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1 PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO Graduação PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 85 U N ID A D E 9 PSICOPATOLOGIA Até aqui estudamos como alguns dos principais fenômenos psicológicos funcionam. Nesta unidade, iremos compreender o que acontece quando essas engrenagens chamadas de “processos psicológicos” não estão funcionando com uma certa harmonia. OBJETIVOS: Analisar a complexidade que existe entre os conceitos de normalidade e patologia, considerando a importância do contexto e seus principais fatores desencadeantes dos sintomas. • Compreender os conceitos de ansiedade e estresse. • Identificar alguns tipos de psicopatologias: • condutas motoras; • linguagem; • processos cognitivos. PLANO DE UNIDADE: • O normal e o patológico • O contexto e os sintomas • Fatores desencadeantes dos transtornos • Conceitos de estresse e ansiedade • Psicopatologia das condutas motoras • Psicopatologia da linguagem • Psicopatologia das funções cognitivas. Bons estudos! UNIDADE 9 - PSICOPATOLOGIA 86 O termo Psicopatologia, segundo o dicionário Aurélio, significa “o estudo dos transtornos mentais no tocante a sua descrição.” Portanto, nesta unidade, vamos conhecer um pouco sobre o papel da saúde mental, os principais impasses dessa área de conhecimento e refletir sobre os equívocos construídos historicamente sobre o indivíduo que apresenta transtorno. Esse cara não é normal! Com base em que podemos afirmar tal coisa? Na verdade, tanto no senso comum como na ciência, podemos utilizar essa expressão para designar vários pontos de vista: 1. O normal em oposição à doença. Nesse ponto de vista a idéia de doença parece ser definitiva e absoluta e da mesma maneira a normalidade, ou a saúde. 2. O normal enquanto média estatística. Nesse aspecto, tudo que está fora da curva mediana dos estatísticos será excluído do conceito de normal. Ser muito alto, ser pouco atento, ser muito expansivo, poderiam ser considerados exemplos de anormalidades? 3. O normal como ideal. Aqui a normalidade é submetida a um critério de valores, uma normalidade idealizada, descolada dos complexos sistemas e conflitos por que passa o ser humano. A busca por uma normalidade ideal, pode gerar a própria patologia na medida em que se trata de uma utopia. 4. O normal como processo dinâmico e retorno a um certo estado de equilíbrio. Nessa perspectiva, corremos o risco de reduzir o conceito de normalidade a um estado de aceitação, submissão ou conformismo as exigências sociais. Lembra-se dos estudantes “caras pintadas” nas manifestações populares contra a corrupção do governo Collor? Poderíamos, nesse caso, considerá-los como anormais? Vamos nos apropriar dessa discussão para compreender os limites, se é que eles existem, entre saúde e doença mental. Pois bem, em todos os aspectos percebemos uma visão dicotômica, com limites bem demarcados entre o que é normal e o que é patológico e isso parece não ser suficiente para compreender a complexidade dos dois fatores. Na realidade normalidade e patologia são interdependentes um do outro e são conceitos extremamente relativos. Os critérios que definem o que é normal em uma determinada cultura pode não ser em outra. Essa problemática tão antiga, mas ainda sem desfecho, traz em si um outro desdobramento, sobretudo, no que diz respeito ao “poder da ciência” na medida em que por meio de um diagnóstico médico o destino de um PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 87 indivíduo poderá ser traçado. Ao ser rotulado como doente mental, poderá perder o direito a ter emprego, família, amigos, etc. Como destaca Basaglia(apud BOCK, 2003, p.346) Estou de acordo que um esquizofrênico é um esquizofrênico, mas uma coisa é importante: ele é um homem e tem necessidades de afeto, de dinheiro e de trabalho; é um homem total e nós devemos responder não a sua esquizofrenia, mas ao seu ser social e político[a sua humanidade]1 É certo que em nossas vidas passamos por momentos em que parece que vamos enlouquecer, ou seja, que vamos perder o controle sobre nós mesmos, que vamos romper com a realidade. Esse estado de sofrimento psíquico pode se manifestar de várias formas. É o que conhecemos como os sintomas. Entretanto, muito embora o sofrimento seja intenso e exista de fato um quadro sintomatológico, ou seja, manifestação de reações de desorganização mental, como, por exemplo, o isolamento, ou euforia excessiva, ou a distorção da percepção, é preciso ter cuidado para não patologizar o sofrimento. Na infância, por exemplo, é comum crianças apresentarem gagueira ou medo de escuro ou mesmo muita ansiedade ao ingressarem na escola, mas seria possível afirmar que sofrem de um transtorno mental? Para melhor compreender essa questão Ajuriaguerra(1991) afirma que nada permite considerar que existam dois campos decididamente distintos, heterogêneos, que apontem um para os processos psicológicos normais e o outro da desorganização e desestruturação patológica. O desenvolvimento psicológico das crianças é, por si só, fonte de conflitos e que como todo conflito pode gerar sintomas. Assim, o importante é lidar com a história individual de cada um, procurando a forma de atuação que melhor atenda às suas necessidades. O fato de termos uma idéia do transtorno do qual o indivíduo sofre não quer dizer que saibamos tudo sobre ele ou que haja uma conduta padronizada para lidar com ele. Mas, de qualquer forma, é importante ficarmos atentos para alguns pontos mais recorrentes na conduta do indivíduo que apresenta transtornos mentais. Entretanto, sem prescindir da dúvida: onde passa a linha divisória que separa o normal do patológico? Para ajudar nessa compreensão, é preciso conhecermos alguns conceitos: Ansiedade e estresse. A ansiedade caracteriza-se por um conjunto de respostas fisiológicas e emocionais frente a situações percebidas como perigosas(sejam reais ou fantasiosas). · Reações emocionais: desconforto, intranqüilidade, apreensão. UNIDADE 9 - PSICOPATOLOGIA 88 · Reações fisiológicas: sudorese, taquicardia, dores musculares, dor de cabeça, boca seca, queimação no estômago, diarréia, náuseas, vômito, tonturas, turvação na vista. Entretanto é bom lembrar: ansiedade não é doença! Como vimos, são reações do repertório humano que, pelo contrário, podem inclusive funcionar como um deflagrador da aprendizagem, como vimos com Piaget e o processo de equilibração. Somente quando, se se mantém por um período mais prolongado de tempo ou quando torna-se incapacitante, dificultando ou impossibilitando nossas atividades cotidianas, podemos dizer que é um transtorno. Estresse é um conjunto de reações fisiológicas, comandadas pelo sistema nervoso autônomo, possivelmente desenvolvidas em nossa longa história de adaptação ao mundo. Lembra-se dos nossos estudos sobre a emoção? Tais reações têm o objetivo de preparar nosso organismo para lutar ou fugir diante de uma situação de perigo. Atualmente, multiplicaram-se as situações percebidas como perigosas causadoras de ansiedade e deflagradoras de respostas de estresse. O que, no tempo das cavernas, poderia ser entendido como situação de perigo, por exemplo, um animal feroz, hoje é a violência do trânsito, a instabilidade, a competitividade no emprego, entre tantas outras situações causadoras de estresse. Na realidade, parece que vivemos em uma situação de estresse constante. Mas,afinal, o que pode provocar o aparecimento de um transtorno mental? Na realidade, não existe apenas um fator que contribui para isso, mas fatores que combinados provocam seu aparecimento. Por isso, dizemos que o transtorno mental é multideterminado. Entretanto, precisamos conhecerseus principais fatores: 1. Fatores físicos orgânicos ou biológicos. São as alterações ocorridas no corpo como um todo, em determinado órgão ou no sistema nervoso central que possam levar a um transtorno mental. a. Fatores genéticos ou hereditários: na saúde mental, referem-se às tendências que o indivíduo possui de desenvolver determinados desequilíbrios químicos no organismo que possam levá-lo a apresentar determinados transtornos mentais. b. Fatores pré-natais: dizem respeito às condições de gestação, como, por exemplo, o consumo de drogas, o estresse pelo risco de perder o emprego, a falta de afeto, são exemplos de situações que podem prejudicar a formação do IMPORTANTE PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 89 bebê, gerando problemas futuros que poderão comprometer sua capacidade adaptativa. c. Fatores perinatais: é tudo aquilo que acontece “durante” o nascimento do bebê. Em algumas situações, o bebê pode sofrer danos neurológicos devido a traumatismos ou falta de oxigenação do tecido cerebral. d. Fatores ligados a doenças orgânicas: o transtorno mental pode também aparecer como conseqüência de determinada doença orgânica, por exemplo, no caso de meningite, doença que afeta o sistema nervosos central. 2. Fatores Ambientais. Os fatores ambientais podem ser sociais, culturais e econômicos. a. Sociais: referem-se às interações com o outro. Nossas relações pessoais, profissionais e com outros grupos. b. Culturais: dizem respeito ao sistema de regras no qual estamos envolvidos. O conceito de cultura está intimamente ligado com os símbolos e seus significados construídos por um determinado grupo, em uma determinada época, em um determinado lugar. Portanto, o que é valorizado em um país ou para um povo pode não ser para o outro. O casamento entre homossexuais pode parecer normal na Irlanda, mas, aqui no Brasil, os olhares seriam de reprovação. c. Econômicos: referem-se à nossa possibilidade de aquisição de bens materiais, e o estado de carência das condições básicas de sobrevivência. 3. Fatores emocionais ou psicológicos. É o aspecto da singularidade. Faz com que, em situações semelhantes, uma pessoa desenvolva um transtorno mental e a outra não. Uma mãe com dois filhos, cada um com um comportamento diferente: um agitado e o outro calmo. O que faz com que se comportem de uma maneira e não de outra? Como já vimos, a personalidade de um indivíduo, como a conjugação dos aspectos físicos e ambientais, pode ser a resposta. A maneira como cada um interpreta sua existência, sua história de vida, os vínculos estabelecidos, as privações sofridas, todos são exemplos de fatores psicológicos que podem “conspirar” para o surgimento de um transtorno mental. Assim, como pudemos ver, o termo transtorno é usado para definir um conjunto de sintomas em decorrência de fatores multideterminados que geralmente envolvem sofrimento pessoal e interferência nas funções adaptativas que o indivíduo necessita para exercer sua vida. Por isso, a Saúde Mental trata do processo de redução da quantidade de casos de perturbação mental, em uma comunidade, e de estudo da quantidade IMPORTANTE UNIDADE 9 - PSICOPATOLOGIA 90 e tipos de doença mental, bem como dos fatores psicológicos, físicos e sociais que são de significância etiológica. 2 PSICOPATOLOGIAS DAS CONDUTAS MOTORAS Como vimos na unidade IV, quando estudamos a psicomotricidade, o ser humano não pode ser visto como uma dualidade entre corpo e mente, mas ao contrário, uma complexa rede de múltiplos fatores, como os aspectos motrizes, emocionais, biológicos, sociais e culturais. Portanto para falarmos da psicopatologia das condutas motoras não podemos perder de vista este princípio. 1. Lateralidade: por volta dos 3 anos a criança começa a definir sua preferência lateral, seja para o uso de mãos, pés e olhos direitos – destros; ou esquerdos – canhotos. A lateralidade é a capacidade motora de perceber os dois lados do corpo. 2. Disgrafia: neste caso a escrita da criança é comprometida, sem que haja uma causa neurológica ou intelectual. 3. Debilidade motora: a. uma inabilidade da motricidade voluntária; b. sincinesias: quer dizer o envolvimento de grupos musculares que normalmente não estariam envolvidos em um determinado gesto; c. paratonia: dificuldade de relaxamento muscular. 4. Dispraxias infantis: caracteriza-se por perturbações na organização do esquema corporal e na representação espaço-temporal. 5. Instabilidade psicomotora: criança se mexendo muito caracteriza-se pelo excesso de movimento; é comum pais queixarem-se de seus filhos, afirmando que: “ele não para quieto”; “ele mexe em tudo”. 6. Tiques: caracterizam-se pela execução súbita e involuntária de movimentos repetidos. Muitas vezes, o surgimento do tique deflagra uma situação de tensão ou estresse “aliviada” pela descarga corporal. 7. Estereotipia: o indivíduo costuma repetir continuamente e sem necessidade determinados movimentos, sem que haja uma lógica facilmente observável. 8. Catalepsia: é uma atitude de imobilidade, tal como se fosse uma estátua, mantida pela pessoa inclusive com posturas aparentemente incômodas. TRANSTORNOS DA FALA Afasias: caracteriza-se pela alteração na linguagem em decorrência de lesões orgânicas ou funcionais nos centros nervosos responsáveis pela fala e audição. Dislexia: caracteriza-se pela dificuldade em compreender o código da escrita. Está associada à dificuldade de ortografia. Não podemos falar em PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 91 dislexia antes dos sete anos, pois antes dessa idade erros na escrita são comuns e freqüentes. Gagueira: caracteriza-se ou pelo bloqueio e impossibilidade de emitir um som durante um certo tempo, ou pela repetição involuntária de uma sílaba. Mutismo: é a ausência de linguagem em uma criança que anteriormente falava e cujas desordens não envolvem o comprometimento dos sistemas envolvidos na fala. PSICOPATOLOGIA DAS FUNÇÕES COGNITIVAS Muito do que vimos até aqui em nossa disciplina pode contribuir para compreensão da psicopatologia das funções cognitivas. Como vimos, inicialmente, identificava-se os casos de transtornos de aprendizagem mediante a aplicação dos testes de inteligência. Atualmente já sabemos que os testes têm limitações tais que não são suficientes para compreender as causas das dificuldades de aprendizagem. Deficiência mental O conceito de deficiência mental de acordo com a Associação Americana de Deficiência Mental (AAMR) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), por deficiência mental entende-se o estado de redução notável do funcionamento intelectual significativamente inferior à média, associado a limitações pelo menos em dois aspectos do funcionamento adaptativo: comunicação, cuidados pessoais, competências domésticas, habilidades sociais, utilização dos recursos comunitários, autonomia, saúde e segurança, aptidões escolares, lazer e trabalho. Muito embora ainda adotemos tal conceito para designar a pessoa que apresenta diversidade cognitiva, muito se tem discutido quanto a sua aplicabilidade e pertinência. Com os avanços nas ciências, sobretudo as humanas, temos percebido que este sujeito, tem posto em dúvida a veracidade deste conceito. Atualmente, pessoas com “deficiência mental” tem assumido seu lugar na sociedade, freqüentam escola, assumem postos de trabalho, namoram, casam, fazem arte, quer dizer, podem se adaptar a vida em sociedade. Como vimos na unidade VII, durante muito tempo se identificou os casos de deficiência com o uso de testes de QI e, a partir daí, se estabeleceu uma escala que ia de deficiência profunda a leve. Mas hoje, já sabemos que a deficiência mental não secaracteriza por uma organização linear, decorrente apenas de condições orgânicas, mas é uma intrincada rede de fenômenos que se combinam para a formação daquele sujeito. O fato de termos tantas dificuldades para definir quem é o indivíduo com deficiência e a ausência de experiências com tal sujeito favorece a formação dos estigmas, que são desdobramentos do preconceito, ou seja, o indivíduo que é alvo do preconceito agrega à sua característica, neste caso, a deficiência mental, uma série de outros atributos, como: de que é agressivo, que não UNIDADE 9 - PSICOPATOLOGIA 92 aprende, não pode estabelecer vínculos afetivos e assim por diante. Como destaca Goffman (apud Costa 2001, p.22): Aqueles que não se afastam negativamente das expectativas sociais são chamados normais e resta àqueles que se desviam fazer parte do grupo de diferentes, desviantes, um estigma, uma marca ou impressão que pode acompanhar o indivíduo para o resto de sua vida, dificultando a sua plena inserção[…]. Nesse sentido, considerando os atributos socialmente constituídos, ser deficiente é ser diferente e, por isso, tendo como referência um ideal do gênero humano, aquele explicita uma não-conformidade. Assim, a esse respeito, Amaral (1998, p.14) afirma que: Todos sabemos [embora nem todos confessemos] que em nosso contexto social esse tipo ideal – que, na verdade, faz o papel de um espelho virtual e generoso de nós mesmos – corresponde, no mínimo, a ser: jovem, do gênero masculino, branco, cristão, heterossexual, física e mentalmente perfeito, belo e produtivo. A aproximação ou semelhança com essa idealização em sua totalidade ou particularidades é perseguida, consciente ou inconscientemente, por todos nós, uma vez que o afastamento dela caracteriza a diferença significativa, o desvio, a anormalidade. E o fato é que muitos e muitos de nós, embora não correspondendo a esse protótipo ideologicamente construído, o utilizamos em nosso cotidiano para categorização/valorização do outro. O fato de perseguirmos tal ideal nos afasta na mesma proporção do seu oposto, pois a mínima suspeita de assemelhar-se ao desviante gera a angústia do risco do desamor, de sofrer das forças perversas da exclusão. Mas, na atualidade, vivemos um momento favorável à inclusão de pessoas em situação de deficiência, promovendo um amplo debate sobre os aspectos socioculturais que favorecem ou potencializam as deficiências. Por meio desses debates, acreditamos conquistar uma sociedade mais justa, humana e solidária. TRANSTORNOS DO COMPORTAMENTO A mentira A mentira faz parte da vida infantil como a possibilidade de manter preservado o seu mundo interno. Neste caso, crianças podem “criar” novas realidades para protegerem-se. Entretanto, considerando a necessidade de sentir-se querida e amada a criança começará a dizer a verdade como forma de conquistar o reconhecimento dos outros ou por medo do desamor. Segundo Freud, por volta dos 5-6 anos quando irá formar o seu superego, a criança tende a introjetar os valores familiares e, se dizer a verdade é uma conduta social adotada provavelmente esta criança também a adotará. Outro aspecto importante sobre a questão da mentira entre as crianças é a dificuldade que tem em distinguir o real do imaginário, o que só ocorrerá de fato por volta dos 7 anos. PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 93 Segundo Ajuriaguerra(1991) existem três tipos de mentira: • Mentira utilitária: mentir para tirar vantagens ou para evitar uma desvantagem. • Mentira compensatória: falsear a realidade, buscando uma realidade, a princípio, inatingível. Exemplo: o rapaz que se diz um grande conquistador, com muitas mulheres a seus pés. • Mitomania: criação de uma realidade paralela em um grau extremo. O que é bastante freqüente entre crianças até 6 anos, como ter um amigo imaginário; se persistir por muito mais tempo que isso, pode revelar estados psicopatológicos. O furto Para entendermos o furto como uma conduta psicopatológica, precisamos primeiro saber se a criança já possui a noção de propriedade, ou seja, o que é meu e o que não é, além das noções do “eu” e do “outro”. Piaget, em sua teoria também apontou para o desenvolvimento da consciência moral, que, assim como a capacidade cognitiva, se dá por fases. Somente após os 7 anos pode-se dizer que o comportamento da criança foi um furto. Entretanto, segundo Ajuriaguerra(1991) o furto constitui-se uma das mais habituais condutas sintomáticas da psicopatologia e se configura, muitas vezes, no ingresso da criança na delinqüência. A FUGA A fuga caracteriza-se pelo comportamento de ausentar-se do local de domicílio por tempo indefinido para local indeterminado. Assim como para o furto, para definir o comportamento infantil como fuga, precisamos saber se ele tem noção de domicílio. Geralmente crianças pequenas fogem sem uma meta específica, mas têm a intenção de abandonar o local que lhe proporciona desagrado. Em adolescentes a fuga pode ocorrer para encontrar com seus companheiros de grupo ou um namorado(a), ou seja, tem um apelo mais social. Ou ainda, podem ocasionar uma conduta anti-social, como o roubo, o uso de drogas e a violência. Psicopatologia das condutas agressivas Compreender o conceito de agressividade é tarefa ainda difícil, mesmo que no senso comum este termo nos remeta rapidamente a uma série de comportamentos. Portanto, para se considerar um comportamento agressivo, devemos levar em consideração a visão do observador que o define. UNIDADE 9 - PSICOPATOLOGIA 94 Seriam esses comportamentos agressivos? O que vai determinar a resposta é a ótica do observador. · As bases neurofisiológicas da agressividade: buscam e encontram no sistema nervoso central a região responsável pela agressividade. · As bases etológicas da agressividade: para os etólogos3 a agressividade é vista como um comportamento intencional, geralmente associado à noção de território e de posse familiar ou ainda a preservação da espécie. • As bases psicanalíticas da agressividade: a agressividade, na dualidade entre a pulsão de vida e a pulsão de morte descrita por Freud, representa os conflitos internos vividos pelos indivíduos em seu processo de formação. Desenvolvimento humano e limitação física Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) estima-se que: Em tempos de paz, 10% da população de países desenvolvidos são constituídos de pessoas com algum tipo de deficiência. Para os países em vias de desenvolvimento estima-se de 12 a 15%. Desses, 20% seriam portadores de deficiência física. Considerando-se o total dos portadores de qualquer deficiência, apenas 2% deles recebem atendimento especializado, público ou privado”. (Ministério da Saúde - Coordenação de Atenção a Grupos Especiais, 1995). Entende-se por deficiência física a variedade de condições não-sensoriais que afetam o indivíduo em termos de mobilidade, de coordenação motora geral ou da fala, como decorrência de lesões neurológicas, neuromusculares e ortopédicas ou, ainda, de malformações congênitas ou adquiridas. Existem várias características da deficiência física, veja algumas: • Lesão cerebral (paralisia cerebral, hemiplegias) • Lesão medular (tetraplegias, paraplegias) • Distrofias musculares • Patologias degenerativas do sistema nervoso central (esclerose múltipla, esclerose) • Amputações • Seqüelas de politraumatismos • Malformações congênitas • Distúrbios posturais de coluna • Seqüelas de queimaduras. As causas são as mais diversas. Em seguida serão apresentadas algumas: PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 95 • Paralisia Cerebral: por prematuridade; anóxia perinatal; desnutrição materna; rubéola; toxoplasmose; traumade parto; subnutrição. • Hemiplegias (perda de parte dos movimentos): por acidente vascular cerebral; aneurisma cerebral; tumor cerebral. • Lesão Medular: por ferimento por arma de fogo; ferimento por arma branca; acidentes de trânsito; mergulho em águas rasas; traumatismos diretos; quedas; processos infecciosos; processos degenerativos. • Malformações congênitas: por exposição à radiação; uso de drogas; causas desconhecidas. • Artropatias: por processos inflamatórios; processos degenerativos; alterações biomecânicas; hemofilia; distúrbios metabólicos e outros. Fatores de risco: • Violência urbana • Acidentes de trânsito • Acidentes desportivos • Alto grau de estresse • Tabagismo • Maus hábitos alimentares • Uso de drogas • Sedentarismo • Epidemias/endemias • Agentes tóxicos • Falta de saneamento básico. Sinais de alerta: • Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor do bebê (não firmar a cabeça, não sentar, não falar no tempo esperado). • Perda ou alterações dos movimentos da força muscular ou da sensibilidade em membros superiores ou inferiores. • Erros inatos do metabolismo. • Doenças infecto-contagiosas e crônico-degenerativas. • Gestação de alto risco. UNIDADE 9 - PSICOPATOLOGIA 96 Realizar exames pré e pós-natais favorecem a identificação e a prevenção primária e secundária desses sinais de alerta, minorando assim o agravamento dos quadros de limitação e de incapacidade. Ao buscarmos uma definição para o termo deficiente, não podemos cair no erro de acharmos que conhecendo o conceito conhecemos o indivíduo. A definição é a base do recorte da diferença, que organiza, limita lugares, compõe ordens lógicas, dá significados, mas está trazendo todas as representações simbólicas que foram construídas socialmente, perpetua as heranças de valores. Portanto, saber os conceitos é importante, porém, mais que isso, precisamos estar abertos a novas experiências que podem superar os próprios conceitos. Quem poderia imaginar que pessoas que usam cadeiras de rodas seriam exímios bailarinos? É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Na próxima e última unidade, estudaremos o ramo da Psicologia cujo objeto de estudo é o ser humano nas suas interações sociais. Vamos para última unidade de estudo! NOTAS 1 Complementação feita pela autora. 2 Disponível em: http://www.saude.sc.gov.br 3 Pesquisador que se ocupa em estudar o indivíduo, seja ele humano ou animal, em seu meio natural e em suas inter-relações com seus pares da mesma espécie ou entre espécies diferentes. (Ajuriaguerra, 1991)
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