Buscar

GrupoInPACTO

Prévia do material em texto

Universidade de São Paulo 
 
 
 
Ana Carolina Braunstein Marques ­ 9815096 
Caroline Santos ­ 9814605 
Cristina Sayuri Guenkawa ­ 9814870 
Giovanne Dalio – 9815401 
 
 
Imigrantes Latino Americanos na Cadeia Têxtil, 
no Estado de São Paulo 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2016 
 
 
 
 
 
Imigrantes Latino Americanos na Cadeia Têxtil, no Estado de São Paulo 
 
 
Introdução​………………………………………………………………………..4 
Organização analisada​……………………………………………………….…..4 
­O instituto InPACTO 
 
Problemática​……………………………………………………………………...6 
­A globalização capitalista, a exploração do imigrante e seu envolvimento na sociedade brasileira. 
 
Desenvolvimento​…………………………………………………………………9 
­Analise sistêmica……………………………………………………………..……9 
­A imigração e o imigrante……………………………………..…………………...9 
­O trabalhador, a exploração e a sociedade brasileira…………………………...….11 
­A cadeia têxtil…………………………………………………………………….14. 
­O consumismo…………………………………………………………………....14 
 
Considerações finais​………………………………………………………….....17 
­Conclusão 
 
Anexos​……………………………………………………………………….…..19 
*​As marcações ao longo do trabalho( ​¹ ² ³​) referem­se a fonte do da informação citada e o número corresponde ao indicado em 
“Anexos” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO: 
Fundamentos de Administração​: 
Introdução​ ­ Parágrafo 1, pág.4; Parágrafo 2, pág.4; Parágrafo 3, pág.4; 
InPACTO​ ­ Parágrafo 4, pág. 4; Parágrafo 2, pág.5; Parágrafo 3, pág. 5;Parágrafo 4 ,pág. 5; Parágrafo 2 ,pág. 6; Parágrafo 3, pág. 6; 
Parágrafo 4, pág. 6 
Problemática ­​ Parágrafo 5  ,pág.6; Parágrafo 3 ,pág. 7; Parágrafo 2,pág. 8; 
Desenvolvimento ­ ​Parágrafo 1,pág.9; Parágrafo 3,pág.9; Parágrafo 4,pág.9, Parágrafo3,pág.12; Parágrafo 1,pág.13;Parágrafo 
1,pág.14;Parágrafo 2,pág.14;Parágrafo 2,pág.17; Parágrafo 3,pág.17; Parágrafo 2,pág.18; 
 
Fundamentos das Ciências Sociais​: 
Introdução​ ­ Parágrafo 1,pág.4; Parágrafo 2, pág.4; Parágrafo 3, pág.3; 
InPACTO​ ­ Parágrafo 4, pág. 4;Parágrafo 3, pág. 5; Parágrafo 4 ,pág. 5; Parágrafo 3, pág. 6; Parágrafo 4, pág. 6; Parágrafo 2,pág.11; 
Problemática ­ ​Parágrafo 3,pág. 7; Parágrafo 13,pág.6, Parágrafo 4,pág. 7; Parágrafo 3,pág.8 
Parágrafo 4, pág. 8;  
Desenvolvimento ­ ​Parágrafo 2,pág.9; Parágrafo 3,pág.9; Parágrafo1,pág.10; Parágrafo 4,pág.11; Parágrafo 2,pág.12;Parágrafo 
1,pág.13;Parágrafo 2,pág.13;Parágrafo 2,pág.15; Parágrafo 4,pág.16; Parágrafo 3,pág.17; Parágrafo 3,pág.18; 
 
Fundamentos de Marketing e Comportamento do Consumidor​: 
Introdução​ ­ Parágrafo 3, pág.4; 
InPACTO​­ Parágrafo 4, pág. 4;Parágrafo 3  ,pág.5 ;Parágrafo 4 ,pág. 5; Parágrafo 4, pág. 6  
Problemática​ ­ Parágrafo 5  ,pág.6; Parágrafo 2 ,pág. 7; 
Desenvolvimento ­ ​Parágrafo 3,pág. 11; Parágrafo 1,pág.13; Parágrafo 3,pág.14;      Parágrafo 2,pág.15;Parágrafo 3,pág.15; 
Parágrafo 2,pág.16; Parágrafo 3,pág.16;Parágrafo 2,pág.17; Parágrafo 1,pág.18; Parágrafo 3,pág.18; 
 
Introdução à Psicologia​:   
Introdução​ ­ Parágrafo 3, pág.4; 
InPACTO​ ­Parágrafo 4, pág. 4; Parágrafo 2, pág.5; Parágrafo 4, pág. 6 
Problemática­​ Parágrafo 5 ,pág.6; Parágrafo 2 ,pág 7; Parágrafo 3 ,pág. 7; Parágrafo 4,pág. 7 
Parágrafo 3,pág. 8; Parágrafo 4, pág. 8;  
Desenvolvimento ­ ​Parágrafo1,pág.10; Parágrafo 2,pág.11; Parágrafo 2,pág.12; Parágrafo 3,pág.12;Parágrafo 1,pág.13;Parágrafo 
2,pág.13;Parágrafo 2,pág.15;Parágrafo 3,pág.15; Parágrafo 4,pág.15; Parágrafo 1,pág.16; Parágrafo 1,pág.18; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução 
Com a entrada do século XXI a globalização tomou força e com ela vieram inúmeras                             
transformações na estrutura social, econômica e cultural em quase todo mundo, principalmente nas                         
economias capitalistas neoliberais. Nesse processo as economias se integraram de maneira jamais                       
vista anteriormente, um investidor nipônico pode facilmente investir no México com poucos cliques                         
em seu computador. Esses investimentos não se resumem apenas em aplicações financeiras, compra                         
e vendas nas bolsas de valores ou mesmo aquisições de imóveis no exterior, eles agora podem                               
facilmente ser empresas inteiras e complexas usando mão de obra do país onde se faz o                               
investimento, ou mesmo de estrangeiros. Com isso pode se concluir que uma das máximas do                             
capitalismo (maximização de lucros e redução de custos) viu a oportunidade de se fazer presente. 
Para tanto um novo hábito surgiu entre as grandes empresas, e ele se baseia em uma                               
descentralização da produção de maneira que essa seja feita em países ou regiões onde a mão de                                 
obra é mais barata. Esse barateamento da força de trabalho se dá por diferentes motivos como, por                                 
exemplo, uma ausência ou desregulamentação das leis trabalhistas ou a precariedade econômica e                         
social vigentes na região da produção. Fica então facilitada a expansão de uma rede de exploração                               
do trabalhador, como é o caso da cadeia têxtil em São Paulo. Com isso o trabalhador, por vezes, é                                     
submetido a condições altamente degradantes e perdendo, inclusive, sua humanidade sendo visto                       
apenas como parte da cadeia de produção. 
Tentando abordar desde a imigração, a exploração da força de trabalho escravizada e suas                           
consequências, nesse trabalho, em parceria com a InPACTO (Instituto Pacto Nacional pela                       
Erradicação do Trabalho Escravo), analisaremos a complexa cadeia produtiva da indústria têxtil                       
com mão de obra escrava de imigrantes latino americanos na cidade de São Paulo. Serão discutidas                               
as características administrativas que dão margem para esse problema; as condições sociais que                         
permitem esse tipo de exploração; as pressões impostas pelo contratante e as consequências                         
psicológicas para o trabalhador e como o marketing pode atuar no processo de valorização ou                             
desvalorização de uma empresa que utiliza essa mão de obra ou mesmo na educação dos                             
consumidores para que eles se preocupem mais com a origem e produção dos bem que possuem. 
O instituto InPACTO 
O InPACTO (Instituto Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo) é uma                       
iniciativa da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que envolve grandes empresas                     
(nacionais e multinacionais) que têm interesse em combater o trabalho escravo independentemente                       
de tê­lo em sua cadeia produtiva. A iniciativa surgiu porque no momento em que o trabalho                               
escravo no Brasil começou a ser estudado, percebeu­se que a relação das empresas com o trabalho                               
escravo poderia ocorrer de forma direta (uma fazenda que tinha trabalho escravo vendia direto para                           
uma grande empresa) ou indireta (o produto passava por vários níveis até chegar na empresa, mas                               
as cadeias produtivas estavam de certa forma contaminadas). 
O Ministério do Trabalho é o responsável pelas fiscalizações, há um departamento inteiro                         
que atua em cima do desrespeito aos direitos trabalhistas. Geralmente a prática de trabalho escravo                             
é descoberta por meio de denúncias. Quando é recebida uma denúncia, o ministério convoca fiscais                             
de outrosestados que não aquele onde há trabalho escravo, a fim de não colocar tais fiscais em                                   
risco, cria­se um grupo móvel que envolve a polícia federal, auditores, procuradores gerais da                           
republica, faz a constatação e o grupo posteriormente se dissipa. Em São Paulo não há necessidade                               
de grupo móvel pois tem fiscalização o tempo todo. Ao constatar a veracidade dos fatos, inicia­se os                                 
processos com os autos (se haviam 50 pessoas em cativeiro, são formados 50 autos), tudo isso                               
avança nas instâncias dentro do ministério do trabalho até chegar em Brasília. Lá é avaliado, caso                               
seja comprovado que há trabalho escravo, entra para lista suja. 
A InPACTO atua a partir da lista suja, não faz a fiscalização nem impõe alguma penalidade,                               
a organização é um meio pelo qual as empresas podem consultar a lista suja. As empresas devem                                 
usá­la na política de compras, divulgá­la para outros fornecedores (compartilhar informação) e a                         
instituição pede as empresas que a mantenha atualizada do que estão fazendo em relação ao                             
combate escravo (cartaz, campanha, evento) ou a promoção de um trabalho ético para que possa ser                               
exemplo para outras empresas. Se empresa decide fazer um simpósio com todos os compradores, a                             
InPACTO mostrara a importância de falar sobre o tema.  
Atualmente são 46 empresas associadas à InPACTO e esta trabalha com as empresas que                           
fazem tudo de forma ética. Além disso aspiram ajudar aquelas que estão na lista suja mas querem                                 
deixar de estar relacionadas ao trabalho escravo. São feitos encontros com elas e há discussões                             
sobre fatores que podem fragilizar a cadeia, ensinando a forma correta de gerenciar a empresa. Um                               
exemplo são a promoção de debates que são produzidos para os associados refletirem sobre as                             
políticas que fazem. Além disso, há o estudo de cadeia produtiva que independe de ser associado, se                                 
houver suspeita de trabalho escravo a InPACTO paga um estudo de análise de cadeia para verificar                               
com precisão se realmente ocorre. A partir do ponto que se constata o trabalho escravo a                               
organização faz o rastreamento de toda cadeia e a investiga contaminação. O estudo de cadeia serve                               
para isso, ligar a trajetória de construção do produto para verificar se há trabalho escravo, muitas                               
vezes a grande empresa nem sabe que contribui de forma indireta para estimular a exploração.   
Proposta da InPACTO: olhar a cadeia têxtil como um todo (visão sistêmica), não só focar no                               
trabalho escravo, para eles algumas questões são importantes: quais são os nós da cadeia? Onde                             
ocorrem as irregularidades e por que ocorrem? Em determinada fase da produção, o que ocorre para                               
que aconteça a exploração? É o preço, a cultura, o contrato não estar adequado? O que causa e onde                                     
se encontra esse nó? Qual a cadeia vulnerável?  
A articulação geral, gerencia da empresa, o governo, conscientização do consumidor,                     
medidas discutidas e tomadas coletivamente com a união de todos os setores envolvidos fará com                             
que haja barateamento para solucionar o problema e como exemplo que o envolvimento geral é o                               
caminho mais correto de combate ao trabalho escravo, temos o caso do algodão. Houve a criação o                                 
Instituto Algodão Social e a utilização do trabalho infantil inseridas no processo produtivo foi                           
efetivamente combatido, todas as empresas patrocinavam o instituto para fazer as auditorias e assim                           
averiguar se elas estão de acordo com os objetivos planejados e/ou estabelecidas previamente. 
No setor têxtil há muita denuncia de trabalho escravo e é de conhecimento geral a localidade                               
das atividades. Como veremos a questão do trabalho escravo na cadeia têxtil envolve uma complexa                             
rede e um processo denominado “quarteirização”. Ao questionar grandes redes como Renner ou a                           
C&A, elas sabem informar os fornecedores, porém ao chegar mais próximo das várias ramificações,                           
é difícil saber de onde vem os produtos, esse sistema de terceirização e quarteirização é muito                               
complexo e faz com que seja perdida a influencia de ações como as da InPACTO. A própria                                 
influência da grande empresa é limitada uma vez que a legislação brasileira não permite que a                               
empresa que contrata determine regras na prestadora de serviços que se contrata.¹ 
A globalização capitalista, a exploração do imigrante e seu envolvimento na sociedade                       
brasileira. 
Entre as causas do trabalho escravo está o comportamento altamente consumista da                       
sociedade ocidental. Devido a ações de marketing veiculadas desde o início do século XX,                           
principalmente após a Segunda Guerra Mundial, a população brasileira consome muito mais do que                           
o necessário. Esse consumo desmedido gera um aumento na demanda e com o setor têxtil não é                                 
diferente. A fim de abastecer o altíssimo consumo, foram criadas grandes e complexas cadeias                           
produtivas envolvendo divisão de tarefas e otimização do processo buscando a produção em larga                           
escala aos mais baixos custos, sendo a mão de obra um dos fatores a serem barateados. A mão de                                     
obra imigrante, ilegal e desqualificada se encaixa nessa lógica produtiva. Assim, o custo diminui                           
enquanto a exploração do trabalhador no início da linha de produção aumenta.   
Esse processo de exploração inicia­se ainda no país de origem do imigrante (no caso, será                             
tomado como base a Bolívia), à medida em que são veiculadas propagandas em emissoras de rádio                               
e em jornais locais que prometem uma ótima oportunidade em solo brasileiro². Estas falam em                             
estudar, passear e conhecer o país, além de um emprego em que se trabalhe poucas horas, uma casa,                                   
comida e um salário de cerca de 200 dólares³. Muitas pessoas são seduzidas por essa proposta e                                 
terminam em oficinas clandestinas de costura paulistanas. 
Para chegar ao Brasil (mais especificamente à São Paulo), os imigrantes têm dois caminhos                           
possíveis: o duro processo burocrático legal, que conta com a falta de estrutura por parte da Polícia                                 
Federal para receber esse imigrante (destaque para a cidade de Corumbá na fronteira entre Brasil e                               
Bolívia)⁴ e o mercado de intermediadores. A segunda situação é o meio ilegal, em que o imigrante é                                   
coagido ainda em seu país, passa por uma viagem não regularizada na qual pode enfrentar situações                               
degradantes para depois chegarà São Paulo. No mercado de intermediadores destacam­se os                         
coreanos⁵, que em contato com um dono de oficina de confecção em São Paulo, procuram a mão de                                   
obra desejada pelo microempresário. O imigrante já viaja com o emprego, porém envolvido em um                             
mecanismo de endividamento. O trabalhador se vê moralmente obrigado a continuar trabalhando                       
independentemente das condições a que é submetido para sanar as supostas dívidas com o                           
empregador ou o intermediador. Sendo vantajoso ao empregador e ao intermediador que o                         
imigrante tenha pouca informação sobre bens, direitos e deveres que possui no local de destino,                             
seus documentos são tomados e lhe é passada a falsa informação de que viaja como clandestino. 
Como resultado dessa desinformação, é comum que o trabalhador tenha a oficina como seu                           
dormitório, seja mal alimentado e submetido a tratamentos autoritários dentro de seu ambiente de                           
trabalho. Ganham pouco e por peça, assim a maioria dos trabalhadores se submete à uma jornada                               
exaustiva de trabalho, a fim de conseguir dinheiro para voltar para casa ou abrir a própria oficina.                                 
Passam a maior parte do dia dentro da oficina e acreditam ser ilegais, o imigrante é isolado da                                   
sociedade paulistana que rodeia a oficina. A situação descrita caracteriza um contexto de trabalho                           
escravo e sua definição no âmbito penal está no artigo 149 do Código Penal 2 e considera                                 
fundamentalmente como condições análogas à escravidão quando o trabalhador está sujeito a: (i)                         
trabalhos forçados; (ii) jornada exaustiva; (iii) condições degradante de trabalho; e (iv) alguma                         
forma de cerceamento de liberdade (locomoção, servidão por dívida, retenção de documentos e                         
isolamento geográfico). 
Na cadeia têxtil é comum que a rede de varejo contrate prestadoras de serviço para realizar a                                 
sua produção. As prestadoras de serviço, por sua vez, podem não possuir capacidade produtiva de                             
atender às encomendas, assim são contratadas prestadoras de serviços menos estruturadas e com                         
força de trabalho ainda mais barata, podendo essa última repassar parte do serviço que lhe foi                               
encomendado e assim sucessivamente. A prática do segundo repasse em diante é ilegal e é onde são                                 
encontradas as precárias condições de trabalho. 
O Brasil tem uma sociedade estruturada em bases culturais como patriarcalismo, o                         
machismo, racismo de herança escravista e uma “xenofobia seletiva”. Por exemplo, a chegada de                           
um europeu, americano ou japonês ao Brasil não incomoda, mas a vinda de vizinhos latino                             
americanos ou africanos é rejeitada. O imigrante já sofre com a desinformação e com barreiras                             
culturais, o que lhe proporciona um medo de se expor à rejeição e, possivelmente, ser deportado.                               
Por isso, é comum que denúncias de trabalho escravo sejam feitas na igreja, visto que o imigrante                                 
não quer abandonar o país.¹ 
O fato de existir uma grande comunidade latino­americana vivendo como imigrante em São                           
Paulo ainda é um “tabu”. A desinformação do imigrante e o preconceito do brasileiro fazem com                               
que a questão da imigração seja ignorada e geram o efeito da invisibilidade do trabalhador.                             
Atualmente já é possível ver uma segunda geração de latino­americanos no Brasil. Descendentes de                           
imigrantes e nascidos em solo brasileiro, a segunda geração aparece em escolas públicas, ou em                             
áreas produtivas que não a cadeia têxtil e possui maior facilidade de contato com o brasileiro, por                                 
dominar a língua e ter conhecimento da cultura local⁵. O crescimento da população                         
latino­americana no Brasil tende a diminuir esse efeito de invisibilidade e abre a possibilidade de                             
um ganho de espaço do imigrante dentro da sociedade brasileira. Todavia, a curto prazo, é                             
improvável imaginar que o mercado ofereça as mesmas condições de trabalho de um brasileiro a                             
um imigrante e que o conservadorismo tradicional da sociedade brasileira, principalmente de seus                         
tomadores de decisões, permita que o imigrante ganhe espaço, permita que questões como a                           
exploração antiética da força de trabalho seja discutida na política nacional. Está em pauta o Projeto                               
de lei PL 432/2013​⁶que pretende retirar “jornada exaustiva” e “condições degradantes de trabalho”                           
das definições de trabalho escravo , o que completaria o obstáculo de combate ao mesmo.  
 
Análise sistêmica e resolução a longo prazo 
O trabalho escravo não será erradicado nos próximos anos, pois está amplamente difundido                         
no mundo e é encontrado em muitos setores agrícolas e industriais. Entretanto, acreditamos que é                             
possível reverter esse cenário no setor têxtil brasileiro por meio de ações realizadas a médio e longo                                 
prazo que visem o imigrante, a cadeia produtiva, as grandes varejistas que terceirizam a produção, a                               
empresa terceirizada que “quarteiriza” a produção, as oficinas clandestinas de costura e o                         
consumidor final. 
A imigração e o imigrante 
A razão principal que faz com que os imigrantes se submetam à condição escrava é o                               
cenário de seu país. No caso da Bolívia, a situação econômica é muito delicada e reflete os                                 
problemas oriundos do passado como as dificuldades econômicas, corrupção, falta de democracia e                         
soma­se aos problemas recentes de desemprego e instabilidade econômica. Para o combate ao                         
trabalho escravo é de extrema importância melhorar essa situação, pois caso isso não ocorra, a                             
vinda de imigrantes continuará acontecendo. Apesar de complicado, Cingapura deixou de ser um                         
país em desenvolvimento, com sérios problemas estruturais — praticamente uma favela a céu                         
aberto — e se transformou em um país desenvolvido, com altos índices econômicos e sociais e uma                                 
renda per capita muito superior à americana. Esse país exemplifica que através de liderança,                           
reformas econômicas e investimentos em educação a mudança é possível.  
Durante o regime militar a Bolívia passou por uma reforma agrária em que grandes                           
extensões de terra foram cedidas a políticos, grupos econômicos e cooperativas fantasmas​⁵​. Tal                         
reforma resultou em uma agricultura predominantemente monocultural (cana e algodão), uma                     
altíssima concentração de terras e um grande número de camponeses sem terra. Dentre as                           
possibilidades dos camponeses sem terra estão as migrações para meios urbanos, seja internamente(La Paz, por exemplo.) ou para centros urbanos pela América do Sul. Se centros urbanos brasileiros                               
não possuem infraestrutura, nem afetividade por parte dos receptores, para atender a própria                         
migração interna, como o imigrante latino será inserido na sociedade brasileira? 
Poderíamos barrar a imigração como meio de solução para o problema? Há exemplos no                             
mundo todo para provar o quão desumano e ineficiente é reprimir a imigração. A fronteira dos EUA                                 
com o México é o caso mais claro. Segundo o relatório do ​United States Goverment Accountability                               
Office ​,entre 1990 e 2009, 4310 pessoas morreram tentando cruzar a fronteira americana de forma                             
ilegal⁷. A repressão à imigração não só causa mortes durante a cruzada da fronteira, mas aumenta o                                 
trabalho informal, e intensifica o preconceito do nativo com o imigrante(muitas vezes clandestino),                         
estimula o surgimentos de estigmas que são seguidos de segregações sociais e até mesmo espaciais.                             
Como resultado o imigrante é visto como invasor, inimigo, acaba excluído da sociedade e uma                             
potencial oportunidade de crescimento econômico e contato de culturas é desperdiçada. A                       
imigração não deve ser vista como um problema, obviamente regulada mas a chegada de imigrantes                             
significa um aumento da mão de obra disponível e um aumento do mercado consumidor para a                               
economia local. A imigração pode se tornar positiva desde que procure­ se resolver os inúmeros                             
problemas dentro do processo imigratório. 
O processo burocrático ineficiente somado a propagandas que enganam o imigrante são os                         
primeiros impasses ao qual o trabalhador é inserido. Um exemplo ocorre na base da Polícia Federal                               
(PF) na fronteira Brasil­Bolívia em Corumbá, a regularização do imigrante no Brasil é                         
extremamente trabalhosa e negligencia as necessidades das pessoas a procura de um ingresso legal                           
no país. Na média são aprovados 140 vistos por dia, entretanto ainda ficam aproximadamente 300                             
pessoas na fila de espera⁴. A falta de atendentes em um local de tanta procura faz com que os                                     
bolivianos passem noites e dias seguidos, assim ao melhorar e organizar tal processo fará com que o                                 
descaso com os trabalhadores seja eliminado, deste modo não seriam tão atraídos por propagandas                           
enganosas veiculadas em rádios e jornais anunciando a chance de mudar de vida. O boliviano que                               
deseja ingressar no Brasil deve recorrer ao consulado brasileiro e fazer a solicitação do visto. O que                                 
mais se adéqua ao boliviano que deseja trabalhar no Brasil é o temporal II (viagem de negócios),                                 
com esse visto o imigrante pode permanecer em território brasileiro por 90 dias. Para permanecer                             
por mais tempo o imigrante pode recorrer ao visto temporal V (profissional, por regime de contrato                               
em serviço do Governo brasileiro). 
O trabalhador boliviano envolvido na rede de confecções dificilmente conseguirá o visto                       
temporal V, visto que o Ministério do Trabalho e Emprego deve reconhecer a sua situação                             
trabalhista como legal, com um contrato formal e a maior parte dos imigrantes envolvidos na cadeia                               
têxtil estão ligados ao emprego informal. Consequentemente a vinda legal do imigrante sofre com                           
mais um desestímulo e o número de imigrantes que entram ilegalmente é estimulado a crescer. A                               
fim de estimular o ingresso legal do imigrante e, no caso dos bolivianos, a cruzada da fronteira com                                   
uma real perspectiva de trabalho formal e regulamentado no Brasil, precisa ser feita uma atuação do                               
governo da Bolívia em seus consulados no Brasil promovendo suporte para seus emigrantes. Nesse                           
auxílio o boliviano que possui o visto temporário II seria cadastrado em um banco de dados que                                 
faria a ponte entre o posto de serviço que mais se adéqua a ele. O consulado auxiliaria o imigrante a                                       
ingressar no mercado de trabalho. Dessa forma juntamente com o declínio do número de imigrantes                             
ilegais no Brasil o número de imigrantes trabalhando na informalidade também declinaria. 
O Centro Pastoral do Migrante – entidade ligada à Igreja Católica que fornece apoio aos                             
imigrantes no país e que é considerada uma das maiores especialistas no tema – estima que existam                                 
hoje, na capital paulista, de 600 mil a 700 mil latino­americanos, dos quais 40% em situação                               
irregular​, especificamente para os bolivianos, a Pastoral trabalha com estimativas de 400 mil                         
pessoas (das quais 240 mil já documentadas), sendo que 12 mil estariam em condição de                             
escravidão. Enquanto cruza a fronteira o sujeito deve ser informado quanto aos seus direitos e                             
deveres como imigrante. Saber a quais serviços públicos tem acesso, quais impostos deve pagar,                           
quais são as leis trabalhistas, a quem ele deve recorrer quando algum de seus direitos for ferido.                                 
Este trabalho de informar deve ser delegado à fronteira, aos consulados (tanto do país de origem                               
endereçado no território brasileiro quanto o consulado brasileiro no país de origem do imigrante) e                             
aos órgãos públicos (Ministério Público, Ministério do Trabalho, etc.). 
Para atingir as propagandas antiéticas contra o imigrante, o governo de seu país de origem                               
(usaremos a Bolívia como referência) poderia fiscalizar os anúncios em rádios e jornais com                           
ofertas de uma vida melhor no Brasil. Tratam­se de propagandas enganosas que visam explorar o                             
trabalhador. Os responsáveis pelas propagandas enganosas devem ser punidos. Essa fiscalização                     
seria feita de modo que todo e qualquer anunciante de emprego devesse cadastrar­se junto ao                             
Ministério do Trabalho e que todos os anúncios passassem por investigação prévia por parte de um                               
órgão vinculado ao Ministério de Comunicação da Bolívia.  
O trabalhador, a exploração e a sociedade brasileira 
O conceito de materialismo histórico ainda está muito relacionado ao modelo de crescimento                         
econômico atual, a produção e sua forma de troca criam a ordem social e a divisão entre classes. Há                                     
um certo determinismo econômico no qual os fatores monetários agem sobre a superestrutura                         
(instituições jurídicas, políticas e ideológicas). Ao se constatar essa realidade não devemos ser                         
apenas o objeto que sofre as ações, é essencial compreender que a história de vida pessoal está                                 
entrelaçada com a vida de outros indivíduos os quais são influenciadospor fenômenos sociais                           
dentro de uma estrutura social. Como o homem “é um animal amarrado a teia de significados que                                 
ele mesmo teceu”, como Max Weber descreve, o indivíduo aprende suas limitações e                         
possibilidades, assim como o que pode ser modificado por ele e o que pode ser transformado pela                                 
coletividade. Nesse sentido, aprende a fazer melhor suas escolhas e tendo consciência das                         
limitações impostas pela sociedade tenta buscar um caminho para minimizá­las. 
A acumulação material ainda é a forma que grande parte da sociedade vê o quão                             
bem­sucedido é e a maioria das vezes aquele que detém o meio de produção não está minimamente                                 
interessado se suas práticas estão de acordo com os direitos de seus trabalhadores, a única coisa que                                 
importa é a redução dos custos do processo de produção, manter a empresa nos níveis competitivos                               
e o quanto poderá lucrar aumentando por exemplo, as horas trabalhadas, lembrando­nos do conceito                           
da mais­valia criado por Marx. É o que acontece com muitos imigrantes que vem para o Brasil em                                   
busca de melhores condições de vida e encontram um ambiente exploratório no qual o cerceamento                             
de sua liberdade se dá através de coações e ameaças feita pelos patrões que mentem ao dizer que                                   
são trabalhadores ilegais e que irão ser deportados caso sejam descobertos. Os bolivianos são a                             
comunidade mais numerosa e explorada, chegando a trabalharem 17 horas por dia em algumas                           
confecções com ganho de aproximadamente R$ 0,40 por peça, dividem o local com um número de                               
pessoas maior do que o ambiente é capaz de acomodar e ainda são privados do direito de ir e vir. 
Desde 1995 segundo dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho) 47 mil                         
trabalhadores foram resgatados de condições de trabalho análogas à escravidão, 72% destes não                         
possuíam o fundamental completo (33% do total era analfabeto). Não há dados precisos quanto a                             
reincidência de escravizados resgatados, porém a chance de que um trabalhador de baixa                         
qualificação e de alta fragilidade informacional dentro cenário social em que o país se encontra,                             
voltar a condições precárias de trabalho é altíssima. Costumam ser feitas ações como inscrição no                             
bolsa família, oferecimento de passagem de volta para o país de origem (geralmente negado),                           
destinação de propriedades rurais fiscalizadas para a reforma agrária (tendo os escravizados                       
preferência). Todavia pouco é feito quanto ao fato de o sujeito explorado possuir baixíssima                           
instrução e uma força de trabalho pouco qualificada.  
Uma ação semelhante ao Movimento Ação Integrada​⁸​, deveria ser ampliada. Trata­se de                       
uma parceria entre entidades públicas e privadas que visam um atendimento especial para o                           
resgatado do trabalho escravo. Segundo Valdiney Arruda, superintendente da SRTE/MT, ”A Ação                       
Integrada vem tentar resgatar a vítima que foi egressa do trabalho escravo, ou está em situação de                                 
vulnerabilidade, criando condições e propondo iniciativas ­ junto a instituições público e privadas ­                           
para que elas também exerçam sua capacidade de investimento voltada para esse público”. Após                           
ser resgatado o trabalhador passa por uma abordagem socioprofissional para verificar sua                       
qualificação e as condições de vulnerabilidade. Em seguida ele recebe um seguro desemprego                         
especial e é submetido a um programa de qualificação que pode ser voltado tanto para a área urbana                                   
quanto para a área rural. O SENAI como um dos parceiros do Movimento Ação Integrada oferta                               
cursos de qualificação profissional, cursos de aprendizagem e inserção do trabalhador como                       
aprendiz no mercado de trabalho. A ​ACRISMAT ­ Associação dos Criadores de Suínos de Mato                             
Grosso e o SESI fazem parcerias semelhantes. ​Durante todo o processo o trabalhador recebe                           
acompanhamento especial. O acompanhamento psicológico do resgatado torna­se essencial quando                   
são identificadas situações como a negação da exploração, para muitos é humilhante admitir que é                             
um escravizado. Richard Sennett afirma em “A corrosão do caráter”​¹⁰que assumir um fracasso                           
como esse, perder o emprego, sair de seu emprego sem pagar a suposta dívida, voltar ao país de                                   
origem sem acumular os ganhos que veio buscar, é um tabu para o trabalhador contemporâneo.  
Deve­se combater a discursos que justifiquem a exploração do trabalhador, o empresário                       
afirma que o trabalhador tem sorte de estar naquela situação (poderia estar pior), deve­se se                             
reafirmar que os direitos são os mesmos para todos. Ter um trabalho decente é um direito de                                 
qualquer cidadão, sem exceções. Segundo definição da OIT “O Trabalho Decente é o ponto de                             
convergência dos quatro objetivos estratégicos da OIT: o respeito aos direitos no trabalho (em                           
especial aqueles definidos como fundamentais pela Declaração Relativa aos Direitos e Princípios                       
Fundamentais no Trabalho e seu seguimento adotada em 1998: (i) liberdade sindical e                         
reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; (ii)eliminação de todas as formas de                         
trabalho forçado; (iii) abolição efetiva do trabalho infantil; (iv) eliminação de todas as formas de                             
discriminação em matéria de emprego e ocupação), a promoção do emprego produtivo e de                           
qualidade, a extensão da proteção social e o fortalecimento do diálogo social.”​⁹ 
 
 
A cadeia têxtil 
Para detectar se há trabalho escravo na produção do grande varejista deve ser feito uma                             
análise de toda a cadeia. A análise de cadeia consiste na fiscalização de todas as entidades                               
envolvidas, desde a extração dos insumos até o varejo. Delegar a função aos fiscais do governo                               
torna a solução inviável, visto que o problema do trabalho escravo já atinge níveis crônicos, não há                                 
verba estatal nem contingente de fiscais suficiente para uma fiscalização em massa por parte do                             
Estado. O processo demanda um grande investimento e só é viável quando há um real interesse na                                 
detecção e resolução desse atraso que é o trabalho escravo por parte de todos envolvidos na cadeia. 
Como foi apresentado na problemática, a precarização do trabalho na cadeia têxtil é                         
encontrada no processo de quarteirização, que consiste na prática de prestadoras de serviço                         
repassarem o serviço que lhe foi contratado para uma prestadora com menores custos e, geralmente,uma estrutura mais precária. Um plano que envolva ações do governo municipal, das redes de                             
varejo e do Ministério do Trabalho deveria atuar no suporte às prestadoras de serviço, comumente                             
chamadas de terceirizadas. São elas que compõem a base e empregam a maior parte da mão de obra                                   
envolvida na cadeia, além de serem as prejudicadas pela incapacidade de atender a demanda do                             
universo consumista brasileiro. O governo municipal poderia dar incentivos fiscais às prestadoras                       
de serviços iniciantes no mercado. As grandes redes de varejo poderiam prestar consultorias e                           
capacitações para suas prestadoras de serviço, otimizando o processo produtivo e qualificando a                         
mão de obra na confecção. Trata­se de um investimento das redes, o processo otimizado permitiria                             
que as confecções se aproximassem mais de atender a demanda do mercado e seus produtos                             
ganhassem um salto de qualidade. O investido nesse processo de apoio à prestadora seria retornado                             
dos impostos sobre vendas, sendo assim mais um incentivo para a ação. O Ministério do Trabalho                               
forneceria crédito facilitado e à baixos juros para a prestadora de serviço com intenções de investir                               
em avanços tecnológicos de seu empreendimento. O mesmo ministério fiscalizaria os processos que                         
entrassem no plano e um selo de aprovação seria dado ao produto final que tivesse a cadeia                                 
envolvida no projeto, dando valor intangível ao produto. 
O consumismo 
A ideia de consumir no Brasil ainda é muito forte. Pesquisas afirmam que quanto mais os                               
bens materiais são valorizados, as pessoas tornam­se menos preocupadas com os valores sociais,                         
explicando por que as pessoas agem de maneira menos empática, generosa e cooperativa quando                           
pensam em dinheiro. Diariamente há bombardeamento de propagandas publicitarias que não se                       
mantem apenas pelas mídias ocorrendo também de forma indireta através do pagamento de atores                           
que elogiam produtos em conversas de bares e parques públicos para estimular o consumo, sem                             
contar o número de notícias do quão importante o ato é para o crescimento econômico do pais e isto                                     
financia a utilização de trabalho escravo. 
Cientistas afirmam que a insegurança é um dos fatores que promovem a compulsão e os                             
consumidores são conduzidos pela felicidade efêmera no intuito de preencher o que acreditam estar                           
faltando. Esse é um dos pontos que Zygmunt Bauman explora como “modernidade liquida”¹¹, há                           
descarte de objetos e pessoas como nunca antes na história. O sociólogo afirma que “nós somos                               
responsáveis pelo outro, estando atento a isto ou não, desejando ou não, torcendo positivamente ou                             
indo contra, pela simples razão de que, em nosso mundo globalizado, tudo o que fazemos (ou                               
deixamos de fazer) tem impacto na vida de todo mundo e tudo o que as pessoas fazem (ou se                                     
privam de fazer) acaba afetando nossas vidas”, assim cultivar valores e se preocupar com o outro                               
são meios de combater a fragilidade e ajudar a nós mesmos. 
Constantemente consumimos produtos que provavelmente utilizaram mão de obra explorada                   
e nunca nos perguntamos sobre o processo de formação dele, a ​Made in a Free World criou uma                                   
ferramenta que calcula quantos escravos trabalham para fazer o que utilizamos¹². Descobrir que há                           
30, 40 pessoas trabalhando em condições péssimas é no mínimo chocante mesmo que soubéssemos                           
da probabilidade de haver este tipo de trabalho. Essa sensibilização da população aumenta o número                             
de denúncias e estas são o meio mais comum para informar os órgãos de fiscalização. Além disso,                                 
deve haver uma reeducação sobre o conceito de escravidão. Muitas pessoas ainda interligam a                           
palavra a exploração humana da época colonial, àqueles que viviam acorrentados. É preciso mostrar                           
que essa percepção é antiquada e atualmente a escravidão é diferente e tem várias formas. 
Imaginar a cena de exploração é um ato imediato. O exercício de alteridade, a habilidade ou                               
competência de se colocar no lugar do outro torna as pessoas mais engajadas e atualizadas sobre as                                 
invisibilidades que o cercam. Um psicopata possui a capacidade de matar, agredir qualquer pessoa,                           
não importa quantas vezes, pois ele não possui empatia pela sua vítima, não consegue sentir o quão                                 
prejudicial as ações podem ser para aquela pessoa. Enquanto não se cria uma empatia em torno de                                 
uma situação, a sociedade tende a não se preocupar com ela. 
O psicólogo Daniel Goleman explicou em um evento da TED Talks¹³ que “se ajudarmos o                               
próximo, nós automaticamente criamos empatia e nos ligamos à ele. E se essa pessoa estiver em                               
necessidade, se ela está a sofrer, nós automaticamente estamos preparados para ajudar.” No mesmo                           
evento citou uma experiência própria: “Outro dia eu estava a doar impostos à Seva Fundation e tive                                 
uma epifania, pensei: meu amigo Lerry Brilliant ficará muito feliz por eu doar dinheiro à Seva. Aí                                 
eu percebi que eu estava a ganhar com a doação,era uma sensação de narcisismo, me fez sentir bem                                   
comigo mesmo, saltei desse foco meio narcisista para uma alegria altruísta, sentindo­me bem pelas                           
pessoas que estavam a ser ajudadas. Eu penso que isso é um fator de motivação”. Criada a empatia                                   
pela causa, o envolvimento da população é consequente. A empatia pode ser criada por meio da                               
informação. 
Poderia ser feita uma campanha do governo municipal realizando propagandas voltadas à                       
sociedade explicando o que caracteriza o trabalho escravo, lembrando o cidadão da existência desse                           
problema no cotidiano paulistano e como denunciá­lo. Essas propagandas seriam vídeos                     
explicativos veiculados na televisão, nas redes sociais e nas emissoras de rádio e cartazes que                             
sintetizem a informação (Por exemplo: “Trabalho escravo existe próximo a você, denuncie: ligue                         
156”) e que apareceriam nos pontos de ônibus, nos relógios digitais e em locais públicos como                               
muros e viadutos. De modo a conscientizar o consumidor final, o ministério da educação poderia                             
incluir no currículo básico de ensino os males do consumismo exacerbado que financia                         
indiretamente a exploração e a existência deste tipo de mão de obra em locais próximos a onde os                                   
alunos se encontram. A mudança na sociedade deve começar por baixo.  
Para reforçar a sensibilizaçãohá ferramentas como o aplicativo Moda Livre¹⁴que mostra as                         
medidas que as principais empresas do setor adotam contra o trabalho escravo, ou a campanha que a                                 
Organização Internacional do Trabalho criou denominada ​50 for freedom​¹​⁵que busca persuadir ao                         
menos 50 países a ratificarem o Protocolo contra o Trabalho Forçado. Para sensibilizar o público,                             
alguns atores contam histórias reais de pessoas obrigadas a trabalhar em situações análogas à                           
escravidão. A ideia de divulgar e apoiar campanhas contra a utilização do trabalho escravo em redes                               
sociais, convidar pessoas influentes a aderir o pensamento são meios de utilizar a tecnologia como                             
forma de persuadir o maior número de pessoas, estas irão influenciar pessoas ao seu redor.  
Resumidamente, o Protocolo¹​⁶citado anteriormente, atua em três níveis: ​prevenção​,                   
proteção ​e ​reabilitação​. Os países precisam ratificá­lo para que ele entre em vigor. Uma vez                             
ratificado, os países deverão prestar contas regularmente sobre as medidas concretas tomadas para                         
pôr fim à escravidão moderna. Ele pede aos países que garantam a liberação, o restabelecimento e a                                 
reabilitação das vítimas da escravidão moderna, também as protege de responderem a processos por                           
crimes que tenham sido obrigadas a cometer quando trabalhavam em situação análoga à escravidão.                           
Os países que ratificarem o Protocolo deverão garantir que todos os trabalhadores de todos os                             
setores sejam protegidos pela legislação. Eles deverão reforçar a fiscalização do trabalho e de outros                             
serviços que protejam os trabalhadores da exploração, adotar medidas complementares para educar                       
e informar a população e as comunidades sobre crimes como o tráfico de seres humanos, garante às                                 
vítimas o acesso à ações jurídicas e à indenização – mesmo que elas não residam legalmente no país                                   
onde trabalham. Os Estados também devem sancionar as práticas abusivas e fraudulentas dos                         
recrutadores e das agências de emprego. Além disso, ele pede também aos empregadores que                           
tenham a “devida diligência” para evitar a escravidão moderna em suas práticas comerciais ou em                             
suas cadeias de fornecimento”.  
É possível engajar grandes varejistas em ações contra a exploração do trabalhador, o                         
instituto InPACTO já realiza essa atividade entre empresas e são realizadas dentro de sua cadeia                             
produtiva ou em forma de vídeos destinados a seus consumidores. Empresas reconhecidas como                         
éticas e socialmente responsáveis gozam de maior confiança de seus clientes e agregam à sua                             
imagem uma aprovação crescente, à medida que suas ações resultam em benefícios sociais efetivos.                           
Ao estabelecer um padrão ético de atuação empresarial, as organizações influenciam seus clientes,                         
fornecedores e concorrentes, criando novos paradigmas para o relacionamento. As iniciativas                     
voltadas para o consumidor beneficiam a marca responsável à medida que seguem uma tendência                           
mundial chamada ​Guilt Free Comsumption​¹​⁷​. A tendência consiste em consumidores buscando                     
marcas que não apresentem irregularidades (trabalhistas, ecológicas, sociais) em suas linhas de                       
produção. O nome parte da ideia de o consumidor não querer se sentir culpado pelos produtos que                                 
consome. 
Conclusão 
A problemática do trabalho escravo latino americano na cadeia têxtil em São Paulo tem                           
muitas faces e varia desde a questão psicológica do trabalhador escravizado até a estrutura social                             
que permite a existência dessa forma de exploração. No campo da administração pode­se concluir                           
que o maior problema está na pratica da “quarteirização”, pois com a finalidade de reduzir o custo                                 
de produção há a utilização de  mão de obra mais barata, que explora o trabalhador. No que cabe as                                     
ciências socais destaca­se a estrutura líquida da sociedade e a lógica de produção capitalista que                             
estimula o consumo e a valorização de bens materiais. 
        Na área da psicologia podemos ressaltar o problema da ausência de empatia por parte dos                             
consumidores que ao efetuarem uma compra não refletem sobre a cadeia produtiva do bem recém                             
adquirido. Esses consumidores entretanto, podem ser impactados por estratégias de marketing que                       
tem por finalidade conscientizar a população da realidade encontrada na cadeia produtiva e                         
consequentemente há a ampliação da empatia. 
        Uma proposta para a redução da “quarteirização” e, por conseguinte, do uso da mão de obra                               
escravizada nessa cadeia é a de um investimento sério de grandes empresas em suas prestadoras de                               
serviço. Caso haja investimento, as terceirizadas terão condições de expandir a sua capacidade                         
produtiva e assim suprir toda a demanda da grande varejista e assim o grande “nó” do problema                                 
tratado neste trabalho seria desestimulado e parte do seu todo estaria encaminhada para uma                           
resolução efetiva. 
        Quanto ao modo de produção e a liquidez das relações humanas, tanto com seus                           
semelhantes quanto com bens materiais, deve­se reconhecê­las e com isso criar maneiras de                         
moldá­las para construir um modo de consumo e produção mais humano e consciente.  Para isso                             
podemos utilizar as ferramentas do marketing e mídias sociais para divulgar informações sobre o                           
que é o trabalho escravo no século XXI, sobre seus números como, por exemplo, a quantidade de                                 
pessoas escravizadas há na cadeia têxtil em São Paulo e a realidade vivenciada pelas vítimas do                               
trabalho escravo. 
Outra informação a ser veiculada deve ser a via de contato com o órgão responsável por                               
receber as denúncias, pois elas são necessárias e tendem a aumentar. Com a disseminação das                             
informações anteriormente citadas, a empatia e a preocupação com o outro se fará presente. Essa                             
ampliação no mercado consumidor fará com que o consumo sem responsabilidade social sofra um                           
declínio e assim a demanda pela mão de obra escrava diminuirá. 
Foi analisada a cadeia de forma completa, os problemas que a envolvem, suas causas e                             
consequências. O trabalho buscou discutir as questões buscar e soluções para os problemas que                           
afetam desde o imigrante como indivíduo, a sua sociedade e sociedade que o contorna após a                               
migração, a estrutura produtiva e do mercado têxtil. As soluções apresentadas possuem um impacto                           
maior, e efetivo, caso sejam feitas de formaque todos envolvidos na cadeia se engajem.  
 
 
 
 
 
Fontes: 
1. As informações referentes ao InPACTO e dados citados no capítulo referente à organização 
tem como origem a entrevista no dia 06/05/2016 com Mércia Silva, representante da 
entidade e nossa colaboradora no projeto. 
2. ”Nas costuras do trabalho escravo”, Camila Lins Rossi.​(probl. par 2) 
3. Carlos Freire Silva; "Trabalho Informal e Redes de subcontratação" 
4.  Reportagem “Profissão Repórter” ​09/04/2013 
5. Paulo T.;  Antonio B.; Rosana B.; "Migrações" 
6. Site do Senado 
7. “ILLEGAL IMMIGRATION “, United States Goverment Accountability Office 
8. Movimento Ação Integrada, ​http://www.acaointegrada.org/  
9. http://www.inpacto.org.br/2016/05/trabalho­decente­e­fundamental­para­reduzir­a­p
obreza­aponta­novo­relatorio­da­oit/ 
10. Richard Sennett, “A corrosão do caráter” 
11. Zygmunt​ Bauman​, “Modernindade Líquida” 
12. Ação da ​Made in a Free World​, ​http://slaveryfootprint.org/  
13. Daniel Goleman no TED Talks, 
http://www.ted.com/talks/daniel_goleman_on_compassion?language=pt­br  
14. Notícia atualização do ​app​ “Moda Livre”, 
http://reporterbrasil.org.br/2014/08/com­nova­atualizacao­app­moda­livre­monitora­45­mar
cas­e­varejistas­de­roupa/  
15. Campanha da ​50 For Freedom​, exemplo Wagner Moura, 
https://www.youtube.com/watch?v=95­zsebeLZc  
            ​http://50forfreedom.org/ 
16. Protocolo trabalho forçado, 
http://50forfreedom.org/pt/um­tratado­para­mudar­21­milhoes­de­vidas/  
17. Guil Free Consumption​, ​http://trendwatching.com/pt/trends/guiltfreeconsumption/

Continue navegando

Outros materiais