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FACULDADE DE DIREITO DA FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO CREDENCIADA PELA PORTARIA MEC N.º 3.640, DE 17/10/2005 – DUO DE 20/10/2005 CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO AUTORIIZADDO PELA PORTARIA MECN.º846, DE 4 DE ABRIL DE 2006 – DUO DE 05/04/2006 DIREITO CONSTITUCIONAL I 1 Introdução ao Direito Constitucional Direito Constitucional é um ramo do Direito Público (porque contém regras onde prevalece o interesse público sobre o privado) Direito Constitucional é um conjunto sistematizado de normas coercitíveis que estruturam o Estado, estabelecem os direitos e garantias de sua população e limitam os poderes dos governantes. Constitucionalismo Constitucionalismo significa o caminho percorrido pelas leis constitucionais desde a antiguidade até a atualidade.Foi na antiguidade que Platão e Aristóteles desenvolveram a teoria de limitação dos poderes dos governantes por uma lei suprema.Na idade moderna, com o advento do Iluminismo (séculos XVII e XVIII), surge a base do constitucionalismo através de um movimento ideológico e político para destruir o absolutismo monárquico e estabelecer normas jurídicas racionais, obrigatórias para governantes e governados.Foi no século XVIII que Montesquieu consagrou de vez a Teoria da Tripartição dos Poderes (legislativo, executivo e judiciário) concomitante à Teoria de Freios e Contrapesos.Essas teorias foram incorporadas pela Declaração dos Direitos do Homem e na Constituição de Filadélfia, espalhando-se pelo mundo democrático. Poder Constituinte Poder Constituinte Poder Constituinte é aquele que um povo tem para elaborar a sua Constituição, diferente do Poder Constituído que é todo aquele que o constituinte institui na Constituição, ou seja, os poderes constituídos são o Legislativo (federal, estadual ou municipal), Executivo (federal, estadual ou municipal) e o Judiciário. O poder constituinte divide-se em poder constituinte originário e poder constituinte derivado (reformador e decorrente). Poder Constituinte Derivado Reformador Poder constituinte derivado reformador é o mecanismo que permite a atualização da Constituição sempre que for conveniente, alterando-o quando necessário.Trata- se de um poder constituído pelo poder constituinte originário, por isto também é conhecido com poder constituído, instituído ou de segundo grau. FACULDADE DE DIREITO DA FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO CREDENCIADA PELA PORTARIA MEC N.º 3.640, DE 17/10/2005 – DUO DE 20/10/2005 CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO AUTORIIZADDO PELA PORTARIA MECN.º846, DE 4 DE ABRIL DE 2006 – DUO DE 05/04/2006 DIREITO CONSTITUCIONAL I 2 O titular do poder constituinte derivado é o povo, ocorrendo, no Estado Democrático, através dos seus representantes (deputados e senadores) reunidos no Congresso Nacional. O poder constituinte derivado reformador apresenta como características ser condicionado, secundário e limitado (limitações formaisou procedimentais - art. 60, I, II, III e parágrafos 2º, 3ºe 5º; circunstanciais - art. 60, parágrafo 1º; e materiaisou substanciais - são as chamadas cláusulas pétreas, que podem ser expressa (art. 60, parágrafo 4º,incisos) e implícitas (como por exemplo: art. 60, incisos e parágrafos, arts. 1º, 3º e 4º). No que se refere às limitações temporais, há divergências quanto a sua existência na atual Constituição brasileira, mas a doutrina majoritária não as tem reconhecido.Lembre-se que essa limitação já encontrou existência expressa na história do constitucionalismo brasileiro: a Constituição de 1824 previa a impossibilidade de qualquer reforma nos primeiros quatro anos após a sua publicação. Poder Constituinte Derivado Decorrente Poder constituinte derivado decorrente é o mecanismo que permite a elaboração da Constituição Estadual, autônoma. Trata-se, também, de um poder constituído pelo poder constituinte originário, conforme o art. 25, caput, da Constituição Federal, e o art. 11, do ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias). O titular do poder constituinte derivado é o povo manifestando-se, no Estado Democrático, através dos seus representantes (deputados estaduais) reunidos na Assembléia Legislativa estadual. A supremacia da Constituição Teoria da Supremacia Constitucional (Baseia-se no princípio da unidade da Constituição.) A lei constitucional é superior a lei comum porque as leis comuns (que estão fora da Constituição, por isso denominadas extraconstitucionais, infraconstitucionais ou ordinárias) decorrem e encontram validade na Constituição. Hans Kelsen, em sua Teoria Pura do Direito, escalonou as normas jurídicas sob a forma de uma pirâmide, tendo no topo a Constituição e na base as leis infraconstitucionais, ou seja, as leis de menor hierarquia quando comparadas com as leis constitucionais. Assim, a Constituição é norma hierarquicamente superior a todas as demais normas e, portanto, as normas que contrariarem o disposto na Constituição serão consideradas inconstitucionais. A superioridade da Constituição de um país decorre FACULDADE DE DIREITO DA FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO CREDENCIADA PELA PORTARIA MEC N.º 3.640, DE 17/10/2005 – DUO DE 20/10/2005 CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO AUTORIIZADDO PELA PORTARIA MECN.º846, DE 4 DE ABRIL DE 2006 – DUO DE 05/04/2006 DIREITO CONSTITUCIONAL I 3 do fato de ser obra do poder constituinte originário enquanto as leis comuns são obra de um poder instituído. 5.2. O Poder Constituinte Originário: a elaboração da Constituição Poder constituinte originário é o que cria o Estado e estabelece sua forma de estado, de governo e sistema de governo, elaborando a sua Constituição, rompendo com a ordem jurídica anterior, submetendo a nova ordem jurídica ao seu comando. Foi Siéyès, abade francês do século XVIII, que afirmou que o poder para criar uma Constituição Soberana pertencia ao povo (na obra: “O que é o Terceiro Estado?”). A partir de então, considerou-se o titular do poder constituinte originário o povo, que, no Estado Democrático, também detém o seu exercício. Esse exercício é um direito inalienável, imprescritível e irrenunciável. Quando a Constituição é elaborada por representantes do povo (chamados constituintes) reunidos para este fim em uma Assembleia Nacional Constituinte, diz-se que essa Constituição foi promulgada. Caso contrário, ela terá sido outorgada. Conforme a doutrina majoritária e o STF, o poder constituinte originário apresenta como características ser inicial, soberano, ilimitado e incondicionado. Existe uma doutrina minoritária nacional, seguidora do alemão Otto Bachoff, que, baseada no jusnaturalismo, reconhece nos direitos humanos uma vontade supranacional ou suprapositiva, que se impõe ao direito nacional (direito de um determinado país), inclusive sobre o exercício do poder constituinte originário, limitando-o. A crítica do Poder Constituinte Originário: Poder Constituinte Originário Formal e Poder Constituinte Originário Material Também é denominado de poder genuíno ou poder de 1º grau ou poder inaugural. É aquele capaz de estabelecer uma nova ordem constitucional, isto é, de dar conformação nova ao Estado, rompendo com a ordem constitucional anterior. Poder Constituinte Originário Histórico: É aquele capaz de editar a primeira Constituição do Estado, isto é, de estruturar pela primeira vez o Estado. Poder Constituinte Originário Revolucionário: São todos aqueles posteriores ao histórico, que rompem com a ordem constitucional anterior e instauram uma nova. FACULDADE DE DIREITO DA FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO CREDENCIADA PELA PORTARIA MEC N.º 3.640, DE 17/10/2005 – DUO DE 20/10/2005 CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO AUTORIIZADDO PELA PORTARIA MECN.º846,DE 4 DE ABRIL DE 2006 – DUO DE 05/04/2006 DIREITO CONSTITUCIONAL I 4 Quanto à matéria: o Poder Constituinte Originário: Autônomo. Não está subordinado a qualquer limitação material. Segundo os adeptos do positivismo (aqueles que negam a existência do direito natural), o poder constituinte, quanto à matéria, é soberano (ilimitado), pois não se submete a nenhuma regra do direito positivo. Para os adeptos do jus naturalismo (aqueles que afirmam a existência de direitos inerentes a condição humana), o poder constituinte originário é limitado em razão do direito natural. Assim, sempre haverá limites decorrentes de uma consciência ética ou de direito natural. Ser ilimitado significa autônomo em razão do direito positivo. o Poder Constituinte Derivado: Subordinado. O poder constituinte originário estabeleceu limites de ordem material ao poder reformador, isto é, as cláusulas pétreas. - Quanto à forma: o Poder Constituinte Originário: Incondicionado. Seu exercício não está submetido à forma, pois é ele quem delibera de que maneira o faz. o Poder Constituinte Derivado: Condicionado. Seu exercício é submisso à forma estabelecida pelo poder constituinte originário (limitações formais, procedimentais e circunstanciais). O Poder Constituinte Derivado: a reforma da Constituição Poder Constituinte Derivado Reformador Poder constituinte derivado reformador é o mecanismo que permite a atualização da Constituição sempre que for conveniente, alterando-o quando necessário. Trata-se de um poder constituído pelo poder constituinte originário, por isto também é conhecido com poder constituído, instituído ou de segundo grau. O titular do poder constituinte derivado é o povo, ocorrendo, no Estado Democrático, através dos seus representantes (deputados e senadores) reunidos no Congresso Nacional. O poder constituinte derivado reformador apresenta como características ser condicionado, secundário e limitado (limitações formais ou procedimentais - art. 60, I, II, III e parágrafos 2º, 3º e 5º; circunstanciais - art. 60, parágrafo 1º; e materiais ou substanciais - são as chamadas cláusulas pétreas, que podem ser expressa (art. 60, parágrafo 4º, incisos) e implícitas (como por exemplo: art. 60, incisos e parágrafos, arts. 1º, 3º e 4º). No que se refere às limitações temporais, há divergências quanto a sua existência na atual Constituição brasileira, mas a doutrina majoritária não as tem reconhecido. FACULDADE DE DIREITO DA FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO CREDENCIADA PELA PORTARIA MEC N.º 3.640, DE 17/10/2005 – DUO DE 20/10/2005 CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO AUTORIIZADDO PELA PORTARIA MECN.º846, DE 4 DE ABRIL DE 2006 – DUO DE 05/04/2006 DIREITO CONSTITUCIONAL I 5 Lembre-se que essa limitação já encontrou existência expressa na história do constitucionalismo brasileiro: a Constituição de 1824 previa a impossibilidade de qualquer reforma nos primeiros quatro anos após a sua publicação. Poder Constituinte Derivado Decorrente Poder constituinte derivado decorrente é o mecanismo que permite a elaboração da Constituição Estadual, autônoma. Trata-se, também, de um poder constituído pelo poder constituinte originário, conforme o art. 25, caput, da Constituição Federal, e o art. 11, do ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias). O titular do poder constituinte derivado é o povo manifestando-se, no Estado Democrático, através dos seus representantes (deputados estaduais) reunidos na Assembléia Legislativa estadual. Eficácia e Aplicabilidade das Normas Constitucionais Nossa melhor doutrina, como regra geral, ensina que todas as normas constitucionais apresentam eficácia, sendo que algumas jurídica e social e outras apenas eficácia jurídica. Para SILVA8, as normas constitucionais podem ser de eficácia plena, limitada, contida e, por nós acrescida, temos as exauridas, sendo referida matéria acolhida, pela mais alta corte de nosso Estado, qual seja , o Supremo Tribunal Federal (STF). Normas de eficácia jurídica plena e aplicabilidade direta, imediata, integral são todas aquelas normas constitucionais que desde o momento em que está em vigor, estão aptas a produzir todos os seus reais, totais e integrais efeitos, independentemente qualquer norma de natureza integrativa, ou seja, infraconstitucionais. As normas Constitucionais de eficácia limitadas, também denominadas de aplicabilidade mediata, deferida e reduzida, são aquelas que desde o momento em que entram em vigor, apesar de sua existência material, não possuem aplicabilidade prática, por conseguinte, são destituídas de eficácia por não se encontrarem regulamentadas quanto ao seu campo e forma de atuação social, necessitando, para tanto, de norma integrativa de natureza infraconstitucional para que venham a ser produzidos seus reais, totais e cabais efeitos jurídicos pretendidos. De outro lado temos as normas constitucionais de eficácia e aplicabilidade contidas, que são aquelas que tais como as de eficácia e aplicabilidade plenas surtem seus reais, totais e cabais efeitos desde o momento em que entram em vigor, não necessitando de norma integrativa de natureza infraconstitucional para que venha a produzir efeitos na seara jurídica. Entretanto poderá haver norma infralegal, limitando o campo de atuação, inicialmente assegurado pelo legislador, seja ele constituinte originário e/ou derivado. FACULDADE DE DIREITO DA FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO CREDENCIADA PELA PORTARIA MEC N.º 3.640, DE 17/10/2005 – DUO DE 20/10/2005 CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO AUTORIIZADDO PELA PORTARIA MECN.º846, DE 4 DE ABRIL DE 2006 – DUO DE 05/04/2006 DIREITO CONSTITUCIONAL I 6 Temos, também e, não poderíamos deixar de indicá-las, as normas constitucionais de eficácia e aplicabilidade exauridas, como sendo aquelas que por meio do alcance de seu objetivo material constitucionalizado, deixam de produzir seus reais, totais e cabais efeitos, sendo, de modo geral, realizadas apenas uma vez. Agora, surgem os seguintes e inquietantes questionamentos, senão vejamos: por meio desse entendimento, não seria uma forma de se alijar direitos e garantias até então “assegurados aos indivíduos”, frente às normas, em sua essência, de eficácia e aplicabilidade limitadas? Não seria uma maneira demagoga, populista e cartesiana de se “assegurar, resguardar e tutelar direitos” não os assegurando, resguardando e tutelando de fato? Não seria uma forma, prever sua existência, mas por outro lado se frustra sua aplicabilidade e eficácia? Esse é um questionamento de grande repercussão que até mesmo os Tribunais Superiores se furtam a abordar com a seriedade e tenacidade que se faz necessária. Entretanto, nós no presente exposição temos a humilde pretensão em tentar desmistificar o embate jurídico, tecendo comentários fundamentados com o intuito de se verem implementadas as normas constitucionais de eficácia limitadas. Problematização O direito vive num processo de constante mudança, adequando-se às necessidades das pessoas, devendo seguir os passos da sociedade de acordo os seus anseios, proporcionando a melhor maneira de colocar em harmonia os conflitos existentes em seu contexto, de estruturar as relações sociais e as relações entre particulares e o poder público, e por fim dar soluções e posicionamentos à própria mudança natural da sociedade, servindo como fator influenciado e influenciador das relações sócias. Destacamos a problematização, em suas diversificadas direções possíveis, da norma constitucional que estabelece ser “admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não intentada no prazo legal”. Pelo motivo de semelhante ação penal de iniciativa privada ter sido inserida no Título dos direitos e garantiasfundamentais, ao lado de inúmeras garantias processuais e procedimentais atribuídas essencialmente ao réu, ao menos no que diz respeito ao processo de natureza penal. Cumpre identificar a justificação da inserção de uma ação penal como garantia individual fundamental; identificar a legitimidade para a iniciativa particular; identificar, no âmbito procedimental, o caráter essencial da intervenção estatal penal, no plano de uma justificação racional, conforme o modelo jurídico adotado. Destarte a primeira parte do trabalho cuidará de justificar, no contexto de um Estado Democrático de Direito, a existência de uma garantia individual representada pela exigência de tutela penal de determinados direitos e suas conseqüências no âmbito de uma teoria do processo penal, onde terá duas definições temáticas distintas. Quanto à segunda parte se destinará à aplicação do modelo processual penal assim configurado, no campo de sua mais específica realidade. Doutrina tradicional ou norte-americana FACULDADE DE DIREITO DA FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO CREDENCIADA PELA PORTARIA MEC N.º 3.640, DE 17/10/2005 – DUO DE 20/10/2005 CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO AUTORIIZADDO PELA PORTARIA MECN.º846, DE 4 DE ABRIL DE 2006 – DUO DE 05/04/2006 DIREITO CONSTITUCIONAL I 7 O sistema norte-americano O modelo norte-americano de controle de constitucionalidade caracteriza-se por permitir que qualquer juiz ou tribunal, ante um caso concreto, possa analisar a compatibilidade das leis e dos atos do poder público em face da Constituição. É um controle puramente judicial (reservado apenas aos órgãos do Poder Judiciário) difuso (todos os órgãos do poder judiciário podem exercê-lo), incidental ou indireto (só se realiza dentro de um processo judicial em curso, como uma questão prejudicial ao mérito) e subjetivo (desenvolvido em razão de um conflito de interesses subjetivos postos em juízo). Não obstante qualquer juízo ou tribunal ter a faculdade jurídica de declarar a inconstitucionalidade no caso concreto, é importante ressaltar que os pronunciamentos de Suprema Corte tomam repercussão especial, sobretudo diante do princípio do stare decisis. Por este princípio, as decisões e precedentes da Suprema Corte Norte-Americana têm eficácia vinculante, transformando-se na última e definitiva palavra sobre as questões constitucionais naquele país[5]. No sistema norte-americano não existe um processo específico para o controle de constitucionalidade (não existe uma “ADI”, por exemplo). O poder dos juízes se manifesta exclusivamente dentro de um processo civil “comum” quando a questão constitucional é suscitada por quaisquer das partes. Como leciona o professor Ivo Dantas, a questão é resolvida “ad casum”. Doutrina moderna ou italiana Doutrina moderna italiana – é a corrente que mais tem estudado esta matéria neste século. Se divide em duas correntes: - a primeira fundamenta o DI na forma que torna obrigatório o costume internacional. Capitaneada por Ziccardi; - a segunda fundamenta o DI em um substrato social. Capitaneada por Quadri, constata haver na vida internacional um direito e uma autoridade. Ou seja, os sujeitos desta comunidade têm sobre eles um corpo social, que é a autoridade (advinda de sua própria vontade). Inconstitucionalidade por Omissão A omissão normativa é um dos maiores desafios propostos a operacionalidade do texto constitucional, gerando uma descrença no inconsciente coletivo acerca da FACULDADE DE DIREITO DA FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO CREDENCIADA PELA PORTARIA MEC N.º 3.640, DE 17/10/2005 – DUO DE 20/10/2005 CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO AUTORIIZADDO PELA PORTARIA MECN.º846, DE 4 DE ABRIL DE 2006 – DUO DE 05/04/2006 DIREITO CONSTITUCIONAL I 8 efetividade da norma constitucional e, conseqüentemente, de todas as instituições republicanas. Combater tal vício omissivo é tarefa que se impõe para a consolidação do Estado Democrático de Direito. Dentro desse contexto, ressentia-se a ausência de uma norma regulamentadora do processo de tramitação de uma ação direta de inconstitucionalidade por omissão. Tal ausência foi resolvida com a edição da Lei supracitada que, inclusive, trouxe algumas inovações significativas acerca desse instrumento de controle que foi “importado” por nós da Constituição Lusitana de 1976. A Repartição das Competências na Federação Brasileira Introdução Conforme anteriormente delimitado, o conceito de autonomia federativa pressupõe entes políticos distintos, convivendo numa mesma base territorial, e todos eles capazes de estabelecer comandos normativos. Assim, em decorrência da complexidade do Estado Federal, torna-se latente a necessidade de o pacto celebrado para a sua constituição prever aos integrantes da federação a repartição de suas competências, pois, se isto não ocorresse teríamos constantes conflitos de competências entre os tais entes. Conforme o pensamento de José Afonso da Silva, “A autonomia das entidades federativas pressupõe a repartição de competências para o exercício e desenvolvimento de sua atividade normativa. Esta distribuição constitucional de poderes é o ponto nuclear da noção de Estado Federal”. Mônica Herman Caggiano, citando Karl Loewenstein, salienta que “ingressa- se, a esse passo, num dos mais delicados segmentos do panorama federativo, porquanto o implemento do processo federativo encontra-se na dependência direta da repartição do poder entre as instituições políticas. Nesse sentido já se manifestou Karl Loewenstein, registrando que a partilha de competências entre os entes federados traduz “the key to the interfederal power structure”. É que, nesse território pode-se identificar a natureza do relacionamento estabelecido entre a autoridade federal e os Estados-membros, bem como o grau de autonomia destes e os conseqüentes limites de ingerência do Poder central.” É de se observar que a técnica de repartição de competências depende da natureza e da história de cada país. Em alguns a descentralização é maior, como é exemplo o federalismo por agregação, onde se estabelece aos entes regionais competências mais amplas, como ocorre federação norte-americana. Em outras, a centralização é maior, como é exemplo o federalismo por desagregação, onde o ente central recebe a maior parcela de poderes, como é o caso da federação brasileira. FACULDADE DE DIREITO DA FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO CREDENCIADA PELA PORTARIA MEC N.º 3.640, DE 17/10/2005 – DUO DE 20/10/2005 CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO AUTORIIZADDO PELA PORTARIA MECN.º846, DE 4 DE ABRIL DE 2006 – DUO DE 05/04/2006 DIREITO CONSTITUCIONAL I 9 Aspectos Gerais da Federação Brasileira A forma federal do Estado tem, modernamente, inspiração norte-americana, embora lembre Karl Loewenstein [2] como origem, bem mais remota, as Ligas ou Sinoikias délica, anfictiônica, helênica e Acaiana na Grécia Antiga, dentre outras. Esse modo de ser do Estado tem como consectário o desatrelamento recíproco dos entes políticos participantes, de modo a que sejam, a um só tempo, a diversidade e a unidade, no que poderia constituir-se num paradoxo, não fosse a maturação experimentada pelo Estado Federal e sua eficácia, ao conjugar em seus partícipes, a autonomia e a mútua dependência. Esse binômio, aparentemente inconciliável, será fundamental para o melhor discernimento do regime constitucional adotado pela Constituição Federal, no tocante às matérias postas ao legislador nacional, em sede das chamadas normas gerais de direito tributário. De fato, conhecem-se, em doutrina, duas grandes formas assumidas pelos Estados Federais, em modalidades a que se tem denominado de Estados de Federação dualista ou clássicae Estados de Federação Cooperativa. No primeiro caso, o do Federalismo Dual, existe uma rígida repartição de competências, do tipo horizontal. Vale dizer, cada ente federativo recebe da constituição um rol exaustivo de competências. Inexistiria, em regimes assim, lugar para as chamadas competências residuais, remanescentes, consagradas entre nós, por exemplo, nas disciplinas contidas nos artigos 24, 146 e 155, § 2º, XII, da Constituição Federal de 1988. Com tal técnica, marcada pela repartição estanque de competências, fortalece-se a autonomia dos entes parciais, tolhendo uma superposição do ente mais abrangente. Este foi o modo de ser adotado pela federação americana até o advento da grande depressão de 1930. A partir daí, por necessidade da implementação de uma política mais vigorosa de expansão dos investimentos públicos, para fazer frente à drástica retração da atividade econômica, entendeu-se urgente o municiamento do poder central – entenda-se União federal – a ele se outorgando poderes de emissão de normas gerais em determinadas matérias. Com o fortalecimento da estrutura central ganha-se efetivamente em agilidade, no tocante às políticas públicas – macroeconômicas, macro-sociais - pois que além das competências próprias, dispõe a União da chamada competência concorrente, por meio da qual edita normas gerais sobre assuntos previamente delimitados. Karl Loewenstein [3] lembra ser a aglutinação de poderes em mãos da União, uma tendência do Estado Federal Moderno, acompanhada do crescimento do intervencionismo em detrimento do liberalismo de outros tempos. FACULDADE DE DIREITO DA FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO CREDENCIADA PELA PORTARIA MEC N.º 3.640, DE 17/10/2005 – DUO DE 20/10/2005 CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO AUTORIIZADDO PELA PORTARIA MECN.º846, DE 4 DE ABRIL DE 2006 – DUO DE 05/04/2006 DIREITO CONSTITUCIONAL I 10 A Repartição das Competências na Federação Brasileira A federação repousa exatamente sobre o conceito de autonomia, pois que em nome da unidade do Estado, outorga-se, em nível interno, a especial prerrogativa de que os entes políticos venham a determinar suas ações, sempre segundo os limites constitucionalmente postos. A extensão dessa autonomia é que comporta graus, variáveis quase que de ordenamento para ordenamento, no ponto em que se albergue uma ou outra das formas federais acima delineadas. Tais caracteres, relativos à autonomia dos entes políticos, transparecem nítidos em vários pontos da Constituição Federal de 1988 e, especialmente, nos termos dos artigos 1o e 18, cuja redação assim se tem: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.
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