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Aula 18 Método Multiplicadores Lagrange (continuação) Na aula anterior introduzimos o Método dos Multiplicadores de Lagrange, que serve para maximizar/minimizar uma função restrita a um domínio do tipo fronteira, e demos um exemplo. Nesta aula continuaremos dando exemplos de aplicação deste método. Exemplo 1: Um fabricante de embalagens de leite (em forma de caixas re- tangulares) deseja fabricar as embalagens de modo a maximizar o volume do seu conteúdo. No entanto, ele deseja fixar o custo de cada embalagem em 2 reais, sendo que o custo das tampas superior e inferior é 4 reais por unidade de área e o custo das faces laterais é 3 reais por unidade de área. Calcule as dimensões e o volume das embalagens a serem fabricadas. Sejam x, y, z as dimensões de uma embalagem, como ilustrado na figura ao lado. O volume de uma tal embalagem é V = xyz. O custo de fab- ricar a tampa superior/inferior de uma tal embal- agem é 4xy. O custo de fabricar a face lateral da frente/trás de uma tal embalagem é 3xz. O custo de fabricar a face lateral da direita/esquerda de uma tal embalagem é 3yz. Portanto, o custo de fabricar uma tal embalagem é C = 8xy+6xz+6yz. O nosso problema pode então ser formulado: Maximizar : V = xyz Restrição : C = 8xy + 6xz + 6yz = 2 ou Maximizar : V = xyz Restrição : C˜ = 4xy + 3xz + 3yz = 1 Pela natureza do problema, existe solução. Vamos resolvê-lo usando o Método dos Multiplicadores de Lagrange (note que a restrição já está na forma para aplicar este método): { ∇V (x, y, z) = λ∇C˜(x, y, z) C˜(x, y, z) = 1 ⇔ yz = λ(4y + 3z) (1) xz = λ(4x+ 3z) (2) xy = λ(3x+ 3y) (3) 4xy + 3xz + 3yz = 1 (4) Salientamos que, por se tratarem de sistemas não-lineares, cada caso é um caso, não há um conjunto de técnicas que permitam resolver todos estes sistemas. Neste caso, funciona bem a ‘eliminação do parâmetro λ’. Como, neste caso, x, y, z > 0, todas as quantidades envolvidas no sistema são positivas, então uma 1 maneira simples de ‘eliminar o parâmetro λ’ é dividir as equações do sistema: (1) (2) : y x = 4y + 3z 4x+ 3z ⇔ 4xy + 3yz = 4xy + 3xz ⇔ y = x (2) (3) : z y = 4x+ 3z 3x+ 3y ⇔ 3xz + 3yz = 4xy + 3yz ⇔ z = 4 3 y ⇔ z = 4 3 x Botando esta informação na equação (4) obtemos 4x2 + 4x2 + 4x2 = 1 ⇔ x = 1 2 √ 3 , e portanto y = x = 1 2 √ 3 , z = 4 3 x = 2 3 √ 3 , que são as dimenões da embalagens a serem fabricadas. O volume de uma tal embalagem é V = xyz = 1 18 √ 3 . Exemplo 2: Calcule, se existirem, o máximo e mínimo absolutos de f(x, y, z) = 2x2 + y2 + z no domínio x2 + y2 + z2 = 1. Vamos usar o método dos multiplicadores de Lagrange (note que o domínio em questão já é do tipo fronteira, não tem interior, caso contrário teríamos de começar por determinar os pontos críticos de f no interior do domínio). Seja g(x, y, z) = x2 + y2 + z2. Note que ∇g(x, y, z) 6= ~0 em todos os pontos de S : g(x, y, z) = 1. Além disso, S é um subconjunto fechado e limitado de R3, e f é contínua, logo, pelo teorema de Weierstrass, f tem máximo e mínimo absolutos em S, e os pontos onde eles ocorrem têm, necessariamente, de ser soluções do sistema de Lagrange: { ∇f(x, y, z) = λ∇g(x, y, z) g(x, y, z) = 1 ⇔ 4x = λ2x (1) 2y = λ2y 1 = λ2z x2 + y2 + z2 = 1 De (1) tiramos que x = 0 ou λ = 2. • Se x = 0 então y = λy (2) 1 = λ2z (3) y2 + z2 = 1 (4) De (2) tiramos que y = 0 ou λ = 1. – Se y = 0 então de (4) tiramos z = ±1. Logo, obtemos os pontos (0, 0,±1) e f(0, 0,±1) = ±1. – Se λ = 1 então { z = 12 y2 + 14 = 1⇔ y = ± √ 3 2 . 2 Logo obtemos os pontos (0,± √ 3 2 , 1 2 ) e f(0,± √ 3 2 , 1 2 ) = 5 4 . • Se λ = 2 então do sistema original tiramos que 2y = 4y 1 = 4z x2 + y2 + z2 = 1 ⇔ y = 0 z = 14 x2 + 0 + 116 = 1⇔ x = ± √ 15 4 . Logo obtemos os pontos (± √ 15 4 , 0, 1 4 ) e f(± √ 15 4 , 0, 1 4 ) = 17 8 . Portanto, o máximo absoluto de f em S é 178 , e o mínimo absoluto de f em S é -1. Exemplo 3: Considere o plano P dado pela equação ax + by + cz = d, onde a, b, c, d são constantes reais e o vetor (a, b, c) é não-nulo. Seja (x0, y0, z0) um ponto fixado de R3 (não necessariamente pertencente ao plano). Determine o ponto do plano P à distância mínima do ponto (x0, y0, z0), e o valor desta distância mínima. É claro que existe um único ponto do plano à distância mínima do ponto (x0, y0, z0). Vamos usar o método dos multiplicadores de Lagrange para calcular este ponto. Pretendemos minimizar a distância de um ponto (x, y, z) ∈ P ao ponto (x0, y0, z0): D = √ (x− x0)2 + (y − y0)2 + (z − z0)2. Isto é equivalente a minimizar D2, o que torna as contas mais simples. Resumidamente: Minimizar : D˜(x, y, z) = (x− x0)2 + (y − y0)2 + (z − z0)2 Restrição : ax+ by + cz︸ ︷︷ ︸ g(x,y,z) = d Note que ∇g(x, y, z) = (a, b, c) 6= ~0. Usando multiplicadores de Lagrange, { ∇D˜(x, y, z) = λ∇g(x, y, z) g(x, y, z) = d ⇔ 2(x− x0) = λa 2(y − y0) = λb 2(z − z0) = λc ax+ by + cz = d ⇔ x = x0 + λ 2a (1) y = y0 + λ 2 b (2) z = z0 + λ 2 c (3) ax+ by + cz = d (4) . Botando (1), (2) e (3) em (4), obtemos ax0 + by0 + cz0 = d− λ 2 (a2 + b2 + c2) ⇔ λ 2 = d− ax0 − by0 − cz0 a2 + b2 + c2 . Botando este valor de λ em (1), (2) e (3) obtemos o ponto desejado: (x, y, z) = (x0, y0, z0) + d− ax0 − by0 − cz0 a2 + b2 + c2 (a, b, c), e a distância mínima correspondente D(x, y, z) = |ax0 + by0 + cz0 − d|√ a2 + b2 + c2 . 3 Multiplicadores de Lagrange com 2 restrições Suponha que queremos maximizar/minimizar uma função diferencíavel f(x, y, z) num domínio C dado pelas duas restrições g(x, y, z) = k e h(x, y, z) = c, onde g e h também são funções diferenciáveis. Note que o domínio C é uma curva em R3 dada pela interseção das 2 superfícies de nível S1 : g(x, y, z) = k e S2 : h(x, y, z) = c. Resumidamente, queremos resolver o seguinte problema: Max/Min : f(x, y, z) 2 Restrições : g(x, y, z) = k e h(x, y, z) = c (curva C em R3) Assumindo que tal máximo/mínimo existe (por exemplo, se C fôr um con- junto limitado e fechado), como calculá-los? Como anteriormente, ∇f(x, y, z) deverá ser um vetor normal a C. Sabemos que ∇g(x, y, z), se não-nulo, é um vetor normal à superfície de nível S1 : g(x, y, z) = k, logo, como C ⊂ S1, ∇g(x, y, z) também é normal a C. Do mesmo modo, ∇h(x, y, z), se não- nulo, é um vetor normal à superfície de nível S2 : h(x, y, z) = c, logo, como C ⊂ S2, ∇h(x, y, z) também é normal a C. Se os dois vetores ∇g(x, y, z) e ∇h(x, y, z) forem linearmente independentes, que é equivalente a dizer que ∇g(x, y, z)×∇h(x, y, z) 6= ~0, então estes 2 vetores geram o plano perpendicular a C, no ponto (x, y, z) (note que C é uma curva em R3, logo o que é tangente é uma reta, e o que é perpendicular é um plano). Deste modo, ∇f(x, y, z) per- pendicular a C significa que ∇f(x, y, z) pertence ao plano perpendicular a C que é o plano gerado pelos 2 vetores ∇g(x, y, z) e ∇h(x, y, z): Mult. Lagrange 2 Restrições ∇f(x, y, z) = λ∇g(x, y, z) + µ∇h(x, y, z) g(x, y, z) = k h(x, y, z) = c se ∇g(x, y, z)×∇h(x, y, z) 6= ~0. Neste sistema λ e µ são chamados de multipli- cadores de Lagrange, e são para serem considerados 2 incógnitas. Exemplo 4: Calcule, se existir, o máximo da função f(x, y, z) = x + y + z na curva C obtida pela interseção das 2 superfícies z = x2 + y2 e x+ z = 1. Neste caso daria para parametrizar a curva C e reduzir o problema a 1 varíavel (veja Exercício 2). Em geral, parametrizar curvas dadas pela interseção de 2 superfícies é um problema difícil. O método de multiplicadores de La- grange permite que não tenhamos de parametrizar C (isto é, não necessitamos de resolver as equações que dão C). Primeiro observamos que C é um conjuntolimitado e fechado (e f é con- tínua), logo, pelo teorema de Weierstrass, existem o máximo e mínimo de f em C. Sejam g(x, y, z) = x2 + y2 − z e h(x, y, z) = x + z. Deixamos para o leitor verificar que, em C, os vetores ∇g(x, y, z) e ∇h(x, y, z) são linearmente 4 independentes. Então deveremos resolver: ∇f(x, y, z) = λ∇g(x, y, z) + µ∇h(x, y, z) g(x, y, z) = 0 h(x, y, z) = 1 ⇔ ∂f ∂x = λ ∂g ∂x + µ ∂h ∂x ∂f ∂y = λ ∂g ∂y + µ ∂h ∂y ∂f ∂z = λ ∂g ∂z + µ ∂h ∂z g(x, y, z) = 0 h(x, y, z) = 1 ⇔ 1 = λ2x+ µ 1 = λ2y (em particular λ 6= 0) 1 = −λ+ µ z = x2 + y2 x+ z = 1 ⇔ 1 = λ2x+ 1 + λ ⇔ x = − 12 y = 12λ µ = 1 + λ z = x2 + y2 x+ z = 1 ⇔ z = 1 + 12 = 32 ⇒ x = − 12 z = 32 z = x2 + y2 ⇔ y2 = 54 ⇔ y = ± √ 5 2 Obtemos os pontos (− 12 ,± √ 5 2 , 3 2 ) (um é o ponto de mínimo, o outro é o ponto de máximo). Como f(− 12 , √ 5 2 , 3 2 ) = √ 5+2 2 e f(− 12 ,− √ 5 2 , 3 2 ) = 2−√5 2 , o maior valor de f em C é √ 5+2 2 . Exercício 1: (Exercício tirado do texto do livro da Diomara et al.) Encontre as dimensões da caixa retangular de maior volume dentro do elipsóide x2 9 + y2 4 + z 2 = 1, cujas arestas sejam paralelas aos eixos coordenados. Sugestão: Use multiplicadores de Lagrange, e use a técnica de ‘eliminação do parâmetro λ’, assim como no Exemplo 1. Exercício 2: (a) Parametrize a curva C dada no Exemplo 4. (b) Use a parametrização de C para encontrar o maior valor de f(x, y, z) = x+ y + z restrita a C. (Compare com o resultado encontrado no Exemplo 4.) 5
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