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A (DES) MOTIVAÇÃO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS DE ESCOLA PÚBLICA DO ENSINO FUNDAMENTAL I: QUAIS OS FATORES ENVOLVIDOS? Maria Fabiana Nascimento de Carvalho1 Valéria Cavalcanti Pereira2 Sandra Patrícia Ataíde Ferreira3 RESUMO: A problemática da (des) motivação nos diversos níveis de escolaridade tem sido o centro das discussões no que diz respeito ao que vai mal nas escolas. Assim, buscou-se investigar os possíveis fatores da (des) motivação dos alunos de escola pública para a aprendizagem, mais especificamente, as metodologias utilizadas pelo professor e as condições físicas e pedagógicas oferecidas pela escola. Para tal, realizaram-se observações em duas turmas de uma escola municipal de Recife e entrevistas com alunos e professoras. De modo geral, percebe-se que apesar da motivação estar relacionada a inúmeros aspectos, o que aparece como principal fator de não motivação dos alunos são as condições físicas oferecidas pela escola, já que estas interferem na realização das atividades escolares. Palavras chave: motivação, aprendizagem, aluno, escola pública. 1. INTRODUÇÃO Atualmente, com o avanço tecnológico, os brinquedos interativos ocupam cada vez mais o tempo das crianças, colocando o interesse pelos estudos em segundo plano. Além disso, a mídia tem despertado a atenção das crianças por meio de atrativos que estão além do simples fato de freqüentarem uma escola. No entanto, esta, muitas vezes, não oferece os mesmos encantos, o que geralmente provoca certos desinteresses e falta de motivação dos alunos pelos estudos em sala de aula, visto que brincar, para a maioria dos garotos, é muito mais atraente do que o ato de estudar. Segundo Zenti (2000), os especialistas no assunto afirmam que os professores devem mostrar aos seus alunos que estudar pode ser divertido. 1 Concluinte do curso de Pedagogia, Centro de Educação, da UFPE. E-mail: valeriakcavalcanti@gmail.com 2 Concluinte do curso de Pedagogia, Centro de Educação, da UFPE E-mail: fabianan8@hotmail.com 3 Professora Adjunto do Departamento de Psicologia e Orientação Educacionais, CE – UFPE. E- mail: tandaa@terra.com.br 2 Contudo, a maior dificuldade está em competir com os atrativos tecnológicos e com os brinquedos que encantam as crianças, e que na escola não existem. Somado a isso, existe o mundo da sala de aula apresentando um cotidiano com intenso quantitativo de atividades, geralmente, monótonas, avaliações obrigatórias, propostas pedagógicas pouco desafiadoras para os discentes, grande quantidade de alunos por sala, ausência de decoração e materiais pedagógicos, enfim, inúmeros fatores que não instigam os educandos a estudar. Como diz Tapia (1992, p.13): [...] acreditamos que a maioria destas condições – programas excessivamente carregados, muitos alunos por sala, falta de materiais adequados, influência negativa da família, perspectivas de futuro negativas etc. - escapa ao nosso controle, o que costuma nos dar uma visão bastante pessimista da possibilidade de motivar esses alunos. A prática do professor é outro fator merecedor da nossa atenção devido ao fato de ser figura importante e propulsora no processo de motivação para aprendizagem. De acordo com Lima (2000), o professor é a figura responsável por organizar o ambiente despertador da motivação do aluno para a aprendizagem de algo. No entanto, observa-se que muitos educadores, por inúmeras razões, têm realizado aulas monótonas e maçantes, não favorecendo a motivação e o interesse dos alunos para o aprender na escola. Sobre isso Lima (2000, p.41) menciona que [...] a falta de uma boa administração do tempo, planejamentos deficientes, a sobrecarga de trabalho, a falta de envolvimento com os alunos, entre outras variáveis a que estão sujeitos, conduzem à apresentação de respostas de manutenção da situação atual, a falta de iniciativa, de interesse pela mudança e não engajamento efetivo em qualquer inovação. Dessa forma, percebe-se que quando o docente não é provido de condições favoráveis de trabalho, sua prática compromete a aprendizagem dos alunos, uma vez que, segundo Tapia e Fita (2003, p.88). 3 [...] se o professor não está motivado, se não exerce de forma satisfatória sua profissão, é muito difícil que seja capaz de comunicar a seus alunos entusiasmo, interesse pelas tarefas escolares; é definitivamente, muito difícil que seja capaz de motivá-los. Contudo, são inúmeros os motivos que levam os alunos a variarem em intensidade o desejo de aprender. Assim, os alunos atribuem seus êxitos ou fracassos a diferentes causas, que podem estar dentro ou fora do sujeito; segundo respondam a algo permanente ou mutável e, ainda, controláveis ou incontroláveis, quando é possível ou não interferir nelas (FITA, 2003). Ao referir-se, no presente trabalho, aos fatores que implicam nas situações motivacionais, sente-se a necessidade de expor as concepções de alguns autores sobre o que vem a ser motivação. Fita (2003) a conceitua como um conjunto de variáveis sejam contextuais ou pessoais, que ativam a conduta e a orientam em determinado sentido para poder alcançar um objetivo. Para Huertas (2001), a motivação é entendida como um processo psicológico, ou seja, ela é proporcionada por meio dos componentes afetivos e emocionais. É a energia psíquica do ser humano. São vários os atributos que influenciam na motivação da pessoa, contudo, ela se mostra de forma diferente para cada indivíduo, visto que estes possuem diferentes metas, expectativas e formas de enfrentar as tarefas e a vida. Pozo (2002) salienta que a motivação deve ser considerada como um requisito, uma condição prévia da aprendizagem, pois, como tem sido recorrente afirmar, sem motivação não há aprendizagem. BZUNECK (2001) legitima esta idéia ao afirmar que, no aluno, a motivação é considerada como a determinante talvez principal do êxito e da qualidade da aprendizagem escolar. A qualidade e a intensidade do envolvimento nas aprendizagens dependem de motivação. Frente a essas premissas e com a intenção de investigar os possíveis fatores da (des) motivação dos alunos de escola pública nas salas de aula, surge a seguinte questão: Quais os fatores que influenciam na (des) motivação da aprendizagem de alunos de escola pública do ensino fundamental I? Mais especificamente pretende-se verificar as metodologias utilizadas pelo professor, as condições físicas e pedagógicas oferecidas pela escola na promoção 4 da (des) motivação dos alunos, bem como o gosto e interesse destes pelo estudo. Isto porque a partir de observações em sala de aula decorrentes da disciplina Pesquisa e Prática Pedagógica, despertou-se a atenção em relação a esta problemática, uma vez que esta experiência permitiu verificar a falta de motivação dos alunos para o aprender, nas salas de aula. Mediante esta problemática, propõe-se investigar essas razões a partir da perspectiva cognitivista, uma vez que se acredita na relevância de seus pressupostos à medida que enfatizam tanto os fatores ambientais quanto os motivos intrínsecos para a motivação do aluno. Diante disto, pretende-se contribuir para um maior esclarecimento no campo educativo no que se refere aos possíveis fatores da (des) motivação para a aprendizagem, apresentando assim, aos educadores, alternativas para a reflexão desta realidade inquietante nas escolas públicas. 2. OS POSSÍVEIS FATORES DA (DES) MOTIVAÇÃO DA APRENDIZAGEM Segundo Martini (1999), a problemática da (des) motivação nos diversos níveis de escolaridade tem sido o centro das discussões no que diz respeito ao que vai mal em nossas escolas. Exemplos disto são as queixas cada vez mais freqüentes dos pais a respeito do baixo valor atribuído pelos seus filhos à escola, e dos professores manifestando sua preocupação com a falta de interesse dos alunos quantoàs atividades acadêmicas desenvolvidas na sala de aula e fora dela. Quanto à importância da motivação para a aprendizagem, Bzuneck (2001, p.13) afirma que [...] alunos desmotivados estudam muito pouco ou nada e, conseqüentemente, aprendem muito pouco. Em última instância, aí se configura uma situação educacional que impede a formação de indivíduos mais competentes para exercerem a cidadania e realizarem- se como pessoas, além de se capacitarem a aprender pela vida afora. A maioria dessas discussões em relação à problemática da motivação na educação tem como objetivo encontrar maneiras de favorecer o envolvimento dos estudantes em tarefas de aprendizagem, buscando respostas para saber quais as 5 melhores formas de auxiliá-los a terminar os trabalhos iniciados, bem como melhorar a qualidade dos trabalhos escolares. (GUIMARÃES, 2001). A respeito da relação motivação-aprendizagem, Fita (2003) enfatiza a importância dos modelos de aprendizagem e ensino estarem repletas de idéias relativas à motivação, no intuito de que os alunos aprendam realmente. Assim, essas idéias devem levar em conta os condicionantes que interferem na motivação do aluno, sendo estes intrínsecos ou extrínsecos a ele. Sobre esta relação, Hilgard (1953) ressalta a importância da motivação para a aprendizagem ao salientar que compreender a motivação talvez seja mais importante do que compreender a própria aprendizagem. Assegura ainda que [...] se tivéssemos um perfeito controle da motivação, a aprendizagem poderia cuidar de si mesma, isto é, o papel da motivação se reveste de muito maior importância do que as condições de prática, os recursos especiais de ensino, etc (HILGARD, 1953 apud BUGELSKI, 1977, p.252). Assim, nos últimos anos, a motivação tornou-se um problema de ponta em educação, à medida que sua ausência repercute na queda da qualidade das tarefas de aprendizagem (BZUNECK, 2001). A questão motivacional no contexto escolar foi progressivamente estudada sob diversas visões na história da psicologia, sendo um processo rico em detalhes, e por isso mesmo, rico em maneiras de ser abordado. Uma das formas pela qual se compreende a motivação é através da abordagem cognitivista. Na perspectiva de Braghirolli et al (1995, p.103), ”as teorias cognitivistas reconhecem que o comportamento e seu resultado dependerão tanto das escolhas conscientes do indivíduo, como dos acontecimentos do meio sobre os quais não tem controle e que atuam sobre ele”. O enfoque deste estudo será na abordagem cognitivista porque além desta não descartar a importância dos esforços ambientais para dar início e manter algumas atividades, também enfatiza os motivos intrínsecos para aprendizagem. Huertas (2001) salienta que a motivação intrínseca está relacionada ao interesse na própria atividade, que é vista como um fim em si mesma e não como um meio para outras metas. 6 Quando uma ação se encontra regulada intrinsecamente, esta se fundamenta principalmente em três características: autodeterminação; competência e satisfação em fazer algo próprio e familiar, assim, a própria matéria de estudo desperta no indivíduo uma atração que o impulsiona a se aprofundar nela e a vencer os obstáculos que possam ir se apresentando ao longo do processo de aprendizagem. (HUERTAS, 2001; FITA, 2003). Já a motivação extrínseca é definida por Guimarães (2001, p.46) como aquela que trabalha [...] em resposta a algo externo à tarefa ou atividade de, como para a obtenção de recompensas materiais ou sociais, de reconhecimento, objetivando atender aos comandos ou pressões de outras pessoas ou para demonstrar competências ou habilidades. Assim, a motivação extrínseca relaciona-se às rotinas que vamos aprendendo ao longo de nossas vidas, ao desejo de desenvolver uma ação por causa de recompensas externas ou para evitar punições. No que diz respeito à relação desta motivação com a intrínseca considera-se que o principal aspecto na questão de recompensas não esteja relacionado ao recebimento, ao tipo ou à força destas, mas sim, em como este processo de oferecer algo é realizado e, principalmente, como pode ser compreendido por quem o recebe. Segundo Guimarães (2001), o uso das recompensas externas em situações de aprendizagem deve ser viabilizado de forma criteriosa, evitando que os alunos sejam orientados extrinsecamente no envolvimento com as atividades. No entanto, a presença das recompensas em situações de sala de aula não deve ser abolida, considerando-se os efeitos benéficos (como o encorajamento dos alunos para apreciarem o desenvolvimento de seus conhecimentos e habilidades, a obtenção de um feedback informativo sobre o desempenho destes e a comprovação da significância e da validade das tarefas realizadas) do uso adequado dessas estratégias. Diante do exposto, ressalta-se que a motivação não acontece de forma espontaneísta, mas para que ocorra é necessário considerar a participação dos 7 sujeitos envolvidos (professores, alunos, família), bem como, a estrutura e o espaço físico. Quando se pensa em motivação para a aprendizagem, consideram-se as características do ambiente escolar como: quantitativo de alunos por sala, metodologias utilizadas pelo professor, organização do espaço, entre outros. Em geral, as tarefas e atividades proporcionadas nesse ambiente estão relacionadas a processos cognitivos como, por exemplo, capacidade de atenção, concentração, resolução de problemas, processamento de informações. Devido a estas características, Bzuneck (2001) acredita que aplicar conceitos gerais sobre motivação humana no ambiente escolar não seria muito apropriado sem a consideração das singularidades deste ambiente. Para Guimarães (2001), a sala de aula é descrita como um espaço de socialização cultural, que envolve desenvolvimento cognitivo e afetividade. Enfatiza ainda que seja de grande relevância para o estímulo da aprendizagem dos estudantes, organizar e propiciar um clima encorajador de sua iniciativa, que contemple as suas necessidades internas e perspectivas pessoais. No âmbito da sala de aula, o papel do professor é de grande valor no comportamento e envolvimento dos alunos. Lima (2000) menciona que o professor tem a tarefa de proporcionar situações favoráveis para que o aluno aprenda. Também quanto a esse aspecto, Fita (2003, p.92) evidencia que [...] a própria pessoa do professor pode ser uma fonte de motivação importantíssima. O tipo de relação que estabelecemos com os alunos pode gerar uma confiança e um aumento da atenção que são condições indispensáveis para aprendizagem. Sendo o professor figura favorecedora do processo de ensino- aprendizagem, para um aluno se motivar a aprender algo é preciso que esse organize o ambiente de forma que desperte o desejo, a necessidade e a vontade do aluno para atingir um objetivo, atuando assim como “agente ativo” e propiciador de metodologias diversas no âmbito da sala de aula (LIMA, 2000). Outra figura de grande valor no processo de motivação é o aluno, uma vez que é portador desta e o maior interessado em aprender; no entanto, a motivação 8 não depende só do discente, mas também do contexto no qual está inserido, tendo em vista que situações ambientais influenciam de forma significativa no processo da motivação do aluno (BZUNECK, 2001). A esse respeito, Bzuneck (2001) diz ainda que, é possível perceber que um aluno está motivado para aprender através do envolvimento deste nas atividades em sala de aula, visto que escolhe essa, entre tantas outras ações ao seu alcance, para dedicar-se. De acordo com Tapia (2003), os alunos estão motivados ou não em função do significado do trabalho que têm de realizar, significado que percebe no contexto e que estão relacionados com alguns desígnios, podendo variar à medidaque a atividade transcorre. Assim, a aceitação da atividade escolar se vê facilitada ou dificultada dependendo da forma como os professores a apresentam. Então, se é no ambiente da sala de aula que o professor seleciona os meios que deve utilizar para despertar a motivação de seus alunos, esta “resulta de um conjunto de medidas educacionais, que são certas estratégias de ensino ou eventos sobre os quais todo o professor tem amplo poder de decisão” (BZUNECK, 2001, p.27). A motivação para as diferentes formas de enfrentar a atividade escolar não surge por si só, mas vem afetada pelo contexto criado não só pelos professores, mas também, pelos pais dos discentes em suas formas de desempenho (TAPIA, 2003). Dessa forma, estudar a motivação no âmbito escolar envolve a compreensão de um complexo sistema de fatores que se inter-relacionam, operando em conjunto na motivação do aluno para a aprendizagem. Ressalta-se que é necessário que o indivíduo (aluno) veja sentido na construção de um novo conhecimento; uma vez que “todo aluno deve orientar-se para a meta da realização denominada aprender, ou seja, desenvolver a motivação para o domínio dos conteúdos e o crescimento intelectual, e não apenas para o desempenho ou para passar de ano” (BROPHY, 1983; AMES, 1990 APUD BZUNECK, 2001). 9 Solé (1996) afirma que o aluno precisa conhecer o propósito de uma tarefa para poder compreendê-la, caso contrário, cai-se no enfoque superficial, que está relacionado ao cumprimento dos requisitos que a tarefa exige sem a necessidade de reflexão para a compreensão do conteúdo; em contrapartida ao enfoque profundo, que envolve a intenção de compreender o significado do que se estuda, relacionando os conceitos com as experiências cotidianas. Por outro lado, como afirma Tapia (2003), em alguns casos, o aluno priva- se da possibilidade da aquisição de novos conhecimentos ao evitar situações de participação nas atividades, temendo sair-se mal diante dos outros, preocupando- se em preservar sua própria imagem. Assim, esse autor assegura que [...] é preciso considerar que, quando os alunos estudam ou tentam realizar as diferentes tarefas escolares, se inicia um processo no qual desejos, pensamentos e emoções se misturam, configurando padrões de enfrentamento associados que têm diferentes repercussões na motivação e na aprendizagem (TAPIA, 2003, p. 27). O professor deve desenvolver e manter a motivação positiva da sala como um todo, orientando os alunos para o aprender significativo (BZUNECK, 2001). No entanto, deve-se considerar que o que pode ser interessante para uns, pode não ser para outros, tendo em vista que os indivíduos possuem metas e expectativas diferentes. Sobre isto, Marinho e Fiorelli (2005) afirmam que os mesmos estímulos e estratégias quando aplicados a diferentes pessoas, ainda que em situações praticamente idênticas, conduzem a diferentes resultados. Deve-se levar em consideração que, nem todos os aspectos do âmbito escolar são causadores de desmotivação no aluno, visto que seu empenho também estará baseado em áreas de seu interesse, como afirma Brophy (1983 apud BZUNECK, 2001, p.19): [...] um aluno não necessariamente é desmotivado para tudo na sala de aula. Ele pode estar desmotivado ou apresentar motivação destorcida apenas em alguma ou algumas áreas, ou alguns tópicos, como pode apresentar problemas em relação a todas as disciplinas de um curso. 10 Enfatiza-se ainda que para o professor compreender o que motiva os alunos, é necessário que o mesmo estude o contexto da aprendizagem, das individualidades dos alunos, bem como suas idéias prévias e tire conclusões que estejam contempladas em seus planejamentos de ensino. Assim, o professor tem a possibilidade de selecionar os conteúdos que despertem o interesse dos alunos, aqueles para os quais eles se sintam mais motivados a aprender. (FITA, 2003). Logo, se a aprendizagem implica na interação do aluno com o meio, e sendo esta uma construção que o discente realiza ao incorporar a nova informação e aderi-la às contidas em seus esquemas cognitivos; para que ocorra a aprendizagem, é indispensável à presença de fatores motivacionais, sendo de fundamental importância compreendê-los em sua complexidade e considerar todos os aspectos envolvidos. 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A abordagem utilizada nesta pesquisa foi de natureza qualitativa, ao passo que esta enfatiza [...] o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento... A pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada, via de regra através do trabalho intensivo de campo (LUDKE: ANDRÉ, 1986. P.11). Ressalta-se ainda que esta natureza de pesquisa dentro do espaço educacional torna-se mais adequada por estar lidando com indivíduos dotados de subjetividades, emoções e valores, que devem ser considerados. O processo de investigação que norteou a temática da pesquisa situou-se na metodologia do estudo de caso, já que se pretendia restringir o campo de pesquisa de forma a aprofundar e compreender detalhadamente a realidade investigada. A esse respeito, André (2005, p.24) salienta que: 11 [...] o estudo de caso do tipo etnográfico pode ser escolhido porque há interesse em conhecer o que se passa numa situação específica. Neste processo, o pesquisador, ao selecionar uma determinada unidade, pretende compreendê-la enquanto uma unidade, isto é, busca conhecer o particular em profundidade. Assim, para este estudo, investigou-se uma escola da rede municipal do Recife. Isto porque, segundo informações empíricas, a problemática da (des) motivação da aprendizagem tem se apresentado como algo central para professores dessa rede de ensino, além do fato da viabilidade para coleta de dados, uma vez que esta escola encontra-se localizada nas proximidades das residências das pesquisadoras. A coleta de dados aconteceu por meio de entrevistas e observações realizadas com alunos e professoras, uma vez que estes são os principais atores envolvidos na (des) motivação relacionada ao processo de aprendizagem. 3.1. As entrevistas Optou-se pela entrevista como procedimento metodológico por acreditar que através desta fosse possível obter dados mais completos e representativos dos participantes. Além disso, como diz Gressler (1983), este instrumento de investigação oferece a possibilidade de observar o que o entrevistado diz e como diz. A entrevista também proporciona uma relação de interação entre quem pergunta e quem responde, apresentando um clima de estímulo e aceitação mútua, em que as informações fluem de maneira notável e autêntica (LUDKE; ANDRÉ, 1986). Para esta pesquisa, realizou-se entrevistas com duas professoras e 12 alunos dos 1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental I; em uma escola da rede municipal do Recife, localizada na zona norte deste município. Para cada grupo de participantes (professoras e alunos) utilizou-se um roteiro semi-estruturado, composto cada um de catorze e treze questões, respectivamente (ver Anexo A e B), que serviram para levantar dados sobre: a prática docente; as relações interpessoais no contexto escolar; o valor atribuído pelas famílias dos discentes aos estudos; as condições físicas e pedagógicas da 12 escola. Isto com o intuito de perceber a influência que esses fatores exercem na (des) motivação dos alunos em aprender e de estar na escola. As entrevistas com os alunos aconteceram no refeitório, antes do início das aulas, com duração média de vinte minutos para cada discente. Já as entrevistas com as professoras aconteceram na sala de aula, no horário de intervalo dos alunos, tendo duração de trinta minutos para cada educadora. 3.2. As observaçõesForam utilizadas observações como fonte de dados por acreditarmos que por meio destas poderíamos relacionar as falas dos entrevistados com o que foi investigado no contexto escolar. Para Ludke e André (1986, p. 26) [...] a observação possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado. Além disso, é através da observação que poderemos recorrer aos nossos conhecimentos e experiências pessoais a fim de que nos auxilie no processo de compreensão da problemática averiguada. Não só o ambiente da sala de aula, como também, todo o contexto escolar foi observado. As observações foram realizadas nas turmas de 3º ano do 1º ciclo e 2º ano do 2º ciclo, com duração de dez dias, cinco em cada turma, totalizando quarenta e cinco horas. O critério de escolha das turmas observadas se deu ao fato das mesmas representarem cada ciclo do Ensino Fundamental I, proporcionando assim uma visão generalizada dos fatores da (des) motivação dos alunos deste nível de ensino, bem como a acessibilidade, já que, as respectivas professoras das turmas se dispuseram a participar do processo de investigação. Para esta pesquisa utilizou-se a observação assistemática, ou seja, sem estrutura prévia, visto que a realidade do contexto escolar poderia trazer eventos inesperados, apresentando-se, assim, como possíveis condicionantes para a (des) motivação dos alunos na aprendizagem. Utiliza-se esta observação quando o pesquisador não pode prever os eventos ou quando há uma insuficiência de 13 dados sobre determinado problema, assim, os dados recolhidos poderão sofrer modificações e novas interpretações (GRESSLER, 1983). 3.2.1. A escola investigada A escola observada apresenta um quantitativo de 417 alunos matriculados no ano de 2007, oferece os níveis Infantil e fundamental de ensino, além da educação de Jovens e Adultos, funcionando nos três turnos. No que diz respeito à sua estrutura física, pode ser caracterizada como de pequeno porte. É composta por diretoria, secretaria, sete salas de aula, três sanitários, sendo dois para os alunos e um para o corpo de funcionários, refeitório, cozinha. Não é dotada de estrutura de laboratórios, quer seja de informática, ciências, artes ou linguagem; não possui quadra esportiva e não dispõe de espaço direcionado para o lazer. As salas de aula são pequenas, sem ventilação adequada, já que não possuem janelas, além de não apresentarem atrativo estético. Em relação ao corpo de funcionários, a escola é formada por dez professores, diretora, vice-diretora, secretária, assistente de direção, três vigilantes, duas merendeiras e três pessoas responsáveis pelos serviços gerais. As atividades escolares são desenvolvidas, em grande parte, nas salas de aula, apresentando-se em maior quantidade as tarefas de cópia. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS Para análise dos dados obtidos, tomou-se como base a abordagem qualitativa, visto que enfatiza mais o processo do que o produto, além de se preocupar em retratar a perspectiva dos participantes. Nesse sentido, procurou-se confrontar o que foi exposto pelos envolvidos no processo de pesquisa com a realidade observada, bem como, com o referencial teórico adotado. De acordo com o que foi relatado pelos alunos nas entrevistas, percebe-se que a maioria deles diz gostar de estudar, enfatizando ser esta uma atividade 14 muito importante, porque atrelam ao estudo a possibilidade de adquirirem um espaço no mercado de trabalho. Isto é o que se pode observar nas falas abaixo: “Gosto de estudar porque é legal para quando eu crescer conseguir um emprego e saber melhor as coisas” (Paulo4, 2º ano/ 2º ciclo, 10 anos). “Gosto de estudar porque quando eu crescer ter um futuro” (Carla, 2º ano/ 2º ciclo, 11 anos). Apesar disso, observa-se que os discentes não apresentaram grandes interesses em realizar as atividades propostas na sala de aula. Talvez pelo fato das atividades não apresentarem significados para eles, porque, como ressalta Leite (2007, p. 36), É mais fácil aprender o que nos interessa. Sem motivação o aluno não presta atenção, não participa, não faz as tarefas. Ou até as faz, mas preocupados simplesmente em corresponder à expectativa do professor, sem interesse em aprender. O interesse dos alunos em realizar as atividades escolares foi perceptível, na maioria das vezes, quando foram atribuídas recompensas a estas, a exemplo de elogios, como forma de adquirirem posição de destaque perante os outros colegas. Assim, eles motivavam-se extrinsecamente visando recompensas ou reconhecimento de suas competências. (GUIMARÃES, 2001). Pôde-se constatar isto em um momento da aula quando a professora A propôs uma atividade em grupo, que tinha como objetivo a formação do maior número de palavras. Nessa situação, percebeu-se que a maioria da turma participou porque a professora estimulou a competição entre as equipes no momento que mencionou que ao final da atividade o grupo mais dedicado seria nomeado vencedor. Como aponta Tapia (2003), alguns alunos são motivados quando o professor lhes dá pontos em vista dos colegas ou quando respondem corretamente; mas não se motivam se a atividade não apresentar situações competitivas. 4 Todos os nomes são fictícios. 15 Isso é o que pensam também as professoras investigadas ao afirmarem que o gosto da maioria dos alunos em realizar as atividades escolares está atrelado às recompensas, como se verifica na fala de uma delas a seguir: “Meus alunos, gostam das atividades de passeio que são extracurriculares, atividades com jogos, gincanas, trabalhos em grupo, feira de conhecimento, atividades que cobrem competição. Eles se dedicam mais quando tem premiação, a motivação para estudar é a premiação, ver quem é o melhor” (Professora B). Deve-se levar em consideração que nem todos os discentes apresentaram a necessidade de recompensas para se envolverem com os estudos, já que os indivíduos não apresentam os mesmos interesses, uma vez que possuem metas e expectativas diferentes (BZUNECK, 2001). Isto foi verificado em uma das aulas da professora A, quando solicitou uma atividade baseada na história de Chapeuzinho Vermelho a partir da resposta a um questionário referente à história lida. Neste momento, alguns alunos se dispuseram a fazer com entusiasmo, sem necessidade de terem sido estimulados por algum motivo externo à tarefa. Estes alunos dedicaram-se à atividade em si mesma, por se sentirem impulsionados apenas pela sua realização, e não como meio para outras metas (HUERTAS, 2001). Assim, o fato de o aluno estar ou não motivado não é uma responsabilidade unicamente dele. Antes, a motivação está atrelada à interação dinâmica entre as características pessoais e os contextos em que as tarefas escolares se desenvolvem. (SOLÉ, 1996; TAPIA, 2003). Quanto às características pessoais, deve-se considerar que o valor atribuído à atividade, pelo professor, pode não contemplar as expectativas dos alunos, visto que pode não apresentar sentido para estes. Quando o professor planeja uma atividade, esta pode apresentar um significado que diverge do construído pelo aluno, uma vez que ele pode ver a atividade como algo desafiador e estimulante ou desprovido de interesse (SOLÉ, 1996). Assim, percebe-se através das observações em sala de aula, que é baixo o valor atribuído pelos alunos às atividades de cópia, uma vez que, quando solicitado pela professora, atividades desta natureza; diziam estar cansados, que 16 não iriam fazer, que estavam concluindo a tarefa anterior, ou simplesmente faziam qualquer outra coisa que não à tarefa. O desinteresse dos alunos por essas tarefas de cópia é evidenciado até mesmo pelas próprias professoras: “Eu noto assim, que coisas muito repetitivas cansam eles. Eles gostam de dinamismo,agitação nas atividades, se for algo que se torne cansativo para eles, como cópias, eles não gostam”. (professora A). “Eles não gostam de copiar atividades no caderno, deste bla, bla, bla de quadro... de ouvir explicações que dou e de ficar muito tempo sentados”. (professora B). Apesar disso, essas atividades são solicitadas pelas educadoras com certa freqüência, devido às limitações pelas quais se deparam, como, por exemplo, a estrutura precária da sala de aula, a falta de materiais e de tempo para planejar atividades de outra natureza, entre outras. Contudo, embora acontecendo com dificuldades e com baixa freqüência, foi constatada a presença de atividades dinâmicas e desafiadoras nas salas de aula observadas. Percebeu-se que as docentes procuram realizar atividades que aliam o aprender com o lúdico e o brinquedo, como o bingo de palavras, o jogo da velha, a cruzadinha, a sabatina do saber etc, e, quando estas são possíveis de serem realizadas, o interesse da turma é unânime. Isto é o que pode ser observado nas falas dos educandos abaixo: “Gosto das tarefas de jogo da velha, bingo de palavras que a gente conhece” (Bruno, 3º ano/ 1º ciclo, 9 anos). “Gosto da educação, aprendizado com o vídeo, a TV que passa coisas interessantes pra aprender” (Paulo, 2º ano/ 2º ciclo, 11 anos). No momento em que atividades desta natureza aconteceram, os alunos se envolveram e apresentaram ótimos desempenhos. Talvez o fato de se interessarem por atividades que envolvam jogos se dê por ser uma forma descontraída de aprendizagem, em que se vêem desafiados a superar a si mesmos em um clima de brincadeira. 17 A exemplo disso, presenciou-se uma situação na turma do 2º ano do 2º ciclo. A professora B, no intuito de estimular os alunos a estudarem, propôs uma atividade chamada Sabatina do Saber, em que os mesmos foram separados em dois grupos para responderem perguntas feitas pela docente. A cada acerto, o grupo marcava ponto, o que os motivava constantemente, sendo ao final da atividade, nomeado o grupo vencedor. Assim, percebe-se que situações de jogos são consideradas como parte das atividades pedagógicas, visto que são elementos estimuladores do desenvolvimento. No intuito de jogar bem, as crianças esforçam-se para superar obstáculos, sentindo-se, assim, mais motivadas a usarem a inteligência (SOLÉ, 1993; MOURA, 1996). Desse modo, pensa-se que as professoras apresentaram habilidades para a construção de situações interativas, propondo atividades interessantes aos alunos e propiciando um ambiente que estimulou o envolvimento deles nas atividades escolares; mostrando-se responsáveis pelo planejamento de situações educativas estimulantes e criando situações favoráveis para a aprendizagem. (MORAES; ALBUQUERQUE, 2007). É importante ressaltar, por outro lado, que o espaço físico da escola não favoreceu, na maioria das vezes, a concretização das atividades diversificadas, uma vez que, no momento de organizar a sala de aula, faltava espaço para os educandos, iniciando-se; assim, discussões sobre quem iria ficar onde, não sendo possível a organização do âmbito da sala de aula para realização de tarefas dessa natureza. Isto é o que pode ser identificado na fala de uma das professoras quando menciona que “A escola não tem espaço adequado, as salas são apertadas e quentes... a quantidade de alunos supera a possibilidade de fazer um bom trabalho” (professor A). Os alunos compartilham desta opinião de insatisfação e expressam isso ao falarem da estrutura física da sala de aula desejada: 18 “[queria que a sala] fosse mais bonita, mais grande e mais larga” (Renato, 3º ano/ 1º ciclo, 9 anos). “[queria que] aumentasse a sala... é... consertasse as rachaduras e tampasse a goteira” (Flávia, 2º ano/ 2º ciclo, 10 anos). A estrutura física do ambiente escolar observado não colabora para a efetivação da prática docente, uma vez que as salas não comportam os alunos, estão localizadas umas muito próximas às outras, o que provocava desconcentração dos alunos devido ao barulho externo; além de não oferecer ventilação adequada, iluminação, ou atrativo visual e estético. Ou seja, o desfavorecimento do ambiente de sala de aula compromete o andamento das atividades à medida que o calor, o barulho e o aspecto visual desinteressante são desestimulantes para o envolvimento dos alunos nas tarefas escolares. A esse respeito, Assmann (2003) afirma que o ambiente pedagógico tem que ser um lugar de fascinação e inventividade; o que pode propiciar uma doce alucinação entusiástica necessária ao processo de aprendizagem. Ao falar de estrutura física, não se pode esquecer o espaço de lazer dos alunos da escola investigada, já que este é mais um fator que propicia a interação entre os discentes. Como se pôde perceber, esta instituição não oferece espaço adequado para este fim, bem como, não disponibiliza qualquer ambiente, afora a sala de aula, propulsor de integração e diversão. Desse modo, o tempo de recreio é vivenciado apenas no espaço do refeitório e em uma área improvisada à frente deste. Isto pode ser retratado nas seguintes falas dos alunos: “[gostaria que a escola fosse] bem grande, tivesse campo de futebol, balanço e lugar para merendar” (Bruno, 3º ano/ 1º ciclo, 9 anos). “[queria que tivesse] “biblioteca, aula de computador, aula de pintura, futebol” (Renato, 3º ano/ 1º ciclo, 9 anos). Acredita-se que tal fato pode interferir no interesse dos alunos para a realização das atividades, uma vez que retornavam do intervalo sem desejo de continuarem as tarefas escolares, ou ainda, apresentando vontade de ir para casa. 19 Por conta disso, pensa-se que a falta de um ambiente físico apropriado compromete o momento de recreio na escola investigada, já que não oferece os recursos necessários como: a área de lazer, a biblioteca, a sala de informática, para que os alunos vivenciem momentos de integração e distração, aspecto que influencia a freqüência dos alunos à escola, bem como, no prazer de permanecer nela. Estes ambientes adquirem importância como espaços fixos da classe ou da escola como estruturadores do desenvolvimento das atividades (ZABALA, 1996). No entanto, a representação da escola como um espaço interativo fica evidente na fala dos alunos quando expõem que: “Na escola tem tarefa de casa, o pátio e a recreação com meus amigos” (Renato, 3º ano/ 1º ciclo, 9 anos). “Na escola eu brinco com meus colegas” (Thiago, 2º ano/ 2º ciclo, 11 anos). Assim, a escola é mais vista pelos alunos como um lugar de interação e de aprendizagem atitudinais junto aos colegas, que como um lugar de aprendizagem de conteúdos sistematizados. Apesar disso, ficou perceptível que os alunos possuem um relacionamento consideravelmente conflituoso, havendo, em geral, falta de ajuda mútua no que se refere às tarefas escolares, troca de ofensas e desvalorização das opiniões um dos outros. Por conta desse clima de conflito, as atividades escolares realizadas na sala de aula eram interrompidas por várias vezes, sendo substituídas por outras. Talvez, esta relação conflituosa entre os alunos possa contribuir para o desfavorecimento da motivação para a aprendizagem, uma vez que tal fato compromete a realização das atividades de forma prazerosa e a socialização de idéias; à medida que os alunos não estão considerando as opiniões e ponto de vistas dos colegas como fatores importantes no processo de construção de conhecimento (SOARES, 2007). Contudo, ao perguntar aos discentes sobre o relacionamento deles com os colegas, disseram ser “bom” e que se ajudavam mutuamente, como revelam as falas abaixo: 20 “Não brigo com eles [colegas], ensino as tarefas. (Bruno, 3º ano/ 1º ciclo, 9 anos). “Não tenho nada com eles [colegas], não brigo com ninguém.Fazemos tarefas em grupo” (Thiago, 2º ano/ 2º ciclo, 10 anos). Em contrapartida, este tipo de comportamento dos alunos não foi observado em relação às educadoras, visto que elas se mostraram sempre carinhosas e pacientes com eles. Os próprios alunos evidenciam o bom relacionamento que mantêm com as educadoras, como pode ser visto nas falas abaixo: “Ela [a professora] gosta de mim e eu gosto dela” (Bruno, 3º ano/ 1º ciclo, 9 anos). “Ela [a professora] é boa, ensina as tarefas e educação” (Flávia, 2º ano/ 2º ciclo, 10 anos). Notou-se, ainda, durante as observações em sala de aula, que as educadoras sempre tentavam expor aos seus alunos a importância deles respeitarem a individualidade dos colegas. Isto pôde ser observado em um momento da aula quando a professora A dirigiu-se a um aluno que havia criticado a forma que o colega fez a tarefa e falou-lhe que respeitasse o jeito de cada um realizar as atividades. Neste momento, a professora falou para o garoto que foi criticado, que não se preocupasse e que fizesse a atividade do jeito que sabia. Ele, então, deu andamento à atividade... Acredita-se que, talvez, o fato da professora A valorizar e respeitar as especificidades de cada discente contribua para o favorecimento destes em realizar as atividades escolares. Como diz Zabala (1996), o trabalho docente se vê facilitado quando existe na aula um clima de aceitação e respeito mútuo, em que errar seja mais um passo no processo de aprendizagem e em que cada um sinta- se desafiado e ao mesmo tempo com confiança para pedir ajuda. Assim, percebe-se que as condutas que as educadoras apresentaram, tal como foram percebidas pelos alunos, influenciaram também sobre a dedicação e o esforço destes em participar das atividades em sala. Isto porque o interesse do 21 professor pelos seus alunos e a forma como age com estes têm um impacto muito poderoso nos educandos, uma vez que esta relação afeta a percepção que eles têm do professor e, conseqüentemente, influencia em sua dedicação às tarefas de aprendizado (MORALES, 2000). Contudo, apesar de toda a dedicação das educadoras, deve-se salientar que nem sempre os resultados obtidos em relação às atividades realizadas em sala foram positivos, uma vez que houve situações em que a falta de materiais não permitiu a realização de algumas atividades, ocasionando briga pela posse desses materiais. Isto foi o que ocorreu, por exemplo, quando os alunos do 2º ano do 2º ciclo realizavam uma atividade de produção de texto a partir de recorte e colagem de frases. Neste momento, os discentes brigaram para conseguirem o material necessário para realizarem a tarefa, já que a quantidade existente não contemplava o número de alunos presentes na sala de aula. A escassez de material didático na escola e as implicações disso para trabalho pedagógico são ressaltadas por uma das professoras entrevistadas, quando diz que: “Nós professoras não temos materiais didáticos. Muitas vezes temos que tirar do nosso bolso para conseguirmos realizar o trabalho com os alunos” (professora B). Dessa forma, ficaram claros os entraves causados pela carência de materiais pedagógicos para a realização de um trabalho interessante e motivante em sala de aula. A respeito disso, Zabala (1996) enfatiza que quanto mais diversos e diversificados forem os materiais, maior a facilidade em elaborar propostas que atendam aos objetivos traçados para o alcance da aprendizagem. Outro aspecto que pode influenciar para não motivação dos alunos em sala de aula, expresso, especialmente, pela recusa para a realização das atividades escolares, é a falta de tempo das professoras para planejar situações didáticas, o que pode ser identificado na fala da seguinte educadora: “O professor está cansado da jornada triplicada de trabalho, não tem tempo para fazer atividades diferenciadas, muitas vezes sem 22 planejamento, só para cumprir horário, usa o livro para tapar buraco, ele faz mesmice, não com o objetivo de fazer uma atividade diferente, interessante, dinâmica... realidade é essa” (professora B). Isto foi possível de ser identificado a partir das observações em sala de aula em que se verificou a realização de atividades sem objetivo ou planejamento prévio. Assim, observou-se que para preencher o tempo vago, a professora A distribuiu folhas para o desenho livre, o que acarretou na dispersão da maioria dos discentes que abandonaram a atividade antes mesmo de concluí-la. Quanto a esta dispersão, deve-se considerar que a não adequação do tempo em relação ao tema trabalhado pela educadora, ocasionou em uma atividade desvinculada do objetivo proposto. A esse respeito, Zabala (1996) ressalta a necessidade do docente organizar o tempo de forma flexível, a ponto de permitir que este se adapte às tarefas que contemplem o conteúdo trabalhado. Outro fator que pode influenciar no interesse, ou melhor, desinteresse dos alunos em realizar a maioria das atividades na escola, diz respeito à família, tendo em vista que, segunda as educadoras, ela não atribui valor aos estudos dos filhos, nem oferece parceria no trabalho desenvolvido pelas professoras no espaço escolar. Isto é o que se pode observar nas falas abaixo: “É pra se contar a dedos os pais que são participativos, assim que... contribuem nesse processo de aprendizagem, você pede para conversar com o pai e o pai nem aparece... eu tenho alunos que nem conheço os pais” (professora A). “A família da nossa sociedade, principalmente a desta comunidade aqui, ela não prioriza a educação como algo de valor. O único valor que eles dão é a bolsa-escola, certo. Infelizmente, é a bolsa que motiva a família a manter eles aqui, a fazer eles vir com freqüência. Alguns alunos vêm machucados, doentes... eu tenho pais aqui que sinceramente são analfabetos, no geral, eles não participam, se há um passeio, não mandam seus filhos... (professora B). Há que se considerar os fatores que explicam a postura dos responsáveis pelos discentes, que muitas vezes, podem não estar preparados para auxiliar estes últimos na realização das tarefas; por não se sentirem envolvidos, pela escola, a participar da vida escolar de seus filhos, pela falta de tempo devido ao trabalho, ou até mesmo pelo baixo valor que atribuem aos estudos. 23 Ao falar da importância que os pais atribuem ao estudo, os alunos lembram que esses querem vê-los freqüentando assiduamente a escola, sendo a ausência, um bom motivo para a punição física ou psicológica. Isto talvez porque relacionem a qualidade da aprendizagem apenas à freqüência a esta instituição; independente da sua natureza ou do necessário auxílio em casa por parte dos pais aos filhos, como demonstram as falas a seguir: “[meus pais] Mandam eu estudar, se eu não ir pra o colégio eu apanho” (Sérgio, 3º ano/ 1º ciclo, 8 anos). “[meus pais] Dão importância aos meus estudos, dizendo que se eu estudar eu ganho um presente, se não, eu levo uma pisa” (Flávia, 2º ano/ 2º ciclo, 10 anos). Sabendo que a família exerce importante papel na criação de valores que os alunos podem atribuir aos estudos, pode-se pensar que, se para esta, valorizar os estudos é apenas atrelá-los a questões de freqüência, os discentes podem não reconhecer o verdadeiro objetivo do estudo para a aprendizagem; uma vez que motivar para aprendizagem implica ter presentes tanto os contextos da aprendizagem mais próximos como os mais distantes, desde o espaço físico até a família. (FITA, 2003). Isto posto percebe-se que os fatores apresentados comprometem de forma decisiva na motivação da aprendizagem escolar, tendo em vista que ela está relacionada a fatores intrínsecos e extrínsecos, sendo necessário considerar todos eles a partir de uma análise multifatorial, pois, dependendo da forma como são abordados nocontexto escolar, apresentam-se como elementos propiciadores ou inibidores da motivação e, conseqüentemente, da aprendizagem. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando-se que a motivação está atrelada a condicionantes pessoais e contextuais, verificou-se que as condições físicas oferecidas pela escola foi o 24 fator mais influente para a não motivação dos alunos, tendo em vista que interferiu no andamento das atividades propostas na sala de aula. Assim, não só o desfavorecimento do aspecto físico escolar, como também, a falta de materiais pedagógicos para a realização de atividades diversificadas, resultaram em uma maior freqüência das tarefas de cópia, sendo este, outro fator preponderante na (des) motivação dos alunos para a aprendizagem. Isto está de acordo com o que ressalta Bzuneck (2001) quando afirma que na motivação para a aprendizagem, há que se considerarem as características do âmbito escolar; já que estas contribuem na criação de um espaço eliciador de inventividade e fascinação necessárias a este processo. Faz-se necessário ressaltar o papel exercido pelas educadoras em direção à motivação dos alunos, já que, mesmo diante das limitações no que se refere ao espaço físico e à falta de materiais pedagógicos, procuram criar um ambiente mais interessante e estimulador para o envolvimento dos alunos com a aprendizagem. Este fato converge com a literatura adotada, ao passo que apresenta a figura do professor como responsável por organizar o ambiente pedagógico no intuito de facilitar a construção do conhecimento em um ambiente interessante e motivante (LIMA, 2000; HUERTAS, 2001). Dessa forma, conclui-se que entender a motivação para a aprendizagem exige considerar as características pessoais dos alunos, tendo em vista que a motivação se mostra diferente para cada indivíduo, à medida que possuem perspectivas de vida distintas; como também, o conjunto de fatores que se inter- relacionam no contexto escolar, ao passo que estes influenciam de forma significativa na motivação de cada aluno para a aprendizagem. REFERÊNCIAS ANDRÉ, M.E.D.A. Etnografia da Prática Escolar. São Paulo: Papirus, 1995. p. 27-31. 25 ASSMANN, H. Reencantar a educação. 7 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.251 p. BRAGHIROLLI, E.M. et al. Psicologia Geral. 9 ed. Porto Alegre: Vozes, 1990. p. 89-105. BUGELSKI, B.R. 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A Motivação do Aluno: contribuições da psicologia contemporânea. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. p. 78-112. 26 HUERTAS, J.A. Motivação e desmotivação: desafio para as professoras... Disponível em: <http//calvadosc3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/educar/ n. 27, p. 277-290; 2006. Acesso em: 06 jun. 2007. LEITE, C. Ensinar... e aprender. Construir Notícias, Pernambuco: Construir, v. 37, nov./dez. 2007. p.30-49. LIMA, L.M.S. Motivação em sala de aula: A mola propulsora da aprendizagem. In: SISTO, F.F; OLIVEIRA, G.C; FINI, L.D.T. (Orgs.) Leituras de psicologia para formação de professores. Rio de Janeiro: Vozes, 2000. p. 148-161. LUDKE, M; MARLY, A. A pesquisa em educação: Abordagens qualitativas. São Paulo: Epu, 1986. 99 p. MARINHO, A.P.; FIORELLI, J.O. Psicologia na fisioterapia. São Paulo: Ateneu, 2005. p. 83-114. MARTINI, M.L. Atribuições de causalidade, crenças gerais e orientações motivacionais de crianças brasileiras. 1999. 169f. 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Por quê? 4- Como pensa que a escola contribui para que o aluno se envolva com o estudo? 5- Em sua opinião, o que mais os alunos gostam em relação à escola? 28 6- O que pensa que eles menos gostam de fazer quando estão na escola? Por quê? 7- De que forma acredita que sua prática pedagógica pode favorecer o gosto do aluno pelo estudo? Por quê? 8- Como os alunos se relacionam com você? 9- Como é sua relação com os alunos? 10- Como a gestão se relaciona com os professores? 11- Como se sente quando está na escola? Por quê? 12- Como se sente como professora? Por quê? 13- O que pensa que deveria ser modificado na escola? Por quê? 14- Em sua opinião, que escola os alunos gostariam que existisse? Por quê? Anexo B: Entrevista com os alunos 1- Você gosta de estudar? Por quê? 2- Sua família dá importância aos estudos? 3- Você acha importante estudar? Por quê? 4- Você gosta de estar na escola? Por quê? 5- O que tem na escola que você gosta? 6- Como é sua relação com seus amigos da escola? 7- Como você se relaciona com sua professora? 8- E com a diretora da escola, como é sua relação? 9- O que você acha que sua professora deveria fazer na sala de aula, mas ela não faz? 10- Como é seu comportamento na escola? Por quê? 11-Se você pudesse mudar alguma coisa na sua escola, o que mudaria? 12-Como você acha que deveria ser sua escola? 13-Você acha que a escola pode contribuir para a realização dos seus sonhos? Como?
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