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REVISTA ÂMBITO JURÍDICO ®
Palmadas que educam: O direito-dever dos pai de corrigir
 
RESUMO: A nossa Constituição Federal de 1988 prevê o direito à vida. Mas não é qualquer vida que é assegurada em nossa Lei Maior e sim a
existência de vida digna. Inegavelmente, tem-se que a família, em regra, representa o primeiro contato do ser humano com a sociabilidade e assim,
essa vida digna deve começar a ser construída dentro da célula familiar. Hoje a educação familiar tem recebido um crescente reconhecimento e
assume uma importância cada vez maior. Uma educação sem qualquer tipo de violência e com regras, limites e moral é totalmente possível e muito
eficiente. O cerne deste problema é que almejam que os pais tenham estabilidade emocional, saibam educar e transmitam seus valores. No entanto,
isto não acontece com a simples criação de mais uma lei nem tampouco que os limites desta ultrapassem a intimidade de cada um. Assim, o
presente artigo tem por escopo tecer uma breve analise sobre os limites legais dos pais em relação à orientação educacional daqueles pelos quais é
também legalmente responsável e o quanto este novo ordenamento vem a afrontar direitos individuais destas pessoas, sejam elas pais, responsáveis
ou professores.
Palavras-chave: crianças, limites, educação, responsabilidade legal
Abstract: Our Constitution of 1988 provides for the right to life. But not just any life that is guaranteed in our highest law, but the existence of a decent
life. Undeniably, there is the family, as a rule, represents the first human contact with sociality and thus, this dignified life should begin to be built within
the family unit. Today the family education has received increasing recognition and is of increasing importance. An education without any violence and
with rules, boundaries and morality is entirely possible and very efficient. The crux of the problem is that desire that parents have emotional stability,
know to educate and transmit their values. However, this does not happen with simply creating another law nor exceed the limits of the intimacy of
each one.Thus, the scope of this paper is to weave a brief analysis about the legal boundaries of parents regarding the educational placement of those
for whom it is also legally responsible and how this new order comes to dealing with individual rights of these people, be they parents, guardians or
teachers.
Keywords: children, limits, educational, legal liability
INTRODUÇÃO
Assistimos a uma evolução no quadro de direitos e podemos dizer que é fruto da convergência dos ordenamentos dos Estados contemporâneos ao
reconhecimento do ser humano como o centro e o fim do Direito. Essa idéia encontra-se vinculada pela adoção, à guisa de valor básico do Estado
Democrático de Direito, da dignidade da pessoa humana e suas decorrentes variáveis.
O princípio da dignidade da pessoa humana consagra proteção aos sentimentos do ser, aqueles mais íntimos, por vezes incomensuráveis, presente
então a preocupação estatal para com a pessoa, em si, considerada como gênero da espécie humana, em qualquer fase do ciclo vital.
Assim, compreende-se a necessidade de que sociedade, família e escola (re) pensem as concepções sobre educação e organização de práticas
pedagógicas diferenciadas para efetivação de maiores direitos para menores que se encontrem em situação de vulnerabilidade ao meio em que está
inserido quando verificada a sua ocorrência.
Com o advento da Constituição Federal de 1.988, muitas situações fáticas que reclamavam guarida constitucional foram regulamentadas. Já não era
sem tempo que o direito constitucional se debruçasse sobre a educação e família, tratando tais questões de maneira protetiva, assegurando à base
da sociedade sua existência e permanência.
De acordo com Saraceno (1996), a relação família e Estado é conflituosa desde o princípio, por estar menos relacionada aos indivíduos e mais à
disputa do controle sobre o comportamento dos indivíduos. Por essa razão, ela tem sido lida de duas formas opostas. Como uma questão de invasão
progressiva e de controle do Estado sobre a vida familiar e individual, que tolhe a legitimidade e desorganiza os sistemas de valores radicados no
interior da família. Ou, como uma questão que tem permitido uma progressiva emancipação dos indivíduos. Pois, à medida que o Estado intervém
enquanto protetor, ele garante os direitos e faz oposição aos outros centros de poderes tradicionais (familiares, religiosos e comunitários), movidos
por hierarquias consolidadas de uma solidariedade coativa.
A partir de então, assistimos, ao longo do tempo, à interferência do Estado nas famílias através de três grandes linhas. Da legislação através da qual
se definem e regulam as relações familiares, tais como idade mínima do casamento, obrigatoriedade escolar, deveres e responsabilidades dos pais,
posição e direitos dos cônjuges.
Assim, é nesse contexto que o presente trabalho pretende discutir a necessidade da integração e da participação da família para o sucesso da
educação e nas formas como esta se dará principalmente no ambiente familiar.
2 CONTEXTO FAMILIAR – INDIVUDUALIZAÇÃO E PROTEÇÃO DE CADA MEMBRO
O art. 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente é bastante claro ao expressar que: “Toda criança ou adolescente tem o direito a ser criado e
educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária”.
Pela regra geral acredita-se que a família, de direito ou de fato, é o lugar ideal para a criação e educação de qualquer criança. E isto porque os pais
são os maiores responsáveis pela formação dos filhos, possuindo o pátrio poder sobre eles e o pátrio dever de lhes garantir os direitos fundamentais
e manutenção de sua integridade.
A importância da convivência familiar e comunitária para a criança e o adolescente é reconhecida na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e
do Adolescente, bem como em outras legislações e normativas nacionais e internacionais. Subjacente a este reconhecimento está a idéia de que a
convivência familiar é fundamental para o desenvolvimento da criança a qual não pode ser concebida de modo dissociado de sua família, do contexto
sociocultural e de todo o seu contexto de vida.
A família está em constante transformação e evolução a partir da relação recíproca de influências e trocas que estabelece com o contexto social em
que está inserida.
Historicamente, a família nuclear tem coexistido com diversas outras formas de organizações familiares – famílias monoparentais, chefiadas pela
mulher ou pelo homem; descasadas; recasadas; com membros de diferentes gerações; casais homossexuais, entre outros (SYMANSKI, 2002, p. 24).
Além dos arranjos familiares, as famílias brasileiras são marcadas, ainda, por uma vasta diversidade sociocultural e étnica. Nesse sentido, vale
destacar as famílias pertencentes aos povos e comunidades remanescentes de quilombos, cuja organização é indissociável dos aspectos culturais e
da organização do grupo. 
Segundo Bruschini (1981, p. 77), a família “[...] não é a soma de indivíduos, mas um conjunto vivo, contraditório e cambiante de pessoas com sua
própria individualidade e personalidade”. Assim, conjuga individual e coletivo, história familiar, transgeracional e pessoal.
A família, seja qual for a sua estrutura, possui como pano de fundo o referencial de afeto, proteção e cuidado; nela os indivíduos constroem seus
primeiros vínculos afetivos, experimentam emoções, desenvolvem a autonomia, tomam decisões, exercem o cuidado mútuo e vivenciam conflitos.
Significados, crenças, mitos, regras e valores são construídos, negociados e modificados, contribuindo para a constituição da subjetividade de cada
membro e capacidade para se relacionar com o outro e com o meio. Obrigações, limites, deveres e direitos são circunscritos e papéis são exercidos.
A família é, ainda, dotada de autonomia, competências e geradora de potencialidades: novaspossibilidades, recursos e habilidades são
desenvolvidos frente aos desafios que se interpõem em cada etapa de seu ciclo de desenvolvimento. Como seus membros, ela está em constante
evolução: seus papéis e organização estão em contínua transformação. Este ponto é de fundamental importância para se compreender o
investimento no fortalecimento e no resgate dos vínculos familiares em situação de vulnerabilidade, pois cada família, dentro de sua singularidade, é
potencialmente capaz de se reorganizar diante de suas dificuldades e desafios, de maximizar as suas capacidades, de transformar suas crenças e
práticas para consolidar novas formas de relações.
Assim, se torna fundamental o fortalecimento da família com o apoio de políticas sócio-familiar, em diferentes dimensões que visem a reorganização
das relações familiares, especialmente no que se refere ao respeito aos direitos de crianças e adolescentes.
Muito frequentemente, a criança e o adolescente são alvos de estudo nas relações traçadas em família ou na falta dela, bem como a importância da
convivência familiar nas etapas do ciclo vital. Infelizmente faltam, no Brasil, estudos mais consistentes sobre o impacto, na adolescência, da falta de
vínculos comunitários e de referências sociais para a ética da existência e uma moral da vida cotidiana, que venha de encontro aos anseios desta
fase da vida quando se constrói a identidade que orienta a vida adulta.
A exemplo de uma educação baseada na criação com pais presentes e com a real intenção de direcionar, orientar e discernimento do quando e
como corrigir as mal criações de seus rebentos é o estudo realizado nos Estados Unidos que afirma que crianças que apanham dos pais como parte
da educação têm melhores notas e são mais otimistas. Além disso, estas crianças, que receberam repreensão física dos pais antes dos seis anos,
têm maiores chances de fazer trabalhos voluntários e mais vontade de ter um curso de graduação.
Apesar dos resultados mostrados pela pesquisa, grupos de direitos humanos argumentam que esta é uma forma antiquada de educação, que pode
levar a danos e problemas mentais nas crianças. Marjorie Gunnoe, que realizou a pesquisa, afirma que o estudo mostra que não há provas
suficientes para impedir que os pais escolham como devem punir os filhos quando fazer algo errado. “Eu acho que bater nos filhos é uma ferramenta
perigosa, mas às vezes existem problemas grandes o bastante para esta ferramenta”, afirma a pesquisadora. “Só não se pode usá-la para todos os
problemas”, esclarece Gunnoe.
Winnicott (2005-a, p. 129; 2005-b, p. 138) destaca que um ambiente familiar afetivo e continente às necessidades da criança e, mais tarde do
adolescente, constitui a base para o desenvolvimento saudável ao longo de todo o ciclo vital. Tanto a imposição do limite, da autoridade e da
realidade, quanto o cuidado e a afetividade são fundamentais para a constituição da subjetividade e desenvolvimento das habilidades necessárias à
vida em comunidade.
Assim, as experiências vividas na família tornarão gradativamente a criança e o adolescente capazes de se sentirem amados, de cuidar, se
preocupar e amar o outro e é neste contexto que a palmada se apresenta aos pequeninos a capacidade de se responsabilizar por suas próprias
ações e sentimentos. Estas vivências são importantes para que se sintam aceitos também nos círculos, cada vez mais amplos, que passarão a
integrar ao longo do desenvolvimento da socialização e da autonomia.
Entretanto, nem todas as famílias são constituídas em um ambiente saudável e seguro para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. É preciso
avançar na compreensão das dificuldades que as famílias, em situação de vulnerabilidade social, têm para oferecer tal ambiente aos seus
adolescentes, premidas pelas necessidades de sobrevivência, pelas condições precárias de habitação, saúde e escolarização, pela exposição
constante a ambientes de alta violência urbana, dentre outros fatores.
Não é por acaso que há necessidade de desenvolvimento de programas sociais voltados a infância e juventude em situação de vulnerabilidade
social, quer tenha vínculos comunitários e familiares intactos, quer esteja em situação de afastamento provisório ou não, de suas famílias.
Considera-se o adolescente como ser em intenso processo de construção de sua identidade e para este, a experiência familiar, ou seja, o convívio
com todos os entes, avós, tios, irmãos, é de significativa importância. Uma atitude de oposição às normas de seu modelo familiar e/ou aos pais,
principalmente nesta fase de descobertas e inclusão ao seu meio social é parte inerente do processo de diferenciação em relação a estes e de
construção de seu próprio eu.
O desenvolvimento da autonomia se dará de modo crescente, mas o adolescente, em diversos momentos, precisará recorrer tanto a fontes sociais
que lhe sirvam de referência (educadores, colegas e outras) quanto à referência e à segurança do ambiente familiar. Assim, a sabia convivência
familiar de onde ele extraia lembranças de comportamentos correto e suas variáveis conseqüências poderá servir como base necessária ao
amadurecimento e para a constituição de uma vida adulta saudável e íntegra.
Finalmente, a família tem importância tal que permanece viva, como realidade psicológica, ao longo de todo o ciclo vital do indivíduo, ainda que
sentida como falta. Ao longo de sua vida, cada pessoa retornará inúmeras vezes às lembranças, sejam elas boas ou ruins, das experiências vividas
com a família na infância, na adolescência, na vida adulta e na velhice. 
Os aspectos aqui abordados têm como objetivo fundamentar o direito de cada individuo de ser criado e orientado dentro dos padrões de cultura e
moral adotados e valorizados em seu seio familiar ao passo que o novo ordenamento – Lei da Palmada – seja buscado em medida de
excepcionalidade. 
Muitos autores, como Justo (1997), afirmam que, quando a convivência familiar é saudável, a família é o melhor lugar para o desenvolvimento da
criança e do adolescente. Todavia, é preciso lembrar que a família, lugar de proteção e cuidado, é também lugar de conflito e pode até mesmo ser o
espaço da violação de direitos da criança e do adolescente. Nessas situações, medidas de apoio à família deverão ser tomadas, bem como outras
que se mostrarem necessárias, de modo a assegurar o direito da criança e do adolescente de se desenvolverem no seio de uma família,
prioritariamente a de origem e, excepcionalmente, a substituta, pois a convivência saudável com a família possibilita que:
“O indivíduo encontre e estabeleça sua identidade de maneira tão sólida que, com o tempo, e a seu próprio modo, ele ou ela adquira a capacidade de
tornar-se membro da sociedade – um membro ativo e criativo, sem perder sua espontaneidade pessoal nem desfazer-se daquele sentido de
liberdade que, na boa saúde, vem de dentro do próprio indivíduo” (WINNICOTT, 2005-a, p. 40).
A legislação brasileira vigente reconhece e preconiza a família, enquanto estrutura vital, lugar essencial à humanização e à socialização da criança e
do adolescente, espaço ideal e privilegiado para o desenvolvimento integral dos indivíduos.
Muitos autores vêm afirmando que, apesar do reconhecimento da centralidade da família no âmbito da vida social, têm existido uma prática e uma
negação sistemática de tal reconhecimento, havendo mesmo uma penalização da família por parte daquelas instituições que deveriam promovê-la.
Vê-se com isso quão difícil é para o Direito acompanhar as relações sociais que surgem, a cada dia, e que não deixam de gerar demandas na
tentativa de solucioná-las, assim dispensável tecer qualquer comentário quanto a dificuldade de superarmos quaisquer pré-conceitos e apego a
definições anacrônicas quanto a constituição da família merecedora de amparo legal.
3 DIREITO-DEVER DE EDUCAR
Recentemente nosso Presidente da Republica lançou mão de uma tosca Lei com o fito de abolir aquelas que se tornaram tãofamosas “palmadas de
disciplina”.
Um analise perfunctória do projeto já se depara com inúmeras afrontas a direitos maiores já assegurados como: liberdade individual, dever de
educação e pátrio poder.
A nova lei que proíbe as palmadas é o novo exemplo trazido pelo Estado de que o cidadão não é suficientemente livre para fazer uso racional de
suas liberdades, especialmente, a liberdade dos pais de educar seus filhos com base nos desígnios próprios do costume que os têm albergado.
O que se vê é a descabida interferência no âmbito familiar do poder Estatal ao ditar regras-limites a intimidade de cada cidadão.
Com a substituição da idéia de predomínio do pai e submissão do filho pela idéia de amparo e proteção do menor, o poder familiar assumiu, nos dias
atuais, a feição de um poder-dever, de um direito-função, situando - se numa posição intermédia entre poder e direito subjetivo. É um múnus público
dado o interesse social que envolve, ao qual Estado mantém-se atento, fixando os limites de atuação de seus titulares. O desrespeito a tais limites
encontra, no sistema jurídico, uma resposta punitiva ou corretiva.
Essa interferência do Estado nos direitos parentais traz à discussão dois princípios, que norteiam as relações no âmbito familiar: o princípio da
autonomia da família e o princípio da intervenção subsidiária do Estado.
Pensar, agir e decidir sem submeter-se a influência externa: nisto consiste a autonomia da família. Resguardá-la o máximo possível, impedindo que o
Estado se intrometa no seu âmbito, significa proteger a esfera do indivíduo. 
Nem sempre, contudo, é fácil conciliar os princípio da autonomia da família com a necessidade de o Estado preservar certos valores sociais e cumprir
determinadas metas.
É claro que o princípio da autonomia da família não é absoluto; é cabível a atuação do Estado, mas esta atuação deve ser supletiva. Para tanto, o
Estado planeja e organiza sistema corretivo-repressivo que só é acionado a fim de atender situações de crise no ambiente familiar. O art. 1635 do
Código Civil de 2002, ao enumerar hipóteses da perda do pátrio poder, autoriza a intervenção do Estado na entidade familiar. Em dadas
circunstâncias a presença do Estado é tão salutar quanto necessária; em outras situações, a interferência do Estado pode ser nociva revestindo-se
de feição policialesca.
O grande desafio que se põe ao legislador, ao juiz e ao cientista do Direito é o de encontrar o ponto de equilíbrio essencial na estrutura do poder
familiar – entre as duas situações opostas: a supremacia do Estado nos domínios da família e a onipotência daqueles que, na família, assumem o
poder de direção.
Quando se fala em educação com disciplina fazendo uso da força física tem-se que atentar ao fato de que o que não se admite, segundo uma
moralidade objetiva, é que tal moléstia disciplinar ultrapasse os liames da razoabilidade, pois caso contrário, a ocorrência se adequaria materialmente
nos ditames do crime de maus tratos. No entanto, o empreendimento legislativo além de demonstrar uma total intervenção na intimidade familiar da
sociedade brasileira, demonstra uma grande preocupação em modificar os ideais de bom e mau, justamente, os vértices incontestáveis da noção
moral intima de cada ser socialmente inserido.
Ainda que haja uma tentativa ou até mesmo excesso de zelo estatal na preservação da integridade de crianças e adolescentes destaca-se o diploma
especial em seu artigo que aponta os pais como os responsáveis legal na orientação de seus filhos sob pena de responsabilização.
4 LIMITES LEGAIS E MORALMENTE CONSTITUÍDOS
O governo está propondo a modificação no artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente, tornando crime dar palmadas com a intenção de
educar crianças. Essa medida é, no mínimo, ingênua, posto que já possuímos legislação suficiente para punir pais violentos e educadores que
maltratam suas crianças.
Com efeito, o trajeto histórico percorrido por uma sociedade ao longo dos séculos permite que se construam as noções de bom e mau, conforme os
modelos sociais vigentes, principalmente no modo como as famílias atuam na educação de seus educandos. Esta consolidação do que é moral ou
imoral é algo cuja importância o Estado não pode alterar através da imposição legal, sob pena de completo abandono da legalidade. Diz-se tal
abandono porque tendo em vista que se impõe algo impróprio de ser concretizado, a regra positiva que dá substância a esse dever de ação perderá
seu valor social por falta de substrato moral. Quer dizer, o costume não revoga a regra, apenas uma norma moral poderia revogar uma regra, na
medida em que seu fundamento de prevalência fosse mais denso do que aquele que sustenta a regra, por conseguinte, outorgando para si o dever
normativo de afastar a regra, sob tal perspectiva, tirânica e injusta. Ainda, se somente uma norma moral socialmente validada pode revogar,
tacitamente, uma regra posta, significa que o Direito é atrelado à moral e, assim, submete a sua eficácia ao seu império, ou seja, é lícito, nessa
pós-modernidade, sobretudo, legitimar uma adequação do posto ao não posto, visto que, aquilo que se diz pressuposto, num contexto moral,
independe de comprovação empírica, ao ponto em que, sua verificação para suficiência, baseia-se na égide do próprio costume, tão logo, a
reiteração evidente de uma prática moral e socialmente aceita e validada através do tempo e das gerações.
Enquanto justiça, tais pontos constituem o corolário do conceito de justiça dinâmica e, mormente, à percepção transcendental da moral como aspecto
a priori, e premissa prejudicial, para a incidência mesma do regramento jurídico-positivo. É, outrossim, o epíteto de um pós-positivismo jurídico que se
mostra inconformado com as arbitrariedades do Direito Positivo, nomeadamente quando este insiste em disciplinar o que o costume e a moral já
disciplinam, sendo que, disciplinam de modo muito mais válido e, conseqüentemente, justo, tocando à razoável medida entre o que é aceito como
bom ou mau.
Para o autor Luiz Felipe Nobre Braga, o Estado não pode disciplinar a liberdade de educar, pelo contrário, pode e deve punir os excessos. Mas isso
já é feito pela legislação contida no Estatuto da Criança e do Adolescente, descabendo, pois, regras que vão além do socialmente necessário. A
figura de um modelo político intervencionista nas liberdades individuais é insuficiente, posto que aloque para o esquecimento a condição cultural e
moral da sociedade em que ajusta suas raízes de eficácia.
Por outro lado, carecemos de uma argumentação voltada para a política, de tal sorte que, pelo exposto, o Direito Positivo não é legítimo para intervir
no campo cultural médio, mas deve ser uma prerrogativa formal apenas para a implantação de uma política social voltada à educação baseada
unicamente no diálogo. Isso quer dizer que o caminho escolhido para a intervenção do Estado na cultura da palmada como método educativo não
poderia acontecer através da criação de uma regra proibitiva, contudo na implantação de um sistema de vigilância, a cargo de órgãos como Ministério
Público, Conselho Tutelar etc., para impedir que a educação continuasse a repousar na aflição corporal ao invés de ter sua base na tolerância dos
pais em relação ao desenvolvimento biopsicossocial de seus filhos.
Certamente, a regra que trouxe esta proibição indica uma grave crise, cujo colapso está marcado justamente pela publicação da nova lei. Se o
Estado chegar a intervir desta maneira, precisamos perceber teleologicamente sua intenção que, em grande verdade, está em retirar a grande
parcela de culpa que historicamente se atribui à escola pelo insucesso na educação de crianças e adolescentes, restaurando o dever moral da família
de preservar a formação primeira destes, em contrapartida a todo discurso que procura explicar os déficits de consciência cívica e ética na estrutura
escolar pública ou privada.
A família é a escola par excellence que ensina os preceitoséticos da vida em sociedade e é onde se encontra o sistema moral capaz de fazer com
que a criança e o adolescente cresçam embebidos na utilização racional de suas liberdades. Ou seja, o fato do Estado intervir de modo tão incisivo
na cultura da palmada, por um lado revela que o planejamento político-educacional é falho, porque não é pela regra que se muda um costume até
então tido como válido, mas na formação de consciências a partir das políticas de massas, àquelas perpetradas ao longo do tempo e não
instantâneas e imperativas como ocorre com a imposição de uma lei. Do ponto de vista político seria muito mais viável que o Estado demonstrasse
os benefícios da educação pelo diálogo, pela tolerância e pela benevolência e não reprimir, de plano, uma determinada conduta. Isto, no entanto, se
dá por meio de professores capazes de se tornarem educadores e de gestores escolares empenhados com a necessidade fundamental de entrelaçar
a família no processo de aprendizagem do educando, provando as vantagens racionais e éticas de uma educação edificada na troca de experiências
e no desenvolvimento da capacidade reflexiva do educando.
Por isso, deve ser reprimido o mau uso da palmada ou sua forma exacerba sem contexto cognitivo como método educativo, mas também reprimimos
o Estado por atribuir eficácia a uma lei impensada que surtirá efeitos contrários à sua ideia inicial. Hoje, portanto, é ilícito dar palmadas e castigos
vexatórios nos filhos, uma regra contrária à razão, todavia, a regra que é contrária à razão, e é da razão prática que nos referimos, e não a intenção
que é irracional, apenas optou-se por um caminho errado para resolver um problema flagrante da sociedade brasileira. Este é um exemplo do
fenômeno de total inaplicabilidade do princípio da legalidade, posto que, neste caso, a regra coage pais e mães ainda não sabedores dos benefícios
da educação benevolente, resultando, inequivocamente, no desprestígio do Estado que sequer aparenta saber a respeito do que é necessário para a
formação de uma sociedade melhor e, ainda, como agir de forma interventiva, pensando na busca pelo bem-comum em detrimento da possibilidade
dos pais utilizarem racionalmente da liberdade de educar seus filhos.
Agora, temos pais irracionais por não saberem os prejuízos da violência disciplinar e o que é pior, um Estado incapaz de fornecer esta educação
primeira antes de tentar lograr qualquer sucesso na tipificação de uma conduta.
Tanto é inconstitucional a nova lei que proíbe a palmada como é inconstitucional dar palmada para educar. A solução não está no imperativo, mas no
diálogo travado entre Estado e família, algo até agora negligenciado, tornando incoerente a política de repressão à violência. Afinal, se não podemos,
pelo ideal da educação benevolente, aplicar palmada para educar nossos filhos, pois agora protegidos por lei especialíssima, quem é que então nos
protegerá da violência do Estado, em cujos ombros abstratos residem as premissas da democracia e, por conseguinte, da participação popular nas
decisões, em publicar regras completamente destoadas do sentido mesmo que pregam, ou seja, não bata, não agrida, mas prefira o diálogo? É mais
uma prova de que uma reforma política e institucional figura como urgente. Tomara que não demore.
5 A FINALIDADE DA LEI ANTI-PALMADAS
A discussão que envolveu o país quanto ao direito de pais e responsáveis de aplicar castigos físicos e até palmadas nas criança altera dispositivos
do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Pais, professores e babás, por exemplo, não poderão mais bater, ter conduta que humilhe, ameace
gravemente ou ridicularize os filhos. Ou seja, não devem mais corrigir crianças e adolescentes com palmadas, sob penalidade de advertência,
encaminhamento a programas de proteção à família, orientação psicológica e ainda podem ser obrigados a encaminhar os filhos a tratamento
especializado.
O projeto reafirma o que nós sabemos já ser proibido. Ele "estabelece o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o
uso de castigos corporais ou de tratamento cruel ou degradante". Até aqui, todos estamos de acordo. Mas, sob o argumento de que devemos coibir a
violência doméstica, governo e Congresso começam a entrar numa seara bastante pantanosa. Com tanta coisa mais séria para discutir, suas
excelências vão se debruçar sobre um tema que não tem a unanimidade nacional.
O assunto por si só é bastante controverso mas não se questiona a intenção, até porque o projeto bate numa tecla já prevista no ECA. Não seria
preciso mais uma lei para impedir o excesso e a violência contra a crianças. É preciso apenas exigir o cumprimento da que já existe. O Estatuto fala
em "maus tratos". Uma criança jamais poderá ser vítima de violência, agressões, tabefes, castigos físicos, como os aplicados por pais, padrastos, tios
e até avós. Elas não podem ser válvula de escape para o stress da vida moderna ou ataques etílicos de parentes neuróticos.
A fronteira entre palmadas educativas e violência é bastante difusa, por isso a preocupação de educadores e psicólogos com a liberalidade dos
castigos físicos. Castigar fisicamente uma criança sempre foi contra a lei. A existência de dispositivo legal não é suficiente para impedir esse crime.
No entanto, as estatísticas mostram aumento da violência no lar e em abrigos, de pessoas próximas às crianças.O interessante é que em pesquisa
realizada pelo Datafolha, divulgada na semana passada, 54% dos brasileiros são contrários ao projeto de lei que veta castigos físicos em crianças.
74% dos homens e 69% das mulheres já apanharam dos pais, revela a pesquisa. Nem por isso a população brasileira se transformou numa geração
de neuróticos ou revoltados.
A polêmica é maior porque a palmada parece incorporada na cultura brasileira, como uma demonstração de autoridade. Provavelmente, a maioria da
população é contra o projeto, não porque defenda a violência contra a criança, mas porque considera a proposta uma intromissão na privacidade do
lar, uma interferência indevida na educação dos filhos, função que consideram atribuição prioritária dos pais. "É uma lei que quer regular a intimidade
da casa, da relação pai e filho. Os casos extremos já têm medidas judiciais. Já temos recursos que funcionam", diz Lino Macedo, do Instituto de
Psicologia da USP.
A questão é, deveria o estado interferir no espaço do lar, num país onde os mais simples direitos individuais, principalmente de crianças e
adolescentes, são desrespeitados? Violência maior não seria o fato de milhões de jovens fora da escola, por falta de vagas ou condições,
principalmente nas regiões mais pobres?
Mais importante do que aprovar mais uma nova lei, que acaba não cumprida, talvez seja mudar a cultura milenar da repressão. E possamos substituir
o castigo físico pelo castigo moral, aquele que pune certos privilégios, como sair no fim de semana, cortar a mesada, deixar de jogar videogame e
outras coisas agradáveis que toda criança gostaria de fazer. Certamente, privá-las das regalias poderá ter um efeito educativo bem maior do que ficar
com o time dos que fazem da palmada um passaporte para agressões mais violentas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Atualmente, os valores constitucionais são a mais completa tradução dos fins que a comunidade pretende ver realizados no plano concreto, mediante
a normatização empreendida pela própria Lei Fundante.
O ser humano como pessoa está em constante processo de relacionamento não apenas consigo, mas também com o ambiente em que vive. Assim,
é necessário observar a proteção e participação da família na educação para que se garanta a existência de uma vida digna.
Os processos de formação se dão não apenas nos estabelecimentos de ensino como também em outras ambiências culturais como a família, visto
que a família é o centro essencial para o desenvolvimento de todo ser humano. A família é considerada a base da sociedade, conforme alude o art.
226 da Constituição Federalde 1988. De fato, o seio familiar apresenta-se como o local próprio para o desenvolvimento pessoal em todos os
sentidos. 
É necessário que as pessoas que estão envolvidas no processo educacional de crianças e adolescentes, sejam os pais, responsáveis ou
educadores, tenham a consciência da importância de evoluir, com o objetivo de fazer uma revolução educacional de forma que venham enriquecer o
progresso individual de cada ser com práticas capazes de transformar o contexto social em que está inserido.
Ao ratificar a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, o Brasil incorporou, em caráter definitivo, o princípio do melhor interesse da criança
em seu sistema jurídico e, sobretudo, vem representando um guia importante para a modificação das legislações internas no que concerne à
proteção da infância em nosso continente. 
Assim, influindo em mudanças de idéias, de atitudes, de relacionamentos com as diferenças individuais e com o modo como cada família se constitui,
se dirige e protege seus entes, busca-se com base em princípios éticos, morais e dos bons costumes a construção e o desenvolvimento pessoal em
igualdade de condições para que crianças e adolescentes tenham uma vivência correta e digna sem a submissão a castigos cruéis ou degradantes,
cabendo àquele que detém o dever de cuidado agir com bom senso a repressão da “mal criação”.
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