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JULIO ARAGON BRIALES MELHORIA CONTÍNUA ATRAVÉS DO KAIZEN: ESTUDO DE CASO DAIMLERCHRYSLER DO BRASIL Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Sistemas de Gestão pela Qualidade Total. Niterói 2005 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. 2 JULIO ARAGON BRIALES MELHORIA CONTÍNUA ATRAVÉS DO KAIZEN: ESTUDO DE CASO DAIMLERCHRYSLER DO BRASIL Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Sistemas de Gestão pela Qualidade Total. Aprovado em 15 de Dezembro de 2005 BANCA EXAMINADORA ---------------------------------------------------------- Profº Fernando Toledo Ferraz Universidade Federal Fluminense ---------------------------------------------------------- Prof ª Stella Regina Reis da Costa Universidade Federal Fluminense ----------------------------------------------------------- Profº João Batista Turrioni Universidade Federal de Itajuba 3 Dedico este trabalho Dedico este trabalho a minha esposa Inês, que em todos os momentos em que estive ausente, suportou todas as dificuldades e em nenhum momento deixou de me apoiar e de me incentivar na realização deste sonho. Obrigado. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço ao meu Irmão Miguel por fazer-me acreditar em um sonho. Agradeço a minha Mãe Francisca por me dar à coragem de realizar este sonho. Agradeço a minha equipe por compartilhar desta experiência, a Laice por me ajudar neste projeto e em especial ao colaborador e amigo Roland por dividir nestes 5 anos esta experiência maravilhosa chamada Kaizen. Agradeço ao meu Orientador Fernando por colocar no papel este meu sonho. A Direção desta empresa que me proporcionou esta oportunidade. Agradeço as pessoas que, de alguma forma, participaram na realização deste trabalho. E meu agradecimento em especial para minha esposa Inês e aos meus filhos Julio e Natan, que foram sem duvida o combustível e a motivação para finalizar este meu SONHO. Y a my Padre. 5 Hace más quien quiere, ` que quien puede...” Tereza Aragon 6 RESUMO Em um cenário cada vez mais competitivo, empresas e indústrias de diversos setores vêm continuamente buscando mecanismos que permitam a otimização dos resultados, a redução nos prazos de entrega, a eliminação de desperdícios, alcançando assim, um aumento real de lucratividade e da rentabilidade, soma-se à importância que se tem dado à questão da implementação das ações estratégicas nas empresas na busca da melhoria de seus processos. Assim, justifica-se uma análise mais cuidadosa para entender como as empresas podem buscar a implementação bem sucedida de suas ações de melhoria e mudança, alinhando-as e integrando-as aos seus objetivos e metas estratégicas. Para tratar essa questão, esta pesquisa realizou uma análise do referencial teórico e um estudo de caso na DaimlerChrysler do Brasil Ltda., juntamente com uma pesquisa interna, com o objetivo de se medir a percepção dos colaboradores, com relação à implementação da filosofia Kaizen na empresa, onde pôde se observar os pontos positivos e potenciais de melhoria da filosofia. Pode-se notar também, a importância de se ter um processo estruturado e sistematizado para gerenciar esta filosofia, entretanto, o desenvolvimento desse processo deve assumir a realidade e entender as características culturais e particulares de cada empresa. As informações obtidas neste trabalho permitem concluir que este modelo entusiasma gestores e colaboradores no alcance de metas e objetivos, para obtenção de um clima organizacional favorável e, conseqüentemente, bons resultados para os clientes internos e externos. Palavras-chaves: Kaizen. Melhoria Contínua. Mensuração de resultados. Estratégia empresarial. Cultura organizacional. 7 ABSTRACT In an always more competitive world, companies and industries from many sectors are continuously looking for methods to increase results, to shorten the delivery time, to take waste out of production, expecting to achieving a real increase of profitability. So it is important to analyze careful how enterprises can successfully implement its change and improvement actions, lining them up and integrating them with the enterprises objectives and strategic goals. To treat this question, this research investigates the theoretical referential and the case DaimlerChrysler do Brasil Ltda. through a internal research that intends to measure the perception of the work force about the implementation of the Kaizen philosophy in that company. So it was possible to observe the positive points and improvement chances of the implementation model. Also after this study it became clear how important it is to have a structured process to manage the Kaizen philosophy, however, for the development of this process we must assume the reality and understand the cultural and particular characteristics of each company. The information presented in this work, allow us to conclude that this model conquests managers and workers passion by reaching goals and objectives. Resulting in a better organizational environment, producing excellent results for both, internal and external costumers. Key words: Kaizen. Continuous improvement. Results Measurement. Enterprise strategy. Organizational culture. 8 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 - METODOLOGIA APLICADA NA DISSERTAÇÃO....................................21 FIGURA 02 - UM MAR DE ESTOQUE EM PROCESSO ...............................................34 FIGURA 03 - KAIZEN: PALAVRA DE ORIGEM JAPONESA.........................................38 FIGURA 04 - % DE AGREGAÇÃO DE VALOR .............................................................38 FIGURA 05 - EVOLUÇÃO DA FUNÇÃO QUALIDADE ATRAVÉS DO TEMPO ............42 FIGURA 06 - CICLO PDCA............................................................................................44 FIGURA 07 - ESTRUTURA DO DIAGRAMA DE ISHIKAWA.........................................49 FIGURA 08 - QUADRANTE DE IDÉIAS ........................................................................50 FIGURA 09 - ORGANOGRAMA FUNCIONAL...............................................................59 FIGURA 10 - ORGANOGRAMA DA UNIDADE DE JUIZ DE FORA ..............................61 FIGURA 11 - A ESTRUTURA DO SISTEMA DE PRODUÇÃO DE JUIZ DE FORA ......62 FIGURA 12 - REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA DA INTERAÇÃO ENTRE OS SUB- SISTEMAS DO SPJ .......................................................................................................64 FIGURA 13 - OBJETIVOS DO KAIZEN .........................................................................66 FIGURA 14 - FLUXO DA METODOLOGIA KAIZEN ......................................................67 FIGURA 15 - AGENDA DA SEMANA KAIZEN...............................................................75FIGURA 16 - FÓRMULA ..............................................................................................114 9 LISTA DE TABELAS TABELA 01 - SOMATÓRIO DOS RESULTADOS DE KAIZEN (2000 A 2005) .............82 TABELA 02 - OBJETIVOS DO KAIZEN .........................................................................83 TABELA 03 - RESUMO DOS RESULTADOS DO KAIZEN ...........................................84 TABELA 04 - COMPOSIÇÃO DA PESQUISA................................................................87 TABELA 05 - DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS X SATISFAÇÃO COM OS KAIZEN REALIZADOS X DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS.................................................116 TABELA 06 - CONHECIMENTO DA FILOSOFIA X PARTICIPAÇÃO INDIRETA........117 TABELA 07 - SATISFAÇÃO COM OS KAIZENS X DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS .....................................................................................................................................118 TABELA 08 - SATISFAÇÃO COM AS SEMANAS X ELABORAÇÃO DAS METAS.....119 TABELA 09 - CONHECIMENTO DA FILOSOFIA X PERCEPÇÃO DOS RESULTADOS .....................................................................................................................................121 TABELA 10 - CONHECIMENTO DA FILOSOFIA X FERRAMENTA FUNDAMENTAL PARA MELHORIA CONTÍNUA ....................................................................................122 10 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 01 – AVALIAÇÃO DE REAÇÃO....................................................................71 GRAFICO 02 – AVALIAÇÃO DO CONSULTOR............................................................71 GRAFICO 03 – AVALIAÇÃO DO LÍDER........................................................................72 GRÁFICO 04 - WORKSHOPS KAIZEN REALIZADO DESDE 2000.............................80 GRÁFICO 05 - TOTAL DE PARTICIPANTES EM KAIZEN (ACUMULATIVO)..............80 GRÁFICO 6 - RESUMO BUDGET ACUMULADO POR ANO (EM R$ MILHÕES).......81 GRÁFICO 07 - BUDGET POTENCIAL A SER REDUZIDO – ACUMULADO POR ANO (EM R$ MILHÕES).........................................................................................................81 GRÁFICO 08 - REDUÇÃO DO LEAD TIME (% MÉDIA DOS PROCESSOS ANALISADOS) ...............................................................................................................81 GRÁFICO 09 - COMPOSIÇÃO DA PESQUISA.............................................................86 GRÁFICO 10 – COMPOSIÇÃO DA PESQUISA POR ÁREA.........................................88 GRÁFICO 11 – VOCÊ GOSTARIA DE PARTICIPAR DE KAIZENS?............................91 GRÁFICO 12 – QUANTO VOCÊ CONHECE A FILOSOFIA KAIZEN?..........................91 GRÁFICO 13 – QUANTO VOCÊ PARTICIPOU INDIRETAMENTE DE KAIZENS? ......92 GRÁFICO 14 – QUANTO AS ALTERAÇÕES PROPOSTAS PELOS KAIZENS TROUXERAM MELHORIAS PARA SUA ÁREA?...........................................................92 GRÁFICO 15 – QUAL O SEU GRAU DE SATISFAÇÃO COM OS KAIZENS REALIZADOS NAS SUAS ÁREAS? ..............................................................................93 GRÁFICO 16 – COMO OS RESULTADOS OBTIDOS COM OS KAIZENS SÃO DIVULGADOS NAS SUAS ÁREAS?..............................................................................93 11 GRÁFICO 17 – QUAL RAZÃO O LEVOU A NÃO PARTICIPAR DE NENHUM KAIZEN? .......................................................................................................................................94 GRÁFICO 18 – VOCÊ GOSTARIA DE PARTICIPAR DE KAIZEN NOVAMENTE?.......95 GRÁFICO 19 – QUANTO VOCÊ CONHECE A FILOSOFIA KAIZEN?..........................95 GRÁFICO 20 – QUANTO VOCÊ FICOU SATISFEITO COM A SEMANA DO WORKSHOP KAIZEN DE QUE PARTICIPOU?.............................................................96 GRÁFICO 21 – QUANTO AS METAS DO KAIZEN FORAM BEM ELABORADAS?......96 GRÁFICO 22 – QUANTO AS ALTERAÇÕES PROPOSTAS PELOS KAIZEN TROUXERAM MELHORIAS PARA SUA ÁREA?...........................................................97 GRÁFICO 23 – QUAL O SEU GRAU DE SATISFAÇÃO COM OS KAIZENS REALIZADOS NA SUA ÁREA?......................................................................................97 GRÁFICO 24 – COMO OS RESULTADOS OBTIDOS COM OS KAIZENS SÃO DIVULGADOS NA SUA ÁREA?.....................................................................................98 GRÁFICO 25 – VOCÊ GOSTARIA DE PARTICIPAR DE KAIZEN NOVAMENTE?.......99 GRÁFICO 26 – QUANTO VOCÊ CONHECE A FILOSOFIA KAIZEN?..........................99 GRÁFICO 27 – QUANTO VOCÊ FICOU SATISFEITO COM A SEMANA DO WORKSHOP KAIZEN DE QUE PARTICIPOU?...........................................................100 GRÁFICO 28 – QUANTO AS METAS DO KAIZEN FORAM BEM ELABORADAS?....100 GRÁFICO 29 – QUANTO AS ALTERAÇÕES PROPOSTAS PELOS KAIZENS TROUXERAM MELHORIAS PARA SUA ÁREA?.........................................................101 GRÁFICO 30 – QUAL O SEU GRAU DE SATISFAÇÃO COM OS KAIZENS REALIZADOS NA SUA ÁREA?....................................................................................101 GRÁFICO 31 – COMO OS RESULTADOS OBTIDOS COM OS KAIZENS SÃO DIVULGADOS NA SUA ÁREA?...................................................................................102 GRÁFICO 32 – QUANTO VOCÊ CONHECE A FILOSOFIA KAIZEN?........................102 12 GRÁFICO 33 – QUANTO VOCÊ CONSIDERA O KAIZEN COMO FERRAMENTA FUNDAMENTAL PARA O PROCESSO DE MELHORIA CONTÍNUA? .......................103 GRÁFICO 34 – QUANTO AS METAS PRÉ – ESTABELECIDAS PELO TIME SÃO COERENTES COM A REALIDADE DA ÁREA? ..........................................................104 GRÁFICO 35 – QUAL O GRAU DE APLICABILIDADE DAS MELHORIAS PROPOSTAS?.............................................................................................................104 GRÁFICO 36 – QUAL O GRAU DE MONITORAMENTO DA IMPLEMENTAÇÃO DAS MELHORIAS PROPOSTAS PARA 30 DIAS?..............................................................105 GRÁFICO 37 – QUAL A SUA PERCEPÇÃO SOBRE OS BENEFÍCIOS TRAZIDOS PELOS KAIZENS REALIZADOS NA SUA ÁREA? ......................................................105 GRÁFICO 38 – QUAL O GRAU DE COMPROMETIMENTO DOS FUNCIONÁRIOS NA PARTICIPAÇÃO DOS KAIZENS?................................................................................106 GRÁFICO 39 – VOCÊ CONSIDERA QUE A MODIFICAÇÃO PÓS- KAIZEN CONTINUA COM O DECORRER DO TEMPO?..............................................................................106 GRÁFICO 40 – NA SUA OPINIÃO EXISTE RELAÇÃO ENTRE AS FERRAMENTAS DE MELHORIA CONTÍNUA (KAIZEN, LEAN SIGMA, BANCO DE IDÉIAS)? ...................107 GRÁFICO 41 – QUANTO VOCÊ CONHECE A FILOSOFIA KAIZEN?........................108 GRÁFICO 42 – QUANTO VOCÊ CONSIDERA O KAIZEN COMO FERRAMENTA FUNDAMENTAL PARA O PROCESSO DE MELHORIA CONTÍNUA? .......................109 GRÁFICO 43 – QUAL O GRAU DE DIFICULDADE EM ESTABELECER UM TEMA PARA O KAIZEN?........................................................................................................109 GRÁFICO 44 – QUANTO AS METAS PRÉ-ESTABELECIDAS PELO TIME SÃO COERENTES COM A REALIDADE DA ÁREA? ..........................................................110 GRÁFICO 45 – QUAL O GRAU DE DIFICULDADE EM ESTABELECER METAS DOS KAIZENS?....................................................................................................................110 GRÁFICO 46 – QUAL O GRAU DE APLICABILIDADE DAS MELHORIAS PROPOSTAS?.............................................................................................................111 13 GRÁFICO 47 – QUAL O GRAU DE MONITORAMENTO DAS IMPLEMENTAÇÕES DAS MELHORIAS PROPOSTAS PARA 30 DIAS?......................................................111GRÁFICO 48 – QUAL A SUA PERCEPÇÃO SOBRE OS BENEFÍCIOS TRAZIDOS PELOS KAIZEN REALIZADOS NA SUA ÁREA?.........................................................112 GRÁFICO 49 – QUAL O GRAU DE COMPROMETIMENTO DOS FUNCIONÁRIOS NA PARTICIPAÇÃO DOS KAIZENS?................................................................................112 GRÁFICO 50 – VOCÊ CONSIDERA QUE A MODIFICAÇÃO PÓS – KAIZEN CONTINUA COM O DECORRER DO TEMPO?..........................................................113 GRÁFICO 51 – NA SUA OPINIÃO, EXISTE RELAÇÃO ENTRE AS FERRAMENTAS DE MELHORIA CONTÍNUA (KAIZEN, LEAN SIGMA, BANDO DE IDÉIAS)? ...................113 GRÁFICO 52 – SATISFAÇÃO COM OS KAIZEN REALIZADOS X DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS.............................................................................................................115 GRÁFICO 53 – CONHECIMENTO DA FILOSOFIA X PARTICIPAÇÃO INDIRETA ....116 GRÁFICO 54 – SATISFAÇÃO COM OS KAIZENS X DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS.............................................................................................................117 GRÁFICO 55 – SATISFAÇÃO COM AS SEMANAS X ELABORAÇÃO DAS METAS .119 GRÁFICO 56 – CONHECIMENTO DA FILOSOFIA X PERCEPÇÃO DOS RESULTADOS.............................................................................................................120 GRÁFICO 57 – CONHECIMENTO DA FILOSOFIA X FERRAMENTA FUNDAMENTAL PARA MELHORIA CONTÍNUA ....................................................................................121 GRÁFICO 58 – VOCÊ GOSTARIA DE PARTICIPAR DE KAIZENS? ( NÃO PARTICIPANTES E PARTICIPANTES) ............................................................123 GRÁFICO 59 – QUANTO VOCÊ CONHECE A FILOSOFIA KAIZEN? (GERAL) ........123 14 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 5S Programa de Qualidade (Sensos: utilização, ordenação, limpeza, saúde e autodisciplina) PDCA Plan-Do-Check-Act (Planejar – Fazer – Checar – Agir ) WS Workshop STP Sistema Toyota de Produção SPJ Sistema de Produção de Juiz de Fora AMOB Montagem Bruta AMOF Montagem Final APIN Departamento de Pintura SPSS Família de software para tratamento estatístico de dados WIP Work in Process ( Estoque em Processo ) Budget Orçamento Anual CKD Completely Knocked Down ( Totalmente Desmontado ) 15 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................18 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..................................................................................18 1.2 SITUAÇÃO PROBLEMA ..........................................................................................19 1.3 OBJETIVO GERAL ..................................................................................................19 1.4 OBJETIVO ESPECÍFICO.........................................................................................19 1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO...................................................................................20 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO.................................................................................20 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................22 2.1 A ESTRATÉGIA DA MANUFATURA........................................................................22 2.2 A IMPORTÂNCIA DOS SISTEMAS DE ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO.........26 2.2.1 O Sistema Toyota ................................................................................................28 2.3 FILOSOFIA KAIZEN.................................................................................................36 2.4 A FUNÇÃO QUALIDADE .........................................................................................41 2.4.1 Ferramentas para o monitoramento da função ................................................43 2.4.1.1 O Ciclo PDCA.....................................................................................................43 2.4.1.2 O Programa 5 S (Housekeeping) .......................................................................45 2.4.1.3 Fluxogramas.......................................................................................................47 2.4.1.4 Gráfico de Pareto ...............................................................................................48 2.4.1.5 Listas de Verificação ..........................................................................................48 16 2.4.1.6 Diagramas de Causa & Efeito ............................................................................49 2.4.1.7 Técnicas de Brainstorming .................................................................................50 2.4.1.8 Análise por que - por que ...................................................................................51 2.4.1.9 Mapeamento da cadeia do Fluxo de Valor .........................................................51 2.5 MELHORIA CONTÍNUA ATRAVÉS DO KAIZEN .....................................................52 3 ESTUDO DE CASO NA DAIMLERCHRYSLER DO BRASIL ....................................55 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO...............................................................55 3.2 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA DAIMLERCHRYSLER DO BRASIL ............59 3.2.1 Unidade Juiz de Fora ..........................................................................................60 3.2.2 O Sistema SPJ (Sistema de Produção da Fábrica de Juiz de Fora) ...............61 3.2.2 Kaizen na DaimlerChrysler em Juiz de Fora ....................................................65 4 LEVANTAMENTO DE DADOS...................................................................................85 4.1 OBJETIVO ESPECÍFICO.........................................................................................85 4.2 METODOLOGIA.......................................................................................................85 4.3 – RESULTADO DO LEVANTAMENTO DE DADOS ................................................90 4.3.1 – Dados Quantitativos........................................................................................90 4.3.1.1 - Colaboradores Não Participantes de Kaizens..................................................90 4.3.1.2 Colaboradores com 1 (uma) Participação em Kaizens.......................................94 4.3.1.3 Colaboradores com 4 (quatro) Participações em Kaizens..................................98 4.3.1.4 Colaboradores Consultores e Líderes de Kaizens ...........................................102 17 4.3.1.5 Colaboradores Gestores ..................................................................................108 4.3.2 Correlações........................................................................................................114 4.3.3 Resultados Gerais .............................................................................................122 4.3.3.1 Não Participantes e Participantes de Kaizens..................................................122 4.3.3.2 Todos Colaboradores .......................................................................................123 4.3.4 Dados Qualitativos ............................................................................................124 4.3.4.1 Colaboradores com participações em Kaizens ................................................124 4.3.4.2 Colaboradores Gestores ..................................................................................125 4.3.4.3 Todos Colaboradores .......................................................................................1254.3.4.5 Demais sugestões (gestores)...........................................................................128 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................131 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................136 BIBLIOGRAFIA ...........................................................................................................138 GLOSSÁRIO................................................................................................................140 APÊNDICE ..................................................................................................................143 ANEXO ........................................................................................................................155 18 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A competitividade entre as empresas esta cada vez mais acirrada e com a globalização o mercado atual ficou mais competitivo e tem deixado bem claro que o mundo está em constante mutação. Observa-se que já não é considerada uma novidade a necessidade de atualização tecnológica, de garantia de sustentabilidade e qualidade, de comportamentos e clima motivacionais. A verdade é que as organizações têm que se adaptar ao ambiente externo e se capacitar para um trabalho perfeito de planejamento visando projeções futuras, considerando fortemente o cliente com todas as suas exigências e necessidades, o mercado, seus colaboradores e produtos. Os gestores devem estar preparados para reagir às constantes modificações do mercado e devem produzir da melhor forma, sob a demanda adequada, dentro dos prazos estipulados para a entrega, de forma a garantir uma boa percepção dos clientes. As organizações têm que estar constantemente atentas a cinco direcionadores principais das suas atividades: clientes, colaboradores, parceiros, investidores e sociedade. Neste sentido, o grande passo a ser dado é a adequada gestão destes direcionadores, focando o atendimento das necessidades específicas dos clientes em termos da qualidade, valor e capacidade de resposta, e, em seguida, alinhando os colaboradores e parceiros no alcance destes objetivos. Conseqüentemente, se esta lógica for seguida de maneira adequada, os investidores tenderão a demonstrar maior satisfação com o desempenho da organização e através da responsabilidade social uma boa imagem da empresa perante a sociedade. Uma interessante estratégia adotada por algumas empresas são as ferramentas de melhoria continua e dentre elas a filosofia Kaizen, que está pautada na eliminação de desperdícios com base no bom senso, no uso de soluções baratas que se apóiem na motivação e criatividade dos colaboradores para melhorar a prática de seus processos. 19 1.2 SITUAÇÃO PROBLEMA As organizações devem aprender a projetar e oferecer produtos que possam ser elaborados com flexibilidade e personalizados, preferencialmente, ao mesmo custo que prevaleceria na produção em larga escala. Desta forma, pode-se observar que surge para a organização a necessidade de utilização de ferramentas que possam colaborar para que ela alcance sucesso em seus processos e produtos finais. 1.3 OBJETIVO GERAL O Objetivo do presente trabalho é de levar ao conhecimento do leitor uma explicitação sobre a filosofia Kaizen e como mensurar seus resultados, tangíveis e intangíveis abrangendo sua aplicação. Também será descrita a sua metodologia, assim como será desenvolvida uma reflexão sobre a utilização da mesma na Daimlerchrysler do Brasil – Fábrica de Juiz de Fora - contemplando uma demonstração dos resultados alcançados. No entanto, este estudo somente se tornará completo quando, após esta explanação inicial, se discutirá a efetividade da ferramenta/ seus indicadores de desempenho e se analisará os pontos fortes e oportunidades de melhoria que podem ser resultantes da sua implementação. 1.4 OBJETIVO ESPECÍFICO O objetivo específico deste trabalho interfere sobre esta filosofia, sua metodologia e aplicação na Daimlerchrysler do Brasil - Fábrica de Juiz de Fora. Inicialmente é fornecido um embasamento teórico, que será, em seguida, conjugado com a realidade observada na empresa em estudo. Também são descritas as atividades desenvolvidas, finalizando-se o projeto proposto com uma avaliação crítica do tema. Estima-se que este estudo pode contribuir para os que desejam incorporar a filosofia Kaizen à cultura organizacional de sua empresa. Através do conhecimento das linhas de pensamento dos diferentes autores, da visualização de sua aplicação em uma 20 organização real, como também, através da observação de críticas à sua implementação, o leitor pode adquirir ou mesmo ampliar seu conhecimento a respeito do tema. 1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO O Kaizen em Juiz de Fora teve seu inicio em 2000, todos os resultados e toda a estrutura de administração desta filosofia esta em um banco de dados, que foi a base para este trabalho. Também foi elaborada uma pesquisa (Coleta de Dados) para se ter uma real percepção dos colaboradores com relação à implantação do Kaizen. 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO A estrutura do trabalho esta baseada primeiramente na pesquisa bibliográfica, ou pesquisa de fontes secundárias que foram as etapas mais complexas no desenvolvimento deste trabalho. Ela é o primeiro apoio metodológico utilizado na elaboração do mesmo. A pesquisa bibliográfica “trata basicamente da realização de um levantamento da bibliografia já publicada e apresentada em forma de livros técnicos, artigos e revistas científicas, dentre outras”. Esta pesquisa oferece um reforço conceitual para dar suporte as empresas. Além da pesquisa em fontes secundárias, também foi realizada uma pesquisa em fontes primárias, ou seja, documentos com informações geradas pela empresa estudada, que complementam a avaliação e estudo do tema em questão. O presente relato de caso será estruturado em cinco principais capítulos. O primeiro se constitui de uma introdução, que contextualiza o tema em questão e explicita as considerações iniciais, situação problema, objetivo geral, e específico, delimitação de estudo e a estrutura do trabalho.O segundo capítulo aborda o referencial teórico, base para o desenvolvimento de um trabalho confiável, tratando inicialmente da importância estratégia da manufatura para uma organização, destacando, em seguida, a importância dos sistemas de produção, abordando o Sistema Toyota de Produção. Dando seqüência, será apresentada a filosofia Kaizen e seus resultados. 21 O terceiro capítulo apresentará estudo de caso Daimlerchrysler Juiz de Fora as principais linhas de ação, as atribuições desenvolvidas e a caracterização da organização em que será desenvolvido o projeto, explicitando seus aspectos gerais, estrutura organizacional, estrutura setorial e o Sistema de Produção de Juiz de Fora - Fábrica Daimlerchrysler. O quarto capítulo mostrará um levantamento de dados (Pesquisa) realizada na empresa com relação à percepção do colaborador em relação ao nível de conhecimento e implantação da filosofia e o resultado das avaliações de reação após a conclusão de cada workshop kaizen realizado. O quinto e o ultimo capítulo trata do resultado quantitativo e qualitativo do levantamento de dados bem como as considerações finais, no qual serão apresentadas as conclusões e comentários a respeito do tema estudado, seus indicadores de mensuração e sua aplicação na organização em questão. A figura 01, a seguir, ilustra o método de desenvolvimentodesta dissertação. Nota-se, também, a possibilidade de trabalhos futuros como, por exemplo, a realização de um projeto de doutorado para a validação da proposta em empresas. . . Figura 01 - Metodologia aplicada na Dissertação Fonte: O próprio autor Trabalhos Futuros Revisão Bibliografica Levantamento de DadosEstudo de Caso Análise e Conclusão da Dissertação Aplicação da Proposta Validação da Proposta Revisão da Proposta Trabalhos Futuros Revisão Bibliografica Levantamento de DadosEstudo de Caso Análise e Conclusão da Dissertação Aplicação da Proposta Validação da Proposta Revisão da Proposta 22 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 A ESTRATÉGIA DA MANUFATURA Analisando-se as mudanças no panorama competitivo industrial, observa-se que durante os últimos trinta anos, as posições ocupadas pelos principais países industrializados, em termos de competitividade de manufaturados, mudaram. Alguns países de larga tradição na indústria foram superados por nações de menor tradição, dentre as quais se destaca o Japão. A indústria manufatureira japonesa se sobressaiu em mercados já bem desenvolvidos e com líderes estabelecidos, como o de eletrodomésticos, automóveis, motocicletas, dentre outros. Estas empresas japonesas teriam tido sucesso por sua habilidade em gerir as áreas comercial e financeira, mas principalmente pela alta qualidade e preços baixos de seus produtos, adquiridos através de uma excelência na manufatura dos mesmos, e, à qual seus concorrentes não conseguiram responder com rapidez. Realizando-se uma reflexão sobre os motivos que levaram os líderes industriais tradicionais a serem superados pelos novos concorrentes, pode-se destacar, conforme Corrêa e Gianesi (1996, p.18-19), cinco pontos principais: considerações financeiras, considerações tecnológicas, especialização excessiva e falta de integração apropriada, perda de foco e inércia. Em termos financeiros, a avaliação de desempenho das organizações estava sempre voltada para o curto prazo, induzindo os administradores a evitar investimentos de longo prazo, já que seus resultados demorariam a aparecer. Por esta necessidade de apresentar resultados com rapidez, conclui-se que foram adotadas medidas de desempenho inadequadas aos melhores interesses competitivos da organização. Já em termos tecnológicos, os líderes industriais tradicionais demonstraram um menor interesse por questões tecnológicas concentrando suas atenções em assuntos financeiros ou de controladoria. Estes líderes também se equivocaram ao se influenciarem pelos modelos da administração científica, procurando especializar cada vez mais as atividades, mas sem desenvolver mecanismos adequados de integração. Isso colaborou para uma excessiva 23 especialização das funções e dificultou a comunicação e integração ágil e eficaz entre os diversos setores para o atingimento dos objetivos organizacionais. Esta mentalidade de separação e especialização colaborou para que muitas empresas diversificassem suas atividades a ponto de distanciá-las de suas principais tecnologias e mercados, gerando perda do foco de atuação. Assim, a produção ficou sujeita à competitividade dos concorrentes que focalizavam seus recursos na obtenção de excelência de desempenho em um conjunto definido e restrito de atividades e objetivos. Um outro importante fator que colaborou para a degradação do poder de competitividade de algumas organizações foi à inércia com relação às mudanças. O estilo gerencial adotado no pós-segunda guerra, visando o alcance de produtividade e eficiência, ainda era aplicado pela maior parte das fábricas do mundo ocidental nos anos 70. O mercado passou a demandar uma maior qualidade e variedade de produtos, o que não foi atentado pelos líderes tradicionais da manufatura. Pode-se concluir que ocorreu uma falha, por parte da sociedade dos países industrializados, em reconhecer a importância do desafio competitivo que estavam sofrendo e a necessidade de mudanças. Assim, as fábricas tradicionais se deixaram obsolescer em termos estruturais (equipamentos, máquinas e pessoas) e em infra-estrutura (sistemas gerenciais e outros). Estas ficaram cercadas por organizações estrangeiras que competiam baseadas em dimensões como produtos sem defeito, inovação em processos e confiabilidade de suprimentos, e, conseqüentemente, começaram a ser afastadas dos mercados internacionais e posteriormente dos mercados internos. Observando este contexto de mudanças e necessidade de atualização, estudiosos começaram a destacar a importância do papel estratégico que a função produção deve ter na competitividade da organização como um todo. Desta forma, o potencial da produção para a competitividade e o uso da manufatura com um enfoque estratégico se tornaram algumas das linhas direcionadoras do pensamento produtivo. Pode-se destacar, conforme Corrêa e Gianesi (1996, p.21-24), alguns dos principais aspectos que passaram a ser abordados pelas organizações: a manufatura como uma arma competitiva, manufatura contribuindo com eficácia e não só com eficiência em 24 custos, focar a excelência no que realmente é importante, criar sistemas de integração, adotar uma manufatura pró-ativa e utilizar a estratégia como um padrão de decisões. As organizações devem perceber que a concorrência dos mercados atuais se dá através de necessidades como, produtos livres de defeito e confiáveis, entregas rápidas, dentre outras, que estão amplamente influenciadas pela função produção. O direcionamento a ser dado é o de criação de vantagem competitiva através do atingimento de excelência nas práticas produtivas. As organizações também precisam avaliar de maneira adequada, não somente sua eficiência em custos, mas sim sua capacidade competitiva, priorizando e focando a excelência no desempenho de critérios definidos em um ranking. É também perceptível, conforme a nova realidade competitiva, que a forma de organização deve privilegiar a comunicação e a intensa interação entre as diversas funções, com a criação de equipes que realizem interfaces. Para a atuação no mercado competitivo, a função produção deve assumir um papel pró-ativo, contribuindo ativamente para o atingimento de uma situação de vantagem competitiva, deixando de lado o papel tradicionalista de uma função reativa, que apenas responde às solicitações de outros setores. Torna-se necessário que a produção monitore o ambiente externo à organização, para estudar aspectos tecnológicos e metodológicos, buscando o melhoramento e novos desenvolvimentos em sua área de atuação. A organização também deverá incluir a produção em seu processo de planejamento estratégico, pensando esta função de maneira estratégica. Segundo Corrêa e Gianesi (1996 p. 24-26) A forma adequada e moderna de se encarar a estratégia de manufatura passa pela criação, desenvolvimento, implantação e manutenção de um padrão coerente de decisões.". Ou ainda:” O principal objetivo de uma estratégia de manufatura é suportar a organização no atingimento de vantagem competitiva sustentada de longo prazo. Para que uma organização possa atingir seus objetivos é necessário que opere através de uma forte integração entre as diferentes funções que a compõem. Tais funções cumprem papéis primordiais para que a organização atue com sucesso no 25 mercado. Entretanto, é interessante destacar que, se a organização não contar com uma estratégia de manufatura que trabalhe de maneira ótima, de nada adiantará o esforço máximo das demais estratégias, pois o fraco desempenho na produção não poderá ser suprido pelaatuação de outras estratégias da organização, como a administração financeira e do marketing. Segundo Slack et al (1996), três principais papéis podem ser considerados particularmente importantes para a função produção: produção como apoio, como implementadora e como impulsionadora da estratégia organizacional. A função produção como apoio à estratégia organizacional deve ser entendida como a produção atuando com foco na estratégia, estudando e desenvolvendo relacionamentos com fornecedores, organizando processos flexíveis, se adaptando a mudanças, ou seja, apropriando à estratégia corporativa tudo o que envolve produção, tecnologia, funcionários, sistemas e procedimentos. Enquanto a função produção estiver desenvolvendo bem estes aspectos, estará dando apoio à estratégia organizacional. Quanto ao papel de implementar estratégias, a função produção é a responsável por colocá-las em prática. Assim, a produção tem que estar constantemente apta a materializar as estratégias organizacionais para que brilhantes idéias não deixem de se concretizar devido a uma produção ineficaz. O terceiro e último papel da função produção destacado por Slack et al (1996), é o da produção como impulsionadora da estratégia empresarial. Deve-se entender esta impulsão como uma forma de levar a organização a ter uma vantagem competitiva em longo prazo. Conforme Slack et al (1996 p. 66): [...] qualquer empresa que faz produtos e/ou serviços melhores, mais rápidos, em tempo, em maior variedade, e mais baratos do que os concorrentes possuem a melhor vantagem competitiva em longo prazo que qualquer empresa poderia desejar. Desta forma, pode-se dizer que, o ponto a ser destacado é que tudo o que promove sucesso em longo prazo decorre direta ou indiretamente da função produção. 26 Uma organização que deseja ser bem sucedida em longo prazo deverá desenvolver uma função produção baseada em vantagem competitiva, ou seja, trabalhando através de cinco objetivos de desempenho principais: qualidade, custo, rapidez, confiabilidade e flexibilidade. A estes cinco objetivos também se pode inserir a inovação, essencial no atual contexto de mudanças. Garantir vantagem com qualidade para a organização significa fazer certo as coisas, não cometer erros e cumprir as especificações. Já a vantagem em rapidez significa acelerar o processo, ou seja, minimizar o tempo entre o pedido do consumidor e a entrega do produto ao mesmo. A vantagem da confiabilidade, quer dizer fazer as coisas em tempo. A vantagem de flexibilidade, demonstra preparo para mudar o que faz, ou seja, ter condições de mudar ou adaptar as atividades de produção para enfrentar circunstâncias inesperadas. E a vantagem de custo, está em fazer os produtos ou serviços o mais barato possível. É interessante destacar que estes objetivos, que devem ser perseguidos para a obtenção de vantagem competitiva, terão uma importância relativa que varia conforme o mercado em que a organização está competindo. Portanto, para que uma organização possa competir no atual e futuro mercado mundial, o isolamento ao qual a estratégia da manufatura esteve sujeita por vários anos deve acabar, buscando-se enfatizar a integração entre a produção e as diferentes funções organizacionais e adotar a utilização dos objetivos estratégicos de desempenho produtivo para obter excelência nos processos. A adoção de ferramentas específicas e a estruturação de sistemas de administração da produção coerentes aos objetivos da empresa são uma maneira de fazer a estratégia da manufatura atuar com eficiência e eficácia na busca pelo desenvolvimento organizacional, o que será percebido a seguir. 2.2 A IMPORTÂNCIA DOS SISTEMAS DE ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO Devido à nova realidade competitiva mundial, as organizações tiveram que se preocupar em adotar adequadas maneiras de gerenciamento de seus processos produtivos. Assim, foram desenvolvidos os sistemas de administração da produção (SAP), que têm o intuito de colaborar para um excelente trabalho produtivo 27 organizacional, controlando os processos produtivos. O principal objetivo de um SAP é planejar e controlar o processo de produção em todos os seus níveis, incluindo materiais, pessoas, equipamentos, fornecedores e distribuidores. Através de um SAP, uma organização consegue garantir que suas decisões operacionais produtivas estejam em concordância com suas necessidades estratégicas. Conforme Corrêa e Gianesi (1996): Sistemas de Administração da Produção são sistemas que provêem informações que suportam o gerenciamento eficaz do fluxo de materiais, da utilização de mão-de-obra dos equipamentos, a coordenação das atividades internas com as atividades dos fornecedores e distribuidores e a comunicação/interface com os clientes no que se refere a suas necessidades operacionais. Corrêa e Gianesi (1996 p.42). A maior parte das atividades gerenciais suportadas por um SAP têm implicações estratégicas. Elas afetam o nível de desempenho do sistema de produção, em termos de custos, qualidade, prazos, flexibilidade e confiabilidade; em conseqüência, afetam a forma com que a organização é vista pelo mercado. É interessante ressaltar que um SAP não toma decisões ou gerencia sistemas; são os administradores os responsáveis por estas atividades. Entretanto, um SAP assume papel fundamental, pois ele oferece suporte aos administradores através de informações para que possam ser tomadas decisões embasadas e inteligentes. As crescentes aplicações de novas tecnologias e as exigências de uma competição acirrada tornaram imprescindível a existência de um sistema de administração da produção que englobe práticas ou ferramentas que possam tornar a empresa mais eficiente e auxiliem no alcance de metas ou desafios. Estas práticas e ferramentas orientam os processos de forma ordenada e sistêmica desde o desenvolvimento do produto, influindo diretamente no processo produtivo. Diversas práticas de sistemas de produção são desenvolvidas no mundo como uma resposta aos desafios econômico-sociais de suas respectivas culturas. Estas práticas e ferramentas norteiam os processos, possibilitando a garantia de padronização e estabilidade dos mesmos, o que acarreta em produtos mais adequados aos interesses organizacionais e do cliente. 28 Para que se possa entender melhor a importância de um sistema de administração da produção, veremos, a seguir, as principais características de um dos mais conhecidos sistemas já desenvolvidos: o Sistema Toyota de Produção. 2.2.1 O Sistema Toyota De acordo com Womach, (1992), em 1950, um jovem engenheiro japonês, Eiji Toyoda, fez uma visita de três meses aos Estados Unidos com o intuito de observar as instalações da Ford, em Rouge-Detroit, e verificar a possibilidade de implementar o sistema de produção em massa na fábrica da Toyota, no Japão. Para se ter uma idéia comparativa da quantidade de veículos produzidos, em 1950, a Toyota após treze anos de trabalho, havia produzido 2.685 automóveis, enquanto a Ford produzia, por dia, 7000 veículos. Eiji, após ter estudado em detalhes a fábrica da Ford, observou que ela era a maior e mais eficiente complexo fabril do mundo. Ainda nos EUA, escreveu para sua empresa, a Toyota, e relatou que copiar ou melhorar o sistema de produção da Ford era praticamente impossível. Como conseqüência, havia a necessidade de criação de um novo sistema de produção que fosse apropriado a Toyota e ao Japão. De volta ao Japão, Eiji e seu gerente de produção, Taiichi Ohno, chegaram à conclusão de que seria impossível implementar, na Toyota, o sistema de produção em massa nos moldes da Ford. A partirdesse momento, iniciaram a criação de um novo sistema de produção que seria conhecido como Sistema Toyota de Produção (STP) ou Sistema de produção enxuta (lean production). É importante ressaltar que o desenvolvimento do sistema foi totalmente empírico, do tipo tentativa e erro. Para Ohno (1997), “a necessidade é a mãe da invenção”, o mesmo se refere aos motivos da necessidade de desenvolvimento de um novo sistema de produção e, ainda nos dias atuais, as melhorias ocorridas nas fábricas da Toyota são motivadas pela necessidade de Melhoria Contínua. Ele ressalta que a chave para o progresso das melhorias esta em permitir que o pessoal da fábrica sinta essa necessidade. Os autores Womach, Jones e Roos (1992), descreveram que o sistema lean production se apresenta imensamente superior ao sistema de produção em massa, 29 tanto em produtividade como em qualidade e destacam que o sistema é mais eficiente porque: • Exige menor utilização de recursos como estoque, área, tempo e esforço físico. • Busca incessantemente a eliminação total dos desperdícios. • Desenvolve as capacidades intelectuais. • É capaz de atender melhor às mudanças e gostos individuais dos consumidores. • Oferece maior variedade de produtos aos clientes. • Combina o melhor da produção artesanal com o melhor da produção em massa. • É capaz de adequar as novas tecnologias ao sistema de produção. O Sistema Toyota de Produção (STP) pode ser considerado um marco na história dos sistemas de produção convencionais que foram adotados. Conforme Shingo (1996), a Toyota transformou um sistema de produção passivo e conciliatório em um novo sistema, calçado em conceitos que jamais haviam sido utilizados. Esta mudança ocorreu com base em estudos investigatórios das origens da produção convencional, derrubando crenças anteriormente aceitas. Este Sistema parte do princípio do não custo (minimização de custos) como diretriz do estilo gerencial. Ao contrário do princípio de custos tradicional, que parte do pressuposto de que o preço de venda é formado pela soma do custo de produção ao lucro (custo+lucro= preço de venda), o Sistema Toyota de Produção defende a premissa de que é o consumidor o determinante do preço de venda dos produtos. Desta forma, a organização só obterá lucros quando baixar seus custos de produção através da eliminação de perdas (preço- custo=lucro). Conclui-se assim, que, conseqüentemente, a redução de custos deverá ter alta prioridade, se tornando um meio para manter ou aumentar lucros e motivando a organização à eliminação total de desperdícios. Pode-se caracterizar, segundo Shingo (1996), alguns princípios básicos deste Sistema. O primeiro a ser considerado é a questão das perdas por superprodução, que pode ser estudada em duas vertentes: a superprodução quantitativa e a antecipada. A superprodução quantitativa ocorre quando peças excedentes são produzidas para garantir um adequado fornecimento, mas acabam sendo desperdiçadas. Já a superprodução antecipada se caracteriza por uma decisão de produção antes da 30 entrega. Ambas têm que ser evitadas, garantindo-se assim, a eliminação do desperdício. Outro princípio do Sistema é o Just-in-Time (JIT), que consiste no processo de abastecimento com os itens, quantidade e momento necessários à produção. Segundo Shingo (1996, p.103) "Em japonês as palavras para just-in-time significam no momento certo, oportuno." Ele é um método utilizado para evitar a produção antecipada. Este princípio será abordado com maior intensidade posteriormente. O princípio da separação da máquina do trabalhador também é uma relevante característica deste Sistema. Esta separação tem por objetivo o aumento de eficiência da produção e um melhor aproveitamento dos recursos humanos. Esta transformação envolve seis diferentes estágios que vão do inicial, caracterizado pelo trabalho manual ao mais elevado, caracterizado pela autonomação (que será mais bem estudada posteriormente), ou seja, processamento, detecção e correção de problemas feitos de forma automática. O Sistema Toyota é adepto à adoção de um maior número de máquinas para realizar o trabalho com baixas taxas de utilização, o que garante ao operador um ritmo de trabalho, evitando a ociosidade. Pensando em termos de custos, é preferível uma máquina parada a um operador ocioso, pois a máquina sofre depreciação e o operador deverá manter um ritmo de trabalho para garantir a continuidade de seu desenvolvimento no trabalho. O STP ainda defende a adoção de um planejamento de equipamentos por parte da organização, pois, com baixas taxas de operação, os equipamentos mais baratos e menores podem ser planejados e aperfeiçoados à necessidade da empresa, destacando-se que essas adaptações podem ser feitas internamente na organização. Os equipamentos novos devem ser evitados, pois possuem altos investimentos, dando prioridade à aquisição de máquinas usadas. Um outro benefício da operação de máquinas a baixas taxas é a possibilidade da organização poder atender rapidamente às flutuações de demanda adotando simplesmente a contratação de colaboradores temporários. Outro princípio a ser considerado é o da utilização de controles visuais, como por exemplo, um andon (painel indicador) que indica, através de luzes, quando, onde e o 31 tipo de problema ocorrido. Este controle visual informa e sinaliza a necessidade de uma ação imediata por parte dos responsáveis, entretanto, o mais importante não é somente a rapidez com que o problema é alertado, mas sim quais soluções serão implementadas. O STP é um sistema de administração da produção que se preocupou em criar métodos que garantissem a manufatura com base no objetivo de eliminação de desperdícios para gerar queda de custo e aumento de lucratividade para a organização. Assim, observa-se que o sistema desenvolvido tem foco na eliminação do que é desnecessário, evitando-se a superprodução, adotando-se o JIT, para garantir uma utilização adequada de recursos e tempo, otimizando o aproveitamento do trabalhador, criando máquinas capazes de trabalhar sozinhas, fornecendo um ritmo de produção pela adoção de máquinas a baixos índices de operação, com planejamento de equipamentos e controle visual para otimizar as ações produtivas. Conforme Shingo (1996): [...] o Sistema Toyota de Produção rejeita as idéias convencionais a respeito da produção baseada em projeções e realizada em grandes lotes, em favor da produção contra pedido e executada com lotes pequenos. Além do mais, isso exige uma rígida fidelidade aos princípios da produção com estoque zero. Shingo (1996 p.246). Pela adoção do princípio do não custo, o fundamento de eliminação de perdas foi o responsável pela origem dos demais princípios do Sistema Toyota de Produção. Segundo Shingo (1996, p.110) “A perda é qualquer atividade que não contribui para as operações, tais como espera, acumulação de peças semiprocessadas, recarregamentos, passagem de materiais de mão em mão, etc." Dentre as possíveis perdas a serem eliminadas, destaca-se o estoque, que durante muito tempo foi considerado necessário. O questionamento de sua necessidade revelou que mantê-lo era um grande desperdício. A existência de estoques garante a produção, pois se uma das peças utilizadas estiver defeituosa, o problema pode ser facilmente resolvido, já que o colaborador pode trocá-la por uma outra que esteja conforme as especificações. Assim, a existência de estoques encobre todos os possíveis problemas que ocorrem na organização, como produtos defeituosos, 32 `1 excesso de movimentação, excesso de produção, tempo de espera, transporte, dentre outros. Na busca pela eliminação de desperdícios,também foi observada a existência de estoques de produtos acabados, gerados pela produção de grandes lotes, adotada no sistema de produção convencional. Para otimizar esta prática, foi desenvolvida a produção contra pedido, ou seja, a produção passou a ser gerada a partir do pedido do cliente como uma forma melhor de atender à demanda, passando esta a determinar a produção. Com a adoção desta prática, tornou-se necessário produzir em lotes pequenos e diversificados em ciclos de produção altamente reduzidos, já que os clientes desejavam variedade nos produtos oferecidos. Segundo Correa e Gianesi (1996), existem diversas diferenças entre STP e o Sistema de Produção em Massa, mas a principal característica é a introdução do conceito de puxar a produção. Com aplicação desse conceito, o nível de estoque em processo é reduzido, pois somente são feitos os produtos que realmente estão sendo vendidos. Observa-se inicialmente, como o estudo pela eliminação de desperdícios gerou o surgimento de diversos conceitos que não eram adotados. Os princípios do Sistema Toyota de Produção foram um desdobramento de conceitos que surgiam em conseqüência de outros. Foi criado o método Kanban de controle visual para manter o nível de desenvolvimento do sistema. Este método de controle visual auto-regulador e simplificado, que se concentra no chão-de-fábrica, fez com que se tornasse possível responder a mudanças na produção de forma rápida e simples. Corrêa e Gianesi (1996) afirmam que o sistema de "puxar" a produção a partir da demanda produzindo a cada estágio somente os itens necessários, nas quantidades necessárias e no momento necessário ficou conhecido no ocidente como método Kanban, nome dado aos cartões que são usados para autorizar a produção e a movimentação de itens em todo o processo produtivo. O Kanban é o método de operação, uma forma de controle do Sistema Toyota de Produção. Consiste na utilização de um pedaço de papel que carrega informações de coleta, de transferência e de produção, podendo ser considerado como uma forma 33 para atingir o just-in-time. O Kanban deve ser praticado sobre regras rígidas e pode-se considerar como suas funções principais: fornecer informações sobre apanhar ou transportar, impedir a superprodução e o transporte excessivo, servir como ordem de fabricação afixada às mercadorias, impedir a fabricação de produtos defeituosos através da identificação do processo que os produz, revelar problemas existentes e manter o controle de estoques. De acordo com Ohno (1997), os dois pilares de sustentação do Sistema Toyota são o just-in-time (JIT) e a autonomação (que será estudada em seguida). O JIT significa que em um processo de fluxo, as partes necessárias à montagem em um determinado ponto alcançam a linha de montagem no momento em que são necessárias e na quantidade adequada. Slack et al (1996) afirmam que: [...] o JIT significa produzir bens e serviços exatamente no momento em que são necessários - não antes para que não se transformem em estoque, e não depois para que seus clientes não tenham que esperar. Além deste elemento temporal do JIT, podemos adicionar as necessidades de qualidade e eficiência. Slack et al (1996 p.474). O just in time (JIT) é uma abordagem disciplinada, que visa aprimorar a produtividade global e eliminar desperdícios. Ele possibilita a produção eficaz em termos de custo, assim como o fornecimento apenas da quantidade necessária de componentes, na qualidade correta, no momento e locais corretos, utilizando o mínimo de instalações, equipamentos, materiais e recursos humanos.1 Springer/Verlag apud Slack et al (1996 p.474). Segundo Corrêa e Gianesi (1996, p.57) “o objetivo da filosofia JIT é reduzir os estoques, de modo que os problemas fiquem visíveis e possam ser eliminados através de esforços concentrados e priorizados. “Lubben (1989) também afirma: Obter uma vantagem competitiva significa ser mais eficiente, ter um produto melhor ou fornecer um serviço melhor que os competidores. A manufatura Just- in-Time persegue cada um destes valores para desenvolver uma vantagem competitiva através de melhor administração de todo o sistema de manufatura. [...] os sistemas Just-in-Time são desenvolvidos para trabalhar continuamente pelas metas de melhoria do desempenho. Integrar e otimizar o sistema de manufatura é um processo constante em uma empresa JIT.”Lubben (1989 p.05). 1 Voss,C.A In: Voss, C.A (Org.). Just in time Manufacture. IFS, Springer/Verlag, 1987. 34 A existência de estoques desvia a atenção da organização quanto a sérios problemas de qualidade e falta de confiabilidade de fornecimento e equipamentos. Observe a figura a seguir: Figura 02 – Um mar de estoque em processo Fonte: TBM Consulting Group ( 2002 ) Pode-se fazer uma alusão dos estoques a um rio no qual flutua tranqüilamente um barco. Esta água é considerada um mar de estoque em processo, que pode encobrir diversos problemas de produção, como refugo, tempo de espera, excesso de movimentação, superprodução e longos tempos de preparação. Quando o nível de estoques é reduzido, os problemas aparecem, fazendo com que o barco fique parado, e surge a necessidade de se tomar decisões para resolvê-los. Assim, pode-se entender melhor o grau de prejuízos que podem ser causados pelo estoque excessivo. Se uma empresa conseguir implantar este fluxo na íntegra, poderá alcançar o estoque zero. Entretanto, em processos de produção que envolva um grande número de etapas de montagem, torna-se muito difícil aplicar o JIT de maneira ordenada a todos os planos. Este Sistema também percebe a vantagem de se utilizar máquinas que sejam independentes dos trabalhadores. Segundo Ohno (1997, p.27), o significado de Jidoka é “dar inteligência à máquina”, em seu significado literal a palavra representa automação com um toque humano (autonomação). Conforme Sharma e Moody (2003, p.109) "Taiichi Ohno, criador do Sistema Toyota de Produção, cunhou a palavra inglesa que significa autonomação para descrever jidoka." O Jidoka implica na capacidade da máquina operar sem a intervenção humana. Surgiu a partir da adaptação de máquinas 35 que trabalhavam de maneira autônoma, de forma que as mesmas passaram a ter um dispositivo de parada automática acoplado e, assim, pudessem informar ao colaborador quando algo de errado estava acontecendo. Este fato permitiu uma melhor detecção e prevenção de anormalidades na produção. Desta forma, o operador que ficaria vigiando o processo, ficou livre para executar outra atividade que valoriza seu potencial para aprender e criar, enquanto a máquina trabalha sozinha. No Jidoka, quando uma anormalidade é detectada, o operador tem autoridade para parar a linha, o que impede que o erro continue acontecendo e que as perdas nos processos sejam maiores. Também foi modificada a forma de gestão, já que com as máquinas trabalhando sozinhas, um mesmo colaborador poderia atender a diversos equipamentos, possibilitando a redução do número de operadores e aumentando a eficiência da produção. Portanto, o Sistema Toyota de Produção revolucionou a forma das organizações produzirem, visto que se tornaram de conhecimento mundial todos os conceitos desenvolvidos e focados na grande possibilidade de aquisição de vantagem competitiva com a redução de custos. Atualmente as organizações utilizam o Sistema Toyota de Produção com uma outra nomenclatura: Sistema Global de Produção. Esta alteração de nomenclatura foi adotada devido a restrições que alguns países apresentaram em utilizar um sistema de produção criadono Japão. O Sistema Global de Produção é formado por dois pilares (JIT e Jidoka) e por uma base que é o Nivelamento da produção. O JIT (just in time) auxilia na redução de custos gerados pelo estoque e prazo de entrega. Em um processo de fluxo, deve-se produzir o que o cliente deseja, na quantidade desejada, quando ele deseja, e usando um mínimo de matéria-prima, equipamento, mão-de-obra e espaço. Os princípios deste pilar são a sincronia com o ritmo da produção estabelecido pelo cliente (takt2) e a criação de um fluxo de uma peça única na manufatura, eliminando a existência de estoques e estabelecendo um sistema de "puxar" a produção, no qual a operação seguinte solicita a anterior. A produção e fluxo em peça única minimizam os desperdícios, o estoque e forçam a melhoria da 2 Takt, Palavra alemã que significa ritmo. Nota de responsabilidade do autor. 36 qualidade. A inexistência de estoques torna o sistema intolerável às anomalias de produção. O segundo pilar do Sistema Global de Produção é o Jidoka, já mencionado anteriormente. Ele é responsável pela detecção e prevenção de anormalidades na produção, garantindo uma reação imediata às mesmas para melhorar a qualidade e reduzir o tempo ocioso. A base do Sistema Global é o nivelamento da produção. Ele consiste em, primeiramente, se estabelecer um fluxo e uma forma padrão de abastecimento da linha produtiva. Em seguida os índices da produção deverão ser adaptados às variações de demanda, que englobam as variações de volume e de tipo de produtos. Esta adaptação é realizada com a criação de um programa diário de produção que faça um pouco de todos os produtos, ou seja, que mantenha a produção diária igual em quantidade e mix. O nivelamento da produção serve então como uma base, utilizando o just in time para responder à demanda e o Jidoka para mensurar o sucesso e manter a qualidade dos produtos. Devido ao sucesso de implantação, o STP despertou o interesse de diversas organizações, que procuraram encontrar nos princípios do sistema, um caminho para orientar o desenvolvimento de seus próprios sistemas de administração da produção. No capítulo 3 Estudo de Caso, explanar-se-á sobre o Sistema de Produção aplicado à Fábrica DaimlerChrysler de Juiz de Fora, que é baseado no STP. 2.3 FILOSOFIA KAIZEN Transformar uma organização em um empreendimento melhor não é tarefa fácil nem rápida, na verdade deve ser encarada como um processo cíclico e permanente. Desta forma, a organização deve inicialmente ter um profundo conhecimento de seus próprios processos para, em um segundo momento, adotar as ferramentas adequadas para buscar as melhorias julgadas necessárias, dentre as quais, destaca-se o Kaizen. A filosofia Kaizen está baseada na eliminação de desperdícios com base no bom senso, no uso de soluções baratas que se apóiem na motivação e criatividade dos colaboradores para melhorar a prática de seus processos de trabalho, com foco na busca pela melhoria contínua. Os caracteres japoneses que significam a palavra 37 Kaizen, de origem japonesa conforme Sharma (2003, p. 109 – 111), significa Fazer Bem (KA = mudar; ZEN = bem). Veja fig 3. A ferramenta ficou mundialmente conhecida pela sua aplicação dentro do Sistema Toyota de Produção. A ferramenta Kaizen foi criada no Japão pelo engenheiro Taichi Ohno, com a finalidade de reduzir os desperdícios gerados nos processos produtivos, buscando a melhoria contínua da qualidade dos produtos e o aumento da produtividade. Segundo Sharma (2003): A ferramenta Kaizen utiliza questões estratégicas baseadas no tempo. Nesta estratégia, os pontos-chave para a manufatura ou processos produtivos são: a qualidade (como melhorá-la), os custos (como reduzi-los e controlá-los), e a entrega pontual (como garanti-la). O fracasso de um destes três pontos significa perda de competitividade e sustentabilidade nos atuais mercados globais. Sharma (2003, p. 114). O Kaizen não visa tão somente os ganhos de produtividade, redução de custos e eliminação de desperdícios. Mas, também visa à melhoria contínua das condições de trabalho do homem, buscando sua total interação com os processos de manufatura, aumentando a sua satisfação. Slack et al (1996), diz que: [ ... ] qualquer empresa que faz produtos e serviços melhores, mais rápidos, em tempo, em maior variedade, e mais baratos do que os concorrentes possui a melhor vantagem competitiva a longo prazo que qualquer empresa poderia desejar. Slack et al (1996, p. 66) O resultado mais marcante do Kaizen, segundo a Equipe GRIFO (1994, p. 21) é uma procura constante para resolver os problemas da empresa, formando uma cultura na organização de modo que todos possam admitir livremente essas dificuldades, desde o presidente até o mais humilde funcionário. De acordo com a TBM Consulting (2000, p. 08), “a Metodologia Kaizen pode ser aplicada em qualquer processo produtivo em que exista um padrão nas tarefas ou atividades”. 38 Figura 03 - Kaizen: palavra de origem japonesa Fonte Sharma e Moody (2003, p114) Esta filosofia se baseia na eliminação de desperdícios em três pontos-chave: qualidade, custo e entrega dos produtos/serviços, visando constantemente torná-los melhores a preços menores. Em busca da redução do prazo de entrega do produto, uma empresa típica geralmente ataca as atividades que envolvam produção de bens, tentando otimizar os processos produtivos e conseqüentemente poderá obter uma pequena melhoria, já que geralmente as otimizações nestes processos não acarretam em grandes impactos. Figura 04 - % de Agregação de Valor Fonte: TBM Consulting Group 198 MinutosEmpresatípica 2 Minutos 198 MinutosMelhoria tradicional 1 Minuto Fração de Valor Agregado 1% 0,5% 2% Atividades que agregam valor Atividades que não agregam valor Tempo original do Processo (200 min) 98 Minutos Redução de Desperdício com Kaizen Grande Melhoria Redução de 100 min 2 Minutos 50 % do tempo original 198 MinutosEmpresatípica 2 Minutos 198 MinutosMelhoria tradicional 1 Minuto 198 MinutosMelhoria tradicional 1 Minuto Fração de Valor Agregado 1% 0,5% 2% Atividades que agregam valor Atividades que não agregam valor Tempo original do Processo (200 min) 98 Minutos Redução de Desperdício com Kaizen Grande Melhoria Redução de 100 min 2 Minutos 50 % do tempo original 39 Entretanto, uma organização que emprega a redução de desperdícios utilizando a filosofia Kaizen atacará as atividades que podem ser descartadas, o que implicará na eliminação de atividades desnecessárias e a melhoria advinda poderá gerar resultados financeiros, no prazo de entrega, na qualidade do produto e no processo, além de outros. Pode-se visualizar melhor este benefício da filosofia Kaizen através da figura 04 apresentada anteriormente. Assim, é importante que as atividades nos processos de manufatura e serviços sejam classificadas quanto à agregação de valor ao cliente, ou seja, atividades que agregam valor à manufatura são aquelas que transformam matérias-primas e informações em produtos que o cliente deseja, são aquelas pelas quais o cliente paga. Já as atividades que não agregam valor à manufatura são aquelas que consomem recursos, mas não contribuem diretamente para os produtos, ou seja, os clientes não querem pagar pelas mesmas. Portanto, eliminar desperdícios significa atacar diretamente as atividades que não agregam valor à produção. É interessante conhecer os principais tipos de desperdíciosno sistema produtivo, que serão foco de aplicação da metodologia Kaizen para sua eliminação: superprodução, excesso de tempo disponível (espera), excesso de transporte, processamento ineficaz, excesso de estoque disponível, excesso de movimentação, e excesso de produtos defeituosos. A eliminação destes desperdícios melhora todo o processo produtivo, aumentando a efetividade da organização e gerando produtos melhores com custos reduzidos. Um evento Kaizen consiste na aplicação da filosofia em uma organização por meio da metodologia. O Kaizen é efetuado através de uma equipe com colaboradores de diferentes áreas organizacionais e que ocupam diferentes cargos, para realizar um trabalho focado em metas arrojadas, estabelecidas por uma determinada área. Estas metas podem envolver resultados em ganhos de produtividade, redução em ocupação de área na planta, aspectos ergonômicos e de segurança, dentre outros. Entretanto, é importante destacar que, para que a aplicação da filosofia gere excelentes resultados, toda a empresa precisa se envolver neste processo, mantendo sempre o foco na busca pela melhoria contínua, na predisposição para a ação e na utilização da criatividade antes de se realizar investimentos. É relevante destacar a 40 necessidade de envolvimento da alta gerência, demonstrando apoio e incentivo à participação de todos os colaboradores com sugestões de melhoria para desenvolver pessoas com pensamento Kaizen. A filosofia Kaizen trabalha os processos através de equipes focadas na eliminação de desperdícios e criação de fluxos adequados, gerando soluções criativas para sanar problemas. Verifica-se, assim, o diferencial competitivo de que uma organização pode usufruir ao incorporar à sua política a aplicação da filosofia. O Kaizen pode adequar os processos e atividades da empresa para que a mesma trabalhe com uma visão de Produção “Lean”, ou seja, trabalhar com um sistema de produção que não apresente imperfeições, que gere produtos em fluxo de peça única com qualidade perfeita, até que se torne parte da cultura da empresa a noção de buscar o “fazer certo na primeira vez” em toda a cadeia do produto. A organização também deve oferecer à equipe todos os recursos de que a mesma necessite, já que o evento Kaizen é dotado de um caráter de urgência, o que de certa maneira colabora para uma maior valorização dos trabalhos da equipe. Outra importante premissa a ser destacada é a valorização da criatividade dos colaboradores antes de se utilizar investimentos de capital para criar melhores processos e ambientes de trabalho, aumentando também a rentabilidade da organização. De acordo com Sharma e Moody (2003) “O Kaizen coloca a inteligência pelo processo e a responsabilidade pela tomada de decisões diretamente nas mãos dos especialistas do chão de fábrica." Assim, é facilmente perceptível a força que a equipe Kaizen possui dentro da organização. O time tem autonomia para promover melhorias e implantá-las para alcançar ou até mesmo ultrapassar as metas inicialmente estabelecidas. Para uma aplicação de um evento Kaizen com sucesso, a metodologia conta com a adoção de diversas ferramentas para o melhoramento da qualidade, que serão abordadas no próximo tópico. 41 2.4 A FUNÇÃO QUALIDADE Para se iniciar um entendimento sobre esta função, torna-se primordial conhecer o significado do termo qualidade. Segundo Campos3 apud Werkema (1995, p.2) "[...] um produto ou serviço de qualidade é aquele que atende perfeitamente, de forma confiável, de forma acessível, de forma segura e no tempo certo às necessidades do cliente." Slack el al (1996, p.552) definem a qualidade sob a visão da operação: "qualidade é a consistente conformidade com as expectativas dos consumidores". Ampliando o entendimento deste conceito, a palavra conformidade significa o atendimento de especificações claras, enquanto que a palavra consistente deve fornecer o entendimento de que as especificações são definidas com base em projeções e controle que garantam que o bem ou serviço atenda às expectativas dos consumidores. Observa-se assim, que a função qualidade está diretamente ligada ao atingimento, ou superação, das expectativas dos clientes. Por isso é de tão grande relevância a preocupação constante das organizações em realizar ajustes que garantam a conformidade aos requisitos organizacionais de produção de bens ou prestação de serviços, considerando a qualidade como um fator diferencial de competitividade. É relevante destacar que a qualidade é decorrente de sua ligação com o objetivo básico da organização, que é sobreviver. A única forma de atingir este objetivo é colocando os produtos/serviços no mercado, e a maneira de crescer é ganhando novos locais para atuação. Assim, ao cliente deve ser dado um tratamento de prioridade, já que de sua satisfação vai depender a aceitação dos produtos/serviços. Se o produto for adequado, a empresa se consolida e garante empregos, gerando reflexos positivos aos colaboradores que trabalharão motivados; esta motivação pode tornar os funcionários ainda mais produtivos, fortalecendo a organização e ampliando o mercado de atuação. 3 CAMPOS, V.F. (1992). TQC – Controle da Qualidade Total (No Estilo Japonês), fundação Christiano Ottoni / Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. 42 Deste ciclo, observa-se então que a qualidade é uma tarefa de todos os envolvidos com a organização. A evolução histórica da função qualidade está ligada diretamente ao ser humano, o que pode ser melhor observado segundo Farias Filho4 apud Mendonça (2003): O estudo sobre a evolução da qualidade como companheira da evolução da humanidade, [...] está distribuído em etapas que podem ser caracterizadas fazendo-se uma correlação com a situação sócio-econômica do ser humano em seu processo evolutivo. Farias Filho apud Mendonça (2003, p.19). Segundo Mendonça (2003), problemas de origem estrutural e operacional surgiram com a divisão de trabalho, a aplicação do conceito de linha de produção e o aumento da complexidade dos bens manufaturados. Estes problemas precisavam ser resolvidos e isto desencadeou um processo de desenvolvimento de formas e ferramentas para garantir e controlar as operações dos processos produtivos objetivando a qualidade dos produtos manufaturados. A seguir, a figura 05 se propõe a mostrar a escala evolutiva da função qualidade no tempo: Figura 05- Evolução da função qualidade através do tempo Fonte: Mendonça (2003, p.19) 4 FARIAS FILHO, J. R. Sistemas de Gestão pela Qualidade Total in Módulos I a IV. Notas de aula da disciplina SGQT. Niterói: UFF, 2000. (Mestrado em Sistemas de Gestão). Fonte: Mendonça (2003, p.19) G ra u de e vo lu çã o GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE TOTAL GESTÃO INTEGRADA DA QUALIDADE TOTAL GARANTIA DA QUALIDADE CONTROLE ESTATÍSTICO DE PROCESSO - CEP INSPEÇÃO Tempo 1900 1930 1950 1970 1990 43 2.4.1 Ferramentas para o monitoramento da função Diversas são as ferramentas (dispositivos, procedimentos, gráficos, formulações práticas, mecanismos de operação) que podem ser utilizadas no processo de melhoria da qualidade nas organizações. Estas ferramentas apresentam diferentes propósitos e podem contribuir de várias formas, principalmente com relação aos processos, como por exemplo, para uma descrição e conhecimento detalhados dos mesmos, para uma avaliação sobre diferentes pontos de vista, para sintetizar conhecimentos e conclusões, fornecer