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Arquitetura Neocolonial

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA – CAMPUS CS
CENTRO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
Carolline Wild, Elisa Fontoura e Maria Luiza Benavides Costa
NEOCOLONIAL: ANÁLISE ARQUITETÔNICA DE CACHOEIRA DO SUL
Cachoeira do Sul, RS
2017
RESUMO 
 	Este trabalho, apresenta uma análise das influências do movimento neocolonial, onde foi realizado um estudo analítico das influências do movimento. Como o movimento nasceu, no âmbito internacional; como se desenvolveu tendo em vista o seu nascimento como padrão arquitetônico, sua recepção no Brasil, no Rio Grande do Sul e em Cachoeira do Sul, dando destaque e ênfase para exemplares de edificações neocoloniais foco do presente estudo. Para isso, foi feito o uso de imagens juntamente com análise descritiva das obras.
Palavras-chave: Neocolonial; Arquitetura; Cachoeira do Sul
INTRODUÇÃO
		Este trabalho foi elaborado para a disciplina de Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo IV, do curso de bacharelado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Maria – Campus CS. 
O Neocolonial foi um movimento estético do começo do século XX principalmente por estar relacionado à arquitetura. A Arquitetura Neocolonial surge como uma proposta num ambiente onde a discussão de ideias estava ligada à negação de um passado que não tinha mais valor de historicidade e em um momento presente que buscava recursos para o cenário arquitetônico nacional que surgiria a partir de meados da segunda década do século XX.
Falar da arquitetura Neocolonial implicou investigar não só a história, não só a materialidade arquitetônica, mas, também algumas das pessoas que produziram o Neocolonial e possibilitaram sua propagação, Ricardo Severo, José Mariano Filho e Lucio Costa.
		 
	2	NASCIMENTO DO NEOCOLONIAL COMO PADRÃO ARQUITETÔNICO 
 O neocolonialismo se destacou do colonialismo em vários aspectos, principalmente quando a exploração tinha como principal objetivo fazer com que os ambientes dominados se tornassem mercados ricos para o consumo de seus bens industrializados, ao mesmo tempo que também lhe oferecessem matéria-prima para a produção. E foi nesse período que, no começo do século XIX, tais nações foram em busca da exploração dos continentes asiáticos e africano.
 	O Neocolonial se inseriu num movimento, apoiado pelo governo e algumas academias, que buscavam as raízes culturais originais do país, procurando trazer de volta seu prestígio, reconhecendo e lutando contra as tendências internacionalizantes que estavam em destaque, uma ideologia que se difundia em toda a América Latina naquele momento histórico. 
 	O Neocolonial se apropria, como explica Carlos Kessel, "da relação entre passado e presente para justificar uma intervenção concreta na vida social: a iniciativa da construção de escolas, residências, prédios públicos e igrejas segundo um cânone estético que visa à regeneração do espírito da nação, de uma sociedade considerada em vias de decadência". Apesar de bem caracterizada, a escola neocolonial se demonstrou muitas vezes uma versão peculiar do Ecletismo, já que em sua reconstrução do passado se apropriou de elementos de períodos distintos da longa fase colonial em misturas indiscriminadas e incorporou traços de outras correntes estéticas.
A arquitetura Neocolonial nasce em meio a uma fase marcada por uma forte expressão europeia e num momento de transição para a arquitetura moderna brasileira. Essa expressão europeia inicia-se no século XIX, em 1808, ano em que a Corte Portuguesa se transferiu para o Brasil e houve a abertura dos Portos. 
3	RECEPÇÃO BRASILEIRA DO MOVIMENTO NEOCOLONIAL
		O movimento neocolonial, inspirado na arte tradicional brasileira, tem como data inaugural o ano de 1914. Este movimento traz discussões a cerca da busca pela identidade artística nacional. 
		Ricardo Severo, formado engenheiro civil e de minas pela Academia Politécnica do Porto, destaca-se como grande entusiasta do movimento. Na Sociedade de Cultura Artística, proferiu uma conferência intitulada “A Arte Tradicional no Brasil”, onde defendia que a arte colonial deveria ser valorizada e estudada como forma de construção da identidade artística nacional. Seus manifestos são as primeiras tentativas de sistematizar o conhecimento a cerca da temática, porém com o início da Primeira Guerra Mundial no mesmo ano, o ritmo da construção civil no Brasil foi afetado não sendo realizadas obras que refletissem os ideais de Severo. Ainda assim, em 1915, Victor Dubugras, que foi também um expoente do neocolonial, projetou, em Santos, casas com inspiração tradicional.
		As participações de Ricardo Severo juntamente com José Mariano Filho, médico e historiador de arte, na Exposição do Centenário do Rio de Janeiro e na Semana de Arte Moderna, ambos ocorridos no ano de 1922, foram bem recebidas. A partir disso, Mariano patrocinou alguns concursos de arquitetura e influenciou editais - como o dos pavilhões do Brasil na Exposição de Filadélfia (1925) e Exposição de Sevilha (1928) - para que obrigatoriamente se inspirassem na tradição arquitetônica brasileira.
		Iniciando-se assim, o reconhecimento e a difusão do movimento neocolonial, como evidenciado no trecho que segue:
“O reconhecimento oficial do neocolonial e a construção de importantes edifícios públicos nessa linha vulgarizaram os elementos ornamentais de gosto tradicional a ponto de serem apropriados, em todos Brasil, em edificações tão distinta quanto habitações populares ou postos de gasolina.” (SEGAWA; 2002, p36-37) 
		Fica evidente que desde o início, o neocolonial foi um movimento que constantemente buscou ter seus ideais reconhecidos. Mais ainda, por estar inserido em um contexto onde outros estilos estavam sendo desenvolvidos, como o ecletismo e o racionalismo, como bem explica Roberto Conduru no excerto a seguir:
“Se os ecléticos pretendiam configurá-la com os signos de um passado supostamente universal, os neocoloniais priorizavam o pretérito local, enquanto os racionalistas diziam recusar tanto a arte anterior quanto as referências regionais.” (CONDURU, 2009)
	Diferentemente do que estava sendo desenvolvido, o neocolonial, não buscava imitar ou resgatar um estilo do passado, mas sim reconhecer e ter como fundamento a arte tradicional brasileira e se desenvolver, progredir, a partir dela. 	
	O movimento veio como uma reação a estes estilos historicistas, considerados estrangeirismos, tendo seu apogeu na década de 1920. Como destaca Conduru (2009), “apesar de ter perdido sua posição dominante para o movimento moderno, a partir dos anos 30 o neocolonial manteve certa força cultural, sobretudo nas construções residenciais.” O edifício da Faculdade de Direito de São Paulo de 1939, projetado por Ricardo Severo, foi a última obra importante do neocolonial e a cidade que mais concentra obras do movimento é Ouro Preto. 
		Embora tenha encarado algumas discordâncias, o movimento neocolonial teve seus momentos de destaque, como relatado por Roberto Cunduru na passagem a seguir:
[…] “a arquitetura neocolonial constituiu-se como símbolo da modernidade arquitetônica brasileira durante certo período dos anos 10 e 20, entre a pendenga com os ecléticos, cujo ápice foi a dominância neocolonial nos edifícios da Exposição do Centenário da Independência, em 1922, e as disputas com os modernistas, que se acirraram com a inauguração da Escola Normal, o IV Congresso Pan-Americano de Arquitetura, realizado no Rio de Janeiro, e a  mudança na Direção da Escola Nacional de Belas Artes, em 1930. Não poderia ter havido melhor evento para difundir essa arquitetura destinada a celebrar a nação do que a exposição internacional de comemoração do centenário da independência política do país.” (CONDURU, 2009)
		É inegável a repercussão que teve o intenso debate levantado pelo movimento neocolonial a cerca da construção da nova identidade arquitetônica nacional.
Tanto que, mesmo tendo se originado como um desdobramento do ecletismo, o neocolonial trouxe em sua essência ideais que desencadearam o movimento da “arquitetura moderna que vai irromper no Rio de Janeiro, na década de 1930, protagonizada por um ex-discípulo do neocolonial: o arquiteto Lúcio Costa (1902-1998).” (SEGAWA; 2002. p39)
		O movimento neocolonial foi vencido pelos ideais modernistas, ainda mais depois da vinda de Le Corbusier ao Brasil em 1929. Os registros consultados, para o presente trabalho a cerca do movimento, demonstram o sentimento de progresso e de construção de uma identidade que seria legitimamente brasileira, que reconhecesse nosso passado tradicional e se desenvolvesse a partir dele, porém 
[…] “comprometida com a visão dominante no movimento moderno de arquitetura no Brasil, a historiografia não percebe como as formulações plásticas da imagem do tempo e do povo são sempre limitadas, como as nações e suas tradições são inventadas a partir de diferentes posições sociais e com diferentes estruturas de pensamento e ação. Assim, elogia o esforço de valorização das questões regionais, que absorveu, mas não os princípios acadêmicos de arquitetura do neocolonial, que rejeitou.”
		O movimento neocolonial é reflexo do pensamento da época, e sempre será peculiar ao contexto em que se inseriu. Embora tenham ocorridos debates e discordâncias acerca de seus ideais, o movimento legou edificações neocoloniais que podem ser vistos em excelente estado de conservação ainda nos dias de hoje. Iremos destacar, aqui, algumas edificações que podem ser encontradas na cidade de Cachoeira do Sul, estado do Rio Grande do Sul, foco do presente trabalho.
3.1	RECEPÇÃO GAÚCHA DO MOVIMENTO NEOCOLONIAL 
	Em se tratando da recepção do movimento no Rio Grande do Sul, são poucas as informações encontradas a respeito. É possível perceber que o estilo influenciou a arquitetura residencial com maior ênfase. Porto Alegre teve bairros inteiros influenciados pelo neocolonial, como Petrópolis e Vila Assunção e algumas moradias de interesse social em outros bairros.Imagem 1: Igreja Nossa Senhora da Assunção, em Vila Assunção – Porto Alegre (RS) que foi influenciada pelo estilo.
	Segundo artigos, há ainda relatos de residências na cidade de Caxias do Sul, São Leopoldo, Presidente Lucena, Campo bom e Três Passos, além de Cachoeira do Sul. Não foram encontradas informações mais detalhadas a respeito da receptividade do estilo no Rio Grande do Sul, o que leva a crer que, exceto no caso de Porto Alegre, as edificações existentes são esporádicas. 
3.1.1	INFLUÊNCIA E REVERBERAÇÕES EM CACHOEIRA DO SUL 
	O movimento neocolonial trouxe influências que se traduziram em elementos que estão presentes nas edificações do período e que, por serem recorrentes, refletem o caráter do movimento.
	Levando-se em conta aspectos arquitetônicos e construtivos, que foram utilizados nas edificações, fruto do movimento neocolonial, pode-se ressaltar que era comum o uso de alvenaria estrutural, presença de coroamento e utilização de telhas no estilo colonial. 
	Em uma análise mais atenta do interior da edificação, tem-se plantas regulares, onde fica evidente o jogo de volumes, as plantas de maiores proporções possuem pátio e aparecem, ainda, ambientes redondos ou com cantos arredondados. Elementos esses que podem ser encontrados em edificações diversas como igrejas, conventos, escolas, edifícios públicos e principalmente residências.
	Com relação as edificações encontradas em Cachoeira do Sul, destacamos três. A primeira a ser analisada, está alocada na Rua Marechal Floriano, 135. Possui recuos de ajardinamento, telhado que contorna o frontão, uso de pedras na fachada, textura nas paredes e telhado várias águas, conforme imagem 2.
Imagem 2: Fachada de residência neocolonial na Rua Marechal Floriano. Foto: Carolline Wild.
Em termos de características presentes nas fachadas dessas edificações, existem alguns elementos que são recorrentes e que serão aqui destacados a fim de conformar a identidade trazida pelo movimento. 
A segunda edificação analisada fica na Rua Presidente Vargas, 1505, foi construída no ano de 1979 e passou por reformas. Originalmente era de uso residencial e atualmente tem uso comercial onde fica a pizzaria Bella Pizza. Há recuos de ajardinamento (frontal e lateral), por ser um lote de esquina, tem presença de jardins e não está no alinhamento da rua,
A terceira, edificação fica na Rua Júlio de Castilhos, 941, tem mais de 30 anos de construção, é uma obra em alvenaria de uso residencial, com área do terreno de 710m2 e área total construída de 291m2.
É possível perceber a presença de telhados escalonados e com beirais sendo que o telhado contorna o frontão (imagem 3), apresetam, ainda, várias águas. Logo abaixo do beiral, aparece outro elemento utilizado, chamado cachorro (imagem 3), que vem como uma espécie de continuidade do telhado. Já as pontas dos telhados apresentam, muitas vezes, telhas “em forma de unha”. As chaminés são aparentes e há presença de corucheu (imagem 4).
 Imagem 3: Fachada de residência neocolonial na Rua Presidente Vargas, destaque para o telhado e cachorro. Foto: Carolline Wild.
Imagem 4: Fachada de residência neocolonial na Rua Presidente Vargas, destaque para a chaminé e corucheu. Foto: Carolline Wild.
Apresentam frontões com volutas, arco joanino (imagem 5) e falsas pequenas janelas gradeadas que imitam janelas quadrilobadas (imagem 6). Podem aparecem ainda, frontões com painéis de azulejos em obras mais abastadas. Ocasionalmente aparecem torreões (imagem 7) e constantemente ocorre o uso de alpendres com arcos plenos, parabolóides ou aviajados e coluna torça ou salomônica (imagem 5).
Imagem 5: Fachada de residência neocolonial na Rua Presidente Vargas, destaque para as colunas torças. Foto: Carolline Wild.
Imagem 6: Fachada de residência neocolonial na Rua Presidente Vargas, destaque para a janela quadrilobada. Foto: Carolline Wild.
Imagem 7: Fachada de residência neocolonial na Rua Júlio de Castilhos, destaque para o torreão e as pedras na fachada. Foto: Elisa Fontoura.
	
Quanto as janelas, é comum o uso de venezianas ou janelas com vidro jateado, janelas dípticas com mainel (imagem 9) e quadrilobadas (imagem 8), e grades com ornamentação em volutas.
Imagem 8: Fachada de residência neocolonial na Rua Júlio de Castilhos, destaque para a janela quadrilobada e chaminé. Foto: Elisa Fontoura.
Imagem 9: Fachada de residência neocolonial na Rua Presidente Vargas, destaque para as janelas dípticas com mainel. Foto: Carolline Wild.
Os planos das fachadas apresentam uso de detalhe em pedra, juntas ou esporádicas, e sempre são acompanhadas de texturas (imagem 10). A edificação apresenta recuos os todas as lateriais do terreno, não ficando no alinhamento da rua e possuem, por isso, jardim. (imagem 11)
Imagem 11: Fachada de residência neocolonial na Rua Júlio de Castilhos, destaque para os recuos e fachadas texturizadas. Foto: Elisa Fontoura.
Imagem 10: Fachada de residência neocolonial na Rua Presidente Vargas, destaque texturas na fachada e uso de pedras. Foto: Carolline Wild.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O movimento neocolonial que teve seu apogeu na década de 20, trouxe importantes discussões a cerca da construção da identidade artística nacional. Vários expoentes se destacaram em prol do neocolonial, como Ricardo Severo, Victor Dubugras e Lúcio Costa, que mais tarde seria um nome influente no modernismo.
	Valorizar a arte tradicional, sempre com foco no progresso e na busca pela identidade brasileira em termos arquitetônicos é a mensagem que fica desse movimento. O neocolonial plantou ideias ufanistas e de modernização que logo nos anos 1930, surgiram com força através do modernismo brasileiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONDURU, Roberto. Entre histórias e mitos. Uma revisão do neocolonial. Vitruvius - Resenhas Online, Item 093.01, Ano 08, Setembro de 2009. Disponível
em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/08.093/3025%20/
Manual de Dissertações e Teses da Universidade Federal de Santa Maria: estrutura e apresentação. Universidade Federal de Santa Maria, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Sistema de Bibliotecas da UFSM, Editora da UFSM. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2015. Disponível em: http://w3.ufsm.br/biblioteca/phocadownload/Manual_de_Dissertacoes_e_Teses-2015.pdf
SEGAWA, Hugo. Modernidade pragmática. In: SEGAWA, Hugo. Arquiteturas do Brasil (1900-1990). São Paulo: Edusp, 2002. P.29-39.
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