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DROGAS DE ABUSO Unesa – Farmacologia – Prof. Cristiano Caracterização: possui uso proibido. Todas as drogas ilícitas causam dependência, mas nem toda droga que causa dependência é ilícita. Dependência Física e Psicológica – - Agentes que alteram o comportamento são passíveis de excesso (abuso); - Fatores psicossociais; - Dificilmente um indivíduo torna-se “viciado” por prescrições médicas; a confusão existe já que drogas para a dor, ansiedade e hipertensão produzem tolerância e dependência física – são adaptações fisiológicas normais. Obs. Não se deve evitar administrar uma droga necessária (por exemplo, morfina), mesmo sendo um opióide porque “causam dependência”. - O uso abusivo e a dependência são síndromes comportamentais que variam entre uso mínimo e o uso máximo abusivo. - Vício = uso compulsivo da droga, mesmo que o uso leve a problemas sociais e físicos. - Termos: Addiction = vício Adicto = viciado Origem da dependência química – - Multifatorial: - Droga – custo, acesso, velocidade de ação, pureza, potência, modo de administração. - Usuário – hereditariedade e sintomas psiquiátricos. - Ambiente – contexto social e influências. - Droga – desencadeia efeitos prazerosos; para ser abusiva deve ser muito prazerosa; quanto maior a capacidade de a droga causar alteração dos neurotransmissores, maior a capacidade viciante. Figura 45. Quanto mais rápido for o início da ação da droga em questão, maior a possibilidade do uso abusivo. Por exemplo, drogas como cocaína, anfetamina, etanol, opióides e nicotina são drogas que influem nos níveis de dopamina no sistema nervoso central. Figura O álcool é um depressor de muitas ações no Sistema Nervoso Central, e esta depressão é dose-dependente. Apesar de ser consumido especialmente pela sua ação estimulante, esta é apenas aparente e ocorre com doses moderadas, resultando da depressão de mecanismos controladores inibitórios. O córtex, que tem um papel integrador, sob o efeito do álcool é liberado desta função, resultando em pensamento desorganizado e confuso, bem como interrupção adequada do controle motor. O etanol se difunde pelos lipídios, alterando a fluidez e a função das proteinas. Altas concentrações de álcool pode diminuir as funções da bomba Na+ K+/ATPase no transporte de elétrons, este efeito compromete a condução elétrica. Neurofarmacologia do álcool Só recentemente foi possível entender os mecanismo neurobiológico responsável por diversas manifestações clínicas do alcoolismo. O etanol afeta diversos neurotransmissores no cerébro, entre eles o neurotransmissor inibitório, o ácido gama-aminobutirico (GABA). Baixas concentrações alcoólicas promoveriam facilitação da inibição GABAérgica no córtex cerebral e na medula espinhal. Os efeitos a exposição crônica ao etanol poderia explicar alguns dos fenômenos observados no alcoolismo, como a tolerância e a dependência. A rápida tolerância ao aumento do influxo de cloro mediado pelo GABA inicia-se já nas primeiras horas e estabelece-se durante o uso crônico do álcool. O álcool seletivamente altera a ação sináptica do glutamato no cérebro. O sistema glutamatérgico, que utiliza glutamato como neurotransmissor, e que é uma das principais vias excitatórias do sistema nervoso central, também parece desempenhar papel relevante nas alterações nervosas promovidas pelo etanol. O glutamato é o maior neurotransmissor excitatório no cérebro, com cerca de 40% de todas as sinápses glutaminérgicas. Vias de administração das drogas e suas atuações em todo o organismo. - Variedades do usuário: - Diferenças fisiológicas na concentração (mg/Kg) – genes que codificam o poder enzimático; - Distúrbios psiquiátricos: pessoas ansiosas, com insônia, depressão, timidez, são mais sujeitas ao uso de drogas. - Variedades ambientais: a idade é um fator que deve ser considerado. O período da adolescência é um período crítico já que há uma necessidade de auto-afirmação, há construção de valores, necessidade de destaque num grupo de amigos. Outros fatores são considerados como a situação financeira e exemplos familiares. Figura 41. - Tolerância: é um fenômeno muito comum observado com o uso repetido de drogas = redução da resposta orgânica após o uso da mesma quantidade da droga – “down regulation” de receptores. Por exemplo: o benzodiazepínico Diazepam produz sedação numa dose inicial que varia de 5-10mg – o uso continuado desta droga chega a originar sedação só em dosagens de Diazepam acima de 1000mg. - Sensibilização: também denominada tolerância reversa – é observada em administrações de cocaína e anfetamina. A sensibilização caracteriza-se por produzir respostas maiores com a repetição de mesmas doses de drogas. Este fenômeno explica-se, em parte, por uma inicial subsensibilização dos receptores pré-sinápticos (responsáveis pelo feedback negativo com bloqueio da liberação da droga para a fenda sináptica). Esquema 2. Esquema 2: sensibilização e tolerância – fenômenos observados no organismo humano. Dependência Física – Resultado da tolerância (adaptação) provocada por reajustes dos mecanismos fisiológicos. Síndrome de Abstinência – Evidencia real da dependência física. Causada pela interrupção abrupta do uso da droga, é proporcional aos efeitos prazerosos, mas de forma inversa. Exemplos: Cocaína – depressão; Maconha – irritabilidade; Álcool – delírio e tremores; Heroína – variações de temperatura, coma e convulsões; Propranolol – hipertensão de rebote. “Viciado Clínico” – é aquele paciente que ingere cada vez mais remédios (antidepressivos e ansiolíticos) sem o conhecimento do médico – este paciente geralmente simula sintomas, roubando medicamentos do pronto-socorro. 1. Depressores do sistema nervoso central – Etanol (Álcool) - O álcool é uma droga depressora do sistema nervoso central – provoca sono e, em doses acentuadas, coma. - Há uma propriedade bifásica do álcool: (Esquema 3) - Em grandes doses = depressora – “black out amnésico” - Em baixas doses = estimuladora – excitante. Esquema 3: variação do humor em relação às concentrações de etanol no plasma. Alcoólicos: sofrem tolerância, isto é, não se observa a curva depressiva no indivíduo, sendo que a droga só lhe proporciona efeitos prazerosos em grandes quantidades. Como o indivíduo não sofre depressão, não possui reforço negativo e não pára de beber – torna-se dependente químico. Sintomas: - Incoordenação motora; o indivíduo torna-se conversador; excitação; ataxia; anestesia. - Sonolência; - Coma alcoólico. - Nos alcoólicos a margem de segurança é menor, isto é, chegam à “overdose” com maior facilidade, sem perceber (assintomático). - Dependência é inevitável. - Síndrome de abstinência: considerada grave, apresenta tremores, incoordenação motora, náuseas, taquicardia, sudorese e alucinações. - O uso de álcool durante a gestação causa retardo mental fetal: o álcool tem facilidade em atravessar a barreira placentária. Obs. O álcool provoca tolerância cruzada com alguns sedativos, como por exemplo, os benzodiazepínicos (Diazepam®) – aumentam os sintomas da depressão e o índice de suicídio. Intervenção: detoxificação; uso de drogas para diminuir abstinência (ação cruzada); Dissulfiram – droga que inibe o metabolismo do álcool = síndrome do acetaldeído (ressaca). 2. Drogas psicoestimulante – Cocaína - Cocaína: apresenta-se na forma de alcalóide (folhas de coca), em forma de pó (cloridrato) para administrações intravenosas e intranasais, tem função de anestésico local. - Há aumento da noradrenalina, serotonina e dopamina no sistema nervoso central – a cocaína exerce bloqueio da recaptação. - Sintomas: - Melhora o desempenho em tarefas de vigilância e alerta; - Melhora a autoconfiança; - Sensação de bem-estar; - Estimulação central (pensamento) e motora (inquietação); - Anorexia; aumento da pressão arterial (infartos são comuns); convulsões;- Após doses repetidas: alucinações, paranóias e irritabilidade; - Diminuição do sono REM (sono que restabelece o equilíbrio cerebral e realiza consolidação da memória). - Estimulante sexual - pequenas doses - Abstinência sexual com altas doses; - Meia vida plasmática = 50 minutos (o desejo pela droga aparece após 10-30 minutos do uso). - Associações com álcool são comuns para que se diminua a sensação de irritabilidade. Obs. Usada antes do ato sexual, a cocaína desencadeia estímulo sexual. A longo prazo, realiza efeito oposto. - Tolerância é bem observada. - Dependência: inevitável (ânsia pela droga) – dependência psicológica. - Síndrome de Abstinência: depressão, bradicardia e ânsia pela droga. - Intervenções: uso da droga desipramina (antidepressivo tricíclico – inibe a recaptação de serotonina, noradrenalina e dopamina). - A cocaína causa lesões fetais: lesões ao sistema nervoso (cognitivas) e distúrbios motores. Cocaína no Sistema Nervoso Central - Utilização de Glicose pelo SNC - interferência da droga. Efeito da cocaína no sistema nervoso central. Realizado um estudo no qual observamos um metabolismo inadequado de glicose cerebral na presença da cocaína. A cocaína estimula a recompensa e o uso continuado, ligando-se aos transportadores dopaminérgicos. Tal ligação bloqueia a recaptação da dopamina e aumenta a concentração, o tempo de permanência e a intensidade de acção da substância sobre os receptores pós-sinápticos. 3. Maconha (haxixe) - Canabinóide - Cannabis sativa (planta fibrosa usada ao longo do tempo para fabricação de cordas e tecidos) – (as pontas floridas desta planta possuem a maior concentração de delta-9-tetraidrocanabinol). - A substância ativa: delta-9-tetraidrocanabinol (THC). - Sintomas do uso da maconha: - Comprometimento cognitivo; - Percepção lenta; confusão mental - Analgesia; - Tempo de reação diminuído – deficiência no aprendizado e memória; - Aumento do apetite; - Bloqueio de secreções e vasodilatação seletiva (esclera) – “olhos de fogo”; - Relacionada ao desencadeamento da síndrome do pânico, psicoses agudas, alucinações e esquizofrenia. - Síndrome amotivacional: abandono das atividades escolares e sociais. - Em altas doses podem causar alucinações. - Aumentam o apetite e causam relaxamento muscular. São também anticonvulsivantes. - Abstinência: considerada leve – como sintomas: irritação, insônia e agitação. - Considerações: pouco se sabe sobre a ação da maconha no organismo humano. 4. Opióides - Representantes principais: Heroína e Morfina. - São obtidos da semente da papoula. - Quando o indivíduo ingere heroína haverá biotransformação em morfina. - Observa-se dependência iatrogênica: inicia-se o uso do opióide com funções terapêuticas evoluindo para um uso abusivo. - Pode ser injetada (heroína e morfina) e ou fumada (heroína) – cachimbos (ópio). - A morfina possui uso terapêutico no tratamento da dor intensa: há ação no sistema nervoso central como hidromorfona (ação curta) no tratamento da dor aguda (pacientes com infarto do miocárdio, acidentes graves, câncer) e morfina oral e ou metadona (ação mais prolongada) no tratamento da dor crônica. - Vale destacar que a heroína possui atividade excitatória (euforia) seguida de ação ansiolítica (relaxante) e analgésica (na forma de morfina). - Altamente viciantes: pacientes simulam situações para tomar a droga. - A heroína é o opióide mais freqüente – administrado via nasal, endovenosa ou por mucosas. - Tolerância é atingida rapidamente. - Efeitos: prazer intenso semelhante ao orgasmo sexual só que ocorre no abdome, seguida de sono e relaxamento. Há atividade analgésica e diminuição da agressividade. Podem ocorrer alucinações. - Há interferências nos opióides endógenos alterando diretamente o eixo hipotálamo-pituitário-gonadal e o eixo hipotálamo-pituitário-adrenal. - Síndrome de Abstinência: considerada grave – observa-se ânsia pela droga; agressividade; irritação; sensibilidade dolorosa; vômitos; insônia; taquicardia; variações térmicas (febres). - Intervenções: detoxificação com o uso de tolerância cruzada. Uso de clonidina e ativação de opióides endógenos do sistema nervoso central. Troca-se heroína por metadona no início do tratamento. - Antagonistas opióides são utilizados, como é o caso de Naloxona, administrado por via intramuscular ou intravenosa, são capazes de reverter, em pequenas doses (0,4 a 0,8mg) o efeito da ativação dos receptores MOP. Observa-se recuperação da freqüência respiratória em 1-2 minutos, efeitos sedativos são deprimidos e retoma-se a pressão arterial. Maiores doses são utilizadas em usuários de narcóticos: 1mg do Naloxona são eficientes no bloqueio de 25mg de heroína. Esquema: variação dos estados emocionais na presença do opióide Heroína (curta duração) e Metadona (longa duração). Observe as variações de humor que a heroína proporciona para o indivíduo. A tabela abaixo mostra a relação entre os opióides analgésicos no que diz respeito a posologia – Nome Via de Administração Dose (mg) Duração da Ação (horas) Morfina IM, Oral, Subcutâneo 10 60 (oral) 4 a 5 4 a 7 (oral) Hidromorfona IM, Subcutâneo 1,3 4 a 5 Heroína IM, Subcutâneo 5 4 a 5 Metadona IM 10 4 a 5 Fentanil IM 0,1 1 a 2 Codeína IM Oral 130 200 4 a 6 4 a 6 5. Nicotina - Caracteriza-se por dependência prolongada (influência das variáveis). - Quando fumada, atinge o cérebro em menos de 7 segundos – reforço constante. - Associação com fatos prazerosos: ato sexual, pós-prandial, intervalos das aulas. - Ações: - A nicotina é estimulante e depressora. - O usuário sente-se mais alerta apesar de relaxado (musculatura). - Acometem o sistema de via de reforço positivo no núcleo accúmbens. - Abstinência: irritabilidade, ansiedade, inquietação e bradicardia. - Intervenções: substituir o vício por outro; utilização da clonidina (diminuição dos efeitos periféricos) e antidepressivos como fluoxetina (Prozac®). 6. Agentes Psicodélicos – Alucinógenos - LSD: dietilamida do ácido lisérgico. - PCP: fenciclidina (semelhante ao MK801). - MDMA: ecstasy (“droga do amor”). Acometimento Cerebral - Ecstasy “Droga do Amor” - Agente Psicodélico Figura: atuação do ecstasy no sistema nervoso central. - Psilocibina e Psilocina: cogumelos (chá). - Grupos alucinógenos: indolamínicos e psilocibina. - Efeitos: - Alucinações; - Paranóias; - Depressão; - Sensações de pânico; - Dilatação pupilar, aumento da pressão arterial, salivação e hiperreflexia. - “Viagem ruim” – ansiedade grave, depressão e pensamentos suicidas. - Intervenção: Diazepam (20mg VO). Apresentação das Drogas Barbitúricos e Benzodiazepínicos Maconha - THC LSD Cocaína 7. Inalantes - Drogas como éter, clorofórmio, solventes orgânicos de maneira geral. - São substâncias voláteis de ação rápida que não causam grande dependência por fazer efeito muito rápido – ausência do reforço positivo da droga. - São potencialmente mutagênicos e alucinogênicos. - Destroem as bainhas de mielina dos neurônios do sistema nervoso central. É considerada uma das mais prejudiciais drogas de ação neuronal. - São agonistas cardiovasculares. - Causam tonteiras e rubor. 8. Anfetaminas - Possuem efeitos anoréxicos. - Atuam no sistema nervoso de forma a acelerar a liberação das aminas nas fendas sinápticas (simpaticomiméticos). - Como pró-drogas: fenproporex e anfepramona são os mais citados. - São neuroestimulantes. 9. Cafeína - É uma droga psicoativa. - Ansiogênica. - Altera o padrão de sono – geralmente causam insônia prolongada. - Causam irritação do trato gastrointestinal. - Causam dependência devido às associações com fenômenos prazerosos como intervalos de aulas, pós-prandial,reuniões com amigos. �PAGE \* MERGEFORMAT�12�
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