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O ESPAÇO NÃO-ESCOLAR: PROFISSIONALIZAÇÃO E A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO Profª Ms. Suzete Terezinha Orzechowski Unicentro-Paraná Historicamente a formação de professores/pedagogos no Brasil, esteve vinculada a preparação de profissionais para atuarem dentro da escola com o processo de ensino e aprendizagem. Desde a escola tradicional jesuítica até nossos dias, uma dubiedade para esta formação se resume entre dois enfoques: ora o da técnica/ instrumental, ora o da operacionalização metodológica a partir dos estudos das ciências da educação. Ora uma formação como aplicação prática, ora uma formação como aplicação da ciência da educação. Além disso, pesa-lhe a herança do passado em que estudos pedagógicos referem- se, quase sempre, à preparação de professores, o que explica, ainda hoje, em algumas faculdades de educação, a identificação do termo pedagogia com formação de professores para as séries iniciais do ensino fundamental, com o que pedagogia tende a reduzir-se à prática de ensino. (LIBÂNEO, 1999, p.120). Para além desta questão um outro aspecto vem sendo incorporado à discussão sobre o processo de formação do Pedagogo -o processo educativo em espaços não-escolares. Nesta tendência estariam contempladas formações que hoje já se fazem construídas pelo exercício prático do profissional da Pedagogia em ONGs, Penitenciárias, Hospitais e Empresas. A partir de 2005, as Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia, traz em seu texto o objetivo central para a formação destes profissionais: docência na Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nas disciplinas pedagógicas que formam professores; bem como, uma formação para participar do planejamento, gestão e avaliação nas escolas; e, ainda planejar, executar, coordenar, acompanhar e avaliar projetos e experiências educativas não-escolares. O Pedagogo assim formado deverá ser capaz de trabalhar em espaços escolares e não-escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo. E, o estágio curricular deverá contemplar a experiência de exercício profissional em ambientes escolares e não-escolares. No caso da atual Resolução do Conselho Nacional de Educação constata-se que a Pedagogia não foi considerada enquanto campo científico, o que, por certo, dificultará a inserção dos processos e práticas de formação, na realidade do mundo contemporâneo. Essa situação vem agravar o vácuo já existente entre o campo de referência da investigação pedagógica e suas práticas de formação. (...) Numa terceira dimensão poderíamos pensar em pesquisas sobre as demandas expressas pelo mundo contemporâneo: como se alteram as condições de regulação social/desigualdade/poder? Que necessidades sociais tais regulações impõem ao profissional pedagogo? Como dimensionar uma nova profissionalidade pedagógica? (FRANCO, 2008, p. 146-47). � Apontados estes aspectos uns advindos do exercício prático do Pedagogo na Empresa, no Hospital, nas Ongs, na Penitenciária e Educandários, outros advindos da própria legislação incorporando os ambientes não-escolares, como um campo importante para a formação do Pedagogo, importa aqui neste trabalho, promover um olhar mais apurado sobre a necessidade de uma formação que atenda esta realidade que está sendo concretamente identificada. A partir das críticas, a Pedagogia como ciência tem por objeto a educação, uma educação que não está fechada na escola, mas está para além dela. “O aspecto educativo diz respeito à atividade de educar propriamente dita, à relação educativa entre agentes, envolvendo objetivos e meios de educação e instrução, em várias modalidades e instâncias.” (LIBÂNEO, 1999). E, se nesta relação educativa, acredita-se que a intervenção pedagógica vem sempre enriquecida pelas contradições existentes na realidade sócio-política, na qual estamos todos inseridos, professores e alunos, educadores e educandos, se crê também que esta relação pedagógica entre sujeitos vem repleta de tensões e conflitos que merecem aprofundamentos teóricometodológicos. Esses aprofundamentos é que desvelarão o ato emancipatório libertando os sujeitos através do trabalho que se executa: o trabalho pedagógico, o ato, o processo ensino-aprendizagem a que somos todos submetidos, em qualquer espaço, inclusive os não-escolares. Portanto pensar na formação do Pedagogo a partir destas considerações é refletir sobre uma práxis educativa necessária. Que formação desejamos, a partir dessas necessidades aqui apontadas? Como atender uma formação para ambientes não-escolares, sem perder de vista o trabalho pedagógico inerente à formação do Pedagogo crítico, cidadão e partícipe dos movimentos de transformação alicerçados na teoria crítica da educação? O conflito sobre a prática pedagógica em outros espaços, fortalece a categoria da contradição, necessária para a análise aqui pretendida. Importa atentar para que processo pedagógico se encaminha, o Pedagogo, ao abraçar a tal “aplicabilidade” da Pedagogia. Há uma possibilidade de se recair sobre um processo de “educação compensatória” e ainda desviar a função do Pedagogo para outros interesses e outros campos profissionais: assistência social, psicologia, administração de empresas, explorando funções profissionais que não são da Pedagogia. “Na nossa atividade somos frequentemente compelidos a conhecer para não pensar, adquirir e reproduzir para não criar, consumir, em lugar de realizar o trabalho de reflexão.” (GADOTTI, 2003, p.67). Por tudo isso há preocupação com o trabalho pedagógico do Pedagogo em outros espaços que carece de análise. A questão está posta e ainda divide as opiniões entre os Pedagogos que se dedicam à pesquisa. De um lado podemos destacar uma concepção tecnicista da educação quando se pretende uma aplicação da Pedagogia em outros espaços atendendo funções que não são pedagógicas. De outra ótica pode-se evidenciar estudos dentro de uma visão crítica, onde o Pedagogo tem uma função pedagógica, uma especificidade educativa na qual sustenta sua intervenção em quaisquer espaços sem perder seu foco que é a ação educativa. A idéia subjacente é a de que a educação ocorre em vários espaços, nestes o Pedagogo tem seu lugar de atuação desde que compreendida sua intervenção pedagógica, garantindo sua identidade profissional e seu fazer dentro da variedade de atividades voltadas para o processo educacional. Nestes o Pedagogo atua intencionalmente, analisando, discutindo, colaborando e efetivando uma educação � instituída como campo próprio de problematização. Diante do qual o Pedagogo tem seu espaço de contribuição. Porém há necessidade de se ter o cuidado e uma atenção para a especificidade da prática pedagógica, sem perder-se nas entranhas produzidas pelo mercado de trabalho que determina interesses e intenções. O espaço não-escolar se identifica em outras instituições que diferem em muito da escola. A Pedagogia empresarial vai sendo implementada a partir dos objetivos empresarias, neoliberais. A Pedagogia hospitalar por vezes atravessa as funções desempenhadas pelo assistente social. A Pedagogia social, atuante em ONGs e outros espaços da sociedade civil -penitenciárias e educandários, é rotulada como educação compensatória. Portanto trabalhar como pedagogo em outros espaços, para além da escola requer esclarecimento de sua função como educador e gestor do processo de ensino e de aprendizagem. O que pode ser um Pedagogo para espaços não-escolares? Quais seriam estes espaços? Que concepção teórico-metodológica embasaria uma possível formação? Que tipo de trabalho o Pedagogo desenvolveria em tais espaços? Estes são questionamentos difíceis de se analisar genericamente. Não há possibilidades de observação e reflexão elaborada a partir de um olhar unilateral. É imprescindível uma ótica voltada para a multidimensionalidade do processo educativo, do fenômeno educacional, que transcende a docência e recai sobre a Educação, numa visão de processo integral que ocorre em todos os espaços, inclusive na escola. Porém acontece além e apesar dela. Novos paradigmas consideram não só a ampliação dos espaços de atuação do profissional da área, como também a sua contribuição no processo de inclusão social. Seguindo este raciocínio, trabalhar com a análise da Pedagogia em outros espaços, é colocar no cenário da Pedagogia contemporânea a proposta de intervenção de Pedagogos nas várias esferas da educação para o enfrentamento dos desafios evidenciados pelas novas realidades do mundo atual. Neste mundo, escamoteiam-se os processos de transformação e de análise crítica sobre o sistema social produzido pela cultura, pela economia e pela política. Assim sendo, verificam-se programas educativos que aliciam e cooptam os sujeitos, promovendo a adaptação destes na sociedade, visando o aumento da produtividade, o lucro e a alienação também pelo processo educativo. A Pedagogia é uma ciência da prática social da educação. Para Suchodolski (1977) a Pedagogia é a ciência sobre a atividade transformadora da realidade educativa. Esta atividade educativa que acontece em todos os espaços sociais, só é efetivamente educativa quando emancipa o cidadão. A emancipação, por sua vez só acontece quando existe o enfrentamento das contradições . A partir da consciência de sua existência enquanto cidadão num mundo repleto de relações contraditórias, as quais devem ser enfrentadas e transformadas é que se estabelecem os processos de emancipação. A educação não se reduz à relação educando-educador no interior de um processo pedagógico intra-escolar. Ela se insere no processo social, como parte de um todo mais amplo, onde encontramos a sociedade, seus dinamismos e conflitos. Neste contexto importa assumir uma intervenção com o mínimo de intencionalidade. Mesmo sendo uma educação não-formal e que pode alterar-se conforme a realidade e o momento histórico, existe e exigi-se uma intencionalidade, um eixo norteador que é o � processo de emancipação social dos sujeitos envolvidos e articulados através do conhecimento socializado. É a Pedagogia um campo onde se efetiva a educação intencional. E, a educação intencional acontece quando ...educar passa a ser objeto explícito da atenção, desenvolvendo-se uma ação educativa intencional, então tem-se a educação sistematizada. O que determina a passagem da primeira para a segunda forma é o fato da educação aparecer ao homem como problemática; ou seja: quando educar se apresenta ao homem como algo que ele precisa fazer e não sabe como faze-lo. É isto o que faz com que a educação ocupe o primeiro plano na sua consciência, que ele se ocupe com ela e reflita sobre ela. Quanto a nós, se pretendemos ser educadores (especialistas em educação) é porque não nos contentamos com a educação assistemática. Nós queremos educar de modo intencional e por isso nos preocupamos com a educação.(SAVIANI,2002,p.48). As relações ensino-aprendizagem, professor-aluno, teoria-prática; são construídas dia-a-dia, dentro e fora da escola. Neste contexto a criatividade, a criticidade, bem como, o estudo intenso dos educadores tornam-se elementos essenciais, à medida que, se deseja a construção da cidadania em todos os espaços educativos. Assim, a educação encontra conflitos e diversidades, diante dos quais, a prática pedagógica será revelada pelas possibilidades de superação dos obstáculos, na expansão de sua atuação, sempre em função de uma intencionalidade. Neste contexto o papel da Pedagogia e do Pedagogo em outros espaços traz consigo o caráter da intencionalidade daquilo que se deseja em quaisquer espaços educativos. Porém esta intencionalidade não pode ser definida, determinada e identificada pelo espaço onde atue o Pedagogo. A intencionalidade educativa requer uma opção teórico-metodológica que a ancore, que a fundamente, que a esclareça sem escamotear objetivos, fins e meios ideologizantes. Portanto, negar a importância do trabalho pedagógico interpretando outros espaços é desprezar o processo educativo que acontece fora do ambiente formal. De outro modo, interpretá-lo e intervir nele é função pedagógica que requer intensa dedicação. Trazemos para esta reflexão algumas considerações que já estão sendo apontadas em outros países, que tem por preocupação principal uma formação pedagógica para além do processo escolar. Maria del Pilar Martinez Agut, escreve sobre o processo que teve inicio em 1991, na Espanha. A titulação pretendida é em nível de graduação, separada da formação em Pedagogia. Para a formação em “Educação Social”, vem sendo discutida uma proposta com duração do curso de três anos, tendo 240 créditos, assim distribuídos: -Conteúdos Comuns Obrigatórios (60% dos créditos): Educação Familiar; Desenvolvimento comunitário; Educação e mediação paraa Integração Social; Educação e Lazer; Animação e Gestão sócio-cultural; Intervenção sócio-educativa para a Infância e Juventude; Educação de adultos e terceira idade; Atenção sócio-educativa para a diversidade; Práticas. -Os Conteúdos próprios de cada Universidade (40% dos créditos ofertados)-atenderão o contexto onde a clientela esteja inserida. Em junho de 2006, aconteceram as jornadas de estudo e debate para aprofundamento das propostas. O Ministério de Educação Espanhol, definiu três etapas para continuar as discussões e se chegar a um consenso entre as Universidades, a última etapa aconteceu em fevereiro de 2007. As Universidades terão três anos para a � implantação do novo curso. São 39 Universidades Européias participando deste processo. Outro exemplo que podemos citar é de Portugal, onde já existe a formação em nível de graduação, para os “Animadores sócio-culturais”. A ANASC- Associação Nacional de Animadores sócio-culturais, criada em 1996, traz em seu estatuto, as categorias profissionais destes educadores, sendo elas: -Técnico profissional de animação sócio-cultural -ofertado em estabelecimentos de ensino secundário; -Técnico de animação sócio-cultural – ofertado em curso superior de bacharelado; -Técnico superior de animação e gestão sócio-cultural – ofertado em curso superior com grau de licenciatura. Apontamos também o exemplo da Itália, que possui uma tradição na prática da Pedagogia Social. O professor Geraldo Caliman aponta que o programa de pedagogia social na "Università Pontifícia Salesiana di Roma" (UPS) tem como objetivo a formação de experts, pesquisadores, docentes e operadores com competência sociopedagogica no setor da educação, da prevenção e da reeducação de sujeitos em idade evolutiva, com problemas de marginalização, desadaptação social e comportamento desviante. Sua formação se dá dentro de uma Faculdade de "Ciências da Educação". Em outros casos, na Itália, tal formação se dá dentro de uma Faculdade de Ciências da Formação. Para formar tais profissionais a Faculdade de Educação da UPS distribui assim a sua grade disciplinar: 31,2% de disciplinas pedagógicas, 14,6% de disciplinas de psicologia, 14,6% de disciplinas humanísticas, 12,5% são disciplinas sociológicas, 12,5% são técnicas e de animação cultural, 4,2% jurídicas. A partir destes exemplos percebe-se que há sim uma diversidade nos conteúdos disciplinares, bem como uma diversidade no processo de sistematização da formação, por conta da realidade educacional de cada país. Porém o que nos interessa , para o momento é atentar para a importância que vem sendo dada a formação de profissionais que terão por mercado de trabalho, outros espaços que estão além da escola. No Brasil já existem muitos educadores neste caminho, e é por isso que a Universidade Estadual de São Paulo – USP, mantêm via internet, um “Portal da Pedagogia Social”. Também vem realizando Congressos Mundiais de Educadores Sociais, o 19º se deu em Abril de 2009. Portanto, mesmo não existindo formação para o Pedagogo em espaços não-escolares, são vários os Pedagogos e Educadores de outras áreas que pesquisam e trabalham com a educação não formal. Várias também são as publicações de títulos que contemplam análises sobre esta modalidade educativa. Assim o interesse não é vago, existe eco, existe o diálogo e a troca, a socialização de conhecimentos que vem sendo construídos em bases científicas. Também, encontram-se, no Brasil, vários cursos em nível de especialização (lato-sensu), principalmente na formação de Pedagogos para atuar nas Empresas. Nestes o conceito da Andragogia vem substituindo o conceito de Pedagogia. Nesse contexto identificamos a necessidade de se aprofundar os estudos sobre a formação do Pedagogo para atuar em outros espaços. O que nos perturba e provoca são as falsas possibilidades de formação, nas quais se perde a concepção do pedagógico e transforma o Pedagogo em mais um profissional que vai atender as necessidades de mercado. Nessa assistência ao mercado defende-se a ampliação de empregos. Defende- se ainda a função do Pedagogo atuando não mais no pedagógico, mas aprimorando formas de exclusão principalmente na Empresa. Por conta disso é que trilhamos esse � caminho, para não perder a essência do pedagógico na formação de Pedagogos para outros espaços. REFERENCIAS LIBANEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para que? . 2.ed. São Paulo: Cortez,1999. GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico Brasileiro. São Paulo: Atica, 2003. FRANCO, Maria Amélia Santoro. Pedagogia como ciência da educação. 2ªed. São Paulo: Cortez, 2008. ORZECHOWSKI, Suzete T. Por una pedagogía humanizadora además de la docencia. Artigo apresentado no Fórum Paulo Freire V Encuentro Internacional: sendas de freire opresiones, resistencias y emancipaciones en un nuevo paradigma de vida. Valência – Espanha, 2006. http://quadernsanimacio.net Quaderns d'Animació i Educació Social. Revista virtual semestral para animadores socioculturais e educadores sociais. ISSN 1698-4044, Números 4, 5 e 8 , Julho 2006, Janeiro 2007, Julho 2008. Edita: Mario Vinché – Espanha. www.proceedings.scielo.br/scielo. An. 1 Congr. Intern. Pedagogia Social.Março. 2006. Fundamentos teóricos e metodológicos da pedagogia social na Europa (Itália). SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. Autores associados: Campinas, SP, 14ª ed., 2002. SUCHODOLSKI, Bogdan. A Pedagogia e as grandes correntes filosóficas: A pedagogia da essência e a pedagogia da existência. Centauro: São Paulo, 2002. �
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