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Estado, Governo e Sociedade - Bobbio

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DISCIPLINA: Ciência Política e Teoria Geral do Estado				
Professora: Drª Leila Bijos
AULA 01
ANÁLISE DO ESTADO, GOVERNO E SOCIEDADE
E TEORIA GERAL DA POLÍTICA
							Norberto BOBBIO
 O ESTADO
Ao estudarmos o Direito precisamos nos ater ao conteúdo, à reflexão e ao estudo principal das leis gerais que regem o mundo (origem do mundo e as causas das transformações na Natureza), que teve em Sócrates um de seus mais importantes expoentes.
É de suma importância ter em mente que o direito ocidental é filho das experiências republicanas das cidades-Estado mediterrânicas antigas, habitadas por povos que não eram regidos pela pacificação, mas pelas conquistas, que consideravam como inimigos os demais Estados. Essa postura beligerante contribuiu para o isoladamente das nações e dificultou o desenvolvimento do direito internacional. 
Verificando-se registros históricos no presente período, encontrou-se o tratado celebrado entre as cidades-estados de Lagash e de Umma da Mesopotâmia, o qual versava sobre a paz e o estabelecimento de fronteiras e de uma espécie rudimentar de arbitragem internacional conforme explica Gama.�
O direito surge na polis grega e desenvolve-se diferentemente na civitas romana, conforme as peculiaridades políticas das culturas helênica e romana. Radicalmente, devemos dizer que o direito é filho da polis, na qual se viveu uma experiência intelectual, política e jurídica que alterou completamente, na história, os modelos de relação entre o poder constituído no Estado e a população por este governada.�
Cerqueira ressalta em sua obra que “[...Há aproximadamente quatro milênios, surgiam na Mesopotâmia os primeiros “códigos”� de leis da humanidade, notadamente as Leis de Eshnunna e o Código de Hammurábi.� Seu conteúdo normativo, apesar de traduzir o esforço de legitimação da autoridade real numa tarefa de regulamentação das relações sociais, buscando promover o que na cultura de então era considerado “justo”, revela-nos um conjunto de leis e de instituições jurídicas marcadamente distintas daquelas que se desenvolverão na polis grega, passados onze a doze séculos.
O direito grego avança pari passu com a evolução da cidadania. É um dos elementos fundamentais da politeía – a constituição legal das póleis, que em algumas cidades, como Atenas, vai resultar na instituição de um regime democrático. A base de sustentação do que hoje entendemos como democracia ateniense estava no modelo jurídico que lá se desenvolvera. Precisamos entender, então, a relação entre os regimes políticos e as instituições jurídicas, entre o pensamento político e o pensamento jurídico, haja vista serem instâncias inseparáveis no Mediterrâneo Antigo. ”�
1.1 Política na acepção clássica e moderna
	Como discutimos política no nosso dia-a-dia, vamos analisar etimologicamente a origem da palavra, que é derivada do adjetivo de pólis (politikós), significando tudo aquilo que se refere à cidade, e portanto ao cidadão, civil, público e também sociável e social. O termo “política” nos foi transmitido por influência da grande obra de Aristóteles, intitulada Política, que deve ser considerada o primeiro tratado sobre a natureza, as funções, as divisões do Estado, e sobre as várias formas de governo, predominantemente no significado de arte ou ciência do governo, isto é, de reflexão, não importa se com intenções meramente descritivas ou também prescritivas, conforme explicitado por Bobbio.� A política para Aristóteles tem precipuamente como objeto a felicidade humana e divide-se em ética (que se preocupa com a felicidade individual do homem na pólis) e na política propriamente dita (que se preocupa com a felicidade coletiva da pólis). 
	“Durante séculos, o termo “política” foi empregado predominantemente para indicar obras dedicadas ao estudo daquela esfera de atividade humana que de algum modo faz referência às coisas do Estado: Politica methodice digesta, só para dar um célebre exemplo é o título da obra através da qual Johannes Althusius (1603) expôs uma teoria da “consociatio publica” (o Estado no sentido moderno da palavra), compreendendo em seu seio várias formas de “consociationes” menores”, essas associações eram imprescindíveis para a celebração da paz.
	Rezek apresenta um importante registro da celebração de um tratado bilateral estabelecido em 1291 a.C. que estabelece a paz entre Hatusil III, rei dos hitistas e Ramsés II, faraó egípcio da XIXª dinastia. O tratado colocava fim à guerra nas terras sírias entre 1280 a 1272 a.C., estipulando a paz perpétua entre os dois povos, com previsões de aliança entre contra inimigos, comércio, migrações e extradições.�
	Na Ásia existem vários tratados celebrados entre egípcios, hititas, babilônios e assírios. Na Índia e na China pode ser citado o Código de Manu ou o direito internacional de Manu, de 100 anos a.C. que prevê as primeiras normas sobre a humanidade em tempo de guerra. No código em apreço vários dispositivos de proibição foram inseridos, dentre eles: (i) que o soldado inimigo fosse surpreendido dormindo ou desarmando; (ii) a destruição de plantações ou de moradias; (iii) o ataque aos agricultores. Ademais, em 519 a.C. houve a união dos Estados chineses configurando-se uma organização internacional.
	Depois do período da Antiguidade, duas civilizações importantes para o direito internacional foram a Grega e a Romana. Bellini (1958) explica que no século VIII a.C. já estavam organizados em cidades-estados com atributos de soberania, com divisão de pequenas unidades políticas independentes com relações com o mundo exterior, com a celebração de tratados que viabilizassem, dentre outros aspectos, a expansão do comércio. Na civilização romana, os tratados possuíam as seguintes bases: (i) a desigualdade, visto que é um mecanismo de submeter o adversário à Roma; (ii) o princípio do pacta sunt servanda que determinava que os pactos devem ser cumpridos; (iii) a boa-fé que se alcançaria apenas os adversários.� 
	As alianças tornaram-se imperiosas nas diversas cidades-estados, a fim de garantir a harmonia entre os Estados, desenvolver práticas comerciais, que garantissem a necessidade de consumo das nações. A população participava da celebração dos tratados que eram submetidos em praça pública, na ágora, à aprovação dos cidadãos, principalmente no que tangia à guerra e à paz, mas visando a formação de alianças. 
As representações políticas marcaram o regime republicano na Itália. Em Roma, os representantes do povo participavam de decisões que envolviam relações internacionais, firmadas depois que as assembléias – as commitia centuriata estabelecidas no período denominado como republicano, analisavam os tratados, as declarações de guerra e o estabelecimento da harmonia social. 
Em análise seminal de Bobbio, esse contexto político, que foi utilizado no passado por Aristóteles, perdeu o seu significado original, tendo sido paulatinamente substituído por outras expressões tais como “ciência do Estado”, “doutrina do Estado”, “ciência política”, “filosofia política” etc., para enfim ser habitualmente empregado para indicar a atividade ou o conjunto de atividades que têm de algum modo, como termo de referência, a pólis, isto é, o Estado. Dessa atividade a pólis ora é o sujeito, donde pertencem à esfera da política atos como o de comandar (ou proibir) algo, com efeitos vinculantes para todos os membros de um determinado grupo social, o exercício de um domínio exclusivo sobre um determinado território, o de legislar com normas válidas erga omnes, o de extrair e distribuir recursos de um setor para outro da sociedade e assim por diante; ora objeto, donde pertencem à esfera da política ações tais como conquistar, manter, defender, ampliar, reforçar, abater, derrubar o poder estatal etc. Prova disso é que obras que continuam a tradição do tratado aristotélico recebem por título, no século XIX, Filosofia do Direito (Hegel, 1821), Sistema da Ciência do Estado (Lorenz von Stern, 1852-56), Elementos de Ciência Política (Mosca, 1896), Doutrina Geral do Estado(Georg Jellinek, 1900). Conserva em parte o significado tradicional a pequena obra de Croce, Elementi di Politica (Elementos de política) [1925], na qual “política” conserva o significado de reflexão sobre a atividade política, e, portanto, está no lugar de “elementos de filosofia política” (Bobbio, 2002: 160). 
 1.2 Direito Público e Direito Privado
	A dupla de termos público/privado fez seu ingresso na história do pensamento político e social do Ocidente. Depois, através do uso constante e contínuo, sem substanciais modificações, terminou por se tornar uma daquelas “grandes dicotomias” das quais uma ou mais disciplinas, neste caso não apenas as disciplinas jurídicas, mas também as sociais e em geral históricas, servem-se para delimitar, representar, ordenar o próprio campo de investigação, como por exemplo, para ficar no âmbito das ciências sociais, paz/guerra, democracia/autocracia, sociedade/comunidade, estado de natureza/estado civil.
	Bobbio� ressalta que, 
“nos encontramos diante de uma distinção da qual se pode demonstrar a capacidade:
de dividir um universo em duas esferas, conjuntamente exaustivas, no sentido de que todos os entes daquele universo nelas tenham lugar, sem nenhuma exclusão, e reciprocamente exclusivas, no sentido de que um ente compreendido na primeira não pode ser contemporaneamente compreendido na segunda;
de estabelecer uma divisão que é ao mesmo tempo total, enquanto todos os entes aos quais atualmente e potencialmente a disciplina se refere devem nela ter lugar, e principal, enquanto tende a fazer convergir em sua direção outras dicotomias que se tornam, em relação a ela, secundárias”. 
	- Mas afinal, o que é Direito Público?
	- O que é Direito Privado?
	- Quais são as esferas de cada um deles?
	A assertiva de Bobbio vai levar-nos para a seguinte conceituação:
 
“Sejam quais forem a origem da distinção e o momento de seu nascimento, a dicotomia clássica entre direito privado e direito público reflete a situação de um grupo social no qual já ocorreu a diferenciação entre aquilo que pertence ao grupo enquanto tal, à coletividade, e aquilo que pertence aos membros singulares; ou, mais em geral, entre a sociedade global e eventuais grupos menores (como a família), ou ainda entre um poder central superior e os poderes periféricos inferiores que, com relação àquele, gozam de uma autonomia apenas relativa, quando dele não dependem totalmente.” (BOBBIO,1987: 15).
 
	O foco da análise baliza-se na “originária diferenciação entre o direito público e o privado”, que deve ser “acompanhada pela afirmação da supremacia do primeiro sobre o segundo, como é atestado por um dos princípios fundamentais que regem todo o ordenamento em que vigora a grande divisão – o princípio segundo o qual ius publicum privatorum pactis mutari non potest ou privatorum conventio iuri publico non derogat”. 
	Nossa análise adentra o cerne da interpretação da divisão das duas esferas, a fim de definirmos o critério fundamental do Direito Público e do Direito Privado. 
	O critério fundamental do Direito Público e do Direito Privado permanece sendo aquele dos diversos sujeitos a que se pode referir a noção geral de utilitas: ao lado de singulorum utilitas da definição citada, não se deve esquecer a célebre definição ciceroniana de res publica, segundo a qual essa é uma “coisa do povo” desde que por povo se entenda não uma agregação qualquer de homens, mas uma sociedade mantida junta, mais que por um vínculo jurídico, pela utilitatis comunione [De re publica, I, 41, 48]. 
	É preciso que nos reportemos ao passado para lembrarmos-nos da existência de um díptico: direito público/direito privado.
	A concepção do direito partia de uma ordem natural, anterior e superior ao Estado. No entanto, a atenção dos juristas se concentrou inteiramente sobre o direito privado: se ocupar do direito público parecia ao mesmo tempo perigoso e inútil.�
	Exemplificaremos o contexto romano: em Roma não existiu nem direito constitucional, nem direito administrativo; o direito penal se desenvolveu somente na medida em que visava, em geral, regular as relações entre particulares (o autor da infração e sua vítima, ou suas famílias) e porque não estava, em conseqüência, plenamente no domínio do direito público. 
Na concepção de (David, 2002: 93), o direito público surgiu em função das doutrinas que postulavam o primado da razão e afirmavam a existência de “direitos naturais”, que triunfaram, acarretando o estabelecimento de governos democráticos. De forma que era o Estado, não mais governado por monarcas, que deveria ser capaz de garantir os “direitos naturais” contra os abusos do poder. Essas idéias e tendências se manifestaram no plano filosófico ou político, recebendo a influência de Montesquieu e de Rousseau. Essa dupla necessidade se tornou mais premente no século XX, quando o Estado-Polícia do passado deu lugar a um Estado-Providência, desejoso de criar uma sociedade nova, que fizesse face a tarefas cada vez mais numerosas. 
	A partir desse momento, colocou-se o problema de saber como disciplinar e controlar as múltiplas atividades, que naturalmente levam ao exercício de um certo poder discricionário. 
Vamos conceituar discricionariedade como a aplicação do direito público, que exige um alto nível de espírito cívico. Ela não se concebe senão quando a opinião pública exige que os membros do governo e os administradores se submetam a uma disciplina e a um controle, e supõe que os administradores vejam os administrados como cidadãos e não como súditos. Nesse sentido, o desenvolvimento social e econômico do país impôs a administração da propriedade, das profissões, das licenças, assim como a conciliação destas atividades com os princípios de liberdade e de igualdade. Surgiu, então o direito de propriedade que regulamenta as profissões, outorga licenças, concede favores etc.
- Surge o questionamento: como, sem parar a administração, obrigá-la a tomar em consideração os interesses privados que a própria Constituição freqüentemente lhe manda respeitar?
Surgem problemas novos que se parecem mais como uma nova ciência administrativa, que ao direito. Perguntamo-nos:
- Como fazer com que os tribunais instituídos pelo Estado, e decidindo em seu nome, sejam suficientemente independentes do poder político e, por outro lado, conseguir que a administração aceite se submeter a estas jurisdições e a executar as decisões tomadas por elas?
A aplicação do direito público exige um alto nível de espírito cívico, devido à sua fragilidade, como bem explicitado por David,� que elenca o desenvolvimento do direito, na sua concepção de direito administrativo, conforme tópico a seguir.
1.3 Fragilidade do Direito Público
Direito administrativo: A França é um dos países, na família romano-germânica, em que o direito administrativo atingiu o seu mais alto grau de desenvolvimento. A obra realizada pelo Conselho de Estado francês foi admirada e tomada como modelo por numerosos Estados, e os próprios juristas ingleses lhe rendem homenagem. Entretanto, são percebidas imperfeições, principalmente no que diz respeito aos tribunais, uma vez que o Conselho de Estado não quer exercer o seu controle sobre a polícia judiciária. Por outro lado, outros poderes são concedidos às autoridades policiais para prender indivíduos suspeitos de atividades que estão mal e muito pouco definidas. Na ausência de um direito que ele possa invocar ou de erro cometido em seu prejuízo, o contribuinte pode, assim, transigir com a administração ou exigir que esta lhe conceda uma redução, tendo em conta a sua situação particular. Os tribunais administrativos na França não se reconhecem o poder de dar ordens à administração, eles se limitam a anular os atos ilegais que puderam ser executados, e a reconhecer o direito dos particulares de receberem uma indenização. Há de se ressaltar também, a lentidão das decisões tomadas pelos tribunais administrativos que resultaram no enfraquecimento do direito administrativo.�1.4 Diferentes Ramos do Direito
No direito público como no direito privado encontram-se, em todos os países da família romano-germânica, os mesmos ramos fundamentais: direito constitucional, direito administrativo, direito internacional público, direito criminal, direito processual, direito civil e direito comercial, assim como o direito do trabalho.
A ciência do direito na Europa continental foi sedimentada nos mesmos ensinamentos, com base no direito romano e no direito canônico. Os métodos usados para ensinar esta ciência e para acomodá-la às necessidades da prática diferiram em função das épocas ou dos países; porém, o vocabulário usado foi sempre o mesmo e serviu para exprimir as mesmas idéias. 
1.5 O Direito Privado
 	 
	- Em que medida o direito privado dos diferentes países, pertencentes à família romano-germânica, apresenta uma estrutura uniforme?
	Origem romana: os códigos civis
	O código civil francês foi buscar a regulamentação de certas instituições no direito canônico (casamento, filiação) e de outras no direito consuetudinário (regimes matrimoniais).
	Outras matérias: propriedade, sucessões, consagrando as idéias da Revolução. 
	Cada direito nacional apresenta, relativamente ao direito civil, uma originalidade que se manifesta pelas instituições que lhe são próprias. Existe um certo parentesco entre os diversos direitos: direito canônico e direito consuetudinário. Com os trâmites comerciais internacionais, os códigos se assentaram num direito consuetudinário, afetando o direito comercial, quer terrestre, quer marítimo. Os costumes comerciais surgiram e vigoraram na Idade Média, foram artificialmente aparentados ao direito romano na obra dos pós-glosadores; aceitos em toda a Europa, que foi o seu berço, foram recebidos como direito civil nos países do Oriente e do Extremo Oriente que pretenderam ligar-se à família romano-germânica, e constituem, com o direito propriamente civil das obrigações, um bloco que dá a este sistema uma grande importância, conferindo-lhe uma estrutura unitária em tudo o que se refere ao direito dos negócios� 
Direitos fundamentais de todos os países da família romano-germânica: 1) direito administrativo: regula o funcionamento. 2) tributário: financiamento. 3) Penal: convivência.
	O direito das obrigações constitui uma categoria fundamental em todos os direitos da família romano-germânica; na família common law o conceito de obrigações é desconhecido.
	A obrigação no sistema romano-germânico é o dever que incumbe a um indivíduo, o devedor, de dar, fazer ou não fazer qualquer coisa, em benefício de uma outra pessoa, o credor. Ex.: obrigação alimentar. No direito das obrigações estuda-se em que condições uma obrigação pode nascer, a que regime está submetida, quais são as conseqüências da sua não-execução, como pode transformar-se ou desaparecer. 
	O direito civil comercializou-se em todos os países economicamente desenvolvidos, a tal ponto que poucas regras ainda existem em que as obrigações comerciais sejam tratadas diferentemente das obrigações civis.
	As codificações nacionais fizeram perder, ao direito comercial o caráter internacional que o distinguia do direito civil.
1.6 As dicotomias correspondentes
	Vivemos numa sociedade dinâmica, cujos problemas surgem a cada momento, impelindo-nos a oferecer respostas imediatas para cada situação. Mas, afinal, quais são as características específicas do Estado contemporâneo? A nação moderna, na acepção de Poulantzas (1978) “é um produto do Estado”, conceito que não se aplica aos dias de hoje. O controle do Estado sobre o tempo e o espaço vem sendo sobrepujado pelos fluxos globais de capital, produtos, serviços, tecnologia, comunicação e informação.
	Percebe-se que o desafio a ser enfrentado é o da (re)construção da identidade nacional, que é composta por sujeitos autônomos, que transitam na órbita do governo e demandam, cada vez mais, a sua inserção nos meandros do poder. 
 	Para evitar a revolução das massas, o Estado cede às pressões da sociedade civil, para não afetar, em primeiro lugar, o sistema econômico. Razões fundamentadas no lucro e nos mercados de capitais, direcionam a ação do Estado para benefícios tidos como generosos, e permitem que um Estado de bem-estar social ainda ampare os trabalhadores, assegurando os níveis de produtividade e a qualidade da produção.
	Isso não quer dizer que não encontremos discrepâncias sociais no ordenamento de relações sociais, principalmente porque existe uma sociedade de iguais que convive bem de parte com uma sociedade de desiguais. 
	1.6.1 Pobreza e Exclusão Social
	O conjunto de informações de recebemos na atualidade apresentam temas como educação, trabalho, violência e desigualdade social, que mobilizam a sociedade, em particular, a juventude brasileira. O que se almeja é uma escola de melhor qualidade, ampliação dos espaços de lazer, acesso a bens culturais, maiores oportunidade profissionais, como demandas recorrentes, nesse contexto faz-se mister analisar a dicotomia público/privado numa sociedade formada por segmentos iguais e desiguais. 
A concepção de Bobbio mostra que, 
“Sendo o direito um ordenamento de relações sociais, a grande dicotomia público/privado duplica-se primeiramente na distinção de dois tipos de relações sociais: entre iguais e entre desiguais. O Estado, ou qualquer outra sociedade organizada onde existe uma esfera pública, não importa se total ou parcial, é caracterizada por relações de subordinação entre governantes e governados, ou melhor, entre detentores do poder de comando e destinatários do dever de obediência, que são relações entre desiguais; a sociedade natural tal como descrita pelos jusnaturalistas, ou a sociedade de mercado na idealização dos economistas clássicos, na medida em que são elevadas a modelo de uma esfera privada contraposta à esfera pública, são caracterizadas por relações entre iguais ou de coordenação”. 
A sociedade civil tem mobilizado o Estado para que atenda suas reivindicações, mas, em se tratando de uma sociedade de iguais e uma sociedade de desiguais, existe uma certa descrença pelas formas tradicionais de participação, principalmente no que concerne aos jovens, que não acreditam no fim precípuo da política, nem nos partidos. Até os sindicatos estão sendo questionados por suas ligações intrínsecas com a esfera privada e a esfera pública. 
Crescem, na atualidade, o número de movimentos culturais e de lutas por direitos específicos. Se a visão sobre a atuação da classe política e sobre a forma de fazer política é negativa, a maioria dos(as) jovens reconhece a importância do espaço político como instrumento capaz de alavancar mudanças no país. A despeito do fosso que separa essa sociedade de desiguais, principalmente o seguimento jovem, é necessário fundamentar as bases da família, unindo irmãos, parentes, amigos, cidadãos, hóspedes e, até inimigos, para que juntos reflitam e se comprometam com a construção de um país mais justo e solidário. 
 
 	Esse diálogo torna-se imprescindível, uma vez que visam subsidiar novas políticas públicas voltadas para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, em particular, dos(as) jovens, ampliando seus direitos. Pelos exemplos pode-se ver que as duas dicotomias – público/privado e sociedade de iguais sociedade de desiguais – não se superpõem por completo: a família pertence convencionalmente à esfera privada, e é superada por uma organização mais complexa, que é exatamente a cidade (no sentido aristotélico da palavra) ou o Estado (no sentido dos escritores políticos modernos); mas com respeito à diferença das duas sociedades, é uma sociedade de desiguais, embora seja possível encontrar a prova da pertinência convencional da família à esfera privada no fato de que o direito público europeu que acompanha a formação do Estado constitucional moderno considerou como privatistas as concepções patriarcalistas, paternalistas ou despóticas do poder soberano, que assimilam o Estado a uma famíliaampliada ou atribuem ao soberano os mesmos poderes que pertencem ao patriarca, ao pai ou ao patrão, senhores por vários títulos e com diversa força da sociedade familiar. De outra parte, a relação entre inimigos – que Vico considera o âmbito das relações entre iguais (de resto corretamente, pois a sociedade internacional é abstratamente considerada como uma sociedade de entes formalmente iguais ao ponto de ter sido assimilada de Hobbes a Hegel, ao estado de natureza) é inserida habitualmente na esfera do direito público, mas do direito público externo, que regula as relações entre estados, e não do direito público interno, regulador das relações entre governantes e governados de um mesmo Estado.� 
	Com o nascimento da economia política, da qual deriva a diferenciação entre a esfera das relações internacionais e a esfera das relações políticas, entendidas as relações econômicas como relações substancialmente de desiguais por efeito da divisão do trabalho mas formalmente iguais no mercado, a dicotomia público/privado volta a se apresentar sob a forma de distinção entre sociedade política (ou de desiguais) e sociedade econômica (ou de iguais), ou do ponto de vista do sujeito característico de ambas, entre a sociedade do citoen que atende ao interesse público e a sociedade do bourgeois que cuida dos próprios interesses privados em concorrência ou em colaboração com outros indivíduos. Por detrás da distinção entre esfera econômica e esfera política reaparece a antiga distinção entre a singulorum utilitas e o status rei publicae, com a qual aparecera pela primeira vez a distinção entre a esfera do privado e a do público.
	Nesse sentido, vemos a recomposição da distinção jusnaturalista entre estado de natureza e estado civil, através do nascimento da economia política, da distinção entre sociedade econômica (e enquanto tal não política) e sociedade política; posteriormente, entre sociedade civil (entendida hegelianamente, ou melhor, marxianamente, como sistema das necessidades) e estado político: donde então se deve notar que a linha de separação entre estado de natureza, esfera econômica, sociedade civil, de um lado, e estado civil, esfera política, estado político, de outro, passa sempre entre sociedade de iguais (ao menos formalmente) e sociedade de desiguais.�
	Essa sociedade se fortalece em suas ideologias nacionalistas, demonstram seu vigor no mundo todo, derrubam muros, destituem soberanos, em suma, manifestam-se sob as mais diversas formas, uma vez que a percepção dos problemas redunda na capacidade de escuta e no fortalecimento de canais que auxiliam a promoção da cidadania. Frente a este poder, a tendência é acentuada pelos elos econômicos, em virtude da crescente transnacionalização da produção e seu impacto na vida dos cidadãos. As leis e contratos passam pelo escrutínio da mídia e dos sistemas de comunicações.
	Ao enfrentar os desafios da globalização, o Estado depara-se com a não-exclusividade da propriedade, com a flexibilidade e capacidade de penetração da tecnologia, além da diversidade da mídia. Num passado recente, o Estado controlava a maior parte das redes de televisão, as estações de rádio, e os jornais só funcionavam sob a chancela das autoridades estatais que regulavam as notícias. Hoje, é quase impossível exercer controle absoluto sobre a mídia eletrônica. 
As redes de televisão no mundo todo, até mesmo nos Estados Unidos, monopolizam a audiência e influenciam na opinião pública. Pode-se dizer que formam a opinião pública, exercem controle sobre satélites que emitem sinais de comunicação via computador por meio da linha telefônica, e acabam por destruir as tradicionais bases de defesa da regulamentação. Na verdade, trata-se de um poder de transmissão e difusão de informações sem precedentes, que exerceu poder na década de 80 e continua exercendo poder na contemporaneidade. São poucos os países no mundo, dentre eles, China, Cingapura e o mundo islâmico fundamentalista, em que a estrutura institucional e comercial da mídia não tenha passado por mudanças drásticas nos últimos trinta anos.
Os sistemas de comunicações foram privatizados, com estações de rádio e televisão, assim como jornais, que funcionam em grandes consórcios que, na maioria das vezes recebem o apoio de grupos financeiros.
Vamos fazer uma análise teórica de Bobbio: 
Lei e contrato
- Como tratar do chamado “negócio jurídico”?
 
Bobbio (1987: 17) apresenta a distinção conceitual e historicamente relevante que flui para “a grande dicotomia no sentido técnico-jurídico do termo); isto é, respectivamente do direito público e do direito privado: a lei e o contrato”.
Numa passagem de Cícero que chega a ser um notável ponto de referência, está dito que o direito público consiste na lex, no senatus consultus e no foedus (o tratado internacional); o direito privado, nas tabulae, na pactum conventum e na stipulatio [Partitiones oratoriae, 37, 131].
- Qual é o critério de distinção entre direito público e privado? 
Na verdade, o critério de distinção entre direito público e privado é o diverso modo com o qual um e outro passam a existir enquanto conjunto de regras vinculatórias da conduta: o direito público é tal enquanto posto pela autoridade política, e assume a forma específica, sempre mais predominante com o passar do tempo, da “lei” no sentido moderno da palavra, isto é, de uma norma que é vinculatória porque posta pelo detentor do supremo poder (o soberano) e habitualmente reforçada pela coação (cujo exercício exclusivo pertence exatamente ao soberano); o direito privado ou, como seria mais exato dizer, o direito dos privados, é o conjunto das normas que os singulares estabelecem para regular suas recíprocas relações, as mais importantes das quais são as relações patrimoniais, mediante acordos bilaterais, cuja força vinculatória repousa primeiramente, e naturaliter, isto é, independentemente da regulamentação pública, sobre o princípio da reciprocidade (do ut des).
Bobbio ressalta que “a superposição das duas dicotomias, privado/público e contrato/lei, revela toda sua força explicativa na doutrina moderna do direito natural, pela qual o contrato é a forma típica com que os indivíduos singulares regulam suas relações no estado de natureza, isto é, no estado em que ainda não existe um poder público, enquanto a lei, definida habitualmente como a expressão mais alta do poder soberano (voluntas superioris), é a forma com a qual são reguladas as relações dos súditos entre si, e entre o Estado e os súditos, na sociedade civil, isto é, naquela sociedade que é mantida junta por uma autoridade superior aos indivíduos singulares. Kant vai analisar e convalidar esta contraposição entre estado de natureza e estado civil como contraposição entre esfera das livres relações contratuais e esfera das relações reguladas pela lei, no qual chega à conclusão o processo de identificação das duas grandes dicotomias da doutrina jurídica, direito privado/direito público de um lado, direito natural/direito positivo de outro: o direito privado ou dos privados é o direito do estado de natureza, cujos institutos fundamentais são a propriedade e o contrato; o direito público é o direito que emana do Estado, constituído sobre a supressão do estado de natureza, e portanto é o direito positivo no sentido próprio da palavra, o direito cuja força vinculatória deriva da possibilidade de que seja exercido em sua defesa o poder coativo pertencente de maneira exclusiva ao soberano.” (Bobbio, 1987: 18).
Contrato e lei: a contraposição entre direito privado e direito público passa através da distinção entre contrato e lei pode ser extraída da crítica que os escritores pós-jusnaturalistas (in primis Hegel) dirigem ao contratualismo dos jusnaturalistas, isto é, à doutrina que funda o Estado sobre o contrato social: para Hegel, um instituto de direito privado como o contrato não pode ser elevado a fundamento legítimo do Estado ao menos por duas razões, estreitamente ligadas à natureza mesma do vínculo contratual distinto dovínculo que deriva da lei: em primeiro lugar, porque o vínculo que une o Estado aos cidadão é permanente e irrevogável, enquanto o vínculo contratual é revogável pelas partes; em segundo lugar, porque o Estado pode pretender de seus cidadãos, embora em circunstâncias excepcionais, o sacrifício do bem maior, a vida, que é um bem contratualmente indisponível. Não por acaso para todos os críticos do jusnaturalismo o contratualismo é rejeitado enquanto concepção privatista (e por isso inadequada) do Estado, o qual, para Hegel, tira sua legitimidade, e assim o direito de comandar e de ser obedecido, ou do mero fato de representar numa determinada situação histórica o espírito do povo ou de se encarnar no homem do destino (o “herói” ou “o homem da história universal”), em ambos os casos numa força que transcende aquela que pode derivar do agregar-se e acordar-se de vontades individuais (Bobbio, 1987: 19).
Justiça comutativa e justiça distributiva
A terceira distinção que conflui na dicotomia público/privado, podendo iluminá-la e ser por ela iluminada, é a que diz respeito às duas formas clássicas da justiça: distributiva e comutativa. 
Justiça comutativa: é a que preside às trocas: sua pretensão fundamental é que as duas coisas que se trocam sejam, para que a troca possa ser considerada “justa”, de igual valor, donde num contrato comercial é justo o preço que corresponde ao valor da coisa comprada, no contrato de trabalho é justa a remuneração que corresponde à qualidade ou quantidade do trabalho realizado, no direito civil é justa a indenização que corresponde à dimensão do dano, no direito penal a justa pena é aquela na qual existe correspondência entre o malum actionis e o malum passionis. A diferença entre esses quatro casos típicos é que nos dois primeiros tem lugar a compensação de um bem com um outro bem, nos dois últimos de um mal com um outro mal.
Justiça distributiva: é aquela na qual se inspira a autoridade pública na distribuição de honras ou de obrigações: sua pretensão é que a cada um seja dado o que lhe cabe com base em critérios que podem mudar segundo a diversidade das situações objetivas, ou segundo os pontos de vista: os critérios mais comuns são “a cada um segundo o mérito”, “a cada um segundo a necessidade”, “a cada um segundo o trabalho”. Em outras palavras a justiça comutativa foi definida como a que tem lugar entre as partes, a distributiva como a que tem lugar entre o todo e as partes. Esta nova superposição entre esfera privada e afirmação da justiça comutativa de um lado, e esfera pública e afirmação da justiça distributiva de outro, ocorreu através da mediação da distinção, já mencionada, entre sociedade de iguais e sociedade de desiguais. Claro exemplo desta mediação é oferecido pelo próprio Vico, para quem justiça comutativa, por ele denominada de equatrix, regula as sociedades de iguais, enquanto a justiça distributiva, denominada rectrix, regula as sociedades de desiguais, como a família e o Estado [1720, cap. LXIII].
Casos-limite: a família e a sociedade internacional: a família, enquanto vive no âmbito do Estado, é um instituto do direito privado, mas é ao mesmo tempo uma sociedade de desiguais e está regida pela justiça distributiva; a sociedade internacional, que ao contrário é uma sociedade de iguais (formalmente) e está regida pela justiça comutativa, é habitualmente referida à esfera do público, pelo menos ratione subiecti, na medida em que os sujeitos da sociedade internacional são os Estados, os entes públicos por excelência (Bobbio, 1987: 20).
 
 
A TIPOLOGIA CLÁSSICA DE PODER
	“O conceito de política, entendida como forma de atividade ou práxis humana, está estreitamente ligado ao conceito de poder. O poder foi definido tradicionalmente como “consistente nos meios para se obter alguma vantagem” (Hobbes, Leviatã, cap. X) ou, de modo análogo, como “o conjunto dos meios que permitem conseguir os efeitos desejados” (Bertrand Russell, Power: A New Social Analysis). Sendo um desses meios o domínio sobre outros homens (além do domínio sobre a natureza), o poder é definido ora como uma relação entre dois sujeitos, na qual um impõe ao outro a própria vontade, determinando-se o seu, malgrado o comportamento: mas como o domínio sobre os homens não é geralmente fim em si mesmo, mas meio para se obter “alguma vantagem”, ou mais exatamente, “os efeitos desejados”, de modo não distinto do domínio sobre a natureza, a definição de poder como tipo de relação entre sujeitos deve ser integrada à definição de poder como a posse dos meios (dos quais os dois principais são o domínio sobre todos os outros homens e o domínio da natureza) que permitem obter, exatamente, “alguma vantagem”, ou os “efeitos desejados” (Bobbio, 2002: 160).
3. AS ORIGENS DO ESTADO. AS TEORIAS DO ESTADO. 
	Na análise histórica da Teoria do Estado Grega (Barker, 1978), há uma separação entre o indivíduo e o Estado, que é teoricamente condição necessária para a ciência política, que já tinha sido alcançada na prática, na “polis”; e o cidadão grego, embora completamente identificado com a sua cidade, tinha suficiente independência, e um momento de ação própria na vida comunitária que lhe permitiam comparar-se com ela, chegando assim a uma filosofia do seu valor. Em outras palavras, a cidade grega dependia de um princípio, inconsciente mas implícito, de coerência racional; e justamente porque este princípio nela existia implicitamente, tornava-se mais fácil à razão consciente aplicar-se à solução dos problemas da associação política.
	A existência da cidade-estado oferecia uma base para o pensamento político. Ao contrário dos estados do mundo oriental, ela não era estática; desenvolvia-se, e tinha conhecido um ciclo de transformações. Em todo o ecúmeno grego, Esparta era o único estado a manter uma tradição segura de continuidade ininterrupta de governo; nas outras cidades, tinha ocorrido um movimento quase que uniforme, da monarquia à aristocracia, da aristocracia à tirania; da tirania à democracia. Essas transformações devem ter influenciado de dois modos o desenvolvimento da teoria política. Primeiramente, pela acumulação de dados que se prestavam à investigação. Em lugar de um único tipo de constituição, havia uma sucessão histórica de modelos, sugerindo inevitavelmente a comparação e o debate�. É possível que o terceiro desses modelos promovesse ainda mais diretamente o progresso do pensamento político. A aristocracia havia resistido à democracia; e esta tinha de se manter defendendo-se das pressões da riqueza e da nobreza. Os nobres tinham perdido seus privilégios legais, mas mantinham ainda as vantagens sociais do berço e da riqueza. O desenvolvimento econômico da Grécia, que aumentou a riqueza do país, acrescentou também ao seu prestígio; a perda dos privilégios legais foi mais do que compensada pelo crescimento da sua influência social; e o homem comum, não obstante o princípio da igualdade jurídica, encontrava na prática a superioridade que a riqueza, o nascimento elevado e a cultura davam a alguns. Esta tensão se fazia sentir tanto na teoria como na vida quotidiana. Os poderosos discorriam com facilidade sobre o direito à propriedade e aos privilégios do berço: o homem comum precisava de uma resposta filosófica. Já se disse que a metafísica não seria necessária, se não houvesse a má metafísica. Da mesma forma pode-se dizer que a teoria política devia sua existência na Grécia, à necessidade de corrigir uma teoria em voga. O pensamento político começou com a tentativa do homem comum de argumentar contra as exigências do prestígio aristocrático. Do começo do sexto século ao fim do quarto – de Solon e Teognis a Platão e Aristóteles – o choque das razões dos aristocratas sábios e virtuosos contra os argumentos em defesa dos interesses do homem comum seria uma constante da vida intelectual helênica. Este debate deu à teoria política um impulso semelhante àquele com que as revoltas populares contra a monarquia produziram, ou pelo menos estimularam, teoriaspolíticas como a do Contrato Social. Devemos lembrar-nos, finalmente, de que a democracia é, em si, o governo pela discussão – governo “pela palavra”, em que as decisões são tomadas numa arena onde “uma idéia hábil devora as outras”. 
	3.1 A cidade-estado
	“A cidade-estado não era, pela sua própria natureza, uma instituição singular, mas múltipla. Em qualquer momento da história da Grécia vamos encontrar vários estados, não apenas coexistindo, mas em contato íntimo. Dada a variedade de interpretações do Estado, os homens eram obrigados a indagar qual o verdadeiro sentido da instituição. Eram forçados a perguntar o que era de fato um cidadão – já que os requisitos para a cidadania eram diferentes em Atenas, Tebas e Esparta. Uma questão, em particular, deve ter tido um encanto especial para os gregos: qual o melhor Estado? Qual das formas existentes está mais próxima da perfeição? Em que graus os outros estados dela se afastam? A necessidade de conceber um ideal era sentida com vivacidade devido justamente à variedade do real. O Estado ideal serviria como padrão pelo qual os estados existentes poderiam ser compreendidos e classificados. E esta busca de um ideal surgia naturalmente porque os diferentes estados apresentavam não apenas diferenças “constitucionais” – no sentido moderno do termo -, mas diferenças profundas, fundamentais, de caráter e finalidade moral�. A própria limitação da cidade-estado, e a conseqüente intimidade da sua vida pública, encorajava a formação e uma opinião local sobre o que era decente e próprio. Cada uma dessas pequenas cidades tinha a sua “tonalidade” (“ethos”); cada uma delas desenvolvera, no curso da história, um código de conduta que lhe era peculiar, fundado em sanções derivadas da opinião pública que o havia criado. Esta opinião, intensa e concentrada, recaía sobre cada indivíduo com um peso que hoje nos é difícil imaginar. Quando cada um conhecia os seus vizinhos (e esta é uma das condições que Aristóteles postula para uma cidade), e todos se preocupavam com o comportamento destes, era difícil resistir ao tom e ao costume que regiam a vida da cidade – esta personalidade moral, com caráter próprio. Como a oração fúnebre de Péricles bem demonstra, os cidadãos estavam conscientes da individualidade do seu estado, que comparavam com o caráter dos demais. E assim se desenvolvia a consciência política da Grécia. Cada um dos estados existentes tinha consciência de si como um todo, dotado de vida moral que ele próprio criara e sustentava, o que se expressava na concepção da auto-suficiência, cada estado pretendia autogovernar-se: a “autonomía” deriva inevitavelmente da “autárkeia”. “Do ponto de vista tradicional grego, o governo próprio e a auto-suficiência são termos quase intercambiáveis.” Não é surpreendente, portanto, que se começasse a discutir o valor de cada um dos tipos distintos de estado, e que a consciência da sua individualidade política levasse à reflexão.” (p. 23-26) 
BIBILIOGRAFIA
BARKER, Sir Ernest. Teoria política grega – Platão e seus Predecessores. Trad. De Sérgio Fernando Guarischi Bath., Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1978, cap. I. 
BELLINI, Piero. Il Regulamento delle relazioni internazionali nell ântico Oriente, em Archivio Giuridico, Vol. CLV, 1958.
BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade; por uma teoria geral da política (tradução Marco Aurélio Nogueira), 7ª edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987 (Coleção Pensamento Crítico, v. 69).	 
BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Política: a Filosofia Política e as Lições dos Clássicos (organizado por Michelangelo Bovero), São Paulo: Editora Campus, 2002.
	 
CERQUEIRA, Fábio Vergara. As Origens do Direito Ocidental na Pólis Grega.
DAVID, René. Os Grandes Sistemas do Direito Contemporâneo, 4ª. Ed, São Paulo: Martins Fontes, 2002.
GAMA, Ricardo Gonçalves. Introdução ao Direito Internacional, Campinas: Bookseller, 2002. 
REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 2007.
Universidade Católica De Brasília – Ucb
CURSO DE DIREITO
� É interessante verificar que, no quarto Milênio a.C. produziu-se na Mesopotâmia, o início dos primeiros centros urbanos da história da humanidade e aproximadamente em 1.500 a.C. já se pode afirmar que existia uma comunidade de nações no Oriente, mas os registros precisos quanto aos primeiros tratados não foram encontrados, uma vez que as tratativas eram verbais. Mas, o tratado entre Lagash e Umma, celebrado no ano de 3.000 a.C. no idioma sumérico, possui registro conservado em uma pedra. Para informações adicionais, ver: GAMA, Ricardo Gonçalves. Introdução ao Direito Internacional, Campinas: Bookseller, 2002. 
� Ver: CERQUEIRA, Fábio Vergara. As Origens do Direito Ocidental na Pólis Grega, p. 2. 
� A denominação “código” é utilizada pelos autores modernos por analogia a codificação jurídica herdada dos romanos, conforme a qual se organizaram os corpos legais modernos. Os conjuntos de leis conhecidos da Mesopotâmia antiga consistem menos em códigos sistemáticos e mais em coleções de leis agrupadas segundo critérios casuísticos.
�As “Leis de Eshnunna” estão registradas sobre as tábuas em cuneiforme IM 51.059 e IM 52.614, conservadas no Museu do Iraque; foram publicadas originalmente em 1948 pelo assiriólogo Albrecht Goetze e descobertas nas escavações de Tell Harmal. O “Código de Hammurabi” foi revelado pela estela cuneiforme conservada no Museu do Louvre, cujas principais edições foram as de Scheil e de Bergmann. O assiriólogo brasileiro Emanuel Bouzon realizou a tradução dos textos cuneiformes direto do acadiano para o português. Hamurabi. O Código de Hammurabi. (trad., introd. e comentários de Emanuel Bouzon), 3ª ed., Petrópolis: Vozes, 1980. 
� DAVID, René. Os Grandes Sistemas do Direito Contemporâneo, São Paulo, Martins Fontes, 4ª. Ed, 2002, p. 65.
� BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade; por uma teoria geral da política (tradução Marco Aurélio Nogueira), 7ª edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987 (Coleção Pensamento Crítico, v. 69), p. 159.	 
� REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 2007.
� Ver: BELLINI, Piero. Il Regulamento delle relazioni internazionali nell ântico Oriente, em Archivio Giuridico, Vol. CLV, 1958. 
� BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade; por uma teoria geral da política (tradução Marco Aurélio Nogueira), 7ª edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987 (Coleção Pensamento Crítico, v. 69), p. 13.	
� DAVID, René. Os Grandes Sistemas do Direito Contemporâneo, São Paulo, Martins Fontes, 4ª. Ed, 2002, p. 85.
� Idem, p. 87.
� Ibidem, p. 89.
� DAVID, René, op. cit., 2002, p. 91. 
� BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade; por uma teoria geral da política (tradução Marco Aurélio Nogueira), 7ª edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987 (Coleção Pensamento Crítico, v. 69), p. 16.	
� Idem, p. 17.
� A classificação das constituições, que implica inevitavelmente sua comparação, ocupa já a atenção de Herôdoto, e constitui um dos pontos básicos da investigação grega. In: Barker, Sir Ernest. A Teoria Política Grega, Ed. UnB, 1978, p. 23.
� Para Aristóteles essas diferenças mais profundas eram também constitucionais, porque a constituição representava o objetivo moral do Estado, a sua maneira de existir (“Bíos tis”). Ver: Barker, Sir Ernest. A Teoria Política Grega, Ed. UnB, 1978, p. 25.
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Leila Bijos – Uso exclusivo em sala de aula. A citação do texto em trabalhos acadêmicos é obrigatória.

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