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MALÁRIA Plasmodium sp. A malária é a protozoose que mais mata no mundo. Sinonímia: impaludismo, febre palustre, febre intermitente, febre terçã benigna, febre terçã maligna, febre quartã Popular: maleita, sezão, tremedeira, batedeira, febre A área endêmica mais importante da doença é a África. No Brasil, a malária é mais incidente na região Norte. O plasmódio parasita hemácias, que não apresentam peptídeos MHC. Isso faz com que o parasita não seja reconhecido por linfócitos. Classificação taxonômica do plasmódio: Reino: Protozoa Filo: Apicomplexa – com organela apical utilizada para invadir celulas do hospedeiro Família: Plasmodiidae Gênero: Plasmodium Espécie: Plasmodium sp. Somente quatro espécies parasitam o homem: - Plasmodium falciparum – regiões tropicais da África, Ásia e América Latina É a espécie mais letal, pois provoca malária cerebral. - Plasmodium vivax – Em todo o mundo, zonas temperadas. - Plasmoduim ovale – África - Plasmodium malarie (P. brazilium) – Em todo o mundo Transmissão O vetor da malária é o mosquito do gênero Anopheles. A saliva do inseto tem substâncias que causam imunossupressão local no hospedeiro, importante para disseminação do parasita. O mosquito tem como características: - Anofelinos são antropofílicos e endofílicos - Tem altas taxas de parasitismo - Hábitos crepusculares ou noturnos das fêmeas que picam, injetando esporozoítos ou ingerindo gametócitos, que em 8 a 35 dias geram esporozoítos A malária ou paludismo o 300-500 milhões de casos com 1,5 a 2,7 milhões de óbitos em todo o mundo (Snow et al., Bull.World Health Organ, 77: 624-640, 1999) o 1 em 5 crianças morrem de malária na África o A malária mata uma criança a cada 30s na África o Causa baixo peso no neonato, anemia, epilepsia e dificuldades de aprendizado o Pode ser prevenida e tratada Biologia do plasmódio Habitat - Depende da fase do ciclo em que se encontram. - No homem: hemácias e hepatócitos. - Nos mosquitos anofelinos: matriz peritrófica, epitélio médio, hemolinfa e glândulas salivares. Nutrição e Metabolismo - Captam hemoglobina através do citóstoma e nutrientes do plasma. - Formam pigmento residual, a hemozoína. - Consomem grande quantidade de glicose convertendo-a quase toda em lactato. Ciclo evolutivo 1º estágio – no fígado 2º estágio – no sangue 3º estágio – no mosquito O ciclo evolutivo do plasmódio envolve dois hospedeiros. Durante sua refeição, a fêmea do mosquito Anopheles infectada inocula esporozoítos no hospedeiro humano. Depois de 1h, os esporozoítos infectam hepatócitos e lá amadurecem e se tornam esquizontes, que se rompem e liberam merozoítos. Os merozoítos, então, invadem hemácias. Depois dessa replicação inicial no fígado (esquizogonia exo-eritrocítica), os parasitas realizam multiplicação assexuada nos eritrócitos (esquizogonia eritrocítica) e formam trofozoítos. Trofozoítos se tornam esquizontes, que se rompem liberando merozoítos. Alguns parasitas se diferenciam em gametócitos (reprodução sexuada eristrocítica). Os parasitas no sangue são os responsáveis pelas manifestações clínicas da doença. Os gametócitos masculino (microgametócito) e feminino (macrogametócito) são ingeridos pelo mosquito Anopheles quando eles picam o homem. A multiplicação dos parasitas no mosquito é chamada ciclo esporogônico. Quando no estômago do mosquito, os microgametas formam flagelo e penetram nos macrogametas, formando zigotos. Os zigotos se tornam móveis e alongados (oocinetos), invadem a parede intestinal do mosquito, onde se desenvolvem em oocistos. Os oocistos crescem (multiplicação esporogênica), se rompem e liberam esporozoítos, que migram para as glândulas salivares do mosquito. A inoculação dos esporozoítos em um novo hospedeiro humano perpetua o ciclo vital da malária. A primeira divisão dos esporozoítos é por meiose, as demais, por mitose. Formas do parasita Trofozoíta jovem Trofozoíta maduro Esquizonte Gametócito Patologia - Febre recorrente – produto de citocinas pró-inflamatórias IL-1 and TNFα A malária ou paludismo inicia como uma gripe 8-30 dias após a infecção. A febre apresentada pode ser acompanhada ou não de dor de cabeça, dores musculares, fraqueza, vômitos e diarréia (liberação de mediadores inflamatórios pode promover a peristalse). Há ciclos de febre típicos, tremores, sudorese. A periodicidade dos ciclos depende da espécie do parasita, coincidindo com a multiplicação do parasita e destruição das hemácias, podendo levar à anemia. Plasmodium falciparum – febre terçã maligna, 36-48h Plasmodium vivax – febre terçã benigna, 48 h Plasmoduim ovale – febre terçã benigna, 48 h Plasmodium malarie (P. brazilium) – febre quartã, 72 - Anemia - Glomerulonefrite A resposta à malária é mediada por anticorpos (resposta humoral). Quando os merozoítos saem da hemácia, há formação do complexo Ag-Ac, tornando essas moléculas pesadas e elas se aderem ao epitélio glomerular. Lá, há exposição da cadeia pesada do anticorpo, que ativa o sistema complemento. Há então a liberação de substâncias citotóxicas que destroem as células saudáveis. Essa é uma doença auto-imune indireta. - Malária cerebral O Plasmodium falciparum induz a hemácia expressar uma molécula que promove agregação de hemácias entre si e no endotélio, formando um “trombo”. Assim, pode ocorrer obstrução do vaso, causando hipóxia e morte tecidual. A infecção pelo P. falciparum pode causar morte do paciente não tratado. Conseqüências clínicas Infecção assintomática febre (infecção sintomática) malária severa morte Como há invasão de fígado, é comum hepatomegalia e esplenomegalia. Eritrócitos parasitados por P. falciparum O P. falciparum modifica a superfície dos eritrócitos parasitados, que passam a apresentar nódulos. Ocorre a expressão de PfEM1, que é reconhecida por uma grande variedade de receptores, inclusive de eritrócitos e endotélio durante o rolamento. Essa proteína também pode se ligar a ICAM, condroitil sulfato, CD36 – adesão estável. A adesão protege o parasita da destruição reservada para as células circulantes Processo mediado pela proteína = P. falciparum erythrocyte surface (PfEMP1) A formação de rosetas (agregados de hemácias e endotélio) é responsável pela patogenia do P. falciparum. O P. falciparum faz a hemácia expressar uma fosfatidilserina na camada externa da membrana plasmática, mimetizando uma célula apoptótica. Essa fosfatidilserina é reconhecida pelos macrófagos, que fagocitam a hemácia sem liberar fatores inflamatórios. Malária severa - Formação de rosetas - Adesão de hemácias infectadas vasos sangüíneos - Obstrução microvascular (sangue e O2 nos tecidos) - glicólise anaeróbica nos tecidos Roseta - Hipoglicemia - Acidose metabólica - Anemia severa (fagocitose de hemácias infectadas e não infectadas) - malária cerebral Complicações cerebrais (adesão ao cérebro – envolvimento de ICAM-1) - Aumento de citocinas pró-inflamatórias - TNFα está associado aos acessos febris - NO – bloqueio das sinapses perda de consciência - Imunossupressão - INF-g Como o Plasmodium sp. só infecta hemácias (células desprovidas de MHC) não ocorre ativação de células T. A gravidade da doença depende de vários fatores: Fatores do parasito: • Espécie do parasita • Resistência a drogas • Velocidade de multiplicação • Citoaderência • Formação de rosetas • Poliforfismo antigênico • Variação antigênica • Pigmento malárico Fatores do hospedeiro: • Imunidade • Genética • Determinantes de grupos sangüineos • Duffy • Glicoforina A • talassemia, • Deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase • Genes que codificam TNF-a • Idade • Gravidez Fatores geográficos e sociais: • Acesso ao tratamento • Fatores econômicos e sociais • Estabilidade política • Intensidade da transmissão Adesão dos esporozoítos aos hepatócitos - Mosquitos injetam os esporozoitas no tecido subcutâneo ou diretamente na corrente sangüínea. - São levados diretamente ao fígado. - O co-receptor nos esporozoítas que media a invasão = thrombospondin-related adhesive protein (TRAP) ligam-se à heparina sulfato nos hepatócitos. - Os esporozoítos passam por vários ciclos antes de romperem os hepatócitos e liberarem milhares de merozoítas, que invadem as hemácias para dar início à doença. Imunidade à malária - Se desenvolve por exposições contínuas (seleção natural) - Anticorpos contra os estágios sangüíneos (bom, mas pode gerar glomerulonefrite) - Células citotóxicas contra o estágio hepático (hepatócitos apresentam MHC ativa células citotóxicas que, para destruírem o parasita, devem destruir o hepatócito) - Aumenta com a idade Diagnóstico Métodos simples de visualização ao microscópico - esfregaço - gota espessa PCR – detecção de anticorpo contra o parasita Imunofluorescência – detecção de hemácias infectadas ELISA – detecção de anticorpos - IgM – fase aguda Permite diagnosticar em - IgG – fase crônica qual fase a doença está! Não específicas: - Hb, hto, haptoglobina - LDH, reticulocitose - Trombocitopenia - Proteinúria, hemoglobinúria, creatinina - leve de transaminases Tratamento Produtos derivados de quinino, que atuam em várias formas infectantes. O quinino é utilizado para o tratamento de indivíduos infectados e para prevenção. Não há vacinas contra a malária!! Prevenção - Uso de repelentes e roupas de manga comprida - Uso de redes tratadas com inseticida, principalmente durante a gravidez - Fumacê - Terapia com combinação de drogas - Uso de DDT!