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Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 1 A sabedoria consiste na antecipação das conseqüências. Norman Cousins HISTÓRICO DA MEDICINA E SEGURANÇA DO TRABALHO 1.1 Histórico da Medicina e Segurança do trabalho no mundo ocidental O êxito de qualquer atividade empresarial é diretamente proporcional à manutenção da sua peça fundamental - o trabalhador - em condições ótimas de saúde. As atividades laborais nasceram com o homem. Pela sua capacidade de raciocínio e pelo seu caráter adaptativo, o homem conseguiu, através da história, criar tecnologias que possibilitassem sua existência no planeta. Uma revisão dos documentos históricos relacionados à Segurança do Trabalho permite observar muitas referências a riscos do tipo profissional mesclados aos propósitos do homem de lograr a sua subsistência. Na antiguidade, a quase totalidade dos trabalhos era desenvolvida manualmente pelo artesão ou por animais de carga - uma prática que ainda pode ser encontrada em muitos trabalhos da construção civil. Hipócrates, médico grego considerado o maior médico da antiguidade ocidental, “Pai da Medicina”, criador do juramento até hoje utilizado pelos médicos ocidentais, em seus escritos que datam de IV a.C, fez menção à existência de moléstias entre mineiros e metalúrgicos. Caius Plinius Secundus, naturalista latino do séc I d.C, autor de um compêndio denominado “Historia Natural” com 37 volumes, conhecido como Plínio, O Velho, que viveu no início da era Cristã, descreveu diversas moléstias do pulmão entre mineiros e envenenamento proveniente do manuseio de compostos de enxofre e zinco. Galeno, médico grego do século II d.C, cujas teorias foram aceitas até meados do séc XVI, fez várias referências a moléstias profissionais entre trabalhadores das ilhas do Mediterrâneo. George Bauer, “O Agrícola”, “Pai da Mineralogia”, autor do primeiro trabalho a reunir os conhecimentos de geologia, mineração e técnicas de metalurgia e Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, conhecido como Paracelsus, famoso alquimista suíço, precursor da moderna quimioterapia, investigaram doenças ocupacionais nos séculos XV e XVI. Georgius Bauer, em 1556, teve publicada post mortem, o livro "De Re Metallica", em que foram estudados diversos problemas relacionados à extração de minerais argentíferos e auríferos, e à sua fundição. Essa obra discute os acidentes do trabalho e as doenças mais comuns entre os mineiros, dando destaque à chamada "asma dos mineiros". A descrição dos sintomas e a rápida evolução da doença parece indicar sem sombra de dúvida, sintomas de silicose. Em 1697, surge a primeira monografia sobre as relações entre trabalho e doença de autoria de Paracelsus: "Von der Birgsucht und Anderen Heiten". São numerosas as citações relacionando métodos de trabalho e substâncias manuseadas com doenças. Destaca-se à intoxicação pelo mercúrio, já que os principais sintomas dessa doença profissional foram por ele assinalados. Em 1700, um livro era publicado na Itália que iria ter notável repercussão em todo o mundo. Tratava-se da obra "De Morbis Artificum Diatriba" de autoria do médico Bernardino Ramazzini que, por esse motivo é cognominado o "Pai da Medicina do Trabalho". Nessa importante obra e verdadeiro monumento da saúde ocupacional, são descritas cerca de 100 profissões diversas e os riscos específicos de cada uma. Um fato importante é que muitas dessas descrições são baseadas nas próprias observações clínicas do autor que nunca esquecia de perguntar ao seu paciente: "Qual a sua ocupação?". Mudanças tecnológicas Devido à escassez de mão de obra qualificada para a produção artesanal, o gênio inventivo do ser humano encontrou na mecanização a solução do problema. Partindo da atividade predatória da caça, evoluiu-se para a agricultura e pastoreio, alcançando a fase do artesanato e atingindo a era industrial. A partir da segunda metade do século XVIII, ocorreu na Inglaterra, a Revolução Industrial, marco inicial da moderna industrialização que teve a sua origem com o aparecimento da primeira máquina de fiar e as primeiras máquinas a vapor. Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega Até o advento das primeiras máquinas de fiação e tecelagem, o artesão era dono dos seus meios de produção. O custo elevado das máquinas não mais permitiu ao próprio artífice possuí- Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 2 las. Dessa maneira, os capitalistas, antevendo as possibilidades econômicas dos altos níveis de produção, decidiram adquiri-las e empregar pessoas para fazê-las funcionar. Surgiram, assim, as primeiras fábricas de tecidos e, com elas, a relação entre o Capital e o Trabalho. As primeiras fábricas eram instaladas próximas aos cursos d’água, pois as máquinas eram acionadas por energia hidráulica, fazendo com que as fábricas, a princípio, fossem situadas distantes dos grandes centros urbanos, que então começavam a se formar. A introdução da máquina a vapor, indubitavelmente, revolucionou o quadro industrial. A indústria, que não mais dependia de cursos d'água, veio para as grandes cidades, onde era abundante a mão-de-obra. A taxa vegetativa da população era enorme. Era costumeiro a existência de grandes famílias com vários filhos, fornecendo uma fonte quase inesgotável de mão de obra abundante e barata. Com o advento da Revolução Industrial ocorreu uma maior aceleração do movimento de êxodo rural mais acentuado da humanidade. O homem do campo deixou de ser “servo” de reis e nobres, para ser “servo” do capital, para aceitar o risco de ser apanhado pelas garras de uma máquina. Condições totalmente inóspitas de calor, ventilação e umidade, além de precárias preocupações higiênicas eram encontradas freqüentemente, pois as "modernas" fábricas nada mais eram que galpões improvisados. As máquinas primitivas ofereciam toda a sorte de riscos, não possuindo dispositivos que protegessem quem as utilizasse, e as conseqüências tornaram-se tão críticas que surgiram movimentos, inclusive de órgãos governamentais, exigindo um mínimo de condições mais humanas para o trabalho. O quadro geral era dantesco. A improvisação das fábricas e a mão de obra constituída não só de homens, mas sobretudo de mulheres e crianças que passaram a ser uma constante. Essas eram expostas a jornadas de até 16 horas diárias, sem quaisquer restrições quanto ao estado de saúde e desenvolvimento físico, sem folgas e intervalos durante o expediente. Nos últimos momentos do século XVIII, o parque industrial da Inglaterra passou por uma série de transformações, as quais, se de um lado proporcionaram melhoria salarial dos trabalhadores, e ao mesmo tempo, causaram problemas de saúde ocupacionais bastante sérios. O trabalho em máquinas sem proteção, o trabalho executado em ambientes fechados onde a ventilação era precária e o ruído atingia limites altíssimos, a inexistência de limites de horas de trabalho. Tudo isso trouxe como conseqüência, elevados índices de acidentes e de moléstias profissionais, inclusive facilidade de proliferação de doenças infecto-contagiosas. Na Inglaterra, França e Alemanha, a Revolução Industrial causou um verdadeiro massacre a inocentes, e os sobreviventes foram tirados da cama e arrastados para um cenário de calor, gases, poeiras e outras condições adversas nas fábricas e minas. Esses fatos logo se colocaram em evidência pelos altos índices de mortalidade entre os trabalhadores e especialmente entre as crianças. A sofisticação das máquinas, objetivando um produto final mais perfeito e em maior quantidade, ocasionou o crescimentodas taxas de acidentes e, também, da gravidade desses acidentes. Nessa época, a causa prevencionista ganhou um grande adepto: Charles Dickens. Esse notável romancista inglês, através de críticas violentas, procurava a todo custo condenar o tratamento impróprio que as crianças recebiam nas indústrias britânicas. Em virtude destas manifestações, a opinião pública alarmada, pressionou o Parlamento Britânico. Assim, o Parlamento, através de uma comissão de inquérito, aprovou a primeira lei específica de proteção de trabalhadores datada de 1802 e cuja denominação é “Lei de saúde e moral dos aprendizes”, a qual estabeleceu: a) Limite máximo de 12 horas por dia de jornada de trabalho; b) Proibição de trabalho noturno; c) Obrigação de lavagem, pelo menos duas vezes por ano, das paredes do galpão da fábrica; d) Instalação de sistemas de ventilação passa a ser obrigatória. Entretanto, essas medidas não foram suficientes para reduzir o número de acidentes de trabalho; por exemplo, as cidades de Manchester e Liverpool pareciam campos de guerra, devido ao intenso número de aleijados desempregados e pedintes. Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 3 Em 1830, um empresário britânico mais humanista, preocupado com as péssimas condições de trabalho ao qual submetia seus trabalhadores, procurou o médico Robert Baker. Assim, Baker, conhecedor do trabalho pioneiro de Ramazzini, o qual começou a realizar inspeções médicas, recomendando a contratação permanente de um médico para acompanhar sempre os locais de trabalho e afastar os funcionários que estivessem prejudicando sua própria saúde. Surgiu assim o primeiro programa de controle médico e saúde ocupacional (PCMSO) em todo mundo. Já em 1833, foi publicada a primeira legislação específica realmente eficiente de proteção ao trabalhador, em geral denominada “The FACTORY ACT1”, a qual estabelecia, principalmente: a) Menores de 18 anos não poderiam fazer trabalhos noturnos; b) A jornada semanal de trabalho passava a ser de até 60 (sessenta) horas com jornada diária máxima de 12 (doze) horas; c) Todas as fábricas nas quais trabalhassem menores de 13 anos deveriam ter escolas, e estes funcionários deveriam freqüentá-la; d) A idade mínima para começar a trabalhar era 9 (nove) anos; e) A existência de um médico, que deveria atestar se as crianças que trabalhavam estavam tendo um desenvolvimento normal. Pouco a pouco, a legislação foi se modificando até chegar à teoria do risco social. Segundo tal teoria, o acidente do trabalho é um risco inerente à atividade profissional exercida em benefício de toda a comunidade, devendo esta, por conseguinte, amparar a vítima do acidente. O Reino Unido foi onde se concretizaram, as primeiras medidas tomadas em prol dos funcionários fabris. Foi lá criado o primeiro serviço fiscalizador ligado ao governo, o Factory Inspectorate, que pretendia verificar o cumprimento das disposições do FACTORY ACT. As outras nações que participaram deste movimento mundial, aos poucos foram tomando medidas similares, como a França, a Alemanha entre outros.Após a Segunda Guerra Mundial, países ocidentais como a França e a Espanha instituíram os primeiros serviços médicos obrigatórios. Na América, os Estados Unidos foram os precursores que, apesar do poderio econômico que já começava a sobressair no final do século XIX, demoraram bastante tempo para iniciar o movimento de proteção a segurança do trabalhador. Em 1886, houve a célebre revolta de Chicago, onde a união de trabalhadores entrou em conflito com a polícia causando a morte de várias pessoas dos dois grupos. Objetivava a regulamentação de uma jornada diária única, de no máximo 8 horas, ao invés do descontrole que havia, de até 15 horas. Tal conflito originou o feriado quase universal de 10 de maio2 –o Dia do Trabalho. No dia 11 de maio de 1887, surge no estado americano de Massachusets, o primeiro ato governamental que exigia a utilização de equipamentos de proteção sobre eixos rolantes, correias de transmissão, engrenagens expostas e impedia a limpeza de máquinas, enquanto estas estivessem em movimento. Estipulava-se também a presença de saídas de emergência em galpões fabris. Já neste século, com a nova fase do capitalismo, pensadores e industriais como Taylor, Maynard, Barnes, Mongensen, Gilbraith, entre outros, definiram novas técnicas de fabricação em massa e em escala que trouxeram novas necessidades. A legislação desse país, gerou um artigo que garantia indenização em caso de acidentes, sendo então aceita pelos principais industriais americanos a criação de serviços médicos. A segurança era tratada como parte da engenharia mecânica, tratando somente de prevenção em partes de maquinário e não de prevenção de acidentes. Por isso foi criado a National Council for Industrial Safety (Conselho nacional de segurança industrial), centro mundial de referência até os dias atuais. Somente em 1954 foi homologada a legislação e a obrigatoriedade da criação e manutenção dos serviços médicos para o empresariado americano. Esses movimentos não deixaram de ser percebidos como movimento a nível mundial, sendo acolhidos por organismos mundiais como a OIT (Organização Internacional do Trabalho ) e Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 1 Aplicada em fábricas têxteis que utilizassem força hidráulica ou força a vapor 2 Nos EUA, Canadá e África do Sul , o primeiro de maio é comemorado na primeira segunda-feira do mês de setembro Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 4 a OMS (Organização Mundial de Saúde). Essas duas agremiações são fóruns internacionais respeitadíssimos em suas áreas de atuação, sendo aceitos quase universalmente. No dia 3 de junho de 1959 em Genève, Suíça, foi realizada a 430 Conferência Internacional do Trabalho, onde, como resultado, foi emitida a recomendação n0 112, denominada “Recomendação sobre serviços para a saúde ocupacional” , que estabelecia os seguintes termos: 1. Proteger os trabalhadores contra qualquer risco de saúde que possa decorrer de seu trabalho ou das condições em que é realizado; 2. Contribuir para o ajustamento físico e mental do trabalhador, obtido especialmente pela adaptação do trabalho aos trabalhadores, e pela colocação destes em atividades para as quais tenham aptidão; 3. Contribuir para o estabelecimento e a manutenção do mais alto grau possível de bem estar físico e mental dos trabalhadores. A partir dessa data, os países europeus e norte-americanos passaram a adotar e aperfeiçoar. a recomendação da OIT Já na América Latina, as preocupações com acidentes do trabalho foram iniciadas somente no século XX. Em 1935, foi criada em Nova York, o Conselho Interamericano de Seguridad, órgão este ligado a OEA (Organização dos Estados Americanos). Existe hoje um movimento internacional para que como a série ISO 9000 e a série ISO 14000, (respectivamente sobre qualidade e meio ambiente), sejam adotados procedimentos semelhantes que exijam a padronização de serviços de segurança e medicina do trabalho através da possível série ISO 18000. 1.2 Histórico da Medicina e Segurança do trabalho no Brasil A primeira referência sobre leis de proteção ao trabalhador e acidentes do trabalho foi em 15 de janeiro de 1919, quando o Vice-Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, Delfim Moreira da Costa Ribeiro, através do decreto no 3.724, inseriuna sociedade brasileira os preceitos de saúde e segurança do trabalho, dando origem a toda estrutura prevencionista que existe hoje no Brasil. Já em relação à construção civil, a referência inicial foi a Recomendação n0 31 do ano de 1929. O país aderiu a OIT juntamente com a sua fundação. Embora este órgão estivesse ligado a Liga das Nações, precursora da atual ONU e desde 1928, o Brasil, nunca deixou de prestigiá-la financeiramente e politicamente, ainda que dela não fizesse parte. O Brasil começou a se industrializar a partir de 1930, deixando de ser um país exclusivamente agrícola de monocultura tipo plantation (café) para se tornar uma sociedade mais industrial. Por tal razão, os problemas pelos quais os países industrializados passaram só tiveram aqui a devida preocupação posteriormente. Com a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC) em 1930, a inspetoria de higiene industrial e profissional muda de jurisdição, não pertencendo mais ao Departamento Nacional de Saúde, o qual estava ligada desde 1923, para fazer parte do Departamento Nacional de Trabalho, através da divisão de Higiene e Segurança. 1.2.1 Origens da engenharia de segurança no Brasil Para falar-se das origens da Engenharia de Segurança, no Brasil, é importante que se analise, primeiramente, como se deu a evolução da Prevenção de Acidentes, antes que se pensasse na existência daquela especialização da Engenharia. A Prevenção de Acidentes, realizada sob a égide do Ministério do Trabalho, recebeu, de início, importante contribuição da área médica, cujas mãos chegavam as mais importantes conseqüências dos acidentes do trabalho - as lesões pessoais. Tal circunstância não só explica a liderança assumida pela Medicina nos primeiros passos dados em direção à prevenção de acidentes, como também esclarece porque esses passos foram dados com vistas especialmente a aspectos de conseqüências. E, mais do que isso, explica a visão conseqüencial que, até hoje, caracteriza certas práticas em detrimento de outros caminhos Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 5 que favorecem a pesquisa das causas. A legislação atual possui um caráter muito mais corretivo do que preventivo, não sendo pró-ativo. Desenvolveu-se a prática de realizar e divulgar estatísticas de acidentados, rotulando-as de estatísticas de acidentes. E com isso, deixava-se de considerar os acidentes de que não decorressem lesões. A respeito de um acidente de que não resultasse lesão, ouvia-se dizer: "graças a Deus, não foi nada". Se não havia acidentado, não havia acidente. Essa maneira de considerar o assunto, embora não fosse razoável, explicava-se pelo interesse primordial pelo acidentado, que caracterizava os que assim agiam. Juntam-se a isso as características da profissão médica para a qual o estudo das lesões pessoais é de sua indiscutível competência e merece todo o seu interesse. E assim, governo, empregadores e empregados adquiriam consciência da necessidade de encarar o problema de prevenção do acidente; o primeiro ditando as bases de uma legislação que visava a proteger o trabalhador da agressividade do ambiente de trabalho e os últimos obedecendo o estipulado nessa legislação, na medida de suas possibilidades. Foi então que o empresariado começou a despertar para o aspecto econômico dessa prevenção e espalhou-se a idéia de que a prevenção poderia ser um bom negócio. A aceitação dessa assertiva muito contribuiu, sem dúvida, para a fundação, em 1941, da ABPA, a Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes. Com a promulgação da legislação CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), em 1944, os acidentes típicos e as doenças profissionais deixaram de ser os únicos grupos nos quais se subdividem os acidentes do trabalho. Esses passaram, a partir desse instante a abranger todos os eventos que tivessem correlação com as causas e efeitos dos acidentes, mesmo sem um único responsável. Já na década seguinte, com a finalidade de promover o interesse dos empregados por assuntos associados com a prevenção de acidentes e de doenças profissionais, foram criadas as comissões internas de prevenção de acidentes (CIPA’s). A indústria do petróleo (criação da Petrobrás em 1953), a de siderurgia (Criação da Companhia Siderúrgica Nacional, CSN, em 1942), e tantas outras que começavam a funcionar exigiam capacidade técnica, a qual não contava com a ajuda de tradição. Impunha-se novo enfoque para enfrentar as novas técnicas. Não seria lógico, então, continuar a abandonar a análise dos acidentes sem lesão. E era necessário passar a estudar a problemática do acidente a partir de suas causas. Nessa altura tornou-se possível sensibilizar a área da Engenharia, até então preocupada principalmente com os assuntos ligados diretamente à produção, para a análise das causas do acidente. Todavia até que viesse a surgir o interesse profissional pela pesquisa das causas do acidente haveria um longo caminho a percorrer. Em 1961, mais uma associação de prevenção de acidentes do trabalho foi fundada, a SOBES (Sociedade Brasileira de Engenharia.de Segurança). Foi criada, em 1965, a inspeção de trabalho, visando assegurar a aplicação das disposições legais (Decreto-lei n0 55.841). Em 1967, o seguro de acidentes passa a ser recolhido exclusivamente pelo governo, sendo as taxas de seguro um percentual de 0,4 a 0,8% sobre a folha de salário de contribuição, dependendo da ocorrência de acidentes Apesar de fazer parte da OIT e de ter ratificado a recomendação de n0 112, esta não foi adotada de primeira instância, sendo negligenciada até o momento em que foi anunciado por estudos da OIT que o Brasil era o campeão mundial de acidentes do trabalho em 19703. Este fato é, inclusive, bastante difícil de ser contestado, devido à precariedade das estatísticas deste período. Em outubro de 1972, durante a realização do 11º CONPAT4, em Curitiba, representantes das entidades e empresas discutiram a necessidade de elevar a carga horária prevista para os cursos de especialização em engenharia de segurança e em medicina do trabalho, fixando-a em um mínimo de 360 horas, com o que concordaram os representantes do Departamento Nacional de Saúde e Higiene do Trabalho (DNSHT) e da Fundacentro. Estiveram presentes as seguintes entidades e empresas: DNSHT, Fundacentro, SOBES, ABPA, INPS, UFP, SENAI, COHISI DO Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 3 Menciona-se em tom jocoso, que cada pilar da ponte Rio Niterói possui pelo menos um nordestino. 4 Congresso de Prevenção de Acidentes do Trabalho. Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 6 SESI, Petrobrás, IBM, General Motors, Volkswagen do Brasil, Antarctica e Federação das Indústrias do Paraná. Esse foi um primeiro passo para o aperfeiçoamento do preparo dos profissionais a serem utilizados. Logo depois o assunto foi reestudado, sendo fixado, no caso da engenharia de segurança, a carga horária mínima de 600 horas. Não obstante a Portaria 3.237 previa a existência de especialistas, dando a competência das áreas em que agiriam, mas não fixava a forma pela qual seriam especializados. Era a primeira vez que essas entidades não governamentais se reuniam para discutir problemas de interesse comum. Além de cuidar do preparo dos profissionais previstos na portaria n0 3.237, caberia realizar estudos para homogeneizar os seus ditames em relação à legislação regulamentadorado exercício da engenharia, arquitetura e agronomia. Esses estudos serviram de base ao projeto de lei que, apresentado no Senado, pelo Eng.º Saturnino Braga5, dispunha a respeito da especialização de Engenheiros e Arquitetos em Engenharia de Segurança do Trabalho e também sobre a profissão de Técnico de Segurança do Trabalho. No mesmo ano, foi instituído o Programa Nacional de Valorização do Trabalhador. Criou-se em 1976, através do decreto-lei n0 79037, o acidente de trajeto, no qual considera o empregado a serviço, voluntariamente ou não, quando se desloca de sua residência para o trabalho ou vice-versa, além de deslocamentos por força de trabalho. Nesse ano foi promulgada a lei n0 6367, reduzindo os benefícios em valor e tipo de doenças amparadas legalmente. Substituíram-se as tarifas antes em voga (fixas), por tarifas que seriam atribuídas em função do grau de risco da empresa em escala de 1 a 4, sendo as taxas de 1,2% e 2,5% para os dois últimos grupos. Esta mentalidade prejudicava de certa forma as empresas que investiam em prevenção, visto que esta legislação não separava o joio do trigo. Em 1976, inicia-se o processo de regulamentação dos serviços de engenharia e medicina do trabalho, a partir da formação de comissões tripartites (Sindicatos patronais, sindicatos de trabalhadores e Ministério do Trabalho) aglutinando, empresariado, governo e trabalhadores para a elaboração das Normas Regulamentadoras que inicialmente foram sancionadas pelo presidente da República, Gal. Ernesto Geisel. Em 08 de junho de 1978, todas as normas relativas à segurança e medicina do trabalho foram consolidadas em forma de Normas regulamentadoras6. Em 27 de novembro de 1985 foi sancionada a Lei n0 7.410 que, em seguida, foi regulamentada pelo decreto n0 92.530, de 9 de abril de 1986. Esta lei dispõe sobre a especialização de Engenheiros e Arquitetos em Engenharia de Segurança do Trabalho, sobre a profissão de Técnico de Segurança do Trabalho e dá outras providências. Antes de entrar no comentário dessas e outras medidas regulamentadoras que se seguiram, é importante lembrar que, em julho de 1977, a SOBES, a ABPA e outras associações, a convite do MTB, compareceram ao Departamento de Assuntos Universitários do MEC com o fim de discutir o ensino de tópicos relativos à Engenharia de Segurança nos currículos plenos de Engenharia. O programa então proposto, aprovado pelo Conselho Federal de Educação, contribuiu de maneira muito positiva para esclarecer concluintes de cursos das várias modalidades de engenharia a respeito dos objetivos dessa especialização. Em 1987, a OIT elaborou uma convenção específica sobre os aspectos de segurança e higiene na construção a partir das conclusões de reuniões de especialistas mundiais, sendo abordados os seguintes temas: 1. Definição da abrangência da atividade da construção; 2. Desenvolvimento de medidas de segurança e higiene; 3. Organização da segurança e da higiene; 4. Serviços de fiscalização; 5. Serviços de medicina do trabalho e de primeiros socorros; 6. Obrigações e responsabilidades dos empregadores, subcontratistas, trabalhadores assalariados e autônomos, assim como todos os que intervêem na supervisão da obra como arquitetos e engenheiros civis. Em 1988, foi determinado pela Medida Provisória n0 63 que as empresas que apresentassem aumento no índice de acidentes do trabalho superior à média do respectivo setor, seriam oneradas com uma contribuição adicional de 0,5% a 1,8% sobre o total das remunerações Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 5 Atual senador do estado do Rio de Janeiro, ex-prefeito da capital do estado. 6 Naquele instante eram em número de 28. A NR29 – (trabalho portuário) foi consolidada em 1997 Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 7 pagas. Em 1990, a lei 8099 incluiu entre as competências do INSS, a execução de programas e atividades do Governo Federal na área do Trabalho, fazendo com que as DRT’s (delegacias regionais do trabalho) unificassem os dados do INSS. No caso da Construção Civil, por se tratar de uma atividade econômica de suma importância tanto na geração de empregos como na geração de acidentes, foi proposto, em 1994, o aprimoramento da norma regulamentadora específica, sancionada pelo presidente José Sarney em 1995, a qual trata única e exclusivamente da atividade de Construção Civil, a NR-18. Como a tecnologia atual muda constante e rapidamente, faz-se sempre necessário modernizar as NR’s para que estas não fiquem obsoletas. Ainda que o sistema atual não seja perfeito, pelo menos regulamenta-se o mínimo indispensável para que os trabalhadores possam se sentir amparados. As Normas Regulamentadoras especificam o dimensionamento dos serviços de engenharia e medicina do trabalho (NR5 e NR7), a criação de programas de prevenções de riscos (NR9), criação de comissões internas de prevenção de acidentes (CIPA- NR4) ou ainda o dimensionamento de áreas de vivência em canteiros de obra (NR18). Obviamente a regulamentação por si só não garante a integridade física e mental do trabalhador. Ela tem ainda caráter preponderantemente punitivo, corretivo e de certa forma somente mitigatório, ao invés de caracteres pró-ativos, preventivos e preditivos. Atualmente, o governo tem declarado uma guerra contra os altos índices de acidentes que estão presentes nas estatísticas, apesar de ainda imperar a subnotificação e a omissão de acidentes de pouca ou nenhuma importância e risco. É objetivado que até 2005, o país diminua em até 40% os atuais níveis de acidentes do trabalho. 1.3 Prevenção versus perdas O objetivo primordial da Engenharia de Segurança é detectar os riscos potenciais, analisá- los e promover ações preditivas e preventivas de proteção, a partir de diversas técnicas de engenharia. Com o advento de uma economia onde o mais importante será o conhecimento, os recursos humanos de uma empresa poderão ser a chave de sobrevivência da mesma. A administração ou gestão deve ser direcionada para a redução dos custos, através da implantação de um programa eficiente, que vise a minimizar os acidentes, sinistros ou outro fato negativo que interrompa ou altere um sistema de produção. H.W HEINRICH7, em 1931, após realizar um estudo a partir de análises de acidentes liquidados por uma empresa de seguro, concluiu que de 330 acidentes estudados, apenas 30 tinham dado origem a lesões pessoais, dos quais só uma de maior gravidade e que, não seria razoável continuar abandonando mais de 90% de informações provenientes de acidentes sem lesão. Ele também se mostrou contra a idéia de buscar a prevenção dos acidentes no estudo de suas conseqüências. Não havia a proporcionalidade entre a gravidade das lesões pessoais decorrentes de acidentes e a gravidade potencial desses acidentes. Posteriormente, o estudioso americano FRANK E. BIRD reformulou esta teoria, apresentando novos valores para esta pirâmide, baseado em dados da siderurgia Luckens Steel Co. Mais tarde, ampliou o leque de informações e, em 1969, apresentou o estudo definitivo de 297 empresas, abrangendo cerca de 1.750.000 trabalhadores, concluindo que para cada lesão grave, havia 10 acidentes.com lesões leves, 30 com danos leves à propriedade e 600 quase acidentes. Figura 1.1 – A Pirâmide de Bird . Fonte : Tavares 1996 Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 7 Engenheiro H.W. Heinrich em sua obra Industrial Accident Prevention, divulgou dados estatísticos que deram origem a famosa pirâmidede Heinrich Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 8 Figura 1.2 – A Pirâmide de Heinrich . Fonte : Tavares 1996 Figura 1.3 – A Pirâmide do Insurance Company of North America. Fonte : Tavares 1996 1.4 Legislação pertinente A Engenharia de Segurança possui ampla legislação pertinente, cabendo destacar: ¾ Dispositivos constitucionais - A Constituição Federal contém diversos dispositivos relacionados com o direito dos trabalhadores à segurança e à saúde nos ambientes de trabalho. ¾ Lei 6.514 de 22/12/1997: Essa Lei alterou o Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo à Segurança e Medicina do Trabalho. ¾ Portaria 3.214 de 08/06/1978: Aprovou as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. ¾ Portaria 393 de 09/04/1996 (NR 0): A metodologia de regulamentação na área de segurança e saúde no trabalho, atribuição da Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho – SSST, terá como princípio básico a adoção do sistema tripartite paritário – Governo, Trabalhadores e Empregadores. ¾ Normas Regulamentadoras do MTB (33) Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 9 ¾ Lei 7.410 de 27/11/1985: Dispõe sobre a especialização de Engenheiros e Arquitetos em Engenharia de Segurança do Trabalho, a profissão de Técnico de Segurança do Trabalho e dá outras providências. ¾ Decreto 92.530 de 09/04/1986: Regulamenta a Lei nº 7.410/85. ¾ Resolução 359 de 31/07/1991 do CONFEA Dispõe sobre o exercício profissional, o registro e as atividades de Engenharia de Segurança do Trabalho e dá outras providências. ¾ Enunciados do TST - Jurisprudência firmada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) relativa à Segurança e à Saúde dos Trabalhadores. ¾ Resolução 437 de 27/11/1999 do CONFEA - Dispõe sobre a Anotação de Responsabilidade Técnica – ART relativa às atividades dos Engenheiros e Arquitetos, especialistas em Engenharia de Segurança do Trabalho e dá outras providências. 1.5 Dados estatísticos Antes de 1970, não existia sequer controle estatístico da quantidade de acidentes do trabalho que ocorriam no país. Acreditava-se que o Brasil fosse um dos campeões em quantidade de acidentes do trabalho. O quadro imaginado era bastante sombrio e perturbador. Quando se pode comprovar, através do estudo dos casos, a verdade parcial (somente os casos mais sérios, onde ocorriam hospitalização e morte, eram computados à estatística nacional), verificou se que o número de acidentados era imenso, e que algo deveria ser feito para diminuir as conseqüências e a quantidade de acidentes com perdas humanas. Ao longo destes últimos trinta anos, esse número vem sistematicamente caindo, mas mantendo-se a níveis ainda altos. São, contudo, bem mais confiáveis que os antigos, devido ao uso das comunicações de acidentes do Trabalho, as CAT’s, e sobretudo à criação de legislação específica e obrigatoriedade de criação de serviços especializados de segurança do trabalho. No quadro 1.1, tem-se os dados oficiais de acidentes e doenças do trabalho, ocorridas entre 1970 e 1999. Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 10 Quadro 1.1 - Número de acidentes ocorridos entre 1970 e 1999 Fonte : BEAT, INSS Acidentes ANO Segurados Celetistas Típico Trajeto Doenças total Óbitos % 1970 7.284.022 não divulgado 1.119.672 14.502 5.937 1.220.011 2.232 0,03% 1971 7.553.472 não divulgado 1.308.335 18.138 4.050 1.330.523 2.587 0,03% 1972 8.148.987 não divulgado 1.479.318 23.389 2.016 1.504.723 2.854 0,04% 1973 10.956.956 não divulgado 1.603.517 28.395 1.784 1.633.696 3.173 0,03% 1974 11.537.024 não divulgado 1.756.649 38.273 1.839 1.796.761 3.833 0,03% 1975 12.996.796 não divulgado 1.869.689 44.307 2.191 1.916.187 4.001 0,03% 1976 14.945.489 não divulgado 1.692.833 48.394 2.598 1.743.825 3.900 0,03% 1977 16.589.605 não divulgado 1.562.957 48.780 3.013 1.614.750 4.445 0,03% 1978 16.638.799 não divulgado 1.497.934 48.511 5.016 1.551.461 4.342 0,03% 1979 17.637.127 não divulgado 1.388.525 52.279 3.823 1.444.627 4.673 0,03% 1980 18.686.355 não divulgado 1.404.531 55.967 3.713 1.464.211 4.824 0,03% 1981 19.188.536 não divulgado 1.215.539 51.722 3.204 1.270.465 4.808 0,03% 1982 19.476.362 não divulgado 1.117.832 57.874 2.766 1.178.472 4.496 0,02% 1983 19.671.128 não divulgado 943.110 56.899 3.016 1.003.025 4.214 0,02% 1984 19.673.915 não divulgado 901.238 57.054 3.233 961.525 4.508 0,02% 1985 20.106.390 18.923.062 1.010.340 63.515 4.006 1.077.861 4.384 0,02% 1986 21.568.660 19.805.287 1.129.152 72.693 6.014 1.207.859 4.578 0,02% 1987 22.320.750 20.224.585 1.065.912 64.830 6.382 1.137.124 5.738 0,03% 1988 23.045.901 21.164.050 926.354 60.202 5.025 991.581 4.616 0,02% 1989 23.678.607 21.847.772 825.081 58.524 4.838 888.443 4.554 0,02% 1990 22.755.875 20.407.880 632.012 56.343 5.217 693.572 5.355 0,02% 1991 22.792.858 19.584.604 579.362 46.679 6.281 632.322 4.527 0,02% 1992 22.803.065 18.676.063 490.916 33.299 8.299 532.514 3.516 0,02% 1993 22.722.008 19.026.331 374.167 22.709 15.417 412.293 3.110 0,01% 1994 23.016.637 18.778.872 350.210 22.824 15.270 388.304 3.129 0,01% 1995 23.614.200 18.763.518 374.700 28.791 20.646 424.137 3.967 0,02% 1996 24.311.448 18.924.763 325.870 34.696 34.889 395.455 4.488 0,02% 1997 23.275.605 18.862.098 347.482 37.213 36.648 421.343 3.469 0,01% 1998 Não não totalizado 347.738 36.114 30.489 414.341 4.144 1999 não não totalizado 319.617 36.716 22.032 378.365 3.923 total de óbitos : 122.388 Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 11 Quadro 1.2 - Número de acidentes ocorridos entre 1970 e 1999 Fonte : FUNDACENTRO ANOS NÚMERO DE SEGURADOS NÚMERO DE ACIDENTADOS PERCENTUAL 1970 7.284.022 1.220.111 16,75% 1971 7.553.472 1.330.523 17,61 % 1972 8.148.987 1.504.723 18,47 % 1973 10.956.956 1.632.696 14,90 % 1974 11.537.024 1.796.761 15,57 % 1975 12.996.796 1.916.187 14,74 % 1976 14.945.489 1.743.825 11,67 % 1977 16.589.605 1.614.750 9,73 % 1978 16.638.799 1.551.5019,32 % 1979 17.637.127 1.444.627 8,19 % 1980 18.686.35518 1.464.211 7,84 % 1981 19.188.536 1.270.465 6,62 % 1982 19.476.362 1.178.472 6,05 % 1983 19.671.128 1.003.115 5,10 % 1984 19.673.915 961.575 4,89 % 1985 20.106.390 1.077.861 5,36 % 1986 21.568.660 1.207.859 5,60 % 1987 22.320.750 1.137.124 5,09 % 1988 23.045.901 992.737 4,31 % 1989 23.678.607 888.343 3,75 % 1990 22.755.875 693.572 3,05 % 1991 22.792.858 629.918 2,76 % 1992 22.803.065 532.514 2,33 % 1993 22.722.008 412.293 1,81 % 1994 23.016.637 388.304 1,68 % 1995 23.614.200 424.137 1,79 % 1996 24.311.448 395.455 1,62 % 1997 23.275.605 369.065 1,58 % 1998 Dados incompletos 1999 Dados incompletos Os dados apresentados no quadro 1.1 e 1.2, são os dados oficialmente distribuídos pela agência governamental, o FUNDACENTRO. São dados de todas as atividades econômicas laborais da nação. Tem-se verificado uma tendência de queda nos ”números oficiais” na década de 80 e 90. Estes números retratam, os casos relatados ao FUNDACENTRO, geralmente casos que não podem ser ocultados devido a inquéritos policiais com mortes e hospitalizações. Entretanto, em recentes artigos e estudos, chegou-se a conclusão de que para cerca de 450 mil acidentes que ocorrem anualmente no Brasil (dados extra-oficiais de 1999), as empresas têm uma despesa de aproximadamente R$ 12,5 bilhões (contando os custos segurados e os não- segurados); os familiares dos acidentados ou lesionados desembolsam mais de R$ 2,5 bilhões (acomodando-os, tratando-os e perdendo horas de trabalho e renda); e o Estado, juntamente com as famílias, gasta estimativamente R$ 5 bilhões para acudir os que se acidentam e adoecem no mercado informal e em nada contribuem para a formação do fundo previdenciário que garante o seguro aos acidentes do trabalho. Em suma: teoricamente, o número se aproxima de R$ 20 bilhões por ano! Uma verba colossal que tornaria possível gerar em torno de uns 500 mil empregos. O mais grave ainda é o sofrimento das vítimas de acidentes e doenças profissionais: o país não pode desperdiçar recursos dessa forma e muito menos dar as costas para o drama humano que decorre do desleixo e da desatenção. É verdade que a solução de uma boa parte do problema depende da melhoria da educação dos trabalhadores e da sua conscientização. Nos dias atuais, os trabalhadores constituem o ativo mais precioso das empresas. À medida que a concorrência aumenta e a Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 12 economia se globaliza, a importância do trabalho bem-feito, da eficiência e da produtividade é questão de “vida ou morte” para as empresas. O novo ambiente econômico exige mão-de-obra cada vez mais qualificada e um clima da mais absoluta parceria entre empregados e empregadores. Demitir um bom empregado é desumano, oneroso e contraproducente. A Construção Civil deveria refletir sobre a alta rotatividade de sua mão de obra, e providenciar treinamentos periódicos para aperfeiçoamento técnico. A empresa que for recontratar esse empregado pagará caro e despenderá tempo para readaptá-lo às suas condições de trabalho. Descuidar de sua saúde e proteção geral, além de ser inadmissível em uma sociedade dita civilizada, constitui uma das maiores irracionalidades que o empresariado pode cometer num momento em que a competitividade de suas empresas está sendo desafiada pela internacionalização da economia. O SINDUSCON-Rio, também preocupado com a situação atual da Construção Civil, realizou um estudo comparativo com empresas americanas do ramo, com dados estatísticos bem confiáveis, apresentando o seguinte quadro: Quadro 1.3 – quadro comparativo de dados pesquisados pelo SINDUSCON-RIO , BRASIL E EUA Fonte: Anuário do FUNDACENTRO 1998 PESQUISA DO SINDUSCON NA C.CIVIL dados BRASIL (1) dados EUA (2) Média mensal % taxa de % taxa de % taxa de ANO EMPRESAS de empregados acidentes freqüência acidentes freqüência acidentes freqüência 1979 10 14.393 10,01 37 8,19 34,26 3,89 19,45 1980 15 14.460 9,86 34,73 7,84 32,71 4,29 21,45 1981 18 19.560 8,02 28,21 6,62 27,36 3,57 16,85 1982 9 20.935 6,25 22,75 6,05 24,37 nf nf 1983 18 13.755 4,75 18,02 5,10 20,88 3,88 19,40 1984 17 22.678 3,23 14,43 4,89 19,95 3,88 19,40 1985 15 11.024 3,23 12,24 5,36 21,90 3,31 16,55 1986 22 15.213 4,41 17,7 5,60 22,84 nf nf 1987 22 19.965 3,31 13,98 5,09 20,85 nf nf 1988 36 23.965 3,76 14,54 4,31 17,56 3,32 16,60 1989 31 23.933 2,97 12,61 3,75 16,59 nf nf 1990 32 21.662 2,25 9,82 3,05 13,26 nf nf 1991 31 21.740 2,57 10,74 2,81 12,07 nf nf 1992 33 30.419 2,01 7,98 2,34 10,37 nf nf 1993 30 24.176 1,84 7,78 1,90 8,12 nf nf 1994 27 17.543 1,11 5,15 1,68 7,52 nf nf 1995 26 14.636 0,97 4,33 1,79 7,93 nf nf 1996 24 11.924 1 4,25 1,63 7,03 3,08 13,42 1997 21 7.856 0,9 3,58 1,81 nf nf nf 1998 24 10.323 0,83 3,32 1,79 nf nf nf (1) Este percentual refere-se a todos os trabalhadores assegurados (2) Dados do National Safety Council (3) NF - Não fornecido (4) Taxa de Frequencia: TF = (número de acidentados afastados x 1.000.000) / (número de horas/homem expostas ao risco) Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 13 Comparando as taxas de freqüências encontradas na pesquisa realizada pelo SINDUSCON RIO, pode-se observar que o número de acidentes chega a ser bastante próximo. Entretanto, as notificações americanas podem ser consideradas bem mais realistas que as do país, já que o caso do número de subnotificações ou não notificações encontradas no Brasil são muito maiores. Para fins comparativos, mostrando dados referentes somente a acidentes fatais, tem-se que no Japão, ao longo do ano de 1998, faleceram devido à acidentes do trabalho nas mais diversas áreas, 1844 pessoas, ou seja, número bem inferior ao encontrado no país que foi de 4144 pessoas no mesmo período. Quadro 1.4 – Quadro sobre acidentes fatais ocorridos no Japão em 1998 Fonte: JISHA 1999 ACIDENTES DE TRABALHO FATAIS NO JAPÃO MINERAÇÃO (1,6%) TRANS. PUBLICO (2,5%) PORTOS (1%) EXT.VEGETAL (3,7%) INDUSTRIA (16,5%) TRANS. TERRESTRE (12,2%) CONSTRUÇÃO (39,3%) OUTROS (23%) Nos quadros 1.5 e 1.6 tem-se dados mais recentes provenientes do MPAS, obtidos e divulgados pela revista proteção, especializada no setor. Quadro 1.5 Motivos de acidentes década de 2000 Fonte: anuário revista proteção ACIDENTES #TRAB TÍP TRAJ DOE TOT OBIT 2000 26.228.629 304.963 39.300 19.605 363.868 3.094 2001 27.189.614 282.965 38.799 18.487 340.251 2.753 2002 28.683.913 323.879 46.881 22.311 393.071 2.968 2003 29.544.927 325.577 49.642 23.858 399.077 2.674 2004 31.407576 375.171 60.335 30.194 465.700 2.839 2005 33.238.617 393.921 67.456 30.334 491.711 2.708 MED 29.382.213 334.413 50.402 24.132 408.946 2.839 Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega 14 Quadro 1.6 Partes atingidas 2005 Fonte: Anuário proteção 2007 ACIDENTES TOTAL % TÍP % TRAJ % DOE % MEMBROS INFERIORES 70.159 14,27% 53.244 13,51%16.73524,81% 200 0,66% CABEÇA E PESCOÇO 32.497 6,61% 26.009 6,60% 4.562 6,76% 1.9266,35% MEMBROS SUPERIORES 194.426 39,54% 170.28343,23%17.66426,19% 6.479 21,36% TORAX E QUADRIL 33.185 6,75% 25.883 6,57% 3.879 5,75% 3.423 11,28% ARTICULAÇÕES E TEC. CONJ. 49.717 10,11% 33.192 8,43% 8.822 13,08% 7.703 25,39% OUTROS 111.693 22,72% 85.302 21,65%15.78923,41%10.602 34,95% TOTAL 491.677 393.913 67.451 30.333 BIBLIOGRAFIA BERNSTEIN, Peter L. – Desafio aos Deuses – A fascinante história do risco. 4 Ed – Ed. Campus – 1997 CICCO, Francesco de. Segurança e Qualidade. Revista CIPA, 1990.e 1994 ------------------. Custo de acidentes. Fundacentro, S. Paulo , 1985. ------------------. Prevenção e Controle de Perdas. Fundacentro, S. Paulo 1985. DELA COLETA, José Augusto. Acidentes do trabalho – fator humano, contribuições da psicologia do trabalho atividades de prevenção. Ed. Atlas – RJ, 1989. DE LUCCA, Sérgio R. & FAVERO, Manildo . Os acidentes do trabalho no Brasil- algumas implicações de ordem econômica Revista Brasileira de Saúde Ocupacional v22 num 81 pág 9 e 10 - Fundacentro, 1994. HADDAD, Assed N ; CABRAL, Simone D. & MIRANDA, Vilmar A .A. - Análise de projetos de Segurança. Apostila do curso de Pós Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho – UFRJ, Rio de Janeiro, A 2000, 38p. PRETOSKI, H. – Engineers of Dreams : Great Bridge Builders and Spanning of America – Vintage Books, N. York, 1995. RAMAZINNI, Bernardino - “De Morbis Artificum Diatriba” – tradução da liga brasileira contra acidentes do trabalho – 1971 Referências da internet ACGIH-American Conference of Gov. Industrial Hygienists: www.acgih.gov ILO / OIT – International Labor Organization / Organização Internacional do Trabalho : www.ilo.gov Revista CIPA: www.cipanet.com.br Universidade Veiga de Almeida - 2008.1 Engenharia de Produção Prof. Justino Nóbrega ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas :www.abnt.org.br. ABPA - Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes : www.abpa.org.br FUNDACENTRO : www.fundacentro.gov.br ISO - International Organization for Standardization : Organização Internacional de Normalização. www.iso.ch Ministério do Trabalho e Emprego : www.mte.org.br Revista Proteção: www.proteção.com HISTÓRICO DA MEDICINA E SEGURANÇA DO TRABALHO 1.1 Histórico da Medicina e Segurança do trabalho no mundo ocidental 1.2 Histórico da Medicina e Segurança do trabalho no Brasil 1.2.1 Origens da engenharia de segurança no Brasil 1.3 Prevenção versus perdas 1.4 Legislação pertinente 1.5 Dados estatísticos BIBLIOGRAFIA Referências da internet