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Fertilização É o encontro e a fusão de duas células gaméticas formando um individuo diferente daquele que o originou. O zigoto formado é único e é o resultado de uma nova combinação genica diferente da de seus pais (aumento de variabilidade genética). Entre os grandes desafios para o acontecimento da fecundação, destacam-se: encontro dos ga- metas, o seu reconhecimento, que apenas um dos inúmeros espermatozoides ganhe o interior do ovócito ou do óvulo e a ativação do metabolismo adormecido do ovo. Estruturas dos gametas Estrutura do óvulo As células que estão diretamente em contato com o ovócito são as células da corona radiata. A zona pelúcida começa a ser secretada quando entra em estágio de folículo II pelo ovócito e não pelas células foliculares. Em mamíferos, não é apenas o ovócito que é liberado, mas o conjunto de células. O óvulo de hamster é circundado pela corona radiata e o cumulus, possuindo espaços entre essas células, os quais são preenchidos por uma matriz de ácido hialurônico, a qual não permite a entrada de tinta nanquim (formação de barreira). Os espermatozoides reconhecem essa matriz. O que é fecundado é o complexo cumulus-ovócito. Barreiras para o espermatozoide O espermatozoide precisa passar por várias barreiras: - Células da corona radiata e cumulus - Zona pelúcida - Membrana plasmática do ovócito Zona pelúcida Ovócitos de mamíferos. Consiste em uma camada hialina com 12um de espessura. É resistente, permeável e secretada pelo ovócito. Composição - Glicoproteínas: - ZP1 (200kDa) - ZP2 (120kDa) - ZP3 (83kDa) Globulares – se associam formando filamentos que são conectados pela ZP1, formando uma trama de filamentos, altamente resistente, permitindo nutrição do ovócito e posteriormente do zigoto. Arranjo tridimensional de oligossacarídeos da ZP3 promove ligação espécie-específica com receptores da membrana do espermatozoide (LIGAÇÃO PRIMÁRIA). Ou seja, é importante para que o esperma- tozoide reconheça o óvulo devido à sua conformação 3D. Para ocorrer a fecundação, o óvulo e o espermatozoide precisam de uma conexão através da molécula, onde uma manda mensagem para o outro. Citoplasma cortical do óvulo Possui grânulos corticais ao redor do córtex delimitados pela mem- brana que contém enzima. Após o contato com o espermatozoide, eles são liberados, deixando seu conteúdo, impedindo que outros espermatozoides entrem no óvulo. O córtex é rico em actina G (globular) que se polimeriza formando filamentos de actina F. para que os grânulos sejam exocitados, eles precisam chegar perto da membrana e esse movimento é feito pela actina F. Os grânulos corticais são equivalentes ao acrossomo do espermatozoide. A exocitose não permite que o espermatozoide se ligue à zona pelúcida. Corona + cumulus Z. pelúcida Ovócito Os grânulos corticais todo tipo de óvulo tem, mas a zona pelúcida com toda a composição é só para mamíferos. Outras espécies possuem membrana vitelínica, com papel similar à zona pelú- cida. Óvulo marcado com imunocitoquímica, no qual os grânulos estão em toda periferia do ovócito. Em humanos, o óvulo bom possui citoplasma esférico, cumulus saudável. O óvulo ruim possui ovócito desregular, sem identificação de celular, zona pelúcia degenerada. Dessa forma, os me- canismos de fecundação não ocorrem com sucesso. Óvulo ruim Óvulo bom Estrutura do espermatozoide - Cabeça: acrossomo e núcleo. O acrossomo recobre o núcleo e é achatado. - Pescoço (região de transição onde se localizam os centríolos) - Cauda: peça intermediária, peça principal, peça terminal. A peça intermediária é a região que contém as mitocôndrias e tem mais citoplasma. O restante do flagelo possui o padrão de microtúbulos (peça principal). Quando os microtúbulos começam a diminuir, é a parte terminal. Os espermatozoides testiculares são incapazes de fertilizar devido à sua fragilidade e imotilida- de e devem sofrem maturação e capacitação. É uma célula muito diferenciada, móvel e que contribuirá com o novo indivíduo, fornecendo os centríolos e o material genético. Maturação Conjunto de alterações bioquímicas e funcionais que levam à estabilização de suas estruturas; remodelamento da membrana plasmática, aumentando sua habilidade de se ligar à zona pelúcida e a tornando mais resistente e apta para penetrar os envoltórios do óvulo. Ocorre na cabeça/corpo do epidídimo. Aconteceu paralelamente ao desenvolvimento do epidí- dimo e das glândulas acessórias Duração: aproximadamente 4 dias em humanos e 10-12 dias em roedores. O armazenamento ocorre na cauda do epidídimo (reserva espermática) até a ejaculação. A cauda possui muita musculatura lisa que faz com que os espermatozoides sejam mandados para próstata e outras glândulas acessórias, formando o sêmen. O sêmen contém espermatozoides e a secreção das glândulas acessórias (próstata, vesícula se- minal e glândulas bulbo-uretrais). 2-6ml de sêmen são ejaculados, contendo 40-280 milhões de espermatozoides (até 25 milhões fertilidade normal). Oligospermia = baixa quantidade de espermatozoides. Capacitação Os espermatozoides ejaculados são incapazes de sofrer a reação acrossomal (liberação do con- teúdo acrossomal) e ficam presos no cumulus, sendo incapazes de se fundirem ao óvulo, ficando presos no ácido hialurônico. Para isso, sofrem capacitação que ocorre dentro do sistema repro- dutor feminino. A capacitação é o conjunto de alterações fisiológicas que tornam o espermatozoide competente para fertilizar. Consiste de alterações que tornam os espermatozoides hiperativos e aptos a sofrerem a reação acrossomal. É direcionada por substâncias secretadas pelo trato genital femi- nino, em especial a mucosa tubária, como por exemplo, íons bicarbonato. Duração: 6-7hs em humanos, 1h no camundongo, 6hs no rato. Em 30 minutos, os espermatozoides chegam ao sítio de fertilização, mas são inaptos para fertili- zar, pois não foram capacitados. Os espermatozoides ficam retidos no istmo da tuba uterina, podendo fertilizar por até 6 dias. Quase todas as gestações resultam de relações sexuais durante um período de seis dias após a ovulação. Os espermatozoides que chegam por último são os mais fáceis para serem fecundados, pois serão melhores capacitados. Espermatozoides se ligam ativamente às células epiteliais na região do istmo tubário Período de competência de curta duração Liberação de “pacotes” de espermatozoides em vários in- tervalos – prolonga as chances de sucesso da fertilização. Eventos da capacitação Induzida artificialmente em fertilização in vitro. Alterações nos espermatozoides Transporte dos espermatozoides Dos espermatozoides ejaculados, poucos chegam à ampola. Dois tipos de transporte: Transporte rápido Ação muscular do trato genital feminino – contração da musculatura do útero e tubas uterinas. Estimulada pelo hormônio oxitocina liberado durante o ato sexual Transporte lento (2-3 mm/h) devido à motilidade dos espermatozoides. Local da fertilização: A maioria dos espermatozoides é perdida durante a passagem em direção às tubas. Apenas cerca de 200 chegam à ampola, o sítio de fertilização. Os espermatozoides permanecem capazes de fertilizar por até 80horas no trato genital feminino. Atração dos espermatozoides Distâncias maiores: O espermatozoide se locomove por um gradiente de termotaxia. Na tuba, existe um gradiente térmico (termotaxia) que atrai o espermatozoide até a ampola. Existe uma diferença de 2ºC entre o istmo e aampola, sendo o microambiente da ampola mais quente do que o istmo. Distâncias menores: Deslocamento por gradiente químico (quimiotaxia), no qual as células do cummulus ou da corona radiata desprenderiam substâncias quimotáteis. O espermatozoide, quanto mais se aproxima dessas substancias, mais ativo se torna. Quimioatrativos: Progesterona (secretada pelas células do cumulus) Receptor olfatório (OR1D2) Fertilização É a fusão das células haploides para formação de um novo indivíduo com potencial genético derivado de ambos os pais Compreende duas finalidades independentes: Sexual – combinação dos genes Reprodutiva – formação de novo indivíduo É mais uma sequência precisa de eventos do que um fenômeno isolado. Série complexa de eventos interdependentes que culmina com a formação de um zigoto com potencial genético diferente de ambos os pais. A interrupção em qualquer etapa desta sequência irá causar falha no processo. Requer a comunicação molecular entre óvulo e espermatozoides. Eventos da fertilização: Quatro grandes etapas, sendo que na fertilização externa, as etapas 1 e 2 são muito importantes. O reconhecimento ocorre devido às proteínas da zo- na pelúcida. 1. Contato e reconhecimento entre gametas 2. Regulação da entrada do espermatozoide no óvulo (apenas um espermatozoide) 3. Fusão do material genético 4. Ativação do desenvolvimento e metabolismo do ovo Eventos dependem dos mecanismos reprodutivos, do ambiente em que o desenvolvimento em- brionário ocorrerá e das características dos gametas. - Fertilização interna (homens e roedores): Envolve mecanismos de cópula e preparo para fertilização. - Fertilização externa (ouriço-do-mar): Envolve mecanismos de atração e reconhecimento dos gametas de modo a evitar a fertilização inter-específica. Reação acrossômica Direcionada pelo aumento intracelular de cálcio. Surgem perfurações no acrossomo - resultado da fusão das membranas plasmática e acrossomal – semelhante a processo de exocitose. Consequência: Liberação das enzimas acrossomais que digerem a zona pelúcida. Principais componentes acrossomais -Proteínase ácida – hidrolisa proteínas em pH ácido - Colagenase – digere colágeno - Acrosina – Protease que digere proteínas da zona pelúcida e media a ligação com a zona pelúcida - Betaglucuronidase - Hialuronidade - Neuraminidase - Fosfolipase C Impedem a ligação de espermatozoides que não sofreram a RA, e mantém os que já sofreram ligados (Ligação secundária). Quando o espermatozoide toca na camada gelatinosa do ovo no ouriço-do-mar, ocorrem dois eventos importantes. O primeiro é a ruptura da membrana acrossômica, na sua parte anterior, e da membrana plasmática do espermatozoide, fusionando-se entre si e liberando o conteúdo acrossômico na camada gelatinosa do ovo, que constitui a reação acrossômica. O responsável por esse evento é um mucopolissacarídeo que faz parte da camada gelatinosa. Quando o esper- matozoide toca nesse mucopolissacarídeo, ocorre uma despolarização da membrana plasmática e íons Ca 2+ ganham o seu interior. O segundo evento é a formação do processo acrossômico. Com a entrada de Ca 2+ , cria-se um gradiente osmótico que atrai água para o interior do espermatozoide. A α-actina se polimeriza em F-actina criando uma invaginação na membrana posterior do acrossomo que se projeta em direção à camda vitelínica, recebendo o nome de processo acrossômico. Bloqueio à poliespermia No ouriço-do-mar temos duas maneiras de evitar que mais de um espermatozoide consiga entrar no ovo: o bloqueio rápido, porém passageiro, e o bloqueio lento, mas definitivo. Bloqueio rápido Ocorre por uma despolarização da membrana plasmática do ovo. Para que o espermatozoide penetre no ovo, este deve ter a sua membrana polarizada. No meio do ovo existe uma grande concentração de íons Na + (polarizada). O caso inverso ocorre com o íon K + . Potencial de mem- brana em repouso de aproximadamente -70mV, sendo o lado interno mais negativo. Quando o primeiro espermatozoide toca a membrana plasmática do ovo, ela despolariza e o Na+ passa para o seu interior (onda de despolarização – abertura canais de sódio), ocorrendo saída de K+. Isso faz com que o potencial de membrana suba para +20mV ficando agora o lado interno positivo. O espermatozoide contém uma proteína fusogênica capaz de abrir os canais de Na+, a qual é regulada pela mudança elétrica na membrana do ovo. Impede a fusão com a membrana de outros espermatozoides. Bloqueio lento A despolarização da membrana do ovo se estende por pelo menos 1 minuto, após o qual a membrana se repolariza e outros espermatozoides, presos à membrana poderiam ganhar o seu interior. Para evitar isso, é necessário outro mecanismo, sendo esse a reação cortical que consis- te na fusão e posterior exocitose do conteúdo dos grânulos corticais entre a membrana plasmá- tica e vitelina. Abaixo da membrana plasmática do ovo de ouriço-do-mar, há pequenos grânulos. O conteúdo desses grânulos corticais é glicoproteico. Entre as proteínas existem as proteases, que dissolvem a membrana vitelina no ponto onde ela se prende às proteínas da membrana plasmática, des- prendendo os espermatozoides a ela aderidos. Outras proteínas criam um gradiente osmótico entre a membrana plasmática e a vitelina, atraindo água e criando um espaço entre a membrana vitelina e a plasmática. A membrana vitelina passa então a ser chamada de membrana de fertilização. Quem causa a exocitose dos grânulos corticais são os íons de cálcio. Após os íons de cálcio terem realizado o seu papel, que é o de aderir os grânulos corticais à membrana plasmática do ovo e fazer a sua exocitose, eles são sequestrados para o interior do retículo endoplasmático. No camundongo, a reação acrossômica é induzida quando a ZP3 estabelece ligações cruzadas com os receptores da membrana plasmática do espermatozoide. Essa enzima se liga aos resíduos de carboidratos da glicoproteína ZP3. Essa união ativa as proteínas G na membrana plasmática do espermatozoide responsáveis pela abertura dos canais de cálcio presentes na membrana e que seriam os responsáveis pela exocitose do conteúdo acrossômico. Entre o conteúdo da vesícula acrossômica há uma variedade de proteases que perfuram a zona, permitindo que o espermatozoide adentre no ovo. As enzimas dos grânulos corticais modificam a zona pelúcida, impedindo a ligação de espermatozoides. Onda de liberação de cálcio no citoplasma do ovo Fusão da membrana plasmática dos gametas A fusão dos gametas depende da interação entre uma proteína do espermatozoide e outra proteí- na do ovo associada à integrina CD9. No lado do espermatozoide, o responsável pela fusão pa- rece ser uma proteína semelhante a uma imunoglobulina denominada izumo. Entrada do espermatozoide no óvulo O espermatozoide entra paralelamente no óvulo (na região acrossomal) para ter mais receptores, mantendo-os aderidos. A cabeça e o axonema entram no citoplasma do ovócito, mas a membra- na plasmática permanece fora. Ativação do metabolismo do óvulo Óvulo – célula metabolicamente inativa. Estímulo para completar a segunda divisão meiótica, parada em metáfase. Formação do óvulo haploide e do segundo corpúsculo polar. Fusão dos pró-núcleos Após o término da meiose o material cromossômico do óvulo descondensa – formação do pró- núcleo feminino. Descondensação da cromatina do espermatozoide e aumento do volume nu- clear – formação do pró-núcleo masculino. Depois que o espermatozoide entra, sofre um giro de 180º,o que lhe permite colocar o centríolo virado para o pró-núcleo feminino. Esse centríolo organiza os microtúbulos que aproximam os pró-núcleos (núcleo dos gametas). O que o zigoto tem proveniente do espermatozoide é o centrossomo e o pró-núcleo masculino. As outras estruturas do espermatozoide se desintegram totalmente. A orientação do espermatozoide ao entrar no ovo difere entre os animais. No ouriço-do-mar e nos peixes ele entra perpendicularmente ao cone de implantação e nos mamíferos, o faz tangen- cialmente. Durante a reação acrossômica, a porção externa da membrana acrossômica do hams- ter se vesicula e desaparece, ao passo que a membrana interna reverte sua orientação fundindo- se com a membrana plasmática do espermatozoide. O conteúdo enzimático da bolsa acrossômi- ca derrama, ao romper a membrana externa, entre as células da corona radiata, quebrando os vínculos entre elas e permitindo o acesso à ZP do ovo. A entrada do espermatozoide no óvulo ou no ovócito representa o início da fecundação. O seu término é a formação do sincarion ou união dos pró-nucleos (cariogamia). O núcleo do espermatozoide, após entrar no óvulo, sofre uma série de modificações, como a quebra do seu envoltório nuclear, a desespiralização da sua cromatina e a formação de um novo envoltório nuclear. O óvulo emite uma protuberância ao ser tocado pelo espermatozoide – o cone de implantação – e, desse cone, o pró-núcleo masculino começa o seu deslocamento para o encontro com o pró-núcleo feminino. O movimento do pró-núcleo masculino é mediado pelas fibras do áster que irradiam da dupla de centríolos. As fibras estendem-se desde as proximidades do pró-núcleo masculino até o cór- tex do ovo, alongando-se na direção do pró-núcleo feminino, que vai se deslocando na direção do masculino sob a ação das fibras, terminando na fusão dois pró-núcleos. O áster nos mamíferos é de origem materna, e a singamia não ocorre pela fusão dos pró-núcleos. Quando o espermatozoide entra no ovócito, este finaliza a meiose. Após o termino da meiose, dá-se um período S e ambos os pró-núcleos progridem individualmente na divisão mitótica. Ocorre a quebra dos envoltórios nucleares e os cromossomos se misturam, formando uma placa equatorial comum. Nos mamíferos, o ovo estaciona na metáfase II. Com a chegada do espermatozoide, conclui-se a divisão meiótica. A meiose permanece em diplóteno por um longo período de tempo. As cromátides, nesse estagio de permanência, se descondensam e se tornam ativas. Descondensação do núcleo do espermatozoide Presença do segundo corpúsculo polar. Neste estágio os pró-núcleos feminino e masculino são indistinguíveis. O fuso mitótico é organizado a partir dos centríolos dos espermatozoides, pois o óvulo não tem centríolos. Ocorre replicação do DNA dos pró-nucleos e migração e aproximação dos pró- núcleos. Os cromossomos condensam, o envoltório nuclear se desagrega, e os cromossomos se posicionam na placa metafásica. Não se forma em humanos um núcleo zigótico diploide. O desenvolvimento embrionário inicia. Consequências: 1) Introdução do centríolo paterno na célula ovo 2) Aumenta a variabilidade genética através do embaralhamento dos cromossomos maternos e paternos 3) Restauração do numero cromossômico diploide normal (46) 4) Estabelecimento do sexo genético em mamíferos – determinado pelo tipo de espermatozoide que fertiliza (X ou Y) 5) Ativação do metabolismo do ovo e do início do desenvolvimento
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