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Teoria Geral do Processo Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin A Ação, a Exceção e o Processo • Ação • Defesa Do Réu (Exceção) • Classificação dos Processos • Identificação da Ação e do Processo • Processo · Aprender um pouco mais sobre a ação, a defesa do réu (exceção) e o processo. · O Direito Processual moderno está assentado em três conceitos básicos: a ação, a jurisdição e o processo. É justamente o primeiro e o último desses conceitos que iremos conhecer nesta aula. OBJETIVO DE APRENDIZADO Olá, aluno (a)! Nesta Unidade, vamos aprender um pouco mais sobre um importante tema “A Ação, a Exceção e o Processo”. Então, procure ler, com atenção, o conteúdo disponibilizado e o material complementar. Não esqueça! A leitura é um momento oportuno para registrar suas dúvidas; por isso, não deixe de anotá-las e de transmiti-las ao professor tutor. Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra num ambiente mais interativo possível, na pasta de atividades, você também encontrará as atividades de Avaliação, uma Atividade Reflexiva e a videoaula. Cada material disponibilizado é mais um elemento para seu aprendizado. Assim, por favor, estude todos com atenção! ORIENTAÇÕES A Ação, a Exceção e o Processo UNIDADE A Ação, a Exceção e o Processo Contextualização A defesa do Réu No estudo da Teoria Geral do Processo há sempre grande ênfase à formação do processo, destacando o papel do autor da ação como sendo aquele que provoca a jurisdição em razão de ter sua pretensão desatendida em um caso concreto. Contudo, pouco se fala do outro polo da relação processual. Isso, na verdade, é somente uma aparência, pois a estrutura do processo estabelece uma série de garantias ao réu, que não podem ser afastadas, pois a relação jurídica processual é regida por normas de ordem pública, que não podem ser desconsideradas pelas partes ou pelo juiz. O grande desafio do processo é buscar equilíbrio e atuação justa, no qual os direitos e garantias do autor e do réu sejam respeitados. A forma como esse grande desafio se desenvolve é que vamos encontrar nas entrelinhas de nossa Unidade! Não deixe de prestar atenção a esses importantes detalhes! 6 7 Ação Natureza jurídica O direito processual, atualmente, assenta-se em três conceitos que se interligam: a ação, a jurisdição e o processo. Em geral, o que observamos é que as pessoas formam relações jurídicas que, na maioria dos casos, são bilaterais. É o que ocorre, por exemplo, em um Contrato de locação, no qual temos “A”, que é proprietário de uma casa, que a loca para “B”. Contrato de Locação “A” (Locador) “B” (Locatário) Figura 1 Essas relações são regidas pelo direito material (Direito Civil, Direito Empresarial etc., podendo ser normatizada pelo direito público ou pelo direito privado) e, na grande maioria dos casos, relações jurídicas como essas se formam, duram certo tempo e se extinguem sem que haja qualquer tipo de situação conflituosa. Contudo, se o conflito existir e evoluir por ter a parte sua pretensão resistida, estará caracterizada a lide. Se essa lide é apresentada por uma das partes à jurisdição, irá se formar outro tipo de relação jurídica, a relação jurídica processual (regida pelo Direito Processual), que agora terá o acréscimo de mais uma parte, o Estado representado pelo juiz. Aproveitando o exemplo acima, vamos supor que “B”, sem nada alegar, resolve deixar de pagar o valor do aluguel para “A”, sendo que este, não conseguindo de outra forma resolver o conflito que se formou, busca a jurisdição, apresentando- lhe uma ação. 7 UNIDADE A Ação, a Exceção e o Processo Relação Jurídica Processual “A” (Autor) “B” (Réu) Estado - Juiz Figura 2 O direito de ação se dirige ao Estado e se caracteriza pelo direito de buscar a jurisdição em razão da ocorrência de uma lide. Mesmo quando a ação envolve direitos privados (tais como nas relações de natureza comercial e civil), a relação jurídica que se forma com o exercício do direito de ação é sempre regida por normas de Direito Público, as quais não podem ser afastadas pelo juiz ou pelas partes. Com a apresentação da ação, forma-se a relação jurídica processual, sendo que a pretensão do autor é que o Estado resolva o litígio, reconhecendo seu direito e condenando o locatário ao pagamento do valor do aluguel (e outras verbas). No conceito de ação, em razão de sua bilateralidade, também está atrelada a defesa, pois: • Na ação, o autor provoca a atuação jurisdicional buscando um provimento em face de alguém (réu) que resiste à sua pretensão; • Já a defesa (direito de defesa) é o seu contraposto, pois garante ao réu que não terá seu patrimônio jurídico lesado ou ameaçado, a não ser que haja um provimento jurisdicional que lhe seja desfavorável. Não podemos esquecer que a jurisdição é inerte, ou seja, salvo situações excepcionais, não pode o juiz iniciar um processo sem que haja a provocação de uma das partes em litígio. Essa provocação é feita pela “ação”, que obriga que o Estado, atendidas certas condições, seja obrigado a dar solução ao litígio que lhe foi apresentado. Concepção do direito de ação O direito de ação possui duas acepções diferenciadas, mas que se completam: • Ação como direito de acesso à jurisdição; • Ação em sentido estrito. 8 9 Ação como direito de acesso à jurisdição Nessa acepção, devemos destacar que qualquer pessoa pode buscar a jurisdição quando uma pretensão sua não for espontaneamente atendida. Esse direito decorre do preceito estampado no Inciso XXXV do Artigo 5º da Constituição Federal, que possui a seguinte redação: Constituição Federal Art. 5º [...] XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; Trata-se de direito incondicionado de acesso ao Poder Judiciário; contudo, isso não significa que a jurisdição irá aquiescer com o que lhe é apresentado. Ação em sentido estrito Nessa acepção, busca-se maior utilidade do direito de ação. A atual concepção de ação em sentido estrito é fruto de grandes debates jurídicos que questionavam, em especial, a sua relação com o direito material. Desses debates, podemos destacar as seguintes correntes doutrinárias: • Concepções concretistas: são fruto de várias teorias que viam o direito de ação como dependente do direito material adjacente, não conseguindo distinguir com clareza um do outro. Dessa forma, somente haveria o direito de ação se, ao final do processo, o autor tivesse reconhecido seu direito material; • Concepção abstratistas puras: para os defensores das teorias abstratas puras. “havia ação em sentido estrito, independentemente do tipo de resposta dada pelo Judiciário, fosse a sentença de procedência, improcedência ou extinção sem julgamento de mérito” (GONÇALVES, 2016, p. 153-4). Dessa forma, não haveria diferença entre a ação em sentido estrito e o direito de acesso à jurisdição; • Concepção abstratista eclética: esta é a concepção adotada pelo Código de Processo Civil. Nela, o direito de ação em sentido estrito é visto como sendo o direito de se obter uma decisão de mérito, sendo caracterizado por ser um direito condicionado, ou seja, para que o autor tenha o mérito de sua ação apreciado pela jurisdição, ele precisa atender a certas condições estabelecidas na Lei. A decisão de mérito não implica o reconhecimento do direito pretendido pelo autor, pois essa decisão pode ser favorável ou não à sua pretensão. Vamos, então, conhecer essas condições que, se presentes, levam o juiz a proferir a decisão de mérito. 9 UNIDADE A Ação, a Exceção e o Processo Condições da ação O direito de buscar a jurisdição e de atingir uma sentença demérito não é incondicional e genérico. Ele nasce quando a pessoa reúne certas condições previstas na legislação processual. Essas condições não representam, ainda, o mérito do pedido, isto é, não definem se o autor tem ou não razão, mas se qualquer delas estiver ausente, impedirá que o juiz aprecie a pretensão. Sendo o direito de ação um direito condicionado, se essas condições não forem respeitadas no caso concreto falamos que o autor é carecedor de ação, ou seja, em razão do direito de acesso à jurisdição ele terá uma resposta, contudo, não será apreciado o mérito de sua demanda. No atual Código de Processo Civil as condições da ação estão estampadas em seu Artigo 17, que possui a seguinte redação: Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade. Assim, são condições da ação: • A legitimidade ad causam; • O interesse de agir. Legitimidade das partes Na clássica citação de Alfredo Buzaid, a legitimidade das partes ou legitimidade ad causam consiste na “pertinência subjetiva da ação”, isto é, faz- se necessário aferir se aquele que exerce o direito de ação tem legitimidade para pleitear o provimento jurisdicional naquela situação concretamente apresentada ao Poder Judiciário. Esta questão é disciplinada pelo Artigo 18 do Código de Processo Civil: Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico. Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir como assistente litisconsorcial. Considerando-se essa disposição legal, podemos ter duas formas de legitimidade: • Legitimidade ordinária: em que aquele que exerce o direito de ação é o titular da relação jurídica de direito material objeto do litígio: Assim, em princípio, é titular de ação apenas a própria pessoa que se diz titular do direito subjetivo material cuja tutela pede (legitimidade ativa), podendo ser demandado apenas aquele que seja titular da obrigação correspondente (legitimidade passiva) (CINTRA, GRINOVER & DINAMARCO, 2012, p. 290). 10 11 • Legitimidade extraordinária: também chamada de substituição processual, ocorre nas hipóteses excepcionais previstas na parte final do caput do Artigo 18 do Código de Processo Civil, em que a lei autoriza determinadas pessoas a exercerem, em nome próprio, o direito de ação em função de relações de direito material da qual não são diretos titulares ou que não são titulares por inteiro. Vamos imaginar, por exemplo, que um determinado sítio é de propriedade de “A”, “B” e “C”, razão pela qual está caracterizado um condomínio1. Em dado momento, enquanto “B” e “C” estavam fazendo uma longa viagem, ocorreu uma ilícita ocupação do imóvel por diversas pessoas. Não havendo outra forma de resolver a situação, “A” ingressa com uma ação de reintegração de posse que, naturalmente, repercute em todo o imóvel. Embora somente seja proprietário de uma cota-parte desse bem, estando as demais sob o domínio de “B” e “C”, o Artigo 1.314 do Código Civil autoriza que “A” defenda a coisa que não é somente sua. Dessa forma, ele atua em nome próprio em relação à sua cota-parte e como substituto processual em relação às cotas-parte de “B” e “C”. Observe o Artigo a seguir: Código Civil Art. 1.314. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la. [...] Além do condomínio, também pode ser lembrada a situação do Ministério Público, de alguns órgãos públicos e de associações que, em ações coletivas, defendem direitos que não lhes pertencem, tais como o meio ambiente, a defesa do consumidor e a defesa de bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Interesse processual O exercício do direito de ação deve ser exercido somente quando for necessária a prestação jurisdicional para a solução da pretensão do autor, sendo que deve haver uma adequação entre o que é pleiteado e a forma prescrita para a solução do litígio. Temos, portanto, dois aspectos do interesse processual: • Interesse-necessidade: deve ser demonstrada a impossibilidade de a parte obter a satisfação de sua pretensão sem a intervenção da jurisdição. Assim, por exemplo, em uma ação de cobrança de uma dívida não paga, não 1 Um condomínio está caracterizado toda vez que uma coisa pertencer a mais de uma pessoa. Observe que no exemplo, o sítio pertence a “A”, “B” e “C”, sendo que cada um possui uma cota-parte desse bem. 11 UNIDADE A Ação, a Exceção e o Processo havendo outra opção para que o credor tenha seu direito respeitado, há clara necessidade da jurisdição para esse litígio se resolva; • Interesse-adequação: o exercício do direito de ação se faz de forma adequada a obter o provimento almejado pelo autor. Se não houver essa adequação, o autor estará pleiteando à jurisdição algo que não serve para a solução do litígio. Possibilidade jurídica do pedido não mais é condição autônoma da ação Na vigência do Código de Processo Civil anterior, a possibilidade jurídica do pedido era uma das condições da ação, juntamente com a legitimidade de agir e o interesse de agir; contudo, na atual lei processual civil, não possui esse mesmo status. Na verdade, ela continua a ser importante para que se busque decisão de mérito; contudo, ela hoje foi absorvida pelo interesse de agir. Se o autor procura a jurisdição para formular pedido que não encontra respaldo no sistema jurídico, falta-lhe interesse de agir, sendo carecedor de ação. É o que aconteceria, por exemplo, se alguém ingressasse como uma ação judicial buscando a cobrança de uma dívida oriunda de uma aposta em um jogo de azar. Nesse caso, o Código Civil é expresso em mencionar que esse tipo de dívida não obriga o pagamento, razão pela qual não pode a jurisdição, por falta de possibilidade jurídica do pedido, dar provimento a essa pretensão: Código Civil Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito. Carência de ação Quando estiver ausente qualquer das condições da ação, ou seja, a legitimidade ad causam ou o interesse de agir, o juiz encerra o processo sem decisão de mérito, isto é, não apreciará se o autor tinha direito à pretensão que buscava alcançar com o provimento jurisdicional. Não podem ser confundidas duas expressões semelhantes: • Carência de ação: na carência de ação, o juiz reconhece a inexistência, no caso concreto, das condições da ação, sendo que o processo é encerrado sem a apreciação do mérito. • Improcedência da ação: nesse caso, estão presentes as condições da ação; contudo, o juiz, ao apreciar o mérito do pedido formulado pelo autor, não reconhece o que é pleiteado. Há, na verdade, uma precedência lógica nessa análise, ou seja, o juiz antes verifica a existência das condições da ação e, depois, aprecia o mérito. 12 13 Defesa do Réu (Exceção) Exceção (no singular) tem o significado de: Poder jurídico que possibilita ao réu opor-se à ação movida pelo autor. Por isso, partindo-se de uma concepção dialética do processo, o tema da exceção é rigorosamente paralelo ao da ação; (CINTRA, GRINOVER & DINAMARCO, 2012, p.302-3). Dessa forma, ao réu cabe o direito de pedir que a pretensão apresentada à jurisdição pelo autor seja denegada. Isso faz com que tenha de se reconhecer que o réu também tem uma pretensão dirigida ao Estado-juiz: a pretensão de que não se reconheça o pedido formulado pelo autor. A defesa, contudo, pode se dirigir: • Contra o processo e a admissibilidade da ação; • Contra o mérito da pretensão apresentada peloautor, a chamada exceção substancial. A exceção no Processo Cível se faz, em especial, pela apresentação da contestação – que é uma peça processual em que o réu irá se opor aos elementos que constituem a pretensão do autor. Classifi cação dos Processos Há diversas classificações dos processos decorrentes do exercício do direito de ação, sendo que, neste momento, interessa-nos aquela que considera o tipo de provimento jurisdicional invocado. Segundo essa classificação, temos as seguintes possibilidades: Processos Segundo o Tipo de Provimento Jurisdicial Invocado Processos de Conhecimento Processos de Execução Declaratórios Constitutivos Condenatórios Figura 3 Processos de conhecimento Nos processos de conhecimento,o autor deseja obter uma decisão sobre o mérito de sua pretensão (um provimento cognitivo), ou seja, quer o reconhecimento da jurisdição de que tem razão naquela pretensão que apresenta. 13 UNIDADE A Ação, a Exceção e o Processo Ela apresenta três possibilidades: • Processos declaratórios; • Processos constitutivos; • Processos condenatórios. Nos processos declaratórios, o autor objetiva somente a declaração da existência ou da inexistência de uma relação jurídica ou a autenticidade ou falsidade de um documento. A possibilidade de provimentos meramente declaratórios está prevista expressamente nos Artigos 19 e 20 do Código de Processo Civil: Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I - da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica; II - da autenticidade ou da falsidade de documento. Art. 20. É admissível a ação meramente declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito. Vamos supor que “A” alega que “B”, em razão de um contrato, deverá efetuar o pagamento de determinado valor ao final do prazo de dois anos. “B”, por não reconhecer a existência da dívida, pode imediatamente ingressar com uma ação judicial na qual solicitará ao juiz que se restrinja a declarar que essa dívida é inexistente. Nos processos condenatórios, o autor deseja o reconhecimento do direito que pleiteia e, além disso, quer que seja aplicada sanção ao réu em razão da violação das normas de direito material que regulam a relação jurídica existente entre ambos. É o que ocorre, por exemplo, quando um credor ingressa com uma ação solicitando que o juiz reconheça a existência da dívida e a aplicação ao réu das sanções indicadas na Lei ou no Contrato (juros, multa etc.). Por fim, nos processos constitutivos, o autor deseja alcançar um provimento jurisdicional que constitua, modifique ou extinga uma relação ou situação jurídica. Os efeitos desejados pelo autor devem estar previstos no ordenamento jurídico, embora somente com a decisão eles passem a ser exigíveis naquela situação concreta. É o que ocorre, por exemplo, nas ações de adoção, pois ao final delas é constituída uma nova relação jurídica entre o adotante e o adotado, bem como são extintas as relações que o adotado tinha com sua família natural. É importante destacar que, em geral, não existem processos puramente declaratórios, constitutivos ou condenatórios. Esta classificação somente destaca o que é preponderante no provimento jurisdicional que o autor deseja ao exercer o seu direito de ação. 14 15 Processos de execução Em diversas situações, a atuação jurisdicional pretendida pelo autor, ao exercer seu direito de ação, não se resume ao reconhecimento de sua pretensão, sendo necessário tornar efetiva a decisão judicial. É nessas situações que se faz necessário o Processo de Execução. No Processo de Execução, busca-se a satisfação do direito do autor que foi reconhecido na sentença judicial, particularmente nas situações em que, mesmo após a sentença condenatória, há inércia do réu em cumprir os seus termos. Na vigência do Código de Processo Civil anterior, encerrado o processo de conhecimento e não havendo cumprimento voluntário da decisão, o autor precisava propor o processo de execução. Situação diversa ocorre na nova lei processual civil. Agora, firmada a obrigação do réu na decisão judicial, já se inicia a execução, sem mais a necessidade de se propor um novo processo. Há, contudo, hipóteses em que a existência do direito do autor já é previamente reconhecida pelo ordenamento jurídico, sem que haja necessidade de ele ingressar com um processo de conhecimento. Isso ocorre quando há prévia formação de um título de crédito extrajudicial, definido no Artigo 784 do Código de Processo Civil. É o que ocorre, por exemplo, no caso de cobrança de um cheque sem fundos. Nesse caso, o juiz passará diretamente à execução do valor contido nesse título de crédito: Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; [...] Identifi cação da Ação e do Processo O exercício do direito de ação e o seu corresponde processo judicial são identificados por três elementos: as partes, a causa de pedir e o pedido. Essa identificação apresenta uma série de efeitos práticos, em especial para impossibilitar a repetição de ações, o que acarretaria a extinção do processo sem julgamento de mérito. Essa repetição poderá se dar em razão: • da litispendência: que se caracteriza quando, ao mesmo tempo, há duas ações em curso com os mesmos elementos; 15 UNIDADE A Ação, a Exceção e o Processo • da coisa julgada: quando há a proposição de uma nova ação judicial quan- do, anteriormente, outra, com os mesmos elementos, foi encerrada com solução de mérito. Assim: É tão importante identificar a ação, que a lei exige a clara indicação dos elementos identificadores logo na peça inicial de qualquer processo, ou seja: na petição inicial cível [...] ou trabalhista (CLT, Art. 840, § 1º) e na denúncia ou queixa-crime (CPP, Art. 41). A falta dessas indicações acarretará o indeferimento liminar da petição inicial, por inépcia [...] (CINTRA, GRINOVER & DINAMARCO, 2012, p. 291-2). Partes São aquelas pessoas que irão participar da relação processual que se forma em razão do exercício do direito de ação. Eles são os titulares da relação jurídica controvertida que é apresentada ao Estado-juiz. O autor é aquele que, diretamente ou por intermédio de um representante, apresenta à jurisdição a sua pretensão em face da ocorrência da lide, formulando no caso concreto um pedido. O réu é aquele que figurará no polo oposto da relação processual, ou seja, aquele que terá a sua esfera jurídica apreciada em razão da pretensão deduzida pelo autor. Causa de pedir Vindo a juízo, o autor irá narrar os fundamentos de fato e de direito que alicerçam a sua pretensão. Desta forma, podemos identificar dois importantes elementos: • Os fundamentos de fato constituem a chamada causa de pedir remota; • Os fundamentos de direito formam a causa de pedir próxima. Na causa de pedir remota,o autor apresentará na Petição Inicial (ou na Denúncia ou Queixa Crime, nas ações penais) a narrativa dos fatos que acarretaram o nascimento do litígio. Por exemplo, ele narra que efetuou a compra de um sanduíche na lanchonete de propriedade do réu, sendo que, após a ingestão, teve grave problema de saúde, pois o produto estava estragado e, portanto, era impróprio para o consumo, tendo um gasto com médicos e remédios no valor de R$ 2.000,00. Na causa de pedir próxima,o autor indicará os elementos jurídicos que fundamentam a sua pretensão. No exemplo acima, ele indicará a existência de uma relação de consumo, que sua pretensão encontra respaldo no Código de Defesa do Consumidor e que essa legislação estabelece que o fornecedor é responsável pela reparação dos danos causados ao consumidor. 16 17 Pedido É o elemento sobre o qual incidirá a decisão jurisdicional, ou seja, deveo autor especificar o objeto de sua pretensão em dois planos: • No aspecto genérico, deverá especificar o tipo de provimento jurisdicional que solicita, ou seja: de condenação, declaração ou constituição, ou ainda, de e xecução. É o chamado pedido imediato; • No aspecto específico, o autor deverá indicar o bem jurídico pretendido, o pedido mediato, ou seja, a providência jurisdicional que concretamente quer receber em decorrência do pedido imediato. Ainda no exemplo acima, o autor deve pedir a condenação do réu (pedido imediato) para que ele efetue o pagamento de R$ 2.000,00, em razão dos prejuízos causados (pedido mediato). Processo Não se pode confundir o processo com o procedimento e os autos. O processo é o instrumento de atuação da função jurisdicional com o objetivo de resolver os litígios que lhe são apresentados. É no processo que se forma a relação jurídica que liga as partes ao Estado-Juiz. O processo se materializa por uma série de atos das partes e do juiz, especialmente, que busca atingir uma solução final do litígio. A esse aspecto formal e exteriorizado do processo damos o nome de procedimento. Já os autos são a coleção de documentos, organizados e em volumes, que formam os registros escritos do procedimento. Fases procedimentais O desenvolvimento da relação processual, em razão da diversidade da natureza dos litígios (penais, civis, trabalhistas, tributários etc.), apresenta diversas particularidades. Contudo, podemos identificar três fases distintas: a postulatória, a probatória e a decisória. Fase postulatória Nesta fase, o autor irá apresentar à jurisdição a Petição Inicial, ou seja, a peça inicial do processo, na qual irá descrever ao juiz os fundamentos de fáticos e jurídicos de sua pretensão. 17 UNIDADE A Ação, a Exceção e o Processo Em sua formulação, devem estar presentes todos os elementos que identificam a relação processual que o autor pretende estabelecer, ou seja, a descrição das partes em litígio, a exposição do que consiste a causa de pedir (próxima e remota) e o pedido (mediato e imediato). O Código de Processo Civil estipula, no Artigo 319, quais são os elementos que devem estar presentes na petição inicial: Art. 319. A petição inicial indicará: I - o juízo a que é dirigida; II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV - o pedido com as suas especificações; V - o valor da causa; VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. [...] No Direito Processual Penal, a inicial acusatória tem o nome de denúncia (nos crimes de Ação Pública) ou Queixa Crime (nos crimes de Ação Penal Privada), sendo seus requisitos apresentados no Artigo 41 do Código de Processo Penal: Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. Presentes os requisitos da Petição Inicial (da Denúncia ou da Queixa Crime), o juiz determina a citação do réu. A citação é um importante ato processual, que busca duas finalidades: • Cientificar o réu de que contra ele foi proposta uma ação judicial. Essa ciência é imprescindível para que seja respeitado o princípio do contraditório, pois somente poderá ocorrer o seu exercício se o réu souber os elementos básicos que constituem a acusação. Para tanto, em regra, junto à Ordem Judicial De Citação (Mandado de Citação) é anexada uma cópia da Petição Inicial (da Denúncia ou da Queixa Crime); • Chamá-lo ao processo, para que venha se defender. 18 19 O Código de Processo Civil apresenta uma definição de citação em seu Artigo 238, no qual é destacada a segunda finalidade acima mencionada. Art. 238. Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação processual. Esse chamamento do réu ao processo faz com que ele possa exercer a sua defesa, sendo que, nessa fase procedimental, ele o fará apresentando sua resposta por meio de uma peça denominada Contestação. Já a contestação é a contraposição da Petição Inicial. Nela, o réu, refutando os elementos apresentados pelo autor, requererá a improcedência do pedido por ele formulado. Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir. No Código de Processo Penal, a resposta do réu é chamada de defesa prévia (ou defesa preliminar). Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário. Fase probatória Na fase probatória, as partes irão produzir as provas que alicerçam suas alegações. No Direito Processual, são objeto de prova somente fatos que constituem o direito do autor e do réu, sendo que, em regra, o direito não precisa ser provado, salvo quando se tratar de direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário: Código de Processo Civil Art. 376. A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz determinar. Em grande parte, essas provas são produzidas em audiência, na qual se propicia à parte contrária o exercício do contraditório. Fase decisória Na terceira e última fase, ocorrerá a decisão do processo em primeiro grau, com a sentença prolatada pelo juiz. 19 UNIDADE A Ação, a Exceção e o Processo Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Em nossa Disciplina, utilizaremos com muita frequência a Constituição Federal, o Código de Processo Civil e o Código de Processo Penal. Essas importantes normas estão disponíveis nos links a seguir: Sites Constituição Federal http://goo.gl/lM0x Código de Processo Penal http://goo.gl/YQWRv Código de Processo Civil http://goo.gl/6b0EbE Lei dos Juizados Cíveis e Criminais http://goo.gl/fszPj Lei n.º 9.307/96, que trata da Arbitragem http://goo.gl/u7Mrt Lei n.º 13.140/15, que trata da Mediação http://goo.gl/UQ5kMd 20 21 Referências CINTRA, A.; GRINOVER, A.; DINAMARCO, C. (2012). Teoria Geral do Processo. 28.ed. São Paulo: Malheiros. GONÇALVES, M. (2016). Direito Processual Civil esquematizado. 7.ed. São Paulo: Saraiva. MONTENEGRO FILHO, M. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 11.ed. São Paulo: Atlas, 2015. v 1. THEODORO JÚNIOR, H. Curso de direito processual civil. 56. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. 1. 21
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