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Módulo 4

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Módulo 4: Signo linguístico
O signo linguístico
 
Já vimos no conteúdo anterior que Saussure conceitua a língua como um sistema, isto é, como um conjunto organizado de elementos que estabelecem relações entre si, caracterizadas pela interdependência. Nesse sentido, Saussure considera a língua um conjunto organizado de signos linguísticos. Mas o que são, efetivamente, esses signos linguísticos? Vejamos:
 
Trask (2004, p.266) define signo linguístico como “um objeto linguístico dotado simultaneamente de forma e sentido”. O conceito de signo linguístico foi introduzido na ciência linguística por Ferdinande Saussure, no início do século XX, e tem papel fundamental na linguística. Segundo Trask, o conceito é simples: significa que todo objeto linguístico tem dois aspectos: uma forma linguística – denominada por Saussure de significante, e um sentido, denominado de significado.
 
Veja mais: (DUBOIS et al., 1973, p.542) essencialmente psíquicos, não são abstrações; o signo – ou unidade – linguístico é uma entidade dupla, produto da aproximação de dois termos, ambos psíquicos e unidos pelo laço da associação; une, com efeito, não uma coisa a um nome, mas um conceito a uma imagem acústica.
 
            Para entender melhor a teoria dos signos, vamos iniciar retomando o que afirma a Semiótica (ou Semiologia) sobresignos. Ela faz distinção entre dois tipos de signos: os denominados naturais e os denominados convencionais. Um signo natural pode ser, por exemplo, a fumaça de uma fogueira feita no meio da selva para indicar que um grupo de escoteiros está naquele local, ou o cheiro de um churrasco, as passadas de alguém na neve... O que caracteriza um signo natural é, na verdade, o indício de que existe uma determinada coisa conhecida num dado contexto. Já os signos denominados convencionais são mais complexos porque estão relacionados à cultura de um povo. Esses signos têm características relacionadas ao contexto antropológico e são, a um só tempo, produto e instrumento da ação do homem no contexto.
            Saussure (apud Carvalho, 2002, p.27) preferiu adotar a palavra signo e não símbolo linguístico por acreditar que
 
O símbolo tem como característica não ser jamais completamente arbitrário; ele não está vazio (...) O símbolo da justiça, a balança, não poderia ser substituído por um objeto qualquer, um carro, por exemplo.
 
Exemplificando: a palavra cachorro tem uma forma particular, ou seja, ela é um conjunto de fonemas que isoladamente não têm sentido algum. Essa forma é o significante. Mas essa palavra também tem um significado particular: ele representa um tipo específico de animal. Esses dois aspectos juntos formam o signo linguístico.
 
Signos linguísticos são, portanto, sinais produzidos pelo falante, constituídos de significado e significante.
 
Signo não é a palavra. Signo é o resultado de um conjunto de relações mentais e podemos dizer que há em cada signo uma idéia ou várias idéias, sempre de acordo com o contexto.
 
No início do circuito da comunicação visto no conteúdo anterior, ainda em sua parte psíquica, no cérebro do falante, se dá a união de um conceito – o significado – a uma representação ou imagem acústica – o significante. O significado não é a coisa em si, mas um conceito que o falante possui. O significante não é o som, mas a “imagem” (“imagem acústica”) que o falante tem daquele som. Lembre-se que o significado e o significante estão no cérebro do falante, onde um se une ao outro. Dessa união resulta o signo linguístico.
 
O signo linguístico é da língua. É da coletividade. O signo linguístico será transformado em som quando tiver início o processo de produção vocal (nas pregas vocais).
 
 
 
	Signo “flor”
	 
significante [flor] (imagem acústica que está em nossa mente)
 
significado (conceito: o que é uma flor? o que a caracteriza? Que propriedades ela tem? etc.)
 
 
 
 
Uma coisa interessante é ressaltar que Saussure (apud Trask, 2004, p.266) chama a atenção para a arbitrariedade de cada signo linguístico: “não há nenhuma razão para que qualquer forma linguística particular seja associada a qualquer significado particular, e o acoplamento forma/sentido que existe em cada caso é um acoplamento arbitrário”, isto é, convencionado socialmente, culturalmente. Significa, portanto, que a arbitrariedade da relação significado e significante repousa numa espécie de acordo coletivo entre os falantes.
 
 
Dizemos que essa relação entre significado e significante é arbitrária porque é imotivada, ou seja, não há uma relação natural entre o significante GATO e o significado - conceito de gato. Basta observarmos outras línguas: em português temos GATO; em francês temos CHAT; em inglês, CAT. Como afirma Saussure (1973, p.87), ): “... não existe motivo algum para preferir soeur a sister, ou a irmã, ochs a boeuf ou boi”. Em relação ao exemplo do GATO, “não há motivo algum para preferir cat, chat, ou gato”. Porém, de acordo com Orlandi (2002, p.23), “... é claro que uma vez que se atribua esse nome, ele passa a ter um valor na língua”, os falantes associam, no cérebro, o conceito “gato” à imagem acústica de acordo com sua língua.
 
Se isso, em princípio, parece difícil para entender, lembre-se, mais uma vez, que se trata de um ponto de vista sobre a linguagem, o ponto de vista de Saussure e daqueles que com ele compartilham desse pensamento estruturalista. É, portanto,uma das explicações da ciência Linguística.
 
O signo linguístico é a associação entre significado e significante. Não existe signo linguístico sem significado. Não existesigno linguístico sem significante. Na constituição do signo linguístico, o significado e o significante são como as duas faces de uma moeda, não é possível separar a cara da coroa.
 
Significado e significante são interdependentes e complementares. Interdependentes, pois um está associado ao outro para a constituição do signo linguístico; complementares, pois a definição do signo depende da definição de cada um deles. Logo, significado e significante são conceitos dicotômicos.
 
	
 
 
Outra característica do signo linguístico, segundo Saussere, é a linearidade do significante: os componentes que integram um determinado signo (como por exemplo, os fonemas) se apresentam um após o outro, tanto na fala como na escrita. Não é possível produzir dois sons da fala ao mesmo tempo, dois signos ao mesmo tempo ou duas palavras ao mesmo tempo. É como se fosse uma linha no tempo.
 
Essa é uma característica relevante na distinção entre os signos linguísticos e os signos visuais. Os signos visuais co-correm no espaço. Um quadro, por exemplo, apresenta vários signos visuais ao mesmo tempo transmitindo determinada mensagem para quem o vê: cor, tamanho, luminosidade, figura-fundo e outras.
 
 
Em resumo:
 
sincronia e diacronia
língua e fala                                      são conceitos dicotômicos.
significado e significante
 
São definidos de forma independente, porém são complementares ou interdependentes entre si.
 
É importante salientar que a dicotomia estabelecida é diferente em cada um desses casos:
 
a)  - no caso de sincronia e diacronia, a interdependência e a complementaridade se referem ao fato de que a diacronia da língua é constituída de diferentes estados sincrônicos que se sucedem no tempo; a sincronia, por sua vez, é o resultado das transformações diacrônicas;
b)    - no caso de língua e fala, a interdependência e complementaridade dizem da possibilidade de realização de cada um;
c)    - no caso de significado e significante, a interdependência e complementaridade dizem da constituição do signo linguístico.
 
Retomemos, agora, a afirmação “O significado não é a coisa em si, mas um conceito que o falante possui. O significante não é o som, mas a ‘imagem’ (‘imagem acústica / a imagem da grafia`) que o falante tem daquele som”. Essa afirmação é muito importante na compreensão dessa abordagem linguística, devendo, portanto, ser mais explorada.
 
Costuma-se pensar que as palavras
existem para nomear ou referir-se às coisas existentes no mundo. A língua, nesse sentido é “entendida como uma nomenclatura” (Pietroforte, 2002, p.85), “uma coleção de nomes para as coisas do mundo”.
 
Na definição de Saussure, o que está sendo dito é que de um lado está o mundo, com suas coisas; de outro lado está a língua, com seus signos constituídos de significados e significantes. Os signos são definidos na relação com os outros signos que constituem o sistema linguístico. Esse sistema pode ser descrito nele mesmo, sem depender das coisas do mundo.
 
Ao mesmo tempo, ao se dizer que os signos se definem dentro do sistema, está sendo dito que “o que significa são os signos em suas relações uns com os outros e não a relação entre as palavras e as coisas do mundo” (Pietroforte, 2002, p.85). Logo, “esse sistema compreende uma visão de mundo”. É, assim, uma “interpretação do mundo” - um princípio de classificação (p.86).
 
Ainda caracterizando o signo linguístico, Saussure discute a imutabilidade do signo: embora o significante seja escolhido arbitrariamente, em relação à comunidade lingüística que o emprega ele não é livre, mas sim imposto. É pela herança lingüística que cada signo se impõe cultural e socialmente.
 
Também é característica essencial do signo linguístico, sua mutabilidade: o tempo assegura a continuidade da língua, porém, permite alteração nos signos lingüísticos, sempre exteriores à língua. Afirma Saussure que essas modificações situam-se no nível fonético e semântico, e levam a um deslocamento da relação significado/significante. Um exemplo disso: a palavramacula, que significava “mancha”, deu origem a mágoa no português.
 
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Referências utilizadas na elaboração deste texto:
CARVALHO, Castelar de. Para Compreender Saussure. 10 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
DUBOIS, Jean et al. Dicionário de lingüística. São Palo: Cultrix, 2007.
FIORIN, J. L. Teoria dos signos. In: FIORIN, J. L. (org.) Introdução à linguística. I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002.
ORLANDI, E. O que é linguística. 4a ed. São Paulo: Brasiliense, 1990. (Coleção Primeiros Passos, 184)
PIETROFORTE, A. V. A língua como objeto da linguística. In: FIORIN, J. L. (org.) Introdução à linguística. I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002.
SAUSSURE, F. Curso de linguistica geral. Trad. Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. 4a ed. São Paulo: Cultrix, 1972.
TRASK, R. L. 2004.Dicionário de Linguagem e Lingüística. Tradução e adaptação de Rodolfo Ilari. Revisão Técnica de Ingedore Villaça Koche Thaís Cristófaro Silva. São Paulo: Contexto. 364 p. ISBN 85-7244-254-5.

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