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Comportamento Organizacional - Arranjos Idiossincráticos Under-the-table Deals O texto “Under-the-table Deals – Preferential, Unauthorized, or Idiosyncratic?”, de Denise M. Rousseau, trata, de maneira geral, de como os chefes e seus subordinados interagem no ambiente de trabalho quando se trata de acordos e outros arranjos que, de certa forma, seja benéfico para as duas partes. Observa-se que, no ambiente de trabalho moderno, as condições que levam um trabalhador a se esforçar ou mesmo permanecer no atual emprego mudou, quando em relação às condições passadas. Com a maior flexibilidade e liquidez do emprego atual, viu-se a necessidade de distribuir regalias de forma a incentivar o individuo a ser mais produtivo. No passado, as principais moedas de troca eram a possibilidade de um emprego seguro e outros benefícios, como aposentadoria. Entende-se, porém, que nos dias atuais, a empregabilidade tornou-se mais volátil, o que incentivou os empregadores a mudar as maneiras de realizar essa troca de interesses. Arranjos idiossincráticos tornaram-se a principal forma de impulsionar a inovação e produtividade humana, além de expandir as formas de relacionamento entre chefe e subordinadas, o que antes consistia em pura “obediência”. Este tipo de acordo baseia-se numa forma de negociação a fim de reconhecer as necessidades individuais do trabalhador e, ao mesmo tempo, favorecer o interesse da empresa. Não há, portanto, uma regra de como este tipo de acordo deve acontecer, pois é extremamente relativo, uma vez em que envolve desejos pessoais. O arranjo pode tomar a forma de pagamento diferenciado, ou mesmo ser sutil como ter maior autonomia e/ou suporte da organização. A autora, porém, foca as atenções nas formas em que tais relações podem tornar-se disfuncionais, ou seja, podem criar um sentimento de injustiça nos colegas de trabalho, causando um dano á empresa e ao bom convívio entre os funcionários. A primeira disfuncionalidade citada é a do tratamento preferencial. No caso, trata-se basicamente de tratar com favoritismo algum trabalhador que, quase sempre, tem algum tipo de relação pessoal com o chefe. Muitas vezes o indivíduo que recebe tais privilégios não se mostra necessariamente alguém que se destaca em sua posição de trabalho ou que demonstre grande capacidade ao realizar suas atividades. Por tal razão, é possível e até esperado que outros funcionários vejam a relação como injusta e, principalmente, sintam-se desencorajados, uma vez em que não acreditem na credibilidade de outros arranjos idiossincráticos. Existe, então, um cuidado para lidar com esses arranjos, considerando que a percepção alheia varia de acordo com o contexto, e o que pode ser entendido como uma escolha consciente e lógica por uns, pode ser entendido como favoritismo para outros. A segunda disfuncionalidade é a de tomada de recursos de forma não autorizada. No caso, entende-se que existem alguns acordos silenciosos entre chefe e subordinado, no qual o funcionário toma posse de objetos da empresa ou mesmo utiliza o tempo destinado ao trabalho para realização de atividades pessoais. Tal arranjo e aceitação por parte dos chefes pode ser induzido pelo fato de que há más condições de emprego e pagamento do funcionário, o que cria certa sensação de injustiça, sanada pelos acordos não autorizados. Essa disfunção acaba por institucionalizar os atos ilícitos, tirando a credibilidade da empresa em atender as necessidades dos funcionários e, assim, semeando um espaço de acomodação e improdutividade. Observando estas duas formas dinsfuncionais de arranjos, percebe-se que há um limite muito inconstante e difícil de enxergar entre o que seria uma negociação saudável e o que seria um tratamento injusto. Entende-se que, num ambiente em que há igualdade salarial, um incentivo para uma pessoa que seja mais produtiva do que outra, seria tratamentos com equidade, ou seja, que busquem sanar as necessidades individuais de maneira a compensar cada pessoa individualmente, mas é importante que se tenha cuidado para não ferir o sentimento de justiça daqueles que não recebam os mesmos privilégios que outros. Quando se trata disso, a autora do texto cita as diferentes formas de justiça quando em relação a negociações idiossincráticas. A primeira explanação trata da justiça processual, ou seja, a justiça dos procedimentos. Tal justiça refere-se a crença de que deve haver equidade nos procedimentos de governança, ou seja, os processos de decisão deve ser regulado a fim de melhor definir e alocar os resultados e recompensas ao final dos processos. No geral, essa regulação visa uma coerência para que se evitem ao máximo, conflitos entre funcionários. A maneira mais conveniente de tomar as decisões é abrindo para que haja participação de empregados, dando assim voz aos indivíduos e, então, amenizando os efeitos de uma decisão mal feita, uma vez em que os funcionários sentem-se responsáveis. A justiça processual, porém, introduz certa padronização, mas não completamente, considerando que há grande diversidade de interesses nas decisões. Já a justiça distributiva refere-se a como um empregado se compara aos seus colegas e avalia as negociações a qual eles têm privilégios e até que ponto ele acredita que são acordos justos. Por causa dessa relativização de o que é justo ou não, as relações idiossincráticas costumam ser mais ofuscas e embaçadas, o que limita a capacidade de comparação. Algumas promoções podem ser escondidas ou mesmo por “debaixo dos panos”, evitando a comparação, mas também falhando em sua missão de ser justa e funcional. A justiça interativa relaciona-se à qualidade em que são realizados os tratamentos interpessoais entre chefe e subordinados, em meio a decisões da organização. Basicamente, entende-se que este tipo de justiça recai sobre a pessoa que realiza tal processo e é relativa ao sentimento do funcionário sobre o nível de respeito que este recebe. É esperado, portanto, que manter as relações de respeito em segredo traz um impacto negativo para a justiça interativa, e, portanto, chefes devem buscar uma forma legitima e transparente de respeito á algum funcionário pela sua atividade dentro da empresa, o que abre espaço para o respeito também dos outros empregados. Há algumas implicações quando se pensa em tais formas de justiça, por exemplo, a justiça processual é mais rígida, uma vez que foca na consistência dos tratamentos entre as partes e, portanto, não trabalha de maneira tão eficiente com a equidade. Já a justiça distributiva, segundo pesquisas, costuma apoiar-se em recursos monetários, explorando menos as opções de apoio interpessoal, entre outros. Por último, a justiça interativa foca nas relações individuais do respeito mas acaba falhando na disseminação do sentimento de respeito, ou seja, a percepção do tratamento não é de apoio geral, e falha em fazer sentido para todos os companheiros de trabalho.De maneira geral, todas as nuances negativas dos tratamentos idiossincráticos não devem anular este tipo de proposta, considerando que podem ser de extrema importância para o crescimento de uma empresa e também para o crescimento individual de cada empregado. Estes novos acordos são considerados maneiras mais apropriadas de incentivar um individuo em seu ambiente de trabalho, além de ajudar a empresa a manter seus melhores funcionários, considerando a grande competição entre companhias por trabalhadores valiosos. Para que uma empresa continue a realizar tais acordos de maneira bem sucedida, é importante que se mantenha em mente alguns princípios básicos. O primeiro deles é a transparência: acordos idiossincráticos tomam rumos negativos quando são mantidos em segredo, pois levam os funcionários a pensar que é de alguma forma, injusto. Portanto, é importante que seja de conhecimento geral. Outro ponto importante é a equidade: os trabalhadores precisa saber que poderiam receber tais tratamentos se quisessem, ou seja, se conseguirem alcançar certos níveis de contribuição e, também, que o tratamento será similar, porém não necessariamente igual (os desejos pessoais de cada individuo pode variar em relação a outros indivíduos). Por fim, a diferenciação é muito valiosa, pois é importante que se haja respeito pelas diferenças individuais, ou seja, o que importa realmente é que o serviço seja feito e não como foi feito, considerando que diferenças individuais levam a meios diferentes de realização de trabalho. O que se entende deste texto, é que a relação entre chefe e subordinado não é limitada a eles, e envolve sim terceiros. O que muda a essência de cada acordo idiossincrático é, se não, a percepção que outros companheiros têm da relação. Entender o processo de comparação e avaliação de terceiros em relação aos seus colegas de organização é um passo básico e fundamental para a concretização de um ambiente produtivo e ao mesmo tempo justo. Ao reconhecer o lado “obscuro” de cada tratamento entre empregado e empregador, as empresas podem buscar as melhores maneiras de realizar negociações sem ferir a boa convivência, e, também, há uma maior facilidade de pensar e criar os melhores arranjos para todas as partes, sem que este seja disfuncional e destrutivo.
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