Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A Relação Indivíduo / Sociedade A Relação Indivíduo / Sociedade - Módulo 1 Estudos Socio-Antropológicos 2 A Relação Indivíduo / Sociedade Objetivo do estudo Este módulo tem como objetivo o estudo do indivíduo e da sociedade e suas transfor- mações. Esperamos que, ao final do módulo, você seja capaz de conhecer as teorias necessárias para entender os diferentes aspectos da nossa sociedade, assim como as transformações sociais, pensamentos e suas características.. Grupos e instituições sociais Dando inicio à nossa conversa sobre o primeiro módulo de estudo, podemos afirmar que a sociedade compõe-se de grupos sociais mais ou menos amplos, cada um deles regido por um conjunto de regras e procedimentos próprios – as instituições – e formado por indivíduos vinculados a uma ou outra classe da estratificação social. O ser humano só existe enquanto membro de um grupo social. Outras espécies animais também formam grupos, como as abelhas, as andorinhas etc., mas a sua formação, apesar de complexa, difere muito da maneira como os seres humanos se organizam. Os animais se organizam devido a uma predisposição genética. Ou seja, não podem escolher de quais grupos vão participar ou mesmo sair dos grupos em que estão inseridos O ser humano, por outro lado, escolhe seu grupo social de acordo com muitos critérios, complexos e ambíguos. No entanto, se decidir mudar de grupo fará isso sem o menor problema. Na verdade, é muito comum que o ser humano passe por vários grupos sociais durante a sua vida. Saiba mais A análise dos grupos sociais é de suma importância no âmbito da Sociologia. A sociedade é constituída de grupos sociais de amplitudes variáveis, interesses próprios e muitas vezes conflitantes. Integrar esses grupos torna-se tão importante para os indivíduos que muitos não se dão conta de tal fato. Somente em situações de afastamento desses grupos os indivíduos conseguem observar a importância que eles exercem na vida humana. A ruptura dos elos do individuo com o grupo quase sempre leva esse individuo à morte. Atenção! Para que você compreenda melhor o que falamos sobre grupos e instituições sociais, é importante que faça a leitura de todos os links indicados no texto. Tudo entendido até aqui? Vamos em frente. 3 A Relação Indivíduo / Sociedade - Módulo 1 Estudos Socio-Antropológicos Instituição social (texto complementar) Instituição social é um sistema complexo e organizado de relações sociais relativamente permanente, que incorpora valores e procedimentos comuns e atende a certas necessida- des básicas da sociedade. A partir desse raciocínio, podemos afirmar que nas instituições sociais as atividades são rotineiras e previsíveis, fazendo com que as relações entre os indivíduos sociais fiquem cada vez mais padronizadas. Uma instituição também pode ser definida como uma organização de normas e costumes para a obtenção de alguma meta ou atividade que as pessoas julguem importante. São processos estruturados por meio dos quais grupos ou indivíduos se esforçam para levar a cabo suas atividades. Ou seja, é uma maneira definida, formal e regular de fazer alguma coisa num ambiente social. Há outra definição sobre instituição que a diferencia do raciocínio anterior, pois não estabelece uma relação direta com um grupo propriamente dito, mas com um conjunto de comportamentos e crenças que o grupo adota. Seguindo essa ideia, as pessoas pertencem a grupos ou associações; no entanto, não podem pertencer a uma determinada instituição no sentido científico do termo, uma vez que uma instituição não pode ser vista, pois se trata de uma abstração. De modo geral, ligada a cada instituição há pelo menos uma associação que realiza a função ou as funções daquela instituição. Associações têm nomes, podem ser localizadas em algum espaço físico; têm membros e são organizadas. Uma associação pode ser definida como um grupo organizado de indivíduos que executa uma ou mais funções. Desenvolvimento do processo de institucionalização A institucionalização desenvolve um sistema regular de normas, status e papéis sociais que são aceitos pela sociedade. Sendo assim, uma instituição educacional apresenta pessoas colocadas em papéis sociais especializados, como diretor, professor, inspetor etc. O comportamento de cada um desses profissionais é orientado por códigos, estatutos e regulamentos. A compreensão dos preceitos que orientam o comportamento das pessoas que trabalham nas instituições de ensino facilita a compreensão e a previsão do rumo que as ações tomarão em um determinado conjunto de circunstâncias. Por exemplo, o conflito entre professor e aluno será encaminhado para o coordenador que tentará resolver o problema; caso ele não consiga, levará ao diretor. Os símbolos culturais são sinais que identificam uma determinada instituição e servem para lembrar a sua existência. Exemplos: o pavilhão nacional, um crucifixo, a aliança etc. Os prédios podem se tornar símbolos institucionais. Um casa lembra um lar; o prédio de uma igreja lembra religião; enfim, os símbolos não são as instituições propriamente ditas, porém ao nos depararmos com eles nos lembramos da instituição correspondente. Características das instituições Cada instituição tem como objetivo principal a satisfação de necessidades sociais específicas, e para atingir seus objetivos desempenha múltiplas funções. As instituições religiosas promovem a sociabilidade e proporcionam interpretação sobre o meio físico e social dos indivíduos, contribuindo para diminuir as incertezas. A Relação Indivíduo / Sociedade - Módulo 1 Estudos Socio-Antropológicos 4 A instituição familiar é responsável pelo controle da função reprodutora, por regular o comportamento sexual e pela socialização das crianças. Por sua vez, as instituições sociais incorporam valores fundamentais adotados pela maioria da sociedade. Por exemplo: no Brasil, os valores que encontramos na família incluem o casamento monogâmico, consumado por amor (segundo a classificação social), e respeito devido pelos filhos aos pais. Já na educação os governantes tem a obrigação de dar ensino a todos os brasileiros até uma determinada faixa etária, assim como os pais têm o dever de enviar os filhos à escola e estimular o melhoramento das relações sociais para, assim, promover a convivência das pessoas de diversos grupos. Os ideais de uma instituição são, em geral, aceitos pela grande maioria dos membros de uma sociedade, mesmo que dela não participem. Mesmo que as pessoas sejam contrárias ao partido político que governa seu país, elas reconhecem e aceitam o importante papel desempenhado pelas instituições políticas. Mesmo havendo profunda interdependência entre as diversas instituições dentro de uma sociedade, cada uma delas está profundamente estruturada e organizada segundo um conjunto estabelecido de normas, valores e padrões de comportamento. Como exemplo podemos citar as instituições políticas (governamentais), que são altamente estruturadas e se tornaram burocráticas ao extremo. Seus cargos são preenchidos por concursos públicos nos quais os ocupantes desfrutam de relativa estabilidade, há respeito profundo pela hierarquia e os símbolos hierárquicos são bem valorizados (por exemplo, o tamanho e a localização da mesa de determinado funcionário). A demonstração da influência das instituições sociais pode ser vista pela posição central que elas ocupam na sociedade; uma mudança drástica em uma instituição provavelmente provocará mudanças em outras. Por fim, as instituições são relativamente duradouras, e os padrões de comportamento estabelecidos dentro das instituições se tornam parte da tradição de uma determinada sociedade. Por exemplo: no Brasil há uma forte tradição monogâmica regulamentando os casamentos. Tradicionalmente, o marido, a mulher e os filhos ocupam um papel social e umstatus baseado na idade e no sexo. Principais funções das instituições Cada instituição em particular possui funções específicas. No entanto, todas apresen- tam funções básicas comuns. As funções das instituições podem ser manifestas ou latentes. As funções manifestas das instituições são aquelas óbvias, que se mostram claramente, são aparentes e, de modo geral, são aceitas pelos membros da sociedade. As funções institucionais latentes não se manifestam com clareza, são menos evidentes e podem não ser aprovadas pelos outros membros da sociedade. A função manifesta da educação é a transmissão cultural dos valores e normas de uma sociedade e o aprendizado dos papéis ocupacionais e profissionais. Porém, a educação apresenta também a função latente de promover e intensificar o contato social, elevando a sociabilidade e a tolerância. Todas as instituições apresentam determinadas funções básicas que lhes são comuns, como: • As instituições sociais apresentam para os indivíduos vários modelos de 5 A Relação Indivíduo / Sociedade - Módulo 1 Estudos Socio-Antropológicos comportamento, que ficam mais bem compreendidos quando em um contexto institucional. • As instituições proporcionam grande número de papéis sociais com um deter- minado comportamento julgado adequado. Conhecendo com antecedência as expectativas de desempenho de um determinado papel social, as pessoas podem tomar a decisão de escolher o papel que melhor lhes convier. • De modo geral, as sociedades aprovam o comportamento institucionalizado, pois elas dão estabilidade e consistência aos seus membros. • As instituições tendem a regulamentar e controlar o comportamento dos indivídu- os. Como elas incorporam as expectativas aceitas pela sociedade, qualquer desvio dessas expectativas pode gerar punição ou uma exposição a constrangimentos. As funções institucionais específicas das mais importantes instituições sociais são: Funções da família – regulamentação do comportamento sexual, socialização das crianças, fixar a posição e estabelecer o status transmitido pela herança social etc. Funções das instituições educacionais – prover a preparação para papéis ocupacionais e profissionais, servir de veículos para a transmissão da herança cultural, familiarizar os indivíduos com os vários papéis sociais, preparar os indivíduos para certos papéis sociais esperados, proporcionar base para a avaliação e a compreensão relativa de status. Funções das instituições religiosas – dentre tantas instituições sociais importantes existentes, como família e Estado, podemos afirmar que as religiões ocupam papel relevante no processo de construção das relações entre o homem e o meio socioambiental em que está inserido, visando sempre uma forma de explicar, organizar e disciplinar a vida em grupo ou em sociedade. Se formos buscar na história as múltiplas formas de explicação do seu surgimento, a mais comum seria que o homem busca compreender o porquê da existência, da vida e da morte. Diante dessas reflexões sobre à vida, tem-se a formação da instituição igreja, agora como instituição com funções de fornecer um espaço comum onde o grupo possa se reunir para discutir e refletir sobre interesses coletivos, buscando criar ações políticas comuns à coesão social com o objetivo de diminuir os conflitos nas relações sociais, visando um bem-estar social do grupo ou sociedade. A igreja pode ser compreendida como um grupo social, pois, sendo formada por um grupo de fiéis ligados pela mesma fé e sujeitos aos mesmos princípios e regras, obedecem e acreditam em chefes espirituais. Como toda instituição social, a instituição religiosa igreja tem como tarefa específica a formação religiosa do ser humano, buscando socializá-lo dentro dos princípios norteadores da religião adotada pelo grupo ou sociedade. O que é importante notar é que todas as sociedades humanas conhecem algum tipo de religião. Pode-se verificar na história da humanidade e dos povos que a religião é um fato social universal, sendo encontradas desde os primórdios da vida humana. Ao longo da história humana, apareceram, desenvolveram-se e desapareceram diversas formas de manifestações religiosas. No mundo atual, as principais são: cristianismo, A Relação Indivíduo / Sociedade - Módulo 1 Estudos Socio-Antropológicos 6 islamismo, judaísmo, hinduísmo e budismo. Todas essas religiões formam a maior parte das crenças religiosas no mundo, porém é importante ressaltar que não são as únicas, pois a diversidade cultural humana possibilita a existência de muitas outras formas religiosas em diferentes regiões do mundo. Algumas questões de estudo... Pesquisar outras religiões existentes no mundo. O que caracteriza qualquer tipo de religião é a crença em poderes sobrenaturais ou misteriosos. As relações estabelecidas entre os fiéis e a crença religiosa está associada aos valores de respeito, temor e veneração; são manifestas em atitudes públicas destinadas a lidar com esses poderes. Por isso, cada religião traduz um comportamento distinto da outra diante de questões sobrenaturais ou misteriosas. Como são as diversas manifestações religiosas no mundo? Você viu que a forma pela qual se expressa a religião não é igual em todos os grupos ou sociedades. Sociedades diferentes acentuam formas diferentes de expressão de fé. Tem-se às vezes um predomínio maior na crença no sobrenatural; em outras crenças valorizam-se os ritos e as cerimônias. No mundo atual, podemos verificar modos religiosos bem distintos entre as religiões ocidentais e as orientais. No mundo ocidental, as religiões sofreram significativas modificações em função do modo de produção das diversas sociedades existentes, ou seja, da passagem de formas econômicas produtivas baseadas nas atividades agrícolas (como no feudalismo) para uma forma econômica industrial urbana, capitalista, que incorporou uma nova forma de refletir o mundo através da razão humana, do pensamento científico e das artes. Essas transformações deram uma nova visão ao homem ocidental sobre si mesmo e a vida e representou perda da importância da religião e da igreja como única forma de explicar a vida humana. A sociedade foi se tornando cada vez mais laica. Qual a importância do Renascimento e da ciência para as modificações religiosas no mundo ocidental? No mundo oriental, as religiões ocorrem de forma mais ampla nas relações sociais. O poder exercido sobre os indivíduos é bem maior do que no mundo ocidental; podemos verificar que as regras são mais rígidas quanto ao comportamento do indivíduo diante de seu grupo, fortalecendo um sentimento de coesão social que os difere de outros povos, pela maneira de manifestar suas convicções e crenças religiosas, por suas maneiras de vestir, pela disciplina de seus cultos, pela obediência aos ritos e cerimônias, pela crença de uma única salvação pela fé religiosa. 7 A Relação Indivíduo / Sociedade - Módulo 1 Estudos Socio-Antropológicos Os grupos sociais (texto complementar) Na amplitude do estudo sociológico, os grupos sociais constituem um elemento de grande importância, pois é no interior desses grupos que as interações sociais ocorrem, sendo estas interações o objeto de estudo do sociólogo, visto que não há interação social sem a criação dos grupos sociais, assim como não existiriam grupos sociais se os indivíduos que os compõem não interagissem. Ao nascer, o homem já integra um grupo social, a família. E ao longo de sua vida terá acesso ou integrará – ou não – inúmeros outros grupos. Por constituir o primeiro grupo social a que o individuo tem acesso, cabe à família a transmissão de ensinamentos essenciais para o convívio social, como a fala e os valores – na sua amplitude –, bem como a transmissão da cultura social na qual o indivíduo está inserido. Sob uma ótica inicial, os grupos sociais são classificados emduas grandes categorias: os grupos nos quais estou inserido e os grupos externos, que são aqueles dos quais não faço parte. Entre os grupos dos quais faço parte estão a minha família, minha turma da faculdade, minha turma do trabalho, os indivíduos do meu sexo, minha nação etc. Os grupos externos são as outras famílias, outras turmas, outras nacionalidades, outras ocupações, indivíduos do sexo oposto etc. Tendo essa visão como base, a relação de oposição nós x eles está fortemente embasada. Relacionado aos grupos considerados externos, pode-se afirmar que o indivíduo não reconhece seus interesses como os interesses de um determinado grupo, relacionando seus membros como não pertencentes ao seu próprio grupo. As expectativas relacionadas ao grupo de fora são variáveis: de alguns, esperamos hostilidade; de outros, competiti- vidade; de outros ainda, indiferença. Por serem vistos como blocos homogêneos, os grupos de fora são estereotipados, como se os indivíduos que o constituem não apresentassem qualidades ou características distintas. Se não somos políticos, acreditamos que todos os indivíduos desse grupo sejam corruptos; os ciganos são vistos como pessoas que não merecem confiança; os cariocas, por seu estilo, são malandros; os argentinos, orgulhosos; a turma da sala de aula é legal, as demais turmas são chatas. É como se a construção da imagem que possuímos do “geral”, no âmbito social, fosse sempre distorcida e, consequentemente, negativa. Com base nas duas definições, podemos ver o quanto os grupos são importantes e como influenciam o comportamento das pessoas. A maneira como as torcidas organizadas de futebol se comportam reflete bem os aspectos construtivos conceituais de grupos internos e externos. Entre os membros de uma mesma torcida existe forte cunho de solidariedade; estes, por sua vez, cultivam e manifestam um sentimento de hostilidade em relação aos outros grupos de torcedores. Toda nação moderna desenvolve uma concepção etnocêntrica muito forte de si mesma. Com base nisso, podemos dizer que os grupos internos são fortemente etnocêntricos. Todo habitante de um país considera sua nação melhor e superior às demais, procurando A Relação Indivíduo / Sociedade - Módulo 1 Estudos Socio-Antropológicos 8 exaltar os aspectos que justifiquem sua posição e ocultando os demais. E, quanto mais próxima, maior a animosidade. As relações de rivalidade entre o Brasil e a Argentina, ou ainda a relação entre o Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, geram um número significativo de apelidos, expressões e piadas depreciativas sobre os indivíduos que habitam as diferentes localidades. Os grupos sociais se caracterizam por: - Pluralidade de indivíduos – remete à ideia de coletividade, pois um grupo é constituído por mais de um individuo. - Organização – todo grupo precisa de uma estrutura interna disciplinada para um bom funcionamento. - Interação social – a interação dos indivíduos, no interior do grupo, é necessária para a sua consolidação. - Princípios comuns – norteados por certos valores comuns, visando um mesmo objetivo, os membros de um grupo se unem. Porém, quando um ou mais membros se indispõem com esses valores ou objetivos, colocando em dúvida alguns princípios, o grupo pode desagregar ou se dividir. - Objetividade e exterioridade – os grupos sociais são superiores e exteriores aos indivíduos que os integram. Quando um indivíduo ingressa em um grupo, ele já existe e continuará a existir se, por ventura, esse indivíduo se desligar dele. - Consciência grupal – constitui maneiras próprias de pensar, sentir e agir do grupo, em que uma série de ideias, pensamentos e comportamentos são fortemente compartilhados pelo grupo. - Continuidade – a necessidade de interações duradouras constitui a formação de grupos sociais estáveis, como a família, a igreja etc., visto que existem grupos de durações efêmeras, que aparecem e desaparecem com facilidade, como é o caso dos mutirões. A palavra grupo remete a múltiplos sentidos. Ora pode ser utilizada para fazer referencia a um agregado de indivíduos que em um dado e delimitado momento compartilham um mesmo local, ora pode ser associada a um grupo de indivíduos que são colocados juntos por compartilhar uma mesma característica. Contudo, na atualidade, a definição mais aceita de grupo social é: “qualquer número de indivíduos que compartilham uma mesma consciência de interação e filiação”. Nesse sentido, grupo social é qualquer conjunto de indivíduos em interação que compartilham uma consciência de membros e que têm expectativas comuns de comportamento. Em suma, é possível afirmar que grupo social é um conjunto de indivíduos que partilham algumas características semelhantes – normas, valores e expectativas –, que interagem conscientemente e apresentam algum sentimento de unidade. Grupos primários e secundários Grupos primários são aqueles em que os indivíduos estabelecem um nível de conhe- cimento íntimo, por meio de contatos sociais, pessoais e totais, envolvendo muito da experiência de vida de uma pessoa. Os grupos são pequenos e os relacionamentos tendem a ser informais e descontraídos. Os membros do grupo desenvolvem interesse 9 A Relação Indivíduo / Sociedade - Módulo 1 Estudos Socio-Antropológicos pessoal uns pelos outros e compartilham numerosas atividades e interesses. Os grupos são primários em vários sentidos, mas principalmente por serem fundamentais na formação da natureza social e nos ideais do individuo. De modo geral, seus membros são insubstituíveis. Exemplos: a família e o grupo de amigos. Podemos acrescentar que o caráter primário desses grupos se deve ao fato de que, cronologicamente, são os primeiros com os quais o indivíduo se relaciona desde o seu nascimento (a família em primeiro lugar, em seguida o grupo de amigos) e que serão responsáveis por desenvolver sua personalidade, proporcionando-lhe o primeiro contato com as normas e valores que serão seus. Os grupos primários resistem com maior facilidade às modificações provocadas pelas mudanças sociais, e a sua capacidade de sobrevivência em diferentes situações motivadas por fatores políticos ou institucionais demonstra a importância deles para a socialização dos indivíduos e sua capacidade de resistência perante os problemas que se apresentam em qualquer período da vida dos indivíduos. A forma de controle social exercida pelos grupos primários é muito mais eficiente do que aquelas que ocorrem nos grupos secundários, uma vez que todos agem sob as vistas dos demais membros e dificilmente conseguem escapar ao controle direto exercido por todos sobre todos. Desse modo, as expectativas de comportamento nos grupos primários são correspondidas pelos membros, pela força do controle pessoal íntimo que é exercido. Nos grupos secundários, os relacionamentos são impessoais, parciais e utilitários. Os contatos humanos que se estabelecem em uma empresa, em um clube, na escola, entre os moradores de um prédio, entre os vizinhos etc. geralmente são contatos formais, mais ligados ao que existe em comum entre os indivíduos do que à pessoa como um todo. No grupo secundário, o que mais interessa é a função que os indivíduos desempenham, sua ocupação, seu trabalho, suas obrigações e direitos, e não propriamente sua perso- nalidade, seus problemas pessoais, suas experiências vitais. Enquanto o grupo primário se caracteriza pelo relacionamento humano, o grupo secundário se distingue pela tarefa fazem que em comum. É claro que no interior dos grupos secundários, geralmente maiores, persistem os grupos primários. Assim, tanto na empresa, quanto no prédio, na rua ou na escola, o individuo pode relacionar-se de maneira mais íntima e pessoal com um grupo de amigos. Os grupos primários existentes no interior dos grupos secundários podem mesmo contribuir para que os objetivos dos grupossecundários sejam atingidos com mais eficiência. Numa escola, por exemplo, os objetivos educacionais podem ser mais facilmente atingidos se as atividades forem organizadas com base nos grupos primários existentes. Isto é, se os alunos que são amigos dentro e fora da escola puderem realizar juntos as tarefas escolares. A Relação Indivíduo / Sociedade - Módulo 1 Estudos Socio-Antropológicos 10 A sociedade e as transformações sociais De modo geral, todas as formas societárias anteriores tinham como base uma rígida hierarquia social, em que os privilégios desfrutados pelas elites eram considerado naturais. Em outras palavras, era como se uma pessoa fosse superior a outra em função do sangue ou de uma natureza interna delas. Além disso, eram sociedades fortemente influenciadas pelo pensamento mitológico e/ou religioso. A sociedade moderna que se consolidou no século XIX era totalmente nova, como veremos a seguir. Ela não surgiu de uma hora para outra, foi antes resultado de um processo social e histórico lento e anterior. E era preciso entendê-la, compreender sua dinâmica e participar dela. A sociedade moderna é racional, cientifica e parte do princípio de que todos são iguais. Se existem diferenças em relação ao poder econômico e político, na essência nossa condição humana é a mesma. De qualquer modo, a realidade social era marcada por contradições decorrentes das expectativas em relação aos discursos que se produziam sobre o futuro, os interesses econômicos e uma realidade social desigual e mutante. As bases da sociedade que emergia desse cenário era democrática e secular (cientifica). Vale ressaltar que as mudanças ocorridas nesse período só foram possíveis em função de um conjunto de circunstâncias que vinham se desenvolvendo ao longo do tempo. Segundo Polanyi (2000), a grande transformação que deu origem a essa sociedade nova foi o capitalismo. O desenvolvimento econômico do século XV e dos seguintes começou a mudar as relações de produção e o pensamento antigo. 11 A Relação Indivíduo / Sociedade - Módulo 1 Estudos Socio-Antropológicos O crescimento do comércio financiou o surgimento da ciência moderna, como no caso de Galileu Galilei e Leonardo da Vinci, assim como possibilitou a acumulação das riquezas necessárias para investir na construção das fábricas no período seguinte. Ao mesmo tempo, o campo foi perdendo poder para a cidade, e as mudanças foram se acumulando na sequência. Então, no século XVIII, a Revolução Industrial representou o fim de um conjunto de mudanças e a consolidação da sociedade moderna capitalista, onde a burguesia emerge com grande poder. A industrialização substituiu o trabalho humano pela máquina e simplificou o processo produtivo, mudando as relações de produção, pautadas agora pelo capital e trabalho. A Revolução Francesa, de 1789, por sua vez, ocorreu em função de problemas econômicos e sociais da época, como a escassez de alimentos, e desdobrou-se em um movimento que deu expressão aos valores burgueses de liberdade, igualdade e fraternidade. Ou seja, questionaram os princípios da sociedade antiga caracterizada pela diferenciação entre nobreza e povo. Em contrapartida, defenderam uma sociedade livre para o capital, em que todos são iguais, a princípio, perante a lei, e o cidadão tem direito de participar da vida política do seu país. A sociedade capitalista, fundada em valores econômicos, ampliou as desigualdades sociais, mas ao mesmo tempo abriu uma nova era repleta de promessas e realizações. Em retrospectiva, as mudanças ocorridas foram grandes, e o que precisa ser feito para termos uma sociedade mais justa é ainda maior. Por isso as questões que deram origem à Sociologia persistem até hoje. A Relação Indivíduo / Sociedade - Módulo 1 Estudos Socio-Antropológicos 12 Como é a nossa sociedade hoje? Como será a nossa sociedade no futuro? Qual é o meu lugar e como sobreviver nessa sociedade? Como mudá-la? Reflita sobre essas questões e deixe suas considerações no 1º fórum de discussão. Participe! Fórum Os clássicos da Sociologia Pois bem, as mudanças econômicas e sociais são acompanhadas também pela mudança no pensamento humano. Muitas vezes é difícil saber se as ideias mudam o mundo ou mundo muda as ideias. De certa forma, esse é outro tema presente na origem da Sociologia. Augusto Comte (1798-1857) foi o precursor da Sociologia; ele trazia nas suas teorias esse conceito moderno de que a razão humana era capaz de mudar a realidade e produzir uma sociedade melhor. Naquela época, a Europa vivia um cenário turbulento de revoluções e contrarrevoluções. Fundamentado nos ideais iluministas de uma sociedade científica, Comte defendeu que somente a ordem traria o progresso. Essa ordem, entretanto, seria produzida de maneira positiva pela razão humana. Para ele, o estudo objetivo da “física social” (termo utilizado por ele) seria capaz de resolver os problemas sociais observáveis na época e abrir uma nova etapa na evolução das sociedades humanas. Ainda que pretendesse fundar uma ciência do mundo social, seu pensamento não tinha o rigor metodológico e a objetividade necessária para realizar tal tarefa. Karl Marx (1818-1883), Emile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920) são considerados clássicos fundadores da Sociologia por conferir-lhe todo o rigor analítico, teórico e os métodos para o desenvolvimento da disciplina como uma verdadeira ciência social. Suas contribuições continuam influenciando e inspirando pesquisas e reflexões até hoje Karl Marx foi o teórico da revolução comunista. Como ele apontou em seus estudos, as desigualdades sempre existiram, mas o capitalismo intensificou ao extremo o processo de exploração do homem pelo homem. Para ele, essa situação surgiu no processo produtivo, nas relações de produção que se estabeleceram nesse momento. No capitalismo, por exemplo, o trabalhador é obrigado a vender sua força de trabalho, pois ele não possui os meios de produção para trabalhar. Em outras palavras, se no passado o artesão dominava todas as etapas do processo produtivo, hoje ele não possui o maquinário 13 A Relação Indivíduo / Sociedade - Módulo 1 Estudos Socio-Antropológicos para competir com a indústria. Por isso, ele se sub- mete ao trabalho assalariado. Portanto, a principal preocupação na analise marxista é compreender concretamente como se dão as relações de produção. A crítica social e o desejo por uma sociedade mais justa já existia há muito tempo e foi um dos temas dominantes das revoluções burguesas. Contudo, o uso do método científico para entender e mudar a sociedade proposto por Marx foi inovador e influen- ciou o pensamento social e os movimentos sociais do seu tempo. Seu método do materialismo histórico defendia que a compreensão da realidade social só era possível a partir da análise do modo de produção e dos interesses econômicos envolvidos. Isto porque, na sua perspectiva, o debate ideológico (ou as ideias) somente reforçava os interesses econômicos existentes no mercado. Em outras palavras, quando ouvimos alguém dizer que é normal a diferença entre ricos e pobres, deixamos de perguntar como efetivamente essa diferença surgiu. Seu objetivo era mudar a sociedade, mas Marx estava consciente das dificuldades a serem enfrentadas. Ele dizia que o homem fazia a história, mas não da forma como ele queria e sim de acordo com as limitações materiais de seu tempo. Ainda assim, passou toda sua vida defendendo suas ideias e participando ativamente das lutas operárias da sua época. A tensão entre individuo e sociedade era evidente, mas a crença na capacidade de mudança era bastante acentuada. O Manifesto do Partido Comunista e o livro O Capital foram as suas obras mais conhecidas. Para Durkheim, a análise sociológica deveria se concentrarnos fatos sociais que po- deriam ser identificados por três características básicas: generalidade, coercitividade e exterioridade. Ou seja, assim como nas ciências naturais, os fatos sociais poderiam ser tratados como coisas nas quais poderíamos observar objetivamente essas características e tirar conclusões. Tomando a violência como exemplo, podemos dizer que ela é geral, pois atinge a todos: pobres e ricos, ainda que de maneira diferente. Coercitiva por se impor ao individuo. No caso em tela, os ricos blindam os seus carros, enquanto o pobre tem de usar outras estratégias de prevenção. Exterioridade, uma vez que a violência existe como um dado da realidade independentemente da vontade dos indivíduos. Quando Durkheim nasceu, os conflitos na Europa continuavam em alta, mas as tensões sociais começavam a ser incorporadas ao cotidiano das pessoas. De origem francesa como Augusto Conte, inserido no contexto intelectual do positivismo, Durkheim tentou compreender como se dava a ordem social e de que modo ela interferia na vida do indivíduo. Sua pretensão era estabelecer As Regras do Método Sociológico, nome do seu livro, para possibilitar o desenvolvimento efetivo da sociologia como ciência. No seu modelo teórico, Durkheim atribuiu pouca liberdade ao individuo, que ao final se submete às pressões que recaem sobre ele. Desse modo, ele desenvolveu todo o seu pensamento, explicando as bases da coesão social ou de como a sociedade se mantém organizada. A Relação Indivíduo / Sociedade - Módulo 1 Estudos Socio-Antropológicos 14 Max Weber concentrou seus estudos nas interações sociais. Sua intenção era compreender a lógica social do comportamento humano. Se parte do nosso comportamento pode ser explicado pelas variáveis econômicas ou psicológicas, também é possível com- preender suas motivações sociais. Weber defendia que todo comportamento humano possui um sentido compreensível socialmente, portanto perceptível para outras pessoas. Logo, se uma pessoa vai à farmácia comprar remédio é porque aquele é o lugar definido pelos indivíduos da sociedade para fazer aquela ação. O exemplo é simples, mas observamos muitas pessoas que se comportam de maneira incompatível com o ambiente em que se encontram. Essa situação tem despertado o interesse de estudiosos como Karl Albrecht, que estuda o tema da inteligência social. Entre o pensamento revolucionário de Marx e o conservadorismo de Durkheim, encontra-se Weber, que inaugurou uma nova perspectiva de análise da realidade social. A abordagem de Weber trouxe elementos novos, pois na sua ótica o indivíduo tem um papel mais importante na produção da ordem social. Além disso, se agimos de acordo com o que pensamos, as ideias passam a ter papel de destaque na transformação da realidade. Seu livro sobre a Ética protestante e o espírito do capitalismo é um exemplo de como o sentido que as pessoas atribuíam à sua conduta influencia a sociedade. 15 A Relação Indivíduo / Sociedade - Módulo 1 Estudos Socio-Antropológicos Por fim, essas ideias não devem ser compreendidas como teorias que se opõem. Se um autor enfatiza um determinado aspecto na análise sociológica, isso não significa que ele ignore por completo a influência de outras variáveis. Mais do que respostas prontas, a Sociologia nos propõe o questionamento e a reflexão constante sobre o mundo ao nosso redor. A realidade social é um todo complexo. As teorias são necessárias porque ajudam a entender os diferentes aspectos da nossa sociedade. E essa análise deve ser feita com cuidado e rigor para que possamos ultrapassar o conhecimento do senso comum e produzir um saber mais refinado sobre o mundo em que vivemos e o nosso lugar nele. Revolução Industrial http://www.youtube.com/watch?v=meSQG6bNvOM Revoluções burguesas http://www.youtube.com/watch?v=ZYelZTa7Lvc&feature=related Revolução Francesa http://www.youtube.com/watch?v=j--WjKAti0M&feature=related Weber http://www.youtube.com/watch?v=omekOp57lP0&feature=related Durkheim http://www.youtube.com/watch?v=mmmaPJ_TAkA&feature=related Marx Manifesto do Partido Comunista em cartoom http://www.youtube.com/watch?v=Xp4Owv2iY4I Saiba mais Ser humano http://www.webartigos.com/articles/16601/1/o-ser-humano-o-individuo-e-o-grupo/pagina1.html Karl Marx http://sistema.assesoar.org.br/arquivos/1.pdf Durkheim http://www.airtonjo.com/socio_antropologico02.htm Max Weber http://www.sociologia1.hpg.ig.com.br/textos/weber.htm Indo além A Relação Indivíduo / Sociedade - Módulo 1 Estudos Socio-Antropológicos 16 Referências ALBRECHT, Karl. Inteligência Social: a nova ciência do sucesso. São Paulo: Makron Books, 2006. COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2001. DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções (1789-1848). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001. POLANYI, Karl. A grande transformação: as origens da nossa época. Rio de Janeiro: Campus, 2000. Anexo - Atividades Estudos Socio-Antropológicos Bloco de notas e anotações Este espaço é para você anotar suas observações com relação a disciplina estudada. Importante: Leia todas as orientações passo a passo no “Tutorial do Aluno” de como realizar suas Atividades. Anexo - Atividades Estudos Socio-Antropológicos
Compartilhar