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16 Flavia Aranha T2

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA)
Jenny Chan Yee Ng 
Letícia Miranda de França Mota 
Matheus Ivan Mourad Santos 
Pedro Martins Rodrigues Novaes 
Roberta Matsubara Arakaki 
Talita Sayaka Murakami 
Imigrantes Latino Americanos na Cadeia Têxtil e de Confecção
A questão do uso de mão de obra imigrante em condições análogas às de escravo: possíveis soluções para um modo de produção e de consumo ético e sustentável. 
[Organização visitada: ateliê Flávia Aranha]
São Paulo
2016
Jenny Chan Yee Ng 
Letícia Miranda de França Mota 
Matheus Ivan Mourad Santos 
Pedro Martins Rodrigues Novaes 
Roberta Matsubara Arakaki 
Talita Sayaka Murakami 
Imigrantes Latino Americanos na Cadeia Têxtil e de Confecção
A questão do uso de mão de obra imigrante em condições análogas às de escravo: possíveis soluções para um modo de produção e de consumo ético e sustentável. 
[Organização visitada: ateliê Flávia Aranha]
Relatório final do trabalho interdisciplinar apresentado a Universidade de São Paulo como parte das exigências das seguintes disciplinas:
Introdução à Psicologia
Fundamentos de Administração
Fundamentos de Ciências Sociais
Fundamentos de Marketing e Compor-tamento do Consumidor
São Paulo, 13 de junho de 2016.
________________________________________
Professor Dr. José Moura Gonçalves Filho
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Professor Dr. Ademir Antonio Ferreira
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Professor Dr. Arnaldo José F. M. Nogueira
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	Professora Dr. Kavita Miadaira Hamza
1. Introdução
Na década de 90, a produção da indústria têxtil e de confecção podia ser dividida em ciclos – em média, eram dois a quatro ciclos por ano, sendo a demanda planejada antecipadamente. Atualmente, há apenas produção, independentemente de ciclos – isto é, consumimos muito mais roupas e superamos tendências muito mais rapidamente, obliterando qualquer separação temporal em ciclos. Segundo a revista Exame, “a cada ano, estima-se que 80 bilhões de novas peças de roupas são produzidas, 400% a mais que duas décadas atrás”, já quanto faturamento, apenas no Brasil, o setor têxtil e de confecção, em 2015, teve receita de R$ 121 bilhões, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). [1: http://www.abit.org.br/cont/perfil-do-setor (último acesso em 21/05/2016, 17:14).][2: http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/uma-revolucao-comecou-no-seu-armario-e-cada-peca-conta (último acesso em 21/05/2016, 17:14).]
Para atender à demanda dos consumidores, a indústria foi obrigada a organizar-se de modo a ser flexível para produzir o máximo possível em tempo recorde, adaptando-se facilmente para conseguir entregar as novas peças e tendências que o mercado desejar. [3: http://highline.huffingtonpost.com/articles/en/the-myth-of-the-ethical-shopper/ (último acesso em 21/05/2016, 17:14).]
Contudo, um dos efeitos negativos dessa configuração da indústria têxtil e de confecção foi a utilização da mão de obra escrava. 
A questão do trabalho escravo imigrante adquiriu maior visibilidade em 2011, quando uma ação de fiscalização resgatou trabalhadores imigrantes de oficinas de costura que produziam peças para a marca Zara. Eram 67 bolivianos e peruanos obrigados a costurar 30 peças por hora, em jornadas de trabalho excessivas, além do uso de mão de obra infantil. [4: http://escravonempensar.org.br/wp-content/uploads/2016/02/Fasc%C3%ADculo-Confecção-Textil_Final_Web_ 21.01.16.pdf (último acesso em 21/05/2016, 17:14).]
Além do caso da Zara, ocorreram, desde então, diversos flagrantes de uso de mão de obra escrava imigrante no setor têxtil. Neste trabalho, abordaremos o tema do trabalho escravo imigrante na indústria têxtil e, após o delineamento da problemática envolvida, traçaremos possíveis soluções para a questão.
2. Trabalho escravo contemporâneo
O trabalho escravo contemporâneo, também denominado “trabalho em condições análogas à de escravo”, está definido no artigo 149 do Código Penal Brasileiro, e está configurado se estiverem presentes quaisquer dos seguintes elementos, em conjunto ou isoladamente: (i) trabalho forçado: significa a submissão do indivíduo a condições de trabalho indignas, deixando-o impossibilitado de deixar o local, por causa de dívidas e/ou sob coerção; (ii) jornada exaustiva: refere-se a um expediente muito além da jornada extraordinária (horas extras), de modo a colocar em risco ou prejudicar a integridade física do trabalhador; (iii) servidão por dívida: cobrança ilegal, exorbitante e abusiva, relativa a supostos gastos do trabalhador com transporte, alimentação, aluguel de ferramentas de trabalho, etc. Muitas vezes, tais valores são deduzidos diretamente do salário do trabalhador, deixando uma quantia irrisória, insuficiente para a manutenção de uma vida digna ou para a quitação integral da suposta  dívida; e (iv) condições degradantes: refere-se a um conjunto de circunstâncias que definem a precariedade do trabalho a que é submetido o indivíduo, de modo a retirar-lhe sua dignidade e, em muitos casos, atentar contra sua saúde e integridade (por exemplo, casos em que o trabalhador encontra-se privado de água potável e saneamento básico e/ou de assistência médica, dentre outras situações). [5: Tecnicamente, o trabalho escravo está abolido desde 1888, portanto muitos juristas utilizam a expressão “trabalho em condições análogas à de escravo” para se referir ao artigo 149 do Código Penal.][6: Para verificar relatos detalhados das condições dos imigrantes, consultar Anexo A.][7: Definições extraídas do site http://escravonempensar.org.br/sobre-o-projeto/o-trabalho-escravo-no-brasil/ (último acesso em 21/05/2016, 17:14). ]
3. Trabalho escravo e a mão de obra imigrante na indústria têxtil e de confecção
Note-se que a utilização de obra imigrante em condições análogas à escravidão no setor têxtil não acontece por acaso. [8: Relatos dessa realidade no Anexo B e C]
Inúmeros donos de oficina aproveitam-se do fato de que migrantes de países latino americanos consideram o Brasil uma oportunidade de ascensão socioeconômica, e os contratam por meio de aliciadores em países como o Peru, a Bolívia e o Paraguai. Frequentemente, a migração para o Brasil é feita de forma ilegal (seja por meio de coiotes ou de documentos falsos) e é cobrada do trabalhador – trata-se do começo da escravidão por dívida. 
No Brasil, as oficinas aproveitam-se e da situação irregular e da fragilidade econômico-social desses grupos, retendo documentos como meio de chantagear os imigrantes, ou ameaçando denunciá-los para as autoridades locais e para a deportação. Além do clima de coerção psicológica e ameaças físicas nas oficinas, o isolamento social e cultural dos imigrantes em relação ao Brasil, o desconhecimento da língua e do espaço em que se encontram tornam o migrante ainda mais dependente e submisso ao empregador. 
Os imigrantes são, então, obrigados a trabalhar em jornadas excessivas, para pagar supostos gastos com transporte, alimentação, aluguel de ferramentas de trabalho, alojamento, etc. Tais “gastos” são geralmente descontados direto do salário do imigrante – prática denominada truck system –, sendo que muitas vezes o salário fica com o empregador, sob o pretexto de que os imigrantes, sem documentação regular, não podem abrir contas bancárias. 
Observe-se, portanto, que o trabalho escravo contemporâneo explora a condição de vulnerabilidade social, econômica e cultural dos trabalhadores imigrantes, sendo sustentada pela estrutura da própria indústria têxtil e de confecção como veremos a seguir. 
4. A Indústria Têxtil e de Confecção
Na era do fast fashion (tema a ser a ser aprofundado no item 5) e da flexibilidade, as marcas se sustentam mediante a contratação de redes de produção, ou seja, dividem a produção em inúmeras unidades produtivas, separadas geograficamente com o objetivo
de baixar custos, mas globalmente integradas e coordenadas. Enquanto as redes de produção são as responsáveis pela manufatura, as grandes varejistas definem as especificações do produto e coordenam o processo como um todo. 
Nesses tipos de cadeias, o poder de comando ou liderança é exercido pela grande empresa varejista ou pela marca. Isso porque, conforme entende a estilista Flávia Aranha (cuja forma de produção será aprofundada no item 6), produzir em unidades separadas - isto é, em células - é o motivo pelo qual as empresas varejistas detém o poder sobre os seus fornecedores (terceirizados ou até quarterizados), uma vez que, com essa forma de produção, tais células produtivas assumem um tamanho bem reduzido se comparado a grande varejista, resultando numa desigualdade imensa em negociações. Em outras palavras, a cadeia têxtil e de confecção é comandada pelo grande comprador (varejista), constituindo uma cadeia buyer-driven. [9: São aquelas cadeias nas quais grandes marcas e empresas varejistas (buyers, ou “compradoras”) descentralizam as redes de produção, espalhando-a em diversos países (em especial aqueles em desenvolvimento). Geralmente, as empresas compradoras concentram as atividades de marketing, desenvolvimento, distribuição e comercialização de produtos. Fonte: http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/07212 65_2011_cap_2.pdf (último acesso em 21/05/2016, 17:14).]
Figura 1 - Estrutura da Cadeia Produtiva e de Distribuição Têxtil e de Confecção
 Fonte: http://www.sinditextilce.org.br/pdf/nic/estudo/SIIT_PALESTRA%203%20ABIT_Estratégias%20 para%20o% 20Fortalecimento%20da%20Cadeia%20Produtiva%20Têxtil.pdf
Note-se que o varejo, a grande marca que detém o poder de comando sobre a cadeia, está localizada justamente no segmento de distribuição do produto. Por sua vez, o trabalho escravo imigrante latino americano verificado nos grandes centros urbanos e objeto deste trabalho está inserido no segmento de confecção (item “iii” acima). 
Destaque-se que as marcas não fabricam as próprias peças de roupa, nem contratam diretamente a mão de obra necessária para confeccionar suas coleções. Para reduzir os custos, contratam oficinas, de porte muito menor, para produzir as roupas, terceirizando o processo produtivo. 
É importante frisar que o critério principal para a escolha das oficinas é o preço – isto é, aquela oficina que apresentar os custos mais baixos será a contratada para fabricar determinada coleção. 
É por isso que a utilização da mão de obra escrava ocorre justamente nessas oficinas terceirizadas ou quarteirizadas: fortemente pressionadas a baixarem os custos, as oficinas recorrem a mão de obra informal e barata e/ou contratam outra confecção, quarteirizando o processo produtivo. Com a pressão para baixar custos, as oficinas remuneram os trabalhadores com base na produtividade: os trabalhadores recebem valores baixíssimos por peça, sendo pressionados a realizar jornadas exaustivas para receber qualquer valor significativo, e executando sempre uma única função. 
Assim, a busca por baixos preços leva a salários abaixo do salário mínimo nacional, bem como a condições de trabalho precárias: as oficinas cortam gastos com segurança do trabalhador, alojamento e comida, obrigando os trabalhadores a dormirem, a viverem dentro das oficinas, em condições degradantes, como falta de higiene, superlotação, dentre outras. 
Nessas condições, as oficinas optam por explorar o trabalho de grupos imigrantes, pois, por sua vulnerabilidade socioeconômica, esses grupos são mais facilmente submetidos a condições de trabalho degradantes e a grandes pressões por produtividade. 
5. Fast fashion e a produção orientada pelo consumo
Fast fashion, traduzido como moda rápida, “é o termo utilizado por marcas que possuem uma política de produção rápida e contínua de suas peças, trocando as coleções semanalmente, ou até diariamente, levando ao consumidor as últimas tendências da moda em tempo recorde e com preços acessíveis. O conceito foi criado na Europa por grandes varejistas, como H&M, Zara e Top Shop. No Brasil, grandes redes de varejo, como a C&A, a Renner e a Riachuelo, aderiram à tendência” .[10: Definição de fast fashion retirada do site revide.com.br (último acesso em 21/05/2016, 17:14).]
Na moda “tradicional”, uma marca apresenta sua coleção, para então o consumidor escolher quais produtos comprar. No caso do fast fashion, quem escolhe o que fica ou o que sai das araras são os próprios consumidores. As peças são desenvolvidas de acordo com os desejos do mercado, ou seja, só é fabricado aquilo que vende. Dessa forma, o consumidor participa, de certo modo, do desenvolvimento da produção.
Além da orientação para o mercado, as empresas fast fashion têm também sua orientação voltada à produção, buscando alta produtividade, baixos custos e distribuição em massa. Na busca pela alta produtividade e distribuição em massa, uma característica importante do fast fashion é a flexibilização na produção. 
Segundo Sennet, “o ingrediente de mais forte sabor nesse novo processo produtivo [flexível] é a disposição de deixar que as mutantes demandas do mundo externo determinem a estrutura interna das instituições”. É nesse sentido, orientadas para a flexibilidade, que se comportam as empresas da indústria têxtil e de confecção: as empresas, adaptando-se às forças da demanda do mercado, têm redefinido as suas estruturas de produção, com o objetivo colocar, cada vez mais rapidamente, produtos mais variados no mercado, por meio da estratégia de inovação permanente, orienta sua produção exatamente para o que o consumidor deseja comprar. [11: SENNETT, Richard. A Corrosão do Caráter. 14a Ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2009. p. 60]
5.1. Consumismo
Na sociedade atual, o sentido do ato de consumo deixou de representar o mero ato de comprar um objeto ou serviço, sendo associado à satisfação de desejos: associam o consumo a status, felicidade, conforto, bem-estar, dentre outros. Tais características, seduzem o consumidor a comprar bem mais do que precisa, subentendendo-se que isso lhe trará a plena satisfação.
José Moura Gonçalves Filho denota que “a compulsão consumista (sempre seguida de frustração ou decepção) assenta-se na perseguição de bens de consumo como objetos de desejo ou na perseguição de objetos de desejo como bens de consumo”, apontando que somente a carência traria satisfação por meio do ato de consumir o objeto. Dessa forma, “[o] objeto de desejo não é objeto de consumo tanto quanto de fruição”. Ou seja, como os objetos de desejo não se confundem com objetos de consumo, a compulsão consumista sempre é seguida do sentimento de frustração e insaciedade. Diante desse sentimento, o consumidor é estimulado a consumir novos produtos, em um ciclo vicioso: o indivíduo consome em busca do sentimento de satisfação; contudo, o objeto não traz o sentimento esperado, o que leva indivíduo a procurar novamente por novos produtos. 
O fast fashion utiliza-se desse ciclo vicioso, estimulando o consumo a acompanhar as tendências de moda, que aparecem e desaparecem em velocidade nunca antes vista. As tendências, por serem efêmeras, tornam as peças obsoletas em pouco tempo, e o indivíduo é incentivado a consumir cada vez mais. 
Dessa forma, é possível dizer que o fast fashion estimula e incentiva o consumismo, bem como a moda descartável, que traz um preço oculto tanto para o meio ambiente quanto para os trabalhadores da cadeia de produção. A democratização das tendências ofertada por essas empresas (consumida por pessoas de todos os status sociais), trazendo ao consumidor produtos mais acessíveis e que ao mesmo tempo sejam novidades, fazem o desejo de possuir o “novo” prevalecer frente aos momentos de consumo, fazendo com que a consciência relacionada à proveniência do produto seja deixada de lado. 
É possível, dessa forma, associar o consumidor à mão de obra escrava na indústria têxtil. Embora se localize somente no final da cadeia, é o indivíduo consumindo de forma exacerbada que move o fast
fashion, que por sua vez, utiliza a mão de obra barata e sem fiscalização para diminuir seus custos, vendendo seus produtos mais baratos e obtendo um gigantesco lucro.
6. A falta de ética na indústria têxtil e de confecção
Como visto acima, é possível questionar diversas práticas dessa indústria, além do uso da mão de obra escrava. O documentário “The True Cost” (2015), do diretor Andrew Morgan, por exemplo, demonstra o custo real de uma peça vendida por um preço incrivelmente barato em lojas no mundo todo, expondo a disseminada cultura de moda descartável e enfatizando a dependência do trabalho humano deste tipo de indústria, bem como os problemas do consumismo, das condições precárias de trabalho e da degradação ambiental. 
Além do documentário “True Cost”, outros documentários, reportagens e iniciativas que abordam este assunto - como o Fashion Revolution , Clean Clothes e a Factory 45 - vêm abrindo espaço para discussões a cerca do desrespeito aos direitos humanos e trabalhistas, apontando a falta de ética na cadeia de suprimentos como um problema endêmico nas redes de fast fashion. [12: http://fashionrevolution.org][13: http://www.cleanclothes.org][14: http://factory45.co ]
6.1. Flávia Aranha: engajamento e ética na produção
“Hoje, vemos o marketing transformando-se mais uma vez, em resposta à nova dinâmica do meio. Vemos as empresas expandindo seu foco dos produtos para os consumidores, e para as questões humanas. Marketing 3.0 é a fase na qual as empresas mudam da abordagem centrada no consumidor para a abordagem centrada no ser humano, e na qual a lucratividade tem como contrapeso a responsabilidade corporativa” [15: KOTLER, Philip; KARTAJAYA, Hermawan; SETIAWAN, Iwan. Marketing 3.0: as forças que estão definindo o novo marketing centrado no ser humano. Rio de Janeiro : Elsevier, 2012. p.10]
Entendendo ser necessária uma abordagem mais humana na indústria têxtil e de confecção, a designer Flávia Aranha iniciou seu empreendimento em 2009, inovando ao adotar uma abordagem sustentável para seu negócio. Seu ateliê produz peças de roupa eticamente corretas, praticando o que chamamos de slow fashion, isto é, movimento que se contrapõe ao fast fashion e que defende a criação de peças atemporais, feitas à mão, com tecidos naturais e duráveis - como algodão, linho e seda - e cores suaves, além da produção em baixa escala e em locais que funcionam mais como ateliês do que como indústrias.[16: Visita ao ateliê da estilista Flávia Aranha descrita no Anexo D][17: Movimento “slow fashion” aprofundado no anexo E]
Note-se que o empreendimento de Flávia Aranha era, a princípio, uma iniciativa individual, mas foi ampliada na medida em que agregou trabalhadores e consumidores que concordavam com sua perspectiva de negócios e com a nova ética de trabalho que ela propunha. Sua ação incluiu o convencimento e a conscientização de seus empregados e colaboradores, de seus fornecedores, bem como de seus consumidores. 
No caso de seus colaboradores, é interessante destacar que Flávia procura capacitá-los não só em relação às habilidades de costura, mas também para gestão de seus negócios, de modo a fazê-los compreender e valorizar seus respectivos trabalhos e o tempo gasto com eles. Diante da sociedade consumista e a realidade de uso de trabalho análogo à escravidão, a estilista tratou de agir seguindo princípios de justiça e sustentabilidade, que superaram o campo das ideias, como conteúdo de pensamento, para mover uma ação, para alterar a prática da indústria têxtil e de confecção.
Para Flávia Aranha, “[a] ética na produção deveria ser um preceito básico, não só para os envolvidos na cadeia produtiva, mas também para os consumidores finais, que cada vez mais têm acesso à informação. O engajamento parte daí, da informação e do que cada um escolhe fazer com ela”. [18: Trecho retirado da entrevista concedida por Flávia Aranha ao grupo e está na íntegra no Anexo F ]
Com base nesses princípios, a designer prova, na prática, que é possível criar um negócio rentável, sustentável, que adote boas práticas de trabalho - com costureiras oficialmente contratadas pelo regime da CLT -, quebrando com os conceitos estabelecidos, os automatismos da indústria têxtil e de confecção.
7. Possíveis soluções para o trabalho escravo na cadeia têxtil e de confecção
Diante do exposto neste trabalho até o momento, observamos que a questão do uso de mão de obra escrava latino americana na cadeia produtiva e de distribuição têxtil e de confecção requer diversas esferas de análise, uma vez que é preciso entender (i) a estrutura, os componentes e o funcionamento dessa cadeia; (ii) as pressões do mercado consumidor globalizado, o fast fashion e o consumismo; (iii) a questão socioeconômica do trabalho escravo (o que inclui seu conceito perante a lei e a sua ocorrência nessa indústria); e (iv) a vulnerabilidade socioeconômica dos imigrantes e as razões para esses trabalhadores serem explorados em condições análogas às de escravo. 
Consequentemente, entendemos ser necessária a adoção de abordagens multifocais. Apresentaremos a seguir duas possíveis linhas de atuação para minimizar a questão. 
7.1 Modificação da legislação vigente no país
Observe-se que tanto o artigo 149 do Código Penal (já mencionado no item 2) quanto o artigo 243 da Constituição Federal tratam o tema de forma isolada, isto é, procuram responsabilizar apenas os agentes diretamente responsáveis – nomeadamente, os donos de oficina -, mas não os demais agentes envolvidos na cadeia têxtil, como as grandes marcas que se beneficiam da produção dessas oficinas. [19: “Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014) Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014)”][20: Note-se que há outros artigos que tratam indiretamente do tema: o Código Penal pune quem “frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho” (art. 203) e quem alicia trabalhadores dentro do território nacional (art. 207). Em ambos os casos, porém, o tratamento é penal, prevalecendo a responsabilidade individual (e não a responsabilidade da pessoa jurídica e da cadeia em que o trabalho escravo é explorado).]
Por outro lado, a Lei Estadual nº 14.946, de 28 de janeiro de 2013, do Estado de São Paulo, prevê a cassação da inscrição estadual de quem se beneficiar da mão de obra análoga à escrava, estipulando que as empresas e pessoas envolvidas serão impedidas de exercer o mesmo ramo de atividade econômica ou abrir nova firma no setor, durante um período de dez anos. Trata-se de uma abordagem mais ampla, uma vez que são punidas também as empresas indiretamente responsáveis pela exploração da mão de obra escrava - incluindo, dessa forma, grandes marcas que encomendam uma coleção a uma confecção que terceirize o contrato a uma oficina que utilize mão de obra escrava. [21: A lei paulista inspirou os Estados do Maranhão, Tocantins e Mato Grosso do Sul a promulgar leis semelhantes. ]
Em Imaginação Sociológica, Wright Mills já observava que o indivíduo, inserido em grandes cadeias de produção, realizava uma grande sequência de atos, mas sem saber porquê, nem para quais fins, sem qualquer controle sobre o resultado. Mills destacava que os indivíduos, inseridos em grandes organizações racionais, tendem a “regular sistematicamente seus impulsos e suas aspirações, seu
modo de vida e de pensamento, em rigorosa concordância com as ‘regras e regulamentos da organização”. Assim, concluía que “(...) a possibilidade de razão que tem a maioria dos homens é destruída, à medida em que a racionalidade aumenta e sua localização, seu controle, passa do indivíduo para a organização em grande escala”. [22: MILLS, C. Wrigth. A imaginação sociológica. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1965. p. 185.]
Ora, se o controle da produção passa dos indivíduos para as organizações em grande escala, não faz sentido a lei ignorar justamente as grandes organizações varejistas ao tratar da questão do trabalho escravo imigrante na cadeia têxtil e de confecção. Considerando que as oficinas muitas vezes constituem estão fortemente sujeitas às pressões das grandes varejistas por cortes de custos, parece-nos que é preciso uma abordagem mais ampla, que considerasse os demais agentes da cadeia de produção que se beneficiam da exploração da mão de obra escrava, ainda que de maneira indireta. 
Para nosso grupo, uma boa solução para a questão da exploração da mão de obra escrava imigrante no setor têxtil seria, portanto, a adoção de soluções legislativas semelhantes à Lei Estadual n˚ 14.946/2013 em âmbito nacional. [23: Lei Estadual n˚ 14.946/2013, reproduzida no Anexo G]
Além disso, propomos também a criação de um sistema de fiscalização a nível nacional que considere a cadeia como um todo: a fiscalização incluiria os procedimentos empregados pelas grandes varejistas, seus fornecedores, até o nível mais baixo da cadeia - como as oficinas de costura terceirizadas ou quarteirizadas. Dessa forma, as grandes marcas, empresas varejistas, seriam obrigadas a apresentar os dados completos de seus fornecedores, sob pena de multa. 
Para arcar com os custos dessa fiscalização, seria possível recorrer a impostos, arrecadados dos consumidores, incidentes sobre as peças adquiridas. 
Se a fiscalização constatasse a utilização de mão de obra escrava na cadeia, aqueles agentes que se beneficiassem seriam penalizados de forma proporcional ao benefício auferido: o agente seria submetido a uma multa calculada em função de seu faturamento, tendo de pagar um valor que poderia variar entre 0,001% a 1% do faturamento anual da empresa, conforme arbitrado pela autoridade competente, considerando a gravidade das violações constatadas no caso concreto. Note-se que o prazo para pagamento de multa também deveria ser estabelecido pela autoridade competente, considerando um intervalo de tempo máximo definido em lei (por exemplo, a lei ou regulamentação poderia definir um intervalo de 12 a 60 meses).Dessa forma, por exemplo, se fosse constatado o trabalho escravo em uma oficina quarteirizada por uma grande varejista, a multa incidiria na grande varejista, no terceirizado e na própria oficina quarteirizada. Note-se que a penalidade seria estabelecida individualmente, conforme a responsabilidade de cada empresa, bem como o faturamento de cada agente. 
O valor obtido mediante o pagamento das multas seria destinado ao financiamento do órgão fiscalizador e à realização de campanhas para (i) conscientização da população a respeito do trabalho escravo; e (ii) campanhas para a integração e assistência aos imigrantes encontrados nas oficinas, em condições análogas às de escravo. 
Além da adoção de penalidades mais severas para a cadeia produtiva como um todo, consideramos importante a criação, mediante lei, de um certificado de boas práticas trabalhistas pelo mesmo órgão fiscalizador, certificado este representado por um selo de qualidade (a exemplo do selo do Procel de economia de energia, que identifica a eficiência energética de eletrodomésticos e tem certificação pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO). 
O selo seria concedido às empresas que passaram pela fiscalização sem qualquer tipo de ocorrência, e deveria ser auto - explicativo, além de ser visível na etiqueta da peça de roupa a ser comprada pelo consumidor.[24: Nosso grupo elaborou um exemplo de selo no Anexo J.]
Vale ressaltar que o selo aqui proposto não substitui a certificação de fornecedores da Associação Brasileira do Varejo Têxtil - ABVTEX, uma vez que esse certificado é voltado para seus fornecedores e seus subcontratados, com o objetivo de assegurar que estes estão aptos para participar da cadeia de produção das empresas varejistas signatárias dessa certificação. [25: http://www.abvtex.org.br/arquivos/regulamento_0914.pdf (último acesso em 21/05/2016, 17:14).]
Note-se que a criação do selo pressupõe a realização de uma campanha de divulgação, que ajudasse, em um primeiro momento, a informar os consumidores a respeito do selo e, posteriormente, utilizasse propagandas de lembrança para reforçar a ideia na cultura da população em geral. A campanha ensinaria o consumidor a procurar pelo selo nas peças que fosse comprar, para estimular uma mudança no comportamento de consumo dos indivíduos. 
A campanha poderia contar com parcerias com celebridades a favor da causa, bem como com a cooperação de órgãos governamentais a nível tanto municipal quanto estadual e nacional. Assim, propagandas sobre o selo de qualidade seriam veiculadas nas páginas de órgãos públicos e/ou de celebridades em redes sociais, em monitores de ônibus, estações de metrô e trem e nos próprios veículos. 
Seria importante que tais iniciativas fossem também realizadas em universidades e em eventos relacionados a moda, conscientizando as próprias pessoas que serão parte ou já fazem parte da indústria. 
Nos cursos relacionados a gestão e a moda, por exemplo, seria de suma importância abordar os processos da indústria e a mão de obra utilizada por ela, aproximando os alunos das condições em que os trabalhadores são submetidos e a realidade do mercado. Tal iniciativa seria uma forma de conscientizar agentes e profissionais com poder transformador na indústria. 
Nesse sentido, Flávia Aranha entende que a conscientização das próprias pessoas que fazem parte da indústria (ou que virão a fazer parte) é fundamental para gerar mudança: “essa geração nova, que está se formando agora, já está com uma cabeça melhor, mas a faculdade precisaria ter um programa melhor sobre isso, lidar mais com a realidade, olhar mais para o Brasil”.
Empresas que se comprometessem com tais campanhas, contribuindo monetariamente, poderiam receber incentivos fiscais do governo, como, por exemplo, isenção de imposto de renda, proporcionalmente calculado segundo a doação.
Destaque-se que essas campanhas não envolveriam somente a divulgação do selo e a conscientização da população, mas também poderiam conter iniciativas relacionadas à assistência do imigrante envolvido com o trabalho escravo. 
Tais iniciativas poderiam ser realizadas em parceria com entidades não governamentais, da sociedade civil. Assim, entidades como a Alinha e a Aliança Empreendedora poderiam contribuir. 
A exemplo do que já pratica Flávia Aranha, a assistência aos imigrantes em condições análogas ao trabalho escravo poderia ser realizada de forma a (i) gerar a consciência do valor do próprio trabalho e do tempo gasto para realizá-lo; e (ii) agregar conhecimento de gestão e técnica para confecção de roupas com maior valor agregado visto que, nas oficinas, os imigrantes são condicionados a desempenhar uma única função dentre tantas necessárias para construção da peça final. A ideia seria ensiná-los a confeccionar uma peça de roupa completa, do começo ao fim). 
Flávia Aranha aponta que esse tipo de assistência contribui para que costureiras tenham autonomia e possam ter suas próprias produções e clientes: “o conhecimento que elas tem faz com que elas sejam independentes e que elas não se submetam a nenhum tipo de condição que não seja favorável a elas” (conforme relato fornecido durante a vista ao seu ateliê e loja).
Vale observar, por fim, que as campanhas aqui mencionadas poderiam contar com a participação voluntária de estudantes de quaisquer cursos, bem como de outros interessados em combater
o uso de mão de obra escrava no País. 
7.2 Uma nova ética de consumo e produção
Conforme já exposto, a estrutura da cadeia produtiva e de distribuição têxtil e de confecção é orientada pelo comportamento de seus consumidores. Assim, para desestimular o uso de mão de obra escrava imigrante, é preciso tanto alterar a estrutura dessa cadeia quanto modificar o modo que os indivíduos consomem seus produtos. 
Além de penalidades e campanhas governamentais, entendemos ser necessário promover, concomitante, (i) a produção responsável e (ii) o consumo responsável, transformando o ato de consumir em um ato de cidadania tanto por parte do consumidor quando dos agentes envolvidos na cadeia de produção e distribuição dessa indústria.
Quanto à produção responsável, Ademir Antonio Ferreira aponta que o comportamento ético influencia o grau de confiança nas corporações por parte dos trabalhadores, do público, dos investidores - enfim, dos stakeholders em geral. Um comportamento antiético pode resultar na perda dessa confiança e, consequentemente, em grandes prejuízos para as empresas envolvidas. No caso da Zara, por exemplo, após as denúncias de utilização de trabalho escravo em 2011, a marca tornou-se um exemplo negativo. Na época, o escândalo se refletiu rapidamente no preço das ações de sua controladora, a Inditex, e gerou questionamentos sobre uma possível queda no seu marketshare. [26: LUSSIER, Robert N.; REIS, Ana Carla Fonseca; FERREIRA, Ademir Antonio. Fundamentos de Administração. 4a Ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010. ]
Assim, para conquistar a confiança dos stakeholders, as empresas poderiam adotar uma postura mais proativa, adotando medidas para tornar sua cadeias mais transparentes e oferecendo informações acessíveis aos seus consumidores e stakeholders. Além disso, empreendedores interessados em criar e investir em negócios eticamente corretos (como no caso da Flávia Aranha) poderiam educar seus próprios consumidores por meio de propagandas e ações de conscientização, o que ajudaria a associar sua imagem a práticas éticas, bem como reforçaria a posição da empresa nesse nicho. 
Nesse sentido, esclareceu Flávia Aranha (diante da pergunta sobre conseguir clientes após educá-los sobre o processo de produção de seu ateliê): “Sei que tem clientes que, às vezes, entraram pela vitrine e entraram aqui, mas se encantaram muito mais quando eles viram como é feito. [...] Quando ela tem essa consciência de ‘nossa, tem um ateliê, quantas pessoas estão trabalhando lá, tem panela [para o tingimento]’, mesmo que pra gente seja muito óbvio porque trabalhamos com isso faz muito tempo, muitos clientes não tem noção. [...] Com esse contexto, as pessoas acabam valorizando mais”.
Diante do exposto até o momento, para conquistar a confiança de seus stakeholders e, também, para conquistar clientes, as empresas poderiam fornecer mais informações sobre seu processo produtivo e estimular o uso de ferramentas que também ajudassem o consumidor a escolher melhor os produtos, adotando iniciativas como, por exemplo, (i) o aplicativo “Fabricado no Brasil”, oferecido pela ZARA, e (ii) o aplicativo “Moda livre”, criado pela ONG Repórter Brasil. [27: Mais sobre o aplicativo “Fabricado no Brasil” no Anexo H][28: Mais sobre o aplicativo “Moda Livre” no anexo I]
Note-se que tais iniciativas, além de conquistarem maior confiança por parte dos stakeholders, são ferramentas que estimulam o consumo responsável, porque promovem a conscientização dos consumidores, de modo prático, fácil e acessível. 
Nosso grupo entende que tais ferramentas poderiam ser expandidas, englobando mais empresas e assim permitindo uma visão geral do consumidor das opções de mercado. 
Adicionalmente, no caso de aplicativos como o da Zara, vale destacar que tais ferramentas deveriam ser amplamente divulgadas, para que o consumir saiba como utilizá-las e associe práticas éticas à marca. Para tanto, valeriam parcerias com celebridades, campanhas de divulgação na página da marca nas redes sociais, propagandas em rádios, televisão, etc. (conforme a disposição da marca em gastar com tais campanhas). 
No caso de aplicativos como o Moda Livre, as informações fornecidas pelas empresas deveriam ser corroboradas pelo governo (aliando-se por exemplo com o órgão mencionado na primeira parte da solução e suas fiscalizações), para que o consumidor não receba informações erradas e a iniciativa não corra o risco de ser desacreditada.
Por fim, além de iniciativas deão produção responsável, o modo de consumo também precisa ser alterado, como destacou Flávia Aranha, durante a nossa visita ao ateliê: “o mercado tem que se mexer para consumir menos. Isso é inevitável em todas as áreas. [...] A gente tem que consumir melhor e menor quantidade”.
Ou seja, consumir menos, adquirindo uma roupa de melhor qualidade, que dure mais dentro do guarda-roupa, como foi mencionado pela estilista, poderia resultar numa menor pressão por baixos custos, e reduzir o uso de mão de obra mal remunerada.
8. Considerações finais
Neste trabalho, buscamos desenvolver, em primeiro lugar, a problemática envolvendo o trabalho escravo, para, depois, elaborar possíveis linhas de atuação para solucionar, ou, melhor dizendo, minimizar a questão. 
É importante ressaltar que, conforme exposto neste trabalho, a questão do trabalho escravo é questão pública de nossa estrutura social, na medida em que tal problema depende vários ambientes de pequena escala, que se confundem e se interpenetram; isto é, a existência do trabalho escravo envolve diversas esferas, dependendo de nossa estrutura econômica e social, de nossa cultura de consumo e de produção, bem como a da configuração de nossas instituições. É por isso que qualquer solução que tenha a pretensão de ser absoluta deveria provocar alterações profundas em todas essas esferas.
Por essa razão, nossas soluções tomaram o viés mais abrangente possível, considerando a complexidade dos fatores que contribuem para a existência do trabalho escravo em nossa sociedade. Buscamos uma solução legislativa com o objetivo de alterar a configuração de nossas instituições, adotando penalidades para estimular mudanças no modo de produção dessa indústria. 
Além dessas mudanças estimuladas, principalmente, por nossas instituições, buscamos apontar a vantagens de iniciativas voluntárias por parte das empresas do setor, demonstrando, a partir do exemplo de Flávia Aranha, que tais iniciativas são possíveis, mais do que isso, viáveis. 
Em paralelo às iniciativas para promover mudanças em nosso modo de produção, as campanhas de conscientização sugeridas foram sugeridas por nosso grupo justamente para aproximar os consumidores da realidade dos imigrantes que trabalham em condições análogas às de escravo, estimulando uma cultura de consumo consciente, em contraposição ao fast fashion e o consumismo, que reinam nos dias atuais. 
Por fim, consideramos também a situação do trabalhador imigrante em condições análogas de escravo, e tentamos delinear uma solução de empoderamento desses grupos, mediante (i) sua capacitação em termos de habilidades técnicas de costura, para ensinar o trabalhador a realizar peças completas (ou seja, o trabalhador saberá fazer tudo, e não somente a parte definida pela cadeia de produção); (ii) a demonstração do valor do próprio trabalho e do tempo gasto para realizá-lo; e (ii) o ensino técnicas de gestão, para que o trabalhador consiga atuar de forma mais independente da cadeia produtiva.
Anexo A - Artigo 140 do Código Penal Brasileiro 
CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. (Redação dada pela Lei nº 10.803,
de 11.12.2003)
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
I - contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
 
Anexo B - Fiscalização flagra exploração de trabalho escravo na confecção de roupas da Renner
Por Igor Ojeda | 28/11/14
Costureiros bolivianos viviam sob condições degradantes em alojamentos, cumpriam jornadas exaustivas e estavam submetidos à servidão por dívida em oficina terceirizada na periferia de São Paulo (SP)
 	São Paulo – A Renner, rede varejista de roupas presente em todo o Brasil, foi responsabilizada por autoridades trabalhistas pela exploração de 37 costureiros bolivianos em regime de escravidão contemporânea em uma oficina de costura terceirizada localizada na periferia de São Paulo (SP).
 	Os trabalhadores viviam sob condições degradantes em alojamentos, cumpriam jornadas exaustivas e parte deles estava submetida à servidão por dívida. Tais condições constam no artigo 149 do Código Penal Brasileiro como suficientes – mesmo que isoladas – para se configurar o crime de utilização de trabalho escravo.
 	A fiscalização, realizada entre outubro e novembro, foi comandada pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP) e contou com a participação do Ministério Público do Trabalho e da Defensoria Pública da União.
 	Os auditores fiscais à frente do caso consideram a Renner responsável pela redução dos trabalhadores a condições análogas a de escravos por entenderem que a empresa detém o controle total sobre a produção de roupas na oficina fiscalizada, cujo serviço era intermediado por duas empresas fornecedoras da rede varejista. “
[...]
 	“Mesmo que a Renner não tenha encontrado indícios de problemas, no nosso entender tinha condições, sim, de tomar providências. No mínimo contratar fornecedores que tivessem condições totais de tocar a produção. A empresa sabia que os fornecedores iriam transferir a produção para uma camada inferior”, afirma Faria. A confecção terceirizada costurava roupas para as linhas Cortelle, Blue Steel, Blue Steel Urban e Just Be, todas da Renner. Durante a operação, foram encontradas um total de 35.019 peças já costuradas ou a costurar, com as respectivas notas fiscais.
Alojamentos degradantes
 	Após análise de documentação e coleta de depoimentos das vítimas, os auditores fiscais constataram que a confecção fornecia alojamento e alimentação aos trabalhadores em troca de um abatimento em seus rendimentos, prática não permitida pela legislação brasileira. A gerente da oficina chegou a mentir à fiscalização, ao afirmar que os funcionários custeavam diretamente a comida e a moradia.
 	A dona da oficina mantinha três alojamentos nas proximidades da confecção. Na avaliação dos integrantes da fiscalização, o objetivo era exercer o controle total sobre o horário de trabalho dos costureiros, evitando as demoras nos deslocamentos ao serviço ou nas pausas para o almoço, e gerar uma relação de dependência deles com os patrões. Foram encontrados comprovantes de pagamentos dos aluguéis e das contas de luz e água feitos pela proprietária da oficina e cópias dos contratos de locação em nome de ex-funcionários, mas que estavam em posse dos gerentes. De acordo com depoimentos das vítimas, a patroa coagia os trabalhadores a assinarem os acordos.
 	A reportagem visitou o maior dos alojamentos, um edifício de quatro andares a um quarteirão da oficina. No térreo, uma placa indica que ali funciona um templo evangélico. Os mais de 20 trabalhadores e trabalhadoras, alguns com seus filhos, se apertam nos três pavimentos superiores, espalhados por diminutos dormitórios formados por divisórias de madeira, sob completa falta de higiene e privacidade, risco de incêndio e explosão de botijões de gás, e alimentos armazenados em locais impróprios e cheios de insetos. [...]
 	Em um dos espaços, um fogão e um botijão de gás funciona ao lado de um vaso sanitário. Os vários botijões instalados no prédio, aliás, representam risco de explosão, pois estão acomodados em locais fechados e com pouca ventilação. O lixo não é condicionado em recipientes com tampa, causando mau cheiro e atraindo insetos. Os banheiros são coletivos e se encontram em más condições de higiene. E as paredes apresentam grande quantidade de mofo e infiltrações.
 	Os alimentos são armazenados de forma precária: no chão ou sobre móveis, sem vedação, e, inclusive, no interior de dormitórios. Foram encontrados também produtos vencidos ou à temperatura ambiente quando deveriam ser refrigerados. Para piorar, estavam expostos à contaminação, por conta da grande quantidade de baratas existentes, inclusive, dentro de geladeiras. Os integrantes da fiscalização apontaram, ainda, que a alimentação era muito pobre em nutrientes: eram fornecidos apenas arroz, feijão, salsicha e verduras. Em depoimentos, muitos trabalhadores reclamaram da qualidade da comida oferecida.
 	Na visita à oficina, também acompanhada pela reportagem, a fiscalização constatou a falta de aterramento elétrico das máquinas de costura, instalações elétricas improvisadas, causando riscos de incêndio, e iluminação precária nos banheiros. Além disso, não havia proteção das partes móveis das máquinas; os trabalhadores costuravam próximos de polias e correias, correndo o risco de amputação de membros.
Jornada exaustiva, servidão por dívida e tráfico de pessoas
 	Os 37 trabalhadores bolivianos cumpriam uma jornada de trabalho exaustiva, decorrente do ritmo de trabalho imposto pela oficina, que exigia o atendimento rigoroso aos prazos. Segundo os integrantes da fiscalização, o registro de ponto, que apontava uma média de oito horas diárias de trabalho, era fraudado. Na realidade, em geral as vítimas entravam às 7 horas e saíam às 21 horas, com intervalo para almoço. Aos sábados, o expediente era das 7 horas às 12 horas. “Há ainda relatos de trabalhadores laborando desde às 6h30min até a meia-noite, e relatos de trabalhos aos sábados em horário estendido e aos domingos e feriados”, diz o relatório da SRTE/SP. Embora a oficina tenha afirmado que pagava salários mensais e fixos aos seus costureiros e estes assinassem holerites, as autoridades trabalhistas apuraram que na verdade eles recebiam por produção. Os valores por peça variavam de R$ 0,30 as mais simples a R$ 1,80 as mais elaboradas.
 	Os integrantes da equipe de fiscalização concluíram também, após extensa análise de documentação e tomada de depoimentos dos trabalhadores, que estes foram vítimas, além de redução a condições análogas à escravidão, de aliciamento em seu país de origem. “O aliciamento ocorreu com traços de logro, simulação, fraude e outros artifícios para atrair e manter os trabalhadores em atividade na oficina de costura fiscalizada, movimentar mão de obra de um lugar para o outro na América do Sul, com o objetivo único de lucro, conseguido em cima do engano do trabalhador e de sua utilização como mão de obra similar à de escravos, em alguma parte do ciclo produtivo da empresa autuada”, diz o relatório da SRTE/SP.
 	De acordo com os auditores-fiscais, por ficar caracterizado o alojamento e acolhimento de trabalhadores explorados em regime de escravidão contemporânea, “conclui-se também pela ocorrência de tráfico de pessoas para fins de exploração de trabalho em condição análoga à de escravo”. Além disso, pelo fato
de tanto a moradia quanto a alimentação serem fornecidas diretamente pela oficina e custeadas pelos funcionários por meio de sua produção, fica caracterizada a prática de servidão por dívida. Além do sistema conhecido como “terça parte”, foram encontrados recibos de salários e vales “que demonstram o desconto indevido de taxas cobradas aos seus empregados, retenção de salários e até casos em que a dívida ultrapassa os ganhos dos trabalhadores”.
Para relato na íntegra acesse:
http://reporterbrasil.org.br/2014/11/fiscalizacao-flagra-exploracao-de-trabalho-escravo-na-confeccao-de-roupas-da-renner/
Anexo C - De La Paz para São Paulo, a história de exploração de uma vítima do tráfico de pessoas
Por Bianca Pyl | 27/07/12
Boliviano resgatado conta à Repórter Brasil em detalhes como, frente a dificuldades financeiras, foi parar em uma oficina de costura clandestina no Brasil 
 	Ronaldo* trabalha desde os 14 anos. Com esta idade, ele fugiu de casa e da violência do padrasto. Desde então, mantém pouco contato com os quatro irmãos e o restante da família. “Fui embora com a roupa do corpo, sem documento, sem roupa, sem nada”.
 	No seu último emprego, em La Paz, na Bolívia, ele recebia como garçom em uma pensão, onde vivia, pouco mais de R$ 130 por mês (ou 460 bolivianos, a moeda local). Foi lá que recebeu um convite para trabalhar no Brasil.
 	Ele foi um dos trabalhadores libertados de condições análogas às de escravos na última fiscalização realizada pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP). Ele costurava para a marca Talita Kume.
 	Ronaldo foi libertado, mas ao contrário de todos os outros costureiros, não compareceu ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) no dia seguinte ao resgate, fato que intrigou a equipe de fiscalização. Ele se apresentou somente quando a empresa autuada assinou a Carteira de Trabalho e da Previdência Social (CTPS) e se dispôs a pagar as verbas rescisórias, uma semana depois. Na hora de preencher as Guias do Seguro Desemprego, ao ser questionado sobre sua idade, ele abriu o jogo: “não tenho documentos”.
 	[...]
Tráfico de pessoas
 	[...]
 	Na sede do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, ele contou que o homem que o trouxe ao Brasil que o orientou a utilizar documento de outra pessoa para entrar no país. O coiote, contou, ofereceu trabalho em uma segunda-feira de janeiro de 2011 e na quinta-feira da mesma semana o levou ao Brasil.
 	Atraído por promessas de ótimo trabalho e boas condições de moradia, o trabalhador viu-se com duas opções logo ao chegar: pagar pela viagem ou trabalhar durante um ano para o coiote sem receber nada e com a condição de não procurar emprego em outro local. Sem nenhum dinheiro, acabou se submetendo às restrições impostas. As condições flagradas pela fiscalização no último dia 19 de junho não são muito diferentes das que Ronaldo, com 18 anos recém completos, viveu em diferentes oficinas de costura durante um ano e seis meses, período em que está no Brasil.
 	A possibilidade de conseguir trabalho em outro país é uma chance de mudar de vida e, quem proporciona isso, mesmo que de forma ilegal, é visto com gratidão. Muitos dos trabalhadores tornam-se fiéis aos donos de oficinas que financiam a entrada no Brasil. [...]
Rota 
 	Ronaldo foi de ônibus de La Paz para CochaBamba, de lá seguiu para Santa Cruz de La Sierra, passou por Puerto Quijaro, de onde seguiu para Corumbá, no Mato Grosso Sul, e finalmente para São Paulo. Quando estava na fila da fronteira entre Brasil e Bolívia, o coiote entregou para Ronaldo um documento, sem dizer nada. “Eu não entendi, não sabia como ia conseguir passar, só mostrei para polícia e passei”. Assim que cruzou a fronteira, o documento foi tirado de Ronaldo. Trata-se da identidade de outra pessoa.
 	A condição de imigrante sem documento é um elemento determinante nesta relação entre patrão e empregado – relação de dependência e coerção. O trabalhador torna-se vulnerável à exploração. O medo de ser deportado ou até mesmo preso pelas autoridades brasileiras é constante e usado pelo empregador como forma de coerção. Contudo, a falta de informação é que mantém esta relação, já que o Brasil possui Acordo de Livre Residência com o Mercosul, decretos 6.964 e 6.975 de 2009.
 	De acordo com Marina Novaes, advogada do Centro de Apoio ao Migrante (Cami), o imigrante consegue um registro de estrangeiro provisório, válido por dois anos, caso não tenha cometido nenhum crime no país de origem ou destino. “Estar sem documento em outro país é considerado uma infração administrativa e não um crime, nenhum ser humano é ilegal”, explica Marina.
[...] 
Ameaça de morte
 	Ronaldo entende bem português, mas não fala fluentemente. Ele contou em detalhes seus primeiros dias aqui no Brasil [...]. O coiote que o trouxe para o Brasil tinha uma oficina na Vila Guilherme, Zona Norte de São Paulo. No local, ele aprendeu a costurar, ensinado pelo próprio dono da oficina. Ronaldo costurava retalhos o dia todo, das 7 às 23 horas e, segundo relatou, não saia da oficina para nada. Os dias foram passando e o dono da oficina começou a ficar mais exigente e a cobrar mais velocidade. “Ele ficou mais rígido”, resumiu.
 	Duas semanas depois de chegar a São Paulo, Ronaldo teve uma dor de dente e conseguiu emprestado com uma costureira R$ 3 para comprar remédio. Ele saiu em busca de uma farmácia, mas acabou se perdendo. “Fiquei das 7 da manhã até as 2 da tarde rodando, rodando e não achei o caminho. Não sabia pedir ajuda”. Ronaldo pediu ajuda para o primeiro boliviano que encontrou na rua. Por sorte, o compatriota também estava procurando trabalho. “Ele não estava recebendo nada pelo trabalho e decidiu ir embora. Foi a minha sorte. Saímos em busca de uma oficina para costurar”.
 	Os dois encontraram trabalho em uma oficina em Guarulhos, mas a situação era pior. A dona da oficina exigia muito e ele trabalhava até de madrugada cortando tecidos para fazer edredom. “Eu ficava doente por causa do pó do tecido”, relatou. O local era mais úmido e ele sentia muitas dores nas costas, conta exibindo a nuca e a lombar. “A comida também era muito ruim”. O pagamento pelo trabalho não era por produção, ele ganhava de R$ 250 a R$ 450 por mês, mesmo tendo trabalhado até de madrugada todos os dias. Ronaldo permaneceu trabalhando na oficina do final de janeiro até maio, quando não aguentou mais a situação e saiu. Ele conseguiu outro trabalho, desta vez, próximo ao metrô Armênia, linha 1-azul do metrô de São Paulo. Mas a situação era mais grave: os trabalhadores recebiam ameaças o tempo todo no local. “O dono ameaçava de bater na gente e não pagava”. Depois de trabalhar um mês na oficina, ele decidiu cobrar pelo trabalho e foi ameaçado de morte.
Reencontro com o coiote
 	Mais uma vez Ronaldo viu-se sem saída. “Eu decidi ir na Feira da Kantuta, conseguir outro trabalho”, disse, olhando fixo para quem o ouvia. Mas em vez de um emprego, Ronaldo acabou reencontrando o coiote que o trouxe para o Brasil e que cobrou a dívida de R$ 450 da viagem. “Eu não tinha dinheiro, então consegui outro emprego e pedi para meu novo patrão pagar esta dívida para mim”, assim mais uma vez o jovem viu-se preso a uma dívida que o obrigaria a trabalhar sem receber nada.
 	Desta vez o patrão tornou-se um amigo. “Ele era muito bom comigo, só saí de lá porque não tinha mais trabalho”. Ronaldo ficou nove meses no local, mas teve que sair, pois não havia mais encomendas. Em outra oficina permaneceu por um mês e recebeu R$ 100 pelo serviço. Foi então que acabou na oficina onde foi libertado de condições análogas às de escravos no último dia 19 de junho.
 	Depois de conceder este depoimento, ele retornou para casa onde funcionava a oficina em que foi resgatado. De lá, foi embora sem dizer para onde ia. Não registrou nenhum Boletim de Ocorrência para que os crimes denunciados (tráfico
de migrantes e trabalho análogo ao de escravos) fossem apurados. Desta vez pelo menos, Ronaldo saiu com um documento, a carteira de trabalho provisória, além das verbas rescisórias.
Ele declarou que não pretende voltar para a Bolívia.
*Nome fictício para proteger a identidade da vítima
**Matéria atualizada para corrigir informações na tarde desta quarta-feira, 31 de julho. Corumbá fica em Mato Grosso do Sul e não no Mato Grosso, como colocado anteriormente.
 
Para relato na íntegra, acesse:
http://reporterbrasil.org.br/2012/07/de-la-paz-para-sao-paulo-a-historia-de-exploracao-de-uma-vitima-do-trafico-de-pessoas/
 
Anexo D - Visita ao ateliê e à loja 
O grupo com o objetivo de absorver o maior número de informações sobre o trabalho realizado pela estilista Flávia Aranha visitou seu ateliê e loja, no dia 03/06/2016, ambos localizados no bairro Vila Madalena, zona oeste de São Paulo (SP). A visita iniciou-se na loja, onde foi possível fotografar as peças da estilista enquanto ela concedia mais informações sobre sua produção.
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 I – Peças de roupa disponíveis loja localizada na Vila Madalena
 II - Uma das araras das peças disponíveis na loja localizada na Vila Mariana
Flávia explicou que sua produção é feita, iniciando pela matéria prima, que vêm de outras cidades e até de outras regiões do Brasil, adquiridas tanto de comunidades de artesãos, como de indústrias. As embalagens, por exemplo, são confeccionadas por um grupo de São Bernardo composto por mulheres, o projeto social Retece. Outro exemplo é o Vale do Urucuia (MG), onde o processo de costura local é muito simples, mas, por outro lado, há uma cadeia produtiva (desde o plantio do algodão até a tecelagem) muito sofisticada.
Sua produção acontece, em parte, no seu ateliê (localizado atrás da loja), com as costureiras contratadas pelo regime de CLT. A outra parte das peças é confeccionada por uma rede de costureiras, muitas de regiões periféricas, mas com alta capacidade técnica, para as quais é oferecido todo o auxílio para adaptar-se ao regime de “home office”, facilitando a conciliação da vida pessoal com a profissional. Note-se que essas costureiras que trabalham fora do ateliê costuram as peças do começo ao fim, embora já vá cortada em moldes. 
“A gente tem muito essa preocupação de não terceirizar e de não mandar para grandes confecções, porque a gente acha que é muito importante o artesão, para ele ser valorizado, ele ter autonomia e conhecimento de como ele faz uma roupa do começo ao fim. [...] A nossa ideia é que essa rede de costureiras que a gente construiu, que elas tenham esse conhecimento, essa autonomia, porque elas não dependem também só da gente”, contou Flávia Aranha. 
Flávia destacou que também é de suma importância entender a realidade e a tradição do local em que vivem as pessoas que disponibilizam as matérias primas e participam da confecção das peças, a fim de desenvolver o tipo de trabalho mais adequado para o lugar, incentivando o crescimento pessoal ou da comunidade, com consciência dos seus pontos fortes e de seu potencial produtivo, e buscando também aperfeiçoar processos para conseguir, por vezes, um preço mais atrativo. 
Justamente por tentar entender as realidades locais, Flávia cria uma relação de proximidade com seus colabores, procurando sempre uma relação de benefício mútuo. A designer observa que essa ética de trabalho, mesmo que mais cara e mais demorada, surte efeito, inclusive, no modo como o valor do trabalho e do tempo são percebidos pelos artesãos.
Nesse sentido de valorização do trabalhador, Flávia Aranha e sua equipe estimulam a formalização do trabalho de seus colaboradores autônomos, integrando essas pessoas à rede bancária ou ajudando a obter o cadastro de Microempreendedor Individual (MEI). Note-se que essa iniciativa passa também por instituições como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (SEBRAE). 
Ao passarmos para o ateliê propriamente dito, tivemos oportunidade de presenciar etapas da cadeia produtiva que ocorrem no lugar, como, por exemplo, o recorte de moldes, os tecidos a serem utilizados e o trabalho das costureiras do ateliê.
III - Recorte dos moldes das peças para costura
	
	
IV – Tecidos e linhas a serem usados na confecção das peças
V – Costureira do ateliê
Flávia mencionou, durante essa parte da visita, o imediatismo do consumo e falta de consciência dos consumidores do processo produtivo de uma peça, que vai desde o plantio do algodão, por exemplo, até a distribuição na loja. Atentando-se, novamente, para a importância da informação e na comunicação para os diversos tipos de pessoas e contextos de vida. “Falar sobre isso já é alguma coisa, porque às vezes é isso: você está numa cidade que ninguém nunca falou sobre isso [trabalho escravo e problemas da indústria têxtil], então você nem pensa. [...] É o jeito de fomentar discussões e chegar a soluções” nos contou a estilista. 
Posteriormente, acompanhamos o processo de tingimento das peças, em panela fervente, com tanino, material retirado de casca de árvores e que dá a cor marrom para as peças. E em seguida, vimos a secagem das roupas.
VI – Peças passando pelo processo de tingimento 
VII – Tingimento com altas temperaturas em 100% de tanino
	
	
VII – Peças passando pelo processo de secagem pós tingimento
Voltando a loja, Flávia mencionou acreditar que “nunca vai conseguir produzir uma camiseta, que seja a mais básica, por 19 reais pra uma empresa ter lucro. Isso nunca. Porque temos que abrir os custos, o tempo do trabalho, desde o plantio e são tanto processos, que é inviável alguém dizer que ela está sendo justa, sendo que metade desses 19 reais é lucro da empresa”. E acrescenta “que a maior tecnologia, a maior eficiência não chega nisso. Então a gente não tem a pretensão de chegar nesse custo”. 
Ao final, Flávia contou como seus sapatos e bolsas são produzidos. No caso do primeiro, são produzidos manualmente por um artesão do Tatuapé. O processo é feito integralmente por esse artesão, desde o corte do molde, com uma forma de madeira, até a costura. As bolsas, por sua vez, são feitas por outro artesão, que possui um ateliê em casa, a exemplo das costureiras. 
Anexo E - Slow Fashion: consumo consciente e responsável
Na contramão do fast fashion, temos o movimento slow fashion. O movimento, criado pela inglesa Kate Fletcher, consultora e professora de design sustentável do britânico Centre for Sustainable Fashion (inspirado no movimento Slow Food), pretende mostrar uma alternativa à produção em massa, uma forma de consumir moda de maneira sustentável e consciente (retomando a conexão com a maneira em que os produtos são produzidos e valorizando a diversidade e a riqueza das tradições).
O slow fashion representa todas as coisas “eco”, “ética” e “verdes” em um movimento unificado. Incentiva a tomada de tempo para garantir uma produção de qualidade, para dar valor ao produto e contemplar a conexão com o meio ambiente. Emerge, então, como um modelo de moda sustentável, que incentiva a consciência ética.
Alguns pontos que o movimento slow fashion defende são: (i) a adoção de um olhar abrangente e holístico, ou seja, reconhecer que os impactos das escolhas dos consumidores afetam o ambiente e as pessoas, assim como a decisão dos produtores, designers, fabricantes e varejistas; (ii) a redução do consumo, repudiando a imagem da moda como algo descartável, bem como a ideia do consumo como uma fonte de superação de frustrações; (iii) a defesa das ideias de “qualidade sobre quantidade”e “menos é mais”; (iv) a democratização da moda e diversidade ecológica, social e cultural; (v) a construção de relações de confiança entre produtores e co-produtores; (vi) valorização da cultura local, por meio da utilização de materiais e recursos locais sempre que possível; (vii) a opção por peças atemporais por meio do uso de tecidos de alta qualidade (o que contribui para um maior tempo de uso das roupas); e (ix) o preço real das roupas – isto é, preços que reflitam
seu real custo, considerando o uso de recursos de forma sustentável, bem como salários justos.
Anexo F - Entrevista Flávia Aranha
A mãe, psicanalista, e o pai, empresário, criaram Flávia em um ambiente voltado para arte, desenho, dança e natureza, estimulando o seu lado criativo. Entretanto, foi com a avó costureira que ela deu os primeiros passos em direção à criação de roupas. Aos 16 estudou moda no colégio Central Saint Martin, em Londres, mais tarde, no Brasil, se formou pela Faculdade Santa Marcelina.
Apesar do vínculo com questões ambientais e sociais, Flávia iniciou a carreira na empresa Ellus, onde adquiriu experiência em gestão comercial e conheceu de perto o efeito da indústria têxtil nos países subdesenvolvidos, cuja mão de obra é mal remunerada e trabalha em regimes análogos a escravidão. A partir disso, Flávia resolveu inovar: em 2009 criou a própria grife que leva seu nome. Mais do que roupas, a estilista entrega valores diferenciados ao consumidor, sustentando um conceito de “slow fashion” baseado em sustentabilidade e ética na cadeia produtiva.
A Entrevista com a estilista foi realizada via e-mail, e segue a seguir:
Entrevista recebida 23 de maio de 2016
Tanto como estilista quanto como empreendedora, você inovou na forma de fazer moda e hoje entrega produtos diferenciados aos seus consumidores. Quando e como esta ideia surgiu? Qual foi a sua maior dificuldade em colocá-la em prática e torná-la rentável para todos os envolvidos?
Resposta: De alguma maneira esse ideal sempre esteve presente, mas trabalhar na grande indústria e conhecer de perto a dura realidade de centros produtivos na China e Índia foi o estopim. Mas produzir de maneira ética e sustentável em meio a um mercado que muitas vezes te impõe o contrário exige muito jogo de cintura, sempre.
Você deixou um emprego, considerado como “convencional”, numa marca brasileira para se engajar num projeto próprio, voltado para uma produção sustentável e para uma ética trabalhista muito forte. As pessoas do seu convívio, ao ficarem sabendo do seu projeto, te apoiaram? Principalmente aquelas ligadas ao setor têxtil e colegas de profissão.
Resposta: A ideia demorou um pouco para ser aceita. No início, há 7 anos atrás, pouco se falava sobre moda sustentável e tingimento natural em escala industrial. Mas aos poucos fui quebrando alguns preceitos, e preconceitos, para hoje me tornar referência no assunto.
Sua proposta de vender roupas que têm toda cadeia produtiva organizada de forma ética requer muito esforço e demanda cuidado nas suas escolhas. Um exemplo disso é a pigmentação das roupas: o preto e algumas outras cores são difíceis de alcançar. Você acha que isto te limita de alguma forma ao criar uma coleção?
Resposta: Mais do que um limite, vejo como um desafio. Criar dentro de alguns moldes exige um exercício contínuo de criatividade, testando possibilidades que de início parecem barreiras, mas que com o tempo se mostram caminhos abertos, infinitos em possibilidades. É só uma forma diferente de olhar as coisas.
A cadeia produtiva envolve muitas pessoas, como estilistas, modelos e artistas para propaganda e outros agentes pouco citados quanto a responsabilidade no que diz respeito à ética na produção. Um caso recente é o da cantora Beyoncé, garota propaganda da marca Ivy Park, que deixou os fãs indignados quando a marca citada foi denunciada por pagar US$ 6,17 por dia para costureiras no Sri Lanka. Este salário é quase o triplo do mínimo no país, mas ainda é pouco comprado ao preço médio das peças de 140 dólares. Você acredita que as pessoas envolvidas na propaganda têm certo grau de responsabilidade ao ajudar promover, às vezes até em escala global, e vender produtos que utilizam mão de obra análoga à escrava? E os estilistas? Alguma ação poderia ser feita para gerar um maior engajamento por parte desses agentes no combate ao trabalho escravo?
Resposta: Especialmente quando nos referimos às grandes marcas atuantes no modelo fast fashion, há uma distinção e, muitas vezes, uma distancia enorme entre quem cria a roupa e quem pensa no marketing e propaganda dessas empresas, que têm de fato uma difusão global. Em nosso caso, a escala nos permite um controle sobre todas as etapas da cadeia, uma vez que tudo é feito localmente – ou no ateliê, ou muito próximo. A ética na produção deveria ser um preceito básico, não só para os envolvidos na cadeia produtiva, mas também para os consumidores finais, que cada vez mais têm acesso à informação. O engajamento parte daí, da informação e do que cada um escolhe fazer com ela.
Na sua visão, há algum avanço quanto a não utilização de trabalho escravo por parte das grandes empresas de fast fashion no Brasil? Da mesma forma que você produz de forma ética, seria possível que estas empresas tivessem uma produção consciente e diminuíssem os custos, tornando os produtos mais acessíveis a população com menor poder aquisitivo?
Resposta: Esse é um dos grandes paradigmas criados pelo próprio modelo fast fashion. Fazer roupa custa caro. Comprar roupas, antes desse modelo, custava muito mais. O encantamento pela variedade a preços baixos é o que sustenta esse sistema. Mas é preciso olhar com atenção para reais custos de tudo. Encontrar matérias primas de qualidade, que durem mais e não degradem o meio ambiente em processos extremamente poluentes, remunerar de forma justa todos os envolvidos na cadeia, valorizar nosso cenário nacional... tudo isso tem um custo bastante elevado. As externalidades negativas do sistema fast fashion são absurdas, e o que custa pouco para o consumidor final, acaba custando muito ao meio ambiente e ao outro extremo da cadeia, que são os trabalhadores da indústria têxtil em geral.
A população, de modo geral, desconhece os problemas relacionados ao fast fashion. Quais medidas podem ser adotadas que surtiram efeito, resultando numa mudança do comportamento do consumidor brasileiro?
Resposta: A informação é o meio mais poderoso, sempre. É preciso falar sobre o sistema, discutindo seus modos de maneira acessível ao grande público. Algumas ações, como o Fashion Revolution Day, e documentários, como The True Cost, são belos exemplos disso.
O consumidor médio pode não se preocupar tanto com as cadeias produtivas éticas e sustentáveis. O perfil dos seus consumidores sai da regra ou muitos ainda pensam apenas no design e na qualidade das peças? No início, você encontrou alguma resistência por parte deles?
Resposta: Ainda que a maioria de nossas clientes valorize nossos processos e tenha consciência da cadeia produtiva, o design e a qualidade das peças são essenciais. Não só para elas, para nós também. Mais que conceito, fazemos e vendemos roupas.
Você considera que o consumo sustentável no setor da moda é ou vai ser uma tendência cada vez mais forte, contrapondo-se ao modelo fast fashion? Se sim, de que maneira você acredita que isso ocorrerá? Quais seriam então suas ações para lidar com maior demanda, ou mesmo com a entrada de mais concorrentes sustentáveis no mercado?
Resposta: A busca por peças autorais e de qualidade, em meio à massificação do fast fashion, é uma tendência, algo que vivenciamos em nosso cotidiano. Dar conta dessa demanda exige um planejamento preciso e foco constante em nossa missão e valores.
No Brasil, temos a marca de bolsa artesanal Catarina Mina, a qual coloca em prática conceitos de transparência, expondo todos seus custos e de sustentabilidade, valorizando orgânicos. Ela propicia também um impacto positivo na vida das artesãs, adaptando o trabalho para a residência delas, mostrando certo grau de preocupação com o modelo de trabalho. Há alguma outra iniciativa brasileira que você goste? E no exterior, existem iniciativas interessantes que você gostaria de ressaltar?
Resposta: A Catarina Mina é um ótimo exemplo em nosso país. Outra marca que gostamos muito é a gaúcha Insecta Shoes, que produz calçados reutilizando matéria prima de descarte, como peças de roupa vintage e garrafas pet recicladas. O que diferencia essas marcas no mercado está
além do conceito, porque criam produtos de qualidade, duráveis e bonitos.
Você exporta seus produtos para países europeus e também já participou de eventos fora do Brasil. A seu ver, a preocupação de consumidores destes países difere muito de brasileiros ou há pouca diferença entre nosso mercado e o internacional?
Resposta: O mercado de moda sustentável na Europa também é um mercado de nicho, ainda que mais abrangente que nosso nacional. Os consumidores que buscam por esse tipo de produto são mais atento à algumas nuances que aqui muitas vezes passam desapercebidas. E há uma valorização maior dos processos, especialmente se naturais e artesanais como os aplicados em nossa fabricação.
Há dois eventos o Green Showroom e a Ethical Fashion que promovem conceitos parecidos com o que você desenvolve. Qual a importância na sua visão desses eventos para a moda e divulgação de modelos éticos?
Resposta: É preciso unir para transformar. As marcas de slow fashion são minúsculas se comparadas às do fast fashion, por isso têm um poder de barganha e visibilidade muito menores. Mas temos um potencial enorme e aos poucos vamos transformando nosso entorno e causando alguns tremores no sistema vigente.
Em seu ateliê, suas costureiras são contratadas sob o regime da CLT? Você considera a CLT uma legislação apropriada para as necessidades do setor têxtil?
Resposta: Todas nossas costureiras, bem como nossos colaboradores, são contratados sob regime da CLT. É uma forma de garantir seus direitos básicos e produzirmos de maneira mais justa.
Anexo G - Lei Estadual n˚ 14.946/2013
LEI Nº 14.946, DE 28 DE JANEIRO DE 2013
(Projeto de lei nº 1034/11, do Deputado Carlos Bezerra - PSDB)
Dispõe sobre a cassação da inscrição no cadastro de contribuintes do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação - ICMS, de qualquer empresa que faça uso direto ou indireto de trabalho escravo ou em condições análogas
O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:
Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:
Artigo 1º - Além das penas previstas na legislação própria, será cassada a eficácia da inscrição no cadastro de contribuintes do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual intermunicipal e de comunicação (ICMS) dos estabelecimentos que comercializarem produtos em cuja fabricação tenha havido, em qualquer de suas etapas de industrialização, condutas que configurem redução de pessoa a condição análoga à de escravo.
Artigo 2º - O descumprimento do disposto no artigo 1º será apurado na forma estabelecida pela Secretaria da Fazenda, assegurado o regular procedimento administrativo ao interessado.
Artigo 3º - Esgotada a instância administrativa, o Poder Executivo divulgará, através do Diário Oficial do Estado, a relação nominal dos estabelecimentos comerciais penalizados com base no disposto nesta lei, fazendo nela constar, ainda, os respectivos números do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), endereços de funcionamento e nome completo dos sócios.
Artigo 4º - A cassação da eficácia da inscrição do cadastro de contribuintes do ICMS, prevista no artigo 1º, implicará aos sócios, pessoas físicas ou jurídicas, em conjunto ou separadamente, do estabelecimento penalizado:
I - o impedimento de exercerem o mesmo ramo de atividade, mesmo que em estabelecimento distinto daquele;
II - a proibição de entrarem com pedido de inscrição de nova empresa, no mesmo ramo de atividade.
§ 1º - As restrições previstas nos incisos prevalecerão pelo prazo de 10 (dez) anos, contados da data de cassação.
§ 2º - Caso o contribuinte seja optante pelo Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições (Simples Nacional), instituído pela Lei Complementar federal nº 123, de 14 de dezembro de 2006, a cassação da eficácia da sua inscrição no cadastro de contribuintes do ICMS, prevista no artigo 1º, implicará cumulativamente:
1 - a perda do direito ao recebimento de créditos do Tesouro do Estado, instituído pelo Programa de Estímulo à Cidadania Fiscal do Estado de São Paulo, de que trata a Lei nº 12.685, de 28 de agosto de 2007;
2 - o cancelamento dos créditos já calculados ou liberados, referentes ao Programa de Estímulo à Cidadania Fiscal do Estado de São Paulo, citado no item 1, independentemente do prazo previsto no § 2º do artigo 5º da Lei nº 12.685, de 28 de agosto de 2007.
Artigo 5º - Passam a vigorar com a redação que se segue os dispositivos adiante indicados da Lei nº 12.685, de 28 de agosto de 2007:
I - o inciso I do artigo 5º:
“I - utilizar os créditos para reduzir o valor do débito do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) do exercício seguinte, relativo a veículo de sua propriedade;” (NR)
II - o inciso III do artigo 5º:
“III - solicitar depósito dos créditos em conta corrente ou poupança de sua titularidade, mantida em instituição do Sistema Financeiro Nacional.” (NR)
Parágrafo único - Fica revogado o inciso II do artigo 5º da Lei nº 12.685, de 28 de agosto de 2007.
Artigo 6º - As despesas decorrentes da execução desta lei correrão à conta de dotações orçamentárias próprias, suplementadas se necessário.
Artigo 7º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Palácio dos Bandeirantes, 28 de janeiro de 2013.
GERALDO ALCKMIN
Andrea Sandro Calabi
Secretário da Fazenda
Edson Aparecido dos Santos
Secretário-Chefe da Casa Civil
Publicada na Assessoria Técnico-Legislativa, aos 28 de janeiro de 2013.
Anexo H - Aplicativo Zara: “Fabricado no Brasil”
“Fabricado no Brasil”, oferecido pela ZARA, é um aplicativo para smartphones que permite que o consumidor rastreie informações da cadeia produtiva a partir do código QR disponível na etiqueta de cada peça. Esse aplicativo especifica o nome do fornecedor, sua localização, o número de funcionários, os contatos e a classificação que ele recebeu nas auditorias realizadas pela Zara.
O aplicativo, que começou em 2015 a abranger a toda coleção feita no Brasil, veio como resposta aos escândalos de trabalho análogo a escravidão na cadeia produtiva do grupo Inditex, dona da Zara. No início do projeto, o presidente da companhia no Brasil afirmou que era uma iniciativa de transparência, e não de marketing.[29: Fonte: http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/publico-podera-fiscalizar-fabricacao-da-zara-por-smartphone]
Apesar dos esforços, a iniciativa foi pouco divulgada pela própria empresa, sendo que houve várias reclamações quanto ao funcionamento do aplicativo no início e até hoje não há explicações em lojas ou sites sobre como usar o rastreamento e a importância de se fazê-lo. 
Anexo I - Aplicativo “Moda Livre”
O aplicativo foi criado pela ONG Repórter Brasil, fundada em 2001 por um coletivo de jornalistas, cientistas sociais e educadores. A ONG tornou-se uma fonte importante de informação sobre a questão brasileira do trabalho escravo moderno e procura mobilizar lideranças sociais, políticas e econômicas em prol dos direitos humanos e de uma sociedade mais justa, inclusive sendo membro da comissão estadual e municipal da cidade de São Paulo para erradicação do trabalho escravo e da Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo.
O aplicativo está disponível para os sistemas operacionais Android e iOS e assim, boa parte do público brasileiro pode usá-lo como ferramenta para alcançar a realidade e repensar o consumo.
O “Moda Livre” dispõe informações em artigos e reportagens ao usuário sobre as marcas envolvidas com trabalho escravo e são avaliadas, pelos mecanismos do aplicativo, as principais empresas do mercado brasileiro, dentre elas, algumas flagradas com empregados em situação de trabalho escravo pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Na última atualização, de 18/04/2016, a base de dados foi expandida e conta com 77 empresas varejistas e grifes. Essa versão foi lançada no evento “Fashion Revolution”,

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