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Módulo 8

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Módulo 8: Áreas de análise linguística. Linguagem Humana / Comunicação Animal
 Você já deve ter ouvido inúmeras vezes alguém dizer “linguagem dos animais” ou “linguagem musical” ou “linguagem das artes” ou ainda “linguagem gestual”. No entanto, como aqui discutimos especificamente a linguagem, é necessário que esse conceito seja melhor discutido. Distinguir entre linguagem humana e linguagem animal, como afirmam vários autores linguistas, permite fazermos a distinção “entre índice e signo, entre o uso metafórico e o uso próprio do termo linguagem” (LOPES, 1975, p.35).
 
 
   Atenção!
Você se lembra de nossas discussões na Unidade II, quando apresentamos os conceitos de Saussure sobre símbolo e signo? Retome-a.
 
 
 
   A pergunta que persiste é: “podemos chamar de linguagem a comunicação entre os animais?”
 
 
   Karl von Frisch (1886-1982), um cientista austríaco, decifrou a comunicação entre as abelhas. Seu estudo rendeu-lhe o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1973 e o título de pai da etologia – estudo do comportamento animal. Ele observou que a abelha-obreira, ao retornar à colmeia depois de identificar uma fonte de alimento, é rodeada por suas companheiras, passa o pólen para as demais pelas suas antenas e, em seguida, executa uma dança.
 
 
   As companheiras assistem a esse show e dirigem-se ao local do alimento, frequentemente distante da colmeia, sem erro nem hesitação sobre sua localização. Na volta, essas últimas abelhas executam novamente a dança e outras abelhas partem. Essa coreografia pode ser ilustrada e resumida como segue:
 
 
• círculos horizontais da direita para a esquerda e vice-versa, ou em forma de oito, em que a abelha contrai o abdome;
 
• segue em linha reta;
 
• faz um giro para a direita;
 
• uma volta completa à esquerda;
 
• corre em linha reta.
 
   Se o alimento estiver a menos de cem metros, a abelha executa uma dança circular; se o alimento estiver mais distante, a dança é em forma de oito. Quanto maior a distância, menos giros faz. Assim:
 
• cem metros: a abelha percorre nove ou dez vezes em 15 segundos a linha reta que faz parte da dança;
 
• quanto maior a distância, menos giros faz a abelha – 500 metros = 6 giros em 15 segundos.
 
   A direção é dada pela direção da linha reta em relação à posição do sol.
 
Fonte: Adaptado de PETTER (2002)
 
 
   As abelhas são:
 
• capazes de produzir e de compreender uma mensagem que transmite inúmeros dados relacionados a: posição e distância;
 
• capazes de utilizar símbolos, através dos quais transmitem as várias informações. Esses símbolos são arquivados na memória. A relação entre o passo da dança e o que significa é “convencional”.
 
   A abelha faz uso, portanto, de uma capacidade essencial para a linguagem: a de formular e interpretar um “signo” que remete a uma “realidade”, a memória da experiência e a aptidão para decompô-la. Além disso, cada membro da comunidade emprega a mesma simbologia.
 
 
   Entretanto, há diferenças consideráveis entre a linguagem animal e a linguagem humana:
 
• as abelhas não têm aparelho vocal;
 
• a mensagem não provoca uma resposta, apenas uma certa conduta. Não há um diálogo no sentido convencional, não há reações linguísticas;
 
• a mensagem não pode ser reproduzida por outra que não tenha, ela mesma, visto os fatos que a primeira anunciou – transmissão ou retransmissão de mensagens. A abelha não constrói uma mensagem a partir de outra mensagem;
 
• o conteúdo da mensagem é limitado: refere-se à direção e à distância em relação a uma fonte de alimento;
 
• e o mais relevante: a mensagem produzida pelas abelhas não pode ser decomposta em elementos menores; uma abelha não é capaz de iniciar a coreografia a partir de metade dela já realizada.
 
 
E na linguagem humana?
 
• O uso do aparelho vocal possibilita a transmissão da linguagem mesmo que os interlocutores não sejam visíveis um ao outro.
 
• Há construção de diálogos, com a interferência de um na linguagem do outro.
 
• Não há necessidade de passar pela mesma experiência; pode haver a (re)transmissão da mesma mensagem indefinidamente.
 
•
 O conteúdo da linguagem é infinito.
 
• E o mais relevante: a mensagem pode ser decomposta nas suas partes constituintes, que, por sua vez, combinam-se com outras partes de outras mensagens. As possibilidades de combinações dos elementos são indefinidas, permitindo a variedade da linguagem humana, a criatividade do falante (sobre isso, rever a unidade III).
 
 
   Em resumo,
 
a comunicação das abelhas não é uma linguagem, é um código de sinais, como se pode observar pelas suas características: conteúdo fixo, mensagem invariável, relação a uma só situação, transmissão unilateral e enunciado indecomponível (PETTER, 2002).
 
 
   Segundo o linguista Benveniste (2005), aplicar o termo “linguagem” ao mundo animal é um abuso de termos, pois os animais não dispõem de um modo de expressão que se assemelhe, mesmo que de forma rudimentar, à linguagem humana.
 
 
        Para que você tenha uma breve noção, abordamos a seguir, resumidamente, a fonética e a fonologia.
 
   Fonética e fonologia são ciências que se dedicam ao estudo dos sons, respectivamente, da fala e da língua. No entanto, cada uma delas se dedica a esse objeto de maneira diferente, considerando aspectos diferentes, como já dissemos. Esta seção é destinada a discutir esses conceitos.
 
   A fonética e a fonologia estudam os sons, porém, com objetivos diferentes:
 
 
• a fonética descreve os sons da fala, todos os sons da fala possíveis de serem produzidos pelo aparelho fonador do ser humano e usados em uma língua natural. A fonética é uma ciência descritiva;
 
 
• a fonologia interpreta os sons da língua e explica o valor que os sons da fala adquirem em cada sistema fonológico particular – em cada sistema linguístico (língua). A fonologia é uma ciência explicativa, interpretativa (MASSINI-CAGLIARI; CAGLIARI, 2001).
 
 
   Ambas tratam dos sons, porém, cada uma com seus próprios métodos e técnicas de análise, e estão em busca de resultados diferentes. Apesar disso, são interdependentes: a fonética depende da fonologia para entender a realidade sonora da língua, ou seja, para entender como os sons da fala funcionam dentro dos sistemas linguísticos. A fonologia depende da fonética para atuar sobre dados reais de fala (CAGLIARI, 1997).
 
 
   A fonética divide-se em:
 
• Fonética acústica = estuda a estrutura física dos sons da fala. Ela classifica os sons segundo a frequência, a amplitude e o tempo de propagação das ondas sonoras.
 
• Fonética auditiva = descreve a maneira como os sons da fala são percebidos pelo sistema auditivo humano, em termos de sua altura, intensidade e duração.
 
• Fonética articulatória = preocupada em descrever os movimentos dos órgãos do aparelho fonador – chamados órgãos fonoarticulatórios – para a produção dos vários sons da fala.
 
   Dependendo do movimento executado pelo aparelho fonador, o som terá uma qualidade acústica específica que implicará a percepção de um som particular. O aparelho fonador funciona como um instrumento musical: dependendo da forma e do tamanho produzirá um som diferente:
 
	violino
	violoncelo
	contrabaixo
	Clave de Sol
	Clave de Fá
	O contrabaixo é uma oitava mais grave que o violoncelo
	
	
	
	Cada um desses instrumentos produz um som diferente do outro em função do tamanho da caixa, da grossura das cordas, da posição do instrumento, do formato e do tamanho do arco.
 
 
   Nosso propósito foi apenas apresentar a você os aspectos relevantes dos estudos sobre fonética e fonologia, que serão aprofundados em outra disciplina do curso.
 
Referências
BENVENISTE, Émile.Problemas de LingüísticaGeral I. Campinas: Pontes, 2005.
CAGLIARI, L. C. Alfabetização e Lingüística. 10a ed. São Paulo: Scipione, 1997.
LOPES, Edward. Fundamentos da lingüística contemporânea. Edição 14. São Paulo. SP. Cultrix. 1995.
MASSINI-CAGLIARI, Gladis & CAGLIARI, Luiz Carlos.
Fonética. in:MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina (org.). Introdução à Lingüística: domínios e fronteiras, São Paulo: Cortez. pág. 105-146.
PETTER, M. Linguagem, língua, linguística. In: FIORIN, J.L. Introdução à Linguística. I. Objetos teóricos. SP: Contexto, 2007. 11-24.

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