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Linfonodos, drenagem e correlação clínica O termo adenomegalia refere-se ao aumento de linfonodos ou de um grupo de linfonodos. É um achado freqüente ao exame físico, causa grande preocupação aos pacientes e requer uma explicação para sua causa. Em 80% dos casos, em jovens com menos de 30 anos, a adenomegalia é transitória e ocorre em resposta a infecções (reacional). A adenomegalia é comum em doenças hematológicas, mas também podem aparecer em resposta a doenças sistêmicas. Achados clínicos A história do paciente, o exame físico, e o resultado dos testes laboratoriais são essenciais para o diagnóstico de aumento dos linfonodos. Algumas adenomegalias são mais prevalentes em mulheres como a linfadenite de Kikuchi-fujimoto (4:1), enquanto os linfomas são mais freqüentes em homens. A mononucleose infecciosa raramente acomete indivíduos com mais de 40 anos. Outros fatores como antecedentes vacinais, doença concomitantes, cirurgias, exposição a animais e tempo de duração da adenomegalia podem conduzir ao diagnóstico. Após a detecção do linfonodo palpável o primeiro questionamento que dever ser elucidado é se esse linfonodo é patológico ou não. A resposta vai depender de vários fatores: • Idade do paciente: é comum em crianças adenomegalia cervical (0,5 a 1,0 cm); • Ocupação do paciente: em médicos veterinários a exposição freqüente a animais aumenta o risco de arranhaduras e mordeduras e de linfonodos palpáveis na região epitroclear e ou axilar; • Localização dos linfonodos: supraclaviculares geralmente são patológicos (linfomas, carcinoma de pulmão, trato gastrointestinal, e retroperitoneal); • Duração: aumento progressivo do linfonodo localizado, de longa duração, associado à perda de peso, sudorese noturna e febre baixa, pode ser indicativo de linfoma. Os únicos linfonodos palpáveis em adultos em condições de normalidade são os da região inguinal (0,2 a 2 cm). A palpação dos linfonodos deve ser feita com a ponta dos dedos em movimentos circulares com o aumento progressivo da pressão. Após a avaliação do tamanho e a localização do linfonodo, deve-se avaliar a consistência, a aderência ou não-aderência a planos profundos, a sensibilidade e à fistulização e a presença de sinais inflamatórios. O exame detalhado da área de drenagem dos linfonodos afetados pode levar ao diagnóstico, por exemplo, das infecções do couro cabeludo e da adenomegalia occipital. Nas infecções, o aumento dos linfonodos costuma ser regional, enquanto a adenopatia generalizada ocorre nas leucemias agudas, nas leucemias linfóides crônicas (LLC), nos linfomas não-Hodgkin, na sarcoidose, no lupus eritematoso sistêmico (LES), reações a drogas, e também em algumas infecções. Na paracoccidiomicose os linfonodos costumam ceder à pressão dos dedos, revelando um conteúdo líquido no seu interior. Nas infecções, os linfonodos podem ser dolorosos a palpação, progredir com sinais inflamatórios e até fistulizar. A fistulização é mais observada em infecções estreptocócicas e estafilocócicas, tuberculose, paracocidiomicose, cancro mole, esporotricose que envolvem principalmente os linfonodos cervicais e inguinal superficial e menos freqüente os axilares. Causas de Adenomegalias Em aproximadamente 40 % dos casos submetidos à biópsia nenhum diagnóstico específico é verificado. Nesses casos, a adenomegalia é causada por hiperplasia reacional que pode ter como principais suspeitas diagnósticas a mononucleose infecciosa, a toxoplasmose, a tuberculose e o HIV. Entre as doenças de causas desconhecidas com linfadenopatia proeminente destacam-se a histiose, a linfadenite dermatopática, a doença de Kikuchi e a doença de Kawasaki (adenopatia cervical unilateral em 75% das crianças). Em relação às causas infecciosas a adenomegalia é acompanhada de febre. A adenomegalia pode ser localizada ou generalizada. E na maioria das viroses é de curta duração, embora possa ser prolongada, como na tuberculose e na paracoccidiomicose. Os exames clínico e hematológico conduzem, na maioria dos casos, à hipótese diagnóstica que é confirmada por exames de imagem e testes sorológicos específicos. Raramente a biópsia de linfonodo é necessária e, quando efetuada, mostra a preservação da estrutura do órgão. Nas não infecciosas ou inflamatórias, destacam-se o lupus eritematoso sistêmico, Síndrome de Felty, reações a drogas, sarcoidose (adenopatia hilar simétrica em paciente assintomático). Nas neoplasias principalmente nas metástases é fundamental a avaliação do envolvimento de linfonodos regionais por células tumorais. A extensão desse comprometimento constitui um dos elementos de estadiamento tumoral e tem importância prognóstica. Os linfonodos têm consistência endurecida, são indolores, aderentes a planos profundos e a outros linfonodos. Os carcinomas de mama (linfonodos axilares), pulmão (mediastinal, hilar e supraclavicular), do trato GI (supraclavicular esquerdo, nódulo de virchow) e da próstata (abdominais e retroperitoniais) são os que mais frequentemente invadem os linfonodos. As neoplasias de cabeça e pescoço geralmente apresentam adenomegalia cervical e unilateral. A seguir uma tabela correlacionará os linfonodos com suas respectivas áreas de drenagem e correlação clínica quando ocorre adenopatia das cadeias ganglionares específicas. Linfonodos Região de drenagem Doença de base Ocipitais Posterior da cabeça Infecção do couro cabeludo, picadas de inseto, Leucemia Linfóide Crônica ou metástases Auriculares Posteriores Região posterior temporoparietal, pavilhão auricular e meato acústico Rubéola, síndromes óculo- glandulares Auriculares Anteriores Face lateral da orelha e pele, nariz, pálpebras, meato acústico externo, área frontoparietal Infecções de pálpebras, conjuntivas e regiões próximas Faciais (maxilar, bucal e mandibular) Pálpebra, conjuntiva, pele e mucosa do nariz e região malar Submentonianos Lábio inferior, soalho da boca e ápice da língua Infecções dentárias e doença metastáticas (cavidade oral) Submandibulares Drenam faciais, submentonianos, comissura palpebral medial, bochecha, face lateral do nariz, lábio superior, gengivas e língua anterior Infecções dentárias e doença metastáticas (cavidade oral) Cervicais superficiais e anteriores Lóbulo da orelha, região parotídea, laringe inferior, tireóide, traquéia superior Infecções da faringe, cavidade oral, tuberculose, mononucleose infecciosa, carcinoma nasofaríngeo. Cervicais posteriores Drenam os anteriores, couro cabeludo, orelha, nuca, laringe, faringe, língua, tireóide, cav. nasais, palato, traquéia, esôfago, região lateral do pescoço, ombro, braço, face superior do fígado Infecções do couro cabeludo, toxoplasmose, doença da arranhadura do gato, tumores primários de boca Supraclaviculares Últimas estações linfáticas do corpo inteiro Neoplasias de tórax e abdome. Adenopatia do supraclavicular esquerdo (nódulo de Virchow) é sugestivo de neoplasia abdominal (estômago, vesícula, pâncreas, rim, testículos, ovários e próstatas) e as adenopatias supraclaviculares direitas estão associadas à neoplasia do mediastino, pulmão ou esôfago. O sinal de Trosier é o achado do linfonodo supraclavicular esquerdo aumentado e endurecido Infraclaviculares Drenam os l. axilares; Axilares (apicais, centrais, umerais, peitorais ou anteriores, subescapulares ou posteriores) Lateral da mama, membros superiores e parede torácica Doença da arranhadura do gato, mordidas, traumas, infecções dos membros superiores, brucelose, esporotricose, linfadenopatia dermopática, linfoma, doença metastática de mama. Desta forma devemos relembrar que a linfa passa dos capilares linfáticos para os vasos linfáticose em seguida para os linfonodos. Há a formação de troncos linfáticos que são responsáveis por drenar grandes regiões e esta linfa desemboca em dois canais principais: o ducto torácico e o ducto linfático direito. O ducto torácico drena os membros inferiores, abdome, lado esquerdo do tórax, da cabeça e pescoço, e membro superior esquerdo. Enquanto que o ducto linfático direito drena o membro superior direito, lado direito do tórax, do pescoço e cabeça. Mediastinais Mediastinos Linfomas Hodkin e não- Hodkin, tuberculose, carcinoma de pulmão, histoplasmose, sarcoidose Hilo pulmonar Carcinoma de pulmão (unilateral), tuberculose, sarcoidose, paracocidiomicose, histoplasmose. Epitroclear Doenças virais, infecções nas mãos, tularemia, linfoma, sarcoidose. Abdominal e retroperitoneal Tuberculose, linfoma, doença metastática, paracocidiomicose. Inguinais Herpes, linfogranuloma venéreo, sífilis, infecção gonagocócica, AIDS, linfoma, doença metastática (pelve e neoplasias ginecológicas), infecções dos membros inferiores. Adenopatia Generalizada Neoplasias (linfomas, LLC, leucemias agudas) em mais de duas cadeias separadas; Infecções (CMV, mononucleose, sífilis secundária), sarcoidose, LES, hipertireoidismo, reações a drogas. Referências Bibliográficas 1) Lopes, AC. Diagnóstico e Tratamento. Vol 2, 2006. 2) Massa supraclavicular esquerda como forma de apresentação de adenocarcinoma de próstata). – (Case reports-Medicina Interna Vol 15 n 2 2008). 3) Caniello, M. Anatomia Cervical Cirúrgica. Hosp. Clínicas da FMUSP, 2003. 4) Moore e Dalley. Anatomia orientada para a Clínica. 5ª edição. Ed. Guanabara Koogan. 5) Madeira, MC. Anatomia Facial com Fundamentos de Anatomia Sistêmica Geral, 2ª edição, 2004. 6) Tortora e Derrickson. Princípios de anatomia e Fisiologia. 12ª edição. Ed. Guanabara Koogan.
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