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Esta cartilha destina-se aos Membros do Ministério Público do Estado de Goiás. 3 Apresentação A Coordenação de Apoio Técnico Pericial foi instituída em fevereiro de 2009, com o propósito de unificar e aprimorar as atividades técnicas desempenhadas no âmbito do Ministério Público do Estado de Goiás. Sua missão é: prestar apoio técnico e assessorar os órgãos de Execução e as Unidades Administrativas nas demandas relacionadas às áreas de atuação técnica que compõem a Coordenação de Apoio Técnico Pericial, quais sejam ambiental, educação, contabilidade, engenharia, medicina, psicologia e serviço social. A Unidade Técnica em Psicologia é constituída por profissionais que prestam assessoria técnica, por meio, principalmente, de perícias extrajudiciais que avaliam as diversas matérias pertinentes à sua área de atuação e à instituição. Nesse sentido, realiza avaliação psicológica, visitas técnicas domiciliares e institucionais, além de apoio no desenvolvimento de projetos e palestras no âmbito do Ministério Público do Estado de Goiás. O Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude é órgão auxiliar da atividade funcional do Ministério Público e exerce as atribuições delimitadas no artigo 60, da Lei Complementar Estadual nº 25/1998. Dentre as principais atribuições desse órgão de assessoramento, destacam-se o dever de prestar auxílio aos Órgãos de Execução do Ministério Público do Estado de Goiás e a obrigação de estimular a integração e o intercâmbio entre os referidos Órgãos (artigo 60, incisos I e V, da Lei Complementar Estadual nº 25/1998). Com o propósito de melhor auxiliar e apoiar os trabalhos dos Membros do Ministério Público do Estado de Goiás no enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes, a Unidade Técnica em Psicologia e o Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude unem esforços na realização do presente trabalho. É fato que a violência sexual contra crianças e adolescentes tem se mostrado um grave problema social e de saúde pública, tendo em vista sua elevada incidência e os sérios prejuízos sofridos pelas vítimas. De modo geral, os casos de abuso e exploração sexual infanto juvenil 4 apresentam uma dinâmica complexa, cuja compreensão evidencia-se como um desafio para os diversos profissionais que trabalham na área. Assim, esta cartilha foi construída com o propósito de abordar questões técnicas e jurídicas pertinentes à avaliação psicológica de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, especificando como a psicologia pode contribuir com os trabalhos do Promotor de Justiça. CAOINFÂNCIA CATEP Unidade Técnica em Psicologia 5 Principais atividades desenvolvidas pela Unidade Técnica em Psicologia do MP/GO ¾ Avaliação psicológica em casos de violência sexual, física, psicológica e negligência; ¾ Avaliação psicológica em casos de abuso de substâncias; ¾ Avaliação de condições psíquicas, emocionais, comportamentais e intelectuais de pessoas envolvidas em situações de risco, vulnerabilidade e/ou sofrimento psíquico; ¾ Avaliação psicológica de situações de alienação parental, avaliação da competência parental1; ¾ Apoio institucional em projetos, palestras, reuniões, e eventos dessa natureza; ¾ Avaliação de instituições (de acolhimento, saúde, proteção social, etc.), sob o enfoque psicológico. Para a Psicologia, a avaliação da competência parental corresponde à análise da qualidade dos vínculos estabelecidos entre os pais e seus filhos, e da forma como aqueles assumem suas responsabilidades em relação a estes, figurando, assim, como fonte de suporte emocional e material para as crianças. 1 6 Avaliação psicológica Trata-se de um processo de coleta e análise de informações resultantes da aplicação de técnicas psicológicas, que podem incluir testes, entrevistas, questionários, observações, dentre outras. Por meio da avaliação psicológica, é possível analisar diferentes áreas que compõem o psiquismo do indivíduo, tais como: cognição, emoção e comportamento. Destaca-se que, embora a avaliação psicológica também analise a relação do indivíduo com seu meio, ela sempre o faz enfocando as condições psicológicas do sujeito. De modo geral, a avaliação psicológica não é um processo fechado e, portanto, a escolha das técnicas a serem utilizadas deve ser feita de acordo com as especificidades de cada caso, bem como com o objetivo e a demanda que a avaliação visa atender. Frente a estas múltiplas possibilidades, a formação do psicólogo lhe confere condições para escolher entre as técnicas mais apropriadas para cada situação. Na avaliação psicológica, apenas a análise integrada dos dados colhidos permite um posicionamento seguro por parte do psicólogo. Nenhum instrumento isoladamente tem poder conclusivo. Por mais que a técnica utilizada seja amplamente reconhecida ou por mais que o profissional que a manuseia seja competente, o uso de apenas um instrumento é insuficiente para abordar a complexidade do sujeito que a ele se submete. Violência Sexual Infantil é toda atividade com natureza erótica ou sexual realizada com uma criança/adolescente por alguém em um estágio de desenvolvimento psíquico mais avançado, tendo por finalidade estimular a vítima sexualmente ou utilizar-se dela para obter excitação sexual para si ou para outrem. 7 Técnicas utilizadas na avaliação ¾ Entrevista com a vítima: busca coletar informações, respeitando questões como idade, desenvolvimento cognitivo, linguagem, memória e sofrimento psíquico associado ao evento. Nos casos que envolvem crianças, o brinquedo funciona como um facilitador para que elas expressem sentimentos relacionados à família e seu cotidiano; ¾ Testes psicológicos: visam avaliar aspectos psicológicos como atenção, agressividade, memória, estresse, ansiedade, relações interpessoais, habilidades sociais e inteligência, bem como outros aspectos referentes ao desenvolvimento cognitivo e emocional e à personalidade. Possuem caráter científico e objetivo e, portanto, os resultados obtidos são legitimados por meio de fundamentos psicométricos2; ¾ Observação direta das pessoas envolvidas e de seus diferentes contextos de inserção social; ¾ Coleta de informações e entrevistas com pais, professores, médicos, vizinhos, conselheiros tutelares e profissionais de outros órgãos; ¾ Análise de documentos; ¾ Avaliação psicológica do suposto agressor, quando pertinente. Os fundamentos psicométricos dos instrumentos psicológicos correspondem a requisitos essenciais para legitimar sua utilização e garantir a qualidade dos resultados. Tais referências são construídas principalmente por meio de análises estatísticas e correspondem, sobretudo, à atenção sobre três parâmetros. A validade do instrumento oferece garantias de que ele avalia exatamente o traço psicológico a que se propôs; a fidedignidade comunica sobre a consistência do instrumento, condição que abrange tanto a unicidade dos itens quanto a estabilidade dos resultados em avaliações realizadas em diferentes ocasiões; a padronização define a forma de aplicação do instrumento e as referências de comparação dos resultados do indivíduo com o grupo no qual ele está inserido. 2 8 Aspectos relevantes na entrevista de vítimas de violência sexual Ao entrevistar crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, é importante: ¾ Organizar um ambiente físico adequado e acolhedor para a criança; ¾ Demonstrar empatia e preocupação com o bem-estar da criança, buscando estabelecer um vínculo de confiança para que ela se sinta à vontade para falar; ¾ Explicar as razões da entrevista e como ela será feita, facilitando a cooperação entre entrevistador e entrevistado; ¾ Requisitar o relato livre da criança sobre a situação, sem interrompê-la; ¾ Esclarecer as lacunas do relato por meio de perguntas abertas, passando a perguntas fechadas apenas quando estritamente necessário; Considerações: ¾ Perguntas fechadas: envolvem respostas de sim ou não e limitam a quantidade de informações fornecidas; ¾ Perguntas sugestivas: expressam uma opinião e conduzem o entrevistado a uma determinada resposta; ¾ Perguntas confirmatórias: procuram confirmar uma hipótese do entrevistador. 9 ¾ Evitar perguntas com conteúdo que não foi oferecido espontaneamente pela criança; ¾ Fazer questionamentos que sejam compatíveis com o nível de desenvolvimento e compreensão do entrevistado; ¾ Respeitar o silêncio da criança que, por vergonha, medo ou em decorrência de intenso sofrimento, se recuse a falar sobre o abuso sexual. Insistir para que a criança relate a violência vivenciada é uma forma de revitimização. Esta, muitas vezes, é mais dolorosa do que a violência em si. 10 Você sabia? ¾ Perguntas fechadas, sugestivas e/ou confirmatórias podem levar à produção de falsas memórias (lembranças que não são reais, mas são recordadas como se tivessem sido realmente vividas), o que torna o testemunho inválido; ¾ Crianças costumam acreditar que os adultos conhecem as respostas para todas as perguntas, tendendo, portanto, a responder de acordo com as expectativas e direcionamentos do entrevistador; ¾ Quanto menor a idade da criança mais ela é suscetível à sugestão de falsas memórias; ¾ Crianças possuem um padrão de memória não linear, por isso, tendem a apresentar relatos fragmentados, sem sequência temporal e pouco detalhados. 11 Construção de quesitos Os quesitos são o principal meio de comunicação entre o Promotor de Justiça e o psicólogo avaliador. Todo caso de violência apresenta particularidades. Por esta razão, é importante que o Membro do Ministério Público especifique, por meio de quesitos, as questões nas quais o psicólogo deve se aprofundar, delimitando a área de interesse a ser investigada por este profissional. Tal cuidado permite um melhor direcionamento do trabalho do psicólogo no atendimento aos Promotores de Justiça, a construção de relatórios mais objetivos e focados nas demandas destes, bem como minimizam a exposição de aspectos considerados de menor pertinência. De modo geral, os questionamentos direcionados a esta Unidade Técnica aludem a aspectos psíquicos individuais que, por sua vez, podem abranger a situação atual da criança, seus relacionamentos intrafamiliares e interpessoais, alterações comportamentais, cognitivas e emocionais e/ou a presença de sintomatologia que indique quadros psicopatológicos. A ausência de quesitos dificulta a delimitação da avaliação e, deste modo, o relatório pode ser escrito com uma elevada quantidade de informações, estas muitas vezes irrelevantes em face das demandas do Promotor de Justiça. Nessas situações, a avaliação psicológica pode parecer insuficiente mesmo com um grande número de dados, pois o profissional não tem um foco para a adequada análise dos fatos. Além disso, a apresentação de informações excessivas implica em exposição das pessoas envolvidas, já que as avaliações psicológicas em situações de violência sexual contra a criança e o adolescente costumam envolver o registro de aspectos bastante íntimos e particulares. Assim como a ausência de quesitos, sua utilização de forma genérica ou padronizada também é problemática. Nesses casos, são desconsideradas as especificidades da situação em exame, o que pode comprometer a análise dos aspectos únicos do contexto. Deste modo, o uso de quesitos padrões para os diversos casos faz com que seja necessário dedicar trabalho para avaliar questões que não são pertinentes àquela situação particular. 12 13 O valor do Parecer Técnico A avaliação psicológica elaborada no âmbito do Ministério Público constitui importante elemento de convencimento para o Promotor de Justiça, servindo de subsídio para a formação da opinio delicti na seara criminal ou a adoção das medidas de cunho protetivo previstas nos artigos 101 e 130, do Estatuto da Criança e do Adolescente. No campo específico da violência sexual praticada contra crianças e adolescentes, é certo que o desconhecimento sobre o funcionamento da família envolvida, a extensão dos danos psíquicos e a necessidade de tratamento adequado faz com que a intervenção da equipe de psicologia seja decisiva para auxiliar o membro do Ministério Público na adoção das providências necessárias para minimizar o sofrimento da vítima. Quanto ao valor jurídico, a avaliação psicológica produzida por uma das partes constitui elemento de prova a ser apreciado pelo Juiz em conjunto com as demais provas produzidas. Assim, o parecer técnico, também denominado prova pericial extrajudicial, produzido pelo Ministério Público é válido e lícito, podendo ser valorado segundo a livre apreciação das provas pelo magistrado, observando as regras processuais pertinentes à distribuição do ônus da prova (STJ – Resp 849841-MG e Resp 644994-MG). Sobre o assunto ensinam Eugenio Pacelli e Douglas Fischer, na obra Comentários ao CPP e sua Jurisprudência, Lumen Júris , 2010, p. 313: “Também não se cuida de prova ilícita posto que de regra a ilicitude nessa matéria revela-se pela ofensa a garantias de sigilo quanto a privacidade, intimidade, à imagem e à honra.” O parecer técnico mencionado difere, contudo, da prova pericial produzida sob o crivo do contraditório e dirigida pelo Juiz da causa a que se referem os artigos 159, do Código de Processo Penal, e 420, do Código de Processo Civil. Outrossim, a prova pericial extrajudicial em comento pode ser objeto de questionamento em juízo, admitindo contraprova ou ensejando requerimento de perícia judicial, a ser produzida sob o crivo do contraditório. Nessa última hipótese, com fundamento nos artigos 14 159, § 3º, do Código de Processo Penal, e 121, § 1º, I, do Código de Processo Civil, o Promotor de Justiça poderá indicar como assistente técnico profissional da Unidade de Psicologia da CATEP, que o auxiliará previamente na formulação dos quesitos, se necessário. Portanto, a perícia extrajudicial psicológica, além de ser elemento de prova no sistema judiciário, auxilia o Promotor de Justiça na análise e compreensão dos fatos, contribuindo para a busca da verdade real e respeitando o superior interesse da criança e do adolescente. 15 Como requisitar assessoria técnica A Unidade Técnica em Psicologia atende às solicitações das Promotorias de Justiça do Estado de Goiás, tanto da Capital quanto do interior, em procedimentos referentes à sua área de conhecimento. A requisição desse assessoramento técnico é realizada por intermédio de ofício endereçado à Coordenação de Apoio Técnico Pericial (CATEP), contendo descrição circunstanciada do objetivo a ser alcançado com a perícia, quesitos e documentos que prestam informações sobre o caso, auxiliando o psicólogo no planejamento da avaliação. À luz do preceito da prioridade absoluta, previsto nos artigos 227, da Constituição Federal, e 4º, da Lei 8.069/90, as perícias técnicas envolvendo crianças e adolescentes devem ser realizadas em caráter prioritário, considerando que se enquadram no conceito de serviço público ou de relevância pública. Em sendo necessário, a perícia pode ser realizada em caráter de urgência, mediante requerimento justificado. Consoante disposto no artigo 7º, do Ato PGJ nº 02/2009, as decisões quanto à caracterização da urgência são de responsabilidade dos Coordenadores de Apoio Operacional de cada área de atuação, razão pela qual as solicitações de avaliação psicológica de crianças e adolescentes em caráter de urgência demandam parecer do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude.16 Modelo de Ofício Ofício nº ___/___ _____________, _________de ____ Ao Ilustríssimo Senhor Coordenador de Apoio Técnico Pericial do Ministério Público de Goiás Rua 23, esquina com Rua 03, Quadra A-12, Lote 11, sala 108. Jardim Goiás, Goiânia-GO. CEP: 74805-260. Anexo MP/GO ASSUNTO: Solicitação perícia (URGENTE) Senhor Coordenador, Ao cumprimentá-lo, solicito a realização, em caráter de urgência, de avaliação psicológica da criança/adolescente (nome completo), nascida em (data de nascimento), filho(a) de (nome dos pais), residente em (endereço completo), supostamente vítima de estupro de vulnerável (artigo 217-A, do Código Penal), para resposta aos seguintes quesitos: Neste espaço, o Promotor de Justiça insere quesitos pertinentes ao caso, que podem abranger questões como: a) existência de indícios da ocorrência da violência e de sua autoria; b) presença de traumas psicológicos decorrentes da violência; c) alterações
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