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GÊNESE DE FÁRMACOS DISCIPLINA QUÍMICA FARMACÊUTICA 1 2 Quase 100 anos depois do seu desenvolvimento, a penicilina e seus derivados continuam sendo amplamente utilizados na prática médica como uma das principais armas contra infecções bacterianas. 3 4 5 6 Antagonistas seletivos H2 para o tratamento e prevenção da úlcera péptica. Abordagem Fisiológica GÊNESE DE FÁRMACOS Fontes de Fármacos (Histórico) Drogas de origem vegetal e animal; Paracelso (1493-1541) – Doutrina da Assinatura Descoberta de alcalóides (1803-1920) → grande impulso no estudo de fármacos Até 1930 as drogas usadas em medicina eram, em sua maioria, de origem natural: vegetal, animal e mineral; 1929 descoberta da penicilina 7 ALCALÓIDES N O O H O H MORFINA (1803) N N O O H QUININA (1820) O O N H FISOSTIGMINA (1864) N O O H H O O COCAÍNA (1860) 8 EVOLUÇÃO MEDIACMENTOSA DESDE O SECULO XIX 1. Acumulação de conhecimento e uso de medicamentos tradicionais, muitos dos quais derivados de plantas; 2. Como conseqüência de (1), produtos naturais foram isolados de plantas e animais e esse fato atinge importância na busca atual de novos medicamentos que melhor atendam as demandas. Neste particular a medicina tropical tem papel fundamental em países como Brasil (síntese de moléculas oriundas de produtos naturais e/ou modificação molecular devem ser enfatizadas); 3. Há um rápido crescimento da busca de medicamentos sintéticos que, em primeiro plano, procura modificar a estrutura molecular de muitos produtos naturais, esta metodologia é amplamente utilizada e tem apresentado, em geral, bons resultados; 4. Dentro da gênese de fármacos, os medicamentos já estão sendo preparados com base em planejamento racional (mais promissora, em países industrializados). 9 OS FÁRMACOS SÃO INTRODUZIDOS NA TERAPEUTICA POR UM DOS SEGUINTES PROCESSOS ACASO TRIAGEM EMPÍRICA EXTRAÇÃO DE PRINCÍPIOS ATIVOS DE FONTES NATURAIS MODIFICAÇÃO MOLECULAR PLANEJAMENTO RACIONAL 10 1. ACASO ACETANILIDA → naftaleno VALPROATO → solubilizante DISSULFIRAM → pesquisa de anti-helmínticos BENZODIAZEPÍNICOS → primeiro membro dos ansiolíticos → clordiazepóxido PENICILINAS 11 12 FLEMING, O ACASO E A OBSERVAÇÃO (1929) Tem-se dito que muitas descobertas científicas são feitas ao acaso. O acaso, já dizia Pasteur, “só favorece aos espíritos preparados e não prescinde da observação”. A descoberta da penicilina constitui um exemplo típico. Cultura de S. aureus inibida por um contaminante. Antibióticos -lactâmicos. Em 1940, Sir Howard Florey e Ernst Chain, de Oxford, retomaram as pesquisas de Fleming e conseguiram produzir penicilina com fins terapêuticos em escala industrial, inaugurando uma nova era para a medicina - a era dos antibióticos. N S O HH N H O OH O BENZILPENICILINA (1929) 13 A mortalidade por doenças infecciosas no início e no final do século XX no Município de São Paulo Cássia Maria Buchalla; Eliseu Alves Waldman; Ruy Laurenti Rev. bras. epidemiol. vol.6 no.4 São Paulo Dec. 2003 14 15 16 2. TRIAGEM EMPÍRICA Processo em que substâncias químicas disponíveis são submetidas a uma variedade de ensaios biológicos. Método empírico → pouco recompensador. Vantagem → novo composto protótipo. Ex.: durante a 2ª Guerra Mundial cerca de 14.000 compostos foram preparados e ensaiados para obtenção de antimaláricos em 11 países. 17 TRIAGEM EMPÍRICA Examinar novas moléculas de origem natural ou sintética em animais ou qualquer teste biológico sem formular hipóteses sobre seu potencial farmacológico ou terapêutico. Dois caminhos: 1. Aplicar a um pequeno número de moléculas uma investigação farmacológica muito exaustiva (propriedades no sistema nervoso, cardiovascular, pulmonar, digestivo, antiviral, antibacteriano, quimioterápicas, etc.) 2. Encontrar em um grande número de moléculas uma que tenha atividade em uma dada indicação. 3. EXTRAÇÃO DE PRINCÍPIOS ATIVOS DE FONTES NATURAIS Plantas, fungos, insetos, organismos marinhos e bactérias são fontes importantes de substâncias biologicamente ativas, sendo que a maioria dos fármacos em uso clínico ou são de origem natural ou foram desenvolvidos por síntese química planejada a partir de produtos naturais. Embora existam, nos dias atuais, diversas estratégias e metodologias disponíveis para que se possa sintetizar e descobrir novos fármacos, a química de produtos naturais representa uma dessas alternativas de sucesso, historicamente privilegiada. 19 Compostos de origem natural podem ser utilizados como agentes terapêuticos para uma grande gama de doenças. Estes também podem tornar-se excelentes compostos- protótipos para desenvolvimento de derivados mais potentes ou com melhoria de alguma propriedade biológica ou físico-química que permita que sejam utilizados como fármacos. No Brasil encontra-se entre 15 a 20% de toda a biodiversidade mundial, sendo considerado o maior do planeta em número de espécies endêmicas: 55.000 espécies de plantas; 517 anfíbios; 1.622 aves; 524 mamíferos; 468 répteis; 3.000 peixes de água doce; 15 milhões de insetos. EXTRAÇÃO DE PRINCÍPIOS ATIVOS DE FONTES NATURAIS 21 EXEMPLO DE ALCALÓIDES PROTÓTIPOS DE FÁRMACOS MORFINA: Isolada em 1803 pelo farmacêutico alemão Friedrich Wilhem Adam Sertüner inspirou a descoberta posterior dos derivados 4-fenil- piperidínicos como uma nova classe de hipnoanalgésicos de emprego mais efetivo e seguro. N CH3 OHHO O O N O CH3 CH3 MORFINA MEPERIDINA ESTERASES PLASMÁTICAS O N CH3 CH3 O N OH CH3 22 O REDUÇÃO OU ACETILAÇÃO NCH2CH2PH NCH2CH=CH2 PRODUZ ANTAGONISMO ALQUILAÇÃO OU ACETILAÇÃO N CH3 OHHO H 23 A morfina atualmente ainda encontra aplicação terapêutica, indicada segundo recomendação da OMS, para tratamento da dor intensa especialmente em pacientes terminais com câncer 24 EXTRAÇÃO DE PRINCÍPIOS ATIVOS DE FONTES NATURAIS O peptídeo conotoxina MVIIA (Ziconotide®), isolado do caracol marinho Conus magus é o primeiro fármaco de origem marinha e foi liberado pelo FDA, em 2004, para tratamento da dor crônica severa. 25 EXTRAÇÃO DE PRINCÍPIOS ATIVOS DE FONTES NATURAIS O ácido acetilsalicílico (AAS), analgésico centenário e primeiro produto sintético obtido para fins terapêuticos, representando possivelmente o marco zero da Química Medicinal originou-se de um glicosídeo natural (salicina) identificado como principio ativo de Salix sp. Esta descoberta ocorrida em 1889 deve-se ao químico Felix Hoffmann que era pesquisador da Bayer. ObetaGLI OH COOH O O CH3 AAS SALICINA 26 TAXOL 27 Alcalóides da Vinca 28 4. MODIFICAÇÃO MOLECULAR Consiste em tomar uma substância química bem determinada e de ação biológica conhecida como modelo ou protótipo e daí sintetizar e ensaiar novos compostos que sejam análogos. 29 CAPTOPRIL E FÁRMACOS “ME TOO” HS N CO2HO CH3 CAPTOPRIL N N N OEtO2C HO2C H CILAZAPRIL (Hoffmann - LaRoche) H NN O HO2C NH2 HO2C NN O EtO2C CH3 HO2C H LISINOPRIL (Merck) ENALAPRIL (Merck) Fármaco me too – aquele que é estruturalmente muito similar a um fármaco conhecido, com pequenas diferenças farmacoterapêuticas. Estratégia largamente utilizada na Industria Farmacêutica que pesquisa novos fármacos, sendo considerada por alguns autores como responsável por inovações parciais. (Química Nova, vol 28, Nov∕Dez 2005) 31 MODIFICAÇÃO MOLECULAR Objetivos Elucidar o grupo farmacófórico Obter fármacos semelhantes ao protótipo mas com: maior potência menos efeitos colaterais ação mais ou menos prolongada maior estabilidade física e química síntese simplificada maior facilidade de administração 32 33 MODIFICAÇÃO MOLECULAR 1. DESCOBERTA DO PROTÓTIPO (acaso, triagem empírica, produtos naturais, síntese) “O composto-protótipo é o primeiro derivado puro, identificado em uma série congênere de novas substâncias, bioensaiadas em modelos animais padronizados relacionados à doença a ser tratada.” Um composto que exibe propriedade farmacológicas que comprovam seu valor como ponto de partida para desenvolvimento de um fármaco. 2. OTIMIZAÇÃO DO PROTÓTIPO Processo de modificação molecular planejada do composto-protótipo, visando maximizar suas propriedades farmacológicas. 34 MODIFICAÇÃO MOLECULAR OTIMIZAÇÃO Interação fármaco-receptor (farmacodinâmica); Absorção, distribuição, metabolismo e excreção (aspectos farmacocinéticos); Efeitos colaterais; Toxicologia. Complexidade de eventos explica porque o desenvolvimento de fármacos é um domínio da pesquisa industrial em países ricos. 35 MODIFICAÇÃO MOLECULAR: VANTAGENS Possibilidade de obter produtos farmacologicamente superiores; Probabilidade do novo fármaco ser produzido de forma mais econômica; Síntese semelhante a do protótipo, com economia de tempo e dinheiro; Maior probabilidade de os congêneres, homólogos e análogos apresentarem propriedades farmacológicas; Os dados obtidos poderão elucidar a relação entre estrutura química e atividade; Emprego dos mesmos métodos de ensaios biológicos utilizados para o protótipo. 36 4. MODIFICAÇÃO MOLECULAR 4.1 PROCESSOS GERAIS 4.2. PROCESSOS ESPECIAIS 4.3. EXPLORAÇÃO DE EFEITOS COLATERAIS 4.4. ENSAIOS DE PRODUTOS INTERMEDIÁRIOS 4.5. ANÁLOGOS, PRÓ-FÁRMACOS E LATENCIAÇÃO DE FÁRMACOS 37 4.1. PROCESSOS GERAIS DE MODIFICAÇÃO MOLECULAR 1. Disjunção, dissecção, simplificação – consiste na síntese e ensaio de análogos cada vez mais simples do composto protótipo; Exemplo: cocaína e anestésicos locais 2. Conjunção ou associação molecular - consiste na síntese e ensaio de análogos cada vez mais complexos do composto protótipo; 38 SIMPLIFICAÇÃO MOLECULAR A simplificação molecular foi inicialmente empregada na obtenção de compostos mais simples, a partir de protótipos naturais ativos, estruturalmente complexos. Esta estratégia de planejamento de novos fármacos foi utilizada em seus primórdios empiricamente, sem o prévio conhecimento das diferentes contribuições farmacofóricas das distintas sub-unidades estruturais do protótipo, geralmente, mas não exclusivamente de origem natural. Atualmente os avanços observados no estudo da relação estrutura química e atividade permitiram que esta estratégia passasse a ser empregada de forma racional, preservando as sub-unidades farmacofóricas, previamente identificadas no composto protótipo eleito, natural ou sintético. 39 SIMPLIFICAÇÃO MOLECULAR Estratégia comum para protótipos de origem natural, desde que se identifique previamente o grupo farmacofórico. Objetiva a facilitação da síntese. Deve ser feita de forma gradual para evitar mudanças e/ou perda de atividade. 40 SIMPLIFICAÇÃO MOLECULAR 41 42 N O O H H O O COCAÍNA (1860) 43 ASSOCIAÇÃO MOLECULAR Síntese e ensaio de análogos cada vez mais complexos do composto protótipo 1. Adição molecular 2. Hibridação molecular 3. Replicação molecular 44 ADIÇÃO MOLECULAR Moléculas diferentes unidas por interações fracas (eletrostáticas, pontes de hidrogênio) 45 Metenamina (Mandelato) Sepurin® GRUPO FARMACOLÓGICO Antisséptico urinário. ESPECTRO A metenamina é hidrolisada ao formaldeído e à amônia na urina ácida. O formaldeído é bactericida não específico. O pH urinário deve ser mantido inferior a 5,5 para o máximo efeito da metenamina. Nessas condições, atua contra Escherichia coli, Klebsiella sp., outras enterobactérias, Pseudomonas e Staphylococcus saprophyticcus. Proteus sp. pode ser resistente, por ter a capacidade de alcalinizar a urina. USO Profilaxia e tratamento de infecções urinárias. 46 HIBRIDAÇÃO MOLECULAR Moléculas diferentes unidas por ligação covalente. 47 SO2 N Cl H2NO2S H N O OH NH H DIURÉTICO BETA -BLOQUEADORESPAÇANTE REPLICAÇÃO MOLECULAR Moléculas iguais unidas por ligação covalente. 48 S O O H2N NH2S O O H2N NH22 SULFANILAMIDA DAPSONA 4.2 Processos Especiais de Modificação Molecular 49 4.2. PROCESSOS ESPECIAIS DE MODIFICAÇÃO MOLECULAR a. Alterações que aumentam ou diminuem as dimensões e a flexibilidade de uma molécula; b. Alterações das propriedades químicas e físicas através da introdução de novos grupos ou substituição por grupos diferentes. 50 4.2. PROCESSOS ESPECIAIS DE MODIFICAÇÃO MOLECULAR a. Alterações que aumentam ou diminuem as dimensões e a flexibilidade de uma molécula: Fechamento e abertura de anel; Formação de homólogos mais altos e mais baixos; Introdução de ligações duplas; Introdução de centros opticamente ativos; Introdução, retirada ou substituição de grupos volumosos. 4.2. PROCESSOS ESPECIAIS DE MODIFICAÇÃO MOLECULAR b.Alterações das propriedades químicas e físicas através da introdução de novos grupos ou substituição por grupos diferentes: Substituição isostérica; Mudança de posição ou orientação de determinados grupos; Introdução de grupos alquilantes; Modificação visando a inibição ou promoção de estados eletrônicos diversos. 4.2. PROCESSOS ESPECIAIS DE MODIFICAÇÃO MOLECULAR a.Alterações que aumentam ou diminuem as dimensões e a flexibilidade de uma molécula: Fechamento e abertura de anel; Formação de homólogos mais altos e mais baixos; Introdução de ligações duplas; Introdução de centros opticamente ativos; Introdução, retirada ou substituição de grupos volumosos. FECHAMENTO E ABERTURA DO ANEL 54 N N N N O H H2N O OH OH OH N N N N O H H2N O OH Aciclovir Guanosina 55 O aciclovir (Zovirax), descoberto, em 1977, nos laboratórios Welcome, EUA, por Gertrude Elion e colaboradores, é um derivado purínico sintético, obtido por simplificação molecular ou abertura de anel (processo especial de modificação molecular) da guanosina é empregado até hoje, com sucesso, no tratamento do Herpes sp. O aciclovir-trifosfato atua como inibir específico da DNA- polimerase do vírus herpes, evitando a posterior síntese deDNA viral sem afetar os processos celulares normais. Inibe a replicação do vírus. FECHAMENTO E ABERTURA DO ANEL 56 S N Cl N S N Cl N N CH3 CLORPROMAZINA PROCLORPERAZINA Proclorperazina Profilaxia e tratamento das vertigens associadas às doenças que afetam o sistema vestibular, como as labirintites e a Doença de Menière; Profilaxia e tratamento de náuseas e vômitos induzidos por radioterapia; Tratamento de náuseas e vômitos durante a gravidez. 57 Difícil prever o resultado na potência e tipo de atividade. Diminui a flexibilidade da molécula; Pode aumentar a interação com o receptor; Quanto mais flexível for a molécula do fármaco, mais facilmente ele pode interagir com outros receptores e produzem outras respostas biológicas (efeitos adversos); Estruturas rígidas tem síntese mais complexa; 58 REFLEXÃO Para fazer curta e objetiva, uma história longa e complexa, menciono que mais do que 90% dos fármacos sintéticos são cíclicos (exceção que pode ser citada metformina), i.e. possuem em suas estruturas químicas pelo menos um ciclo, sendo que destes, em sua esmagadora maioria são policíclicos e aromáticos, geralmente multisubstituídos e em sua maioria heterocíclicos. Assim sendo, a química de heterocíclicos é imprescindível ao ensino de profissionais de nível superior para atuarem nesta área, tanto o estudo de suas propriedades, métodos de síntese e reatividade. Tomara que ainda seja assim nas grades curriculares dos cursos de Química e Farmácia do País, como era quando fui estudante de Farmácia (será?). (Prof. Elizer Barreiro – UFRJ) 59 HOMOLOGAÇÃO Homólogos: moléculas que diferem umas das outras somente por um grupo metilênico (CH2). Em uma série homóloga o aumento contínuo da cadeia alquílica ou de unidades metilênicas aumenta a parte hidrofóbica da molécula. Curvas com atividade máxima são as mais comuns, presume-se que reflete a existência de um coeficiente de partição (P) ótimo, associado à facilidade de atravessar as membranas biológicas. HOMOLOGAÇÃO 1. A curva mais comum é parabólica, o pico de atividade máxima corresponde a um dado valor de número n de átomos de carbono. 2. A atividade pode aumentar, sem nenhuma regra particular, com o número de átomos de carbono. 3. A atividade pode alternar com o número de átomos de carbono. 4. A atividade primeiro aumenta com o número de carbono e depois alcança um “plateau”. 5. A atividade pode também decrescer regularmente, começando com o primeiro da série. 6. Inversão da atividade farmacológica acompanha o número de átomos de carbono. INTRODUÇÃO DE DUPLA LIGAÇÕES Pode originar um composto com atividade biológica diferente daquela apresentada pelo composto saturado. 1. Modificação da estereoquímica. 2. Alteração das propriedades físico-químicas O HO C O HOH2C OH O HO C O HOH2C OH CORTISOL PREDNISOLONA INTRODUÇÃO DE CENTROS OPTICAMENTE ATIVOS O2N CH OH CH CH2OH C O CHCl2 CLORANFENICOL Modificando-se a estereoquímica da molécula do fármaco, pode-se alterar, às vezes drasticamente, sua atividade farmacológica. Como exemplo dos 4 isômeros do cloranfenicol, somente a forma D-(-)-treo é ativa. INTRODUÇÃO DE GRUPOS VOLUMOSOS Freqüentemente a introdução de grupos volumosos é utilizada para transformar agonistas em antagonistas. Exemplo: isoprenalina (β-adrenérgico) e propranolol (bloqueador β-adrenérgico, causando bloqueio do estímulo cardíaco) 64 Os β-bloqueadores adrenérgicos constituem uma classe terapêutica que apresenta como mecanismo de ação comum o bloqueio dos receptores beta- adrenérgicos. O sistema nervoso simpático, o principal alvo da atividade β-bloqueadora, é uma das vias centrais da fisiopatologia da hipertensão arterial. Assim, o uso de β-bloqueadores para o tratamento da hipertensão arterial surge como opção terapêutica. O bloqueio dos receptores β1 adrenérgicos cardíacos causa redução da frequência cardíaca e da contratilidade, com a consequente redução do débito cardíaco. 65 INTRODUÇÃO DE GRUPOS VOLUMOSOS Introdução de um grupo ao composto protótipo para aumentar a interação com o alvo terapêutico 66 O N N O CH O CO2H O N N O CH O CO2H N SN H O R O COOH INTRODUÇÃO DE GRUPOS VOLUMOSOS N SN H O O COOH O O metoxicilina67 Penicilinas Impedem a biossíntese da parede celular bacteriana pela inibição irreversível da enzima transpeptidase. Transpeptidase: enzima responsável pela formação do peptideoglicano, estrutura que confere rigidez e forma à parede celular bacteriana. 68 69 Resistência Bacteriana A resistência bacteriana pode ser definida como um conjunto de mecanismos de adaptação das bactérias contra os efeitos nocivos ou letais aos quais estão sendo expostas. Um dos primeiros e mais efetivos mecanismos de resistência bacteriana conhecidos é a produção de β-lactamases, que são enzimas que catalisam a hidrólise do anel β- lactâmico, inativando o antimicrobiano e impedindo, assim que ele apresente atividade contra as enzimas responsáveis pela síntese da parede celular bacteriana. Os β-lactâmicos representam a classe de antimicrobianos mais utilizada clinicamente, sendo composta por: penicilinas, cefalosporinas, monobactâmicos e carbapenêmicos. 70 O principal mecanismo de resistência bacteriana aos antibióticos β-lactâmicos é através da produção de enzimas que apresentam grupos nucleofílicos (em geral, resíduos de serina) capazes de promover a abertura do anel β-lactâmico. Neste caso, a modificação molecular responsável pelo aumento de resistência às β-lactamases foi a introdução de grupamentos volumosos no carbono α ao carbono carbonílico da cadeia lateral em penicilinas semi-sintéticas (meticilina, oxacilinas), que impedem o acesso dos antibióticos ao sítio ativo da enzima β- lactamase por impedimento estérico. 71 INTRODUÇÃO DE GRUPOS VOLUMOSOS PENICILINAS RESISTENTES À β-LACTAMASES N SN COOH O O O H R R' R R’ OXACILINA H H CLOXACILINA Cl H FLUCLOXACILINA Cl F 72 Penicilinas resistentes à inativação pela β-lactamase: Possuem grupos volumosos (anéis aromático orto- dissubstituídos) ligados diretamente à carbonila amídica da cadeia lateral, o que causa impedimento estérico na interação com a β-lactamase. 73 INIBIDORES DE β-LACTAMASES Duas estratégias bacterianas têm sido utilizadas para superar a resistência dos β- lactâmicos à β-lactamase. A primeira é a modificação da estrutura do antibiótico de forma que não haja mais substrato para a enzima hidrolisar, e a segunda pela inibição da enzima por um composto que seja estruturalmente relacionado ao substrato β- lactâmico. Os inibidores de β-lactamase são estruturalmente semelhantes às penicilinas, retendo a ligação amida do grupo β-lactâmico, mas possuem uma cadeia lateral modificada. Tais aspectos estruturais permitem aos inibidores ligar-se irreversivelmente às β-lactamases como substratos suicidas, mantendo-as inativas. Atualmente, três inibidores de β- lactamase são frequentemente usadas na clínica médica, sulbactam, tazobactam e ácido clavulânico. 74 75 PROCESSOS ESPECIAIS DE MODIFICAÇÃO MOLECULAR b.Alterações das propriedades químicas e físicas através daintrodução de novos grupos ou substituição por grupos diferentes: Substituição isostérica; Mudança de posição ou orientação de determinados grupos; Introdução de grupos alquilantes; Modificação visando a inibição ou promoção de estados eletrônicos diversos. SUBSTITUIÇÃO ISOSTÉRICA LANGMUIR (1919): compostos ou grupos de átomos que têm número e arranjo idêntico de elétrons apresentam propriedades físicas semelhantes. A esses compostos chamou de isósteros, e o estudo desses arranjos eletrônicos de moléculas recebeu o nome de isosterismo. Exemplos: nitrogênio molecular e monóxido de carbono (N2 e CO) óxido nitroso e dióxido de carbono (N2O e CO2) Propriedades N2O CO2 Viscosidade/20º Densidade Índice de refração Constante dielétrica Solubilidade em álcool a 10º 1,48 x 10-6 0,856 1,193 1,593 3,250 1,48 x 10-6 0,858 1,190 1,582 3,130 SUBSTITUIÇÃO ISOSTÉRICA GRIMM (1925): ampliou o conceito de isosterismo com a Lei do Deslocamento do Hidreto – “a adição de um átomo de hidrogênio com seu elétron solitário a outro átomo resulta no que se convencionou chamar pseudo-átomo, algumas das propriedades físicas desse pseudo-átomo são análogas às do átomo que apresenta um elétron a mais do que aquele do qual o pseudo-átomo proveio” Exemplo: HF e Ne ISÓSTEROS SEGUNDO GRIMM Total de elétrons 6 7 8 9 10 11 C N CH O NH CH2 F OH NH2 CH3 Ne FH OH2 NH3 CH4 FH2 + Na+ OH3 + NH4 + SUBSTITUIÇÃO ISOSTÉRICA ERLENMEYER (1932): átomos, íons ou moléculas em que camadas periféricas de elétrons podem ser consideradas idênticas Átomos e grupos de átomos com o mesmo número de elétrons periféricos Elétrons periféricos 4 5 6 7 8 N+ P+ S+ As+ Sb+ P As Sb S Se Te PH Cl Br I SH PH2 ClH BrH IH SH2 PH3 SUBSTITUIÇÃO ISOSTÉRICA Atualmente considera-se isósteros também os grupos que possuem configurações estéricas e eletrônicas semelhantes, a despeito do número de elétrons compreendidos. Exemplo: grupos carboxilato e sulfamido. ISOSTÉROS No sentido mais amplo o termo isóstero pode ser aplicado a grupos que apresentem meramente semelhanças nas camadas eletrônicas externas ou, mais restritamente, a grupos com localização semelhante de regiões de densidade eletrônica alta ou baixa em moléculas de tamanhos e formatos semelhantes . Bioisóstero (Friedman) – “compostos que preenchem a mais ampla definição de isósteros e têm o mesmo tipo de atividade biológica”, mesmo que antagônica. CLASSIFICAÇÃO DOS ISÓSTEROS Isósteros clássicos: são aqueles abrangidos pelas definições de Langmuir, Grimm e Erlenmeyer. a) Átomos e grupos monovalentes: F, Cl, Br, CH3, CH3, NH2, OH, SH, PH2 b) Átomos e grupos divalentes: O, S, NH, CH2 c) Átomos e grupos trivalentes: CH, N, Sb, As, P d) Átomos e grupos tetravalentes: C, N+, P+, Sb+, As+ e) Equivalentes anelares: pirrol, furano, tiofeno, benzeno Isósteros não-clássicos: são aqueles que substituídos em uma molécula dão origem a um composto com disposição estérica e eletrônica e configuração eletrônica semelhantes às do composto matriz. ISÓSTEROS São utilizados na otimização de protótipos mudando as características em aspectos como tamanho, polaridade, distribuição eletrônica e ligação. 83 N N O O H H H N N O O H H F URACILA FLUORURACIL N NR' R'' O O O H R N NR' R'' O O S H R BARBITÚRICOS TIOBARBITÚRICOS MUDANÇA NA POSIÇÃO DOS SUBSTITUINTES A atividade antiarrítmica de uma série de benzopiranos é melhor quando o grupo sulfamido está na posição 7. 84 O NR O MeSO2NH 6 7 8 AGENTES ALQUILANTES São compostos altamente eletrofílicos que reagem com nucleófilos presentes nas biomacromoléculas, como DNA e enzimas. AGENTES ALQUILANTES Agentes Alquilantes Nucleófilos :N Cl Cl R O N H MOSTARDAS NITROGENADAS EPÓXIDOS AZIRIDINAS P O O OH OR _ FOSFATO NH2R AMINO SH SULFIDRILA OH HIDROXILA R C O O _ CARBOXILA N N H IMIDAZOL 87 Os agentes alquilantes formam ligações cruzadas com os filamentos de DNA impedindo sua replicação e com isso destroem as células em repouso ou em processo de divisão ativa. O principal sítio de alquilação no DNA é a posição N7 da guanina, porém outras bases podem ser menos extensivamente alquiladas, como a adenina nas posições N1 e N3, a citosina no N3 e a guanina no O6, assim como grupos fosfatos e proteínas associadas ao DNA. 88 MODIFICAÇÃO VISANDO A INIBIÇÃO OU PROMOÇÃO DE ESTADOS ELETRÔNICOS DIVERSOS Determinados grupos químicos produzem dois efeitos eletrônicos importantes: indutivo e conjugativo. Estes efeitos podem alterar profundamente as propriedades físicas e químicas da molécula e por isso podem alterar a sua atividade biológica. 89 PENICILINA RESISTENTE AO SUCO GÁSTRICO N S COOH H N H C O O CH2 .. N S COOH H N H C O O CH2 ..O BENZILPENICILINA FENOXIMETILPENICILINA A característica principal da fenoximetilpenicilina, que a distingue da benzilpenicilina, é a resistência à inativação pelo suco gástrico. Penicilinas resistentes à inativação em meio ácido: Possuem grupos retiradores de elétrons na cadeia lateral, prevenindo o rearranjo. 91 92 N S COOH H N H C O O R .. N S O N COOH R O.. H NH S O N COOH R O 93 Penicilinas resistentes a ácido – apresentam um grupamento eletronegativo na cadeia lateral, impedindo o rearranjo ácido. Fenoximetilpenicilina, ampicilina e amoxicilina são penicilinas de administração oral, por serem resistentes à ácido. 94 4.3. EXPLORAÇÃO DOS EFEITOS COLATERAIS 95 N N S OO CH3 N HN O N N CH3 CH3 O CH3 SILDENAFIL NH2 SO2NH2 N NH S Cl H2NO2S O2 SULFANILAMIDA CLOROTIAZIDA S N H3C NMe2 S N Me2N Cl PROMETAZINA CLORPROMAZINA A prometazina (anti-histamínico) apresentava efeito sedativo, sua estrutura foi modificada para aumentar esse efeito; Observou-se que a sulfanilamida apresentava efeito diurético; Sildenafil planejado como vasodilatador para o tratamento da angina e hipertensão. 96 4.4. ENSAIOS DE PRODUTOS INTERMEDIÁRIOS N N HN S NH2 N NHNH2O ISONIAZIDATIOSEMICARBAZONA 4.5. ANÁLOGOS, PRÓ-FÁRMACO E LATENCIAÇÃO DE FÁRMACOS O termo pró-droga ou pró-fármaco é dado a um composto farmacologicamente inativo que é convertido em uma droga ou fármaco ativo através da biotransformação metabólica. A conversão do pró-fármaco no fármaco pode ocorrer antes da absorção, durante a absorção, depois da absorção ou em algum sítio específico. 98 LATENCIAÇÃO DE FÁRMACOS É o processo de obtenção de pró-fármacos, consiste em converter mediante modificação química, um composto biologicamente ativo em forma de transporte inativo que após ataque enzimático, libertará o fármaco ativo. LATENCIAÇÃO São compostos inativos mas que são convertidos no organismo na forma ativa. 99 N N N N SH + N N GS N O Me O N N N N S N NN O Me O H H GS AZATIOPRINA MERCAPTOPURINA6 _ A 6-mercaptopurina é um imunossupressor, entretanto é eliminada rapidamente do organismo. O pró-fármaco azatioprina é lentamente convertida na 6-mercaptopurina pela ação da glutationa. 100 ANÁLOGOS, PRÓ-FÁRMACO E LATENCIAÇÃO DE FÁRMACOS – FORMAÇÃO DE ÉSTERES 1. Presença de esterases; 2. Possibilidade de preparar derivados ésteres com diferentes graus de lipofilidade e hidrofilidade; 3. Possibilidade de obtenção de ésteres com diferentes estabilidades através da manipulação apropriada de fatores estéricos e eletrônicos. 101 DROGA – OH → DROGA -X X Efeito da solubilidade na água DIMINUI AUMENTA AUMENTA AUMENTA AUMENTA AUMENTA 102 C O R CH2N H CH3 CH3C O C O CH2CH2COO N C O H C O PO3 __ C O CH2SO3 _ Objetivos da Latenciação dos Fármacos 1. Alterar a solubilidade 2. Melhorar a absorção e distribuição 3. Atuação em um sítio específico 4. Diminuir problemas de instabilidade 5. Alterar a duração da ação 6. Diminuir a toxicidade 7. Melhorar a aceitação do paciente 8. Diminuir problemas de formulação 103 AUMENTAR A SOLUBILIDADE NA ÁGUA A prednisolona e a metilprednisolona são fármacos corticosteróides pouco solúveis em água, para determinadas formulações é necessário converte-las em formas solúveis na água e isso é feito através da latenciação, formando ésteres. 104 O HO HO O OH H O HO HO O O H P O ONa _ + ONa _ + PREDNISOLONA FOSFATO DE PREDNISOLONA 105 O HO HO O OH CH3 O HO HO O O O O ONa METILPREDNISOLONA SUCCINATO SÓDICO DE METILPREDNISOLONA + CH3 MELHORAR ABSORÇÃO E DISTRIBUIÇÃO A ampicilina é um antibiótico β-lactâmico que é pouco absorvido quando administrado via oral, somente 40% do fármaco é absorvido. O aumento da solubilidade em lipídios pode favorecer a absorção. A bacampicilina é absorvida de 98-99% e a ampicilina é liberada após 15 minutos. Em virtude da excelente absorção da bacampicilina somente a metade ou um terço da bacampicilina é administrada. 106 107 O N N S O COOH NH2 H O N N S O C NH2 H O O O OCH2CH3 CH3 O N N S O C NH2 H O O OH CH3 O N N S O COOH NH2 H Latenciação Ampicilina Bacampicilina Esterases + CH3CH2OCOOH (CH3CH2OH CO2)+ Esterases + H3C O H LIBERAÇÃO EM UM SÍTIO ESPECÍFICO Progabide é uma base de Schiff, aumenta a solubilidade em lipídios, atravessa mais facilmente a barreira hematoencefálica e chegando no SNC sofre hidrólise. 108 H2N COOH Ácido gamabutírico N O NH2 Progabide DIMINUIR A INSTABILIDADE O éster homosuccinato propranolol foi preparado para bloquear a formação do glicuronídeo, atingindo concentrações oito vezes mais altas que o propranolol 109 O CH2CHCH2N OR H R = H Propranolol R = C O CH2CH2COOH PROLONGAR A AÇÃO A estratégia comum na síntese das drogas de liberação lenta é preparar um éster com grande cadeia alifática, porque são hidrolisados lentamente Administrado via intramuscular e sua atividade antipsicótica continua por um mês. 110 F C O CH2CH2CH2 N OR Cl R = H Haloperidol R = C O (CH2)8CH3 Decanoato de haloperidol DIMINUIR A TOXICIDADE 111 N N N N Metenamina SO3 SO3 O O Sb O O SO3 SO3 _ _ _ _ _ Estibofeno MELHORAR A ACEITAÇÃO DO PACIENTE É comum preparar pró-fármacos com a finalidade de fazer o paciente aceitar o medicamento ou consentir na sua administração por reduzir ao mínimo os problemas com odor, sabor, eliminar a dor no local da injeção e diminuir a irritação gastrintestinal. São insolúveis em água e por isso isentos do sabor amargo do cloranfenicol. 112 O2N CH OH CH N H CH2OH C O CHCl2 Cloranfenicol O2N CH OH CH CH2OCO(CH2)14CH3 N H C O CHCl2 Palmitato de cloranfenicol 4.5. PLANEJAMENTO RACIONAL O QUE ACONTECE QUANDO UMA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA OU UM GRUPO DE PESQUISA DE UMA UNIVERSIDADE INICIA UM NOVO PROJETO PARA A DESCOBERTA DE UM NOVO FÁRMACO. 113 PLANEJAMENTO RACIONAL Escolha da doença QUAIS CRITÉRIOS UMA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA UTILIZA PARA DEFINIR A DOENÇA PARA QUAL SERÁ PLANEJADO UM NOVO FÁRMACO ? DOENÇAS PARA AS QUAIS HÁ NECESSIDADE DE NOVOS FÁRMACOS? FATORES ECONÔMICOS? 114 PLANEJAMENTO RACIONAL DEPOIS DA ESCOLHA → CIÊNCIA 115 PLANEJAMENTO RACIONAL: CONHECIMENTOS NECESSÁRIOS 1. Local e mecanismo de ação dos fármacos; 2. Relação qualitativa e quantitativa entre estrutura química e atividade farmacológica; 3. Receptores de fármacos e topografia dos receptores; 4. Modo de interação fármaco-receptor; 5. Efeitos farmacológicos de grupos químicos específicos; 6. Parâmetros físico-químicos relacionados com a estrutura do fármaco; 7. Diferenças citológicas e bioquímicas entre parasitos e mamíferos. 116 Descobrimento, Planejamento e Desenvolvimento de Fármacos ESTÁGIOS 1. Descobrimento do Fármaco – encontrando o protótipo: Escolha da doença Escolha da molécula alvo do fármaco Identificar os bioensaios Encontrar o composto protótipo Isolar e purificar o composto protótipo, se necessário Identificar a estrutura do composto protótipo, se necessário 117 PLANEJAMENTO RACIONAL Escolha da molécula alvo do fármaco Depois de definida a área terapêutica, o próximo passo é identificar a molécula alvo (receptor, enzima, ácido nucléico). Se um fármaco ou veneno produz um efeito biológico, deve existir uma molécula alvo para o agente no organismo (Receptor). Entender como a macromolécula (molécula alvo) está envolvida em uma em uma determinada doença é fundamental (Processo fisiológico-bioquímico) 118 PLANEJAMENTO RACIONAL Conhecendo-se a estrutura do bioreceptor, eleito como alvo terapêutico adequado para o tratamento de uma patologia, pode-se, por complementaridade molecular, “desenhar” uma molécula capaz de interagir eficazmente com este receptor, permitindo seu planejamento estrutural. Esta estratégia de desenho planejado de bioligantes, geralmente emprega técnicas de química computacional (computer assisted drug desing, CADD), onde a modelagem molecular é ferramenta extremamente útil. 119 Modelagem Molecular Ela tem se firmado como uma ferramenta indispensável não somente no processo de descoberta de novos fármacos, mas também na otimização de um protótipo já existente ou obtido pelo próprio estudo de modelagem molecular. 120 Modelagem Molecular A modelagem molecular fornece informações importantes para o processo de descoberta de fármacos. Ela permite a obtenção de propriedades específicas de uma molécula que podem influenciar na interação com o receptor. Como exemplos, podemos citar o mapa de potencial eletrostático, o contorno da densidade eletrônica e a energia e os coeficientesdos orbitais de fronteira HOMO (Highest Occupied Molecular Orbital) e do LUMO (Lowest Unoccupied Molecular Orbital) etc. 121 Modelagem Molecular Outras informações importantes também podem ser obtidas a partir da comparação estrutural entre diferentes moléculas, o que pode permitir a geração de um índice de similaridade que pode ser correlacionado com a atividade farmacológica. A modelagem molecular também permite a visualização tridimensional (3D) do complexo fármaco-receptor e fornece informações sobre os requisitos estruturais essenciais que permitem uma interação adequada do fármaco no seu sítio receptor. Esta ferramenta também tem o potencial de planejar teoricamente novas moléculas que satisfaçam as propriedades eletrônicas e estruturais para um perfeito encaixe no sítio receptor 122 Modelagem Molecular Um programa de modelagem molecular permite a representação, visualização, manipulação e determinação de parâmetro geométricos (comprimento e ângulo de ligação) e eletrônicos (energia dos orbitais de fronteira, momento de dipolo, potencial de ionização, etc.) de uma molécula isolada, além de realizar estudos em macromoléculas (proteínas) e complexos fármaco–receptor. 123 PLANEJAMENTO RACIONAL Entretanto, quando a estrutura do bioreceptor não é conhecida, pode-se utilizar como “modelo” molecular seu agonista ou substrato natural, que adequadamente modificado pode permitir a construção molecular de novos inibidores enzimáticos, novos antagonistas ou agonistas de receptores, dependendo da necessidade definida pela escolha do alvo terapêutico. 124 PLANEJAMENTO RACIONAL Escolha da molécula alvo do fármaco O grupo de pesquisadores deve definir se deve planejar um agonista ou um antagonista de um determinado receptor Ou se deve planejar um inibidor de uma determinada enzima. 125 PROCESSO PARA O PLANEJAMENTO RACIONAL DO FÁRMACO Entendimento da doença em termos de mecanismos fisiológicos/bioquímicos; Definição de biopolímeros que controlem a doença; Determinação da estrutura tridimensional dos biopolímeros; Desenvolvimento de moléculas inibidoras ou mimetizadoras de sistemas biológicos. 126 PLANEJAMENTO RACIONAL Escolha da molécula alvo do fármaco ALVOS RECENTEMENTE DESCOBERTOS Caspases são um grupo de proteases que catalisam a hidrólise de importantes proteínas celulares. Caspases são essenciais na apoptose celular, um dos principais tipos de morte celular programada durante o desenvolvimento e em outras fases da vida adulta. Algumas caspases também são necessárias no sistema imune, para a maturação das citocinas. Falhas na apoptose são uma das contribuições principais para o desenvolvimento de tumores e doenças auto-imunes; somando-se isto à apoptose indesejada que ocorre na isquemia ou mal de Alzheimer, despertou-se rapidamente interesse nas caspases como alvos terapêuticos desde que foram descobertas em meados da década de 90. 127 PLANEJAMENTO RACIONAL Escolha da molécula alvo do fármaco ALVOS RECENTEMENTE DESCOBERTOS Entendendo como essas enzimas atuam, é possível produzir novas terapias para uma variedade de doenças: Agentes que promovam a atividade das caspases e leve a uma morte celular mais rápida é útil no tratamento de doenças como câncer, doenças auto-imunes ou infecções virais. Agentes que inibam as caspases e reduzam a prevalência da morte celular proporciona novos tratamentos para traumas, doenças degenerativas e derrames. 128 ALVOS RECENTEMENTE DESCOBERTOS INIBIDORES SELETIVOS DAS CASPASES S O OO N O H CO2H H H2N O OH CO2H ÁCIDO ASPÁRTICO H N O S NAcHN O O HO2C O O OHNH H 129 PLANEJAMENTO RACIONAL Escolha da molécula alvo do fármaco Especificidade da molécula alvo e seletividade dentro do organismo Um inibidor enzimático deve inibir somente a enzima alvo. Agonistas/antagonistas devem interagir com um tipo específico de receptor (ex. receptores adrenérgicos). Procura-se um alto nível de especificidade (isoenzimas, subtipos de receptores, especificidade para tecidos e orgãos) 130 PLANEJAMENTO RACIONAL Encontrar o COMPOSTO PROTÓTIPO Desde que a molécula alvo e os ensaios foram escolhidos o próximo estágio é encontrar o COMPOSTO PROTÓTIPO – composto que possui a atividade farmacológica desejada; O nível de atividade pode não ser muito alta, pode produzir efeitos indesejáveis, mas o composto protótipo é o ponto de partida para os processos de planejamento e de desenvolvimento de fármacos ; Existem vários caminhos pelos quais um composto protótipo pode ser descoberto. 131 PLANEJAMENTO RACIONAL Encontrar o COMPOSTO PROTÓTIPO Síntese combinatória (diferente da Síntese Orgânica tradicional que objetiva a preparação e isolamento de cada composto individualmente, a Química Combinatória sintetiza um conjunto grande de compostos análogos ao mesmo tempo, na forma de misturas conhecidas como bibliotecas combinatórias (libraries).; CADD (Computer Aided Drug Design, desenho de drogas assistido computacionalmente), metodologia que visa determinar distâncias interatômicas e densidades eletrônicas de moléculas de interesse biológico, estudar o equilíbrio conformacional das biomoléculas definindo as conformações potencialmente bioativas, explicar racionalmente as atividades farmacológicas de substâncias e definir, confirmar ou descartar hipóteses para o mecanismo de ação a nível eletrônico e molecular de diversos fármacos e, finalmente, identificar interações específicas entre drogas e receptores, definindo os grupamentos farmacofóricos. 132 INTERAÇÕES COM O BIORECEPTOR 133 1. Inibidores de Enzimas 134 N N N N OH H N N N N OH H HO N N N N OH H HO OH Hipoxantina Xantina Ácido Úrico N N N N OH H Alopurinol XO XO Alopurinol inibe a xantina-oxidase, a enzima que cataliza a conversão da hipoxantina em xantina e a conversão da xantina em ácido úrico, reduzindo as concentrações séricas do ácido úrico. O oxipurinol, metabólito do alopurinol, também inibe a xantina-oxidase. 135 Metildopa – inibidor da dopadescarboxilase, é usado no tratamento da hipertensão. Age com antagonista competitivo da levodopa. 136 137 Metildopa 138 2. Antimetabólitos Fluoruracil – análogo da base purínica, incorpora-se ao DNA no lugar da timina. Causa supressão da biossíntese do DNA normal. 139 3. Agentes Alquilantes Têm a propriedade de formar intermediários extremamente reativos, como íon carbônio. Usados na sua maioria como antineoplásicos, planejados para alquilar certos grupos presentes em macromoléculas das células cancerosas. Vários estudos sugerem que o grupo biológico alquilado chave é a base purínica GUANINA. Prolongamento da ação – ligação covalente. 140 141 4. Antídotos Dimercaprol – antídoto da lewisite Pralidoxima – planejar um antidoto que pudesse deslocar o inseticida organofosforado da serina, que é uma ligação forte. Observou-se na literatura que a hidroxilamina hidrolisava essa ligação. 142
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