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Aulas 9 e 10 Tema da aula: Construindo um conceito de EAD. Título do texto proposto para o estudo: Texto-base 05 - Afinal, o que é educação a distância? Autora: Solange Medeiros Pitombeira de Lucena AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA? Autora: Solange Medeiros Pitombeira de Lucena "A Educação autêntica, repitamos, não se faz de "A" para "B" ou de "A" sobre "B", mas de "A" com "B", mediatizados pelo mundo". Paulo Freire 1- Introdução Nos textos anteriores, de Márcio Berbat, você pode conhecer um pouco da história da Educação a Distância no Brasil e no mundo, e foi possível concluir, portanto, que a inserção da internet na educação a distância na década de 90, ou seja, no final do século XX, é uma conseqüência natural desta modalidade, que há muito busca maior interação entre docente e aprendiz através do uso de tecnologias. O desenvolvimento do correio e dos meios de transporte, acompanhado por outras tecnologias aplicadas ao campo da comunicação e da informação, influíram decisivamente nos destinos da educação a distância. Como destaca Litwin (2001): o desenvolvimento atual da tecnologia favorece a criação e o enriquecimento das propostas na EAD na medida que permite abordar de maneira ágil inúmeros tratamentos de temas, assim como gerar novas formas de aproximação entre docentes e alunos, e de alunos entre si. As modernas tecnologias resolvem o problema crucial da educação a distância, que é a interatividade. (p.17) Contudo, não devemos valorizar demasiadamente a dimensão tecnológica, pois sabemos que não é unicamente a tecnologia que determina a construção de conhecimento, mas sim que contribui para facilitar a aprendizagem do conteúdo presente nos cursos a distância. Percebemos, através do histórico da educação a distância, que esta modalidade incorpora as novas tecnologias com maior rapidez do que a educação presencial. Lembramos que o rádio foi criado em 1901 por G. Marconi e foi utilizado pela EAD em 1935. Da mesma forma em 1923, Vladimir Zworykin cria a televisão que já em 1935 efetua sua primeira emissão regular e foi incorporada a EAD em 1956. 2 Os avanços tecnológicos possibilitaram o surgimento das megauniversidades (instituições de ensino a distância que atendem a mais de 100 mil alunos) em vários países. Este fato provoca uma certa preocupação sobre a forma pela qual está se desenvolvendo o processo ensino/aprendizagem. Entretanto, sabemos da seriedade de muitas dessas universidades e da organização e esforços que empenham para democratizar o acesso ao saber, com qualidade. No Brasil, a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional traz, pela primeira vez, disposições sobre a educação a distância, determinando que “o Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino à distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.” (Art. 80 da lei 9394, de 20 de dezembro de 1996). Contudo, devemos estar atentos para que as políticas públicas busquem soluções mais igualitárias para o acesso à educação. Precisam ter clareza de que o acesso ao processo ensino/aprendizagem a distância não é solução para as mazelas deixadas pela educação presencial. As políticas devem implicar em educação de qualidade, emancipatória e transformadora da realidade, contextualizada numa prática social. 2- Características necessárias aos cursos de Educação a Distância Aretio (2001) assinala as seguintes características para considerar um curso, programa ou instituição como de educação a distância. • A quase permanente separação do professor/formador e aluno participante no espaço e tempo, fazendo a ressalva de que nesta última variável, pode produzir- se também interação síncrona. • O estudo independente em que o aluno controla tempo, espaço, determinados ritmos de estudo e, em alguns casos, itinerários, atividades, tempo de avaliação, etc. Característica que pode complementar-se com as possibilidades de interação em encontros presenciais ou eletrônicos que oferecem oportunidades para socialização e aprendizagem colaborativa. • A comunicação mediada por duas vias entre professor/formador e estudante e, em alguns casos, de estudantes entre si através de diferentes recursos. • O suporte de uma organização/instituição que planifica, desenha, produz materiais (por si mesma ou por encargo), avalia e realiza o seguimento e motivação do processo de aprendizagem através da tutoria. (p. 40 ) Percebe-se que Aretio ao estabelecer essas características, incorpora as possibilidades que a educação a distância adquiriu após o surgimento da internet. Essas possibilidades retiram a 3 ênfase nos conteúdos para valorizar mais o processo ensino/aprendizagem obtido através da interação entre professor/aluno e alunos entre si. Os papéis do professor e do aluno têm sido considerados como tema central nos estudos dos processos educativos. A comunidade científica interessada pela educação a distância vem buscando desenvolver teorias que repensem a relação professor/ aluno. Dentre as teorias de educação a distância consideradas como as mais significativas, podemos destacar, segundo Aretio (2001) a de Holmberg , que dá ênfase à interação e comunicação. O autor desenvolve a idéia de conversação didática guiada, que supõe uma comunicação simulada através da interação de estudantes com os materiais de estudo e uma comunicação real através da interação com o professor. Seus postulados básicos são os seguintes: • O sentimento de que a existência de uma relação pessoal entre os estudantes e o professor promove o prazer pelo estudo e motivação do estudante. • Este sentimento pode fomentar-se mediante um material de auto-instrução bem desenvolvido e de uma adequada comunicação a distância com feedback. • O prazer intelectual e a motivação do estudante são indispensáveis para o alcance de metas de aprendizagem e para o emprego de processos e métodos adequados a estes fins. • A atmosfera, linguagem e convenções da conversação amistosa favorecem o sentimento de que existe uma relação pessoal de acordo com este primeiro postulado. • O conceito de conversação pode indentificar-se com bons resultados através dos meios de que dispõe a educação a distância. • A planificação e o guia de trabalho, sejam estes realizados pela instituição que ensina ou pelo estudante, são necessários para o estudo organizado, o qual se caracteriza por uma concepção finalista explícita ou implícita. (p.104). Verificamos que Holmberg, em seus postulados, agrega proposições como prazer, motivação, conversação amistosa e relação pessoal entre estudantes e o professor. Insere-se numa perspectiva humanista, muito diferente da maioria dos autores de educação a distância que se centram numa perspectiva tecnicista. Com isso, conclui-se, através da fala do autor, que o conhecimento ocorre através de processos de interação e comunicação. 3- Definição de Educação a Distância Há várias definições de educação a distância e os avanços tecnológicos têm forçado um repensar acerca de suas bases conceituais, principalmente no que diz respeito à utilização dos 4 meios de comunicação como ponte de união entre o aluno e professor (ou instituição), na superação das diferenças de espaço e tempo. Citamos alguns exemplos: Educação a Distância é um ponto intermediário de uma linha contínua em cujos extremos se situam, de um lado a relação presencial professor-aluno e, de outro a educação autodidata, aberta, em que o aluno não precisa da ajuda do professor. Na Educação a Distância, ao não haver contato direto entre educador e educando, requer-se que os conteúdos sejamtratados de modo especial, ou seja, tenham uma estrutura ou organização que os torne passíveis de aprendizado a distância. Essa necessidade de tratamento especial exigida pela distância é o que valoriza o modelo de instrução, de maneira que se torne um modo de tratar e estruturar os conteúdos para faze-lo. Na Educação a Distância, ao se colocar o aluno em contato com o material estruturado, isto é, com os conteúdos organizados segundo seu planejamento, é como se, no texto, o material e graças ao planejamento o próprio professor estivesse presente. (Cirigliano 1983, p..20 ). Metodologia de ensino em que as tarefas docentes acontecem em um contexto distinto das discentes, de modo que estas são, em relação às primeiras, diferentes no tempo, no espaço ou em ambas as dimensões ao mesmo tempo. (Sarramona, 1991, p.199). Por Educação a Distância entendemos aquele sistema de ensino em que o aluno realiza a maior parte de sua aprendizagem por meio de materiais didáticos previamente preparados, com um escasso contato direto com os professores. Ainda assim, pode ter ou não um contato ocasional com outros alunos. (Rowntree, 1986, p.16). Podemos perceber que as definições citadas acima se centram muito no uso dos materiais, destacando como eixo central a idéia da auto suficiência dos mesmos. Contudo sabemos com clareza que os materiais por si só não podem garantir a aprendizagem, assim como uma “boa aula” expositiva também não a garante. Independente da modalidade, a distância ou presencial, a aquisição de informações dependerá cada vez menos do professor, já que as tecnologias podem ser mais eficientes neste aspecto, mas cabe ao professor orientar os alunos para interpretá-las, relacioná-las e contextualizá-las. Pautados nessas reflexões, buscamos uma definição que representasse ao mesmo tempo a evolução tecnológica, teórica e científica da educação a distância e resgatasse a importância da interação entre professor e aluno: 5 A educação a distância se baseia em um diálogo didático mediado entre o professor (instituição) e o aluno que, localizado em espaço diferente daquele, aprende de forma independente (cooperativa). (Aretio, 2001, p.41) Para Gutierrez (1994), “a mediação pedagógica parte de uma concepção radicalmente oposta aos sistemas de instrução baseados na primazia do ensino como mera transferência de informação” (p.62), ou seja, pressupõe um diálogo entre o professor e o aluno. É importante ressaltar que a possibilidade de diálogo em tempo real ou deferido, através do uso de novas tecnologias, não deve ser pensada como disponibilidade do professor 24 horas ao dia. É comum observarmos na metodologia de alguns cursos, um destaque especial para a presença do professor em tempo integral. Alguns costumam ressaltar a presença do professor 24h por dia, sete dias na semana. Além de ser uma falácia, caberia perguntar a estas instituições que papel estaria destinando a este professor no processo ensino- aprendizagem? Buscar a dosagem certa de diálogo em cada situação de ensino-aprendizagem é uma das formas de propiciar a autonomia dos estudantes nos cursos a distância. 4 - Diálogo: componente indispensável na educação a distância. A importância do diálogo no processo de aprendizagem é assim delineada por Buber 1: “no diálogo, a relação eu-coisa (portanto a relação sujeito-objeto), transforma-se em uma relação eu-tu (portanto sujeito-sujeito)” (apud Peters, 2001, p.80) Aretio (2001) analisa os tipos de diálogo no processo educativo em função da: intermediação e do tempo. A intermediação pode ser: a) Presencial, quando a interação é face a face. b) Não Presencial ou mediatizada, através de algum material o canal de comunicação. Todo diálogo que não se produz de forma direta, face a face, entraria nesta categoria. 1 Buber, M. Schriften über das dialogische Prinzip. 3. Auflage. Heidelberg: Schneider. 6 O tempo pode ser caracterizado como: a) Síncrono, quando tem lugar o tempo real simultâneo e imediato a produção de mensagem (ex.: conversação presencial, telefônica, videoconferência, chat, etc.) b) Assíncrono, em que a relação não se produz em tempo real, a emissão da mensagem, a recepção e a possível nova resposta (realimentação) não se produz de forma simultânea no tempo, durante minutos, horas ou dias (ex.: correio postal ou eletrônico). O diálogo presencial é considerado a forma ideal de interação, pois não existe nenhuma intermediação entre os sujeitos que se relacionam. Não podemos negar que a presença de mediadores no processo de comunicação aumenta a possibilidade de “ruídos” ou distúrbios na transmissão da mensagem, causados por fontes externas ou pelo processo de codificação, diminuindo a chance de o receptor receber uma mensagem completa, no sentido de sua total compreensão ou adequada decodificação. Porém, sabe-se que hoje, independente da distância geográfica, podemos manter relacionamentos extremamente subjetivo, usando meios de comunicação, como por exemplo, a internet. Por outro lado, a mera contigüidade espaço- temporal não garante que um relacionamento seja pessoal. O grande número de alunos por turma que se encontra hoje em algumas escolas pode levar a um relacionamento extremamente impessoal, apesar da proximidade no espaço e no tempo. Muitas vezes, nesses contextos, o ensinante nem sequer sabe o nome dos seus aprendentes, e desconhece totalmente as suas histórias de vida, suas competências e seus desejos, tornando-se impossível a construção de vínculos afetivos, que segundo Pichon-Rivière (1995) são extremamente relevantes para uma aprendizagem eficaz. Pichon-Rivière (1995) destaca que: O vínculo é uma unidade primária, uma unidade básica de interação. É uma estrutura complexa que inclui um sujeito, um objeto, sua inter-relação e processos de comunicação e aprendizagem. Todo vínculo, assim entendido, implica a existência de um emissor, um receptor uma codificação e decodificação da mensagem. [...] É através do vínculo que as necessidades cumprem sua função social de gratificação ou frustração; é através do vínculo que o sujeito de necessidade se transforma no sujeito de significação social, no sujeito de normas, no sujeito dos sistemas sociais de representação ou ideologias. ( p.51) 7 Cabe destacar que, a situação de ensino e aprendizagem dialógica nas escolas presenciais, entretanto, é mais exceção do que regra. No livro Didática do ensino à distância, Otto Peters (2001) dedica um capítulo ao estudo da importância do diálogo no processo ensino e aprendizagem à distância. Para o autor, o diálogo que acontece de fato “é a interação lingüística direta e indireta entre docentes e discentes”. (p.72) Quanto ao aspecto filosófico do diálogo, Peters (2001), comenta que: o diálogo faz com que as pessoas se encontrem de modo direto, levando-as a agir com base em decisões próprias, a levar em consideração os parceiros, levá-los a sério e nisso reconhecer, certificar e confirmar a si mesmas. A relação do eu-mesmo com outras pessoas, com o semelhante, não- planejável, e que também inclui o risco do fracasso, se torna possível e pode levar ao encontro existencial. No diálogo, experimenta-se de modo insubstituível uma forma de vida importante para a existência do ser humano. (p.81) No ensino a distância tradicional se privilegia o diálogo simulado, ficando difícil desenvolver uma relação na qual a individualidade e a personalidade dos docentes e discentes sejam envolvidas. Muitas vezes a educação a distância se limita a oferecer ao estudante apenas a comunicação escrita do saber, transformando-o em um receptor de informaçõese um “fazedor” de exercícios e provas. Na perspectiva atual de educação presencial ou a distância, cabe ao professor auxiliar o aluno a se tornar um sujeito autônomo, capaz de transformar uma informação em uma ação social. Peters (2001) destaca as competências específicas desenvolvidas pelos alunos, por meio de participação ativa no diálogo. São elas: • argumentar objetivamente; • assumir, fundamentar, defender modificar ou rejeitar espontaneamente, no decorrer da discussão oral, uma posição teórica própria; • “questionar criticamente” e julgar o saber exposto por outros estudantes; • colher de uma discussão impulsos para a reflexão própria e, por outro lado, impulsionar o andamento da discussão • refletir consciente e autocriticamente com outros estudantes a aprendizagem havida e os métodos empregados num metaplano; • experimentar progressos cognitivos coletivos; e, • proceder, o quanto possível, de modo racional, sistemático e metódico na exposição oral de idéias próprias. (p.78 – 79) 8 Essa também é a postura que Freire (1977) propõe ao afirmar que “o homem, como ser de relações, constrói o mundo cultural e histórico, através das intercomunicações”. (p.65). A educação a distância cada vez mais privilegia espaços coletivos de troca de saberes. Nos ambientes virtuais de aprendizagem colaborativa, além da construção de conhecimentos acadêmicos, estabelecemos também afinidades. Muitas amizades têm sido feitas através dos Grupos de Discussão. Segundo Lévy (1999), “os membros das comunidades virtuais são o mais humano possível, pois seu estilo de escrita, suas zonas de competências, suas eventuais tomadas de posição obviamente deixam transparecer suas personalidades.” (p.129 ) Para Moore2, o diálogo distingue-se de outras formas de interações no ensino e no estudo uma vez que: um dialogo é direcionado, construtivo e é apreciado pelos participantes. Cada uma das partes presta respeitosa e interessada atenção ao que o outro tem a dizer. Cada uma das partes contribui com algo para seu desenvolvimento e se refere às contribuições do outro partido. Podem ocorrer interações negativas e neutras. O termo diálogo, no entanto, sempre se reporta a interações positivas. Dá-se importância a uma solução conjunta do problema discutido, desejando chegar a uma compreensão mais profunda do estudante. (apud Peters, 2001, p. 73) A construção da cidadania, destacada pelo Art. 2º da LDB como uma das finalidades da educação, será inviável sem a existência de espaços que possibilitem a participação ativa e crítica do aprendiz, independente da modalidade educativa. É de extrema importância investir em ambientes educativos de aprendizagem colaborativa, que possibilitem a troca de opiniões entre professor e aprendente e entre aprendentes. Seria difícil imaginar a organização de um Estado democrático sem a possibilidade de diálogo. 5- O papel da comunicação na educação a distância Já ressaltamos importância do diálogo para a educação a distância, e sabemos que, para que ocorra o diálogo à distância, se faz necessária a comunicação entre sujeitos. Freire (1977) confirma esta afirmação ao comentar que: 2 MOORE, M.G. Theory of transactional distance. In D. Keegan (ed), 1993, 22-38 9 O sujeito pensante não pode pensar sozinho; não pode pensar sem a co- participação de outros sujeitos no ato de pensar sobre o objeto. Não há um “penso”, mas um “pensamos”. É o pensamos que estabelece o “penso” e não o contrário. (...) A educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é a transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados. (p. 69) Segundo o Dicionário de Comunicação de Rabaça (2001), comunicação significa “estar em relação com. Representa a ação de pôr em comum, de compartilhar as novas idéias, os nossos sentimentos e atitudes. Nesse sentido identifica-se com o processo social básico: interação.”(p.156). Falar com o outro revela o que estava escondido até de nós mesmos. Auxilia na organização dos nossos pensamentos e sentimentos. Se na educação presencial existem dificuldades na comunicação entre professor e alunos, as quais tenho observado por mais de 20 anos de magistério através das histórias narradas no cotidiano escolar, não seria surpresa ocorrer o mesmo na educação a distância. Por muitas décadas a imagem do aluno que estudava a distância era de absoluta solidão. Associava-se a educação a distância à idéia de abandono dos aprendizes, motivado pelo afastamento no espaço e tempo entre os alunos e o professor. A busca por uma comunicação bidirecional, que possibilite o diálogo entre professor e aluno, também tem sido objeto de pesquisa constante na modalidade a distância. Podemos dizer que a conscientização da necessidade de criarmos uma sala de aula comunicativa é independente da modalidade educativa. Considerando as teorias interacionistas, ensinar e aprender são definidos fundamentalmente como processo de interação e comunicação. A comunicação e a aprendizagem são processos inerentes ao ser humano, processos interligados. Todo processo educativo é um processo de comunicação, assim como todo educador deveria também ser um bom comunicador. Aprendemos também através dos meios de comunicação. Os meios de comunicação desenvolveram formas sofisticadas, “multidimensionais, de comunicação sensorial, emocional e racional, superpondo linguagens, que facilitam a interação com o público” (Moran, 1998) Muito se questiona a aprendizagem através de mídias eletrônicas. Alguns educadores ainda estão descrentes das possibilidades de aprendizagem que o vídeo, a televisão ou a internet podem oferecer a crianças, jovens e adultos. Porém, esquecem esses educadores, que antes das crianças chegarem à escola, já passaram por processos de educação através de mídia 10 eletrônica e, principalmente da televisão. Podemos questionar esse processo, mas não podemos negá-lo. Destaca ainda Moran (1998) que: os meios de comunicação operam imediatamente com o sensível, o concreto, principalmente a imagem em movimento. [...] Ao mesmo tempo utiliza a linguagem conceitual, falada e escrita, mais formalizada e racional. Imagem palavra e música se integram dentro de um contexto comunicacional afetivo, de forte impacto emocional, que facilita e predispõe a aceitar mais facilmente a mensagem. (p.159) Os computadores pessoais cada vez mais aumentam sua capacidade de captar sons e vídeos, integrando-os a textos, gráficos e imagens, em monitores de alta resolução. Negar este caminho, tanto na educação presencial quanto a distância, é negar importantes descobertas da ciência. Cabe ressaltar que multimídia consiste na utilização de muitos meios como textos, gráficos, sons, imagens, animação e simulação, combinados para se conseguir um determinado efeito. (Multimídia muitos, media – meios) A crítica de alguns educadores quanto a veracidade e a qualidade das informações veiculadas pela televisão e pela internet é pertinente. Contudo, abandonar esses meios de comunicação com os quais os alunos estão em contato diário é não abrir espaços para uma reflexão crítica das mensagens produzidas por eles. Mais importante é estarmos atentos ao comportamento social e a visão de mundo que estas crianças e jovens estão formando, marcados pelas mídias. O papel do professor é de ajudá-los a não construir significados para símbolos vazios de valores éticos e morais. Atualmente os ambientes de aprendizagem on-line incorporam a multimídia interativa que, graças à sua dimensão reticular ou não linear, favorece uma atitude exploratória e lúdica. É, portanto, um instrumentobem adaptado a uma pedagogia ativa. Contudo, devemos cuidar para que o fascínio pela apresentação visual, pelo som, pelos hipertextos, não deixe em segundo plano o fator pedagógico, ético, psicocognitivo e didático. O desenvolvimento de tecnologias pessoais, móveis e cada vez mais interativas está propiciando mudanças significativas para a educação a distância, favorecendo a comunicação com pessoas próximas e distantes, modificando as concepções de espaço e tempo. Porém, sabemos que o avanço tecnológico não é o único fator determinante para que ocorra uma comunicação bidirecional na modalidade a distância. Há vários processos de interação que 11 expressam situações diferentes de comunicação, das mais superficiais às mais profundas. (Moran, 1998) Como nos lembra Moran (1998) que: na comunicação há resistências, descompasso, mal-entendidos que redefinem continuamente suas possibilidades e limites. Há resistências ideológicas. Há resistências intelectuais, resistências a idéias opostas. Há resistências que são emocionais, de pessoas que têm experiências negativas que interferem na aceitação pessoal e na aceitação dos outros. Alguns falam ou escrevem coisas fantásticas, mas têm dificuldades em aceitar-se, em dar-se valor ou em dar valor aos demais. (p.45) Como observamos, o conhecimento se dá fundamentalmente no processo de interação e comunicação e a informação é o primeiro passo para a construção do conhecer. Wersig3 (apud Freire, 1997), afirma que em cada caso onde há uma necessidade específica de informação e há exigência de alguma ação que implique em transferência da mesma, por canais de comunicação reais ou simulados, podem existir muitas barreiras. Consideramos informação como ”estruturas significantes com a competência de gerar conhecimento no indivíduo, em seu grupo, ou na sociedade” (Barreto, 1996). A superação dessas barreiras possibilitará um processo de ensino e aprendizagem a distância, menos fragmentado e mais interligado. Também possibilitará a construção de novos conhecimentos. Para Moran (2000) “conhecer é relacionar, integrar, contextualizar, fazer nosso o que vem de fora. É aprofundar os níveis de descoberta, é penetrar mais fundo nas coisas, na realidade, no nosso interior.”(p.25) O cinema, o rádio, a televisão e o vídeo também foram pensados como possibilidades educacionais. Mas, de alguma forma, deixamos que esses meios fossem apropriados pelo capitalismo que os transformou em indústria de entretenimento, buscando o lucro fácil e levando ao predomínio de conteúdos (por vezes simulacros) e a formas de comunicação mais dirigidas do que participativas. Os educadores precisam compreender e incorporar com mais propriedade as novas linguagens, dominar as possibilidades de expressão e as possíveis manipulações. Devem utilizar os meios de comunicação de forma a orientar os seus alunos para a construção de conhecimento e de valores. 3 WERSIG, G. Information consciousness and information propaganda. Anais. Madrid: FID/ET Technical Meeting, 1976. 12 6 - Novas Tecnologias de Comunicação e Informação A demora da inserção de novas tecnologias na educação tem sido uma constante realidade, principalmente em países periféricos, como no caso do Brasil. Entre outros fatores, é preciso considerar que ainda temos localidades no país que não usufruem de iluminação pública, nem de fornecimento de rede de energia elétrica e de telefonia, principalmente no meio rural.4 Tal situação constitui-se empecilho para a instalação de equipamentos baseados nas tecnologias de informação e comunicação, como é o caso dos computadores conectados à internet. Ou seja, encontramos uma realidade em que o acesso de muitos brasileiros ao mundo digital está distanciado das condições objetivas de sua oferta. Além disso, o custo para aquisição de equipamentos ainda encontra-se acima do poder de compra de uma parte dos brasileiros que se encontra excluída do mercado formal de trabalho. Ações como da Sociedade da Informação (SocInfo) brasileira, que é um programa coordenado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), criado em 15 de dezembro de 1999, articulam o acesso das novas tecnologias a sociedade como um todo. O objetivo do Programa Sociedade da Informação, que pode ser acessado no site http://www.socinfo.org.br, é integrar, coordenar e fomentar ações para a utilização de tecnologias de informação e comunicação, de forma a contribuir para que a economia do país tenha condições de competir no mercado global e, ao mesmo tempo, contribuir para a inclusão social de todos os brasileiros na nova sociedade. Ressalta o programa que: a Sociedade da Informação está baseada em tecnologias de informação e comunicação que envolvem a aquisição, o armazenamento, o processamento e a distribuição da informação por meios eletrônicos, como rádio, televisão, telefone e computadores, entre outros. Essas tecnologias não transformam a sociedade por si só, mas são utilizadas pelas pessoas em seus contextos sociais, econômicos e políticos, criando uma nova comunidade local e global: a Sociedade da Informação. (on-line) Caberá a cada cidadão acompanhar e cobrar as metas estabelecidas pelo programa para garantir uma efetiva inserção do país na Sociedade da Informação. 4 -Veja projeto Luz Para Todos, em http:// http://www.mme.gov.br/html/luzparatodos/comites.shtml, do Ministério de Minas e Energia. 13 Pretto (2001) diz que: a Sociedade da informação, entre tantos outros fatores, tem na rede mundial Internet, um de seus pilares mais sólidos. Podemos mesmo nos arriscar a afirmar que a Internet foi a detonadora desse processo que terminou envolvendo o planeta. Assim, precisamos entendê-la não como uma questão tecnológica mas, essencialmente, como um fator de cultura. (p.37) A educação é o elemento-chave na construção de uma sociedade baseada na informação, no conhecimento e no aprendizado. Parte considerável do desnível entre indivíduos, organizações, regiões e países deve-se à desigualdade de oportunidades relativas ao desenvolvimento da capacidade de aprender e concretizar inovações. Precisamos ter clareza de que a inserção de qualquer tecnologia na educação, em um processo ensino/aprendizagem, deve ser seguida de constante reflexão quanto a importância do seu papel na transformação da nossa sociedade. Na educação a distância, a interação entre professor/aluno e aluno/aluno tem de ser mediatizada por suportes tecnológicos de comunicação. Essas interações ocorrem de modo indireto no espaço (separação professor/aluno) e no tempo (comunicação síncrona e assíncrona), o que pode trazer dificuldades, se não forem planejadas adequadamente. A escolha da tecnologia adequada deverá estar vinculada aos objetivos pedagógicos e curriculares e ao grupo de alunos a que se destina. Não se pode organizar cursos com a utilização de recursos tecnológicos modernos, se o aluno não tem acesso a eles. Contudo, deve-se lutar para que ocorra a disseminação de todo tipo de recursos, pois o acesso à informação é direito de todos, como já foi citado no início desse tópico. 7- A Internet na Educação a Distância Podemos dividir a educação a distância em antes e depois da internet. Não há dúvida que a internet é uma valiosa fonte de conhecimento. Para a educação a distância, a internet adquiriu grande relevância como sistema de comunicação global. A Internet nasceu nos Estados Unidos. Interligava originalmente laboratórios de pesquisa e se chamava ARPAnet (ARPA: Advanced Research Projects Agency). É ao mesmo tempo um mecanismo de disseminação da informaçãomundial e um meio para colaboração e interação entre indivíduos, independentemente de suas localizações geográficas. Hoje ela é um conjunto de mais de 40 mil redes no mundo inteiro, sem um único centro que a "governe" . 14 Se rastrearmos sua história desde que deixou de ser uma rede exclusiva do Departamento de Defesa Norte-Americano e passou a integrar primeiro um centro de pesquisas e depois toda a comunidade acadêmica, até se expandir a todo e qualquer cidadão (que possa pagar pelo acesso), veremos que as criações que mais contribuíram para sua popularização foram em sua maioria originárias da contracultura computacional de estudantes do Vale do Silício, na Califórnia, no final dos anos 70, que se apossaram das novas possibilidades técnicas e inventaram o computador pessoal. Segundo Castells, (1999), “meio inconsciente, a revolução da tecnologia da informação difundiu pela cultura mais significativa da nossa sociedade o espírito libertário dos movimentos dos anos 60”. (p.25) Embora a expansão global e comercial da rede tenha diluído um pouco o espírito contra cultural dos primeiros usuários, os códigos sociais estabelecidos continuaram caracterizando o seu uso: de informalidade e de capacidade auto-reguladora da comunicação. No Brasil a internet foi implantada pela Rede Nacional de Pesquisa (RNP) de 1991 a 1993, a velocidades baixas. Entre 1995 e 1996, esses serviços foram atualizados para velocidades mais altas. Paralelamente, a partir de junho de 1995, uma decisão do Governo Federal definiu as regras gerais para a disponibilização de serviços Internet para quaisquer interessados no país. O desenvolvimento das redes digitais interativas favorece outros movimentos de virtualização que não o da informação propriamente dita. O Ciberespaço encoraja um estilo de relacionamento quase independente dos lugares geográficos e da coincidência dos tempos (comunicação assíncrona). Lévy (1999) denomina a rede de ciberespaço, considerando-a como o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. Para o autor, o ciberespaço especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas, também, o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam este universo. Ainda segundo o autor, o termo “ciberespaço” foi cunhado em 1984 por William Gibson em seu romance de ficção científica Neuromante. No livro, esse termo significa o universo das redes digitais, descrito como campo de batalha entre as multinacionais, palco de conflitos mundiais, nova fronteira econômica e cultural. O termo foi retomado pelos usuários e criadores de redes digitais, e, esperamos nós, não como espaço de conflito, mas um espaço democrático e de respeito entre diferentes culturas. 15 A informação na rede difere essencialmente dos livros por ser organizada de forma hipertextual. Lévy (1999), assim caracteriza o hipertexto: a abordagem mais simples do hipertexto é descrevê-lo, em oposição a um texto linear. O hipertexto é constituído por nós (os elementos de informação, parágrafos, páginas, imagens, seqüências musicais e etc. e de links entre esses nós, referências, notas, ponteiros, “botões” indicando a passagem de um nó a outro. [...] é um texto móvel, caleidoscópio, que apresenta suas facetas, gira, dobra-se à vontade frente ao leitor .(p. 56) Para a educação a distância, a organização dos conteúdos de forma hipertextual é bastante proveitosa, pois seus participantes formam grupos mais heterogêneos que na educação presencial. Em contra-ponto à informação processada de forma lógica-seqüencial, onde a construção se dá aos poucos, em seqüência concatenada, a forma hipertextual relaciona situações que se interconectam. O hipertexto nos leva a novos caminhos, muitas vezes inesperados, acrescentando novas significações ao conceito investigado. A construção é lógica e coerente, mas principalmente subjetiva. A construção de conhecimento, a partir de hipertextos, principalmente quando se incorporam outras mídias, é menos rígida, com conexões mais abertas que passam pelo sensorial, pelo emocional e pela organização do racional. Destaca Moran (1998), que: na sociedade atual, devido a rapidez com que temos que enfrentar situações diferentes a cada momento, cada vez mais utilizamos o processamento multimídico. [...] Na maior parte das situações do dia-a-dia utilizamos um tipo de conhecimento polivalente, de repostas rápidas, tipo vapt-vupt, um conhecimento que precisa responder a situações imprevisíveis e exige soluções imediatas. (p.151) Contudo, destaca o autor a importância do livro que deve ser um aliado e companheiro das múltiplas mídias. “É importante criar espaços onde se possam aprofundar conclusões provisórias e também desenvolver nos estudantes a forma lógica-seqüencial de organização do pensamento. (Moran, 1998, p.152) Além da organização em hipertextos, a rede permite a combinação de vários modos de comunicação. Encontramos, em grau de complexidade crescente: o correio eletrônico, as conferências eletrônicas, o chat, o hiperdocumento compartilhado, os ambientes de aprendizagem ou de trabalho cooperativo, audioconferência e videoconferência. 16 A rede permite uma simultaneidade entre o trabalho docente e discente para a modalidade a distância, de forma que possa solucionar problemas que surjam, discutir textos, tarefas e avaliações. Através do correio eletrônico pode-se enviar mensagens para qualquer usuário da rede. O texto chega ao destino em alguns minutos (ou horas, dependendo do tráfego) e o usuário não precisa estar conectado para receber a carta. Atualmente é uma das ferramentas mais utilizadas na educação a distância para a comunicação entre docente e discentes, pois o aluno verifica o recebimento da mensagem e retorna a sua resposta, em seu tempo disponível. Permite, portanto, a interação através da comunicação assíncrona . O correio eletrônico é sem dúvida uma ferramenta didática polivalente, que, entre outras coisas, pode contribuir decisivamente para que os alunos aprendam. Além do envio de mensagens pessoais, o correio eletrônico permite enviar, de uma só vez, uma mesma mensagem para uma lista de pessoas, ou seja, possibilitando à interação de um para um e de um para todos. As conferências eletrônicas (ou fóruns) permitem que grupos de pessoas discutam temas específicos. As mensagens são classificadas por assunto e são enviadas para o grupo. São muito utilizadas nos cursos a distância pelo professor para provocar uma discussão de um tema ou um texto específico. Também é uma ferramenta de interação através da comunicação assíncrona. Os grupos de discussão formam verdadeiras comunidades virtuais. Para Moran (1998) a comunidade virtual “é constituída sobre as afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mútuos, em um processo de cooperação ou de troca, tudo isso independentemente das proximidades geográficas e das filiações institucionais”. (p.127) Essas comunidades estimulam a aprendizagem colaborativa, pois cada participante contribui com informações sobre o objeto em estudo a partir da sua pesquisa e do que lê, pensa, calcula e explora a respeito. Todos os participantes aprendem através das diferentes contribuições e ensinam, através das suas conclusões provisórias. Algumas mantêm um coordenador permanente, outras se auto-gerenciam, com propostas de coordenações em alternância entre os membros do grupo. O chat, que significa conversação, permite uma interação em tempo real (comunicação síncrona) entre as pessoas dispersas geograficamente. Através desta ferramenta, os professores podem propor debates ou levantar perguntasao grupo de alunos. Também pode ser utilizado para apresentação de seminários, por grupos de alunos de uma mesma turma. 17 Uma dificuldade apresentada pelo chat é a diferença do fuso-horário em lugares geograficamente diferentes. Se dentro de um país como o Brasil já é difícil marcar um horário compatível para todo o território nacional, quanto mais pensar em atender a alunos espalhados em todo o mundo, como comumente ocorre. Esses complicadores fazem com que o uso do chat seja restringido na modalidade a distância. Outra forma de comunicação direta, porém mais rica em informação é a audioconferência que chega, via rede, através da própria voz dos participantes de um curso a distância. Contudo, a linha de conexão precisa ser de boa qualidade, assim como o hardware adequado para este tipo de comunicação, o que limita seu uso para alguns alunos. A videoconferência é outra ferramenta que vem se desenvolvendo para facilitar a comunicação de forma direta entre professor e alunos, que podem ver e ouvir uns aos outros. É uma ferramenta que traz um repensar para a educação a distância, colocando alunos e professores face-a-face, em tempo real. Ainda é limitada pelo alto custo de hardware e conexão. Não resta dúvida que o professor buscará fazer o melhor uso dessas ferramentas, porém, é importante que o docente além de ter uma boa base didática e metodológica, disponha de conhecimentos tecnológicos. Hoje, a facilidade encontrada para interagir com os editores de home-page, possibilita aos professores construírem sua própria página, criando um espaço de interação com seus alunos, além da sala de aula. A internet é uma mídia que facilita a motivação dos alunos pelas suas possibilidades de pesquisa e interatividade. Agrega sem dúvida um novo e revolucionário conceito de comunicação e interação para a educação a distância, mas a sua maior vantagem é a enorme capacidade de “linkar” pessoas, estar com o “outro”, trocar idéias e sentimentos. Afinal, o que é educação a distância? Responder a essa pergunta num momento em que se descobre todos os dias novas possibilidades para esta modalidade é um grande desafio. Os educadores que trabalham para a melhoria desta modalidade, estão imbuídos de espírito de luta para superar desafios de forma a democratizar o conhecimento e comprometidos com a formação de um cidadão crítico e participativo, capaz de construir uma sociedade melhor.
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