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PSICOFARMACOLOGIA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE FÁBIO BARBIRATO GABRIELA DIAS ■ INTRODUÇÃO A psicofarmacologia pediátrica dedica-se ao estudo do uso de agentes psicotrópicos nos transtornos mentais identificados em crianças e adolescentes. Os avanços das pesquisas em neurociências e os estudos longitudinais mais apurados em psiquiatria levaram a uma necessária reformulação do entendimento sobre o adoecer mental nas faixas etárias mais precoces, fazendo da psiquiatria da infância e adolescência um dos campos de estudo mais novos da medicina como um todo, e sua psicofarmacologia específica, uma área em recente e permanente expansão. ■ OBJETIVOS Ao final do artigo, o leitor poderá: ■ conhecer o tratamento farmacológico dos principais transtornos psiquiátricos que acometem a infância e a adolescência; ■ identificar as principais características dos medicamentos mais utilizados no tratamento farmacológico dos principais transtornos psiquiátricos que acometem a infância e a adolescência. ■ ESQUEMA CONCEITUAL ■ ASPECTOS GERAIS DA PSICOFARMACOLOGIA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES O início do estudo da psicofarmacologia em crianças e adolescentes se deu no final da década de 1930, a partir da publicação de Charles Bradley1 sobre os efeitos da administração de sulfato de anfetamina racêmica (benzedrina) em 30 crianças, com idades entre 5 e 14 anos, que apresentavam distúrbios de comportamento variados. Até meados da década de 1980, poucos estudos foram realizados na área da psicofarmacologia pediátrica, com exceção do tratamento com estimulantes para o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Os psiquiatras da infância e adolescência eram obrigados a recorrer aos estudos realizados em adultos. O tratamento com psicotrópicos era problemático, devido à falta de dados sobre dose, segurança e eficácia dessas substâncias.2 A partir desse período, os estudos tornaram-se mais frequentes, não só visando o tratamento do TDAH, como também dos transtornos do espectro autista (TEA), dos transtornos depressivos (TD s), do transtorno do humor bipolar (THB), dos transtornos ansiosos, da esquizofrenia e do transtorno de conduta. No entanto, até hoje, o número de ensaios clínicos realizados com crianças e adolescentes é reduzido, principalmente quando comparado à população adulta. Os riscos potenciais de não tratar as doenças psiquiátricas em crianças e adolescentes são comprovadamente maiores do que os riscos associados às medicações psicotrópicas. Um bom exemplo é o estudo publicado pela Associação Americana de Pediatria (American Academy of Pediatrics – AAP), que evidencia maior ocorrência de transtorno por uso de substâncias (TUS) em adolescentes diagnosticados com TDAH não tratados em relação aos devidamente medicados.3 O objetivo da farmacoterapia é a prevenção, a cura ou o controle de vários estados doentios.4 O tratamento medicamentoso visa diminuir comportamentos mal adaptados e prejuízos a curto e longo prazos, assim como promover comportamentos adaptativos em áreas importantes para essas faixas etárias, tais como no desempenho escolar.5 O bom tratamento de crianças e adolescentes com transtornos psiquiátricos é necessariamente multimodal e interdisciplinar, com saberes complementares baseados nas evidências científicas e nos resultados apresentados. Sendo assim, diante de um diagnóstico psiquiátrico em crianças e adolescentes, algumas opções terapêuticas podem e devem ser propostas, dentre elas a psicofarmacoterapia. No entanto, alguns pontos devem ser levados em consideração antes do início do tratamento medicamentoso, dentre eles:2 ■ diferenças do metabolismo do medicamento em crianças e adolescentes; ■ distinção na eficácia e tolerabilidade do psicotrópico entre a população pediátrica e a população adulta; ■ limitações da nosologia psiquiátrica atual para o diagnóstico dos transtornos mentais em jovens; ■ escassez de pesquisa em psicofarmacologia na infância e adolescência; ■ envolvimento de terceiros no tratamento (exemplo: pais, outros familiares, professores, terapeutas, pediatras); ■ natureza multidisciplinar da maioria dos tratamentos psiquiátricos na infância e adolescência; ■ natureza crônica da maioria dos transtornos psiquiátricos. A decisão do tratamento medicamentoso deve ser baseada em uma avaliação completa do paciente. Segundo Assumpção e Kuczynski,4 algumas estratégias devem ser observadas: ■ identificação dos sintomas-alvos, visando-se à minimização dos mesmos e a um melhor aproveitamento de outros modelos de intervenção; ■ escolha do melhor medicamento, considerando-se não só o sintoma em questão, mas também os prováveis efeitos colaterais, formas de administração e custo familiar; ■ explicar aos pais e, quando possível, à criança, as razões do uso da medicação; isso não só em função da questão ética, que sugere que a criança, desde que tenha idade passível de compreensão, deve saber o que vai lhe ser feito para que possa opinar e participar do próprio tratamento, mas também porque tais explicações minimizam o medo da utilização de medicamentos e aumentam a aderência ao tratamento, que, no caso da criança, depende basicamente de seus pais; ■ informar os possíveis efeitos colaterais para que, na eventualidade de sua presença, não se constituam em fatos de abandono do tratamento; ■ informar que a dosagem inicial é baixa e que deve ser aumentada gradativamente para que não se corra o risco de doses subterapêuticas, que dificultam a aderência do paciente ao projeto terapêutico; ■ seguimento a intervalos breves, para maior segurança do próprio médico e do paciente, bem como para melhor monitoramento do medicamento utilizado; ■ não iniciar outros tratamentos simultâneos com a ideia de que, a partir da utilização da menor variedade possível de medicamentos, seus efeitos benéficos e colaterais podem ser mais bem monitorados. Assumpção e Kuczynski4 ressaltam ainda que inúmeros fatores interferem na absorção dos medicamentos utilizados em crianças e adolescentes, como: ■ meio estomacal menos ácido na criança, o que ocasiona uma absorção mais lenta de anfetaminas, anticonvulsivantes e antidepressivos; ■ flora intestinal menos diferenciada e em menor quantidade, o que justifica menor absorção das fenotiazinas; ■ menor proporção de gordura corporal que no adulto, o que ocasiona menor presença de fármacos lipofílicos no plasma; ■ maior proporção de água extracelular na criança que no adulto, o que proporciona baixas concentrações plasmáticas de fármacos distribuídos por intermédio da água corporal, como, por exemplo, o lítio. Será discutido, a seguir, o tratamento farmacológico dos principais distúrbios psiquiátricos da infância e adolescência. Maior ênfase será dada às substâncias aprovadas pelas agências reguladoras (Food and Drug Administration [FDA] e Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa]) para uso nessa faixa. 1. O que visa o tratamento medicamentoso das doenças psiquiátricas em crianças e adolescentes? 2. Analise as afirmativas a seguir. I - Os riscos potenciais de não tratar as doenças psiquiátricas em crianças e adolescentes são comprovadamente maiores do que os riscos associados às medicações psicotrópicas. II - O objetivo da farmacoterapia é apenas a cura de vários estados doentios. III - O bom tratamento de crianças e adolescentes com transtornos psiquiátricos é necessariamente multimodal e interdisciplinar, com saberes complementares baseados nas evidências científicas e nos resultados apresentados. Quais afirmativas estão corretas? A) Apenas a I e a II. B) Apenas a I e a III. C) Apenas a II e a III.D) A I, a II e a III. Confira aqui a resposta 3. Cite pelo menos quatro pontos que devem ser levados em consideração antes do início do tratamento medicamentoso das doenças psiquiátricas em crianças e adolescentes. 4. Que estratégias devem ser observadas na decisão do tratamento medicamentoso das doenças psiquiátricas em crianças e adolescentes? ■ TRANSTORNO DO DEFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE O TDAH, caracterizado pela tríade sintomatológica – desatenção, hiperatividade e impulsividade –, afeta aproximadamente 5% das crianças e adolescentes. É um dos transtornos mais comuns e mais estudados, e os psicoestimulantes correspondem à classe medicamentosa mais pesquisada na população pediátrica. O uso de estimulantes no TDAH acontece há mais de 70 anos. Inúmeros estudos demonstram sua eficácia, o que os tornam o medicamento de primeira escolha no tratamento. Aproximadamente 70% dos pacientes com TDAH toleram bem e respondem adequadamente aos estimulantes, com redução em mais de 30% dos sintomas básicos do transtorno. A eficácia do uso de estimulantes no TDAH vai além dos sintomas associados ao transtorno. Há melhora também na autoestima e no funcionamento cognitivo, social e familiar. Os primeiros estimulantes comercializados foram os de liberação imediata, que exigiam mais de uma dose ao longo do dia. Para minimizar a dificuldade de se administrar múltiplas doses, foram desenvolvidos medicamentos de longa ação, que apresentam meia-vida maior e possibilidade de dose única diária. Atualmente, estão disponíveis no Brasil dois psicoestimulantes: o metilfenidato (curta e longa duração) e a lisdexanfetamina. Em diversos ensaios clínicos randomizados, as duas substâncias demonstraram ser bem toleradas e superiores ao placebo. Não há grandes diferenças na eficácia e tolerabilidade nos vários estudos comparando os dois. Até o momento, não foi identificado o perfil de paciente que responde melhor a um ou a outro medicamento. METILFENIDATO O metilfenidato é a medicação estimulante mais avaliada para TDAH em estudos controlados. Seu mecanismo de ação se baseia no aumento de liberação de noradrenalina e dopamina por bloqueio de recaptação dessas catecolaminas nos terminais nervosos pré-sinápticos. Metilfenidato de curta ação O metilfenidato de curta ação é comercializado com o nome Ritalina®, em apresentação única de 10mg. A absorção por via oral é rápida, mas a velocidade pode ser alterada pela ingesta alimentar. O pico plasmático acontece entre 1 e 2 horas após a ingesta, e a meia-vida sérica é de cerca de 3 horas. A dose terapêutica se situa entre 20 e 60mg/dia, sendo doses entre 0,3 e 1mg/kg/dia frequentemente preconizadas. O metilfenidato de curta ação deve ser ministrado 2 ou 3 vezes por dia, visto que sua meia-vida é curta. Metilfenidato de longa ação Duas preparações de metilfenidato de liberação prolongada estão disponíveis no mercado brasileiro: o metilfenidato SODASTM e o OROSTM. O metilfenidato SODASTM encontra-se disponível no mercado brasileiro com o nome Ritalina LA®, na apresentação de 10, 20, 30 e 40mg. Seu efeito dura aproximadamente oito horas e a liberação de metilfenidato ocorre em dois pulsos (2 e 4 horas após a administração). O OROSTM utiliza um mecanismo de bomba osmótica para criar um perfil ascendente de metilfenidato no sangue, e sua duração é de cerca de 12 horas. No período inicial, 22% do produto são liberados, e o restante é emitido por um processo osmótico ao longo de 10 horas aproximadamente. É vendido com o nome comercial Concerta®, em cápsulas de 18, 36 e 54mg. Os efeitos colaterais do metilfenidato, na sua maioria, são leves, doses-dependentes e transitórios. A curto prazo, é comum que haja anorexia, insônia, ansiedade, irritabilidade e labilidade emocional, cefaleia, dores abdominais, tiques, pesadelos e isolamento social. A longo prazo, pode aparecer perda de peso (resultado da queda acentuada no apetite) e desaceleração da curva de crescimento e alterações cardiovasculares. Apesar da existência de estudos com a população pré-escolar, a recomendação é que o uso do metilfenidato se dê a partir dos 6 anos de idade. LISDEXANFETAMINA A lisdexanfetamina foi lançada no Brasil, em 2011, com o nome comercial Venvanse®, em apresentações de 30, 50 e 70mg. É considerada uma pró-droga, pois é desprovida de efeitos farmacológicos iniciais. Sua ação acontece somente após um processo de hidrólise (realizado inicialmente no intestino, mas na sua maior parte na corrente sanguínea) em que ocorre a separação entre a lisina (um aminoácido essencial reaproveitado pelo organismo) e a dexanfetamina. A dexanfetamina é a substância ativa com comprovada ação sobre o TDAH. O início da ação surge aproximadamente duas horas após a ingestão, e o medicamento pode ser tomado com ou sem alimentos. Essa modalidade de liberação do medicamento ativo impede o seu uso como droga de abuso, pois sabe-se que nesses casos o indivíduo busca um efeito imediato, com altos picos de efeito, o que não é possível com a lisdexanfetamina. ■ TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR O transtorno do humor tem sido cada vez mais reconhecido na população infantojuvenil. No entanto, seu diagnóstico é um desafio para os clínicos. Diferentemente do adulto, a criança e o adolescente encontram- se em pleno processo de desenvolvimento, e inúmeras atitudes e comportamentos (sendo muitos do rol da normalidade) podem gerar dificuldades no diagnóstico diferencial.6 Irritabilidade, retraimento social e queda no rendimento acadêmico são características comuns da depressão na população pediátrica. A identificação precoce e o tratamento correto podem reduzir o impacto causado pelo transtorno no desenvolvimento e no funcionamento social da criança. Jovens com depressão estão em maior risco para gravidez precoce, problemas com a justiça, uso de substâncias e suicídio.7,8 Os antidepressivos têm sido amplamente utilizados na infância e adolescência, tanto para o tratamento de transtornos depressivos quanto para os casos de transtornos ansiosos. São comumente divididos em quatro grupos: ■ antidepressivos tricíclicos (ADT s); ■ inibidores seletivos da recaptação da serotonina ( ISRS); ■ inibidores da monoaminoxidase (IMAO); ■ antidepressivos atípicos (como a bupropiona e a venlafaxina). Os ADT s e os ISRS são os mais utilizados na infância e adolescência. Os antidepressivos são indicados em casos moderados ou graves de depressão infantojuvenil. Nos casos leves, a indicação é que o tratamento inicial seja realizado com técnicas psicoterápicas. Não havendo melhora, associa-se o tratamento medicamentoso.5 ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS Os ADT s se dividem em aminas secundárias (desipramina, nortriptilina e protriptilina) e aminas terciárias (amitriptilina, imipramina, doxepina, clomipramina e trimipramina). Esses fármacos bloqueiam os sítios de transporte da serotonina e noradrenalina, diminuindo a recaptura dessas aminas no neurônio pré-sináptico. As aminas terciárias possuem uma grande afinidade pelos transportadores de serotonina e as aminas secundárias, primariamente, bloqueiam a recaptura de noradrenalina. Evidências sugerem que os ADT s não têm utilidade clínica no tratamento da depressão em crianças. Vários estudos não demonstraram eficácia superior dessas substâncias ao placebo. Além disso, os ADT s estão associados a efeitos colaterais significativos e alto risco de letalidade em caso de overdose.9 Desse grupo de medicamentos, apenas a imipramina é liberada para o tratamento da depressão a partir dos 10 anos de idade. Os efeitos colaterais mais comumente relatados são efeitos anticolinérgicos, como boca seca, visão turva e constipação. Uma preocupação com o uso dessas substâncias é o seu potencialcardiotóxico. Antes de iniciar o tratamento com os ADT s, sugere-se a realização de eletrocardiograma (ECG) para afastar problemas na condução cardíaca, além da realização periódica de ECG durante o tratamento.5 Sintomas gastrintestinais e vômitos são frequentes quando a administração é interrompida de forma abrupta. Por isso, quando utilizados, a retirada deve ocorrer de forma lenta e progressiva. INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA Os ISRS incluem a fluoxetina, paroxetina, sertralina, citalopram, fluvoxamina e escitalopram. São substâncias com alto grau de seletividade no bloqueio da captação neuronal de serotonina, e por isso podem ser considerados agentes serotoninérgicos. Os ISRS são considerados medicações de primeira linha para o tratamento dos TD s de moderados a graves em crianças e adolescentes. Para o tratamento da depressão, já estão aprovados a fluoxetina e o escitalopram. A fluoxetina é muitas vezes a primeira escolha de tratamento, tanto em crianças quanto adolescentes. Três estudos randomizados controlados10,11 demonstraram sua eficácia na depressão em jovens. A dose recomendada é de 10 a 20mg/dia. Os efeitos colaterais comuns são cefaleia, sintomas gastrointestinais, sedação e insônia. Embora a fluoxetina seja a primeira escolha, existem situações na qual a escolha de outro ISRS é necessária, como, por exemplo, falta de resposta, interação medicamentosa, história familiar de resposta terapêutica a outro antidepressivo ou resistência da família. O escitalopram é outra opção de antidepressivo com aprovação para o tratamento da depressão em adolescentes. Dois estudos randomizados controlados12,13 demonstraram sua eficácia nessa população. A dose do escitalopram deve ser entre 10 e 20mg/dia. Estudos com sertralina e o citalopram também demostraram alguma eficácia no tratamento da depressão em jovens e podem ser uma alternativa à fluoxetina e ao escitalopram.7 Tanto a sertralina quanto o citalopram não são aprovados para o uso em depressão na infância e adolescência. A eficácia da paroxetina foi avaliada em três estudos randomizados controlados14-16 e, em todos, o resultado foi negativo. Há evidências de que uma considerável parcela das crianças e dos adolescentes diagnosticados apresentará (dentro de cinco anos) recaída após um primeiro episódio depressivo, além de que mais da metade dos casos de início na infância deve persistir na vida adulta. Ainda não há dados suficientes para se estabelecer um consenso na condução de um tratamento de manutenção nessa população específica.6 A literatura sugere que a intervenção precoce na depressão em crianças pode melhorar os resultados a longo prazo. A duração do tratamento varia de acordo com o número de episódios depressivos:17 ■ no primeiro episódio, recomenda-se, no mínimo, 6 meses de tratamento; ao final, a medicação deve ser retirada lentamente entre 6 e 8 semanas; ■ no segundo episódio depressivo, um ano de tratamento é recomendado; ■ em crianças e adolescentes com mais de três episódios, deve-se considerar o uso de medicação por tempo indefinido, principalmente quando os episódios são graves, há sintomas psicóticos ou ideação suicida. 5. Como é caracterizado o TDAH? 6. O que evidencia a eficácia dos estimulantes de TDAH? 7. Analise as afirmativas a seguir. I - O metilfenidato de curta ação deve ser ministrado 3 ou 4 vezes por dia, visto que sua meia-vida é curta. II - Apesar da existência de estudos com a população pré-escolar, recomenda-se que o uso do metilfenidato se dê a partir dos 6 anos de idade. III - A dexanfetamina é a substância ativa, com comprovada ação sobre o TDAH. Quais estão corretas? A) Apenas a I e a II. B) Apenas a I e a III. C) Apenas a II e a III. D) A I, a II e a III. Confira aqui a resposta 8. Por que o diagnóstico do transtorno do humor na população infantojuvenil é um desafio para os clínicos? 9. Em relação aos ADT s, assinale a alternativa correta. A) Evidências sugerem que os ADT s não têm utilidade clínica no tratamento da depressão em crianças. B) Vários estudos demonstraram eficácia superior dos ADT s em relação ao placebo. C) Os ADT s não estão associados a efeitos colaterais significativos e alto risco de letalidade em caso de overdose. D) Dos ADT s, apenas a imipramina é liberada para o tratamento da depressão a partir dos 5 anos de idade. Confira aqui a resposta 10. Quais os medicamentos já aprovados para o tratamento da depressão em crianças e adolescentes? 11. Como varia a duração do tratamento da depressão em crianças? ■ TRANSTORNO DO HUMOR BIPOLAR Até alguns anos atrás, o THB era considerado relativamente raro na infância e adolescência. No entanto, estudos mais recentes demonstram que o distúrbio é frequente e deve ser diagnosticado e tratado nessa população. O THB é um distúrbio crônico que causa grave prejuízo ao desenvolvimento e crescimento emocional da criança e está associado a taxas alarmantes de suicídio, problemas escolares, engajamento em comportamento de alto risco (promiscuidade sexual e/ou abuso de drogas), apresentando altas taxas de recorrência e baixas taxas de recuperação.18 Por isso, o tratamento eficaz é fundamental para os jovens portadores do transtorno. Os estabilizadores de humor são medicamentos utilizados para o tratamento dos transtornos do humor, principalmente em casos de THB . São medicamentos com efeito antidepressivo e antimaníaco e que não conferem risco de ciclagem. Podem ser divididos em dois grupos: os “tradicionais” (lítio, valproato e carbamazepina) e os “novos” (lamotrigina, oxcarbazepina, topiramato e gabapentina). Todos esses medicamentos são utilizados para tratar epilepsia, com exceção do lítio, e migraram da neuropediatria para a psiquiatria da infância, por apresentarem efeitos no comportamento. Apenas o lítio é aprovado pelo FDA para o uso em crianças e adolescentes na fase aguda de mania e na fase mista. Outra opção no tratamento do THB pediátrico são os antipsicóticos, que, cada vez mais, são usados em crianças e adolescentes. Estudos indicam que eles são mais eficazes que o placebo no tratamento do THB , da esquizofrenia e na irritabilidade e agressividade associadas ao espectro autista.2 Os antipsicóticos podem ser divididos em duas classes: típicos e atípicos. Os antipsicóticos atípicos têm eficácia comprovada e cada vez mais estudada nos distúrbios psiquiátricos da infância e adolescência.5Esses fármacos, além de bloqueadores dos receptores para dopamina (D2 ), são bloqueadores significativos dos receptores para serotonina (S2). Estão disponíveis no Brasil as seguintes medicações: ■ risperidona; ■ olanzapina; ■ quetiapina; ■ ziprasidona; ■ aripiprazol; ■ clozapina. Dessas, apenas o aripiprazol, a olanzapina, a quetiapina e a risperidona são aprovadas para o uso na população pediátrica. A risperidona é o mais estudado em crianças e adolescente, e, portanto, o que apresenta mais dados comprovando sua eficácia e segurança. CARBONATO DE LÍTIO O lítio é o único estabilizador do humor por definição. Foi uma das primeiras medicações utilizadas no tratamento do THB em adultos. O lítio é o mais estudado estabilizador do humor para crianças e adolescentes, e o único aprovado pelo FDA para o tratamento agudo ou profilático do THB em crianças maiores de 12 anos de idade. Nas últimas décadas, o carbonato de lítio também vem sendo estudado para o tratamento de outros transtornos na infância e adolescência, especialmente em crianças com intensa agressividade. Além disso, há uma grande associação entre a redução do risco de suicídio e o uso de lítio, tanto na população infantojuvenil quanto na adulta.O lítio é prontamente absorvido pelo trato gastrintestinal. As concentrações plasmáticas máximas ocorrem em 2 a 4 horas, e a absorção total se dá em aproximadamente 8 horas. A meia-vida sérica é de aproximadamente 20 a 24 horas. Níveis séricos de lítio em estado de equilíbrio estável ocorrem tipicamente dentro de 5 a 8 dias da administração de doses diárias idênticas repetidas.19 O nível sérico para a fase aguda de mania deve estar entre 0,8 e 1,2mEq/L, e na fase de manutenção, entre 0,6 e 0,8mEq/L. A dose indicada é de 30mg/kg/dia. Os efeitos colaterais do uso do lítio tendem a ser mais intensos na infância e incluem: ■ ganho de peso; ■ redução da atividade psicomotora; ■ sedação; ■ irritabilidade; ■ tremores; ■ tontura; ■ ataxia; ■ confusão mental; ■ dor abdominal; ■ náuseas; ■ vômitos; ■ diarreia; ■ poliúria. Atenção especial deve ser dada aos efeitos tóxicos do lítio, que acontecem quando os níveis séricos de lítio ultrapassam os níveis terapêuticos. Os sintomas da toxicidade são: diarreia, vômitos, ataxia leve, um tremor grosseiro, fraqueza e fasciculações musculares, sedação, fala pastosa e incoordenação. Nesses casos, o medicamento deve ser suspenso imediatamente. ANTICONVULSIVANTES O divalproato de sódio, a carbamazepina, a oxcarbazepina e o topiramato são os anticonvulsivantes mais estudados para o tratamento do THB . No entanto, nenhum anticonvulsivante é aprovado peloFDA para o tratamento de crianças e adolescentes com esse diagnóstico. Divalproato de sódio Em crianças e adolescentes, o divalproato de sódio pode ser eficaz no tratamento de episódios maníacos, na agressividade e em casos de enxaqueca. Os efeitos colaterais mais comuns são náusea, aumento do apetite, ganho de peso, sedação, trombocitopenia, queda de cabelo (transitória), tremor e vômito. Carbamazepina A carbamazepina está aprovada para o tratamento de crianças com epilepsia desde 1987. Sua indicação psiquiátrica mais frequente nessa população é no tratamento do THB . Em estudos com placebo em adultos, a carbamazepina se mostrou eficaz tanto nas fases maníacas quanto na depressão.20 Oxcarbazepina Um estudo randomizado, controlado, realizado em jovens com diagnóstico de THB , não encontrou diferença estatisticamente significativa na eficácia entre oxcarbazepina e placebo.21 Topiramato Estudos demonstram que o topiramato não é eficaz em monoterapia para o THB , não sendo indicado nem no episódio agudo nem na fase de manutenção. Entretanto, em associação, é bastante eficaz e seguro na melhora clínica e na prevenção de recaídas.22 Os principais efeitos colaterais observados são: sedação excessiva, piora do padrão cognitivo e perda do apetite. A dose inicial deve ser de 25mg à noite, com aumento até 125 a 250mg/dia. ANTIPSICÓTICOS Risperidona A risperidona é aprovada pelo FDA para tratamento: ■ da esquizofrenia em adolescentes (a partir de 13 anos de idade); ■ da mania ou episódios mistos do THB tipo 1 (a partir de 10 anos); ■ da irritabilidades associada a quadros de autismo (a partir dos 5 anos). A risperidona é a medicação que possui melhor indicação para quadros inespecíficos e para o tratamento de sintomas que surgem em todos os transtornos psiquiátricos na infância e adolescência, como agressividade, irritação, impulsividade, hiperatividade e agitação.22 Olanzapina A olanzapina é aprovada pelo FDA para o tratamento da esquizofrenia e do THB tipo 1 em adolescentes a partir dos 13 anos de idade. O tratamento com a olanzapina deve ser iniciado com 2,5mg/dia à noite. O aumento deve ser gradual, sendo a dose usual 10mg/dia. Intolerância à glicose, cefaleia, sedação e ganho de peso são possíveis efeitos colaterais. Os responsáveis pela criança/adolescente devem ser informados e orientados quanto à necessidade de controle da alimentação. Se necessário, o paciente deverá ser encaminhado para atendimento com nutricionista. Quetiapina A quetiapina é aprovada pelo FDA : ■ para o tratamento de esquizofrenia na adolescência (a partir dos 13 anos de idade); ■ para o tratamento do THB tipo 1 em crianças e adolescentes, a partir dos 10 anos de idade. Aripiprazol O aripiprazol é considerado um antipsicótico de terceira geração, tendo como principal mecanismo de ação o antagonismo parcial dos receptores dopaminérgicos e serotoninérgicos.23 Está aprovado para uso: ■ na esquizofrenia na adolescência (a partir dos 13 anos); ■ nos episódios maníacos e mistos do THB tipo 1 (a partir dos 10 anos); ■ na irritabilidade do espectro autista (a partir dos 6 anos). Um estudo duplo-cego randomizado e placebo controlado, com 296 pacientes, entre 10 e 17 anos de idade com diagnóstico de THB tipo 1, demonstrou que o aripiprazol, nas doses entre 10 e 30mg, foi superior ao placebo no tratamento agudo do quadro de mania e dos episódios mistos.8 Por ter uma meia-vida longa, o aripiprazol geralmente é prescrito em dose única. A dose inicial deve ser de 5mg à noite, e não deve exceder 30mg/dia. Os efeitos colaterais mais comuns são sedação, agitação psicomotora, náusea e vômitos. Ziprasidona e clozapina Ainda não são aprovadas para o uso em crianças e adolescente, embora alguns poucos estudos demonstrem eficácia das duas substâncias. A Tabela 1 apresenta os psicofármacos aprovados para o uso de crianças e adolescentes com THB . Tabela 1 PSICOFÁRMACOS APROVADOS PARA O USO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM THB Substância Dose utilizada Principais efeitos adversos Lítio 10 a 30mg/kg (litemia: 0,6 a 1,2mEq/L) Poliúria, polidipsia, tremor, ataxia, náusea, diarreia, ganho de peso, tontura, acne. A longo prazo é possível o desenvolvimento de alterações na função renal e/ou tireoidiana. Risperidona 0,5 a 6mg/dia Aumento de apetite e de peso, efeitos extrapiramidais, sonolência, aumento de prolactina. Maior risco de síndrome neuroléptica maligna entre os antipsicóticos atípicos. Olanzapina 2,5 a 5mg/dia Considerável ganho de peso e aumento de apetite, dislipidemia, boca seca, sedação e crise convulsiva. Quetiapina 400 a 600mg/dia Sonolência significativa, fadiga, aumento de apetite e de peso (menos significativo que no uso da olanzapina e risperidona). Aripiprazol 10 a 30mg/dia Sonolência, acatisia, efeitos extrapiramidais, sialorreia, visão borrada. Fonte: Adaptado de Fu-I L, Boarati MA, Maia AP e colaboradores.23 12. Por que o tratamento eficaz é fundamental para os jovens portadores do THB ? 13. Analise as afirmativas a seguir. I - O lítio é o mais estudado estabilizador do humor em crianças e adolescentes e o único aprovado, pelo FDA , para o tratamento agudo ou profilático do THB em crianças maiores de 12 anos de idade. II - Nenhum anticonvulsivante é aprovado pelo FDA para o tratamento de crianças e adolescentes com diagnóstico de THB . III - Dos antipsicóticos, apenas o aripiprazol, a olanzapina, a quetiapina e a risperidona são aprovadas para o uso na população pediátrica. Quais estão corretas? A) Apenas a I e a II. B) Apenas a I e a III. C) Apenas a II e a III. D) A I, a II e a III. Confira aqui a resposta 14. Correlacione os psicofármacos aprovados para o uso de crianças e adolescentes com THB da coluna da esquerda com os efeitos adversos da coluna da direita. (1) Lítio (2) Risperidona (3) Olanzapina (4) Quetiapina (5) Aripiprazol ( ) Considerável ganho de peso e aumento de apetite, dislipidemia, boca seca, sedação e crise convulsiva. ( ) Sonolência significativa, fadiga, aumento de apetite e de peso (menos significativo que no uso da olanzapina e risperidona). ( ) Sonolência, acatisia, efeitos extrapiramidais, sialorreia, visão borrada.( ) Aumento de apetite e de peso, efeitos extrapiramidais, sonolência, aumento de prolactina. Maior risco de síndrome neuroléptica maligna entre os antipsicóticos atípicos. ( ) Poliúria, polidipsia, tremor, ataxia, náusea, diarreia, ganho de peso, tontura, acne. A longo prazo é possível o desenvolvimento de alterações na função renal e/ou tireoidiana. Assinale a alternativa que contém a sequência correta. A) 4 – 1 – 2 – 5 – 3 B) 2 – 5 – 4 – 1 – 3 C) 3 – 4 – 5 – 2 – 1 D) 5 – 2 – 1 – 4 – 2 Confira aqui a resposta 15. Quais os antipsicóticos aprovados para tratamento da esquizofrenia na adolescência (a partir dos 13 anos)? A) Risperidona, olanzapina, zipresidona e clozapina. B) Quetiapina, ziprasidona e aripiprazol. C) Risperidona, olanzapina, aripiprazol e quetiapina. D) Risperidona, olanzapina, aripiprazol, clozapina e quetiapina. Confira aqui a resposta ■ TRANSTORNOS ANSIOSOS Os transtornos ansiosos encontram-se entre as doenças psiquiátricas mais comuns em crianças e adolescentes. Estudos epidemiológicos indicam que aproximadamente 10% de todas as crianças têm pelo menos um transtorno de ansiedade. Os quadros mais frequentes são: ■ transtorno de ansiedade de separação (TAS); ■ transtorno de ansiedade generalizada (TAG); ■ quadros de fobias específicas; ■ transtorno obsessivo compulsivo (TOC); ■ fobia social; ■ transtorno de pânico (TP). A identificação precoce pode evitar repercussões negativas na vida da criança, tais como faltas constantes à escola, consultas frequentes ao pediatra por queixas somáticas e, possivelmente, a ocorrência de problemas psiquiátricos na vida adulta. Se não tratados, os transtornos ansiosos na infância e adolescência apresentam um curso crônico, embora flutuante ou episódico.4 As intervenções psicossociais devem ser tentadas antes do início de qualquer tratamento medicamentoso, visto que intervenções não farmacológicas são eficazes para muitas crianças ansiosas. A farmacoterapia deve ser considerada quando há presença de sintomas graves que causam comprometimento à vida do jovem, ineficácia da intervenção psicossocial ou presença de comorbidades, como depressão maior.23 Várias classes de medicações podem ser utilizadas no tratamento dos transtornos ansiosos. Antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos são algumas das opções. O foco será restringido às medicações mais comumente estudadas e utilizadas: os antidepressivos (já discutidos anteriormente) e os ansiolíticos. ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS Os estudos sobre o uso de ADT s nos quadros ansiosos na infância e adolescência são escassos. A maioria envolve o uso da imipramina. No caso do TOC, a clomipramina é o único tricíclico aprovado peloFDA para o uso na população pediátrica. ANTIDEPRESSIVOS INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA A literatura tem demonstrado que os ISRS são eficazes e seguros para o tratamento agudo da ansiedade na infância e adolescência, sugerindo que eles sejam os medicamentos de primeira escolha nessa situação.24 O tratamento deve ser iniciado com doses baixas. O aumento da dose deve ser gradual, conforme tolerado pelo paciente, caso não haja resposta terapêutica. No caso do TOC, três substâncias têm indicação: sertralina (a partir dos 6 anos de idade), fluoxetina (a partir dos 7 anos) e fluvoxamina (a partir dos 8 anos). BENZODIAZEPÍNICOS Apesar de o FDA liberar a maioria dos benzodiazepínicos (BZD s) para o uso nos transtornos ansiosos, muitos estudos ainda precisam ser realizados para comprovar sua eficácia e tolerabilidade, principalmente na infância e adolescência. Os efeitos colaterais mais comuns dos BZD s são: ■ sedação excessiva; ■ fadiga; ■ sonolência; ■ ataxia; ■ confusão mental. Reações paradoxais e episódios de acentuado descontrole e desinibição foram relatados em crianças e adolescentes. Os sintomas incluíram excitação aguda, ansiedade ampliada, agressividade e hostilidade aumentadas, reações de raiva, perda de todo e qualquer controle, alucinações, insônia e pesadelos.24 Devido ao seu perfil de efeitos colaterais, evidência limitada de eficácia e potencial de abuso e dependência, os BZD s só devem ser prescritos em casos de extrema necessidade, com doses baixas e pelo menor tempo possível, em associação com um ISRS ou ADT , até o antidepressivo começar a fazer efeito.24 A Tabela 2 apresenta os psicofármacos utilizados nos transtornos ansiosos da infância e adolescência. Tabela 2 PSICOFÁRMACOS UTILIZADOS NOS TRANSTORNOS ANSIOSOS DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA. Medicamento Dose/Dia Mecanismo de ação Efeitos colaterais Fluvoxamina 50 - 300mg Bloqueio pré-sináptico da recaptação de serotonina. Irritabilidade, acatisia, ativação comportamental, insônia, sonolência, cansaço, redução do apetite, sintomas gastrintestinais, cefaleia, tontura. Sertralina 25 - 200mg Fluoxetina 10 - 60mg Paroxetina 10 - 50mg Citalopram 10 - 40mg Imipramina 2 - 5mg/kg Bloqueio pré-sináptico da recaptação de noradrenalina, serotonina e dopamina. Efeitos pós-sinápticos anticolinérgicos e anti-histamínicos. Boca seca, sonolência, tontura, cansaço, tremores, cefaleia, constipação, visão turva, ganho de peso, sudorese, desconforto estomacal, efeitos cardiovasculares (redução da pressão arterial, prolongamento do intervalo QT no EEG) Clomipramina 2 - 5mg/kg Venlafaxina 75 - 225mg Bloqueio pré-sináptico da recaptação de serotonina e noradrenalina. Cansaço, tontura, dor abdominal, redução do apetite, sonolência, insônia. Clonazepam 0,5 - 2mg Reforço da transmissão GABAérgica, por ligação em receptor específico dentro do receptor ácido gama- aminoburítico (GABA). Sonolência, desinibição, agitação, confusão, abstinência. Risco de dependência. Alprazolam 0,5 - 4mg Fonte: Adaptado de Asbahr FR e cols.24 ■ TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA Os TEAs são caracterizados por um comprometimento global nas várias áreas do funcionamento. Esses déficits geralmente tornam-se evidentes no terceiro ano de vida e normalmente estão acompanhados por algum grau de retardo mental. O diagnóstico requer a presença de distúrbio em três domínios25 ■ Interação social: falta de interesse espontâneo em partilhar alegria, incapacidade de utilizar meios não verbais de comunicação (linguagem corporal, gestos, expressão facial, contato visual) e incapacidade de desenvolver relacionamentos com os pares apropriados à idade e ao nível de desenvolvimento. ■ Comunicação: falta de linguagem verbal ou linguagem atrasada ou desviada. Pode ocorrer uso estereotipado, repetitivo ou idiossincrático da linguagem, sem intenção comunicativa. Se existe capacidade de linguagem adequada, há falta de interesse em iniciar ou manter uma conversação. O brincar está comprometido. Brincadeiras imaginativas espontâneas e brincadeiras sociais imitativas apropriadas para o nível de desenvolvimento estão ausentes ou substancialmente retardadas. ■ Interesses restritos e padrões estereotipados do comportamento: preocupação geral com um ou vários tópicos, que podem ser anormais no foco, na intensidade ou em ambos (por exemplo: horários de trens, números primos, detergentes de roupas etc.). Uma adesão incapacitante a rotinas não funcionais também é comum. Movimentos estereotipados e maneirismos, tais como agitar as mãos, balançar o corpo ou encarar as pessoas, estão presentes. Os TEA são uma das causas principais de incapacitação do desenvolvimento. A condição possui graves consequências socioeconômicas, pois começa na infância, é crônica e a incapacitação pode ser intensa. Para os TEA não existem tratamentos definitivos estabelecidos. Geralmente, os tratamentosde primeira linha para crianças com autismo incluem tratamentos psicossociais e intervenções educacionais, com o objetivo de maximizar a aquisição da linguagem, melhorar as habilidades sociais e comunicativas e acabar com os comportamentos maladaptativos. As intervenções farmacológicas geralmente têm como alvo sintomas acessórios, ou seja, sintomas que acompanham os sintomas nucleares e que incapacitam gravemente o funcionamento do indivíduo.19 São considerados sintomas acessórios:7 ■ déficit de atenção e concentração (60%); ■ hiperatividade (40%); ■ preocupações mórbidas não habituais (43 - 88%); ■ fenômenos obsessivos (37%); ■ compulsões e rituais (16 - 86%); ■ linguagem estereotipada (50 - 89%); ■ maneirismo estereotipado (70%); ■ fobias/ansiedade (17 - 74%); ■ humor depressivo, irritabilidade, agitação e afeto inapropriado (9 - 44%); ■ distúrbios de sono (11%); ■ automutilação (24 - 43%); ■ tiques (8%). Assim, essa é a sintomatologia que será foco da psicofarmacologia. A pesquisa atual na área de tratamentos psicofarmacológicos para o autismo utiliza tratamentos para condições psiquiátricas em sintomas que poderiam ser relevantes para o autismo. Os psicotrópicos mais recentes, particularmente os antipsicóticos atípicos e os ISRS, possuem perfis mais benignos de efeitos colaterais do que seus correspondentes mais antigos. No entanto, há urgente necessidade de desenvolvimento de novos agentes, específicos para o autismo, e que possivelmente ataquem os sintomas nucleares da enfermidade. Risperidona: aprovada pelo FDA para o tratamento da irritabilidade em crianças autistas entre 5 e 16 anos. Aripiprazol: aprovado pelo FDA para o tratamento da irritabilidade em crianças autistas entre 6 e 17 anos. 16. Quais são os quadros mais frequentes nos transtornos ansiosos? 17. Quando a farmacoterapia deve ser considerada no tratamento de transtornos ansiosos? 18. Sobre o tratamento de crianças e adolescentes portadores de transtornos ansiosos, assinale a alternativa INCORRETA. A) Os BZD s nunca devem ser o medicamento de primeira escolha em tratamento dos transtornos ansiosos em crianças e adolescentes. B) A venlafaxina é a medicação de primeira escolha em casos de ansiedade na infância. C) Os estudos mostram que em casos leves e moderados dos transtornos ansiosos na infância a terapia cognitiva comportamental (TCC) tem pontos positivos sem qualquer contraindicação no tratamento dos transtornos ansiosos. D) Os ISRS são as medicações de primeira escolha nos transtornos ansiosos da infância e já há alguns desse grupo liberados pela FDA para o tratamento. Confira aqui a resposta 19. O que requer o diagnóstico de TEA? ■ AVALIAÇÕES ■ CONCLUSÃO Nos últimos anos, progressos significativos têm sido observados tanto na maior compreensão dos transtornos psiquiátricos que acometem crianças e adolescentes quanto no tratamento psicofarmacológico dessas condições. O surgimento de novos medicamentos, mais eficazes e com melhor perfil de efeitos colaterais, tem contribuído muito para esse avanço. No entanto, a prática clínica ainda é limitada pela escassez de estudos clínicos controlados nessa população. ■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS Atividade 2 Resposta: B Atividade 7 Resposta: C Comentário: O metilfenidato dever ser ministrado 2 ou 3 vezes por dia. Atividade 9 Resposta: A Atividade 13 Resposta: D Atividade 14 Resposta: C Atividade 15 Resposta: C Atividade 18 Resposta: B Comentário: As medicações aprovadas e indicadas para transtornos ansiosos na infância são os ISRS (sertralina, fluoxetina, fluvoxamina e excitalopran).
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