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www.princexml.com Prince - Personal Edition This document was created with Prince, a great way of getting web content onto paper. Fundamentos em Pato- logia Bucal Prof. Dr. Renato Rossi Jr Rossi Jr, Renato Fundamentos em Patologia Bucal / Renato Rossi Junior: -- São Paulo: 2015 227 p. Editora C.B.I., São Paulo, 2015 227 p. Editora C.B.I., São Paulo, 2015 Cárie Dentária Reação do Complexo Dentina-polpa as Agressões Patologia Periodontal Cistos do Complexo Maxilomandibular Tumores Odontogênicos Lesões Proliferativas não neoplásicas Patologia das Glândulas Salivares Lesões Cancerizáveis Estomatodermatopatologia Patologia Óssea Tumores Benignos Tumores Malignos Dedico este livro aos meus netos Luisa, Pietro, Arthur, Sophia e Lara razão de seguir em frente no difícil cam- inho da Ciência. Cárie Dentária Conceito e etiologia da cárie dentária A maneira como se conceitua a cárie dentária e seus fatores eti- ológicos determina a escolha para estabelecer a estratégia pre- ventiva de diagnóstico e tratamento. É aceito e estabelecido universalmente que a cárie dentária é uma doença multifatori- al, infecciosa, transmissível e dieta dependente, que produz uma desmineralização das estruturas dentárias. Com essa definição, por sua complexidade, torna-se muito difícil compreendê-la completamente. Esse conceito de cárie é embasado na interação de fatores como dente suscetível, microrganismo e dieta determinando a doença cárie, que foi ilustrada pelo Diagrama de Keyes. NEWBRUM (1988), acrescentou um quarto fator – o tempo – que deve ser considerado em qualquer discussão sobre a etiolo- gia da cárie. FEJERSKOW e MANJI (1990) demonstraram as relações entre o biofilme e os múltiplos determinantes biológi- cos que influenciam a possibilidade de desenvolvimento da lesão de cárie. Diagrama proposto por Newbrun (1978) para explicar os fatores etiológicos determinantes da doença cárie. Fatores etiológicos Para que possamos instituir medidas efetivas para o controle da doença cárie, se faz necessária a compreensão dos seus fatores etiológicos. O primeiro modelo proposto por Keyes (1960) para explicar a doença era um modelo essencialmente ecológico, no qual a cárie seria o produto da interação entre os fatores de- terminantes: hospedeiro, substrato (dieta cariogênica) e mi- crorganismos (BRAGA et al., 2008). 7/229 Fatores determinantes 1. Hospedeiro: o hospedeiro compreende os dentes e a saliva. O dente é o local onde a doença se manifesta. Algumas con- dições dos elementos dentários os tornam mais suscetíveis à doença cárie, tais como a morfologia dental, que compreende anomalias na forma (fusão, geminação) e a macromorfologia (dentes posteriores que possuem saliências e reentrâncias que dificultam o controle do biofilme). A saliva possui capacidade tampão pela presença de íons de bi- carbonato e fosfato que neutralizam os ácidos produzidos pelos microrganismos cariogênicos. Ela também tem a função de autolavagem e limpeza das superfícies dentárias e possui ação antibacteriana por conter proteínas e imunoglobulinas que atuam contra os microrganismos cariogênicos (BRAGA, et al., 2008). 2. Microrganismos: a cavidade bucal possui inúmeras espécies de microrganismos. Apesar da diversidade microbiana, poucas espécies estão relacionadas à doença cárie, como Streptococcus mutans, Streptococcus sobrinus e Lactobacillus, pois possuem as características específicas para participar do processo da doença. As bactérias cariogênicas são capazes de produzir ácidos a partir da fermentação dos carboidratos da dieta (acido- gênicas) e de sobreviver em meio ácido (acídúricas). Outra ca- racterística seria a capacidade de adesão às estruturas dentárias. 8/229 3. Dieta: a dieta exerce, principalmente, um efeito tópico na eti- ologia da doença, ou seja, sem a sua presença, não há desenvol- vimento da doença, pois os microrganismos cariogênicos neces- sitam da energia proveniente da sua fermentação para sobre- viver. A frequência (constante ingestão) e a consistência dos carboidratos também interferem no desenvolvimento da doença: o açúcar consumido entre as refeições e a sua textura favorecem a retenção na cavidade bucal (por exemplo, balas tipo toffle versus pão de sal: as balas possuem uma consistência pegajosa e um tipo de carboidrato mais facilmente fermentável, ou seja, são mais cariogênicas). 4. Tempo: os três fatores anteriormente citados, quando asso- ciados, necessitam de um período de tempo para favorecer a desmineralização (perda de minerais) dos dentes. Fatores modificadores Além dos fatores determinantes para a doença (interação entre hospedeiro, dieta, biofilme e tempo), é sabido que fatores soci- ais, econômicos e comportamentais podem influenciar no desenvolvimento da doença cárie. Diversos estudos já demon- straram que as diferenças nos níveis de saúde podem ser ex- plicadas pelas diferenças socioeconômicas (ANTUNES et al., 2004; KEYES, 1960). Papel dos Microrganismos na Cárie Dentaria Os dentes são colonizados por bactérias que existem no biofilme, cujo metabolismo ocasiona flutuações no pH. Este metabolismo é influenciado por fatores determinantes que por 9/229 si só não levam ao desenvolvimento de cárie, mas modulam sua atividade. Entre estes encontramos a composição do próprio biofilme, composição e capacidade tampão da saliva, velocidade da secreção salivar e composição e frequência da dieta. Além dos fatores determinantes, existem os fatores associados, que são aqueles que variam de população para população nos quais se incluem os fatores sócio-econômicos, educacionais e com- portamentais (WEYNE e HARARI, 2002; PERINETTI et al., 2005). A relação entre cárie e bactéria é discutida há muito tempo. Em 1683, Antony Van Leeuwenhoek descreveu, através do uso de uma lente de aumento, a presença de “animálculos” em um ma- terial esbranquiçado, com consistência de manteiga, encon- trado sobre os seus dentes quando estes não eram limpos (LINDHE, 1992). No entanto, a era científica no estudo da doença cárie teve iní- cio em 1890, com os estudos de Miller isolando, corando e identificando bactérias nos laboratórios de Robert Koch. Estudou a participação microbiana na cárie, doença periodontal e infecção pulpar, levando à publicação do livro “Microorgan- isms of the Human Mouth”. Nesta publicação relatou a tese evolucionária de que os microrganismos atuando sobre os carboidratos da dieta resultavam na produção de ácidos que de- terminavam a descalcificação do esmalte dentário (Teoria químico-parasitária) (UZEDA, 2002). O papel decisivo na indispensabilidade das bactérias no pro- cesso da cárie foi demonstrado por Orland e colaboradores em 10/229 1954 na Universidade de Notre Dame. Em um trabalho com ratos “livres de germe” e ratos convencionais (grupo controle), sob uma dieta cariogênica por certo tempo, notaram que os ratos livres de germe não desenvolviam a doença, enquanto que o grupo controle resultou em alta atividade de cárie (MALTZ, 1996). A cárie, das doenças infecciosas que afetam os humanos, é uma das mais prevalentes (CAUFIELD e GRIFFEN , 2000). O caráter infecto-contagioso da cárie começou a ser demon- strado experimentalmente com KEYES (1960). Nesta pesquisa o autor verificou que filhotes de hamsters, cujas mães haviam recebido antibiótico (penicilina ou eritromicina) durante o per- íodo de gestação e lactação, não desenvolviam cáries, mesmo com dieta potencialmente cariogênica. Porém, quando estes hamsters eram engaiolados com hamsters infectados sob cop- rofagia, desenvolviam cáries. Também em 1960, FITZGERALD e KEYES observaram que ao inocular biofilme de hamsters in- fectados com estreptococos em hamsters não infectados, estes desenvolviam cárie. Os estreptococos que foram isolados em humanos eram semelhantes, através de evidênciasbioquímicas, sorológicas e morfológicas aos que causavam cárie em animais, consequentemente estes causariam cárie em humanos. Como as bactérias identificadas por Fitzgerald e Keyes eram idênticas às descritas por Clarke em 1924, foram então chamadas de S. mutans. Há evidências de que as mães são a fonte de infecção primária nas crianças, e que o nível de infecção da mãe é um predictor do grau de infecção e do desenvolvimento das lesões de cárie da 11/229 criança (ALALUUSUA e RENKONEN, 1993; BERKOWITZ, 2003). BERKOWITZ et al. (1981) encontraram associação significativa entre os níveis salivares de S. mutans da mãe e o risco de in- fecção por estes microrganismos em seus filhos. Mães com altas concentrações salivares de S. mutans (105 UFC têm maior chance de infectar seus filhos do que as mães com baixos níveis salivares) especialmente no período de tempo chamado por CAUFIELD et al. (1993) de “janela de infectividade” que com- preende entre 190 e 360 meses de idade. Este caráter de contá- gio que acontece entre mães e filhos também ocorre entre pais e filhos e entre irmãos, conforme observado por EMANUELSSON e WANG (1998) que mostraram que os pais e filhos de famílias chinesas adquiriam cepas de S. mutans, uns dos outros. Em outro estudo realizado por NIE et al. (2002), os autores relatam também ser possível a transmissão entre adul- tos, de cepas de S. mutans. Microrganismos envolvidos nos diferentes tipos de cárie Os estudos sobre cárie indicam que diferentes microrganismos desempenham alguma seletividade na superfície dentária a ser atacada e sugerem que existem no mínimo quatro tipos de pro- cessos envolvidos: 12/229 Cárie de sulco e fissura As cáries de sulco e fissura são os tipos de lesão mais comuns nos humanos. Tem sido observado que cocos são as formas pre- dominantes nestas lesões. Inicialmente o S. sanguis predom- ina, com o envelhecimento do biofilme aumentam o número de S. mutans e lactobacilos, que são considerados os principais agentes etiológicos. (THYLSTRUP e FEJERSKOV, 1995) Cárie de Sulco. Cárie de superfície lisa Este tipo de lesão tem uma microbiota bem caracterizada. Os microrganismos encontrados com maior frequência são o Streptococcus mutans e S. salivarius. Apesar do S. mutans ser um constituinte minoritário no biofilme (2 a 7%), ele é consid- erado o principal agente etiológico pelo seu grande potencial 13/229 cariogênico (NEWBRUM, 1988). O S. salivarius foi capaz de produzir lesão cariosa em animais, entretanto seu papel na formação de cáries em humanos não está totalmente esclare- cido. Além desses, o S. sobrinus também pode ser isolado em cárie de superfícies lisas, exercendo papel importante no pro- cesso da cárie. Cárie de dentina Ao exame da lesão cariosa que atinge a dentina observa-se ma- terial necrótico e colonização de bactérias acidogênica e acidúricas Gram positivas. As bactérias na dentina habitam preferencialmente a área necrótica mole e áreas mais profundas (THYLSTRUP e FEJERSKOV, 1995). Na área profunda da lesão há predomínio de bastonetes Gram positivos, tais como: Lacto- bacillus, Eubacterium, Propionibacterium observando-se um menor número de S. mutans e bactérias Gram negativas (EDWARDSSON, 1974; CHHOUR et al., 2005). A dentina cariosa contém ácidos orgânicos, predominante- mente lactato, acetato, propionato e butirato. A produção de lactato por Lactobacillus, de acetato por Actinomyces, e de pro- pionato pelos Eubacterium, Propionibacterium e Veillonella, e o alto número destes últimos gêneros no habitat sugere a presença de cadeias alimentares e algumas vantagens ecoló- gicas dadas a essas bactérias pelo ambiente (HOJO et al., 1991). Cárie de superfície de radicular A cárie de raiz é uma lesão mole e progressiva da superfície ra- dicular que envolve biofilme e invasão microbiana. 14/229 Streptococcus mutans, Lactobacillus acidophilus e Actynomy- ces israelli tem sido considerados agentes primários de cáries de superfície radicular em humanos (SHEN et al., 2004). Al- guns microrganismos envolvidos em lesões de cárie de superfí- cies radiculares são diferentes daqueles que causam cárie de su- perfícies lisas em função da natureza da lesão inicial que ocorre no cemento e dentina, e não no esmalte. Amostras bacterianas de cárie cementárias mostram predominância de Actinomyces viscosus, mas quando a dentina amolecida subjacente é cul- tivada, espécies como A. viscosus, A. naeslundii e A. odontolyti- cus são isoladas. Outros microrganismos também são encontra- dos, incluindo Nocardia e S. mutans. (UZEDA, 2002). Cárie de Raiz. Histopatologia da Cárie Dentaria Aspectos clínicos e histológicos da cárie crônica 15/229 Segundo Miller, a cárie crônica possui uma superfície escura e de consistência endurecida. O progresso da lesão é lento e in- termitente, e a dentina sob a superfície é indolor, esclerótica e pigmentada. A sua cor escura decorre da presença de produtos bacterianos, de produtos da proteólise, bem como de produtos advindos do meio bucal, como por exemplo, dos alimentos. Consolaro e Pereira afirmam que quanto mais pigmentada apresentar-se uma dentina esclerótica, menor será sua permeabilidade. A natureza crônica dessa cárie promove a formação da dentina esclerótica, com uma acelerada deposição de dentina peritubu- lar, obliterando os túbulos dentinários e levando a uma redução na permeabilidade dentinária. Dessa forma, ao observarmos cortes histológicos de dentes por desgaste, ao microscópio óptico (MO), a dentina esclerosada apresenta-se mais mineral- izada e mais translúcida que as demais, de acordo com Campos e Muñoz. 16/229 Produção de dentina reparativa. Além da dentina esclerosada presente na superfície da lesão cariosa, histologicamente, o complexo pulpodentinário se de- fende das agressões crônicas formando a dentina reparadora. Quanto mais acentuada a agressão, mais rápida e irregular será a deposição de dentina reparadora. No entanto, na cárie crôn- ica, essa dentina se deposita mais lentamente, apresentando um padrão tubular mais regular, com ausência de células no in- terior da sua matriz. As células que formarão esta dentina são os odontoblastos, que, normalmente, não danificados, con- seguem secretar essa barreira de proteção. 17/229 Cárie de esmalte – Prismática com o ápice voltado para a dentina. A esclerose dentinária, bem como os demais fenômenos reacionais, é uma tentativa de retardar o progresso da cárie, sendo a esclerose o primeiro aspecto microscópico que se es- tabelece na cárie de dentina. 18/229 Cárie de Sulco – Notar o formato prismático da cárie de dentina com a base voltada para o esmalte. Cárie de raiz. 19/229 Diagnóstico e determinação da atividade e risco da doença cárie A cárie dentária é uma doença crônica e infecciosa que provoca a destruição dos tecidos dentários, podendo ser diagnosticada clinicamente em seus estágios iniciais (lesões em esmalte) ou estágios mais tardios (cavitação em dentina e/ou necrose da polpa dentária, órgão onde se localizam terminações nervosas e capilares sanguíneos). Além da detecção da doença, é de ex- trema importância avaliar a atividade dela: ativa ou inativa. A doença ativa significa que o indivíduo está experimentando um momento ativo da doença, enquanto as lesões inativas apontam para a ocorrência de um episódio da doença. Vale ressaltar que, para a realização do diagnóstico das lesões de cárie, é impre- scindível que o dente esteja limpo, seco e bem iluminado. A evidência de um padrão polarizado na distribuição da doença cárie tem um reflexo direto na tentativa de identificar os indiví- duos ou grupos populacionais de risco que possuem altos ín- dices da doença ou um risco (probabilidade) maior de desenvolvê-la (BRAGA et al., 2008). Para a doença cárie, o risco pode ser conceituado com a probabilidade de ocorrência da doença empacientes sem a atividade de cárie ou de novas lesões em pacientes com a doença ativa, ou seja, a probabilid- ade de lesões ocorrerem ou progredirem dentro de um período de tempo (BURT, 2005; HAUSEN, 1997). Sendo assim, é importante mensurar as variáveis que podem interferir positivamente ou negativamente no desenvolvimento da doença, os chamados fatores de risco. Os fatores podem ser 20/229 biológicos, incluindo níveis de S. mutans na cavidade bucal, cariogenicidade da dieta e níveis de higiene bucal. No entanto, o poder de predição desses fatores pode ser impreciso, pois o in- divíduo pode apresentar altos níveis de S. mutans na cavidade bucal, mas realizar boa higienização, ou ter uma dieta cariogên- ica, mas contrabalancear com higiene adequada. Dos fatores biológicos, a história prévia da doença parece ser o parâmetro mais útil para predizer o desenvolvimento da doença, no qual a presença de cárie na dentição decídua possui forte correlação com o surgimento de lesões na dentição mista e permanente (BURT, 2005). Os fatores sociais aparecem, então, como os fatores explicativos da doença na população. Todas as ações que busquem a promoção de fatores saudáveis aparecem como a melhor estratégia para reduzir a iniquidade da saúde (BRAGA et al., 2008). Referências Bibliográficas LIMA JEO .Cárie dentária: um novo conceito, R Dental Press Ortodon Ortop Facial , Maringá, v. 12, n. 6, p. 119-130, nov./ dez. 2007 LEITES ACBR; PINTO MB; SOUSA ERS. Aspectos microbioló- gicos da cárie dental. Salusvita, Bauru, v. 25, n. 2, p. 239-252, 2006. ANTUNES, J. L. F.; NARVAI, P. C.; NUGENT, Z. J. Measuring inequalities in the distribution of dental caries. Community Dent Oral Epidemiol, v. 32, n. 1, p. 41-48, 2004. 21/229 BRAGA, M. M.; MENDES, F. M.; IMPARATO, J. C. P. A doença Cárie Dentária. In: IMPARATO, J. C. P.; RAGGIO, D. P.; MENDES, F. M. Selantes de fossas e fis- suras: quando como e por quê? 1. ed. São Paulo: Livraria Santos Editora, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação Nacional de Saúde Bucal. Brasília: MS-CNSB, 2004a. BURT, B. A. Concepts of risk in dental public health. Com- munity Dent Oral Epidemiol., v. 33, n. 4, p. 240-247, 2005. FEJERSKOV, O.; KIDD, E. 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Baltimore: Williams & Wilkins, p. 326, 1978 23/229 Reação do Complexo Dentina-polpa as Agressões A polpa dental é um tecido conjuntivo semelhante aos tecidos presentes em outras localizações do corpo humano e, desta forma, todos os princípios da inflamação que se aplicam a polpa são comuns aos demais. Entretanto, a polpa tem uma situação anatômica peculiar por estar restrita a uma câmara inelástica que não lhe permitem a tumefação comum associada ao exsudato inflamatório. Além disto, não há circulação colateral para manter o suprimento sanguíneo caso o suprimento primário esteja afetado. É também significativa a dificuldade de correlacionar o estado clínico da polpa dental com a histopatologia. Sendo assim, o nível de inflamação e comprometimento pulpar é medido por parâmetros clínicos. Resultados de testes com calor, frio, eletri- cidade e outros devem ser associados com a história clínica do paciente e, o conjunto, determinará o procedimento clínico a ser proposto. O complexo polpa-dentina: A polpa é o tecido conjuntivo que ocupa a parte central do dente, cuja função principal é manter a vitalidade da dentina, e consequentemente do dente. A polpa e a dentina formam um único complexo, pois estão intimamente relacionados morfolo- gicamente e fisiologicamente. Desenvolvimento A polpa origina-se da papila dental, que passa a ser chamada de polpa a medida que a dentina é formada. Após o início da form- ação da dentina, os ameloblastos começam a formar esmalte. Num dente formado, o tecido envolvido por dentina é polpa e na região apical, a área envolvida por cemento é considerada parte do periápice. Zonas do Complexo Polpa-Dentina: • Dentina • Pré-dentina • Odontoblastos • Zona pobre em células (Zona de Weil) • Zona rica em células • Zona central da polpa 25/229 Dentina: A dentina é peculiar porque o prolongamento do odontoblasto penetra no tecido duro, longe do corpo celular. A dentina é semelhante ao osso em composição, sendo 75% de material in- orgânico e 20% orgânico. Diâmetro dos túbulos dentinários: Próximo a polpa - 2-3 μm junção amelo-dentinária - 0.5-0.9 μm Na região próxima a junção amelo-dentinária não há prolonga- mento do odontoblasto, apenas fluído dentinário. Número de canalículos: próximo a polpa - 45-65.000/mm centro da dentina - 30-35.000/mm próximo ao esmalte- 15-20.000/mm (comparar com o raio de bicicleta Volume ocupado pelos túbulos: 4% na junção amelo-dentinária 26/229 28% na área próxima a polpa Estes dados são importantes porque os canalículos são as re- giões mais permeáveis da dentina, por onde há penetração de substâncias lesivas e transmissão de impulsos dolorosos. Portanto deve-se considerar que a dentina próxima a polpa é mais permeável, e que em dente “jovem” a dentina é mais per- meável e mais delgada. Fluído Dentinário: A pressão intrapulpar é de cerca de 30mmHg, que deve ser a pressão capilar. Esta pressão é suficiente, por capilaridade, para fazer uma coluna de líquido de 7m de altura. Portanto há form- ação de líquido da polpa para a junção amelo-dentinária. O líquido que permeia a dentina, em particular os canalículos são chamados de fluído dentinário. Provavelmente este líquido pouco se movimenta. A composição é semelhante ao líquido ex- tracelular, com baixo teor de K, alto em Na, saturado em Ca e PO, contendo proteínas plasmáticas. Inervação da polpa e da dentina: Polpa: Os nervos da polpa foram descritos por Raschkow em 1836. A polpa é ricamente inervada por fibras mielinizadas e amieliniz- adas que penetram pelo forame apical, ramificando-se princip- almente nas áreas sub-odontoblástica, coronária e cornos pul- pares. Os nervos são as últimas estruturas a aparecerem na polpa, e não são vistos até que considerável quantidade de 27/229 dentina seja formada. A inervação aumenta quando o dente erupciona. A predominância de fibras amielinizadas ocorre na região próxima aos odontoblastos. Geralmente as fibras nervo- sas acompanham os vasos sangüíneos. O primeiro molar hu- mano tem cerca de 400 axônios mielinizados e 1800 ameliniza- dos entrando pelo ápice. O número diminui com a idade. As fibras mielinizadas medem de 1-4 μm de diâmetro e são es- truturas especializadas na transmissão dolorosa rápida, tendo baixo limiar. Devem participar da dor localizada e aguda. As fibras amielinizadas são do tipo C e servem para transmissão de dor e função simpática. A condução é lenta, e o limiar é alto. Devem participar da dor não localizada e de menor intensidade. Os dentes decíduos têm aproximadamente o mesmo número de fibras nervosas que os permanentes, mas o número diminui sig- nificantemente após o início da reabsorção. A dor, é difícil de ser avaliada visto que os métodos são subjetivos,e as crianças reagem diferentemente do adulto. Inervação da dentina: A inervação da dentina e o mecanismo da transmissão da dor de dente sempre foram assuntos muito controvertidos. Windle em 1934 fez um resumo dos trabalhos que discutiam a in- ervação da dentina. O primeiro autor a descrever a possível presença de terminações nervosas na dentina foi Eale em 1860. Cutler em 1867 comparou a dentina e polpa com o crânio e seus nervos. Avery descreveu em microscopia eletrônica a presença de fibras mielizadas e amielinizadas na região sub- 28/229 odontoblástica, predominando as amielinizadas. Os canalículos da pré-dentina apresentam fibras nervosas em quantidades variáveis. Em 1966 Frank demonstrou a presença de fibras nervosas na dentina mais próxima a polpa. Transmissão da Dor: A qualquer estímulo a polpa reage com dor. As sensações de pressão são devidas ao periodonto. O mecanismo de transmis- são da dor no complexo polpa-dentina ainda é assunto de dis- cussão. A dificuldade é de se explicar como as fibrilas nervosas da polpa são estimuladas. Diversas teorias tem sido propostas pra explicar a transmissão da dor no complexo pulpodentinário: - Hidrodinâmica: o rápido movimentos de fluidos no interior dos canalículos resulta em distorção de terminações nervosas, iniciando um impulso e a sensação de dor. Atualmente é a teor- ia mais aceita. - Odontoblastos como receptores: os prolongamento de Tomes transmitem os estímulos para o corpo dos odontoblastos, e estes para as fibrilas nervosas do plexo sub-odontoblástico. - Direta inervação: a presença de nervos, principalmente no ter- ço interno da dentina, seria responsável pela transmissão da dor. A reação do complexo dentina- polpa frente as agressões se ini- cia pela modificação do equilíbrio fisiológico do mesmo. 29/229 O líquido que permeia a dentina, em particular os canalículos é chamado de fluído dentinário. Provavelmente este líquido pou- co se movimenta. A composição é semelhante ao líquido ex- tracelular, com baixo teor de K, alto em Na, saturado em Ca e PO, contendo proteínas plasmáticas. Quando a polpa se inflama, mais líquido é pressionado para o interior dos canalículos, inclusive fibrinogênio. Na dentina cari- ada o canalículo fica exposto, e a dentina sendo permeável permite o deslocamento de líquido da polpa para a superfície. O deslocamento de líquido seria o responsável pela geração de dor, mediada pelos odontoblastos ou diretamente pelas fibras nervosas. Deve-se ressaltar que em uma fratura de dentina o canalículo fica aberto, enquanto que em um preparo cavitário há formação da “smear layer”, que é uma camada de microcristais que cobr- em a superfície da dentina cortada, e que diminui a permeabil- idade da dentina. Sugere-se também que após o preparo cavitário há deposição de fibrinogênio nos canalículos, diminu- indo a permeabilidade da dentina em 10% por hora. Isto foi feito comparando-se cães normais e desfibrinados. Quando a cavidade é seca com ar, seca-se o fluido dentinário. A polpa rap- idamente forma mais fluido, e se o movimento for rápido o corpo do odontoblasto pode ser aspirado para dentro do canalículo. 30/229 Esclerose Dentinária: A esclerose dentinária é a calcificação dos canalículos dentinári- os, com a dentina tornando-se nesta região menos permeável, vítrea e sem vitalidade. A calcificação dos canalículos é con- tínua, fazendo parte da fisiologia pulpo-dentinária. Este pro- cesso é acelerado frente a estímulos de baixa intensidade, que não provocam necrose do prolongamento do odontoblasto. A esclerose da dentina é freqüente na porção radicular de pessoas idosas. Dentina de reparação: A dentina de reparação é formada na superfície interna da dentina, quando há destruição, geralmente por cárie, da dentina superficial, sem necrose dos odontoblastos. A dentina de reparação acompanha os canalículos lesados, e a quantidade formada corresponde a que foi destruída. É menos organizada e mais calcificada que a ortodentina, com canalículos tortuosos e em menor número. A tendência é a dentina de reparação formar-se na mesma quantidade em que houve destruição da ortodentina. Estima-se a dentina de reparação é formada numa velocidade de 1.5 μm/dia, e portanto em 100 dias forma-se 120 μm (0,12 mm). 31/229 Produção lamelar de dentina reparativa Polpa e trauma oclusal: O trauma oclusal pode causar alterações periodontais nos per- íodos iniciais, voltando a normalidade posteriormente. Na polpa não causa alterações significativas, exceto formação de dentina de reparação. Resultados de trauma causado por res- tauração alta de amálgama em molar antagonista de rato mostrou que após 3-5 dias o periodonto apresentava áreas de hialinização e reabsorção óssea, cementária e dentinária. A polpa estava normal. Após 28 dias o periodonto e a polpa es- tavam normais. 32/229 Polpa e preparo de cavidades: Se não feito com os devidos cuidados técnicos um preparo cavitário pode provocar alterações da polpa. Os pontos a serem considerados são a espessura da dentina restante, a temper- atura durante o preparo e a pressão exercida. Se houver acúmulo localizado de leucócitos, o processo é rever- sível. É importante que não haja infecção da polpa. Quando há formação de microabscesso as chances de resolução do pro- cesso são menores. A reversibilidade também é menor nos pre- paros cavitários de dentes cariados, onde há alterações preexistentes. Espessura da dentina restante: O fator isolamento é o mais importante para determinar a res- posta pulpar a um estímulo. A EDR difere da profundidade do preparo da cavidade, visto que a espessura da dentina é variável de dente para dente. Geralmente 2 mm de dentina entre o assoalho da cavidade e a polpa oferece barreira adequada. Nos dentes decíduos e anteri- ores este fator é crítico porque a espessura da dentina rara- mente excede 2,5mm. A medida que a espessura da dentina di- minui as alterações da polpa aumentam. Com a mesma EDR, as técnicas de alta velocidade produzem menos da metade das respostas pulpares do que as baixas velo- cidades (baixas - 6-20.000 rpm; altas - 50-300.000 rpm). Além 33/229 da refrigeração deve-se considerar a menor pressão empregada nos equipamentos de alta rotação. PULPITES Na polpa dentária a inflamação é a resposta à agressão, como em qualquer outro órgão. Sua condição anatômica peculiar faz com que algumas das facetas do processo inflamatório tenham consequências por vezes irreversíveis ao tecido. Etiopatogenia das pulpites: A etiologia da pulpite está relacionada intimamente a cárie dental sendo que a extensão e velocidade da destruição do te- cido duro do dente modulam esta resposta. Sabemos que não é necessária a invasão de microrganismos da cárie dental na polpa para que ocorra a inflamação mas, sua presença é fator determinante para a intensificação do processo. Um trabalho onde se aplicava produtos bacterianos sobre a dentina, 0.7-0.9mm da polpa, provocou após 32horas intenso acúmulo de neutrófilos nas áreas abaixo dos canalículos dentinários expostos, formando em alguns casos microabs- cessos. Após 10 dias predominam células mononucleares, e após 30 dias havia dentina de reparação e ausência de células inflamatórias (Warfvinge e Bergenholtz, 1986). Se a distância das bactérias até a polpa for de 1mm, geralmente não tem alter- ação pulpar. Se for de 0.5mm há formação de microabscesso. Vários experimentos como o descrito mostram que a polpa dental pode se recuperar de uma inflamação aguda, desde que 34/229 não haja grande número de microorganismos invadindo a polpa. O trabalho clássico de Kakehashi e cols. (1965) mostrando em animais “germ-free” ausência de inflamação e formação de pontes de dentina em polpas expostas ao meio bucal, funda- mentou os conceitos atuais da importância das bactérias e seus produtos na inflamação pulpar Em ratos convencionaise “germ-free” as alterações pulpares após exposição ao meio bucal são diferentes. Nos “germ-free” há formação de pontes de dentina e ausência de inflamação, apesar de necrose na superfície da área exposta. Algumas vezes ocorre necrose na polpa próxima a exposição ao meio bucal, e isto é considerado como devido a impactação de alimentos. Nos convencionais após 2 dias há infiltração de neutrófilos na ca- mada superficial e início de necrose. Após 7 dias a necrose pul- par é mais extensa, com inflamação periapical. Bactérias são encontradas apenas nos túbulos dentinários da dentina coronária (Paterson 1987). A coroa é a principal porta de entrada das bactérias, mas deve- se, considerar a possibilidade de contaminação por via hemató- gena e através da bolsa periodontal. Fatores iatrogênicos tais como preparos cavitários e uso de sub- stancias e materiais restauradores são fatores etiológicos im- portantes no desencadeamento das pulpites. A capacidade de reparação da polpa é ilustrada nos casos de capeamento. O capeamento pulpar era visto com pessimismo 35/229 até a introdução do hidróxido de cálcio (Shroff 1959), mas da- dos mais recentes indicam que o capeamento direto pode ter 80-90% de sucesso (Horsted et al. 1985). Quando a exposição ocorre por cárie e num dente com dor, o prognóstico é menos favorável, sendo o grau de inflamação e de contaminação os fatores que determinam o prognóstico. Idade também deve ser considerada e Horsted et al. (1985) observaram resultados menos favoráveis em pacientes com 50-79 anos de idade. Os fatores principais a serem considerados são: idade do paciente, capacidade imunológica do paciente e da polpa, estrutura da polpa, grau de contaminação, grau de inflamação. Experimentos em humanos e animais durante os últimos 15 anos têm mostrado que os materiais restauradores causam pou- ca ou nenhuma irritação na polpa, desde que bactérias não es- tejam presentes nas margens das restaurações (Bergenholtz 1990). A quantidade e variedade de bactérias presentes num canal contaminado é muito grande. Bystrom (1983) identificou 169 espécies, 88% anaeróbicas, e em cada canal, de 1 a 11 espé- cies. O grupo predominante é dos estreptococos alfa-hemolíti- cos anaeróbios facultativos (S. mitis, salivarius, mutans, san- guis). Outros isolados com freqüência são: enterococos (S. faecalis), difteróides, estafilococos, lactobacilos, estreptococos anaeróbicos e espécies de Candida, Neisseria e Veillonella. As espécies encontradas são numerosas, mas em um mesmo canal os tipos são limitados, geralmente entre 3 a 6 espécies (Tron- stad 1992). Em resumo a microbiota do canal é caracterizada por combinações de poucos anaeróbios. 36/229 Dinâmica da Inflamação Pulpar: Como em outros tecidos a inflamação pulpar é dinâmica pas- sando de uma fase para outra na dependência das condições locais. No passado diversas classificações que se baseavam no estado histopatológico da polpa afetada foram propostas mas, devido a impossibilidade de se correlacionar o estado inflamatório da polpa e a sintomatologia encontrada os clínicos preferiram ad- otar uma classificação mais simples e mais efetiva quanto a de- terminação do tratamento a ser proposto. Pulpite Reversível Esta alteração pulpar inflamatória se instala pela progressão dentinária do processo de cárie ou por u preparo cavitários de maior proporção. A dor é de pequena monta, geralmente provo- cada por frio e o dente não reage a estímulos de percussão. O quadro inflamatório é focal, subjacente a zona cariada ou agre- dida pelo preparo e regride quando retirada a causa. Micro- scopicamente observamos a presença de hiperemia, vasos con- gestos e dilatados e exsudação plasmática. Se o agente persiste, o processo se exacerba e pode se seguir uma exsudação neutrofílica de pequena monta. Histopatolo- gicamente o quadro caracteriza uma inflamação aguda serosa típica que pode ser denominada de Pulpite Aguda Serosa. 37/229 Hiperemia pulpar Pulpite aguda serosa reversível Pulpite irreversível: Se o processo carioso progride e microrganismos venham a at- ingir a polpa o quadro se modifica com uma quimiotaxia e ex- sudação neutrofílica intensa o que resulta em uma necrose de 38/229 liquefação formando microabscessos pulpares. A progressão destes termina por causar uma pulpite purulenta total. O quadro clínico se transforma e a dor, outrora provocada passa ser espontânea, pulsátil e lancinante e é aliviada pelo frio. Com a invasão dos tecidos periapicais pelo exsudato formado no in- terior do dente a percussão do elemento pode resultar positiva. Microabscesso pulpar Pulpite Crônica: A pulpite crônica é uma reação é uma reação inflamatória res- ultante de estímulos de baixa intensidade e longa duração. É geralmente causada por um processo de cárie de progressão lenta, repetidos preparos cavitários ou pela exposição crônica de túbulos dentinários. O quadro é geralmente assintomático 39/229 podendo sofrer pequenos episódios de dor provocada a alter- ação térmicas. Microscopicamente observamos a presença de um infiltrado inflamatório mononuclear e fibrose pulpar sem a presença de neutrófilos. O quadro é de um processo inflam- atório crônico instalado. Pulpite Crônica Hiperplásica (Pólipo pulpar): O pólipo pulpar é bom exemplo de inflamação crônica hiper- plásica e da grande capacidade de defesa de uma polpa jovem. Ocorre quase que exclusivamente em dentes jovens com ápice amplo, com a polpa tendo abundante suprimento vascular e celularidade. Forma-se pela proliferação do tecido de granu- lação oriundo da inflamação crônica pulpar formando uma hiperplasia inflamatória que se aloca na cavidade de cárie. A ex- posição da polpa permite a epitelização do pólipo. Pólipo pulpar 40/229 Efeitos sistêmicos nas pulpites: O fibrosamento da polpa dental reduz a sua capacidade de de- fesa, e as melhores respostas frente a pulpotomias de dentes com polpa jovem. Além da idade, outros fatores sistêmicos po- dem ser relevantes, mas ainda não demonstrados, como dia- betes e imunosupressão. De acordo com Fawzie e cols. (1985) quando há exposição pulpar, a capacidade de defesa da polpa de ratos irradiados com 400 rads está diminuída. Bacteremia: A incidência de bacteremia após a manipulação é considerada mais baixa que após extração e tratamento periodontal, mas pa- cientes de risco, tratados com imunosupressores ou portadores de válvulas artificiais, ou com história de febre reumática, de- vem ser medicados com antibióticos previamente ao trata- mento (Baumgartner, Heggers e Harrison 1977). A bacteremia pode ser facilitada se o ápice for amplo. Klotz et al. (1965) detectaram bacteremia em 4 de 19 casos de polpas de Macaca mulatta (Rhesus) infectadas com S. faecalis e tratadas topicamente com prednisolona. Bacteremia após tratamento endodôntico foi estimado em 20%, após tratamento periodontal em 70% e 100% após cirurgia (Heimdahl et al. 1990). Alterações regressivas da polpa dental O orgão dental se modifica com a idade e as alteração mais fre- quentes são: 41/229 • - esclerose dentinária • - dentina de reparação • - espessura da dentina • - diâmetro dos canalículos • - volume da polpa • - fibrosamento • - calcificação - formação do periápice As alterações da polpa com a idade são difíceis de serem sep- aradas das modificações oriundas dos mecanismos de defesa ou das patologias. Em relação ao dente “velho”, o dente “jovem” tem as seguintes características: • - cavidade pulpar ampla • - espessura delgada da dentina • - dentina ainda a ser formada • - polpa rica em células e substâncias fundamental • - grande capacidade de reparação • - canalículos amplos 42/229 • - rica inervação e vascularização Por estas características é mais fácil trepanar um dente “jovem”. Se a polpa de um dente jovem for retirada, a dentina que já é delgada,fica mais friável e mais susceptível a fratura. Reabsorção Interna: Reabsorção interna de dentina está geralmente associada a cau- sas desconhecidas, e não como parte da progressão natural de inflamação pulpar. A dissolução da dentina intracanal, após a necrose da polpa, pode ser considerada como processo similar a cárie dental que destrói a dentina coronária. Reabsorção interna 43/229 A reabsorção externa da dentina é mais evidente em casos de trauma e reimplantes dentários, quando o processo pode ser contínuo e irreversível. Nas lesões apicais, a reabsorção é principalmente observada no osso, sendo em menor grau a destruição do cemento e da dentina. A dentina externa, quando reabsorvida é recoberta por material cementóide. Reabsorção externa Considera-se que tanto a reabsorção externa quanto a interna é mediada por células multinucleadas, oriundas de monócitos ou macrófagos, num processo semelhante ao que ocorre no osso. 44/229 Correlação clínico-histopatológica das alterações pulpares: Os trabalhos desde o início do século mostram que não há cor- relação entre os achados clínicos e os aspectos microscópicos da polpa. Polpas microscopicamente consideradas normais podem apresentar sintomatologia dolorosa, isto parcialmente explic- ado pela resposta de dor a um estímulo que atinja apenas a dentina, promovendo movimentação de líquidos. Portanto o volume de líquido extravasado pode ser mais relevante que a natureza das células inflamatórias presentes. A pressão normal do tecido pulpar é de 6-10mmHg, e na inflamação chega a 16mm (Tonder e Kvinnsland, 1983). Em outros tecidos este aumento seria insignificante, mas na polpa pode causar import- antes modificações na circulação e atividades nervosas. Outras variáveis devem ser consideradas: • - variação na estrutura da polpa normal • - variação na inervação da polpa e dentina • - tempo de duração da cárie • - diferença de sensibilidade entre os indivíduos • - espessura de dentina Em outros tecidos, se apenas o parâmetro dor for considerado, é pouco provável que se chegue a correlação clínicas e 45/229 microscópicas mais seguras do que acontece na polpa. As con- dições pulpares são interpretadas indiretamente, considerando- se a idade do paciente, profundidade da cárie e sintomatologia dolorosa. Referências Bibliográficas Regezi JA; Sciubba JJ. Patologia Bucal, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1991 Cecil P; Hartwel G; Belizzi R. Cold as diagnostic in case of a severe pulpitis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol , 56, 647-73, 2000 46/229 Patologia Periodontal A gengiva clinicamente saudável é caracterizada pela coloração rósea, consistência firme e contorno festonado da margem gen- gival. As papilas interdentais são firmes, não sangram à sond- agem delicada e ocupam todo o espaço disponível abaixo das áreas de contato. Gengivas saudáveis frequentemente exibem uma aparência pontilhada e há uma margem em ponta de faca entre o dente e o tecido mole. Sulco gengival sadio A gengiva normal é livre de evidência histológica de inflamação, porém esta condição ideal é muito rara de ser vista, ou seja, a gengiva clinicamente sadia não está totalmente livre de infilt- rado inflamatório. A gengiva histologicamente livre de infilt- rado inflamatório é chamada então de gengiva primária. O termo doença periodontal em seu sentido estrito refere-se à gengivite e à periodontite (KINANE, 2001) que são iniciadas e sustentadas pela presença da placa bacteriana. Porém, os mecanismos de defesa do hospedeiro possuem um papel im- portante na patogênese dessas doenças (LINDHE et al., 1999). A placa Bacteriana A placa bacteriana pode ser definida como uma película não calcificada, fortemente aderida às superfícies dentais, resistindo a presença do fluxo salivar. O termo biofilme é usado para de- notar uma comunidade microbiana encapsulada em polímero que se acumula em uma superfície, que também protege contra colonização de patógenos exógenos (WILSON, 2001). O biofilme constitui-se de depósitos bacterianos e constituintes salivares, com um crescimento contínuo, sendo considerado a principal causa das doenças cárie e periodontal, infecções periimplantares e estomatites (ROSAN; LAMONT, 2000). Numerosos investigadores demonstraram a importância dos microrganismos na instalação e progressão da doença period- ontal (SLOTS, 1977, SOCRANSKY et al., 1988, DAHLÉN et al., 1992, XIMENEZ-FYVIE; HAFAJEE; SOCRANSKY, 2000, MOREIRA et al., 2001). A arquitetura microscópica da placa bacteriana está bem defin- ida, sendo as células bacterianas arranjadas em agrupamento ou colunas de microcolônias. Esta estrutura é permeável devido à sua porosidade, permitindo que a saliva, o fluido gengival e os líquidos da dieta infiltrem-se na placa (GENCO; COHEN; GOLDMAN, 1997). O envolvimento de microrganismos na 48/229 etiologia da doença periodontal está bem estabelecido, en- tretanto, uma completa identificação de todos agentes microbi- anos envolvidos com a doença periodontal, ainda não está total- mente definida. Tem sido estimado que aproximadamente 500 espécies diferentes de bactérias habitam a cavidade bucal (MOORE; MOORE, 1994, SOCRANSKY; HAFFAJEE, 1994,WILSON; WEIGHTMEN; WADE, 1997), sendo a maioria dos microrganismos comensais e uma pequena porção deles, patógenos oportunistas, causadores também de doenças sis- têmicas (PASTER et al., 2001). Segundo Marsh et al. (1994), a composição da placa bacteriana pode permanecer estável devido a uma variedade de interações entre as espécies constituintes. Tem sido sugerido que a placa supragengival pode afetar a com- posição da placa subgengival pelo fornecimento de nutrientes, mantendo o meio anaeróbio da bolsa e facilitando a união de microrganismos (KORNMAN, 1986). A placa supragengival apresenta um arranjo colunar de espécies bacterianas morfologicamente distintas da superfície dental e a placa subgengival frequentemente caracterizada por uma zona de Gram-negativos e/ou espécies móveis localizadas adjacentes ao revestimento epitelial da bolsa, enquanto bastonetes e cocos Grampositivos parecem formar uma camada de organismos firmemente aderidos sobre o esmalte e superfície radicular (LISTGARTEN, 1994). As bactérias que colonizam inicialmente a superfície do dente são predominantemente microrganismos facultativos Gram- positivos, tais como Actinomyces viscosus e Streptococcus 49/229 sanguis. Estes se aderem à película através de adesinas, que in- teragem com receptores específicos na película dental. Outros mecanismos determinantes da seletividade na colonização da película são estruturas na superfície de certas bactérias, como o Actinobacillus viscosus, denominadas fímbrias, que auxiliam na aderência inicial (CARDOSO; GONÇALVES, 2002). Biofilme maduro Na sucessão ecológica da placa bacteriana ocorre uma transição do meio ambiente aeróbio, inicialmente caracterizado por espécies Gram-positivas facultativas, para um meio altamente privado de oxigênio, com a predominância de microrganismos Gram-negativos anaeróbios. Na colonização secundária, as diferentes espécies de microrganismos (Prevotella intermedia, Prevotella loescheii, espécies de Capnocytophaga, Fusobacteri- um nucleatum, Porphyromonas gingivalis), se aderem às bactérias pré-existentes na placa bacteriana. 50/229 Os fatores de virulência da placa bacteriana dependem da presença ou aumento de microrganismos específicos, que produzem substâncias que medeiam a destruição dos tecidos do hospedeiro (LOESCHE; SYED, 1978). Em 1988, Socransky et al., relataram que as interações microbi- anas são importantes nas diferentes condições periodontais, as- sim, podem resultar em saúde ou doença periodontal. Parece provável que certas associações podem favorecer a colonização de espécies potencialmente virulentas (associação positiva), ou ainda, serem antagonistas a esta colonização(associação negativa). Em 1996, Zambon descreveu sobre fatores microbianos nas doenças periodontais, considerando os fatores de proteção do hospedeiro, como epitélio e fluxo do fluido gengival, imunidade celular e rápida reposição dos tecidos, meios que dificultam a fixação dos possíveis periodontopatógenos. Etiopatogenia da doença periodontal A doença periodontal apresenta didaticamente dois estágios: gengivite e periodontite. O diagnóstico dessas periodontopatias ganhou sofisticação quando foram introduzidos novos métodos científicos de exames complementares. A gengivite é uma condição inflamatória da gengiva, sendo uma resposta imune direta do hospedeiro contra a placa microbiana sobre o dente (KINANE, 2001). Apresenta algumas características como, alterações de cor e contorno gengival, mudança da temperatura sulcular, sangra- mento após estímulo e aumento do exsudato gengival. Além 51/229 disso, é reversível com a remoção de placa, e pode ter um pos- sível papel como precursora para perda de inserção ao redor do dente (MARIOTTI, 1999). A gengivite é modificada por muitos fatores tais como fumo, mudanças hormonais e certos fármacos (KINANE, 2001). A periodontite não é uma doença única, mas consiste de uma família de patologias que estão relacionadas intimamente, po- dendo variar de alguma maneira na etiologia, na história natur- al e na resposta à terapia (PAGE e KORNMAN, 1997). O grupo das periodontites possui a infecção bacteriana como causa primária (FLEMMING, 1999), sendo que a resposta do hos- pedeiro resulta na produção de citocinas, eicosanóides e outros mediadores inflamatórios como as cininas, produtos da ativação do complemento e metaloproteinases matriciais, que perpetuam a resposta inflamatória e mediam a destruição óssea e de tecido conjuntivo (PAGE e KORNMAN, 1997). A period- ontite tem como principais características clínicas a perda de inserção clínica, a perda de osso alveolar, bolsa periodontal e inflamação gengival (FLEMMING, 1999). As periodontites possuem as formas crônica e agressiva, que podem ser caracterizadas conforme extensão e gravidade. A ex- tensão é dada pelo número de sítios envolvidos e pode ser clas- sificada como localizada, se menos de 30% dos sítios foram afetados, ou generalizada se mais de 30%. A gravidade caracteriza-se como leve, moderada ou grave de acordo com a medida da perda de inserção: 1 a 2 mm (leve), 3 a 4 mm (mod- erada) e maior ou igual a 5 mm (grave). A classificação da gravidade pode ser utilizada para uma dentição, um dente 52/229 individualmente ou um sítio (LANG et al., 1999; LINDHE et al., 1999). A prevalência e a extensão da doença periodontal aumentam com a idade e com a higiene bucal inadequada (KINANE et al., 2005). Porém, não está claro se o envelhecimento aumenta a susceptibilidade à periodontite ou há apenas um efeito cumu- lativo da doença ao longo dos anos (KINANE et al., 2006) Modulação da doença periodontal com relação a placa bacteriana A modulação da resposta do hospedeiro no contexto periodontal refere-se à modulação ou modificação dos aspectos danosos da resposta inflamatória do hospedeiro, que se desen- volve nos tecidos periodontais, em resposta ao desafio crônico apresentado pela placa subgengival (PRESHAW, 2008). Muitos estudos têm demonstrado uma relação entre a coloniza- ção de microrganismos bucais específicos na placa bacteriana e a presença e/ou severidade da doença periodontal, através de técnicas diagnósticas como a cultura seletiva e não seletiva, as- sociada ou não à microscopia em campo escuro e óptico, teste de imunofluorescência indireta e sonda de DNA. Portanto, a variância de resultados encontrados nos estudos revisados deve-se à utilização de diferentes metodologias, pois cada teste apresenta uma limitação na sua eficácia. A discordância dos da- dos obtidos na cultura e os outros testes é atribuída à presença de microrganismos não cultiváveis na amostra colhida (micror- ganismos não viáveis, armazenamento incorreto, erros no 53/229 processamento) além da especificidade de alguns testes (PASTER et al., 2001, RUBIRA et al., 1996). A presença de espécies consideradas patógenos periodontais, em sítios sem evidências de destruição periodontal torna claro que, para a ocorrência da doença periodontal, os patógenos são necessários, mas não suficientes, dependendo também dos fatores de risco, fatores genéticos e resposta imunológica do hospedeiro. Slots (1977) registrou que o sulco gengival saudável continha pequeno número de microrganismos, predominantemente bastonetes Gram-positivos facultativos. A saúde periodontal resulta de um equilíbrio parasita-hospedeiro, alterações desse equilíbrio podem provocar mudanças locais ou sistêmicas que diminuam a resistência do hospedeiro ou alterações quantit- ativas e/ou qualitativas da microbiota periodontal, resultando em aumento de virulência. A superfície dentária normalmente é coberta pela película ad- quirida, composta de glicoproteínas salivares e anticorpos que alteram a carga e energia livre da superfície, aumentando a ad- esão bacteriana, que é o mecanismo inicial para causar uma in- fecção (WILSON, 2001). Apêndices da superfície bacteriana (fímbria ou pili) funcionam como adesinas e facilitam a trans- ferência de DNA de uma célula para outra. Cápsulas extracelu- lares e camada limosa funcionam como adesinas e têm pro- priedades antifagocíticas (CARDOSO; GONÇALVES, 2002). Com a disposição de nutrientes, há o crescimento celular das bactérias aderidas às superfícies dentárias, adesão de novas bactérias e síntese de polímeros extracelulares aumentando a 54/229 massa bacteriana (fase de acumulação). O aumento de es- pessura da placa bacteriana promove nas camadas mais pro- fundas condições de anaerobiose, o crescimento e multiplicação das bactérias variam de acordo com os níveis de oxigênio. As fontes de nutrientes para as bactérias supragengivais são os produtos da dieta dissolvidos na saliva, enquanto, para as bactérias subgengivais estes nutrientes provêm dos tecidos periodontais e sanguíneo. A colonização primária inicia-se por bactérias Gram-positivas facultativas seguidas de bactérias Gram-negativas e à medida que a placa bacteriana envelhece e se torna madura, ocorrem mudanças ecológicas ocorrendo col- onização secundária por bactérias Gram-negativas anaeróbias estritas. As espécies microbianas interagem e, embora algumas possam não ser patógenos periodontais, ainda influenciam o processo da doença, favorecendo o seu crescimento ou aumentando o potencial de virulência de outros microrganismos (LINDHE, 1999). As primeiras reações do periodonto, frente à presença da placa bacteriana, são inflamatórias e imunológicas com o intuito de proteger dada a invasão microbiana nos tecidos gengivais. Dependendo da lesão tecidual causada pelas reações de defesa do hospedeiro, podemos observar a gengivite (restrito ao tecido gengival) e a periodontite (quando atinge os tecidos de suporte). Bolsas periodontais profundas alocam número ex- pressivo de microrganismos, a maioria Gram-negativos anaeró- bios. Três espécies se destacam, Actinobacillus actinomycetem- comitans, Porphyromonas gingivalis e Prevotella intermedia, 55/229 devido a sua alta frequência em lesões periodontais e do seu po- tencial patogênico. Fases da formação do biofilme: 1. Película adquirida – até 20 segundos depois de uma limpeza profilática a superfície dental fica limpa e polida; em seguida se forma a película adquirida pela saliva, que é através das adesi- nas (principalmente a prolina), que vão para o dente, isso porque a prolina tem uma característica negativa e é atraída pelo Ca++ do esmalte dentário, além disso, a prolina também tem uma característica hidrofóbica, ou seja, ela é repelida pela saliva, o que faz com que ela continue no dente. Essa película adquirida hidrata o dente, uma vez que os prismas de esmaltenão podem ficar desidratados para que não fiquem friáveis. A prolina e as outras adesinas possuem receptores de superfície para aeróbios grampositivos, principalmente na forma de co- cos. Inicialmente a microbiota é acidúrica e acidogênica, de forma que elas começam a se multiplicar e a liberar polissa- carídeos extracelulares (PECS), que servem de substrato para outros microrganismos e recebem o nome de matriz intermi- crobiana. Essa película se forma por adsorção seletiva das mac- romoléculas do ambiente e incluem forças eletrostáticas e hidrofóbicas. 2. Colonização primária – os primeiros microrganismos a ini- ciarem a colonização são bacilos e cocos gram + e aeróbios, nessa fase há o início da coagregação. Também irá haver um aumento da concentração de CO2 e os microrganismos passam a ser também aeróbios facultativos (sobrevivem com ou sem 56/229 O2). Lembrando que esses microrganismos da película ad- quirida não são periodonto patogênicos. As bactérias que colon- izam primeiro são chamadas pioneiras ou colonizadoras inici- ais, são elas o Streptococcus (S. sanguinis, S. orallis, S. mitis, S. gordonii) e também o Actinomyces (A. naeslundii), Fusobac- terium nucleatum e Capnocytophaga ochraceae. Cada bactéria irá liberar PECS que servirão de substrato para outros tipos de microrganismos, formando assim outra matriz intermicrobiana. 3. Colonização secundária – de início são microrganismos fac- ultativos gram – e proteolíticos, ou seja, são capazes de quebrar proteínas, e como o colágeno é altamente proteína, essas bactérias já são periodonto patogênicas. Nessa colonização há outro processo de coagregação e os microrganismos também começam a liberar PECS formando outra matriz intermicrobiana. 4. Maturação – a doença só se instala a partir do momento que o biofilme amadurece, e o tempo necessário para que isso ocorra é de 72 horas. A principal característica do biofilme é que ele é formado por anaeróbios, gram negativos, proteolíti- cos, e a maioria é de fusobactérias e espiroquetas. Inicialmente esse biofilme está supragengival, mas a gengiva cobre um pouco de esmalte e topograficamente o que está preso ao dente é o chamado biofilme aderido. O biofilme tem aspecto de cogumelo, que tem uma menor resistência a passagem de fluid- os, o que dificultaria a saliva de removê-lo. 57/229 Teoria do biofilme inespecífico: Nos anos 60 Löe et al desenvolveram um estudo chamado de gengivite experimental em humanos; isso porque até a década de 60 havia teorias que diziam que a gengivite era uma con- sequência da velhice. Até que em 1965 Löe fez esse estudo onde os voluntários pararam de higienizar os dentes por 21 dias. No dia 0 havia saúde total periodontal (início da ausência de higi- enização); já entre os dias 0 e 3 ele observou a presença de co- cos e bacilos gram (+); entre 3 e 9 dias encontravam-se cocos, bacilos gram (-) , bacilos filamentosos e fusiformes (capacidade de invasão); no dia 10 havia gram (–) e formas espiraladas e em outros voluntários já havia gengivite; em 21 dias todos os volun- tários desenvolveram gengivite e, ao realizar a remoção da placa e retornar a higiene, a gengivite regrediu para a condição de normalidade. Dessa forma ele conseguiu provar que as bactérias causam doença periodontal. Teoria do biofilme específico: Desenvolvida nos anos 70 por Loesche (1976), uma vez que houve a evolução das técnicas de cultura microbiana, havendo assim a possibilidade de identificar e conhecer as espécies de microrganismos e então chegou a essa teoria, onde ele provou que o biofilme, para causar doença, precisa ter qualidade e não quantidade e também provou que havia biofilmes que podiam gerar doença cárie e outros que causavam periodontite. “A presença de alguns grupos de bactérias, devido a sua metaboliz- ação e liberação de algumas substâncias favorecem o apareci- mento de espécies patogênicas, através da cadeia alimentar”. 58/229 COMPLEXO VERMELHO DE SOCRANSKY: P. gingivalis, T. forsythia e T. denticola (estão associados com sangramento gengival e possível perda de inserção, aparecendo após a mat- uração do biofilme; lembrando que o p. gingivalis é móvel e tem capacidade de invasão, e sua capacidade de agressão está rela- cionada ao LPS). O A.A (Aggregatibacter actinomycetemcom- itans) aparece independente do complexo vermelho, podendo aparecer precocemente e causar destruição antes do apareci- mento desse complexo. Doença periodontal inflamatória crônica A gengivite marginal crônica e a periodontite são as doenças in- flamatórias crônicas mais comumente encontradas na cavidade bucal. Ambas obedecem à mesma etiologia, ou seja, formação e deposição de placa bacteriana dental e divergem, apenas, quanto ao grau de envolvimento das estruturas periodontais. Do ponto de vista conceitual, são doenças que apresentam caráter inflamatório local de longa evolução, subagudo ou crônico, vez por outra supurativo, de etiologia complexa, realçando como agressão predominante o dano sobre a mucosa gengival (gengivite) ou sobre esta, ligamento periodontal e osso alveolar (periodontite), determinado alterações funcionais às vezes irreversíveis do aparelho mastigatório. Etiologia A placa dental bacteriana constitui o fator etiológico básico da gengivite marginal crônica. Existe uma relação direta entre a 59/229 formação da placa bacteriana dental e o desenvolvimento da in- flamação gengival. A placa bacteriana representa, verdadeiramente, um sistema ecológico dinâmico e complexo, constituído por microrganis- mos, produtos derivados do seu metabolismo, constituintes de- rivados da saliva e fluido gengival, células epiteliais em fase de autólise e granulócitos neutrófilos. Patogênese da Doença Periodontal Inflamatória Crônica Embora não haja dúvida quanto ao papel da placa bacteriana na etiologia da inflamação periodontal, o mecanismo pelo qual a placa atua, produzindo a gengivite e a periodontite, não está ainda estabelecido em definitivo. Embora a patogenicidade das bactérias da placa tenha sido provada em inúmeros experimentos, é indiscutível a sua fraca invasividade, tendo mesmo a presença ocasional destas bactéri- as na lâmina própria e no epitélio de gengivas inflamadas sido admitida como um mero artefato de técnica. Dois mecanismos são usualmente utilizados para explicar o modo pelo qual os microrganismos da placa atuam produzindo inflamação nos tecidos periodontais: • Agressão direta • Agressão indireta Agressão direta Diante da sua fraca invasividade, a agressão direta das bactérias da placa se dá pela liberação de toxinas e enzimas histoliticas 60/229 que se difundem através das estruturas gengivais, causando sua destruição e produzindo reação inflamatória. Dentre as substâncias tóxicas da placa, potencialmente ativas na agressão direta as estruturas periodontais temos enzimas, toxinas e produtos finais do metabolismo bacteriano tais como sulfeto de hidrogénio, indol, escatol, ácidos graxos e poliaminas. As endotoxinas, principal agente responsável pela agressão direta, são complexos macromoleculares constituídos por lipo- polissacarideos e proteínas que atuam como agentes flogógenos potentes na intimidade dos tecidos. São derivadas da parede de microrganismos gram-negativos durante a autólise dos mes- mos. Ao nível dos tecidos as endotoxinas ativam o sistema com- plemento pela via alternativa, liberando componentes biolo- gicamente ativos (C3a, C5a e C567) que atraem granulócitos neutrófilos e macrófagos e aumentam a dilatação e a permeabil- idade dos vasos. Os componentes C3a e C5a exibem propriedades semelhantes A. da anafilatoxina. De fato, estes componentes, ativados pelas endotoxinas, induzem degranulação mastocitária, liberando histamina e heparina. As endotoxinas estimulam também a re- absorção óssea por agir diretamente sobre as células ósseas ou indiretamente, através da heparina e participandodo mecan- ismo de progressão da gengivite crônica e da periodontite. Como as endotoxinas são representadas por complexos macro- moleculares, é improvável que sua difusão para os tecidos peri- odontais possa ocorrer sem o estabelecimento de uma lesão 61/229 inicial, tipo aumento de permeabilidade, a qual é propiciada pela ação de enzimas da placa. Bactérias da placa produzem enzimas com poderes lesivos para as estruturas periodontais, entre as quais encontramos a hialur- onidase, condroitinsulfatase, beta-glucoronidase, proteases e colagenase. Estas enzimas atacam diversos elementos estru- turais do periodonto, como as proteínas colagênica e não-col- agênicas e as proteoglicanas, sendo, portanto, consideradas como enzimas histoliticas. Outras enzimas, também produzidas pelas bactérias da placa, despolimerizam a fibrina exacerbando o processo inflamatório, como a estafiloquinase e a estrepto- quinase; ou atuam sobre as membranas celulares, liberando mediadores químicos que agravam o processo inflamatório, como a lecitinase. A hialuronidase, a beta-glucoronidase e a condroitisulfatase despolimerizam os polissacarideos da sub- stancia cimentante do epitélio do sulco, causando a separação das células e o aumento excessivo da permeabilidade deste epi- télio. 0 aumento da permeabilidade do epitélio do sulco facilita a penetração de grandes moléculas na lamina própria da gen- giva, como as endotoxinas e outros produtos tóxicos do meta- bolismo bacteriano, que iniciam a reação inflamatória no tecido conjuntivo subepitelial. Resumidamente: as enzimas histoliticas da placa bacteriana dental são os principais fatores a agredir as estruturas gen- givais, provocando aumento da permeabilidade no epitélio do sulco e no tecido conjuntivo subjacente e alterações bioquím- icas nos componentes proteicos deste último tecido. Esta alter- ação bioquímica no tecido conjuntivo adjacente ao epitélio do 62/229 sulco induz imediata vasodilatação e aumento de permeabilid- ade na microcirculação local, resultando na exsudação das primeiras porções de plasma para o ambiente intersticial. Com a permeabilidade aumentada do epitélio do sulco, macro- moléculas oriundas da placa, como as endotoxinas, ganham acesso fácil ao tecido conjuntivo subepitelial onde definitiva- mente se inicia o processo inflamatório gengival. 0 plasma ex- travasado, entrando em contato com as proteínas modificadas do tecido conjuntivo, com as endotoxinas e outros produtos lib- erados pelas bactérias da placa, ativa o fator Hageman e o sis- tema complemento, dando como resultado a formação não só dos primeiros mediadores farmacológicos específicos da in- flamação gengival como também de substâncias quimiotáticas para os granulócitos neutrófilos. Agressão indireta A agressão indireta se faz pela ativação de enzimas histoliticas endógenas ou, provavelmente pelo desenvolvimento de reações imunopatológicas nos tecidos periodontais. A gengiva possui colagenase e hialuronidase sob a forma inativa que, uma vez estimuladas pelos componentes bacterianos da placa, passam para a forma ativa e atuam sobre os próprios componentes teciduais a que pertencem, aumentando o espec- tro de agressão e intensificando o processo inflamatório. As reações imunitárias aos antígenos bacterianos da placa se processam após a inflamação aguda inicial. As reações imun- ológicas são basicamente de caráter protetor. Contudo, é pos- sível que a continua estimulação antigênica da placa acabe por 63/229 gerar mecanismos imunopatológicos que, com o tempo, se con- vertem nos elementos efetores da destruição tecidual na doença periodontal inflamatória. Portanto, a patogênese e a evolução da doença periodontal in- flamatória, mais do que uma simples consequência da agressão direta sobre os tecidos periodontais, dependem também dos fenômenos destrutivos relacionados aos mecanismos locais de defesa representados pela própria reação inflamatória e pelos processos imunopatológicos ou de hipersensibilidade. Vários mecanismos imunopatológicos podem estar envolvidos na patogênese da doença periodontal inflamatória. Estes mecanismos podem ser mediados por anticorpos, hipersensibil- idade do tipo imediato (humoral) ou por células, hipersensibil- idade do tipo tardio (celular). A hipersensibilidade do tipo tardio é mediada pelos linfócitos- T, e pode representar um dos mecanismos efetores da destru- ição tecidual e da perpetuação do processo inflamatório nas gengivites e periodontites. Estudos imunopatológicos indicam que a hipersensibilidade tardia atua como mecanismo efetor importante da destruição tecidual, principalmente nas fases ini- ciais da gengivite marginal crônica, cujo infiltrado inflamatório é predominantemente constituído por linfócitos-T. Linfócitos obtidos de portadores de gengivite e periodontite, quando es- timulados in vitro por antígenos da placa, sofrem transform- ação blástica. 0 grau desta transformação correlaciona-se com a severidade da doença periodontal inflamatória. Durante a transformação blástica, os linfócitos-T elaboram moléculas bio- logicamente ativas (linfocinas) que respondem como elementos 64/229 mediadores da resposta exsudativa celular e da destruição te- cidual em certas fases da inflamação. Na doença periodontal in- flamatória alterações são atribuídas as linfocinas: degeneração fibroblástica, dissolução das fibras colágenas e reabsorção óssea. Os fibroblastos imunologicamente alterados, perdem a capacidade de síntese da proteína colagênica e rompem o equilíbrio fisiológico de renovação do colágeno (collagen turnover), resultando em sua perda global na área envolvida pelo infiltrado inflamatório crônico. As linfocinas encerram também componentes que estimulam macr6fagos e neutrófilos a destruir as fibras colágenas através da secreção de colagenase e osteoclastos a induzir reabsorção óssea. Diversos fatos parecem também sugerir a participação da hipersensibilidade humoral (linfócito B) na patogênese da doença periodontal inflamatória. A substância fundamental da gengiva normal e, em particular, da gengiva inflamada, é per- meável às imunoglobulinas oriundas do soro. A maior parte das imunoglobulinas encontradas nestas regiões é da classe IgG, seguindo se pela ordem a IgM e a IgA. Estas imunoglobulinas presentes no exsudato inflamatório reagem com os antígenos da placa bacteriana dental ao nível do sulco gengival, epitélio juncional e tecido conjuntivo subepitelial, formando imunocomplexos fixadores de complemento que po- dem lesar localmente os tecidos, intensificando o processo inflamatório. A hipersensibilidade mediada por anticorpos se processa de três modos diferentes, segundo o mecanismo da reação: hiper- sensibilidade tipo I ou anafilática, hipersensibilidade tipo II ou 65/229 citotóxica e hipersensibilidade tipo III ou mediada por imunocomplexos. A hipersensibilidade tipo I, conhecida como anafilática, alergia at6pica ou simplesmente anafilaxia, se processa nos indivíduos sensibilizados, ou seja, nos portadores de anticorpos capazes de desencadear reação do tipo anafilático na eventualidade de uma exposição à segunda dose do antígeno (dose desencadeante). No homem, os anticorpos envolvidos na reação anafilática são representados pela IgE. Estes anticorpos se caracterizam pela propriedade de se fixar na membrana de certas células, como mast6citos e basófilos. Quando a dose desencadeante do antí- geno atinge as células, às quais estão fixos estes anticorpos for- mados após o estimulo sensibilizante, dá-se a liberação de sub- stâncias farmacologicamente ativas, como histamina, substân- cia de ação lenta da anafilaxia (SRS-A) e fator quimiotático para eosinófilos (ECF-A), que prontamente desenvolvem violenta reação inflamatória nos órgãos de choque, caracterizados pela riqueza em mastócitos. A hipersensibilidade tipo II, ou citotóxica, consiste na reação de anticorpos contra antígenosrepresentados pela própria mem- brana celular ou por substâncias incorporadas à superfície celu- lar, culminando a reação pela destruição da célula portadora do antígeno. O anticorpo envolvido pertence usualmente a classe IgG ou IgM. Nas gengivites e nas periodontites a união dos an- tígenos provenientes da placa com a superfície das células gen- givais poderia induzir a formação de anticorpos citotóxicos que reagiriam com as células portadoras destes antígenos fixando complemento e levando-as à completa destruição. A presença 66/229 de antígenos, complemento e anticorpos tipo IgG e IgM na lâmina própria da gengiva, no epitélio e no fluido do sulco gen- gival, torna provável a participação deste mecanismo imunop- atológico na patogênese das lesões inflamatórias do periodonto. A hipersensibilidade tipo III, na forma de reação de Arthus, representa o mecanismo imunopatológico imediato mais dis- cutido a propósito da patogenia da doença periodontal inflam- atória. 0 anticorpo que produz o fenômeno deve ser do tipo pre- cipitante e fixar complemento. Os anticorpos envolvidos são IgG e IgM, ou seja, anticorpos capazes de fixar complemento. A reação de Arthus se processa mediante a formação e de- posição de imunocomplexos na parede dos pequenos vasos com fixação de complemento. Havendo fixação de complemento os complexos Ag-Ac-C tornam-se quimiotáticos para os granulóci- tos neutrófilos, atraindo-os para o local onde estes imunocom- plexos se depositam. Os granulócitos neutrófilos fagocitam en- tão os complexos imunes com grande liberação de enzimas lisossomais que agravam a vasculite, produzindo reações focais necrótico-hemorrágicas. A destruição tecidual é uma con- sequência, portanto, da liberação de enzimas histoliticas por parte dos granulócitos neutrófilos. Mudanças ultraestruturais na doença periodontal Os estudos ultraestruturais do tecido periodontal na saúde e na doença contribuíram para um entendimento mais completo das reações e interações do tecido que ocorrem durante a doença periodontal. Posteriormente, eles ajudaram a esclarecer muitos dos estudos bioquímicos e imunológicos sobre esta doença. Por 67/229 razões didáticas, é conveniente descrever as mudanças ultraes- truturais e como elas aparecem gradualmente durante os está- gios iniciais inflamatórios e no estabelecimento da doença peri- odontal. A primeira descrição compreensiva deste processo foi iniciada por Page & Schroeder. Quando a gengivite subclínica começa a se desenvolver, uma re- sposta inflamatória aguda ocorre no tecido conjuntivo na base do sulco gengival dentro de 2 a 4 dias do acúmulo de placa. Gengivite A maioria das populações celulares recrutadas para este local são predominantemente de neutrófilos, embora os linfócitos e as células mononucleares também estejam presentes. Estas células tem a habilidade de produzir fatores locais que afetam o processo de remodelagem osso. Depois de 4 a 7 dias, as células inflamatórias infiltram-se no tecido conjuntivo e até 70% do colágeno pode ser perdido. Além disso, os fibroblastos mostram alterações citotóxicas. 68/229 Na gengivite crônica, as células inflamatórias acumulam-se e o tecido conjuntivo continua a ser destruído, entretanto, as mudanças ultraestruturais ainda não são vistas no osso. Na periodontite, a infiltração celular e a degradação de colágeno progridem apicalmente. Os osteoblastos no osso alveolar desa- parecem. Um grande número de osteoclastos reabsorvem a crista do osso, resultando na perda de ancoragem das fibras principais do periodonto. A superfície do cemento é o último te- cido a ser reabsorvido. Estes fatores ocorrem 0,5 a 1 mm à base do epitélio da bolsa periodontal. As razões para a resistência relativa do cemento para a reab- sorção, comparada com o tecido basal, tem sido assunto de muita especulação. 0 cemento remodela-se muito devagar com- parado com o osso e uma ativação deste processo é muito mais difícil. A camada de superfície do cemento contém mais fluoreto do que o tecido ósseo, resultando numa grande res- istência à dissolução em ácidos produzidos pelo osteoclasto. Mais importante, não existem vasos sanguíneos no cemento e menos vascularização do tecido conjuntivo perto da superfície da raiz. Na periodontite adulta, fatores produzidos por bactérias, tais como os lipopolissacarideos, juntos com os produzidos durante o processo inflamatório, afetam a remodelagem do osso. 69/229 Periodontite. Bolsa periodontal Resumo da Progressão da Doença Periodontal A progressão da doença periodontal nas estruturas do period- onto tem alguns estágios histológicos: 1. Gengiva normal (ainda com células inflamatórias recentes): gram-positivos aeróbios, epitélio juncional sem proliferação da crista epitelial, poucos polimorfonucleares, exsudato mínimo, conjuntivo normal sem perda óssea. 2. Lesão inicial: de 2 a 4 dias, ocorre uma dilatação vascular e vasculite, infiltração por polimorfonucleares no epitélio jun- cional (células predominantes), há perda perivascular de colá- geno e um fluxo de fluido gengival. 3. Lesão precoce: de 4 a 7 dias, há gram-positivos aeróbios, ocorre uma proliferação vascular, infiltração por polimorfonuc- leares no epitélio juncional, proliferação inicial lateral do epi- télio juncional, projeções conjuntivas, áreas atróficas, as células imunes predominantes são os linfócitos, há perda aumentada 70/229 de colágeno ao redor do infiltrado e eritema e sangramento a sondagem. 4. Lesão estabelecida: de 14 a 21 dias, é quando a gengivite está visível clinicamente, biofilme formado por gram-positivos e negativos, aumento da proliferação lateral do epitélio juncional (edema – margem gengival para coronal), presença de plasmó- citos no infiltrado inflamatório (10 a 30%). Aumento do ex- sudato, aumento da destruição de fibroblastos e colágeno, aus- ência de perda óssea. 5. Lesão avançada: de 4 a 6 meses, o biofilme formado, o epi- télio juncional migra apicalmente, plasmócitos predominantes (mais de 50% – inflamação crônica), aumento do exsudato, aumento da destruição de fibras colágenas e fibroblastos, perda óssea. Referências Bibliográficas ETO FS; RASLAN SA; CORTELLI JR .Características microbi- anas na saúde e doença periodontal . Rev. biociênc.,Taubaté, v.9, n.2, p.45-51, abr-jun 2003 DIAS LZS; PIOL SAC; ALMEIDA CSL. Atual classificação das doenças periodontais Rev. Odontol., Vitória, v.8, n.2, p.59-65, maio/ago. 2006 PEREZ DSG . Modulação da resposta do hospedeiro em period- ontia: uma revisão , Monografia (Especialização)- Universidade Federal de Minas Gerais, 2010 71/229 AAP – American Academy of Periodontology. Modulation of the host response in periodontal therapy. J. Periodontol., v.73, n.4, p.460-470, Apr. 2002. BERGLUNDH T., DONATI, M. 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