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AD Africanas 2

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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Universidade Federal Fluminense
Curso de Licenciatura em Letras – UFF / CEDERJ
Disciplina: Literaturas Africanas de Língua Portuguesa II
Coordenador:
AD 1 – 2018. 1
Aluno: 
Matrícula: 
Polo: 
Nota: _________
Para que seja estabelecido um estudo sobre as narrativas africanas de língua portuguesa a partir da análise crítica dos eixos temáticos abordados nas obras apresentadas, é preciso que tomemos como ponto de partida a realidade sociopolítica, cultural e histórica do período colonial português na África. 
Um dos aspectos mais importantes para os nossos estudos é a definição de que dentro dos valores e da cultura africana, a palavra falada é dotada de uma força superior capaz de transcender a importância da escrita, tida pelo povo africano como mera representação do poder criador, transformador e até destruidor da oralidade – responsável pela harmonia de todas as coisas. 
Desta forma, o colonizador português – maior interessado em dizimar a capacidade cultural do povo a ser dominado – lança mão de um instrumento poderosíssimo de aculturação e posterior dominação política: a língua. A imposição da língua portuguesa sobre as tradições orais acontecia sob o discurso da incapacidade de registros escritos pelo povo africano. A partir dessa perspectiva, percebe-se que as relações conflitantes entre oralidade e escrita, abordadas nas obras de Alfredo Troni e Assis Júnior, são, na verdade, uma representação metafórica da oposição colonizado X colonizador, estabelecendo-se uma linha tênue e, neste caso, quase que indissociável entre as duas dicotomias.
Partindo da necessidade de resgate e afirmação da cultura africana, os escritores trazem para si o desafio de traduzir a palavra africana para textos em língua portuguesa como forma de luta e de resistência. Na obra O segredo da morta, isso fica evidenciado na medida em que alguns recursos da oralidade como provérbios e expressões populares angolanas são incorporados à escrita. A figura da mulher africana é explorada como metáfora de resistência da terra africana ao colonizador europeu. Mais uma vez percebe-se a relação estabelecida entre mulher, terra e colonizador. Ao ultrapassar as barreiras impostas pela sociedade patriarcal, a protagonista de O segredo da morta, Elmira, tal como a rainha Ginga, atuam como representação da existência soberana e autônoma do povo africano, uma representação um pouco distinta daquela tomada por Assis Júnior, em Nga Muturi, que lança mão da figura da mulher a partir da sua posição de subalternidade social perante o homem – representação do colonizador.

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