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Direito Civil III JURISPRUDÊNCIA - PRINCÍPIOS E INTERPRETAÇÃO CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS Prof.ª Ma. VERÔNICA PASSOS ROCHA OLIVEIRA 1. JURISPRUDÊNCIA – INTERPRETAÇÃO – CONTRATOS PLANOS DE SAÚDE AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL.VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. PLANO DE SAÚDE. LIMITAÇÃO DE INTERNAÇÃO. TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO. COPARTICIPAÇÃO APÓS O TRIGÉSIMO DIA DE INTERNAÇÃO. ABUSIVIDADE DA CLÁUSULA. NULIDADE. SÚMULA N. 83 DO STJ. 1. (...) 2. É nula a cláusula em contrato de plano de saúde que limita o tempo de cobertura para internação psiquiátrica, estabelecendo coparticipação após o trigésimo dia de internação. 3. Não se conhece do recurso especial pela divergência quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp 737.982/DF, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/11/2015, DJe 01/12/2015) CORRETAGEM DE IMÓVEIS RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA. VENDA DE UNIDADES AUTÔNOMAS EM ESTANDE DE VENDAS. CORRETAGEM. CLÁUSULA DE TRANSFERÊNCIA DA OBRIGAÇÃO AO CONSUMIDOR. VALIDADE. PREÇO TOTAL. DEVER DE INFORMAÇÃO. SERVIÇO DE ASSESSORIA TÉCNICO-IMOBILIÁRIA (SATI). ABUSIVIDADE DA COBRANÇA. I - TESE PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015: 1.1. Validade da cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de incorporação imobiliária, desde que previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem. 1.2. Abusividade da cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de assessoria técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere, vinculado à celebração de promessa de compra e venda de imóvel. (REsp 1599511/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24/08/2016, DJe 06/09/2016) BOA-FÉ E FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS RECURSO ESPECIAL. CIVIL. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL. RESTITUÇÃO DE VALORES. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. ACORDO JUDICIAL. PAGAMENTO EM PRESTAÇÕES. ATRASO. CLÁUSULA PENAL. INADIMPLEMENTO DE PEQUENA MONTA. PAGAMENTO PARCIAL. REDUÇÃO OBRIGATÓRIA. PACTA SUNT SERVANDA. ART. 413 DO CC/02. AVALIAÇÃO EQUITATIVA. CRITÉRIOS. PECULIARIDADES. (...) 3. No atual Código Civil, o abrandamento do valor da cláusula penal em caso de adimplemento parcial é norma cogente e de ordem pública, consistindo em dever do juiz e direito do devedor a aplicação dos princípios da função social do contrato, da boa-fé objetiva e do equilíbrio econômico entre as prestações, os quais convivem harmonicamente com a autonomia da vontade e o princípio pacta sunt servanda. 4. A redução da cláusula penal é, no adimplemento parcial, realizada por avaliação equitativa do juiz, a qual relaciona-se à averiguação proporcional da utilidade ou vantagem que o pagamento, ainda que imperfeito, tenha oferecido ao credor, ao grau de culpa do devedor, a sua situação econômica e ao montante adimplido, além de outros parâmetros, que não implicam, todavia, necessariamente, uma correspondência exata e matemática entre o grau de inexecução e o de abrandamento da multa. (...) (REsp 1641131/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/02/2017, DJe 23/02/2017) AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. REVISÃO CONTRATUAL. POSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO DO ATO JURÍDICO PERFEITO. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. PRINCÍPIO DO PACTA SUNT SERVANDA. MITIGAÇÃO. TABELA PRICE. LEGALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A matéria do art. 6º, caput e § 1º, da LICC, possui índole constitucional, motivo pelo qual é vedada sua análise em sede de recurso especial. Precedentes. 2. É permitida a revisão das cláusulas contratuais pactuadas, diante do fato de que o princípio do pacta sunt servanda vem sofrendo mitigações, mormente ante os princípios da boa-fé objetiva, da função social dos contratos e do dirigismo contratual. 3. Já tendo sido reconhecida pelo Tribunal de origem a legalidade da utilização do sistema Price, não há que se falar em interesse de agir quanto a este ponto. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp 649.895/MS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 05/05/2015, DJe 25/05/2015) RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. LOCAÇÃO DE ESPAÇO EM SHOPPING CENTER. AÇÃO DE DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO. APLICAÇÃO DO ART. 54 DA LEI DE LOCAÇÕES. COBRANÇA EM DOBRO DO ALUGUEL NO MÊS DE DEZEMBRO. CONCREÇÃO DO PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA. NECESSIDADE DE RESPEITO AOS PRINCÍPIOS DA OBRIGATORIEDADE ("PACTA SUNT SERVANDA") E DA RELATIVIDADE DOS CONTRATOS ("INTER ALIOS ACTA"). MANUTENÇÃO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS LIVREMENTE PACTUADAS. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Afastamento pelo acórdão recorrido de cláusula livremente pactuada entre as partes, costumeiramente praticada no mercado imobiliário, prevendo, no contrato de locação de espaço em shopping center, o pagamento em dobro do aluguel no mês de dezembro. 2. O controle judicial sobre eventuais cláusulas abusivas em contratos empresariais é mais restrito do que em outros setores do Direito Privado, pois as negociações são entabuladas entre profissionais da área empresarial, observando regras costumeiramente seguidas pelos integrantes desse setor da economia. 3. Concreção do princípio da autonomia privada no plano do Direito Empresarial, com maior força do que em outros setores do Direito Privado, em face da necessidade de prevalência dos princípios da livre iniciativa, da livre concorrência e da função social da empresa. 4. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. (REsp 1409849/PR, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/04/2016, DJe 05/05/2016) DIREITO AGRÁRIO. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO AGRÁRIO. CLÁUSULA DE RENÚNCIA AO DIREITO DE INDENIZAÇÃO POR BENFEITORIAS. IMPOSSIBILIDADE. 1. Os contratos de direito agrário são regidos tanto por elementos de direito privado como por normas de caráter público e social, de observação obrigatória e, por isso, irrenunciáveis, tendo como finalidade precípua a proteção daqueles que, pelo seu trabalho, tornam a terra produtiva e dela extraem riquezas, conferindo efetividade à função social da propriedade. 2. Apesar de sua natureza privada e de ser regulado pelos princípios gerais que regem o direito comum, o contrato agrário sofre repercussões de direito público em razão de sua importância para o Estado, do protecionismo que se quer emprestar ao homem do campo, à função social da propriedade e ao meio ambiente, fazendo com que a máxima do pacta sunt servanda não se opere em absoluto nestes casos. 3. Nos contratos agrários, é proibida a cláusula de renúncia à indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis, sendo nula qualquer disposição em sentido diverso. 4. (...) (REsp 1182967/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 09/06/2015, DJe 26/06/2015) 2. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS O ato de classificar é um exercício exclusivamente analítico decorrente da lógica da pessoa que realiza a taxinomia. Por isso, as classificações variam de autor para autor, cada um tentando demonstrar sua coerência conforme variados modelos abstratos, considerando as particularidades de cada contrato, acentuando as semelhanças e as diferenças entre as inúmeras espécies. 2.1 – CONTRATOS CONSIDERADOS EM SI MESMOS Quanto ao efeitos Unilaterais - criam obrigações apenas para uma das partes, ou seja, criam direito para uma das partes e apenas obrigação para a outra. Ex. doação, fiança, mútuo, depósito. Bilaterais ou sinalagmáticos - criam direitos e deveres equivalentes, recíprocos para ambas as partes. Plurilaterais – contêm mais de duas partes, que perseguem um fim comum. Ex. sociedade, consórcio Obs. Todo contratoé bilateral sob o aspecto de sua formação, pois resulta da manifestação de duas vontades. 2.1 – CONTRATOS CONSIDERADOS EM SI MESMOS Quanto às vantagens patrimoniais Gratuitos ou benéficos - apenas uma das partes aufere benefício ou vantagem, para a outra há apenas obrigação. Ex. doação, comodato. Onerosos – ambos os contraentes têm vantagem e proveito econômico, ao qual corresponde um sacrifício. Comutativos – prestações certas e determinadas – as partes podem antever as vantagens e sacrifícios – equivalência. Aleatórios – a perda ou lucro dependem de fato futuro e imprevisível (risco). Ex. contrato de seguro, jogo de loteria. 2.1 – CONTRATOS CONSIDERADOS EM SI MESMOS Obs. Contratos desinteressados - não acarretam diminuição patrimonial a uma das partes, embora beneficiem apenas uma delas. Ex.: mútuo. Obs. Contratos unilaterais onerosos: - mútuo feneratício (há juros) - doação modal (com encargo) Obs. Contratos acidentalmente aleatórios: - Venda de coisas futuras risco quanto à existência da coisa – art. 458 (venda da esperança) risco quanto à quantidade – art. 459 (venda da coisa esperada) - Venda de coisas existentes mas expostas a risco (perecimento ou depreciação) – art. 460 e 461 2.1 – CONTRATOS CONSIDERADOS EM SI MESMOS Quanto à formação Paritários - as partes discutem livremente as condições, em situação de igualdade (par a par). De adesão – preponderância da vontade de um dos contratantes, que elabora todas as cláusulas previamente. O outro apenas adere ao modelo de contrato-padrão. Art. 54 do CDC. Contratos-tipo ou de massa – cláusulas pré-redigidas com espaços em branco. Admite discussão, alteração e destinam-se a pessoas identificáveis. 2.1 – CONTRATOS CONSIDERADOS EM SI MESMOS Quanto à execução Instantâneos ou imediatos - são cumpridos imediatamente após a celebração e se consumam num só ato – regra. Diferidos ou retardados – cumpridos em um só ato, mas em momento futuro. De trato sucessivo ou prestação/duração continuada – são cumpridos por meio de atos reiterados, duradouros. 2.1 – CONTRATOS CONSIDERADOS EM SI MESMOS Quanto ao agente Personalíssimos ou intuitu personae - celebrados em virtude das qualidades pessoais – não podem fazer- se substituir – são intransmissíveis. Não podem ser cedidos. Obrigação de fazer – prestação infungível. Impessoais – a prestação pode ser cumprida pelo obrigado ou por terceiro. Admitem execução forçada. Individuais - as vontades são individualmente consideradas, criando direitos e obrigações para as pessoas que deles participam. Coletivos ou convenções coletivas – acordo de vontades de duas pessoas jurídicas de direito privado, representativas de categorias profissionais ou econômicas, gerando deliberações normativas. 2.1 – CONTRATOS CONSIDERADOS EM SI MESMOS Quanto à forma Solenes ou formais - devem obedecer à forma prescrita pela lei para se aperfeiçoar (condição de validade). A formalidade é da substância do ato – escritura pública ou forma escrita. Não solenes, informais ou de forma livre – consentimento das partes - princípio da liberdade da forma – regra. Consensuais - formam-se unicamente pelo acordo de vontades. Reais – exigem a entrega da coisa (tradição) para constituição do contrato. Ex. depósito, mútuo, comodato. 2.1 – CONTRATOS CONSIDERADOS EM SI MESMOS Quanto à designação Nominados ou típicos - regulados pela lei, têm o seu perfil nela traçado - nomem juris (nome na lei). Disciplinados pelo legislador, de modo supletivo à vontade das partes. Inominados ou atípicos: são os contratos que resultam do acordo de vontades, não tendo, porém, as características e os requisitos definidos na lei – autonomia da vontade, liberdade, consensualismo. Mistos – combinam um contrato típico com cláusulas criadas pelos contratantes – contrato único. Coligados – vários contratos distintos celebrados pelas partes são interligados por uma cláusula acessória e um nexo funcional – diferente de união de contratos (vínculo externo) 2.1 – CONTRATOS CONSIDERADOS EM SI MESMOS Quanto à função econômica Civis - visam satisfazer uma necessidade particular, uma vantagem, sem visar diretamente ao lucro. Mercantis – com fins econômicos e lucrativos. De troca - há permuta de utilidades econômicas. De crédito: há obtenção de um bem com intenção de restituição futura. De atividade: há prestação de uma conduta de fato, de um fazer, da qual decorre a utilidade econômica. De prevenção de riscos ou de garantia: há a assunção de riscos por parte de um dos contratantes. Associativos: caracterizam-se pela coincidência de seus fins. 2.1 – CONTRATOS CONSIDERADOS EM SI MESMOS Quanto ao objeto Preliminares ou pactum de contrahendo – tem por objeto a efetivação de um contrato definitivo. As partes se comprometem a celebrar o contrato definitivo. Cria a obrigação de um futuro contrahere – pré-contrato. Ex. promessa de compra e venda Definitivos – tem objetos diversos, peculiares, de acordo com a natureza da avença, sendo definitivo. Obs. Opção – contrato preliminar que gera obrigações apenas para uma das partes. Ex. opção de venda (o vendedor se compromete a vender determinado bem, mas o comprador tem a faculdade de realizar o negocio ou não). 2.2 – CONTRATOS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS Quanto ao modo de existência Principais - tem existência própria, autônoma e não dependem de qualquer outro. Acessórios ou adjetos - tem sua existência subordinada à do contrato principal. Segue o destino do contrato principal. Ex. contratos de garantia. Derivado ou subcontrato - tem por objeto direitos estabelecidos em outro contrato, denominado básico ou principal. Participa da natureza do direito versado no contrato-base, estabelecendo nova relação contratual sem alteração da primeira. Ex. sublocação, subempreitada, subconcessão.
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