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Unidade 9

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1
PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO
PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO
Graduação
PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO
85
U
N
ID
A
D
E 
9
PSICOPATOLOGIA
Até aqui estudamos como alguns dos principais fenômenos psicológicos
funcionam. Nesta unidade, iremos compreender o que acontece quando
essas engrenagens chamadas de “processos psicológicos” não estão
funcionando com uma certa harmonia.
OBJETIVOS:
Analisar a complexidade que existe entre os conceitos de normalidade e
patologia, considerando a importância do contexto e seus principais fatores
desencadeantes dos sintomas.
• Compreender os conceitos de ansiedade e estresse.
• Identificar alguns tipos de psicopatologias:
• condutas motoras;
• linguagem;
• processos cognitivos.
PLANO DE UNIDADE:
• O normal e o patológico
• O contexto e os sintomas
• Fatores desencadeantes dos transtornos
• Conceitos de estresse e ansiedade
• Psicopatologia das condutas motoras
• Psicopatologia da linguagem
• Psicopatologia das funções cognitivas.
Bons estudos!
UNIDADE 9 - PSICOPATOLOGIA
86
O termo Psicopatologia, segundo o dicionário Aurélio, significa “o
estudo dos transtornos mentais no tocante a sua descrição.”
Portanto, nesta unidade, vamos conhecer um pouco sobre o papel
da saúde mental, os principais impasses dessa área de conhecimento e
refletir sobre os equívocos construídos historicamente sobre o indivíduo
que apresenta transtorno.
Esse cara não é normal! Com base em que podemos afirmar tal
coisa?
Na verdade, tanto no senso comum como na ciência, podemos
utilizar essa expressão para designar vários pontos de vista:
1. O normal em oposição à doença.
Nesse ponto de vista a idéia de doença parece ser definitiva
e absoluta e da mesma maneira a normalidade, ou a saúde.
2. O normal enquanto média estatística.
Nesse aspecto, tudo que está fora da curva mediana dos
estatísticos será excluído do conceito de normal. Ser muito alto, ser pouco
atento, ser muito expansivo, poderiam ser considerados exemplos de
anormalidades?
3. O normal como ideal.
Aqui a normalidade é submetida a um critério de valores, uma
normalidade idealizada, descolada dos complexos sistemas e conflitos por
que passa o ser humano. A busca por uma normalidade ideal, pode gerar a
própria patologia na medida em que se trata de uma utopia.
4. O normal como processo dinâmico e retorno a um certo estado de
equilíbrio.
Nessa perspectiva, corremos o risco de reduzir o conceito de normalidade
a um estado de aceitação, submissão ou conformismo as exigências sociais.
Lembra-se dos estudantes “caras pintadas” nas manifestações populares
contra a corrupção do governo Collor?
Poderíamos, nesse caso, considerá-los como anormais?
Vamos nos apropriar dessa discussão para compreender os limites, se é
que eles existem, entre saúde e doença mental.
Pois bem, em todos os aspectos percebemos uma visão dicotômica, com
limites bem demarcados entre o que é normal e o que é patológico e isso
parece não ser suficiente para compreender a complexidade dos dois fatores.
Na realidade normalidade e patologia são interdependentes um do outro
e são conceitos extremamente relativos. Os critérios que definem o que é
normal em uma determinada cultura pode não ser em outra.
Essa problemática tão antiga, mas ainda sem desfecho, traz em si um
outro desdobramento, sobretudo, no que diz respeito ao “poder da ciência”
na medida em que por meio de um diagnóstico médico o destino de um
PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO
87
indivíduo poderá ser traçado. Ao ser rotulado como doente mental, poderá
perder o direito a ter emprego, família, amigos, etc.
Como destaca Basaglia(apud BOCK, 2003, p.346)
Estou de acordo que um esquizofrênico é um esquizofrênico, mas uma
coisa é importante: ele é um homem e tem necessidades de afeto, de
dinheiro e de trabalho; é um homem total e nós devemos responder
não a sua esquizofrenia, mas ao seu ser social e político[a sua
humanidade]1
É certo que em nossas vidas passamos por momentos em que parece
que vamos enlouquecer, ou seja, que vamos perder o controle sobre nós
mesmos, que vamos romper com a realidade. Esse estado de sofrimento
psíquico pode se manifestar de várias formas. É o que conhecemos como os
sintomas. Entretanto, muito embora o sofrimento seja intenso e exista de
fato um quadro sintomatológico, ou seja, manifestação de reações de
desorganização mental, como, por exemplo, o isolamento, ou euforia
excessiva, ou a distorção da percepção, é preciso ter cuidado para não
patologizar o sofrimento.
Na infância, por exemplo, é comum crianças apresentarem gagueira ou
medo de escuro ou mesmo muita ansiedade ao ingressarem na escola, mas
seria possível afirmar que sofrem de um transtorno mental?
Para melhor compreender essa questão Ajuriaguerra(1991) afirma que
nada permite considerar que existam dois campos decididamente distintos,
heterogêneos, que apontem um para os processos psicológicos normais e o
outro da desorganização e desestruturação patológica. O desenvolvimento
psicológico das crianças é, por si só, fonte de conflitos e que como todo
conflito pode gerar sintomas.
Assim, o importante é lidar com a história individual de cada um,
procurando a forma de atuação que melhor atenda às suas necessidades.
O fato de termos uma idéia do transtorno do qual o indivíduo sofre não quer
dizer que saibamos tudo sobre ele ou que haja uma conduta padronizada
para lidar com ele.
Mas, de qualquer forma, é importante ficarmos atentos para alguns pontos
mais recorrentes na conduta do indivíduo que apresenta transtornos mentais.
Entretanto, sem prescindir da dúvida: onde passa a linha divisória que
separa o normal do patológico?
Para ajudar nessa compreensão, é preciso conhecermos alguns
conceitos:
Ansiedade e estresse.
A ansiedade caracteriza-se por um conjunto de respostas fisiológicas e
emocionais frente a situações percebidas como perigosas(sejam reais ou
fantasiosas).
· Reações emocionais: desconforto, intranqüilidade, apreensão.
UNIDADE 9 - PSICOPATOLOGIA
88
· Reações fisiológicas: sudorese, taquicardia, dores musculares,
dor de cabeça, boca seca, queimação no estômago, diarréia,
náuseas, vômito, tonturas, turvação na vista.
Entretanto é bom lembrar: ansiedade não é doença! Como vimos, são
reações do repertório humano que, pelo contrário, podem inclusive funcionar
como um deflagrador da aprendizagem, como vimos com Piaget e o processo
de equilibração.
Somente quando, se se mantém por um período mais prolongado de
tempo ou quando torna-se incapacitante, dificultando ou impossibilitando
nossas atividades cotidianas, podemos dizer que é um transtorno.
Estresse é um conjunto de reações fisiológicas, comandadas pelo sistema
nervoso autônomo, possivelmente desenvolvidas em nossa longa história
de adaptação ao mundo.
Lembra-se dos nossos estudos sobre a emoção?
Tais reações têm o objetivo de preparar nosso organismo para lutar ou
fugir diante de uma situação de perigo.
Atualmente, multiplicaram-se as situações percebidas como perigosas
causadoras de ansiedade e deflagradoras de respostas de estresse. O que,
no tempo das cavernas, poderia ser entendido como situação de perigo, por
exemplo, um animal feroz, hoje é a violência do trânsito, a instabilidade, a
competitividade no emprego, entre tantas outras situações causadoras de
estresse.
Na realidade, parece que vivemos em uma situação de estresse
constante.
Mas,afinal, o que pode provocar o aparecimento de um transtorno mental?
Na realidade, não existe apenas um fator que contribui para isso, mas
fatores que combinados provocam seu aparecimento. Por isso, dizemos que
o transtorno mental é multideterminado. Entretanto, precisamos conhecerseus principais fatores:
1. Fatores físicos orgânicos ou biológicos.
São as alterações ocorridas no corpo como um todo, em
determinado órgão ou no sistema nervoso central que
possam levar a um transtorno mental.
a. Fatores genéticos ou hereditários: na saúde
mental, referem-se às tendências que o indivíduo
possui de desenvolver determinados
desequilíbrios químicos no organismo que
possam levá-lo a apresentar determinados
transtornos mentais.
b. Fatores pré-natais: dizem respeito às condições
de gestação, como, por exemplo, o consumo de drogas, o
estresse pelo risco de perder o emprego, a falta de afeto, são
exemplos de situações que podem prejudicar a formação do
IMPORTANTE
PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO
89
bebê, gerando problemas futuros que poderão comprometer
sua capacidade adaptativa.
c. Fatores perinatais: é tudo aquilo que acontece “durante” o
nascimento do bebê. Em algumas situações, o bebê pode sofrer
danos neurológicos devido a traumatismos ou falta de
oxigenação do tecido cerebral.
d. Fatores ligados a doenças orgânicas: o transtorno mental pode
também aparecer como conseqüência de determinada doença
orgânica, por exemplo, no caso de meningite, doença que afeta
o sistema nervosos central.
2. Fatores Ambientais.
Os fatores ambientais podem ser sociais, culturais e econômicos.
a. Sociais: referem-se às interações com o outro. Nossas relações
pessoais, profissionais e com outros grupos.
b. Culturais: dizem respeito ao sistema de regras no qual estamos
envolvidos. O conceito de cultura está intimamente ligado com
os símbolos e seus significados construídos por um determinado
grupo, em uma determinada época, em um determinado lugar.
Portanto, o que é valorizado em um país ou para um povo pode
não ser para o outro. O casamento entre homossexuais pode
parecer normal na Irlanda, mas, aqui no Brasil, os olhares seriam
de reprovação.
c. Econômicos: referem-se à nossa possibilidade de aquisição de
bens materiais, e o estado de carência das condições básicas
de sobrevivência.
3. Fatores emocionais ou psicológicos.
É o aspecto da singularidade. Faz com que, em situações semelhantes,
uma pessoa desenvolva um transtorno mental e a outra não.
Uma mãe com dois filhos, cada um com um comportamento diferente: um
agitado e o outro calmo. O que faz com que se comportem de uma maneira
e não de outra?
Como já vimos, a personalidade de um indivíduo, como a conjugação
dos aspectos físicos e ambientais, pode ser a resposta. A maneira como
cada um interpreta sua existência, sua história de vida, os vínculos
estabelecidos, as privações sofridas, todos são exemplos de fatores
psicológicos que podem “conspirar” para o surgimento de um transtorno
mental.
Assim, como pudemos ver, o termo transtorno é usado para definir um
conjunto de sintomas em decorrência de fatores multideterminados que
geralmente envolvem sofrimento pessoal e interferência nas funções
adaptativas que o indivíduo necessita para exercer sua vida.
Por isso, a Saúde Mental trata do processo de redução da quantidade de
casos de perturbação mental, em uma comunidade, e de estudo da quantidade
IMPORTANTE
UNIDADE 9 - PSICOPATOLOGIA
90
e tipos de doença mental, bem como dos fatores psicológicos, físicos e sociais
que são de significância etiológica. 2
PSICOPATOLOGIAS DAS CONDUTAS MOTORAS
Como vimos na unidade IV, quando estudamos a psicomotricidade, o ser
humano não pode ser visto como uma dualidade entre corpo e mente, mas
ao contrário, uma complexa rede de múltiplos fatores, como os aspectos
motrizes, emocionais, biológicos, sociais e culturais.
Portanto para falarmos da psicopatologia das condutas motoras não
podemos perder de vista este princípio.
1. Lateralidade: por volta dos 3 anos a criança começa a definir sua
preferência lateral, seja para o uso de mãos, pés e olhos direitos – destros;
ou esquerdos – canhotos. A lateralidade é a capacidade motora de perceber
os dois lados do corpo.
2. Disgrafia: neste caso a escrita da criança é comprometida, sem que
haja uma causa neurológica ou intelectual.
3. Debilidade motora:
a. uma inabilidade da motricidade voluntária;
b. sincinesias: quer dizer o envolvimento de grupos musculares
que normalmente não estariam envolvidos em um determinado
gesto;
c. paratonia: dificuldade de relaxamento muscular.
4. Dispraxias infantis: caracteriza-se por perturbações na organização
do esquema corporal e na representação espaço-temporal.
5. Instabilidade psicomotora: criança se mexendo muito caracteriza-se
pelo excesso de movimento; é comum pais queixarem-se de seus filhos,
afirmando que: “ele não para quieto”; “ele mexe em tudo”.
6. Tiques: caracterizam-se pela execução súbita e involuntária de
movimentos repetidos. Muitas vezes, o surgimento do tique deflagra uma
situação de tensão ou estresse “aliviada” pela descarga corporal.
7. Estereotipia: o indivíduo costuma repetir continuamente e sem
necessidade determinados movimentos, sem que haja uma lógica facilmente
observável.
8. Catalepsia: é uma atitude de imobilidade, tal como se fosse uma
estátua, mantida pela pessoa inclusive com posturas aparentemente
incômodas.
TRANSTORNOS DA FALA
Afasias: caracteriza-se pela alteração na linguagem em decorrência de
lesões orgânicas ou funcionais nos centros nervosos responsáveis pela fala
e audição.
Dislexia: caracteriza-se pela dificuldade em compreender o código da
escrita. Está associada à dificuldade de ortografia. Não podemos falar em
PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO
91
dislexia antes dos sete anos, pois antes dessa idade erros na escrita são
comuns e freqüentes.
Gagueira: caracteriza-se ou pelo bloqueio e impossibilidade de emitir
um som durante um certo tempo, ou pela repetição involuntária de uma
sílaba.
Mutismo: é a ausência de linguagem em uma criança que anteriormente
falava e cujas desordens não envolvem o comprometimento dos sistemas
envolvidos na fala.
PSICOPATOLOGIA DAS FUNÇÕES COGNITIVAS
Muito do que vimos até aqui em nossa disciplina pode contribuir para
compreensão da psicopatologia das funções cognitivas.
Como vimos, inicialmente, identificava-se os casos de transtornos de
aprendizagem mediante a aplicação dos testes de inteligência. Atualmente
já sabemos que os testes têm limitações tais que não são suficientes para
compreender as causas das dificuldades de aprendizagem.
Deficiência mental
O conceito de deficiência mental de acordo com a Associação Americana
de Deficiência Mental (AAMR) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM-IV), por deficiência mental entende-se o estado
de redução notável do funcionamento intelectual significativamente inferior
à média, associado a limitações pelo menos em dois aspectos do
funcionamento adaptativo: comunicação, cuidados pessoais, competências
domésticas, habilidades sociais, utilização dos recursos comunitários,
autonomia, saúde e segurança, aptidões escolares, lazer e trabalho.
Muito embora ainda adotemos tal conceito para designar a pessoa que
apresenta diversidade cognitiva, muito se tem discutido quanto a sua
aplicabilidade e pertinência. Com os avanços nas ciências, sobretudo as
humanas, temos percebido que este sujeito, tem posto em dúvida a
veracidade deste conceito.
Atualmente, pessoas com “deficiência mental” tem assumido seu lugar
na sociedade, freqüentam escola, assumem postos de trabalho, namoram,
casam, fazem arte, quer dizer, podem se adaptar a vida em sociedade.
Como vimos na unidade VII, durante muito tempo se identificou os casos
de deficiência com o uso de testes de QI e, a partir daí, se estabeleceu uma
escala que ia de deficiência profunda a leve. Mas hoje, já sabemos que a
deficiência mental não secaracteriza por uma organização linear, decorrente
apenas de condições orgânicas, mas é uma intrincada rede de fenômenos
que se combinam para a formação daquele sujeito.
O fato de termos tantas dificuldades para definir quem é o indivíduo com
deficiência e a ausência de experiências com tal sujeito favorece a formação
dos estigmas, que são desdobramentos do preconceito, ou seja, o indivíduo
que é alvo do preconceito agrega à sua característica, neste caso, a deficiência
mental, uma série de outros atributos, como: de que é agressivo, que não
UNIDADE 9 - PSICOPATOLOGIA
92
aprende, não pode estabelecer vínculos afetivos e assim por diante. Como
destaca Goffman (apud Costa 2001, p.22):
Aqueles que não se afastam negativamente das expectativas
sociais são chamados normais e resta àqueles que se desviam fazer
parte do grupo de diferentes, desviantes, um estigma, uma marca ou
impressão que pode acompanhar o indivíduo para o resto de sua
vida, dificultando a sua plena inserção[…].
Nesse sentido, considerando os atributos socialmente constituídos, ser
deficiente é ser diferente e, por isso, tendo como referência um ideal do
gênero humano, aquele explicita uma não-conformidade. Assim, a esse
respeito, Amaral (1998, p.14) afirma que:
Todos sabemos [embora nem todos confessemos] que em nosso
contexto social esse tipo ideal – que, na verdade, faz o papel de um
espelho virtual e generoso de nós mesmos – corresponde, no mínimo,
a ser: jovem, do gênero masculino, branco, cristão, heterossexual,
física e mentalmente perfeito, belo e produtivo. A aproximação ou
semelhança com essa idealização em sua totalidade ou particularidades
é perseguida, consciente ou inconscientemente, por todos nós, uma
vez que o afastamento dela caracteriza a diferença significativa, o
desvio, a anormalidade. E o fato é que muitos e muitos de nós, embora
não correspondendo a esse protótipo ideologicamente construído, o
utilizamos em nosso cotidiano para categorização/valorização do outro.
O fato de perseguirmos tal ideal nos afasta na mesma proporção do seu
oposto, pois a mínima suspeita de assemelhar-se ao desviante gera a
angústia do risco do desamor, de sofrer das forças perversas da exclusão.
Mas, na atualidade, vivemos um momento favorável à inclusão de pessoas
em situação de deficiência, promovendo um amplo debate sobre os aspectos
socioculturais que favorecem ou potencializam as deficiências. Por meio desses
debates, acreditamos conquistar uma sociedade mais justa, humana e
solidária.
TRANSTORNOS DO COMPORTAMENTO
A mentira
A mentira faz parte da vida infantil como a possibilidade de manter
preservado o seu mundo interno. Neste caso, crianças podem “criar” novas
realidades para protegerem-se. Entretanto, considerando a necessidade
de sentir-se querida e amada a criança começará a dizer a verdade como
forma de conquistar o reconhecimento dos outros ou por medo do desamor.
Segundo Freud, por volta dos 5-6 anos quando irá formar o seu superego,
a criança tende a introjetar os valores familiares e, se dizer a verdade é uma
conduta social adotada provavelmente esta criança também a adotará.
Outro aspecto importante sobre a questão da mentira entre as crianças
é a dificuldade que tem em distinguir o real do imaginário, o que só ocorrerá
de fato por volta dos 7 anos.
PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO
93
Segundo Ajuriaguerra(1991) existem três tipos de mentira:
• Mentira utilitária: mentir para tirar vantagens ou para evitar
uma desvantagem.
• Mentira compensatória: falsear a realidade, buscando uma
realidade, a princípio, inatingível. Exemplo: o rapaz que se diz
um grande conquistador, com muitas mulheres a seus pés.
• Mitomania: criação de uma realidade paralela em um grau
extremo. O que é bastante freqüente entre crianças até 6 anos,
como ter um amigo imaginário; se persistir por muito mais tempo
que isso, pode revelar estados psicopatológicos.
O furto
Para entendermos o furto como uma conduta psicopatológica, precisamos
primeiro saber se a criança já possui a noção de propriedade, ou seja, o que
é meu e o que não é, além das noções do “eu” e do “outro”.
Piaget, em sua teoria também apontou para o desenvolvimento da
consciência moral, que, assim como a capacidade cognitiva, se dá por fases.
Somente após os 7 anos pode-se dizer que o comportamento da criança foi
um furto.
Entretanto, segundo Ajuriaguerra(1991) o furto constitui-se uma das
mais habituais condutas sintomáticas da psicopatologia e se configura, muitas
vezes, no ingresso da criança na delinqüência.
A FUGA
A fuga caracteriza-se pelo comportamento de ausentar-se do local de
domicílio por tempo indefinido para local indeterminado. Assim como para o
furto, para definir o comportamento infantil como fuga, precisamos saber se
ele tem noção de domicílio.
Geralmente crianças pequenas fogem sem uma meta específica, mas
têm a intenção de abandonar o local que lhe proporciona desagrado.
Em adolescentes a fuga pode ocorrer para encontrar com seus
companheiros de grupo ou um namorado(a), ou seja, tem um apelo mais
social. Ou ainda, podem ocasionar uma conduta anti-social, como o roubo, o
uso de drogas e a violência.
Psicopatologia das condutas agressivas
Compreender o conceito de agressividade é tarefa ainda difícil, mesmo
que no senso comum este termo nos remeta rapidamente a uma série de
comportamentos. Portanto, para se considerar um comportamento
agressivo, devemos levar em consideração a visão do observador que o
define.
UNIDADE 9 - PSICOPATOLOGIA
94
Seriam esses comportamentos agressivos?
O que vai determinar a resposta é a ótica do observador.
· As bases neurofisiológicas da agressividade:
buscam e encontram no sistema nervoso central
a região responsável pela agressividade.
· As bases etológicas da agressividade: para os
etólogos3 a agressividade é vista como um
comportamento intencional, geralmente
associado à noção de território e de posse familiar ou ainda a
preservação da espécie.
• As bases psicanalíticas da agressividade: a agressividade, na
dualidade entre a pulsão de vida e a pulsão de morte descrita
por Freud, representa os conflitos internos vividos pelos
indivíduos em seu processo de formação.
Desenvolvimento humano e limitação física
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) estima-se que:
Em tempos de paz, 10% da população de países desenvolvidos
são constituídos de pessoas com algum tipo de deficiência. Para
os países em vias de desenvolvimento estima-se de 12 a 15%. Desses,
20% seriam portadores de deficiência física. Considerando-se o total
dos portadores de qualquer deficiência, apenas 2% deles recebem
atendimento especializado, público ou privado”. (Ministério da
Saúde - Coordenação de Atenção a Grupos Especiais, 1995).
Entende-se por deficiência física a variedade de condições não-sensoriais
que afetam o indivíduo em termos de mobilidade, de coordenação motora
geral ou da fala, como decorrência de lesões neurológicas, neuromusculares
e ortopédicas ou, ainda, de malformações congênitas ou adquiridas. Existem
várias características da deficiência física, veja algumas:
• Lesão cerebral (paralisia cerebral, hemiplegias)
• Lesão medular (tetraplegias, paraplegias)
• Distrofias musculares
• Patologias degenerativas do sistema nervoso central (esclerose
múltipla, esclerose)
• Amputações
• Seqüelas de politraumatismos
• Malformações congênitas
• Distúrbios posturais de coluna
• Seqüelas de queimaduras.
As causas são as mais diversas. Em seguida serão apresentadas
algumas:
PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO
95
• Paralisia Cerebral: por prematuridade; anóxia perinatal;
desnutrição materna; rubéola; toxoplasmose; traumade parto;
subnutrição.
• Hemiplegias (perda de parte dos movimentos): por acidente
vascular cerebral; aneurisma cerebral; tumor cerebral.
• Lesão Medular: por ferimento por arma de fogo; ferimento por
arma branca; acidentes de trânsito; mergulho em águas
rasas; traumatismos diretos; quedas; processos infecciosos;
processos degenerativos.
• Malformações congênitas: por exposição à radiação; uso
de drogas; causas desconhecidas.
• Artropatias: por processos inflamatórios; processos
degenerativos; alterações biomecânicas; hemofilia; distúrbios
metabólicos e outros.
Fatores de risco:
• Violência urbana
• Acidentes de trânsito
• Acidentes desportivos
• Alto grau de estresse
• Tabagismo
• Maus hábitos alimentares
• Uso de drogas
• Sedentarismo
• Epidemias/endemias
• Agentes tóxicos
• Falta de saneamento básico.
Sinais de alerta:
• Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor do bebê (não
firmar a cabeça, não sentar, não falar no tempo esperado).
• Perda ou alterações dos movimentos da força muscular ou
da sensibilidade em membros superiores ou inferiores.
• Erros inatos do metabolismo.
• Doenças infecto-contagiosas e crônico-degenerativas.
• Gestação de alto risco.
UNIDADE 9 - PSICOPATOLOGIA
96
Realizar exames pré e pós-natais favorecem a identificação e a
prevenção primária e secundária desses sinais de alerta, minorando assim
o agravamento dos quadros de limitação e de incapacidade.
Ao buscarmos uma definição para o termo deficiente, não podemos cair
no erro de acharmos que conhecendo o conceito conhecemos o indivíduo. A
definição é a base do recorte da diferença, que organiza, limita
lugares, compõe ordens lógicas, dá significados, mas está
trazendo todas as representações simbólicas que foram
construídas socialmente, perpetua as heranças de valores.
Portanto, saber os conceitos é importante, porém, mais que
isso, precisamos estar abertos a novas experiências que
podem superar os próprios conceitos.
Quem poderia imaginar que pessoas que usam cadeiras
de rodas seriam exímios bailarinos?
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia
no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija
as respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Na próxima e última unidade, estudaremos o ramo da Psicologia cujo
objeto de estudo é o ser humano nas suas interações sociais. Vamos para
última unidade de estudo!
NOTAS
1 Complementação feita pela autora.
2 Disponível em: http://www.saude.sc.gov.br
3 Pesquisador que se ocupa em estudar o indivíduo, seja ele humano ou animal, em seu meio
natural e em suas inter-relações com seus pares da mesma espécie ou entre espécies diferentes.
(Ajuriaguerra, 1991)

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