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A malária é uma doença infecciosa febril aguda. Pode ser causada por quatro protozoários do gênero Plasmodium: Plasmodium vivax, P. falciparum, P. malariae e P. ovale. No Brasil, somente os três primeiros estão presentes, sendo o P. vivax (febre terçã benigna) e o P. falciparum (febre terçã maligna) as espécies predominantes. Transmitido pela picada de mosquitos do gênero Anopheles (anofelinos ou mosquito prego, popularmente) infectados com o Plasmodium. A malária é endêmica na maior parte dos trópicos; transmissão contínua ocorre em 85 países e territórios. A Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou 241 milhões de casos e 627 mil mortes por malária em 2020; este é um aumento de uma estimativa de 227 milhões de casos e 558 mil mortes registradas em 2019. O aumento de casos e mortes deve-se à interrupção dos serviços devido à pandemia da doença por coronavírus 2019 (COVID-19), bem como a um método revisado de cálculo da carga de malária. Mais de 95% da carga ocorre na região africana da Organização Mundial da Saúde, seguida por 2% cada nas regiões do Sudeste Asiático e do Mediterrâneo Oriental, com as regiões da América e do Pacífico Ocidental contribuindo com o restante. Os principais determinantes da epidemiologia da malária são o número (densidade), os hábitos de morder humanos (dentro ou fora de casa) e a longevidade dos vetores anofelinos femininos. › Vetorial: pelo Anopheles (mosquito prego); › Vertical: durante a gestação; › Compartilhamento de seringas; › Transfusão de sangue; › Transplante de órgãos. **ciclo exo-eritrocitico (hepatócitos) só ocorre pela forma vetorial (picada) O Plasmodium apresenta um ciclo de vida heteroxênico, ou seja, para completar o seu ciclo de vida precisa de dois hospedeiros diferentes: um vertebrado e outro invertebrado. Hospedeiro definitivo: inseto (anófeles) Hospedeiro intermediário: homem Forma infectante: esporozoita Hemácias: merozoita Intracelular: trofozoita Resumo: esporozoita – fígado, esquizogonia – merozoita na corrente sanguínea – invadem hemácias – trofozoita – esquizogoinia – lise da hemácia – libera merozoita – infecta outra hemácia. ou gametóciotos – anófeles – gametas – zigoto – oociotos - esporogonia – esporozoita – saliva do mosquito HOSPEDEIRO VERTEBRADO – HOMEM O ciclo assexuado do plasmódio, denominado esquizogônico, inicia-se após a picada do anofelino, com a inoculação de esporozoítos infectantes no homem. Após invadir o hepatócito, os esporozoítos se diferenciam em trofozoítos pré-eritrocíticos. Estes se multiplicam por reprodução assexuada do tipo esquizogonia, dando origem aos esquizontes teciduais. Esta primeira fase do ciclo é denominada exo-eritrocítica, pré- eritrocítica ou tissular e, portanto, precede o ciclo sanguíneo do parasito. A duração varia de acordo com a espécie: › P. falciparum = 6 dias; › P. vivax = 8 dias; › P. malariae = 12 a 15 dias. Ao final do ciclo tecidual, os esquizontes rompem o hepatócito, liberando milhares de elementos-filhos na corrente sanguínea, chamados merozoítos. Os merozoítos irão invadir as hemácias, dando início ao segundo ciclo de reprodução assexuada dos plasmódios: o ciclo sanguíneo ou eritrocítico, durante um período que varia de 48 a 72 horas. › O P. malariae é responsável pela febre quartã que se manifesta em ciclos de 72 horas. › O P. vivax provoca a terçã benigna, com ataques febris de 48 horas. › O P. falciparum causa a febre terçã maligna, com ataques febris de 36 a 48 horas. Os merozoítos se desenvolvem em trofozoítos em estágio de anel. Depois de trofozoítos ele pode seguir por 2 caminhos: › pode se diferenciar em esquizonte, que é a forma em divisão assexuada do plasmodium que dará origem a novos merozoítos, que vão para a corrente sanguínea infectar novas hemácias. › pode se diferenciar em estágios sexuados, os gametócitos, que são ingeridos pela fêmea do mosquito quando picar o doente. HOSPEDEIRO INVERTEBRADO – MOSQUITO Ao se alimentar de sangue, um mosquito Anopheles ingere os gametócitos masculinos (microgametócitos) e femininos (macrogametócitos), dando início ao ciclo esporogônico. Depois de ingerir os gametófitos, eles vão para o interior do mosquito, se transformam em microgametócito (macho) e macrogametócito (fêmea) e nisso rompem a membrana da hemácia que estavam. O microgametócito penetra no macrogametócito no estômago do mosquito, formando o zigoto, o qual originada o oocineto. Os oocinetos invadem a parede do intestino médio do mosquito, onde se desenvolvem em oocistos. Os oocistos crescem, rompem-se e liberam esporozoítos, os quais se deslocam para as glândulas salivares do mosquito através da hemolinfa. A inoculação dos esporozoítos em um novo hospedeiro humano perpetua o ciclo de vida da malária. Macrófagos esplênicos captam um pigmento malárico circulante (hemozoína) e removem as hemácias infectadas. Assim há a ativação de receptores da imunidade inata, com liberação de citocinas circulantes induzindo a inflamação = ataque malárico. A passagem do parasito pelo fígado (ciclo exo- eritrocítico) não é patogênica e não determina sintomas. Apenas o ciclo eritrocítico assexuado é responsável pelas manifestações clínicas e patologia da malária. A destruição dos eritrócitos e a consequente liberação dos parasitos e de seus metabólitos na circulação provocam uma resposta do hospedeiro, determinando alterações morfológicas e funcionais observadas no indivíduo com malária. Os possíveis mecanismos determinantes das diferentes formas clínicas da doença baseiam-se, fundamentalmente, na interação dos seguintes fenômenos patogênicos: › Destruição dos eritrócitos parasitados; › Toxicidade resultante da liberação de citocinas; › Sequestro dos eritrócitos parasitados na rede capilar, no caso específico do P. falciparum; › Lesão capilar por deposição de imunocomplexos, no caso do P. malariae. DESTRUIÇÃO DOS ERITRÓCITOS PARASITADOS O processo de destruição dos eritrócitos está presente em todos os tipos de malária e em maior ou menor grau participam do desenvolvimento da anemia. Entretanto, na maior parte dos casos, a anemia não se correlaciona com a parasitemia, indicando que a sua gênese seja devida a outros fatores, entre os quais podem-se citar: › Destruição de eritrócitos não-parasitados pelo sistema imune ou por aumento da eritrofagocitose esplênica; › Participação de autoanticorpos com afinidades tanto para o parasito como para o eritrócito; › Disfunção da medula óssea estimulada por ação de citocinas (diseritropoiese). TOXICIDADE RESULTANTE DA LIBERAÇÃO DE CITOCINAS Durante a fase aguda da malária, ocorre ativação e mobilização de células imunocompetentes que produzem citocinas que agirão direta ou indiretamente sobre o parasito, mas que podem ser nocivas para o hospedeiro. A febre, por exemplo, é resultado da liberação de pirogênio endógeno pelos monócitos e macrófagos, ativados por produtos do parasito. SEQUESTRO DOS ERITRÓCITOS PARASITADOS NA REDE CAPILAR Durante o desenvolvimento esquizogônico sanguíneo, o p. falciparum induz uma série de modificações na superfície da célula parasitada, que permitem a sua adesão a parede endotelial dos capilares. Este fenômeno de citoaderência é mediado por proteínas do parasito expressas na superfície dos eritrócitos infectados (proteína l de membrana do eritrócito do p. falciparum ou PfEMPl), formando protuberâncias ou knobs. A citoaderência endotelial e o fenômeno de formação de rosetas ocorrem principalmente nas vênulas do novelo capilar de órgãos vitais (substância branca do cérebro, coração, fígado, rins, intestino). Dependendo da intensidade, podem levar a obstrução da microcirculação e consequente redução do fluxo de oxigênio, ao metabolismo anaeróbico e a acidose láctica. São alvos dessa agressão o cérebro, os rinse o fígado, cujos danos são responsáveis pelas complicações de malária cerebral, insuficiência renal aguda e hepatite, tão comuns nos quadros de malária grave. O sequestro de eritrócitos representa um mecanismo de escape do parasita, evitando sua destruição no baço. LESÃO CAPILAR POR DEPOSIÇÃO DE IMUNOCOMPLEXOS A lesão glomerular é produzida pela deposição de imunocomplexos e componentes do complemento nos glomérulos, alterando a sua permeabilidade e induzindo perda maciça de proteína. O quadro clínico da malária pode ser leve, moderado ou grave, na dependência da espécie do parasito, da quantidade de parasitos circulantes, do tempo de doença e do nível de imunidade adquirida pelo paciente. Assim, teremos sintomas da malária gerais com diferenciações que podem determinar as variações na evolução clínica da doença, por exemplo, o P. falciparum pode resultar em forma grave e complicada, caracterizada pelo acometimento e disfunção de vários órgãos ou sistemas. O período de incubação geralmente é: › 12 a 17 dias para o P. vivax; › 9 a 14 dias para o P. falciparum; › 16 a 18 dias ou mais para o P. ovale; › Cerca de 1 mês (18 a 40 dias) ou mais (anos) para o P. malariae. SINTOMAS GERAIS: Febre; Cefaleia; Calafrios; Mal estar; Mialgia; Sudorese; Náuseas; Tonturas. Acessos maláricos 1º: início súbito – frio calafrio, naus vomito palidez, dura 1- 2 horas 2º pico de temperatura 39-41 graus – calor intenso, delírios, dura 1-8 horas 3º queda de temperatura – sudorese, sensação de alivio, prostração e sono até 3 horas MANIFESTAÇÕES CRÔNICAS: Esplenomegalia reativa da Malária; Hepatomegalia; Anemia; Leucopenia; Plaquetopenia. CRITÉRIOS CLÍNICOS PARA MALÁRIA GRAVE: › Síndrome do desconforto respiratório agudo/edema pulmonar; › Sangramento; › Coma e consciência prejudicada; › Icterícia; › Convulsões (recorrentes); › Choque. **Icterícia: A bilirrubina indireta é conjugada pela glucuronil transferase em bilirrubina direta nos hepatócitos e só depois é excretada. Em hemólise excessiva, há aumento da chegada de bilirrubina indireta aos hepatócitos, o que faz com que a bilirrubina se acumule mais do que é eliminada. CRITÉRIOS LABORATORIAIS PARA MALÁRIA GRAVE › Anemia (grave: < 7 g/dL [70 g/L]); › Coagulação intravascular disseminad (CID); › Hemoglobinúria; › Acidose metabólica; › Densidade parasitária > 5%; › Insuficiência renal. IMUNIDADE INATA › Grupo sanguíneo Duffy negativo; › Deficiância de G6PD (produção de metamoglobina toxica para o parasita); › Anemia falciforme ou traço falcêmico; › Talassemias. **Grupo sanguíneo Duffy Os antígenos desse sistema são glicoproteínas transmembrana, localizadas na superfície dos eritrócitos, que funcionam como receptores para citocinas pró- inflamatórias e maximizam a sensibilidade os neutrófilos circulantes. Além disso, atuam como um eliminador, reduzindo quantidades excessivas de quimiocinas tóxicas produzidas em algumas condições patológicas, como na malária. IMUNIDADE ADQUIRIDA Indivíduos que vivem em áreas de transmissão desenvolve anticorpos contra antígenos do parasita. Os recém-nascidos tem proteção até os 6 meses de vida por IgG materna e HB fetal. O método mais utilizado é a microscopia de gota espessa de sangue, colhida por punção digital e corada pelo método de Walker. O exame da gota espessa permite diferenciação das espécies de Plasmodium e do estágio de evolução do parasito circulante. No entanto, em casos de dúvida, um esfregaço pode ser feito porque permite melhor visualização das formas. Há também os testes diagnósticos rápidos, que se baseiam na detecção de antígenos dos parasitos por anticorpos mono e policlonais, que são revelados por método imunocromatográfico. Os kits chegam a fornecer o diagnóstico entre 15 e 20 minutos. EXAMES INESPECÍFICOS: Hemograma; Ureia; Dosagem de creatinina; Dosagem de aminotransferases (ALT e AST); Bilirrubina total e frações. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Dengue; Febre amarela; Outras arboviroses; Septicemias; Febre tifoide; Pielonefrite aguda. A anemia pode ser muito intensa, a função renal pode ser comprometida ou mesmo falir totalmente. A função respiratória pode apresentar sérias deficiências, além de quadros neurológicos, como a malária cerebral, podendo levar o paciente a confusão mental e coma. Pelo fato da doença provocar grandes distúrbios sistêmicos, a morte pode ser o desfecho em cerca de 1 a 2% dos casos detectados Condições de ordem ambiental: temperatura, umidade elevada, chuvas abundantes. Isso favorece a proliferação do mosquito e também encurta o período de vida extrínseco do Plasmodium no mosquito, tornando mais rápida a capacidade infectante do mosquito infectado num portador. Habitações precárias que facilitam a atividade vetorial: o contato homem/vetor é muito intenso em determinadas localidades da Amazônia, não só pela falta de paredes, mas pelo hábito de dormir de calção por causa do calor. Então, com o dorso nu, o peito nu e as pernas descobertas, há uma extensa superfície para o contato do mosquito. BOGLIOLO, L.; BRASILEIRO FILHO, G. Patologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 10ªed. 2021. BREMAN, J.G. Malária: Epidemiologia, prevenção e controle. UpToDate, 2022.. Tauil, Pedro et al. A malária no Brasil. Cadernos de Saúde Pública [online]. 1985, v. 1, n. 1 [Acessado 24 Outubro 2022] , pp. 71-111. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102-311X1985000100009>. Epub 19 Abr 2006. ISSN 1678-4464. https://doi.org/10.1590/S0102-311X1985000100009. CORRÊA, T.S. Malária e suas principais complicações: aspectos fisiopatológicos, 2012. https://doi.org/10.1590/S0102-311X1985000100009
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