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Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● MICROBIOLOGIA 1 www.medresumos.com.br MICRO-ORGANISMOS PATOGÊNICOS DE IMPORTÂNCIA EM ALIMENTOS São vários agentes causadores de doenças no homem que podem ser transmitidos pelos alimentos: produtos químicos e agrotóxicos (metais pesados, pesticidas, etc.); toxinas naturais de plantas e de animais (alcaloides, histaminas, etc.); vírus (hepatite, poliovírus etc.); parasitas (amebas, helmintos etc.); bactérias patogênicas; e fungos toxigênicos. Vê-se, então, que nem todos os agentes causadores de intoxicações alimentares são de origem racemosa, mas sim, de origem extremamente heterogênea, incluindo plantas e produtos químicos (como agrotóxicos) que podem apresentar efeitos carcinogênicos. Vegetais, inclusive, podem trazer elementos tóxicos ao organismo humano: vegetais ornamentais como o “comigo-ninguém-pode” e a “dama-da-noite” são plantas altamente tóxicas que podem levar a óbito por asfixia em poucas horas; as próprias plantas medicinais (como a babosa e a goiabeira) devem ser utilizadas com cautela: a babosa, por exemplo, apresenta uma substância denominada antraquinona que interfere diretamente na filtração glomerular. Já o chá da flor da goiabeira, utilizado como antidiarreico, deve ser produzido com não mais do que três “olhos” de flores da planta em água fervendo, caso contrário, seu efeito tóxico pode levar o indivíduo a óbito. Vírus, parasitas (helmintos) e fungos toxigênicos (como o Aspergillus flavus que cresce no milho e amendoim, responsável pela secreção de toxinas com capacidade carcinogênica hepática) podem ainda causar patologias ao ser humano. Neste capítulo, daremos ênfase às bactérias patogênicas responsáveis pela intoxicação alimentar. As contaminações alimentares ocorrem devido à presença e ação de micro-organismos que se proliferam em quantidades que se tornam prejudiciais à saúde do homem. Esses micro-organismos estão em todas as partes, inclusive no nosso corpo (nariz, boca, mãos etc.), no ar, nos utensílios de cozinha (talheres, pratos e vasilhas) e nos equipamentos cirúrgicos e domiciliares (liquidificador, batedeiras etc.). Os sintomas mais comuns das toxinfecções são: vômitos, diarreias (curtas ou crônicas, com a presença ou não de sangue), dor abdominal, náusea, febre, câimbras. ORIGEM DOS MICRO-ORGANISMOS PATOGÊNICOS PRESENTES NOS ALIMENTOS Quanto a origem desses micro-organismos, podemos destacar duas classificações: • Endógenos: Já estão presente dentro das estruturas dos alimentos. Podem provocar zoonoses transmitidas ou não ao homem. • Exógenos: Se incorporam ao alimento durante sua manipulação e processamento. Podem ser agentes patogênicos ou dos alterantes (saprófitos). As causas que fazem com que um alimento se torne impróprio para o consumo geralmente são: temperatura de conservação inadequada, falta de higiene em seu preparo e/ou conservação, sujeira no ambiente de preparo, utilização de alimentos de origem duvidosa (principalmente perecíveis). Os alimentos que proporcionam mais condições para a proliferação de micro-organismos nocivos são chamados de perecíveis, como: carnes (bovinas, suínas, aves, peixes e frutos do mar); leites e derivados (iogurte, queijos e requeijão); e ovos. CARACTERIZAÇÃO DAS DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR Os micro-organismos que causam doenças de origem alimentar são chamados de enteropatogênicos (como enterobactérias), e vão acessar principalmente o trato digestório, ao passo que a patologia é produzida em nível do trato intestinal. A bactéria, nesse local, estabelece sua colônia e passa a produzir toxinas (enterotoxinas), que são capazes de gerar a patologia por si só. No entanto, essas bactérias podem não se isolarem apenas no TGI, podendo alcançar a corrente sanguínea e se instalar em tecidos preferenciais. Tendo em vista a importância e a prevalência dessas doenças de origem alimentar, criou-se uma definição para surto de doença de origem alimentar: ocorrência de dois ou mais casos de doenças, apresentando os mesmos sintomas, associadas a um único alimento. A identificação do surto se dá por meio de um inquérito epidemiológico. O que dificulta esse inquérito é o custo relativamente alto das análises bacteriológicas. As doenças de origem alimentar apresentam uma sintomatologia extremamente variada, assim como um variável período de incubação (de 2 até 24 horas de incubação: as intoxicações alimentares produzidas por toxinas secretadas pelos Staphylococcus aureus, devido a sua grande afinidade pelo SNC, manifestam-se 2h após a ingestão). Um dos fatores que determinam uma maior gravidade diante dos quadros de intoxicações alimentares é a idade: crianças com um sistema imune muito imaturo e idosos com sistema imune já debilitado são o grande grupo de risco para essas intoxicações. Além da idade, um outro fator importante é o estado nutricional no qual se encontra o indivíduo: pessoas desnutridas desenvolvem as doenças de uma forma mais intensa. Nesse grupo de fatores que Arlindo Ugulino Netto. MICROBIOLOGIA 2016 Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● MICROBIOLOGIA 2 www.medresumos.com.br influenciam a intensidade da infecção alimentar incluem-se também a sensibilidade individual e da quantidade de alimento ingerida. MICRO-ORGANISMOS INVASIVOS Alguns micro-organismos que apresentam a capacidade de disseminar pela corrente sanguínea e penetrar nos tecidos humanos, podem causar muito mais do que vômitos e diarreias. As doenças de origem alimentar podem acometer, além do trato gastrintestinal, por meio de toxinas sintetizadas por esses micro-organismos, distúrbios no sistema nervoso (como a toxina botulínica), corrente circulatória e fígado. MECANISMOS DE DEFESA Os mecanismos de defesa contra os antígenos relacionados às patologias de origem alimentar se dá tanto por meio da imunidade inata (por terem uma natureza extracelular, os micro-organismos ativam as células responsáveis por esta resposta: células NK, sistema complemento, reação inflamatória, etc.) quanto da imunidade adquirida humoral e celular (mecanismo específico contra os antígenos patogênicos). Como mecanismo de defesa imunológica inata (inespecífica), temos acidez estomacal (presença de enzimas digestivas), mucosa intestinal (muco protetor), motilidade intestinal (daí a importância da ingestão de alimentos com fibras, que estimulam essa motilidade) e a microbiota intestinal. Um mecanismo de defesa por meio do sistema porta se dá pelo fato de que todo o sangue oriundo do intestino (inclusive, o mesmo sangue que coleta os nutrientes e as toxinas deste órgão) é drenado para o fígado, onde existe uma malha de neutrófilos, macrófagos e eosinófilos que realizam a fagocitose. Já por meio de mecanismos específicos de defesa (imunidade adquirida), por meio de uma resposta humoral, há a produção de anticorpos responsáveis por neutralizar as toxinas ou produtos celulares; apresentar efeito bactericida; aglutinar e opsonizar micro-organismos para a realização da fagocitose. Os linfócitos T CD8+, solicitados por macrófagos, realizam uma resposta citotóxica destruindo, por meio de citocinas específicas (granzimas e perfurinas), o micro-organismo invasor. Já os linfócitos T CD4+ realizam a ativação dos macrófagos (por meio de IFN-γ), os quais, por si só, se encarregarão de destruir os antígenos previamente fagocitados. DOENÇAS MICROBIANAS DE ORIGEM ALIMENTAR As doenças microbianas de origem alimentar são dividas em duas categorias: intoxicações alimentares e infecções alimentares. Intoxicações alimentares: são resultado da ingestão de toxinas pré-formadas e presentes no alimento. As bactérias que produzem estas toxinas são: Clostridium botulinum (toxina botulínica: surtos em salsichas e palmitos, por exemplo), Staphylococcus aureus (produção de enterotoxinas), Bacillus cereus (apresentam afinidade pelo arroz), fungos produtores de micotoxinas. Infecções alimentares: ingestãode alimentos contendo células ainda viáveis de micro-organismos patogênicos. Eles aderem-se à mucosa intestinal e a colonizam. As bactérias podem penetrar nessas mucosas e alcançar a corrente sanguínea, e algumas delas (apenas as produtoras de toxinas), têm a sua toxina disseminada lá. Bactérias não-produtoras de toxinas: Salmonella, Shigella, Escherichia coli, Yersinia enterocolitica. Bactérias produtoras de toxinas (toxigênica): Vibrio cholerae, Escherichia coli enterotoxigênica, Campylobacter jejuni.
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