em municípios com populações >100.000 (2008) • Criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) junto ao PSF (2008) Epidemias de cólera e dengue, mortalidade por causas externas (sobretudo homicídios e acidentes de trânsito) Doenças cardiovasculares são a principal causa de morte, seguidas por causas externas e cânceres Redução na mortalidade infantil, prevalência inalterada de tuberculose, estabilização da prevalência de Aids, aumento na prevalência de dengue e aumento na incidência de leishmaniose visceral e malária Expectativa de vida em torno de 72,8 anos (69,6 para homens e 76,7 para mulheres) no início do século XXI • Mortalidade infantil de 20,7 por 1.000 nascidos vivos (2006) • Redução na prevalência de hanseníase e doenças preveníveis pela imunização • Expectativa de vida sobe para 72,8 anos (69,6 para homens e 76,7 para mulheres; 2008) Substituição de importações, rápida urbanização, migrações, advento da indústria automobilística, penetração do capital internacional Governos liberais e populistas • Criação do Ministério da Saúde (1953) • Leis unificaram os direitos de previdência social dos trabalhadores urbanos (1960) • Expansão da assistência hospitalar • Surgimento de empresas de saúde Emergência de doenças modernas (doenças crônicas degenerativas, acidentes de trabalho e de trânsito) 13 Colonialismo português (1500 − 1822) Império (1822 − 1889) República Velha (1889 − 1930) Ditadura Vargas (1930 − 1945) Instabilidade democrática (1945 − 1964) Contexto macroeconômico e socioeconômico Contexto político Sistema de saúde Principais desafios de saúde Contexto macroeconômico e socioeconômico Contexto político Sistema de saúde Principais desafios de saúde Contexto macroeconômico e socioeconômico Contexto político Sistema de saúde Principais desafios de saúde Exploração de matérias-primas e monopólio comercial por Portugal Controle político e cultural de Portugal Século XVI: • Criação de hospitais da Santa Casa de Misericórdia em Santos, São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Belém e Olinda • Organização sanitária incipiente Centralismo político e sistema de coronelismo, que dava aos grandes proprietários de terra o controle político de províncias e localidades • Estruturas de saúde com ênfase na polícia sanitária • Administração da saúde centrada nos municípios • Criação das primeiras instituições de controle sanitário dos portos e de epidemias (1828 e 1850) Doenças pestilenciais e assistência à saúde para a população Doenças pestilenciais e prioridade da vigilância sanitária (portos e comércio) Abertura dos portos (1808), surgimento do capitalismo moderno e início da industrialização Economia agroexportadora (capital comercial), crise do café e insalubridade nos portos Estado liberal-oligárquico, revoltas militares e emergência das questões sociais • Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP; 1897) • Reformas das competências da DGSP (Oswaldo Cruz; 1907) • Caixas de Aposentadoria e Pensão (Lei Eloy Chaves; 1923) • Incipiente assistência à saúde pela previdência social • Dicotomia entre saúde pública e previdência social Doenças pestilenciais (febre amarela, varíola, peste) e doenças de massa (tuberculose, sífilis, endemias rurais) Industrialização, mas com manutenção da estrutura agrária “Estado Novo” − Estado autoritário entre 1937 e 1938 identificado com o nazifascismo • Saúde pública institucionalizada pelo Ministério da Educação e Saúde Pública • Previdência social e saúde ocupacional institucionalizadas pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio • Campanhas de saúde pública contra a febre amarela e a tuberculose • Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP) estendem a previdência social à maior parte dos trabalhadores urbanos (1933 − 1938) Predominância de endemias rurais (doença de Chagas, esquistossomose ancilostomíase, malária, tuberculose, sífilis) e deficiências nutricionais Ditadura militar (1964 − 1985) Internacionalização da economia Milagre econômico (1968 – 1973) Final do milagre econômico Penetração do capitalismo no campo e nos serviços • Golpe militar, ditadura (1964) • Reforma administrativa (1966)• Crise política (eleições de 1974) Abertura política lenta, segura e gradual (1974 − 1979) • Liberalização Criação do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (1976); movimentos sociais • 1º Simpósio de Política de Saúde do Congresso (1979) • Transição política (1974 − 1984) Criação da Associação Brasileira em Pós-Graduação em Saúde Coletiva (1979) Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP) unificados no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), privatização da assistência médica e capitalização do setor da saúde (1966) • Capitalização da medicina pela previdência social • Crise do sistema de saúde • Programas de Extensão de Cobertura (PEC) para populações rurais com menos de 20.000 habitantes • Crise na previdência social • Instituto Nacional da Assistência Médica da Previdência Social − Inamps (1977) • Centralização do sistema de saúde, fragmentação institucional, beneficiando o setor privado • Inamps financia estados e municípios para expandir a cobertura Predominância da morbidade moderna (doenças crônicas degenerativas, acidentes de trabalho e de trânsito) Persistência de endemias rurais com urbanização Doenças infecciosas e parasitárias predominando nas regiões nordeste, norte e centro-oeste Transição democrática (1985 − 1988) Fim da recessão, reconhecimento da dívida social e planos de estabilização econômica • Início da “Nova República” (1985) • Saúde incluída na agenda política • 8ª Conferência Nacional de Saúde • Ampliação do Movimento de Reforma Sanitária • Assembleia Nacional Constituinte • Nova Constituição (1988) • Inamps continua a financiar estados e municípios • Expansão das ações integradas de saúde (AIS) • Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde − SUDS (1987) • Contenção das políticas privatizantes • Novos canais de participação popular • Redução da mortalidade infantil e de doenças preveníveis por imunização • Persistência de doenças cardiovasculares e cânceres • Aumento nas mortes violentas e relacionadas à Aids • Epidemia de dengue Democracia (1988 − 2010) Crise econômica (hiperinflação) Ajuste macroeconômico (Plano Real; 1994) Estabilidade econômica, recuperação dos níveis de renda, movimento cíclico (altos e baixos), persistência das desigualdades, continuidade da política monetarista Presidente Fernando Collor de Mello eleito e submetido a impeachment Restante do mandato presidencial (1993 − 1994) exercido pelo Vice-Presidente Itamar Franco Governos de Fernando Henrique Cardoso (1995 − 1998 e 1999 − 2002) − Partido da Social- Democracia Brasileira (PSDB) Reforma do Estado (1995) Governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003 − 2006 e 2007 − 2010) − Partido dos Trabalhadores • Criação do SUS • Descentralização do sistema de saúde • 9ª Conferência Nacional de Saúde • Extinção do Inamps (1993) • Criação do Programa de Saúde da Família (1994) • Crise de financiamento e criação da Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (1996) • Tratamento gratuito para HIV/Aids pelo SUS • Financiamento via piso da atenção básica (1998) • 10ª e 11ª Conferências Nacionais de Saúde • Normas Operacionais Básicas (NOB) e de assistência à saúde (regionalização) • Regulamentação dos planos de saúde privados • Criada a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (1999) • Criada a Agência Nacional de Saúde Suplementar para regulamentar e supervisionar os planos de saúde privados (2000) • Criada a lei dos medicamentos genéricos • Lei Arouca institui a saúde do indígena como parte do SUS • Emenda Constitucional 29 visando à estabilidade de financiamento do SUS define as responsabilidades da União, estados e municípios (2000) • Aprovada a Lei da Reforma Psiquiátrica (2001) • Expansão e consolidação do PHC • Criado o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência − Samu (2003) • Estabelecido o Pacto pela Saúde (Pacto de Defesa do SUS, Pacto de Gestão, Pacto pela Vida; 2006) • Política Nacional de Atenção Básica (2006) • Política Nacional de Promoção da Saúde (2006) • 12ª e 13ª Conferências Nacionais de Saúde • Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde e Política Nacional de Saúde Bucal (Brasil Sorridente; 2006) • Unidades de Pronto-Atendimento (UPA 24h) criadas em municípios com populações >100.000 (2008) • Criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) junto ao PSF (2008) Epidemias de cólera e dengue, mortalidade por causas externas (sobretudo homicídios e acidentes de trânsito) Doenças cardiovasculares são a principal causa de morte, seguidas por causas externas e cânceres Redução na mortalidade infantil, prevalência inalterada de tuberculose, estabilização da prevalência de Aids, aumento na prevalência de dengue e aumento na incidência de leishmaniose visceral e malária Expectativa de vida em torno de 72,8 anos (69,6 para homens e 76,7 para mulheres) no início do século XXI • Mortalidade infantil de 20,7 por 1.000 nascidos vivos (2006) • Redução na prevalência de hanseníase e doenças preveníveis pela imunização • Expectativa de vida sobe para 72,8 anos (69,6 para homens e 76,7 para mulheres; 2008) Substituição de importações, rápida urbanização, migrações, advento da indústria automobilística, penetração do capital internacional Governos liberais e populistas • Criação do Ministério da Saúde (1953) • Leis unificaram os direitos de previdência social dos trabalhadores urbanos (1960) • Expansão da assistência hospitalar • Surgimento de empresas de saúde Emergência de doenças modernas (doenças crônicas degenerativas, acidentes de trabalho e de trânsito) 14 Disciplina Saúde Coletiva Laureate International Universities Colonialismo português (1500 − 1822) Império (1822 − 1889) República Velha (1889 − 1930) Ditadura Vargas (1930 − 1945) Instabilidade democrática (1945 − 1964) Contexto macroeconômico e socioeconômico Contexto político Sistema de saúde Principais desafios de saúde Contexto macroeconômico e socioeconômico Contexto político Sistema de saúde Principais desafios de saúde Contexto macroeconômico e socioeconômico Contexto político Sistema de saúde Principais desafios de saúde Exploração de matérias-primas e monopólio comercial por Portugal Controle político e cultural de Portugal Século XVI: • Criação de hospitais da Santa Casa de Misericórdia em Santos, São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Belém e Olinda • Organização sanitária incipiente Centralismo político e sistema de coronelismo, que dava aos grandes proprietários de terra o controle político de províncias e localidades • Estruturas de saúde com ênfase na polícia sanitária • Administração da saúde centrada nos municípios • Criação das primeiras instituições de controle sanitário dos portos e de epidemias (1828 e 1850) Doenças pestilenciais e assistência à saúde para a população Doenças pestilenciais e prioridade da vigilância sanitária (portos e comércio) Abertura dos portos (1808), surgimento do capitalismo moderno e início da industrialização Economia agroexportadora (capital comercial), crise do café e insalubridade nos portos Estado liberal-oligárquico, revoltas militares e emergência das questões sociais • Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP; 1897) • Reformas das competências da DGSP (Oswaldo Cruz; 1907) • Caixas de Aposentadoria e Pensão (Lei Eloy Chaves; 1923) • Incipiente assistência à saúdepela previdência social • Dicotomia entre saúde pública e previdência social Doenças pestilenciais (febre amarela, varíola, peste) e doenças de massa (tuberculose, sífilis, endemias rurais) Industrialização, mas com manutenção da estrutura agrária “Estado Novo” − Estado autoritário entre 1937 e 1938 identificado com o nazifascismo • Saúde pública institucionalizada pelo Ministério da Educação e Saúde Pública • Previdência social e saúde ocupacional institucionalizadas pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio • Campanhas de saúde pública contra a febre amarela e a tuberculose • Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP) estendem a previdência social à maior parte dos trabalhadores urbanos (1933 − 1938) Predominância de endemias rurais (doença de Chagas, esquistossomose ancilostomíase, malária, tuberculose, sífilis) e deficiências nutricionais Ditadura militar (1964 − 1985) Internacionalização da economia Milagre econômico (1968 – 1973) Final do milagre econômico Penetração do capitalismo no campo e nos serviços • Golpe militar, ditadura (1964) • Reforma administrativa (1966) • Crise política (eleições de 1974) Abertura política lenta, segura e gradual (1974 − 1979) • Liberalização Criação do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (1976); movimentos sociais • 1º Simpósio de Política de Saúde do Congresso (1979) • Transição política (1974 − 1984) Criação da Associação Brasileira em Pós-Graduação em Saúde Coletiva (1979) Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP) unificados no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), privatização da assistência médica e capitalização do setor da saúde (1966) • Capitalização da medicina pela previdência social • Crise do sistema de saúde • Programas de Extensão de Cobertura (PEC) para populações rurais com menos de 20.000 habitantes • Crise na previdência social • Instituto Nacional da Assistência Médica da Previdência Social − Inamps (1977) • Centralização do sistema de saúde, fragmentação institucional, beneficiando o setor privado • Inamps financia estados e municípios para expandir a cobertura Predominância da morbidade moderna (doenças crônicas degenerativas, acidentes de trabalho e de trânsito) Persistência de endemias rurais com urbanização Doenças infecciosas e parasitárias predominando nas regiões nordeste, norte e centro-oeste Transição democrática (1985 − 1988) Fim da recessão, reconhecimento da dívida social e planos de estabilização econômica • Início da “Nova República” (1985) • Saúde incluída na agenda política • 8ª Conferência Nacional de Saúde • Ampliação do Movimento de Reforma Sanitária • Assembleia Nacional Constituinte • Nova Constituição (1988) • Inamps continua a financiar estados e municípios • Expansão das ações integradas de saúde (AIS) • Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde − SUDS (1987) • Contenção das políticas privatizantes • Novos canais de participação popular • Redução da mortalidade infantil e de doenças preveníveis por imunização • Persistência de doenças cardiovasculares e cânceres • Aumento nas mortes violentas e relacionadas à Aids • Epidemia de dengue Democracia (1988 − 2010) Crise econômica (hiperinflação) Ajuste macroeconômico (Plano Real; 1994) Estabilidade econômica, recuperação dos níveis de renda, movimento cíclico (altos e baixos), persistência das desigualdades, continuidade da política monetarista Presidente Fernando Collor de Mello eleito e submetido a impeachment Restante do mandato presidencial (1993 − 1994) exercido pelo Vice-Presidente Itamar Franco Governos de Fernando Henrique Cardoso (1995 − 1998 e 1999 − 2002) − Partido da Social- Democracia Brasileira (PSDB) Reforma do Estado (1995) Governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003 − 2006 e 2007 − 2010) − Partido dos Trabalhadores • Criação do SUS • Descentralização do sistema de saúde • 9ª Conferência Nacional de Saúde • Extinção do Inamps (1993) • Criação do Programa de Saúde da Família (1994) • Crise de financiamento e criação da Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (1996) • Tratamento gratuito para HIV/Aids pelo SUS • Financiamento via piso da atenção básica (1998) • 10ª e 11ª Conferências Nacionais de Saúde • Normas Operacionais Básicas (NOB) e de assistência à saúde (regionalização) • Regulamentação dos planos de saúde privados • Criada a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (1999) • Criada a Agência Nacional de Saúde Suplementar para regulamentar e supervisionar os planos de saúde privados (2000) • Criada a lei dos medicamentos genéricos • Lei Arouca institui a saúde do indígena como parte do SUS • Emenda Constitucional 29 visando à estabilidade de financiamento do SUS define as responsabilidades da União, estados e municípios (2000) • Aprovada a Lei da Reforma Psiquiátrica (2001) • Expansão e consolidação do PHC • Criado o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência − Samu (2003) • Estabelecido o Pacto pela Saúde (Pacto de Defesa do SUS, Pacto de Gestão, Pacto pela Vida; 2006) • Política Nacional de Atenção Básica (2006) • Política Nacional de Promoção da Saúde (2006) • 12ª e 13ª Conferências Nacionais de Saúde • Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde e Política Nacional de Saúde Bucal (Brasil Sorridente; 2006) • Unidades de Pronto-Atendimento (UPA 24h) criadas em municípios com populações >100.000 (2008) • Criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) junto ao PSF (2008) Epidemias de cólera e dengue, mortalidade por causas externas (sobretudo homicídios e acidentes de trânsito) Doenças cardiovasculares são a principal causa de morte, seguidas por causas externas e cânceres Redução na mortalidade infantil, prevalência inalterada de tuberculose, estabilização da prevalência de Aids, aumento na prevalência de dengue e aumento na incidência de leishmaniose visceral e malária Expectativa de vida em torno de 72,8 anos (69,6 para homens e 76,7 para mulheres) no início do século XXI • Mortalidade infantil de 20,7 por 1.000 nascidos vivos (2006) • Redução na prevalência de hanseníase e doenças preveníveis pela imunização • Expectativa de vida sobe para 72,8 anos (69,6 para homens e 76,7 para mulheres; 2008) Substituição de importações, rápida urbanização, migrações, advento da indústria automobilística, penetração do capital internacional Governos liberais e populistas • Criação do Ministério da Saúde (1953) • Leis unificaram os direitos de previdência social dos trabalhadores urbanos (1960) • Expansão da assistência hospitalar • Surgimento de empresas de saúde Emergência de doenças modernas (doenças crônicas degenerativas, acidentes de trabalho e de trânsito) 15 1.2.2 o que foi a reforma sanitária brasileira? a reforma sanitária brasileira foi proposta num momento de intensas mudanças e sempre pretendeu ser mais do que apenas uma reforma setorial. almejava-se, desde seus primórdios, que pudesse servir à democracia e à consolidação da cidadania no país. a realidade social, na década de 1980, era de exclusão da maior parte dos cidadãos do direito à saúde, que se constituía na assistência prestada pelo Instituto Nacional de Previdência Social, restrita aos trabalhadores que para ele contribuíam, prevalecendo a lógica contraprestacional e da cidadania regulada. A reforma do setor de saúde no Brasil estava na contramão das reformas difundidas naquela épocano resto do mundo, que questionavam a manutenção do Estado de Bem-estar Social. A proposta brasileira, que começou a tomar forma em meados da década de 1970, estruturou-se durante a luta pela redemocratização. um amplo movimento social cresceu no país, reunindo iniciativas de diversos setores da sociedade – desde os movimentos de base até a população de classe média e os sindicatos –, em alguns casos associados aos partidos políticos de esquerda, ilegais na época. a concepção política e ideológica do movimento pela reforma sanitária brasileira defendia a saúde não como uma questão exclusivamente biológica a ser resolvida pelos serviços médicos, mas sim como uma questão social e política a ser abordada no espaço público. Professores de saúde pública, pesquisadores da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e profissionais de saúde de orientação progressista engajaram-se nas lutas dos movimentos de base e dos sindicatos. O Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) foi fundado em 1976, organizando o movimento da reforma sanitária, e, em 1979, formou-se a Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva (Abrasco). Ambos propiciaram a base institucional para alavancar as reformas. a expressão reforma sanitária foi usada pela primeira vez no país em função da reforma sanitária italiana. A expressão ficou esquecida por um tempo até ser recuperada nos debates prévios à 8ª Conferência Nacional de Saúde, quando foi usada para se referir ao conjunto de ideias que se tinha em relação às mudanças e transformações necessárias na área da saúde. Essas mudanças não abarcavam apenas o sistema, mas todo o setor saúde, introduzindo uma nova ideia na qual o resultado final era entendido como a melhoria das condições de vida da população. No início das articulações, o movimento pela reforma sanitária não tinha uma denominação específica. Era um conjunto de pessoas com ideias comuns para o campo da saúde. Em uma reunião na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) em Brasília, esse grupo de pessoas, entre as quais estava Sergio arouca, foi chamado de forma pejorativa de “partido sanitário”. apesar disso, o grupo não se constituía como partido, pois sua mobilização era mais ampla, sendo considerada uma ação social. Em uma dissertação de mestrado orientada por Sergio Arouca em 1986, com o título Reviravolta na Saúde: Origem e Articulação do Movimento Sanitário, a atuação desse grupo foi chamada pela primeira vez de movimento sanitário. Surgiram, também, outras denominações, como “movimento pela reforma sanitária” e “movimento da reforma sanitária”. No livro o Dilema preventivista, uma nota feita por arouca diz que todos esses termos podem ser usados indistintamente. Considerado “o eterno guru da reforma sanitária”, Sergio arouca costumava dizer que o movimento da reforma sanitária nasceu dentro da perspectiva da luta contra a ditadura. Existia uma ideia clara na área da saúde de que era preciso integrar duas dimensões: a de ser médico e a de lutar contra a ditadura. os departamentos de medicina preventiva da universidade de São Paulo e da Universidade de Campinas e o Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro eram os espaços adequados para isso. 16 Disciplina Saúde Coletiva Laureate International Universities Esses locais abriram brechas para a entrada do novo pensamento sobre a saúde, lançado pelo movimento da reforma sanitária. Essa mudança começou no final dos anos 1960 e início dos anos 1970 – o período mais repressivo do autoritarismo no Brasil –, quando se constituiu a base teórica e ideológica do pensamento médico-social, também chamado de abordagem marxista da saúde e teoria social da medicina. A forma de olhar, pensar e refletir o setor saúde nessa época era muito concentrada nas ciências biológicas e na maneira como as doenças eram transmitidas. Há uma primeira mudança quando as teorias das ciências sociais começam a ser incorporadas. Essas primeiras teorias, no entanto, estavam muito ligadas às correntes funcionalistas, que olhavam para a sociedade como um lugar que tendia a viver harmonicamente e precisava apenas aparar arestas entre diferentes interesses. a grande virada da abordagem da saúde foi a entrada da teoria marxista – o materialismo dialético e o materialismo histórico – que mostra que a doença está socialmente determinada. No Brasil, duas teses, consideradas um marco divisor de águas, dão início à teoria social da medicina. São elas: o Dilema preventivista, de Sergio arouca, e Medicina e Sociedade, de Cecília Donnangelo – ambas de 1975. A partir daí, pode-se dizer que foi fundada uma teoria médico-social para análise de como as coisas se processam no campo da saúde no país. Essa nova abordagem torna-se conhecimento relevante, reconhecido academicamente, difundido e propagado. Durante todo o processo de modificação da abordagem da saúde, várias correntes se juntam como protagonistas. o movimento estudantil teve um papel fundamental na propagação das ideias e fez que diversos jovens estudantes começassem a se incorporar nessa nova maneira de ver a saúde. as semanas de estudos sobre saúde comunitária, realizadas pela primeira vez em 1974, e os encontros científicos dos estudantes de medicina, em especial os realizados entre 1976 e 1978, foram importantes nesse sentido, por serem espaços praticamente ignorados pela repressão militar, que não identificava o caráter político de suas discussões. Dentre esses diversos atores do movimento sanitário, destacam-se ainda: os médicos residentes, que na época trabalhavam sem carteira assinada e com uma carga horária excessiva; as primeiras greves realizadas depois de 1968; e os sindicatos médicos, que também estavam em fase de transformação. Esse movimento entra também nos conselhos regionais, no Conselho Nacional de Medicina e na Associação Médica Brasileira – as entidades médicas começam a ser renovadas. A criação do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), em 1976, também é importante na luta pela reforma sanitária. a entidade surge com o propósito de lutar pela democracia, de ser um espaço de divulgação do movimento sanitário, e reúne pessoas que já pensavam dessa forma e realizavam projetos inovadores. Entre 1974 e 1979, diversas experiências institucionais tentam colocar em prática algumas diretrizes da reforma sanitária, como descentralização, participação e organização. É nesse momento que a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), da Fundação Oswaldo Cruz, se incorpora como espaço de atuação da abordagem marxista da saúde. Vários projetos de saúde comunitária, como clínica de família e pesquisas comunitárias, começaram a ser elaborados, e pessoas que faziam política em todo o Brasil foram treinadas. Quando a ditadura chegou ao seu esgotamento, o movimento já tinha propostas. assim, esse movimento conseguiu se articular em um documento chamado Saúde e Democracia, que foi um grande marco, e conseguiu enviá-lo para aprovação do Legislativo. uma das coisas mais importantes, segundo Arouca, era transferir o Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (Inamps) para o Ministério da Saúde. 17 o movimento da reforma sanitária cresceu e formou uma aliança com parlamentares progressistas, gestores da saúde municipal e outros movimentos sociais. De 1979 em diante, foram realizadas reuniões de técnicos e gestores municipais, e em 1980 constituiu-se o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Em 1986, a 8ª Conferência Nacional de Saúde aprovou o conceito da saúde como um direito do cidadão e delineou os fundamentos do SuS, com base no desenvolvimento de várias estratégias que permitiram a coordenação, a integração e a transferência de recursos entre as instituições de saúde federais, estaduais e municipais. Essas mudançasadministrativas estabeleceram os alicerces para a construção do SuS. posteriormente, durante a assembleia Nacional Constituinte (1987–1988), o movimento da reforma sanitária e seus aliados garantiram a aprovação da reforma, apesar da forte oposição de um setor privado poderoso e mobilizado. a Constituição de 1988 foi proclamada numa época de instabilidade econômica, durante a qual os movimentos sociais se retraíam, a ideologia neoliberal proliferava e os trabalhadores perdiam poder de compra. Simultaneamente a essa reforma, as empresas de saúde se reorganizavam para atender às demandas dos novos clientes, recebendo subsídios do governo e consolidando os investimentos no setor privado. 1.3 o Sistema Único de Saúde – SuS: estrutura organizacional as principais noções e os fundamentos do SuS são concebidos pelo Movimento da Reforma Sanitária Brasileira e sancionados pela 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986. No ano seguinte, o relatório final da conferência influenciaria os trabalhos da Comissão de Saúde da assembleia Nacional Constituinte. o SuS é criado com a promulgação da Constituição em setembro de 1988, aliando-se à melhor tradição de proteção social ao consagrar a saúde como direito de todos e dever do Estado. Nesses termos, representa um enorme desafio, qual seja, a construção de um sistema de saúde universal em um país na periferia do capitalismo com as características do Brasil, isto é, de grande extensão territorial, populoso, com carência de recursos financeiros, marcado por grande heterogeneidade regional, desigualdade e exclusão social. Dificuldade adicional significativa é representada pelo modelo federativo brasileiro praticamente singular no planeta, em que municípios são entes federados e engendram mecanismos de competição entre si. tal dispositivo torna muito complexa a estruturação de um verdadeiro sistema no setor de saúde, devido à autonomia e às salvaguardas legais e constitucionais próprias dos arranjos federativos, aqui estendidas aos municípios. 18 Disciplina Saúde Coletiva Laureate International Universities Quadro 2 - Base Normativa Constituição Federal de 1988, na qual a saúde é um dos setores que estruturam a seguridade social, ao lado da Previdência e da Assistência Social. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, também conhecida como Lei Orgânica da Saúde, e que dispõe, principalmente, sobre a organização e regulação das ações e serviços de saúde em todo o território nacional. Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que determinou o formato da participação popular no SUS e assuntos relacionados ao seu financiamento. Normas Operacionais Básicas – NOB de 1993 e 1996. Normas Assistenciais Básicas – NOAS de 2002. Emenda Constitucional nº 29, de 13 de dezembro de 2000. Pactos pela Saúde – 2006. Decreto nº 7508 de 2011. Lei Complementar nº 141 de 2012. 1.3.1 os fundamentos do SuS No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Constituição de 1988 e se inspira nos sistemas universais ao afirmar que a saúde é direito de todos e dever do Estado. Essa Constituição prevê que os serviços de saúde podem ser prestados também pela iniciativa privada. Desse modo, o sistema de saúde brasileiro é constituído por pelo menos dois tipos diferentes de sistemas (cada um deles chamado de subsistema): a) um governamental, o Sistema Único de Saúde (SUS); b) outro privado, o Sistema Supletivo de Assistência Médica (SSAM). Da maneira como funcionam, há vários pontos de contatos entre eles, principalmente em relação aos profissionais de saúde (os mesmos profissionais trabalham nos dois sistemas) e alguns serviços assistenciais (os dois sistemas contratam os mesmos serviços de hospitais e laboratórios clínicos, por exemplo). No entanto, com relação à possibilidade de a população poder usar os recursos desses dois sistemas, há uma espécie de muro que barra a utilização do sistema privado para a maior parte da população – justamente aquela parcela de brasileiros relativamente mais necessitada. o SuS deve ser entendido a partir de seus princípios e diretrizes: • princípio: aquilo que serve de base, alicerce. • Diretriz: estratégias para atingir os objetivos. É importante que seja entendido o conceito desses dois termos para não haver dificuldade de interpretação. alguns autores descrevem os princípios do SuS como diretrizes e vice- 19 versa, chegando a propor a redescrição dessas noções, indicando que, em vez de princípios e diretrizes, o SuS seja organizado a partir de princípios doutrinários e princípios organizativos. • os princípios doutrinários estão relacionados aos valores e concepções que servem de alicerce ao sistema, e os princípios organizativos seriam os meios e as estratégias para operacionalização do sistema. • para as provas de residência devemos entender esses conceitos de forma equivalente. PRINCÍPIOS PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS = base filosófica, cognitiva, ideológica e alicerce. DIRETRIZES PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS = estratégias e meios de organização do sistema para sua concretização. Quadro 3 - princípios doutrinários do SuS. Universalidade Equidade Integralidade Esse princípio deve ser entendido como um direito à saúde e à vida, pois garante igualdade de acesso aos serviços de saúde a todos os cidadãos brasileiros – sem distinção de raça, sexo, orientação sexual, condição financeira, religião e outras variáveis de segregação – em todos os níveis de assistência. Foi responsável pela substituição do modelo contributivo de seguro social, que vigorou por um longo período no Brasil e que condicionava o acesso dos contribuintes da previdência social aos serviços públicos e privados credenciados ao sistema previdenciário. A universalidade pressupõe a ideia de direito e jamais podemos realizar qualquer menção à ideia de pagamento ou gratuidade. É uma pegadinha frequente em provas aparecer a associação desse princípio com gratuidade, portanto, muito cuidado! Para as questões discursivas, devemos saber que há dois desafios levantados pelo princípio da universalidade, que são: 1. Garantir o acesso às ações e serviços de saúde que, muitas vezes, apresentam uma série de dificuldades aos cidadãos. 2. Garantir boas condições de vida que possibilitem boas condições de saúde, assegurando assim um projeto de construção de sociedade mais justa e igualitária. É o princípio de maior dificuldade de compreensão, pois nos remete à perspectiva de igualdade. Entretanto, é um erro conceitual interpretá-lo sob essa ótica. Esse princípio identifica o espaço da diferença, e não da igualdade. É fruto de um dos piores problemas da sociedade, que é a inequidade social. Portanto, essa base conceitual do SUS propõe um desafio de tratar “de forma desigual os desiguais”, isto é, o Estado deverá atender às necessidades individuais e coletivas daqueles mais atingidos pelas inequidades sociais. Isso perpassa pela lógica de criar políticas públicas que englobem o espaço regulador de diferenças e tentem organizá-las, reconhecendo a diversidade da condição humana e suas potencialidades e necessidades. Geralmente, utilizamos indicadores epidemiológicos e de distribuição de renda como critérios para determinar políticas equânimes. A integralidade das ações de saúde é um princípio que reforça a ideia de sistema único de saúde, pois garante acesso integral à saúde, que vai das ações preventivas às assistenciais. A Constituição afirma que devemos priorizar as ações de prevenção, porém sem prejuízos curativos. Daí a célebre frase que melhor exemplifica esse princípio: “O indivíduo deve ter acesso garantido, da vacina ao transplante”. Esse princípio também se refere ao atendimento integraldo indivíduo do ponto de vista do novo conceito de saúde. Não podemos mais pensar na doença apenas como um modelo biomédico, mas sim incorporado às diversas dimensões que determinam a produção de saúde-doença (sociedade/meio no qual se vive), e então garantir acesso a todos os tipos de serviços que envolvam promoção, proteção e recuperação da saúde. as políticas de saúde devem ser desenvolvidas tendo em vista a integralidade, compreendendo a atenção e as necessidades dos grupos específicos. Exemplo: 20 Disciplina Saúde Coletiva Laureate International Universities • política de atenção integral à saúde da mulher. • atenção às DSt/aids. outro aspecto abordado pela integralidade está relacionado à formação dos trabalhadores para o processo do trabalho em saúde. a formação deles leva em consideração a perspectiva integral de atenção à saúde. Quadro 4 - princípios organizativos do SuS Descentralização Regionalização Hierarquização Pela nossa Constituição, o Estado brasileiro é considerado uma federação, e, como tal, os princípios constitucionais devem ser garantidos e exercidos em cada esfera de governo. O SUS deve, portanto, se organizar a partir da descentralização, com direção única em cada esfera de governo. Em outras palavras, o nosso Sistema Único de Saúde (SUS) passa a não ser mais gerido somente pelo governo federal. Ocorre uma distribuição de poder político, de responsabilidades e de recursos para os níveis estadual e municipal. De uma maneira mais simples, podemos ainda concluir que é uma desconcentração do poder da União para os estados e municípios. Com essa descentralização, o formato do processo de gestão do SUS fica assim definido: União – governo federal: Ministério da Saúde. Estados e Distrito Federal: Secretaria Estadual de Saúde. Municípios: Secretaria Municipal de Saúde. A Lei nº 8.080, de 1990, apresenta as atribuições e competências de forma genérica e, segundo alguns autores, torna a compreensão das especificidades de cada instância gestora um pouco difícil. Já as Normas Operacionais Básicas (NOB) definem claramente as competências de cada esfera de governo na organização e operacionalização do SUS. Elas definem de maneira estratégica e detalhada as condições que os estados e municípios precisam adquirir diante do processo de implantação e consolidação do SUS. A rede de serviços do SUS deve ser organizada de forma regionalizada e hierarquizada, permitindo um conhecimento maior dos problemas de saúde da população de uma área delimitada, favorecendo ações de vigilância epidemiológica, sanitária, controle de vetores e educação em saúde, além das ações de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexidade. Em outras palavras, essa diretriz deve focar a organização do sistema em uma noção de território, levando em consideração os perfis populacionais, os indicadores epidemiológicos, as condições de vida e o suporte social. Assim, a gestão municipal estará mais próxima da realidade que a cerca e contribuirá para uma melhor resolutividade dos problemas que acometem a população que está presente nos distritos e regiões que compõem o município. Segundo Matta (2006), a lógica proposta é de que quanto mais perto da população, maior será a capacidade de o sistema identificar as necessidades de saúde e melhor será a forma de gestão do acesso e dos serviços para a população. A regionalização deve ser norteada pela hierarquização dos níveis de complexidade requerida pelas necessidades de saúde das pessoas. O princípio da integralidade deve ser levado em consideração, pois é a partir dele que vamos organizar o serviço, desde as ações de promoção e prevenção de doenças até as de maior complexidade como recursos diagnósticos, internação, cirurgias e transplantes. A hierarquização diz respeito à organização do acesso da população à rede de serviços de saúde por meio da definição de níveis de atenção à saúde. O nível primário de atenção deve ser qualificado para atender e resolver os principais problemas que demandam serviços de saúde. Os que não forem resolvidos nesse nível deverão ser referenciados para os serviços de maior complexidade tecnológica. O nível primário (baixa complexidade) é composto pelas unidades básicas de saúde e pelos programas de saúde da família, e engloba ações de vacinação, consultas básicas, etc. Nesse nível, são resolvidos 80% dos problemas de saúde da população. O nível secundário (média complexidade) resolve 15% dos problemas de saúde e está nos centros de especialidades, nos hospitais com baixa complexidade (clínica médica, pediatria e obstetrícia), nas clínicas de raio-X, USG, nos laboratórios, entre outros (a maioria desses serviços está nas Santas Casas e em hospitais privados conveniados ao SUS). O nível terciário de atenção à saúde (alta complexidade) está nos hospitais de referência, clínicas de tomografia, hemodiálise, quimioterapia, entre outros, e resolve os 5% restantes dos problemas de saúde. Atualmente, no SUS, a maioria desses serviços é composta pelos hospitais públicos brasileiros. Participação da comunidade (ou controle social) Essa diretriz também é definida como participação popular ou participação da comunidade, ou ainda como participação dos cidadãos e até controle social. Podemos considerar essa diretriz como um dos marcos históricos da reforma sanitária brasileira, pois garantiu a participação da comunidade no processo de construção e consolidação do SUS. Seria um erro histórico apontar essa diretriz e não a relacionar com a 8ª Conferência Nacional de Saúde, pois, durante esse encontro em Brasília, no ano de 1986, a participação popular foi apresentada como um dos princípios organizativos do novo sistema nacional de saúde, o qual ainda estava por ser aprovado, conforme extraído dos manuais do Ministério da Saúde: “[...] participação popular, através de suas entidades representativas, na formulação da política, no planejamento, na gestão, na execução e avaliação das ações de saúde” (Matta 2006 apud Brasil, 1996:10). Em 1990, a Lei nº 8.142 trouxe a regulação das instâncias da participação popular no processo decisório do nosso sistema de saúde, garantindo um caráter permanente de formulação e acompanhamento das políticas de saúde no Brasil. As instâncias colegiadas de participação popular no SUS são: conselhos de saúde (municipais e estaduais) e conferências de saúde (nacional, estadual e municipal). Os conselhos de saúde têm caráter permanente e deliberativo. Estão presentes nos três níveis de governo, representados pelo Conselho Nacional de Saúde, Conselho Estadual de Saúde e Conselho Municipal de Saúde. São órgãos colegiados compostos por representantes do governo, prestadores de serviço privado, profissionais de saúde e usuários. Atuam na formulação de políticas, estratégias, acompanhamento das ações e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo. Os conselhos devem ser formados de forma paritária entre usuários e prestadores: 50% de participação dos usuários (população); 25% de representantes das instituições administradoras do SUS e prestadores de serviços de saúde; 25% de representantes dos trabalhadores da saúde. A Lei nº 8.142 também define que as conferências de saúde (veja o capítulo Histórico das Conferências Nacionais deSaúde) estruturam-se em cada nível de governo e se reúnem a cada quatro anos, com o intuito de avaliar a conjuntura de saúde vivenciada por cada uma das áreas de abrangência e propor diretrizes para formulação política em cada esfera. Elas podem ser convocadas pelo Poder Executivo ou de forma extraordinária pela própria conferência ou pelos conselhos. 21 1.3.2 a gestão do SuS a gestão do SuS funda-se no comando único em cada esfera de governo, isto é, na união o comando é do Ministério da Saúde; nos estados, das Secretarias Estaduais de Saúde; e nos municípios, das Secretarias ou Departamentos Municipais de Saúde. os estados e municípios devem solicitar habilitação em uma das modalidades de gestão; no caso dos municípios a plena do Sistema ou a Plena da Atenção Básica. Combinado à diretriz da descentralização, esse dispositivo possibilita, principalmente aos municípios, os meios necessários para a efetivação de planos de ação adaptados às necessidades locais e/ou regionais. Na atualidade, o pacto pela Saúde é o instrumento direcionador no qual diversas ações de saúde são estipuladas consensualmente. Por meio de compromissos específicos da União, dos estados e dos municípios, essas ações deverão ser efetivadas pelo SUS em prazos definidos. No que tange à remuneração, os prestadores, sejam públicos ou privados, são tratados da mesma forma, isto é, remunerados por produção de serviços, procedimento que induz o subsídio à oferta de serviços nem sempre de acordo com as necessidades assistenciais e/ou os preceitos técnicos. Mais recentemente, têm sido introduzidos em setores específicos mecanismos de remuneração por compromisso assistencial, como os contratos assinados pelo SuS com hospitais universitários e de ensino. a matriz gerencial do SuS é interessante por permitir a coexistência dos níveis técnico e político com mecanismos de participação direta. Ela é constituída por três instâncias: instituição gestora, comissão interinstitucional e colegiados participativos. Figura 1.3 - Estrutura organizacional do SUS Organismos executivos Participação social Comitês intergestores Nível Federal Nível Estadual Nível Municipal Representantes do Conass, Conasems e Ms Secretaria Estadual de Saúde, Cosems Decisões de conferências de saúde Decisões de conselhos de saúde Prosposta do Ms Proposta das secretarias estaduais ou municipais de saúde Decisões de comitês intergestores Conferência nacional de saúde Conselho nacional de saúde Conferências estaduais de saúde Conselho estadual de saúde Conferências municipais de saúde Conselhos municipais de saúde Comitê tripartiteMinistério da saúde (MS) Comitê bipartiteSecretaria estadual de saúde Secretaria municipal de saúde Fonte: adaptado de paim et al., 2011. 22 Disciplina Saúde Coletiva Laureate International Universities as instituições gestoras deveriam ser os organismos encarregados de apresentar as soluções técnicas para a efetivação das políticas de saúde, além de exercerem as atividades de gestão, planejamento, controle e avaliação do sistema em seu âmbito de competência. as comissões intergestores são os espaços em que as esferas de governo realizam os pactos para a operacionalização do sistema, ou seja, representam um arranjo para enfrentar as dificuldades advindas do modelo federativo. Compostas por representantes do Ministério da Saúde, do Conselho Nacional de Secretários Nacionais de Saúde (Conass) e do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), deliberam sobre assuntos técnicos e políticos diversos, como a definição dos tetos financeiros de repasse para cada estado e a habilitação de estados e municípios nas modalidades de gestão. os colegiados participativos deveriam ser a instância privilegiada para o exercício da participação direta dos segmentos sociais interessados no SuS. Representados pelos conselhos de saúde, instituições deliberativas tripartites (gestores e prestadores privados do SUS; trabalhadores e usuários) e paritárias (os usuários devem compor pelo menos 50% do total de conselheiros, sendo a outra metade distribuída igualmente entre trabalhadores e gestores/ prestadores), têm como atribuições em sua esfera de abrangência definir as diretrizes das políticas de saúde e fiscalizar as ações dos gestores, inclusive nos aspectos financeiros. Decreto nº 7.508 de 2011 O Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011, regulamenta a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre a organização do sistema único de saúde, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, além de dar outras providências. Conforme já preconizado pela Lei nº 8.080/90, o SUS deve ser organizado de forma regionalizada e hierarquizada. por isso, o Decreto nº 7.508/2011 cria as regiões de saúde. Cada região deve oferecer serviços de atenção primária, urgência e emergência, atenção psicossocial, atenção ambulatorial especializada e hospitalar e, por fim, vigilância em saúde. Em relação à hierarquização, o Decreto estabelece que as portas de entrada do SUS, pelas quais os pacientes podem ter acesso aos serviços de saúde, são: de atenção primária; de atenção de urgência e emergência; de atenção psicossocial; e, ainda, especiais de acesso aberto. O Decreto também define quais são os serviços de saúde disponíveis no SUS para o atendimento integral dos usuários por meio da Relação Nacional de ações e Serviços de Saúde (Renases), que deve ser atualizada a cada dois anos. Lei Complementar nº 141 de 2012 A Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012, regulamenta o § 3º do art. 198 da Constituição Federal para dispor sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela união, estados, Distrito Federal e municípios em ações e serviços públicos de saúde; estabelece os critérios de rateio dos recursos de transferências para a saúde e as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas três esferas de governo; e revoga dispositivos das Leis nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e 8.689, de 27 de julho de 1993. A Emenda Constitucional nº 29 (EC nº 29) foi finalmente regulamentada 12 anos depois de sua promulgação, em 13 de setembro de 2000. Tinha como objetivo estabilizar o financiamento do setor saúde com recursos das três esferas de governo, provenientes da aplicação de percentuais das receitas estabelecidos em lei. Definiu, no caso da União, que o valor mínimo seria aquele apurado no ano anterior, corrigido pela variação nominal do Produto Interno Bruto (PIB). Para 23 os estados e o Distrito Federal, os recursos mínimos equivaleriam a 12% da arrecadação de impostos e das transferências constitucionais, deduzidas as parcelas transferidas aos municípios. para os municípios, os recursos mínimos corresponderiam a 15% da arrecadação de impostos e dos recursos de transferências constitucionais. Com a promulgação da EC nº 29, surgiu a necessidade da regulamentação dos dispositivos não autoaplicáveis para orientar a correta execução pelos entes federados e a fiscalização pelos tribunais de Contas quanto ao seu cumprimento. No Congresso Nacional, a discussão da regulamentação teve como base o projeto de Lei Complementar (PLC) nº 01/2003 do deputado Roberto Gouveia (PT-SP), que tinha como objetivo definir o que são ações e serviços de saúde e tornar obrigatória a alocação de 10% das Receitas Correntes Brutas (10% da RCB) da União para a saúde. Em 2007, o PLC nº 01/2003 já apresentava várias emendas, dentre as quais se destaca o retorno às regras presentes na EC nº 29, que trata da participação mínima da União no financiamento do SUS, acrescido de percentuais da receita da CpMF. a não prorrogação da CpMF comprometeu o prosseguimento desse
Compartilhar