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A questão social
A questão social - Módulo 3 Estudos Sócio-Antropológicos
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A questão social 
por Rogério Terra de Oliveira1
Objetivo de estudo
 
Através do estudo deste módulo esperamos que você seja capaz de compreender que 
o desenvolvimento da sociedade capitalista trouxe várias consequências para a vida 
coletiva; mudanças no mundo do trabalho, desemprego e o surgimento de uma cultura 
de massa serão estudados como efeitos dessas mudanças na organização social que 
repercutem diretamente na nossa vida.
O mundo do trabalho e das organizações formais
Podemos dizer que o trabalho é um dos temas mais importantes da atualidade, porque 
dependemos dele para produzir dinheiro e sem dinheiro não podemos viver satisfato-
riamente numa sociedade capitalista. Entretanto, compreender o mercado de trabalho, 
entender como ele evolui e como podemos nos posicionar nele não é tão simples. Para 
isso, precisamos estudar seu conceito, sua trajetória e a forma como ele se inseriu no 
nosso cotidiano.
O trabalho faz parte da nossa vida ativa; é através dele que modificamos e agregamos 
valor ao meio natural no qual vivemos. Mais do que isso, trabalhar é algo que completa 
a nossa condição humana, na medida em que nos realizamos com o trabalho feito e o 
resultado atingido. 
Em outras palavras: quando encontramos uma laranja na árvore, ela está na sua condição 
natural. Se a colhemos e comemos, estamos consumindo; mas se colhemos e entregamos 
a outra pessoa em troca de algo, estamos realizando um tipo de trabalho. Finalmente, 
se a recompensa por esse trabalho for satisfatória, nós nos sentimos realizados ou 
reconhecidos pelo trabalho produzido.
Contudo, nossa realidade atual é um pouco diferente do exemplo descrito. Temos 
dificuldade de conseguir um emprego, e quando trabalhamos não nos sentimos 
realizados. Então é importante compreender como a transformação no mundo do 
trabalho tem afetado a nossa vida e a vida das empresas.
Divisão social do trabalho
Desde o inicio da experiência humana o trabalho tem sido importante 
para suprir as necessidades materiais da vida coletiva. Precisamos 
produzir os recursos necessários para a sobrevivência do grupo, e 
isso começa com a divisão de tarefas. Os sociólogos chamam este 
processo de divisão natural de trabalho, que, entretanto, não difere 
significativamente do trabalho realizado por outros seres vivos que 
vivem coletivamente.
A divisão social do trabalho surge quando repartimos as tarefas dentro 
do grupo a partir de critérios estabelecidos pela própria sociedade 
de forma consciente. Um dos primeiros critérios socialmente 
estabelecidos foi o sexual. Desse modo, ao atribuir uma atividade 
1 Mestre em Ciência Política pela UnB e Professor da UNISUAM
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A questão social - Módulo 3 Estudos Sócio-Antropológicos
a um individuo em função do seu gênero se estruturou a divisão sexual do trabalho. 
Preste atenção: nesse caso, o sexo não se refere a uma condição natural, pois existem 
sociedades indígenas onde a agricultura é realizada por mulheres, enquanto em outras 
é realizada pelos homens. Nesse tipo de divisão é a sociedade que estabelece qual sexo 
deve realizar determinada tarefa.
Mais recentemente, utilizamos a expressão divisão técnica do trabalho para nos referir à 
distribuição de tarefas dentro de um mesmo processo produtivo, como o fabril. Entretanto, 
como abordaremos mais adiante, a industrialização forçou a divisão do trabalho dentro 
da fábrica em inúmeras etapas de acordo com a especialidade ou técnica empregada. 
Portanto, quando falamos na divisão de tarefas dentro de um segmento como a saúde, 
estamos nos referindo aos vários especialistas que ali atuam. Enfim, seja em função 
do sexo ou da qualificação técnica, estamos falando numa divisão determinada pela 
própria sociedade.
Essas várias classificações a respeito da divisão do trabalho chamam a atenção para 
conceitos amplamente empregados quando falamos de trabalho. Mesmo que de forma 
rápida, elas dão conta das diferentes formas de compreendermos a organização do traba-
lho dentro de uma sociedade. Além disso, ouvimos falar em trabalho de homem, trabalho 
de mulher, em divisão natural, porém temos que entender que essas expressões de uso 
no nosso dia a dia possuem outro significado dentro do mundo científico e profissional. 
Todo trabalho é organizado socialmente a partir de um critério, e nos utilizamos dele 
para expressar com exatidão como as atividades são distribuídas.
A centralidade do trabalho
Numa breve retrospectiva, gostaria de chamar sua atenção para a mudança do lugar 
que o trabalho ocupa na sociedade ao longo do tempo e como ele está associado a um 
valor social e histórico em cada período. 
Apesar de necessário, na maior parte da nossa historia o trabalho esteve associado 
a um valor negativo. Na Bíblia, Adão é condenado a trabalhar para prover sua 
própria subsistência em razão do pecado original. Na Antiguidade, no Egito e 
na Grécia o trabalho era atribuído às classes sociais mais baixas. A própria 
palavra trabalho vem do latim tripalium, que na Roma antiga significava um 
tipo de objeto utilizado em presos e escravos.
Alguns autores dão conta de que, no período feudal, através do próprio 
cristianismo começa a haver a revalorização do trabalho. Afinal, o pai histórico 
de Jesus Cristo foi um marceneiro e as passagens bíblicas indicam que riqueza 
em si não é condição de salvação da alma humana. Contudo, o trabalho terá 
seu reconhecimento definitivo com o protestantismo.
Max Weber será um dos principais teóricos que irão associar a ética protes-
tante, da dedicação ao trabalho, à sociedade capitalista emergente. A sociedade 
voltada para o trabalho é uma consequência da produção industrial e da sociedade 
capitalista. Na época vitoriana, da Inglaterra do século XIX, difundiram-se os 
valores do trabalho, da disciplina e da responsabilidade em oposição ao consumo 
de bebidas, jogatinas e de vidas promiscuas. Isso porque as fábricas precisavam 
ter seus trabalhadores bem dispostos e saudáveis para o trabalho.
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O trabalho se tornou algo tão importante que acabou justificando a vida da maioria das 
pessoas, como se fosse uma religião civil. Por isso, ouvimos frequentemente perguntas 
como: o que vai ser quando crescer? O que você faz? Em que trabalhava antes de se 
aposentar? As questões que ocorrem no mundo do trabalho ocupam o nosso cotidiano, 
naquilo que traz certeza, segurança, tranquilidade – ou dúvida, medo e estresse. 
Atualmente a certeza sobre a centralidade do trabalho é questionada. Ou, pelo menos, 
é vista sob outro enfoque. Consideramos o lazer tão importante quanto o trabalho. Ou 
trabalhamos, sim, mas para ter lazer. O trabalho em si deixou de ser um valor em si 
mesmo e passou a ser meio para atingir um fim: o lazer. Mais do que isso, trabalho e 
lazer se confundem, porque as pessoas procuram trabalhar naquilo que gostam. Mesmo 
assim, nem todos possuem trabalho ou trabalham no que gostam ou como gostariam. 
Esse novo cenário fez com que alguns autores defendessem o surgimento de uma 
sociedade pós-trabalho ou sociedade do lazer. O fato de grande parte da economia atual 
girar em setores pouco tradicionais, como o de entretenimento, nas áreas de cultura, 
esporte, música e cinema, entre outros, reforçou esse tipo de análise. Mesmo dentro dos 
setores produtivos, o objetivo é agregar o maior valor possível com a menor quantidade 
de trabalho. Entretanto, o trabalhador comum – e até o mais qualificado – ainda não se 
beneficiou dessas possibilidades.
Trabalho e sistemas econômicos
Somente podemos compreender a dinâmica do mundo do trabalho se o relacionarmos 
ao sistema econômico no qual ele está inserido. A forma como a economia está 
organizada, o grau de desenvolvimento tecnológico e o tipo de sociedade 
são elementosque interferem no processo produtivo e na atividade do 
trabalho.
Nas sociedades pré-modernas predominavam os sistemas de produção 
agrícola e o artesanal. Nessas sociedades o trabalhador era responsável 
pelo ciclo completo da produção. Participava desde a preparação da 
matéria-prima até o acabamento do produto final. Essa situação 
permitia ao trabalhador ter a consciência do valor do seu trabalho, 
porque ele sabia quanto trabalho realizou e quanto ele representava, em 
termos de sobrevivência, para si e sua família durante aquele período.
O trabalhador artesanal precisava ter habilidade e um tipo de conhecimento específico 
para o desempenho de suas funções. Por isso, a atividade laboral realizava-se com certa 
autonomia e liberdade, uma vez que o trabalhador tinha domínio sobre o processo 
produtivo e os meios de produção. O trabalho era enriquecido pela criatividade e a 
capacidade do trabalhador que o desenvolvia da maneira que julgasse melhor, de acordo 
com seus recursos e necessidades.
A Revolução Industrial mudou o processo produtivo. As inovações científicas e tec-
nológicas do século XVIII permitiram um crescimento enorme da produção em curto 
espaço de tempo, contribuindo para a mudança do cenário social da Europa na época. O 
processo de urbanização que vinha acontecendo em função do crescimento do comércio 
e com o surgimento do capitalismo encontrou na produção industrial um novo vetor de 
transformação social.
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A substituição progressiva do trabalho humano por máquinas foi uma primeira consequ-
ência do conjunto dessas transformações. A partir desse momento, não era mais preciso 
ter muita habilidade para participar do processo produtivo, pois a máquina simplificava 
o trabalho. A máquina aumentava a produção sem requerer muita mão de obra. Com 
um número reduzido de funcionários, era possível aumentar a produtividade utilizando 
os recursos tecnológicos disponíveis. A simplificação do trabalho possibilitava que um 
número maior de candidatos disputasse emprego, formando o que Marx chamava de 
exército de reserva.
A segunda mudança é decorrente da divisão técnica do trabalho dentro do processo 
produtivo na fábrica. A especialização de tarefas decorrente da divisão das etapas fez com 
que o trabalhador perdesse a consciência do valor do seu trabalho. O exemplo clássico 
foi fornecido por Adam Smith no livro A Riqueza das Nações; ali ele descreve que um 
operário sozinho produzia no máximo 20 unidades de alfinetes por dia. Porém, a divisão 
do processo em 18 etapas, pela produção coletiva e fabril, era capaz de produzir 48.000 
unidades por dia. A produção repetida e continuada de parte do processo dificulta a 
percepção de quanto efetivamente foi produzido e qual a importância do trabalho realizado 
no conjunto. 
Uma terceira característica é o assalariamento que remunera o trabalho pelo tempo e 
não pela produção. Isso porque grande parte da produtividade é decorrente do capital 
investido no maquinário, e não decorrente da habilidade ou da capacidade do trabalhador. 
Remunerado pelo período, mais uma vez ele se encontra alienado sobre o valor do seu 
trabalho.
Em conjunto, essas mudanças subordinaram o trabalhador ao capital. A partir de então, 
toda autonomia, criatividade e liberdade que havia no mundo do trabalho foi substituída 
por um controle e disciplina rígidos. Isso representou uma mudança cultural no cotidiano 
do trabalhador, que somente se submeteu a essa situação em função da necessidade do 
emprego e da impossibilidade de competir com o trabalho industrial.
O desenvolvimento capitalista e o trabalho
O final do século XIX assistiu ao surgimento das grandes corporações. Essa foi a etapa do 
capitalismo monopolista, em razão das empresas que passavam a atuar em nível mundial 
e a dominar os mercados. Nesse período surgiram grandes empresas, como a General 
Electric, a Ford, a Standard Oil Company; enfim, um período de grande expansão do 
capitalismo, promovido por empresas que atingiram economias de escalas significativas. 
O taylorismo difundiu a administração cienti-
fica do trabalho, que impactou profundamente 
o modelo de organização da produção no pe-
ríodo. Sua proposta era melhorar a eficiência 
industrial independente da condição humana 
do trabalhador. Para isso, Taylor estudava e 
monitorava a forma de realização do trabalho. 
Algumas passagens são mais elucidativas de 
seu pensamento:
“Eu peço trabalhadores e vocês me mandam 
seres humanos”. Essa afirmação de Taylor 
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demonstrou algumas das suas convicções que ecoam até os nossos dias. Ele defendia 
que a vida profissional fosse separada da vida pessoal, e esta não deveria interferir 
na primeira. Sua maior preocupação era usar o trabalhador da forma mais produtiva 
possível.
O trabalhador era visto como uma máquina, mais um elemento no processo produtivo. 
As rotinas de trabalho deveriam ser rígidas, repetitivas e calculadas para aumentar 
a produção e torná-la mais eficiente. Tempos Modernos, o clássico filme de Charles 
Chaplin, mostrou claramente como o trabalhador se confundia com a máquina e como 
as práticas industriais mecanizaram o trabalho. Num determinado momento, Chaplin 
pensa na namorada e todo o trabalho fica comprometido.
Por fim, Taylor baseava-se na separação entre o pensamento e a ação. Os níveis de 
gerência eram os responsáveis pela reflexão; o trabalhador, pela execução. Desse modo, 
o automatismo e o mecanicismo do processo produtivo se completam.
O fordismo consolidou e intensificou esse modelo produtivo. Sua primeira contribuição 
foi a linha de montagem, que interligava e otimizava as etapas de produção; nela, atraso 
em uma das fases implicava atraso de todas as demais. Segundo, ele percebeu a ligação 
entre produção e consumo em larga escala. Ou seja, além de produzir era necessário 
estimular e facilitar o consumo, o que dinamizava o ciclo econômico.
Fabricar mais e vender mais exigem um ritmo de trabalho intenso e exaustivo. As taxas 
de turn over (abandono de emprego) nas empresas de Ford atingiam a taxa de 100% 
ao ano. Os críticos desse modelo sustentavam que ele gerava um sistema de baixa 
confiança que se caracterizava no controle e na disciplina do trabalho. O resultado é a 
baixa autoestima, a insatisfação e o desânimo. 
Para compensar esse desgaste, Ford aumentou os salários e acreditava que isso era 
suficiente para satisfazer o trabalhador. O trabalhador mais bem remunerado podia 
começar a usufruir uma serie de benefícios a que jamais teve acesso ao longo da história. 
Primeiro, ter condições de consumir, financiados, os próprios carros que produzia, mas 
também ascender socialmente. Apesar desses aspectos negativos do fordismo, ele foi 
essencial para a formação da sociedade de consumo e a melhoria na condição econômica 
do trabalhador no século XX.
Nas ultimas décadas desse século, novos modelos de gestão no trabalho procuraram 
criar sistemas de alta confiança que pudessem superar o modelo fordista. Modelos nos 
quais os trabalhadores pudessem participar do processo decisório fazendo sugestões. 
Sistemas em que o trabalhador recuperasse parte da autonomia e criatividade no processo 
produtivo. O desenvolvimento tecnológico vem exigindo cada vez mais qualificação e 
inteligência, o que valoriza e enriquece o trabalho e o trabalhador.
A flexibilidade e o pós-fordismo
Pós-fordismo foi uma expressão utilizada por Michael Piore e Charles Sabel em The 
Second Industrial Divide para definir uma nova etapa do sistema de produção capitalista 
que marca desde o final do século XX até hoje. 
Alguns autores confundem o pós-fordismo com flexibilidade, palavra que predomina 
numa realidade dinâmica e altamente competitiva. As empresas devem ser cada vez 
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mais eficientes e flexíveis, tanto na produção quando nos produtos ofertados para o 
consumo.
A produção flexível necessita de arquiteturas industriais 
capazes de se reestruturar para atender as diferentes 
especificidades dos mercados. O consumidor, cada vez mais 
exigente, requer produtos cada vez mais personalizados e 
novas tecnologias são disponibilizadas para atingir essa 
finalidade. De outro lado, a procura constante por redução 
de custos requer das corporações empresariais atitudes mais 
agressivas, que podem implicar redução de salários, de pessoal 
ou mesmo mudança das bases de produção para locais onde 
a tributação ou a política cambial sejam mais favoráveis aos 
negócios.
Portanto, o modelo rígido da linha de montagem fordista 
começou a ser substituído por um processo produtivo 
descentralizado, em que a logística de um mundo globalizado 
pode agrupar insumos (peças) de diversas partes do mundo 
para otimizar a produção. Equipes de trabalho altamente 
qualificadas podem realizar múltiplas tarefas, reunindo e separando etapas de trabalho 
para assumir novos desafios. Essa flexibilidade econômica torna o cenário do capital 
e do trabalho mais desafiador, porque o cenário de estabilidade e domínio de mercado 
deixou de existir. Em outras palavras: empresas com grande penetração de mercado 
(como a Varig) ou tradicionais (como a Mesbla ou a própria Varig) vão à falência quando 
não conseguem movimentar suas pesadas estruturas em mercados competitivos.
Alguns teóricos analisam com descrédito essas terminologias que utilizam prefixos, 
como pós-fordismo e pós-modernos, entre outros. Como regra geral, argumenta-se que 
presenciamos a reinvenção e a reforma de antigos modelos. No entanto, imaginar a 
etapa do desenvolvimento capitalista atual como um volta ao passado com um rótulo 
novo oferece pouco recurso analítico para compreender a complexidade do capitalismo 
flexível do mundo contemporâneo.
A emergência da sociedade de serviço e da economia do conhecimento
Novamente estamos presenciando novas mudanças no mundo do trabalho. A ideia 
de uma sociedade pós-industrial, pós-fordista é controversa, mas as mudanças são 
acompanhadas do crescimento do setor de serviços e de tecnologia. Existe um debate 
considerável em torno dos motivos que as produziram e de como devemos interpretá-las, 
mas e não é possível esgotar o assunto neste texto. 
No ano de 2007, foi anunciado que o homem mais rico do mundo era Carlos Slim, dono 
do grupo Claro no Brasil e de varias empresas no setor de telecomunicações. O segundo 
mais rico era Bill Gates, da empresa Microsoft, do setor de informática. São alguns 
exemplos de como a economia se deslocou do setor industrial para o setor de serviços. 
Esse deslocamento pode ser percebido também no mundo do trabalho como um todo. 
Em 1900, mais de 75% da população empregada trabalhava em atividades manuais de 
produção (entenda-se: setores agrícolas e industriais) e apenas um pequeno percentual 
desempenhava atividades de “colarinho branco”. Segundo a Organização Internacional 
do Trabalho, “a participação do setor de serviços no emprego mundial passou de 34,4%, 
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em 1995, para 39% ano passado, próximo dos 40% do setor agrícola. O setor industrial 
representa 21% do emprego mundial, sem alteração”2. Na economia norte-americana, 
o setor de serviços ocupa 75% da mão de obra empregada (Sachs, 2005, p. 44).
Na sociedade de serviços, a base que sustenta a inovação e o crescimento econômico 
são as ideias, informações e as várias formas de conhecimento. Segundo Giddens, “uma 
economia do conhecimento é aquela em que grande parte da mão de obra não está en-
volvida na produção ou na distribuição físicas dos bens materiais, mas no planejamento, 
no desenvolvimento, na tecnologia, no marketing, na venda e na manutenção desses 
bens” (2005, p. 308).
Adicionemos a esse cenário um mundo globalizado e uma economia altamente competitiva. 
É nesse contexto que capital e trabalho têm de mobilizar todos os seus recursos para se 
adaptar e sobreviver. Interagir nessa realidade complexa requer mais qualificação, mais 
flexibilidade, mais competências, além de comportamento empreendedor e disposto a 
enfrentar desafios. Com certeza a era de segurança e continuidade experimentada pelas 
gerações anteriores não existe mais.
Empregabilidade e a qualificação do trabalhador 
Emprego é diferente de trabalho. Os analistas costumam dizer que trabalho não falta, 
mas emprego está difícil. Ou seja, ter um emprego formal, com expediente e garantias 
trabalhistas, está se tornando cada vez mais difícil. Em contrapartida, existe cada vez 
mais trabalho a ser feito e precisa-se de trabalhadores qualificados para realizá-los. 
Portanto, quanto maior for nossa capacidade produtiva, maior a possibilidade de 
estarmos empregados; vejamos então algumas qualidades necessárias para aumentar 
a empregabilidade no mundo de hoje.
Produção flexível – a necessidade de adaptação às variações do mercado exige uma 
produção flexível ou especialização flexível. A ideia é que “pequenas equipes compostas 
por empregados altamente profissionalizados utilizam técnicas de produção inovadoras 
e novas formas de tecnologia para produzir quantidades menores de mercadorias que 
sejam mais individualizadas do que aquelas produzidas em massa” (Giddens, 2005, p. 
314). Nesse processo, as rotinas de trabalho são reinventadas e o trabalhador precisa ser 
capaz de responder no grau de detalhamento necessário e com o dinamismo exigido.
 
Podemos relacionar essa expressão também à exigência do mercado de termos cada vez 
mais especialistas que, no entanto, tenham capacidade de flexibilizar suas competências. 
O chamado generalista ou o especialista por si só não são suficientes. São necessários 
profissionais altamente capacitados para realizar tarefas especificas e, ao mesmo tempo, 
com formação ampla o suficiente para se adaptar e suprir as demandas da empresa ou 
mudanças que vierem a ocorrer no processo produtivo.
Produção em grupo – associados ou não com automação estão o trabalho em conjunto 
e a capacidade de reorganização do trabalho. A proposta é fazer com que os grupos 
de trabalho possam colaborar no processo produtivo, agregando valor e interagindo 
positivamente com o objetivo da empresa. As equipes devem ser capazes de mudar e de 
se responsabilizar pelo controle da produção.
 
2 Ver http://www.oitbrasil.org.br/news/clipping/ler_clipping.php?id=1613 consultado em 17 de julho 
de 2007.
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Assista aos vídeos sugeridos e amplie seus conhecimentos 
Flexibilidade (Quem mexeu no meu queijo?)
http://www.youtube.com/watch?v=9UCfLaYUBeE
Fordismo e pós-fordismo
http://www.youtube.com/watch?v=4mCsnShOJRQ
Toyotismo e a flexibilidade
http://www.youtube.com/watch?v=ahnyE93Oyl8&feature=related
 
Tempos modernos
http://www.youtube.com/watch?v=Vqnorw_Uwes
Hidrogênio
http://www.youtube.com/watch?v=sHNTfbhtKrM
Saiba mais
Trabalho em equipe - esse tipo de proposição permite que se rompa com o chavão “isso 
não é minha responsabilidade”, muito frequente nos modelos burocráticos e tayloristas. 
A ideia é que os membros de uma equipe não precisem ocupar cargos fixos e todos devem 
ser aptos a realizar todas as operações necessárias do setor.
Habilidades múltiplas – decorrentes das etapas anteriores, implicam a capacidade do 
trabalhador de assimilar competências novas. O domínio de várias competências permite 
que o trabalhador tenha a flexibilidade necessária para desenvolver múltiplas tarefas 
dentro do grupo e auxiliá-lo a enfrentar os desafios da 
produção.
 
Treinamento no emprego – a velocidade da inovação 
e a renovação de conhecimento e tecnologias exigem 
aperfeiçoamento constante do profissional. A capacidade 
deaprendizado e a disponibilidade para o aprendizado são 
cruciais. Somente pela reciclagem e o estudo é possível 
atualizar competências e garantir a manutenção do 
emprego. Nesse sentido, a educação formal é importante, 
mas a atitude em relação à educação e a capacidade de 
lidar com um conjunto maior de informações são muito 
mais importantes. 
Desemprego tecnológico e os desafios do mundo do 
trabalho
No inicio da industrialização, Marx foi o teórico que 
proferiu as criticas mais severas à exploração capitalista. 
Atualmente, a vida do trabalhador apresenta uma contradição: ele tanto tem acesso a 
benefícios nunca antes disponíveis à sua classe social, como bens de consumo – como 
eletrodomésticos e carro –, quanto suporta uma realidade no mercado de trabalho 
extremamente sacrificante.
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Devemos relembrar que vivemos em uma sociedade capitalista e que estar fora do 
mercado de trabalho nos coloca em uma situação de marginalidade em relação 
à própria sociedade. Estar fora do mercado é estar suspenso de um cotidiano 
que inova em técnicas e tecnologias de produção, que distancia dos profissionais 
da área. Essa condição vai afastando o desempregado da possibilidade de reagir 
a esse processo de exclusão do mercado. Essa é uma das consequências do 
desemprego tecnológico.
Desemprego tecnológico refere-se ao processo de modernização que introduz, 
no processo produtivo, novas tecnologias que vão gerar desemprego. Ou seja, a 
adoção gradativa de novas tecnologias de automação vai eliminando postos de 
trabalhos mais mecânicos e simples. Em contrapartida, cria postos de trabalho 
que exigem maior qualificação e, portanto, maiores salários. Contudo, 
se uma inovação tecnológica elimina, por exemplo, 20 funcionários de 
estacionamento com a implantação de catracas eletrônicas, será neces-
sário contratar três ou quatro técnicos capazes de consertar e manter 
esses equipamentos em funcionamento. Se o antigo bilheteiro não tem 
capacidade ou recursos para mudar sua atividade, a tendência é ele vir 
a ser demitido em função da tecnologia. A capacidade de reciclagem ou 
até de preparação para uma mudança de área é necessária para que o 
profissional não fique em uma situação difícil. 
E então, tudo entendido até aqui?
Se houver dúvidas, acesse a sala do tutor através do ambiente do aluno e 
converse com o orientador acadêmico.
Referências bibliográficas
ARENDT, Hannah. A condição humana. Forense Universitária, Rio de Janeiro, 
2003.
CATTANI, Antonio David (Org.) Dicionário critico sobre trabalho e tecnologia. 
Petrópolis: Vozes; Porto Alegre: UFRGS, 2002.
DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. São Paulo: Pearson & Prentice Hall, 
2005.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.
SACHS, Jeffrey. O fim da pobreza: como acabar com a miséria nos próximos 
20 anos. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Capitalismo Monopolista
http://www.unicamp.br/cemarx/criticamarxista/3_Meiksins.pdf
Indo além
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Cultura de massa e consumo
Por Adriana Bilate3
Continuando o estudo, podemos dizer que a tendência ao aperfeiçoamento do acervo 
de descobertas anteriores da história humana, diante de uma produção tecnológica 
sem precedentes, tão rica e tumultuada (computadores, fax, laser, satélites, robôs, 
fibras óticas, novos remédios, máquinas interativas), juntamente com a consolidação 
da difusão dos meios de comunicação de massa e da informação em geral, caracterizam 
a sociedade atual.
Todas essas novidades de um mundo – por que não? – “digital” trazem algum 
entusiasmo, mas exigem especial atenção. Afinal, o início do século é da aceleração 
tecnológica e científica. Afinal, o início do século é da comunicação instantânea. 
Mas informações simultâneas em excesso, provenientes de todos os pontos do 
globo, produzem o hábito da celebração do efêmero, do passageiro. A comunicação 
transformou a informação em espetáculo. Arriscamo-nos a confundir a todo instante 
a atualidade e o divertimento.
Novas tecnologias de automação, informação e comunicação parecem modificar de 
modo impactante o ambiente familiar moderno até então conhecido e o ambiente 
escolar. A comunicação de massa usa e é amplamente utilizada por grandes 
religiões institucionalizadas, assim como pelos políticos em campanha.
Definitivamente, a nova cultura é herdeira da TV e filha do audiovisual com a 
informática, em que a palavra-chave é agilidade, numa realidade cada vez mais 
intercomunicante. Essa realidade parece demonstrar a muitos que estamos 
diante de uma democratização da informação e comunicação pessoal, princi-
palmente através do texto, nas várias redes de computadores, que se interligam 
por meio de modems e do endereço eletrônico de seus assinantes.
A mídia eletrônica, com sua proliferação e sua presença contínua, aniquila o espaço 
e o tempo. Indo ao nosso encontro continuamente, a mídia moderna não tem de ser 
procurada. Do mesmo modo, o ato de ler ou consumir diversas mídias não é mais 
confinado em períodos específicos do dia. Informações de vários lugares de um mesmo 
período na história são sobrepostas num único jornal ou no programa da tarde da 
televisão. 
Mas nem sempre foi assim. Os meios de comunicação de massa foram se aperfeiçoando 
à medida que as sociedades tornaram-se mais complexas. 
Um grande avanço foi o surgimento da escrita, na Mesopotâmia, por volta de 4000 a. 
C. A invenção da imprensa por Gutenberg, no século XV, foi outro passo importante; 
os primeiros produtos impressos foram trabalhos literários e religiosos, ao lado de 
textos médicos e legais. Nos séculos XVI e XVII, os periódicos e os jornais começaram a 
aparecer regularmente. Nos séculos XIX e XX surgiam novas formas de comunicação, 
como o telégrafo, telefone e telex; as mais inovadoras eram aquelas desenvolvidas a 
partir de meios que propagam mensagens a um grupo anônimo, disperso, heterogêneo, 
3 Mestre em Sociologia (com concentração em Antropologia) pela UFRJ.
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sem unidade coletiva – a massa4. Assistimos à invenção do rádio, do cinema, da 
televisão, da comunicação por satélite, da Internet etc.
Por esses meios de comunicação5, os fatos, as ideias, os sentimentos, as atitudes, as 
opiniões são compartilhados por um conjunto enorme de indivíduos e atingem grande 
número de países. 
Mas, na medida em que a mídia está cada vez mais presente na vida de 
milhões e milhões de pessoas, ela tem seu papel na sociedade investigado, 
sendo recorrentemente alvo de crítica social, política e moral.
O povo brasileiro é um voraz consumidor de produtos televisivos; a 
televisão é a forma dominante de entretenimento popular, 
adaptada para o consumo doméstico, com a maior parte 
de seus programas voltada para fruição em períodos de 
relaxamento, provocando efeito superficial e efêmero. 
A mídia, pela natureza emotiva de seu conteúdo, inibe 
respostas racionais às mensagens apresentadas. A mídia 
parece apelar para as características mais elementares 
do gosto popular (reduzindo todo o conteúdo a um 
denominador comum mais baixo) na busca por grandes 
audiências.
Isso ocorre porque, organizados como negócios – por isso, 
em busca de lucros – e caracterizados por um incessante 
desenvolvimento da tecnologia, os meios de comunicação de 
massa incluíram os elementos da cultura erudita e popular 
para serem transmitidos e vendidos como produtos a um grande 
número de pessoas de diferentes camadas sociais. Por isso, aquilo 
que é transmitido de maneira industrializada para um público gene-
ralizado pelos meios de comunicação de massa é denominado cultura 
de massa. 
O que é divulgado é o que pode ser vendido. O sucesso ou insucesso de “produtos” 
culturais passoua depender de modo mais decisivo da atitude favorável ou desfavorável 
do público – medida pelos índices de compra e venda de tais produtos –, o que, por 
sua vez, influía mais diretamente nas escolhas e orientações adotadas no âmbito da 
produção. Por isso, é cabível afirmar que existe uma indústria cultural6 em operação, 
como é analisado por Villas Bôas:
4 massa Como afirma Ferreira (2001), o conceito de massa revela a recepção de impressões e 
opiniões já formadas, antes construídas e depois veiculadas pelos meios de comunicação de massa – 
sendo estes “monopólio comercial de poucos e fonte inesgotável de exercício de poder sobre muitos”, o 
que é sempre preciso sinalizar (p. 181).
5 comunicação Vale ressaltar que os meios de comunicação de massa são veículos, sistemas de 
comunicação num único sentido (mesmo que disponham de vários feedbacks, como índices de consumo 
ou de audiência, cartas dos leitores), o que leva alguns teóricos da mídia a afirmar que aquilo que 
obtemos mediante os meios de comunicação de massa não é comunicação, pois esta é uma via de dois 
sentidos; portanto, tais meios deveriam ser denominados veículos de massa.
6 indústria cultural O termo indústria cultural foi cunhado pelos teóricos da Escola de Frankfurt, 
Horkheimer e Adorno, em A dialética do esclarecimento, para se referir à produção de cultura de massa.
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A questão social - Módulo 3 Estudos Sócio-Antropológicos
Quando a indústria invade o mundo da cultura e suas técnicas de repro-
dução em série levam ao mercado objetos padronizados, modificam-se 
sensivelmente as relações entre cultura e público. Qualquer que seja, 
portanto, a qualidade de um bem cultural, sirva ele para divertir ou 
distinguir uma posição social, a lógica inerente à indústria faz com que 
se torne, antes de mais nada, um objeto de consumo. Deste ponto de 
vista, o público se torna necessariamente um consumidor da cultura 
(1995, p. 228).
O que temos, então, é a formação de um enorme mercado de consumidores em potencial, 
atraídos pelos inúmeros produtos oferecidos pela indústria cultural. Esse mercado 
constitui, na verdade, a chamada sociedade de consumo. Primeiramente, a indústria 
cultural lança o produto em grande escala; em seguida, induz as pessoas, através da 
propaganda, a consumir esse produto, apelando para outras razões além de seu valor 
artístico.
 
Isso porque os meios de comunicação de massa não podem existir fora do jogo das leis 
do mercado capitalista; sendo assim, só podem produzir e transmitir o que é sancionado 
pelos controladores desses mercados, subjugados que estão por uma economia baseada 
no consumo. Os meios de comunicação de massa são, na verdade, os porta-vozes da 
sociedade de consumo.
 
Mas, de qualquer forma, a mídia possibilita o conhecimento de variados produtos cul-
turais, de diferentes origens, por muitíssimas pessoas. Mas cabe a nós questionar se o 
acúmulo de informação que uma população pode receber pelos meios de comunicação de 
massa acaba se transformando em algo intelectualmente produtivo. Para isso, precisamos 
avaliar os conteúdos das mensagens transmitidas, a fim de saber se quantidade pode 
resultar em salto de qualidade em termos de conhecimento. Sem considerar que, em 
nome dessa “democratização” da informação, a mídia acaba apelando para as médias 
de gosto, uma vez que seu objetivo é atingir a maior audiência – o maior número de 
espectadores, leitores, ouvintes. Com vistas à ampla divulgação, acaba provocando uma 
tradução muito simplificadora dos conteúdos veiculados.
 
Positivamente, as técnicas de produção modernas podem tornar 
amplamente disponíveis materiais complexos, críticos e culturalmente 
exigentes. Na prática, o consumo cultural tornou-se crescentemente 
privatizado, rompido com a esfera pública e dominado por material de 
baixa qualidade, planejado para ter apelo de massa. Na política, isso 
leva à degradação do debate e da formação política, num cenário político 
cada vez mais manipulado (Edgar e Sedgwick, 2003, p. 180).
Ou seja: seu objetivo principal é a arregimentação de públicos em função do mercado, 
precisando para isso reduzir o discurso a um denominador comum, quase sempre muito 
baixo.
Assim sendo, também devemos refletir se formas menores de entretenimento e lazer são 
responsabilidade da mídia ou de nós mesmos7, uma vez que quem a defende argumenta 
7 entretenimento e lazer são responsabilidade da mídia Os indivíduos esperam ver suas 
necessidades atendidas ao ver ou ouvir o programa da mídia. Essas necessidades podem ser variadas, 
no entanto incluem o escapismo, a companhia ou um meio de construir e entender a própria identidade 
(através do reconhecimento ou comparação de valores pessoais com aqueles representados na mídia). 
A questão social - Módulo 3 Estudos Sócio-Antropológicos
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que os meios de comunicação de massa apenas reproduzem todo um conjunto de práticas 
sociais culturalmente estabelecidas. 
Cabe lembrar, como afirma Muniz Sodré – o teórico brasileiro mais representativo da área 
de Comunicação Social na atualidade –, que o público não é vítima e sim, cúmplice.
Eu lhe dou um programa parecido com as expectativas culturais que 
você tem e você fica ligado em mim. Não vou dar nada acima do seu 
horizonte cultural possível. À medida que vou recebendo programas 
que posso entender sem esforço, que me divirtam, vou me tornando 
cúmplice de tudo aquilo que a televisão me dá. Não é que a televisão 
me imponha. Vou aceitando e cada vez mais sou parte e não vítima. 
Afinal, sou eu quem liga ou desliga a televisão (“Golpe baixo”, Isto É, 
10/04/2002).
Além disso, o imediatismo da cobertura da mídia inibe a possibilidade de reflexão crítica. 
Sem exigir da massa esse pensamento e essa atitude, a mídia facilmente a satisfaz 
porque nada lhe pede.
 
Ainda, segundo Edgar e Sedgwick,
 
As funções centrais exercidas pela mídia incluem o es-
capismo (a ponto de o consumo da mídia permitir uma 
legítima válvula de escape das pressões da vida normal), 
o estabelecimento de relações pessoais (incluindo o uso 
dos programas da mídia como foco de discussão e outras 
interações sociais) e a formação da identidade pessoal (em que os 
valores expressados nos programas parecem reforçar os próprios 
valores) (2003, p. 210).
Como se vê, esta vertiginosa expansão da mídia e de seu poder propagou de início a tese 
de que ela teria domínio total sobre o cidadão e o consumidor.
Entretanto, é importante lembrar que nenhum indivíduo é uma tabula rasa em que se 
grava qualquer tipo de mensagem, porque possui convicções – principalmente de ordem 
moral ou religiosa – que direcionarão sua recepção da mensagem e seu entendimento 
do conteúdo transmitido. A mensagem será codificada no contexto de um conjunto de 
preconcepções culturais e conhecimentos tomados como certos pelo indivíduo. O público 
interpretará e se apropriará dos conteúdos para uso próprio e os compreenderá dentro 
de sua experiência de ambiente e de vida8.
 Mas a posse de alguns atributos pelo influenciador afeta a probabilidade que este tem 
de persuadir o influenciado, de acordo com o que é apontado por Boudon e Bourricaud 
em uma análise sobre as condições essenciais para o exercício da influência.
O influenciador deve estar informado – ou passar como tal. Em segundo 
8 experiência Percebe-se que existe uma discussão sobre as atitudes e comportamento do 
público como se este pudesse ser “moldado”, ora pela capacidade inventiva e pedagógica dos criadores 
da cultura e daqueles que a preservam, ora pelas artimanhas da publicidade e da técnica da indústria e 
do mercado cultural.
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A questão social - Módulo 3 Estudos Sócio-Antropológicos
lugar, o influenciador deve ser visto pelo influenciado como respeitador 
dos limites que se lhe impõem: para consolidar sua influência, o médico 
deve ser visto como dedicado a seus doentes. Muitas vezes,uma terceira 
condição torna mais precisa essa segunda: o influenciador não deve 
ser visto como um enganador (2001, p. 295).
Ou seja, o influenciador deve ser (ou parecer ser) informado e competente e que quer o 
bem daquele de quem procura modificar as previsões e preferências.
 
Como estas são características associadas à maior parte dos meios de comunicação 
de massa no Brasil, aos quais usualmente creditamos o papel de principais fontes de 
informação legítima e verdadeira, e como passarmos muito tempo de nossos dias em 
contato com esses meios, quase como se fossem nossas principais companhias na vida 
privada, é de se entender que eles exerçam influência na sociedade.
Influência é levar “discretamente” o influenciado a ver as coisas com os mesmos olhos 
que o influenciador. Portanto, pode-se considerar a influência uma forma muito específica 
de poder cujo recurso principal é a persuasão.
Persuadir é também uma das características da propaganda. A propaganda é a tentativa 
de controlar ou mudar as atitudes e o comportamento de um grupo por intermédio da 
manipulação da comunicação (seja no fornecimento de informação ou no uso da imagem), 
a partir de uma seleção e apresentação emotiva dos fatos. 
O poder da propaganda advém de sua capacidade de transformar o valor de uso (a 
utilidade que os consumidores extraem de uma mercadoria) em valor simbólico.
O consumo, antes da Revolução Industrial, era uma atividade principalmente associada 
ao atendimento das necessidades básicas do ser humano; estimulado pela propaganda 
e publicidade, porém, passa a ter cada vez mais uma conotação simbólica.
 
Isso significa dizer que as peças publicitárias não se limitam em discorrer sobre 
a utilidade ou funcionalidade de um determinado produto, porque o principal 
é afetar a consciência do cliente com a ideia de que há no produto algo além 
de seu mero valor de uso, algo imaginário, da ordem da realização do desejo, 
associando a ele, através de uma série de recursos audiovisuais, os padrões 
estabelecidos culturalmente e valorizados na sociedade.
 
Criar e personificar coisas e objetos que coincidam com esses atributos, 
conferindo-lhes identidade e valor a partir do senso e do lugar comum 
pautados no individualismo e no personalismo, eis a sedução e o con-
vencimento levados ao extremo radicalista pela antiga e humana arte 
de vender e comprar, agora vestida com a capa da contemporaneidade 
neoliberal e carregada do fetiche da coisa por ela mesma, do objeto que 
se impõe a um indivíduo coisificado (Ferreira, 2001, p. 190).
A consideração do consumo diz muito sobre como os seres humanos encontram oportu-
nidades para a autoexpressão; afinal, consumir sempre significou incorporar ao nosso 
corpo ou à nossa vida cotidiana, objetos e serviços que vêm de fora de nós e que servem 
como elementos de distinção e identificação sociais. 
A questão social - Módulo 3 Estudos Sócio-Antropológicos
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Padrões de consumo servem para construir estilos de vida distintos e expressar status, 
num jogo de conformidade (quando a escolha do estilo de vida representa a influência 
da propaganda e de outras mídias de massa sobre a vida cotidiana) e descontentamento 
(quando representa uma escolha genuinamente livre e criativa).
A questão é que, com a produção em massa, o aumento da oferta e da acessibilidade 
desses objetos e o desenvolvimento tecnológico que se viu ao longo do século XX, ocorre 
um consumo cada vez maior de objetos por um número cada vez maior de pessoas, o 
que foi aos poucos configurando o que se chama de sociedade de consumo.
Mas esse sistema produtivo – por meio de estímulos da propaganda que levam às pessoas 
a comprar em excesso e exagero e pela criação permanente de novas necessidades a 
partir da invenção sem fim de novos bens – favorece o consumo compulsivo. 
A vida, na sociedade de consumo, parece ser marcada pela compulsão incessante por 
se ter mais e mais, ao mesmo tempo que se está constantemente insatisfeito com o que 
se tem. Conforme Ferreira sinaliza:
Promovidos de cidadãos a consumidores (...), os indivíduos estão sós, 
tornaram-se ilhas cercadas de coisas e objetos por todos os lados, 
ou ilhas sem mar em volta quando estão na condição de não poder 
consumir (2001, p. 187).
Sem contar que o consumo que se procura estimular é sempre privado. Na sociedade de 
consumo, o indivíduo é concebido como um agente livre no mercado para a realização 
livre de suas vontades, levando a uma supervalorização das escolhas individuais. O que 
principalmente é considerado no indivíduo é sua habilidade em usar sua racionalidade, 
de acordo com suas disposições e desejos.
Nessa realidade, portanto, em que a prioridade é dada à autossatisfação, vincula-se 
o ato individual da compra à gratificação pessoal. Por isso, é correto afirmar que o 
individualismo é um valor da sociedade atual, uma vez que se refere ao primado absoluto 
do indivíduo sobre a sociedade, em que seu interesse pessoal e o apego por suas coisas 
particulares e ao bem individual devem prevalecer sobre o zelo e o bem social. Isso leva 
ao reconhecimento do ser humano como dono de si, à valorização da iniciativa privada 
e à busca por lucro como representativos do sucesso pessoal. 
Como observa Ferreira, numa abordagem sobre a relação entre o individualismo, a 
concorrência e a competição entre pessoas (assim como entre instituições) como valores 
que modelam e orientam nossas ações,
o individualismo leva ao descompromisso ou ao compromisso meramen-
te mercadológico com as causas e as necessidades públicas e coletivas; a 
competição, por sua vez, leva todos à condição de adversários potenciais 
ou declarados, em uma espécie de luta darwinista por privilégios a 
serem ávida e devidamente consumidos; e a concorrência passa a ser 
vista com naturalidade, prova real de uma luta feroz entre mercadorias 
que disputam a condição de mais aptas a serem consumidas pelo 
mercado (2001, p. 187).
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A questão social - Módulo 3 Estudos Sócio-Antropológicos
Mas, embora privado, o consumo é acessível apenas a quem pode, possível a quem 
acumule excedente em dinheiro que possa ser convertido em mercadoria.
 
A questão é que diferentes possibilidades de acesso ao consumo evidenciam não só as 
desigualdades existentes entre maiorias e minorias como as reforçam, na medida que a 
capacidade de consumo de cada pessoa passa a exprimir e representar a natureza real 
das diferenças sociais na sociedade capitalista. 
Acesse a sala do tutor através do Ambiente do Aluno e converse com o orientador acadêmico.
Dúvidas?
Em sociedades capitalistas, individualistas, competitivas, abertas à mobilidade social, que 
giram em torno do dinheiro e da ostentação de classe e onde as pessoas são identificadas e 
valorizadas pelos bens materiais que possuem, as desigualdades se tornam evidentes pelo 
consumo. O consumismo se traduz no imaginário da posse, do poder e da riqueza.
Entretanto, além disso, é importante ressaltar que o consumismo (este querer mais e 
sempre querer algo novo), num planeta com recursos naturais finitos, limitados, 
não-renováveis, nos coloca diante de uma dinâmica desastrosa para a 
humanidade.
O problema que se coloca à nossa frente, em caráter emer-
gencial, é que, com o barateamento de muitos produtos, com 
a substituição programada deles em curto espaço de tempo e 
com essa compulsão generalizada em comprar, chega a níveis 
críticos o desperdício de matéria-prima e energia, ocorrendo a 
poluição em demasia do planeta. 
Por isso, é necessário discutir a questão do consumo consciente 
com a relevância que merece. Reaproveitamento de produtos, 
reciclagem, reflexão sobre a necessidade de adquirir mais 
um objeto são atitudes responsáveis que competem à esfera 
individual. Claro que em conexão com mudanças – nesse 
mesmo sentido de preservação do meio ambiente – que também devempermear as 
políticas públicas.
A proposta do consumo “verde”, consciente, é uma proposta de engajamento cidadão 
e, o que é muito importante, rompe com a concepção individualista subjacente à lógica 
tradicional do consumo, porque estimula a corresponsabilidade dos indivíduos comuns 
diante de um problema que não é meu nem seu, nem só do governo; é de todos. Sem 
dúvida, enquanto os valores da sociedade não se modificarem, trata-se de um desafio 
– mas do qual muito rapidamente ninguém poderá fugir.
 
A questão social - Módulo 3 Estudos Sócio-Antropológicos
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Referências bibliográficas
BOUDON, Raymond e BOURRICAUD, François. Dicionário crítico de Sociologia. 
São Paulo: Ática, 2001.
EDGAR, Andrew e SEDGWICK, Peter. Teoria cultural de A a Z: conceitos-chave para 
entender o mundo contemporâneo. São Paulo: Contexto, 2003.
FERREIRA, Delson. Manual de Sociologia: dos clássicos à sociedade da informação. 
São Paulo: Atlas, 2001.
OLIVEIRA, Pérsio. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2002.
PORTILHO, Fátima. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. São Paulo: 
Cortez, 2005.
VILLAS BÔAS, Gláucia. Recepção, cultura e público. In: O Brasil na virada do 
século – o debate dos cientistas sociais. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995.
Anexo - Atividades Estudos Sócio-Antropológicos
Bloco de notas
e anotações
Este espaço é para você anotar suas observações com relação a 
disciplina estudada.
Importante:
Leia todas as orientações passo a passo no “Tutorial do Aluno” de como realizar suas Atividades.
Anexo - Atividades Estudos Sócio-Antropológicos

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