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A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA ESPORTIVA NA FLEXIBILIDADE DOS MEMBROS SUPERIORES Gustavo Hoffmann L. Coelho1,2, Jamison Amaral Morais1, Frederico Mickael Meira Campos1, Silvia Consolação Pinho1. 1UNINCOR/ Curso de Fisioterapia, Betim – MG, 2UNIPAC/ Curso de Fisioterapia, Bom Despacho – MG Abstract: BACKGROUND: Flexibility has passive and active components. Little information is available regarding the relationship of passive and active range of motion (ROM) measurements comparing different sports. OBJECTIVE: The purpose of this study was to compare passive and active shoulder external rotation (SER) and wrist flexion (WF) range of motion between sedentary, handball players and volleyball players. METHODS: forty five subjects were assigned to 1 of 3 groups: (1) sedentary, (2) handball players and (3) volleyball players. Passive and active SER and WF ROM were measured and compared intergroup and intragroup. RESULTS: The group 2 showed a significant lower active and passive WR when compared with groups 1 and 3. The group 2 showed a significant lower active and passive SER when compared with groups 1 and 3. The difference between active and passive WR and SER was higher in group 3, when compared with groups 1 and 2. CONCLUSIONS: Sports practice influences on the passive and active articular ROM. Keywords: flexibility, range of motion, sports practice Introdução Alguns estudos têm demonstrado a especificidade da flexibilidade com relação ao esporte praticado. Flexibilidade pode ser definida como a capacidade de movimentar uma articulação em toda a amplitude de movimento (ADM) sem que ocorra tensão excessiva na unidade músculo-tendínea [1]. A frequência de movimentos articulares pode aumentar a flexibilidade em uma determinada articulação ou em um determinado grupo de articulações [2]. Apesar de estar bem estabelecida a relação entre a prática esportiva e a flexibilidade, os resultados encontrados na literatura sobre o aumento ou diminuição da flexibilidade ainda são controversos. Baltaci et al (2001) compararam as ADMs de rotação externa dos ombros dominantes e não dominantes de atletas de beisebol, encontrando maior ADM de rotação externa no membro dominante [3]. Brown et al (1988) também verificaram uma maior ADM de rotação externa do ombro dominante de atletas de beisebol, quando comparada à do membro não dominante [4]. No entanto, Ellenbecker et al (2002) compararam a flexibilidade do ombro em atletas de tennis e beisebol e não encontraram diferença na rotação externa de ombro entre membro dominante e não dominante nos dois grupos de atletas. Nos atletas de tênis, houve menor ADM de rotação total de ombro [5]. Por outro lado, algumas modalidades esportivas dependem de uma boa flexibilidade para o bom rendimento do atleta. Estudos com diferentes esportes, como o balé, o futebol, o halterofilismo, o tênis e a natação demonstram a influência da flexibilidade no sucesso da prática esportiva e na excelência do atleta [2]. A flexibilidade é um importante componente da aptidão física e está relacionada à saúde e ao desempenho atlético, sendo um fator importante, na prevenção e na reabilitação de lesões [6,7]. Existem diferentes determinantes da flexibilidade, que podem ser influenciados por fatores neurofisiológicos [2] e biomecânicos [2,8] Sabendo-se que há uma associação entre a flexibilidade e a prática esportiva, o objetivo deste estudo foi comparar, através de medidas fotogramétricas, a flexibilidade passiva e ativa de flexão e de rotação externa de ombro entre sedentárias, jogadoras de handebol e jogadoras de voleibol. Casuísica e Métodos Sujeitos: Participaram do estudo 60 voluntárias, do sexo feminino, todas com 16 anos de idade. O critérios de inclusão foi: Possuir 16 anos de idade. O critérios de exclusão foi: História prévia de qualquer desordem de origem músculo-esquelética nas articulações avaliadas. As voluntárias foram distribuídas em três grupos, de acordo com a prática esportiva: grupo 1 – sedentárias (n=15); grupo 2 – atletas de voleibol (n=15); grupo 3 – atletas de handebol (n=15). O grupo 1 (sedentárias) foi constituído por alunas do ensino médio da Escola Municipal Afonso Pena, localizada no município de Betim. O grupo 2 foi constituído por atletas da equipe juvenil de voleibol do Mackenzie Esporte Clube, localizado no município de Belo Horizonte. O grupo 3 foi constituído por atletas da equipe juvenil de handebol do Teuto Esporte Clube, localizado no município de Betim. Todas as voluntárias e um de seus responsáveis legais assinaram um termo de consentimento, contendo informações sobre os procedimentos a serem adotados na pesquisa. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com Equipamentos: Para a avaliação fotogramétrica da ADM articular, antes e após cada procedimento, foi utilizada uma câmera fotográfica digital da marca Sony®, modelo Cybershot DSC-P72 , para a realização do registro fotográfico do membro superior a ser avaliado. A análise de cada fotografia obtida foi feita através do programa ALCimagem®. Procedimentos: A ADM de flexão de punho foi medida através do ângulo da articulação rádio-cárpica no plano sagital durante a sua flexão. A flexão ativa era realizada uma única vez e a ADM máxima atingida era registrada fotograficamente. A voluntária era orientada a realizar uma flexão de punho com a maior força possível. A flexão ativa era realizada pelo examinador uma única vez e a ADM máxima atingida era registrada fotograficamente. Durante a movimentação, a voluntária era orientada a relaxar o punho enquanto o examinador realizava uma flexão de punho até o final da ADM passiva, sem provocar dor durante o movimento. A ADM de rotação externa de ombro foi medida a 90 graus de abdução e adução horizontal de ombro, através do ângulo formado entre o antebraço e a horizontal. Os procedimentos utilizados para a medida da ADM passiva e da ADM ativa de rotação externa de ombro foram os mesmos utilizados para a flexão de punho. Todas as movimentações passivas foram feitas por apenas um examinador. Para a realização do registro fotográfico da flexão de punho, as voluntárias eram posicionadas assentadas, com os cotovelos flexionados a 90 graus e as articulações rádio-ulnares proximal e distal posicionadas em neutro. Adesivos reflexivos eram fixados nos seguintes pontos anatômicos para a realização das medidas: Processo estilóide da ulna, centro do olecrano e cabeça do quinto osso metacarpeano, como ilustrado na Figura 1. Figura 1: Alocação dos marcadores e segmentos de retas que formam o ângulo de flexão de punho. Para o registro fotográfico da rotação externa de ombro, eram utilizadas as mesmas marcações: processo estilóide da ulna e centro do olécrano. Uma linha horizontal era traçada no programa ALCimagem®. O ângulo considerado para a medida da rotação externa do ombro era formado pela linha do antebraço e pela linha horizontal previamente traçada, conforme ilustrado na Figura 2. Figura 2: Alocação dos marcadores e segmentos de retas que formam o ângulo de rotação externa de ombro. Após o registro fotográfico, as imagens eram transmitidas a um computador, convertidas em formato bitmap e analisadas no programa de análise angular ALCimagem®, conforme ilustrado na Figura 3. Figura 3: Análise do ângulo de flexão de punho através do programa ALCimagem®. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 0 20 40 60 80 100 120 140 FLEXÃO ATIVA FLEXÃO PASSIVA A D M de fle xã o de pu nh o em gr au s Sedentárias Handebol Voleibol * * Resultados Os valores das médias de flexibilidade de flexão ativa e passiva de punho em cada grupo estão representadas na Tabela 1 e na Figura1. Tabela 1: Valores das médias (MA)e desvios padrão (DP) de flexão ativa e passiva de punho. Grupo Ativa Passiva MA 95,886 103,601Sedentárias DP 7,080 10,241 MA 82,930 94,623Handebol DP 10,033 8,144 MA 93,495 110,985Voleibol DP 9,4821 7,878 Figura 1: Valores das médias de flexibilidade ativa e passiva de flexão de punho. Houve diferença significativa entre as atletas de handebol e os outros grupos. A análise de variância ANOVA mostrou diferença significativa entre as médias de flexibilidade dos grupos, tanto na flexão ativa (p = 0,000) quanto na flexão passiva (p = 0,000) de punho. O Post Hoc Tukey indicou diferença entre o grupo de handebol e os outros grupos (p < 0,05). Os valores das médias de flexibilidade de rotação externa ativa e passiva de ombro em cada grupo estão representadas na Tabela 2 e na Figura2. Tabela 2: Valores das médias (MA) e desvios padrão (DP) de rotação externa ativa e passiva de ombro. Grupo Ativa Passiva MA 116,201 126,739Sedentárias DP 11,381 14,395 MA 104,467 113,591Handebol DP 7,322 9,086 MA 113,903 133,721Voleibol DP 12,732 9,485 0 20 40 60 80 100 120 140 160 ROTAÇÃO ATIVA ROTAÇÃO PASSIVA A D M de ro ta çã o ex te rn a de om br o em gr au s Sedentárias Handebol Voleibol * * Figura 2: Valores das médias de flexibilidade ativa e passiva de rotação externa de ombro. Houve diferença significativa entre as atletas de handebol e os outros grupos. A análise de variância ANOVA indicou diferença significativa entre as médias de flexibilidade dos grupos, tanto na rotação externa ativa (p = 0,014) quanto na rotação externa passiva (p = 0,000) de ombro. O Post Hoc Tukey indicou diferença entre o grupo de handebol e os outros grupos (p < 0,05). As médias das diferenças entre flexão de punho ativa e passiva estão representadas na Figura 3. 0 5 10 15 20 25 1 D ife re nç a de A D M de fle xã o de pu nh o em gr au s Sedentárias Handebol Voleibol * Figura 3: Diferenças entre as médias de flexibilidade ativa e passiva de flexão de punho. Houve diferença significativa entre as atletas de voleibol e os outros grupos. A análise de variância ANOVA indicou diferença significativa entre as médias de flexibilidade de flexão ativa e passiva de punho (p = 0,000). O Post Hoc Tukey indicou diferença entre o grupo de voleibol e os outros grupos (p < 0,05). As médias das diferenças entre rotação externa de ombro ativa e passiva estão representadas na Figura 4. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 0 5 10 15 20 25 30 1 D ife re nç a de A D M de ro ta çã o ex te rn a de om br o em gr au s Sedentárias Handebol Voleibol * Figura 4: Diferenças entre as médias de flexibilidade ativa e passiva de rotação externa de ombro. Houve diferença significativa entre as atletas de voleibol e os outros grupos. A análise de variância ANOVA indicou diferença significativa entre as médias de flexibilidade de rotação externa ativa e passiva de ombro (p = 0,000). O Post Hoc Tukey indicou diferença entre o grupo de voleibol e os outros grupos (p < 0,05). Discussão Por não haver estudos comparando a flexibilidade de determinadas articulações intergrupo e intragrupo, não se pode comparar os resultados obtidos com estudos anteriores. Com relação à influência da prática esportva na flexibilidade, os resultados sugerem que a modalidade esportiva realmente influencia na flexibilidade articular, concordando com a literatura. Comparando-se as médias de flexibilidade ativa e passiva de flexão de punho e de rotação externa de ombro entre os grupos, percebe-se que o grupo de atletas de handebol possui uma ADM menor do que os outros grupos em todos os movimentos das duas articulações. Tal resultado foi inesperado, afinal, o handebol é um esporte que envolve uma grande frequência de movimentos de flexão de punho e de rotação externa de ombro, o que deveria, teoricamente, aumentar a flexibilidade destes movimentos nestas articulações. No entanto, o handebol envolve a preensão da bola e uma maior necessidade de co-contração de flexores e extensores de punho, para segurar a bola, o que poderia aumentar a rigidez articular e diminuir a ADM de flexão de punho, ao contrário do voleibol, que envolve mais atividades de lançamento. Na articulação do ombro, rotadores internos e externos também têm que agir conjuntamente, a fim de manter uma boa congruência da articulação gleno-umeral durante atividades sustentadas que envolvem contrações isométricas. Enquanto o voleibol envolve atividade concêntrica intensa de rotadores internos de ombro e atividade excêntrica intensa da rotadores externos, o handebol envolve mais atividades isométricas, o que poderia aumentar a rigidez articular, diminuindo a flexibilidade. A comparação entre as médias de flexibilidade ativa e passiva de flexão de punho aponta para uma maior diferença entre a flexibilidade ativa e passiva nos grupos de atletas de voleibol e de sedentárias. Tal fato concorda com a literatura, afinal, a maior frequência de movimentos leva a um alongamento dos tecidos periarticulares. Especulando-se, é possível que o aumento da força muscular nas atletas de voleibol não acompanhe o aumento de flexibilidade, provocado pela repetição de movimentos. Talvez seja por isso que a diferença entre a flexibilidade passiva e ativa seja maior do que nos outros grupos. O mesmo comportamento é observado na articulação do ombro destas atletas. Caso a força muscular dos músculos flexores e extensores de punho e dos músculos rotadores internos e eternos de ombro fosse mensurada em cada um dos grupos, poderíamos encontrar uma correlação entre força e flexibilidade, o que auxiliaria na compreensão dos fenômenos encontrados, principalmente das diferenças encontradas durante os movimentos ativos.. Conclusão A modalidade esportiva praticada influencia na flexibilidade articular dos membros superiores. Atletas de handebol possuem uma menor flexibilidade ativa e passiva de flexão de punho quando comparadas a atletas de voleibol e a sedentárias. Atletas de voleibol possuem uma maior diferença entre flexibilidade ativa e passiva, quando comparadas a atletas de handebol e a sedentárias. São necessários estudos comprando a influência da força muscular da musculatura antagonista na flexibilidade ativa. Agradecimentos À diretoria da Escola Municipal Afonso Pena, do Mackenzie Esporte Clube e do Teuto Esporte Clube pelo apoio oferecido durante a coleta de dados. Referências [1] CHANDLER TJ, KIBLER WB, UHL, TL, WOOTEN B, KISER A, STONE E. “Flexibility comparisons of junior elite tennis players to other athltes.” American Journal of Sports Medicine.. 18(2):134-36, 1990. [2] ALTER, MJ. Ciência da Flexibilidade. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. [3] BALTACI G, JOHNSON R, KOHL H. “Shoulder range of motion characteristics in collegiate baseball players.” Sports Med Phys Fitness. 41(2):236-42, 2001. [4] BROWN LP, NIEHUES SL, HARRAH A, YAVORSKY P, HIRSHMAN HP. “Upper extremity range of motion and isokinetic strength PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com of the internal and external shoulder rotators in major league baseball players.” American Journal of Sports Medicine. 16(6):577-85, 1988. [5] ELLENBECKER TS, ROETERT EP, BAILIE DS, DAVIES GJ, BROWN SW. “Glenohumeral joint total rotation range of motion in elite tennis players and baseball pitchers.” Med Sci Sports Exerc. 34(12):2052-6, 2002. [6] HAWKINS, R. D.; FULLER, C. W. “A preliminary assessment of professional footballers’ awareness of injury prevention strategies”, British Journal of Sports Medicine. 32:140-43, 1998.[7] INKLAAR, H. “Soccer injuries II: Etiology and prevention”. Sports Medicine. 18(2):81-93, 1994. [8] TAYLOR DC, DALTON JD JR, SEABER AV, GARRETT WE JR. “Experimental muscle strain injury. Early functional and structural deficits and the increased risk for reinjury.” The American Journal of Sports Medicine. 21(2):190-94, 1993. e-mail dos autores: guhoffmann@yahoo.com.br PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
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