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2018.2 CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 1 PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................... 3 DIREITO INTERNACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA ...................................................... 4 1. CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E PROTOCOLO FACULTATIVO ............................................................................................................................... 4 CARACTERÍSTICAS ........................................................................................................ 4 INCORPORAÇÃO AO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO .................................. 4 MUDANÇA DE PARADIGMA ........................................................................................... 4 1.3.1. Modelo médico .......................................................................................................... 5 1.3.2. Modelo Social ............................................................................................................ 5 1.3.3. Para fixar ................................................................................................................... 5 2. CONVENÇÃO DE MARRAQUEXE .......................................................................................... 5 CARACTERÍSTICAS ........................................................................................................ 6 INCORPORAÇÃO AO ORDENAMENTO BRASILEIRO ................................................... 6 OBJETIVO ........................................................................................................................ 6 3. PARA FIXAR ........................................................................................................................... 6 A CONSTITUIÇÃO E OS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA ........................................ 8 1. TÍTULO VII – DA ORDEM SOCIAL: CAPÍTULO VII – DA FAMÍLIA, DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE, DO JOVEM E DO IDOSO ................................................................................... 8 2. TÍTULO IX – DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS GERAIS ........................................... 9 3. TÍTULO VIII – DA ORDEM SOCIAL: CAPÍTULO II – DA SEGURIDADE SOCIAL ................... 9 4. TÍTULO VIII – DA ORDEM SOCIAL: CAPÍTULO III – DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO .................................................................................................................................... 9 5. DIREITOS SOCIAIS E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............................................................. 10 6. PRECATÓRIOS ..................................................................................................................... 10 NORMATIVA INFRACONSTITUCIONAL DOS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA ...... 11 1. LEI 7.853/89 E DECRETO 3.298/99 ...................................................................................... 11 TUTELA COLETIVA ....................................................................................................... 11 TUTELA PENAL ............................................................................................................. 11 RESERVA DE VAGA EM CONCURSO PÚBLICO ......................................................... 12 1.3.1. Previsão legal .......................................................................................................... 12 1.3.2. Concursos Federais ................................................................................................. 13 1.3.3. Concursos Estaduais, Distritais e Municipais ........................................................... 13 1.3.4. Arredondamento de vagas ....................................................................................... 13 2. LEI 10.048/2000 .................................................................................................................... 13 BENEFICIÁRIOS ............................................................................................................ 13 OBRIGADOS .................................................................................................................. 14 REGRAS ESPECIAIS ..................................................................................................... 14 3. LEI 11.126/2005 .................................................................................................................... 14 4. LEI 12.587/2005 .................................................................................................................... 14 5. LEI 13.146/2015 .................................................................................................................... 15 ALTERAÇÕES GERADAS PELO EPCD: CAPACIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIENCIA ... 17 1. ABSOLUTAMENTE INCAPAZES .......................................................................................... 17 2. RELATIVAMENTE INCAPAZES ............................................................................................ 17 3. TOMADA DE DECISÃO APOIADA ........................................................................................ 18 CONCEITO ..................................................................................................................... 18 PEDIDO JUDICIAL ......................................................................................................... 18 LEGITIMIDADE .............................................................................................................. 18 PROCEDIMENTO E REGRAS ....................................................................................... 18 4. CURATELA E INTERDIÇÃO ................................................................................................. 19 5. CAPACIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ............................................................. 20 CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 2 ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA ............................................................................. 22 1. DISPOSIÇÕES PRELIMINARES ........................................................................................... 22 PÚBLICAÇÃO................................................................................................................. 22 VIGÊNCIA ...................................................................................................................... 22 REGÊNCIA ..................................................................................................................... 22 OBJETIVO ...................................................................................................................... 22 2. IGUALDADE DE OPORTUNIDADE E NÃO DISCRIMINAÇÃO ............................................. 22 3. PRIORIDADE DE ATENDIMENTO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ............................. 23 4. DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................................................................................. 24 DIREITO À VIDA ............................................................................................................ 24 DIREITO À HABILITAÇÃO E À REABILITAÇÃO ............................................................ 25 DIREITO À SAÚDE ........................................................................................................ 25 DIREITO À EDUCAÇÃO ................................................................................................. 27 DIREITO À MORADIA .................................................................................................... 30 DIREITO AO TRABALHO ...............................................................................................31 DIREITO À ASSISTÊNCIA SOCIAL ............................................................................... 32 DIREITO À CULTURA, AO TRANSPORTE, AO TURISMO E AO LAZER ...................... 32 DIREITO AO TRANSPORTE E À MOBILIDADE ............................................................ 33 5. ACESSIBILIDADE ................................................................................................................. 34 CONCEITO ..................................................................................................................... 34 OBRIGADOS .................................................................................................................. 34 DESENHO UNIVERSAL ................................................................................................. 34 CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 3 APRESENTAÇÃO Olá! Inicialmente, gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja útil na sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria. O Caderno Sistematizado sobre Estatuto da Pessoa com Deficiência possui como base as aulas do professor Paulo Lépore, para complementar utilizamos o livro Estatuto da Pessoa com Deficiência (Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto), ano 2017, da Editora Juspodivm. Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito (www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito). Destacamos: é importante você se manter atualizado com os informativos, reserve um dia da semana para ler no site do Dizer o Direito. Ademais, no Caderno constam os principais artigos de lei, mas, ressaltamos, que é necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação. Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina + informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você faça uma boa prova. Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito importante!! As bancas costumam repetir certos temas. Vamos juntos!! Bons estudos!! Equipe Cadernos Sistematizados. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 4 DIREITO INTERNACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 1. CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E PROTOCOLO FACULTATIVO É o documento mais importante de proteção aos direitos das pessoas com deficiência, foi assinado no ano de 2007, em Nova York, junto com o seu protocolo facultativo. CARACTERÍSTICAS • Criada no âmbito da Organização das Nações Unidas; • Tratado internacional de direitos humanos, eis que protege um grupo especial (pessoas com deficiência); • Tratado vinculante, tendo em vista que os Estados têm a possibilidade de se obrigar internacionalmente, podendo sofrer sanções caso não cumpra suas disposições. • Norma cogente. INCORPORAÇÃO AO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO O Brasil aderiu à Convenção Internacional sobre as Pessoas com Deficiências, aprovando- o por meio do Decreto Legislativo 196/2008, seguindo o disposto no art. 5º, §3º da CF. Ainda em 2008, fez o depósito do instrumento de ratificação. Em 2009, houve a expedição do Decreto 6.949/2009 para o cumprimento interno da Convenção. Ressalta-se que a Convenção foi o primeiro tratado internacional a ser incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro com status de norma constitucional, seguindo a regra do art. 5º, §3º da CF, in verbis: Art. 5º, § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Importante salientar que o Brasil está na vanguarda da proteção das pessoas com deficiência, nossa legislação interna incorporou os preceitos do Direito Internacional. MUDANÇA DE PARADIGMA A Convenção operou uma verdadeira mudança de paradigma, tendo em vista que saiu de um modelo médico para um modelo social. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 5 A seguir, faremos uma breve observação acerca dos dois modelos. 1.3.1. Modelo médico As pessoas com deficiência eram consideradas a partir de um critério médico, ou seja, eram consideras, exclusivamente, por conta de suas limitações (físicas, psíquicas, sensoriais). Eram consideradas pessoas portadoras de deficiência em razão de sua limitação, por isso eram consideradas incapazes. O portador de deficiência (como eram chamados no modelo médico) deveria se enquadrar à sociedade e ao meio social. 1.3.2. Modelo Social Também chamado de modelo de direitos humanos, de dignidade da pessoa humana. A convenção adotou o modelo social, o qual toma a pessoa com deficiência a partir da sujeição aos direitos humanos, pessoas que devem ser sua dignidade respeitada. Passam a ser consideradas pessoas capazes. Aqui, é a sociedade e o meio social que precisam se enquadrar à pessoa com deficiência. Atualmente, a aferição da deficiência, em determinados casos, é feita através de uma avaliação biopsicossocial, levando-se em consideração os aspectos sociais, o modo como a pessoa interage com o meio social. 1.3.3. Para fixar Obs.: Importante fixar que não se estabelecer uma presunção de que a pessoa é deficiente em razão de uma limitação física, psíquica. A deficiência é determinada através de uma conjugação das limitações com o modo que a pessoa irá interagir com o meio social. 2. CONVENÇÃO DE MARRAQUEXE A Convenção de Marraquexe foi firmada no âmbito da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI), no ano de 2013. Incapazes A deficiência está na pessoa MODELO MÉDICO Capazes A deficência está na interação da pessoa com o meio social MODELO SOCIAL CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 6 CARACTERÍSTICAS • Tratado internacional de direitos humanos; • Caráter vinculante; • Norma cogente; • Em 2016, passou a viger internacionalmente. INCORPORAÇÃO AO ORDENAMENTO BRASILEIRO Assim como a Convenção Internacional sobre a Pessoa com Deficiência, foi incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro com status de norma constitucional, seguindo a previsão do art. 5º, §3º da CF, através do Decreto Legislativo 261/2015. Em 2015, o Brasil fez o depósito do instrumento de ratificação. OBJETIVO A Convenção de Marraquexe visa estabelecer, na legislação nacional, normas que facilitem a disponibilidade de obras em formatos acessíveis para pessoas (art. 2º): • Cegas; • Com deficiência visual ou qualquer outra deficiência perceptiva ou de leitura; • Que estejam impossibilitadas, de qualquer outra maneira, devido a uma deficiência física, de sustentar ou manipular um livro ou focar ou mover os olhos de forma que normalmente seria apropriado para a leitura. Em suma, visa fomentar que as leis nacionais criem exceções sobre direitos autorais, a fim de permitir a disponibilidade de obras em formatos mais amigáveis. 3. PARA FIXAR Observe a questão da FCC, cobrada na prova da DefensoriaPública do PR, em 2017: De acordo com o posicionamento do Supremo Tribunal Federal sobre a hierarquia dos tratados internacionais de direitos humanos, consideram-se como tratados de hierarquia constitucional: I. Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e Juventude − Regras de Beijing. II. Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu respectivo Protocolo Facultativo − Convenção de Nova Iorque. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 7 III. Convenção Americana Sobre Direitos Humanos − Pacto de San José da Costa Rica. IV. Tratado de Marraqueche para facilitar o acesso a obras publicadas às pessoas cegas, com deficiência visual ou com outras dificuldades para aceder ao texto impresso Está correto o que se afirma em: a) I, II, III e IV. b) II e III, apenas. c) II e IV, apenas. d) I e II, apenas. e) III e IV, apenas. Gabarito: letra C. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 8 A CONSTITUIÇÃO E OS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 1. TÍTULO VII – DA ORDEM SOCIAL: CAPÍTULO VII – DA FAMÍLIA, DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE, DO JOVEM E DO IDOSO CF - Art. 227, § 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) (...) II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) O inciso II garante a integração social do adolescente e do jovem com deficiência física, mental ou sensorial, por meio de programas de prevenção e atendimento especializado. Destaca-se que o inciso II está alocado junto com os dispositivos da ordem social que versam sobre a proteção à família, à criança, ao adolescente, ao jovem e ao idoso. Não há, nos capítulos da ordem social, a identificação às pessoas com deficiência, mas sim um dispositivo que faz referência, adotando o modelo médico, tendo em vista que usa a expressão “portadoras de deficiência”. A deficiência não é algo que se pode abandonar quando e no local que quiser, por isso não é correto utilizar a expressão “portador”. À época em que foi escrita, a intenção da CF foi afastar as expressões “débil mental”, “mongoloide”, “retardado”. No paradigma atual, a deficiência é uma limitação que deve se relacionar com meio social. Segundo o Prof., é da intersecção da limitação com o meio social que se estrai a ideia da deficiência. Ressalta-se que o parágrafo segundo do art. 227 da CF prevê que a lei deverá dispor sobre meios de acessibilidade adequados às pessoas com deficiência, nas ruas, nos edifícios públicos e no transporte coletivo, observe o dispositivo constitucional: CF – Art. 227, § 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. Obs.: Apesar de o §2º estar alocado no capítulo VII, refere-se a todas as pessoas com deficiência e não, apenas, à criança, ao adolescente, ao jovem e ao idoso. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 9 Este dispositivo vai ao encontro do modelo social, em que a sociedade e o meio social devem se adequar às pessoas com deficiência. 2. TÍTULO IX – DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS GERAIS CF - Art. 244. A lei disporá sobre a adaptação dos logradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos de transporte coletivo atualmente existentes a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência, conforme o disposto no art. 227, § 2º. Observe que o constituinte repetiu a norma do art. 227, §2º da CF nas disposições constitucionais gerais, o que confirma o entendimento que a acessibilidade deve ser garantida a todas as pessoas com deficiência. Por fim, embora a CF não possua um capítulo sobre as pessoas com deficiência, como a Convenção Internacional foi incorporada com status de norma constitucional, é possível afirmar que seus dispositivos formam um grande capítulo sobre o tema. 3. TÍTULO VIII – DA ORDEM SOCIAL: CAPÍTULO II – DA SEGURIDADE SOCIAL Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: (...) IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Um dos objetivos da assistência social é a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e sua integração à sociedade, garantindo-lhes um salário mínimo quando comprovem que não possuem meios para promover sua subsistência. 4. TÍTULO VIII – DA ORDEM SOCIAL: CAPÍTULO III – DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: (...) III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; Este dispositivo foi reproduzido no ECA, a ideia é integrar a pessoa com deficiência. Por isso, preferencialmente, deve ser matriculada em uma escola da rede regular de ensino. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 10 5. DIREITOS SOCIAIS E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Art. 7º, XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; Art. 37, VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão; Garantias no emprego e em concursos públicos. Analisaremos de forma detalhada em outro tópico. 6. PRECATÓRIOS Art. 100, § 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares, originários ou por sucessão hereditária, tenham 60 (sessenta) anos de idade, ou sejam portadores de doença grave, ou pessoas com deficiência (nomenclatura do modelo social), assim definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) Precatórios são requisições feitas pelo Poder Judiciário quando se tem uma sentença definitiva, a fim de que a administração direita e indireta pague as suas divididas. A CF possui regramento sobre o regime de precatórios, garantindo que os débitos de natureza alimentícia, de pessoas com deficiência devem ser pagos com preferencia sobre os demais débitos. CS – PROTEÇÃO DA PESSOACOM DEFICIÊNCIA 2018.2 11 NORMATIVA INFRACONSTITUCIONAL DOS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 1. LEI 7.853/89 E DECRETO 3.298/99 A Lei dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência. É uma lei de grande relevância. Antes do EPCD, era a principal lei sobre pessoas com deficiência. Ressalta-se que o EPCD não revogou a Lei 7.853/89 nem o seu Decreto 3.298/99, tendo alterado alguns dos seus dispositivos. TUTELA COLETIVA O art. 3º da Lei 7.853/89, com redação dada pela Lei 13.146/2015, trouxe a previsão da tutela coletiva para proteção dos direitos da pessoa com deficiência, vejamos: Art. 3o As medidas judiciais destinadas à proteção de interesses coletivos, difusos, individuais homogêneos e individuais indisponíveis da pessoa com deficiência poderão ser propostas pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela União, pelos Estados, pelos Municípios, pelo Distrito Federal, por associação constituída há mais de 1 (um) ano, nos termos da lei civil, por autarquia, por empresa pública e por fundação ou sociedade de economia mista que inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção dos interesses e a promoção de direitos da pessoa com deficiência. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) TUTELA PENAL Igualmente, a Lei 13.146/2015 alterou o dispositivo que tratava sobre a tutela penal, observe: Art. 8º Constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) I - recusar, cobrar valores adicionais, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, em razão de sua deficiência; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) II - obstar inscrição em concurso público ou acesso de alguém a qualquer cargo ou emprego público, em razão de sua deficiência; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) III - negar ou obstar emprego, trabalho ou promoção à pessoa em razão de sua deficiência; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar de prestar assistência médico-hospitalar e ambulatorial à pessoa com deficiência; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 12 VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil pública objeto desta Lei, quando requisitados. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) § 1º Se o crime for praticado contra pessoa com deficiência menor de 18 (dezoito) anos, a pena é agravada em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) § 2º A pena pela adoção deliberada de critérios subjetivos para indeferimento de inscrição, de aprovação e de cumprimento de estágio probatório em concursos públicos não exclui a responsabilidade patrimonial pessoal do administrador público pelos danos causados. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) § 3º Incorre nas mesmas penas quem impede ou dificulta o ingresso de pessoa com deficiência em planos privados de assistência à saúde, inclusive com cobrança de valores diferenciados. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) § 4º Se o crime for praticado em atendimento de urgência e emergência, a pena é agravada em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) RESERVA DE VAGA EM CONCURSO PÚBLICO 1.3.1. Previsão legal • NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL A CF determina que a Lei irá definir o percentual de vagas destinadas às pessoas com deficiência, nos termos do art. 37, VIII: CF - Art. 37, VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão; • NO DECRETO 3.298/99 O Decreto 3.298/1999, regulamentando a Lei 7.853/89, dispõe sobre a reserva de vagas de no mínimo 5% às pessoas com deficiência, observe: Art. 37. Fica assegurado à pessoa portadora de deficiência o direito de se inscrever em concurso público, em igualdade de condições com os demais candidatos, para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que é portador. § 1º O candidato portador de deficiência, em razão da necessária igualdade de condições, concorrerá a todas as vagas, sendo reservado no mínimo o percentual de cinco por cento em face da classificação obtida. § 2º Caso a aplicação do percentual de que trata o parágrafo anterior resulte em número fracionado, este deverá ser elevado até o primeiro número inteiro subsequente. • NA LEI 8.112/90 A Lei 8.112/90 reserva, até 20% das vagas, em concurso público federal às pessoas com deficiência. Art. 5º, § 2º Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 13 sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso. 1.3.2. Concursos Federais • Número mínimo: 5% (Decreto 3.298/99) • Número máximo: 20% (Lei 8.112/90) 1.3.3. Concursos Estaduais, Distritais e Municipais • Número mínimo: 5% (Decreto 3.298/99) • Número máximo: legislação estadual/distrital/municipal ou 20% (Lei 8.112/90) Cada ente da Federação possui competência para estabelecer o limite máximo das vagas destinadas às pessoas com deficiência. Caso não haja lei tratando do assunto, o STJ entende que se aplica a Lei 8.112/90 1.3.4. Arredondamento de vagas Imagine um concurso com cinco vagas seguindo os parâmetros legais teríamos: • Percentual mínimo de 5% = 0,25 vaga. Perceba que apenas com 20 vagas seria possível reservar uma vaga para pessoa com deficiência. Contudo, de acordo com o Decreto 3.298/99 deve-se arredondar para o próximo número inteiro. Porém, em concurso com uma vaga, aplicando-se o parâmetro legal, esta seria destinada a pessoa com deficiência. Perceba que, aqui, a pessoa com deficiência estaria em uma posição de vantagem com as demais pessoas, haveria clara desigualdade. Diante disso, o STF passou a aplicar o percentual mínimo e máximo ao mesmo tempo. Assim, com o arredondamento nunca pode ultrapassar o limite máximo de 20%. Por fim, para a reserva de vagas o concurso deve ter no mínimo 5 vagas. 2. LEI 10.048/2000 Confere prioridade de atendimento. Utiliza a nomenclatura do modelo social, qual seja: pessoa com deficiência. BENEFICIÁRIOS Estão previstos no art. 1º, vejamos: CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 14 Art. 1º As pessoas com deficiência, os idosos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lactantes, as pessoas com crianças de colo e os obesos terão atendimento prioritário, nos termos desta Lei. OBRIGADOS O art. 2º consagra os obrigados a respeitar a prioridade de atendimento, ressalta-se que as entidades privadas estão incluídas, observe: Art. 2º As repartições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos estão obrigadas a dispensar atendimento prioritário, por meio de serviços individualizados que assegurem tratamento diferenciado e atendimento imediato às pessoas a que se refere o art. 1o. Parágrafo único. É assegurada, em todas as instituições financeiras, a prioridade de atendimento às pessoas mencionadas no art. 1o. REGRAS ESPECIAIS Previstas nos arts. 3º, 4º e 5º, trata das empresas públicas, do transportecoletivo e dos licenciamentos para edificações. Art. 3o As empresas públicas de transporte e as concessionárias de transporte coletivo reservarão assentos, devidamente identificados, aos idosos, gestantes, lactantes, pessoas portadoras de deficiência e pessoas acompanhadas por crianças de colo. Art. 4o Os logradouros e sanitários públicos, bem como os edifícios de uso público, terão normas de construção, para efeito de licenciamento da respectiva edificação, baixadas pela autoridade competente, destinadas a facilitar o acesso e uso desses locais pelas pessoas portadoras de deficiência. Art. 5o Os veículos de transporte coletivo a serem produzidos após doze meses da publicação desta Lei serão planejados de forma a facilitar o acesso a seu interior das pessoas portadoras de deficiência. 3. LEI 11.126/2005 Dispõe sobre o direito de o portador de deficiência visual ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado com cão-guia. Igualmente, consagra o modelo social, eis que utiliza a expressão “pessoa com deficiência”. Art. 1º É assegurado à pessoa com deficiência visual acompanhada de cão- guia o direito de ingressar e de permanecer com o animal em todos os meios de transporte e em estabelecimentos abertos ao público, de uso público e privados de uso coletivo, desde que observadas as condições impostas por esta Lei. 4. LEI 12.587/2005 CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 15 Institui a política de mobilidade urbana. A Lei 13.146/2015 incluiu o art. 12-B, garantindo a reserva de vaga para condutores portadores de deficiência, visando a inclusão no mercado de trabalho. Art. 12-B. Na outorga de exploração de serviço de táxi, reservar-se-ão 10% (dez por cento) das vagas para condutores com deficiência. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) § 1o Para concorrer às vagas reservadas na forma do caput deste artigo, o condutor com deficiência deverá observar os seguintes requisitos quanto ao veículo utilizado: (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) I - ser de sua propriedade e por ele conduzido; e (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) II - estar adaptado às suas necessidades, nos termos da legislação vigente. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) § 2o No caso de não preenchimento das vagas na forma estabelecida no caput deste artigo, as remanescentes devem ser disponibilizadas para os demais concorrentes. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) 5. LEI 13.146/2015 Também chamada de Estatuto da Pessoa com Deficiência (EPDC), visa a inclusão da pessoa com deficiência. Considera pessoa com deficiência aquela que: • Possui impedimento de longo prazo Obs.: o impedimento deve obstruir a participação plena e efetiva em igualdade de condições. • Podendo ser de natureza física, mental, intelectual ou sensorial • Com interação com um ou outra barreira • Pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Obs.: Modelo social. Art. 2o Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. A avaliação, quando necessária, será biopsicossocial e não apenas médica, nos termos do art. 2º, §1º do EPCD. § 1o A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará: I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 16 II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; III - a limitação no desempenho de atividades; e IV - a restrição de participação. § 2o O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 17 ALTERAÇÕES GERADAS PELO EPCD: CAPACIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIENCIA O Estatuto da Pessoa com Deficiência provocou severas alterações no Código Civil, no que tange à sistemática das incapacidades. 1. ABSOLUTAMENTE INCAPAZES Os absolutamente incapazes são as pessoas que não possuem capacidade de fato, devendo ser representadas. Após o advento do EPCD, apenas os menores de 16 anos são considerados absolutamente incapazes, foram excluídos do rol: a) Os que, por enfermidade ou doença mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; b) Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. 2. RELATIVAMENTE INCAPAZES Os relativamente incapazes necessitam de assistência, estão consagrados no art. 4º do CC, são eles: a) Maiores de 16 e menores de 18 anos b) Ébrios habituais e viciados em tóxico; c) Aqueles que por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir suas vontades d) Pródigos. Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) IV - os pródigos. Com as alterações, ficou evidente que não existe mais a presunção de que uma pessoa com deficiência é incapaz. São consideradas pessoas capazes. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 18 3. TOMADA DE DECISÃO APOIADA CONCEITO É um instituto que permite à pessoa com deficiência ser auxiliada na tomada de decisão, por pessoas de sua confiança, nos termos do art. 1.783-A do CC. Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer sua capacidade. Os auxiliares não são tutores. PEDIDO JUDICIAL A tomada de decisão apoiada depende de pedido judicial, a pessoa com deficiência e os apoiadores devem apresentar termo com os limites do apoio a ser oferecido e com os compromissos dos apoiadores (art. 1.783-A, §1º) § 1o Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os apoiadores devem apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar. LEGITIMIDADE A legitimidade é da própria pessoa que irá ser apoiada, cabe a ela indicar os seus apoiadores, nos termos do art. 1.783-A, §2º do CC Art. 1.783-A § 2o O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser apoiada, com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste artigo. PROCEDIMENTO E REGRAS Estão previstas a partir do §3º do art. 1.783-A do CC, dispostos em tópicos para melhor observância. • Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada, o juiz, assistidopor equipe multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio. • A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 19 • Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode solicitar que os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua função em relação ao apoiado. • Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão. • Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não adimplir as obrigações assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao Ministério Público ou ao juiz. • Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida a pessoa apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa para prestação de apoio. • A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado em processo de tomada de decisão apoiada. • O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo de tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento condicionado à manifestação do juiz sobre a matéria. • Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que couber, as disposições referentes à prestação de contas na curatela. 4. CURATELA E INTERDIÇÃO Como vimos, presume-se que a pessoa com deficiência é capaz, tanto que foi excluída do rol dos absolutamente incapazes. Porém, algumas pessoas com deficiência não conseguem praticar atos da vida civil, tendo em vista que não estão aptos a tomar decisões. A elas, com base na incapacidade (relativa) que estão sendo acometidas, é possível a nomeação de um curador. Surge a seguinte dúvida: nomear um curador à pessoa que não é capaz de exercer os atos da vida civil é interditá-la? 1ªC (moderna) – não existe mais o termo interdição, o qual não é adequado ao novo modelo de tratamento dispensado às pessoas com deficiência. Haverá curatela, mas sem interdição. Defendida por Nelson Rosenvalt. 2ª C (clássica) – a interdição permanece como um instituto do direito brasileiro. Inclusive, o NCPC consagrou o instituto da interdição, nos termos do seu art. 747. Art. 747. A interdição pode ser promovida: I - pelo cônjuge ou companheiro; II - pelos parentes ou tutores; III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando; IV - pelo Ministério Público. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 20 Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial. 5. CAPACIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA O art. 6º do EPCD é claro ao afirmar que a deficiência não afasta a capacidade. Art. 6o A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: I - casar-se e constituir união estável; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. Além disso, a pessoa com deficiência pode testemunhar normalmente, pode contrair matrimônio. Art. 228, § 2o A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de condições com as demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os recursos de tecnologia assistida. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) Art. 1.550, § 2o A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador. A fim de uma melhor compreensão, reproduzimos o quadro comparativo elaborado pelo Prof. Paulo Lépore, observe: CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 21 CAPACIDADE SITUAÇÃO/CONDIÇÃO TUTELA/CURATELA/TOMADA DE DECISÃO APOIADA Absolutamente incapazes (art. 3º do CC) Menores de 16 anos Se sujeitam a poder familiar ou tutela (art. 1.634 e art. 1.728, ambos do CC) Relativamente incapazes (art. 4º do CC) Maiores de 16 e menores de 18 anos. Se sujeitam a poder familiar ou tutela (art. 1.634 e art. 1.728, ambos do CC) Ébrios habituais e viciados em tóxicos. Se sujeitam a curatela (art. 1.767 do CC) Aqueles que por causa transitória ou permanente não puderem exprimir sua vontade. Pródigos Capazes Regra para os maiores de 18 anos Se sujeitam a curatela (art. 1.767 do CC) Regra para as pessoas maiores de 18 anos com deficiência Podem se valer da tomada apoiada (art. 1.783-A do CC) + Se sujeitam a curatela (art. 1.767 do CC). CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 22 ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 1. DISPOSIÇÕES PRELIMINARES PÚBLICAÇÃO O EPCD foi publicado no DOU em 07 de julho de 2017, através da Lei 13.146/2015. VIGÊNCIA Após 180 de sua publicação, em janeiro de 2016, entrou em vigência. REGÊNCIA Aplica-se o principio da norma mais benéfica. Deste modo, exige-se um diálogo interpretativo com as normas anteriores. O EPCD não revogou as leis antigas. OBJETIVO Visa assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, a fim de promover sua inclusão social e o exercício de sua cidadania. Observe o art. 8º do Estatuto: Art. 8o É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico. 2. IGUALDADE DE OPORTUNIDADE E NÃO DISCRIMINAÇÃO É garantido a pessoa com deficiência igualdade de oportunidades, busca-se a não discriminação, conforme o art. 4º. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 23 Art. 4o Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação. § 1o Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas. § 2o A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de benefícios decorrentesde ação afirmativa. Destaca-se, aqui, as ações afirmativas que visam corrigir desigualdade historicamente perpetradas. É uma faculdade da pessoa com deficiência. Além disso, há uma dupla proteção às pessoas com deficiência quando são: • Crianças; • Adolescentes; • Mulheres; • Idosos Art. 5º A pessoa com deficiência será protegida de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou degradante. Parágrafo único. Para os fins da proteção mencionada no caput deste artigo, são considerados especialmente vulneráveis a criança, o adolescente, a mulher e o idoso, com deficiência. 3. PRIORIDADE DE ATENDIMENTO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA Seguimos, aqui, a tabela do Prof. Paulo Lépore sobre as hipóteses de atendimento prioritário às pessoas com deficiência, bem como os casos em que a prioridade é extensiva aos seus acompanhantes. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 24 ATENDIMENTO PRIORIÁRIO PARA PESSOA COM DEFICIÊNCIA HIPÓTESES Extensivo ao acompanhante da pessoa com deficiência ou ao seu atendente pessoal Proteção e socorro em quaisquer circunstâncias* SIM Atendimento em todas as instituições e serviços de atendimento ao público* SIM Disponibilização de recursos, tanto humanos quanto tecnológicos, que garantam atendimento em igualdade de condições com as demais pessoas. SIM Disponibilização de pontos de parada, estações e terminais acessíveis de transporte coletivo de passageiros e garantia de segurança no embarque e desembarque. SIM Acesso a informações e disponibilização de recursos de comunicação acessíveis SIM Recebimento de restituição de imposto de renda NÃO Tramitação processual e procedimentos judiciais e administrativos em que for parte interessada, em todos os atos e diligências. NÃO *Nos serviços de emergência públicos e privados, a prioridade conferida pelo EPCD é condicionada aos protocolos de atendimento médico. 4. DIREITOS FUNDAMENTAIS DIREITO À VIDA Ao longo de toda da pessoa com deficiência, o Poder Público possui a obrigação de garantir sua dignidade, nos termos do art. 10. Art. 10. Compete ao poder público garantir a dignidade da pessoa com deficiência ao longo de toda a vida. Parágrafo único. Em situações de risco, emergência ou estado de calamidade pública, a pessoa com deficiência será considerada vulnerável, devendo o poder público adotar medidas para sua proteção e segurança. Não confundir vulnerabilidade com incapacidade. A pessoa com deficiência não pode ser obrigada a se submeter a tratamentos. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 25 Art. 11. A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada a se submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento ou a institucionalização forçada. Parágrafo único. O consentimento da pessoa com deficiência em situação de curatela poderá ser suprido, na forma da lei. Art. 12. O consentimento prévio, livre e esclarecido da pessoa com deficiência é indispensável para a realização de tratamento, procedimento, hospitalização e pesquisa científica. § 1o Em caso de pessoa com deficiência em situação de curatela, deve ser assegurada sua participação, no maior grau possível, para a obtenção de consentimento. § 2o A pesquisa científica envolvendo pessoa com deficiência em situação de tutela ou de curatela deve ser realizada, em caráter excepcional, apenas quando houver indícios de benefício direto para sua saúde ou para a saúde de outras pessoas com deficiência e desde que não haja outra opção de pesquisa de eficácia comparável com participantes não tutelados ou curatelados. Art. 13. A pessoa com deficiência somente será atendida sem seu consentimento prévio, livre e esclarecido em casos de risco de morte e de emergência em saúde, resguardado seu superior interesse e adotadas as salvaguardas legais cabíveis. Salienta-se que o STJ, no Resp. 169.172, admitiu de forma excepcional a internação forçada provisória em ação de curatela, veja o trecho da decisão (Info 533 Dizer o Direito): DIREITO À HABILITAÇÃO E À REABILITAÇÃO A essência do EPCD é a habilitação e a reabilitação, deve-se buscar políticas públicas para se consagrar tal direito. Art. 14. O processo de habilitação e de reabilitação é um direito da pessoa com deficiência. Parágrafo único. O processo de habilitação e de reabilitação tem por objetivo o desenvolvimento de potencialidades, talentos, habilidades e aptidões físicas, cognitivas, sensoriais, psicossociais, atitudinais, profissionais e artísticas que contribuam para a conquista da autonomia da pessoa com deficiência e de sua participação social em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas. DIREITO À SAÚDE CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 26 Previsto nos arts. 18 e seguintes. Será assegurada atenção integral à saúde da pessoa com deficiência em todos os níveis de complexidade, por intermédio do SUS, garantido acesso universal e igualitário. • É assegurada a participação da pessoa com deficiência na elaboração das políticas de saúde a ela destinadas. • É assegurado atendimento segundo normas éticas e técnicas, que regulamentarão a atuação dos profissionais de saúde e contemplarão aspectos relacionados aos direitos e às especificidades da pessoa com deficiência, incluindo temas como sua dignidade e autonomia. • Aos profissionais que prestam assistência à pessoa com deficiência, especialmente em serviços de habilitação e de reabilitação, deve ser garantida capacitação inicial e continuada. As ações e os serviços de saúde pública destinados à pessoa com deficiência devem assegurar: a) diagnóstico e intervenção precoces, realizados por equipe multidisciplinar; b) serviços de habilitação e de reabilitação sempre que necessários, para qualquer tipo de deficiência, inclusive para a manutenção da melhor condição de saúde e qualidade de vida; c) atendimento domiciliar multidisciplinar, tratamento ambulatorial e internação; d) campanhas de vacinação; e) atendimento psicológico, inclusive para seus familiares e atendentes pessoais; f) respeito à especificidade, à identidade de gênero e à orientação sexual da pessoa com deficiência; g) atenção sexual e reprodutiva, incluindo o direito à fertilização assistida; h) informação adequada e acessível à pessoa com deficiência e a seus familiares sobre sua condição de saúde; i) serviços projetados para prevenir a ocorrência e o desenvolvimento de deficiências e agravos adicionais; j) promoção de estratégias de capacitação permanente das equipes que atuam no SUS, em todos os níveis de atenção, no atendimento à pessoa com deficiência, bem como orientação a seus atendentes pessoais; k) oferta de órteses, próteses, meios auxiliares de locomoção, medicamentos, insumos e fórmulas nutricionais, conforme as normas vigentes do Ministério da Saúde. As diretrizes acima aplicam-se também às instituições privadas que participem de forma complementar do SUS ou que recebam recursos públicos para sua manutenção. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 27 Caberá ao SUS desenvolver ações destinadas à prevenção de deficiências por causas evitáveis, inclusive por meio de: • acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpério, com garantia de parto humanizado e seguro; • promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, vigilância alimentar e nutricional, prevenção e cuidado integral dos agravos relacionadosà alimentação e nutrição da mulher e da criança; • aprimoramento e expansão dos programas de imunização e de triagem neonatal; • identificação e controle da gestante de alto risco. Obs.: As operadoras de planos e seguros privados de saúde são obrigadas a garantir à pessoa com deficiência, no mínimo, todos os serviços e produtos ofertados aos demais clientes (art. 20). São vedadas todas as formas de discriminação contra a pessoa com deficiência, inclusive por meio de cobrança de valores diferenciados por planos e seguros privados de saúde, em razão de sua condição (art. 24). Quando esgotados os meios de atenção à saúde da pessoa com deficiência no local de residência, será prestado atendimento fora de domicílio, para fins de diagnóstico e de tratamento, garantidos o transporte e a acomodação da pessoa com deficiência e de seu acompanhante (art. 21). À pessoa com deficiência internada ou em observação é assegurado o direito a acompanhante ou a atendente pessoal, devendo o órgão ou a instituição de saúde proporcionar condições adequadas para sua permanência em tempo integral. Na impossibilidade de permanência do acompanhante ou do atendente pessoal junto à pessoa com deficiência, cabe ao profissional de saúde responsável pelo tratamento justificá-la por escrito. Destaca-se, ainda, que os espaços dos serviços de saúde, tanto públicos quanto privados, devem assegurar o acesso da pessoa com deficiência, em conformidade com a legislação em vigor, mediante a remoção de barreiras, por meio de projetos arquitetônico, de ambientação de interior e de comunicação que atendam às especificidades das pessoas com deficiência física, sensorial, intelectual e mental (art. 25). Por fim, os casos de suspeita ou de confirmação de violência praticada contra a pessoa com deficiência serão objeto de notificação compulsória pelos serviços de saúde públicos e privados à autoridade policial e ao Ministério Público, além dos Conselhos dos Direitos da Pessoa com Deficiência. O EPCD considera-se violência contra a pessoa com deficiência qualquer ação ou omissão, praticada em local público ou privado, que lhe cause morte ou danos ou sofrimento físico ou psicológico. DIREITO À EDUCAÇÃO A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem (art. 27). CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 28 Obs.: Deve ser, preferencialmente, na rede regular de ensino. Caberá ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar: • sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida; • aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a garantir condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena; • projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional especializado, assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia; • oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira língua e na modalidade escrita da língua portuguesa como segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas; • adoção de medidas individualizadas e coletivas em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes com deficiência, favorecendo o acesso, a permanência, a participação e a aprendizagem em instituições de ensino; • pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novos métodos e técnicas pedagógicas, de materiais didáticos, de equipamentos e de recursos de tecnologia assistiva; • planejamento de estudo de caso, de elaboração de plano de atendimento educacional especializado, de organização de recursos e serviços de acessibilidade e de disponibilização e usabilidade pedagógica de recursos de tecnologia assistiva; • participação dos estudantes com deficiência e de suas famílias nas diversas instâncias de atuação da comunidade escolar; • adoção de medidas de apoio que favoreçam o desenvolvimento dos aspectos linguísticos, culturais, vocacionais e profissionais, levando-se em conta o talento, a criatividade, as habilidades e os interesses do estudante com deficiência; • adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de formação inicial e continuada de professores e oferta de formação continuada para o atendimento educacional especializado; • formação e disponibilização de professores para o atendimento educacional especializado, de tradutores e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais de apoio; • oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de uso de recursos de tecnologia assistiva, de forma a ampliar habilidades funcionais dos estudantes, promovendo sua autonomia e participação; CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 29 • acesso à educação superior e à educação profissional e tecnológica em igualdade de oportunidades e condições com as demais pessoas; • inclusão em conteúdos curriculares, em cursos de nível superior e de educação profissional técnica e tecnológica, de temas relacionados à pessoa com deficiência nos respectivos campos de conhecimento; • acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de condições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas e de lazer, no sistema escolar; • acessibilidade para todos os estudantes, trabalhadores da educação e demais integrantes da comunidade escolar às edificações, aos ambientes e às atividades concernentes a todas as modalidades, etapas e níveis de ensino; • oferta de profissionais de apoio escolar; • articulação intersetorial na implementação de políticas públicas. Obs.: Às instituições privadas, de qualquer nível e modalidade de ensino, são obrigadas a respeitar as disposições acima, exceto no que tange à educação bilíngue e às pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novas técnicas e recursos, sendo vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas no cumprimento dessas determinações. Por fim, ressalta-se que Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino ajuizou uma ADI 5357, com pedido de medida cautelar, para questionar a constitucionalidade da obrigatoriedade de as escolas privadas promoverem a inserção das pessoas com deficiência no ensino regular e prover as medidas de adaptação necessárias sem que o ônus financeiro seja repassado às mensalidades, anuidades e matriculas. O STF indeferiu a cautelar. No mérito, por maioria de votos, o plenário rejeitou a ADI, vejamos a parte da decisão (Info 829 Dizer o Direito): Dever de oferecer ensino às pessoas com deficiência não é apenas do Estado O Estado tem o dever de facilitar às pessoas com deficiência sua plena e igual participação no sistema de ensino e na vida em comunidade. No entanto, esse dever não é apenas do Poder Público, podendo ser exigido também das instituições de ensino privadas. É verdade que a educação pode ser prestada pela iniciativa privada. Isso não significa, contudo, que os agentes econômicos que o prestam possam fazê-lo de forma ilimitada ou sem responsabilidade. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA2018.2 30 Para que as instituições privadas prestem serviços de educação, é necessária a sua autorização e avaliação pelo Estado, bem como o cumprimento das normas gerais de educação nacional. De igual modo, os estabelecimentos privados não podem eximir-se dos deveres impostos pela Constituição Federal para os serviços educacionais do país, dentre eles o art. 208, III, da CF/88. Ensino inclusivo atende aos objetivos constitucionais À escola não é dado escolher, segregar, separar os alunos. Seu dever é o de ensinar, incluir, conviver. A vivência cotidiana, o convívio com o diferente, são valores educacionais em si mesmos, e têm riqueza própria, pois desenvolvem o acolhimento, a tolerância e a ética. Portanto, o ensino inclusivo milita em favor da dialógica implementação dos objetivos esquadrinhados pela Constituição. É somente com a efetivação desses valores que pode haver a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, voltada para o bem de todos. Assim, o ensino inclusivo é política pública estável. Se as instituições privadas de ensino exercem atividade econômica, devem se adaptar para acolher as pessoas com deficiência, prestando serviços educacionais que não enfoquem a deficiência apenas sob a perspectiva médica, mas também ambiental. Ou seja, os espaços devem ser isentos de barreiras, as verdadeiras deficiências da sociedade. Esses deveres devem se aplicar a todos os agentes econômicos, e entendimento diverso implica privilégio odioso, porque oficializa a discriminação. DIREITO À MORADIA A pessoa com deficiência tem direito à moradia digna, no seio da família natural ou substituta, com seu cônjuge ou companheiro ou desacompanhada, ou em moradia para a vida independente da pessoa com deficiência, ou, ainda, em residência inclusiva. Caberá ao poder público adotar programas e ações estratégicas para apoiar a criação e a manutenção de moradia para a vida independente da pessoa com deficiência. A proteção integral na modalidade de residência inclusiva será prestada no âmbito do Suas à pessoa com deficiência em situação de dependência que não disponha de condições de autossustentabilidade, com vínculos familiares fragilizados ou rompidos. Salienta-se que nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos públicos, a pessoa com deficiência ou o seu responsável goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria, observado o seguinte: • reserva de, no mínimo, 3% (três por cento) das unidades habitacionais para pessoa com deficiência; • em caso de edificação multifamiliar, garantia de acessibilidade nas áreas de uso comum e nas unidades habitacionais no piso térreo e de acessibilidade ou de adaptação razoável nos demais pisos; • disponibilização de equipamentos urbanos comunitários acessíveis; • elaboração de especificações técnicas no projeto que permitam a instalação de elevadores. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 31 Obs.: O direito à prioridade será reconhecido à pessoa com deficiência beneficiária apenas uma vez. DIREITO AO TRABALHO A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, bem como tem direito, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, a condições justas e favoráveis de trabalho, incluindo igual remuneração por trabalho de igual valor. E, ainda, tem direito à participação e ao acesso a cursos, treinamentos, educação continuada, planos de carreira, promoções, bonificações e incentivos profissionais oferecidos pelo empregador, em igualdade de oportunidades com os demais empregados. Ressalta-se que as pessoas jurídicas de direito público, privado ou de qualquer natureza são obrigadas a garantir ambientes de trabalho acessíveis e inclusivos, sendo vedada restrição ao trabalho da pessoa com deficiência e qualquer discriminação em razão de sua condição, inclusive nas etapas de recrutamento, seleção, contratação, admissão, exames admissional e periódico, permanência no emprego, ascensão profissional e reabilitação profissional, bem como exigência de aptidão plena. O poder público deve implementar serviços e programas completos de habilitação profissional e de reabilitação profissional para que a pessoa com deficiência possa ingressar, continuar ou retornar ao campo do trabalho, respeitados sua livre escolha, sua vocação e seu interesse. Constitui modo de inclusão da pessoa com deficiência no trabalho a colocação competitiva, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária, na qual devem ser atendidas as regras de acessibilidade, o fornecimento de recursos de tecnologia assistiva e a adaptação razoável no ambiente de trabalho. Destaca-se que a colocação competitiva da pessoa com deficiência pode ocorrer por meio de trabalho com apoio, observadas as seguintes diretrizes: • prioridade no atendimento à pessoa com deficiência com maior dificuldade de inserção no campo de trabalho; • provisão de suportes individualizados que atendam a necessidades específicas da pessoa com deficiência, inclusive a disponibilização de recursos de tecnologia assistiva, de agente facilitador e de apoio no ambiente de trabalho; • respeito ao perfil vocacional e ao interesse da pessoa com deficiência apoiada; • oferta de aconselhamento e de apoio aos empregadores, com vistas à definição de estratégias de inclusão e de superação de barreiras, inclusive atitudinais; • realização de avaliações periódicas; • articulação intersetorial das políticas públicas; • possibilidade de participação de organizações da sociedade civil. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 32 DIREITO À ASSISTÊNCIA SOCIAL Os serviços, os programas, os projetos e os benefícios no âmbito da política pública de assistência social à pessoa com deficiência e sua família têm como objetivo a garantia da segurança de renda, da acolhida, da habilitação e da reabilitação, do desenvolvimento da autonomia e da convivência familiar e comunitária, para a promoção do acesso a direitos e da plena participação social. A assistência social à pessoa com deficiência deve envolver conjunto articulado de serviços do âmbito da Proteção Social Básica e da Proteção Social Especial, ofertados pelo Suas, para a garantia de segurança fundamentais no enfrentamento de situações de vulnerabilidade e de risco, por fragilização de vínculos e ameaça ou violação de direitos. É assegurado à pessoa com deficiência que não possua meios para prover sua subsistência nem de tê-la provida por sua família o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, bem como quando for segurada do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) tem direito à aposentadoria. DIREITO À CULTURA, AO TRANSPORTE, AO TURISMO E AO LAZER A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso: • a bens culturais em formato acessível; • a programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades culturais e desportivas em formato acessível; e • a monumentos e locais de importância cultural e a espaços que ofereçam serviços ou eventos culturais e esportivos. É vedada a recusa de oferta de obra intelectual em formato acessível à pessoa com deficiência, sob qualquer argumento, inclusive sob a alegação de proteção dos direitos de propriedade intelectual. Nos teatros, cinemas, auditórios, estádios, ginásios de esporte, locais de espetáculos e de conferências e similares, serão reservados espaços livres e assentos para a pessoa comdeficiência, de acordo com a capacidade de lotação da edificação, observado o disposto em regulamento. O Decreto 5.296/2004 é o regulamento, determina que os teatros, cinemas, estádios, ginásios, casas de espetáculo, salas de conferência e similares: • reservarão, pelo menos, dois por cento da lotação do estabelecimento para pessoas em cadeira de rodas, distribuídos pelo recinto em locais diversos, de boa visibilidade, próximos aos corredores, devidamente sinalizados, evitando-se áreas segregadas de público e a obstrução das saídas, em conformidade com as normas técnicas de acessibilidade da ABNT. • é obrigatória, ainda, a destinação de dois por cento dos assentos para acomodação de pessoas portadoras de deficiência visual e de pessoas com mobilidade reduzida, CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 33 incluindo obesos, em locais de boa recepção de mensagens sonoras, devendo todos ser devidamente sinalizados e estar de acordo com os padrões das normas técnicas de acessibilidade da ABNT. • Os espaços e assentos deverão situar-se em locais que garantam a acomodação de, no mínimo, um acompanhante da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida. Importante consignar que o valor do ingresso da pessoa com deficiência não poderá ser superior ao valor cobrado das demais pessoas. Por fim, os hotéis, pousadas e similares devem ser construídos observando-se os princípios do desenho universal, além de adotar todos os meios de acessibilidade, conforme legislação em vigor. Os estabelecimentos já existentes deverão disponibilizar, pelo menos, 10% (dez por cento) de seus dormitórios acessíveis, garantida, no mínimo, 1 (uma) unidade acessível. DIREITO AO TRANSPORTE E À MOBILIDADE O direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida será assegurado em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, por meio de identificação e de eliminação de todos os obstáculos e barreiras ao seu acesso. Em todas as áreas de estacionamento aberto ao público, de uso público ou privado de uso coletivo e em vias públicas, devem ser reservadas vagas próximas aos acessos de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que transportem pessoa com deficiência com comprometimento de mobilidade, desde que devidamente identificados. Salienta-se que as vagas devem equivaler a 2% do total, garantida, no mínimo, uma vaga devidamente sinalizada e com as especificações de desenho e traçado de acordo com as normas técnicas vigentes de acessibilidade. Os veículos estacionados nas vagas reservadas devem exibir, em local de ampla visibilidade, a credencial de beneficiário, a ser confeccionada e fornecida pelos órgãos de trânsito, que disciplinarão suas características e condições de uso. A utilização indevida das vagas de que trata este artigo sujeita os infratores às sanções previstas O poder público incentivará a fabricação de veículos acessíveis e a sua utilização como táxis e vans, de forma a garantir o seu uso por todas as pessoas, podendo instituir incentivos fiscais com vistas a possibilitar a acessibilidade dos referidos veículos. As frotas de empresas de táxi devem reservar 10% (dez por cento) de seus veículos acessíveis à pessoa com deficiência, sendo proibida a cobrança diferenciada de tarifas ou de valores adicionais pelo serviço de táxi prestado à pessoa com deficiência. Por fim, as locadoras de veículos são obrigadas a oferecer um veículo adaptado para uso de pessoa com deficiência, a cada conjunto de vinte veículos de sua frota, o qual deverá ter, no mínimo, câmbio automático, direção hidráulica, vidros elétricos e comandos manuais de freio e de embreagem. CS – PROTEÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 2018.2 34 5. ACESSIBILIDADE CONCEITO A acessibilidade é direito que garante à pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma independente e exercer seus direitos de cidadania e de participação social. OBRIGADOS São sujeitas ao cumprimento das normas relativas à acessibilidade: • a aprovação de projeto arquitetônico e urbanístico ou de comunicação e informação, a fabricação de veículos de transporte coletivo, a prestação do respectivo serviço e a execução de qualquer tipo de obra, quando tenham destinação pública ou coletiva; • a outorga ou a renovação de concessão, permissão, autorização ou habilitação de qualquer natureza; • a aprovação de financiamento de projeto com utilização de recursos públicos, por meio de renúncia ou de incentivo fiscal, contrato, convênio ou instrumento congênere; e • a concessão de aval da União para obtenção de empréstimo e de financiamento internacionais por entes públicos ou privados. DESENHO UNIVERSAL A concepção e a implantação de projetos que tratem do meio físico, de transporte, de informação e comunicação, inclusive de sistemas e tecnologias da informação e comunicação, e de outros serviços, equipamentos e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, devem atender aos princípios do desenho universal, tendo como referência as normas de acessibilidade. O desenho universal será sempre tomado como regra de caráter geral.
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