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Evandro Gomes Análise do princípio da Dignidade da Pessoa Humana no Documentário Bagatela.

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Análise do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana no Documentário "Bagatela"
CONCEITUAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA (BAGATELA)
É notório que o princípio da insignificância está cada vez mais ganhando visibilidade em nosso ordenamento jurídico, seja por meio de doutrina, seja por meio de nossa jurisprudência. A ideia conceitual do princípio da bagatela é afirmar que o direito penal não deve se preocupar com tipos de comportamentos impossíveis de lesar o bem jurídico protegido. Ademais, o princípio da insignificância, ou crime de bagatela próprio, decorre do fato de uma ação determinada como crime, é irrelevante, visto que essa mesma ação não chega a causar dando ao ordenamento jurídico, a sociedade em que está inserida ou até mesmo à própria vítima, no mais, este conceito é interpretado por inúmeros teóricos e juristas, que procuram não discutir se a conduta praticada deve ser considerada crime ou não, mas que não se pode usar o Direito Penal por causa de uma lesão tão insignificante. Mesmo não existindo previsão legal em nosso ordenamento jurídico que verse sobre o crime de Bagatela (especificamente os crimes insignificantes), este é aplicado dependendo de cada caso, como pode-se observar no documentário em questão, isso de forma concreta.
Dessa forma, o princípio da insignificância vem sendo utilizado cada vez mais em nossos tribunais, embora o nosso sistema se depare com casos em que o princípio é ignorado e resulta em danos, sejam eles pessoais ou sociais. No estudo do direito penal o princípio da insignificância é uma causa da exclusão da tipicidade, condensando seus valores à qualidade dos fatos que são direcionados, de forma abstrata ou concreta, conter. Antigamente a tipicidade penal era analisada apenas no viés formal, o que gerava uma interpretação descritiva do resultado, que não necessita de ter um resultado naturalístico para sua existência, onde é possível delimitar o resultado; dessa maneira, toda conduta, ação ou omissão contrária ao direito a que a lei atribuiu uma pena.
Para que determinada conduta seja considerada criminosa são indispensáveis análises esmiuçadoras acerca do fato positivado em nosso ordenamento. Essas possibilidades de interpretações, de diversos tipos, são de grande relevância para o entendimento e contribuem na tomada de decisão em todos os casos. Torna-se necessário interpretamos o Direito a luz de sua realidade, é interessante pensar que o crime de bagatela, apresentado no documentário, gera um custo econômico desnecessário em relação à prática do delito, sobretudo, no que diz respeito ao gasto público.
Nesse sentido, compreende-se que o direito penal, carece de uma evolução no plano de suas abstrações, e, assim, procurar atender as demandas sociais de nossa realidade, acompanhando a evolução da sociedade. Nota-se essa necessidade ao observar os casos de bagatela elencados no documentário do qual estamos discutindo. Diante disso, pode-se concluir que a racionalidade do direito penal pode ser discutida de diversas maneiras, visto que essa ainda apresenta temores que devem ser revisados dentro de sua seara e de alguma forma superar esses ditames.
Uma forma possível e já discutida entre os doutrinadores e demais jurista é de que os operadores do Direito devem sujeitar-se à observância entre a pena aplicada e à gravidade do delito em relação ao bem jurídico protegido. Contudo, poderíamos questionar se isso resulta num conflito principiológico entre a legalidade e a insignificância. É certo que sim, porém, para os estudiosos do Direito penal contemporâneo, o princípio da insignificância representa um instrumento de força e que não obstrui nem ameaça a aplicabilidade do princípio da legalidade. Conclui-se que o efeito ideológico trazido no documentário “bagatela” questiona o liame da aplicabilidade do princípio da insignificância, e que diante disso, trava-se um disputa de valores na trajetória vigente entre os pensadores do direito em relação as dificuldades que o Direito penal apresenta diante de sua função legítima que é o controle social.
Em contraponto, é importante salientar que  não devemos observar o princípio de maneira liberal e assim esvaziar o direito penal, pois nem sempre sua aplicabilidade está de acordo com as transformações sociais.
O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA EM RELAÇÃO DOCUMENTÁRIO “BAGATELA”.
Sendo o princípio uma categoria lógica, universal, possível e em certos casos determinados, e que representam a estrutura ideológica do Estado, de modo a representar, como tal, os valores adquiridos por uma determinada sociedade; pode-se atentar para uma discussão crítico-discursiva acerca da dignidade da pessoa humana dentro do documentário “Bagatela”. Faz-se importante salientar que esse princípio encontra grandes obstáculos. Deve o princípio da dignidade da pessoa humana reconhecer nossas singularidades enquanto pessoas, proteger e afirmar sua condição humana, para Hannah Arendent, esse princípio projeta a nossa existência enquanto sujeitos políticos, o que nos leva a uma reflexão constitucional sobre a prevalência da igualdade jurídica que pode ser considera pelo que defendem a Bagatela e por aqueles que são contrários.
Embora os delitos cometidos pelas detentas apresentadas no documentário sejam considerados insignificantes e cometidos sem violência e grave ameaça, podemos notar na fala de um juiz que essas pessoas devem cumprir suas penas, pois o magistrado não pode ser contrário ao que a lei determina mesmo se tratando de crimes de pequeno valor objetivo. Poderíamos nos questionar, qual o respaldo dessas decisões sobre o grave problema do sistema carcerário brasileiro, e de que forma a dignidade da pessoa humana está sendo relacionada nesse sentido. É notório que os bens lesionados pela conduta dessas mulheres são inferiores aos gastos que o próprio Estado terá com elas nos espaços de detenção. Não penso na não existência de penas para esse determinado tipo de delito, mas que sejam alternativas menos danosas a condição da pessoa humana e que visem realmente à socialização de quem passar por essa situação.
Dentre os casos que nos condiciona a uma determinada reflexão sobre o princípio da dignidade da pessoa humana destaco o da detenta Sueli, presa por furtar queijo e dois biscoitos Trakinas, ela narra o que seria uma grande criminosa à ótica do sistema penal brasileiro, fato que poderia ser considerado irrelevante, mas é colocado nos moldes do que determina ou entende o Direito penal. Podemos perceber que o gasto promovido pelo Estado para manter a privação da liberdade de Sueli, foi inúmeras vezes maior do que o valor estipulado pelos bens que ela poderia ter furtado (visto que os mesmos foram adquiridos novamente). Devemos notar aqui, os limites da aplicabilidade do princípio da insignificância e o afastamento do bom senso dentro do Estado Democrático de Direito fundamentado na dignidade da pessoa humana, caracterizando desprezo e total desrespeito a condição humana.
Esse documentário nos proporciona diversas reflexões sobre o verdadeiro sentido de dignidade humana e nos faz questionar se nossas individualidades estão realmente sendo preservadas. A constituição de 1988, nossa Carta Magna, ressalta o valor e a fundamentação dos direitos fundamentais nos quais estão incluídos (art.5º) a dignidade da pessoa humana, com base nisso, podemos notar a falta de proteção Estatal em relação à manutenção e garantia desses direitos diante de situações como as embasadas no documentário “Bagatela”. Gostaria de destacar o direito à liberdade, por vez, limitado para as pessoas que estão sendo punidas por esse sistema irracional e incompreensível, não estou defendendo que não possam existir punições para os delitos que se adentram dentro do princípio da insignificância, mas apenas trazendo esse questionamento: será que realmente é viável ao Estado privar essas pessoas de suas liberdades por um valor tão irrisório? É nítida a fragilidade do Estado em garantir essa liberdade em nosso sistema constitucional, e que o poder punitivo do Estado
está meramente condicionado e limitado ao princípio da intervenção mínima e que sua relação de poder coercitivo fere o que designa o princípio da dignidade da pessoa humana.
Por fim, compreendendo que o valor da dignidade da pessoa humana e seu consenso ético mundial, é relevante para nos afirmarmos enquanto pessoas de direitos. A determinação desse princípio consagra valores teleológicos e trazem enfoques diversos sobre o tema, pensar a dignidade da pessoa humana numa visão hermenêutica, nos possibilita uma gama de abordagens distintas que nos concebe compreender esse princípio como um instrumento ímpar em relação à hermenêutica aplicada. Nesse sentido, nota-se que a dignidade da pessoa humana deve ser concebida um instrumento de valor e afirmação do ser enquanto sujeitos históricos de direito.
 
Evandro Gomes,
Bacharelando em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba.

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