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Sociologia geral e jurídica Karl Marx Obra de referência: Um toque de clássicos. Quintaneiro, T; Barbosa, M. L. de O; e Oliveira, M. G. 2ª. Edição. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. Docente: Camila Marques Karl Marx - biografia - Viveu entre 1818 a 1883. - Intelectual alemão. - Economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista. - Suas teorias se difundiram e influenciam vários campos do conhecimento, reunidas numa corrente de pensamento chamada de marxismo. Contexto histórico Século XIX Marx viveu numa época em que a Europa se debatia em conflitos, tanto no campo das ideias como no das instituições. Herdeiro do ideário Iluminista, acreditava na razão como instrumento de apreensão da realidade e construção de uma sociedade mais justa. Já na universidade, as doutrinas socialistas e anarquistas se encontravam no centro das discussões dos grupos que Marx frequentava. Dois momentos da história europeia vividos por Marx que tiveram importantes reflexos em sua obra: as revoltas antimonárquicas de 1848 - na Itália, na França, na Alemanha e na Áustria. a Comuna de Paris, que, durante pouco mais de três meses em 1871, levou os operários ao poder, influenciados pelas ideias do próprio Marx. Publicação do Manifesto do Partido Comunista – 1848. Conceitos: dialética e materialismo Tradição filosófica dominante na Europa até o início da modernidade: Crença na existência de um mundo sensível e histórico, e de uma outra dimensão real povoada de substâncias ou essências imutáveis – estes seriam os verdadeiros objetos de conhecimento. Movimento e transformação nessa tradição: Eram pensados como sendo mera aparência de um ciclo rígido, inflexível. Os fenômenos não afetariam o SER das coisas, constituído desde sempre, imutável. Formas mais dinâmicas de entender a realidade irão ocupar o lugar das concepções anteriores Aproximação entre Razão e História Conceitos: dialética e materialismo Filosofia idealista de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) Pensador alemão. Ideia de que a realidade histórica desenvolve-se enquanto manifestação da razão, num processo incessante de autossuperação desencadeado pelo conflito e pela contradição que lhe são inerentes = movimento dialético. Movimento dialético: noção originária do pensamento clássico grego, reformulada por Hegel. Unidade dialética: relação entre o particular e a totalidade; apreensão das coisas a partir do seu oposto; finito – infinito, universal. Forma que possibilita a inteligibilidade dos fenômenos. O sujeito: realiza o esforço conceitual de explicar e compreender os fenômenos; supera a observação para estruturar os fatos num sistema totalizante. Conceitos: dialética e materialismo Filosofia idealista de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) Movimento dialético: Esse sistema totalizante é transitório, passível de superação. Aplicada aos fenômenos historicamente produzidos, a ótica dialética aponta as contradições que fazem parte da vida social. Negação e superação de uma determinada ordem. Outro tópico importante no pensamento político-filosófico ao longo do século XVIII: a perda do autocontrole por parte dos seres humanos. Sujeitos subjugados por suas próprias criações – riqueza e refinamentos da vida material. Esse tema no pensamento de Hegel aparece na ideia de consciência alienada. Conceitos: dialética e materialismo Consciência alienada para Hegel: Consciência separada da realidade Liberdade seria recuperar a autoconsciência A história dos povos representa o processo através do qual a Razão alcança a liberdade (autoconsciência) = crença no progresso. Marx e Engels: seguidores de Hegel Tendência à esquerda do pensamento hegeliano. Marxismo: debate com o idealismo hegeliano. Do idealismo para o materialismo dialético. Influência de Ludwig Feuerbach (1804-1872): entendia que a alienação tem raízes no fenômeno religioso; submissão dos homens à forças divinas criadas por eles mesmos, mas percebidas como autônomas e superiores; projeção fantástica da mente humana = alienada. Conceitos: dialética e materialismo Marx e Engels rebatem as teses de Feuerbach: Negação do idealismo hegeliano e do materialismo dos neo-hegelianos → o mundo como objeto de contemplação, e não como resultado da ação humana, passível de transformação através da atividade revolucionária ou crítico-prática. Defendem a unidade entre teoria e prática (praxis). Acreditam que a alienação está associada às condições materiais de vida; somente a transformação do processo de vida real, via ação política, pode por fim à alienação. A consciência alienada atribui à realidade histórica uma aparência mágica (intocável). Conceitos: dialética e materialismo A análise da vida social passa a ser defendida por uma perspectiva dialética: Procura estabelecer as leis da mudança que regem os fenômenos, fundadas no estudo dos fatos concretos. A compreensão positiva das coisas seria: conhecer a sua negação fatal (destruição necessária), pois todas as formas acabadas são configurações transitórias. Promover a crítica e a ação revolucionária. Se para Hegel, a história da Humanidade representa a história do desenvolvimento do Espírito (ideias), para Marx e Engels, ela é o ponto de partida. Materialismo histórico As relações materiais que os homens estabelecem e o modo como produzem seus meios de vida formam a base de todas as suas relações. Materialismo histórico TRABALHO (RELAÇÕES MATERIAIS) RELAÇÃO COM A NATUREZA RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS - REPRODUÇÃO DA EXISTÊNCIA FÍSICA DOS INDIVÍDUOS (gerações) - FORMA COMO OS INDIVÍDUOS MANIFESTAM SUA VIDA PRODUÇÃO CONSUMO (necessidades) EXCEDENTE IDEIAS, CONCEPÇÕES, GOSTOS, CRENÇAS, CATEGORIAS DO CONHECIMENTO, IDEOLOGIAS – PENSAMENTO E CONSCIÊNCIA. Apropriação = CLASSES SOCIAIS FORMAS DE CONSUMO (existência social) Materialismo histórico Relações humanas: Relações de reprodução da existência física dos indivíduos. Como os indivíduos manifestam a sua vida (modos de vida); o que eles são reflete o que produzem e como produzem. Todo fenômeno social ou cultural é efêmero, porque as formas econômicas sob as quais os homens produzem, consomem, trocam são transitórias e históricas. São também transitórios as ideias, gostos, crenças, categorias de conhecimento, ideologias; elementos gerados socialmente. O pensamento e a consciência decorrem da relação homem/natureza, isto é, das relações materiais. Método de análise da vida econômica, social, política e intelectual. Produção e reprodução Premissa da análise social marxista: Os seres humanos, na interação com a natureza e com outros indivíduos, dão origem à vida material. Nessas interações buscam: Atender suas carências e produzir seus meios de vida. Recriar a si próprios e reproduzir a espécie. Processo contínuo, transformado pela ação de sucessivas gerações. Diferente dos outros animais, os homens acumulam no processo de produção, de forma consciente; produzem para além de suas necessidades imediatas e buscam se impor diante dos limites da natureza. Modificam a fauna e flora (ex.: transgênicos, reprodução controlada de animais, construções); para tanto, organizam-se socialmente. A produção gera novas necessidades → a produção cria o consumidor. Produção e reprodução Diferente dos outros animais, os homens acumulam no processo de produção: A quantidade da suposta necessidade natural e o modo de satisfazê-la são processos históricos → relacionam-se com o grau de civilização específico. As inovações desenvolvidas para controlar as condições naturais modificam o ambiente e passam para as próximas gerações. Acumulam-se experiências, transmitidas pela cultura. A ação produtiva através do trabalho, para Marx, constitui a própria história dos homens. O materialismo histórico se debruça sobre o trabalho. Conceitos: forças produtivas e relações sociais de produção Para Marx, a produção é um estágio determinado do desenvolvimento social. É a produção dos indivíduos numadeterminada sociedade. A estrutura social depende do estagio de desenvolvimento de suas forças produtivas e das relações sociais de produção. Conceitos interdependentes; finalidade analítica. Forças produtivas e relações sociais de produção: as mudanças em uma provocam alterações na outra. Conceitos: forças produtivas e relações sociais de produção A ação dos indivíduos sobre a natureza é expressa no conceito de forças produtivas: O modo como os indivíduos obtém os bens de que necessitam, em dado momento. Grau de desenvolvimento tecnológico, modos de cooperação, divisão técnica do trabalho, habilidades e conhecimentos na produção, instrumentos, matérias-primas. Exprimem o domínio humano sobre a natureza. Toda força adquirida é produto de uma atividade anterior (gerações anteriores) – fator de conexão histórica. Conceitos: forças produtivas e relações sociais de produção No ato de produzir, os homens atuam coletivamente: Surge uma relação social: ação conjugada de vários indivíduos, ligada ao modo de produção (estágio de desenvolvimento). O modo de cooperação é, em si, uma força produtiva. O conceito de relações sociais de produção refere-se às formas estabelecidas de distribuição dos meios de produção e do produto, assim como a divisão social do trabalho numa dada sociedade, em um determinado período histórico. Elas definem: Modo como os homens se organizam entre si para produzir. Formas de apropriação de: ferramentas, tecnologias, terra, fontes de matéria-prima e de energia, de trabalhadores. Quem toma decisões sobre a produção. A massa do que é produzido e distribuído, como a sociedade reparte. Proporção destinada a cada grupo. Conceitos: forças produtivas e relações sociais de produção Distribuição dos meios de produção e do produto: 1) formas de distribuição dos instrumentos de produção; 2) e da distribuição dos gêneros produzidos pelos membros da sociedade. Nas sociedades de classe: há um acesso diferenciado à produção e/ou aos meios de produção. Divisão social do trabalho: modos de segmentação da sociedade. Trabalho manual e intelectual; industrial/comercial e agrícola; cidade e campo; Grupos que assumem determinadas ocupações: religiosas, políticas, administrativas, controle e repressão, financeiras, etc. A cada um cabe tanto tarefas distintas quanto porções diferenciadas do produto social → ocupação desigual em relação ao controle e propriedade dos meios de produção. A divisão social corresponde à estrutura de classe da sociedade. 17 Conceitos: Estrutura e superestrutura O conjunto das forças produtivas e das relações sociais de produção de uma sociedade forma sua base ou estrutura. Fundamento sobre o qual se constituem as instituições políticas e sociais. Superestrutura: na produção da vida, os homens geram outra espécie de produto que não é material – as ideologias políticas, concepções religiosas, códigos morais e estéticos, sistemas legais, de ensino, de comunicação, conhecimento filosófico e científico, modos de pensar, concepções de vida. A classe cria e modela essas concepções, derivando-as de suas bases materiais e das relações sociais correspondentes. Conceitos: Estrutura e superestrutura A articulação entre estrutura e superestrutura A explicação das formas jurídicas, políticas, espirituais e de consciência encontra-se na base econômica e material da sociedade, no modo como os homens se organizam no processo produtivo. Os homens criam as representações, e não o contrário (crítica ao idealismo) → o Ser consciente antecede a consciência, e o Ser consciente é o resultado do seu processo de vida real. “Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência” (Marx; Engels. A ideologia alemã). Nas sociedades onde há apropriação privada dos meios de produção, se busca na relação entre o proprietário dos meios de produção e o produtor direto o “cimento oculto de todo o edifício social”: alcançar a forma política que a relação de soberania e dependência adota. Ressalta-se que há na mesma base econômica variações e matizes diversos. Conceitos: Estrutura e superestrutura A base material expressa o conceito de modo de produção que caracteriza distintas etapas da história humana. Abstração capaz de explicar as diferentes formações históricas: modo de produção comunista primitivo, antigo, feudal, capitalista (ocidental), asiático (oriental), pré-colombiano (América do Sul) e comunista. O modo de produção caracteriza: maneiras de produzir, estruturas de classes e, em decorrência destes, suas leis, religiões, regimes políticos e outros elementos superestruturais. Marx não entendia que o progresso social encaminhava-se linearmente e numa direção única, ou seja, nem todas as sociedades tinham que passar pelas mesmas etapas. Conceitos: classes sociais e estrutura social Marx não deixou uma teoria sistematizada sobre as classes sociais. Teoria constituída a partir de elementos disseminados nos seus trabalhos. Conceito chave para compreender suas interpretações a respeito das desigualdades sociais, da exploração, do Estado e da revolução. Ponto de partida para entender as classes: produção = atividade vital do trabalhador; onde o homem se humaniza. Na produção estabelecem-se as relações sociais (homem e natureza). Na apropriação de uma parcela da produção pelos não-produtores (pessoas, empresas, Estado) desenvolve-se as concepções de : classe, exploração, opressão e alienação. Conceitos: classes sociais e estrutura social Sociedades primitivas: pequena capacidade produtiva; luta constante para obter da natureza o indispensável para a sobrevivência. Organização social simples – divisão natural do trabalho segundo a idade, a força física e o gênero. Cada um vive do seu próprio trabalho. Surgimento do excedente: permite a divisão social do trabalho e a apropriação privada das condições de produção. Membros da comunidade (determinados por fatores socialmente estabelecidos) passam a regular como e quanto produzir. Estabelecem algum tipo de direito sobre o produto ou sobre os próprios trabalhadores. O materialismo histórico descarta, assim, interpretações que atribuem um caráter natural a esse tipo de desigualdade. Conceitos: classes sociais e estrutura social Configuração básica de classe estabelecida num modelo dicotômico, em diferentes modos de produção: proprietário/não-proprietário, escravo/patrício, servo/senhor feudal, aprendiz/mestre, trabalhador livre/capitalista. Esquema teórico insuficiente para apreender a complexidade e variações das sociedades concretas, mas possibilita identificar a configuração básica das classes de cada modo de produção. Há dificuldade em perceber a classe na sua forma pura, pois existem sobrevivências e combinações de modos de produção anteriores. Ex.: herança do escravismo na sociedade brasileira (relações paternalistas, permanência do trabalho escravo). Conceitos: lutas de classes Observações de Marx: 1. A existência de classes está unida a determinadas fases históricas do desenvolvimento da produção. 2. A luta de classes conduz à ditadura do proletariado. 3. Transição para a abolição de todas as classes e para uma sociedade sem classes. As classes sempre se enfrentaram, seja de uma forma velada, ou franca e aberta (Manifesto Comunista, 1848). Luta que gera transformação revolucionária da sociedade ou o colapso das classes em luta. A história das sociedades onde há classes (apropriação dos meios de produção) é a própria luta de classes (movimento, dialética). Antes do conflito explícito há a contradição, os interesses antagônicos. As classes dominantes sustentam-se na exploração do trabalho dos não-proprietários → relação necessariamente conflitiva, mesmo apenas potencialmente. Conceitos: lutas de classes Para o materialismo histórico, a luta de classes relaciona-se diretamente à mudança social, à superação dialética das contradições existentes. São as transformações estruturais impulsionadas –motor da história. A classe explorada é o mais potente agente das mudanças. Distinção conceitual de classe Classe em si: membros de uma sociedade que são identificados por compartilhar determinadas condições objetivas; referente à propriedade dos meios de produção. Classe para si: classes organizadas politicamente para a defesa consciente de seus interesses. A consciência de classe conduz, na sociedade capitalista, à formação de associações políticas (sindicatos, partidos), que buscam a união solidária entre os membros da classe oprimida para defender seus interesses e a opressão dos dominadores. A economia capitalista A sociedade capitalista é o foco de Marx em O Capital, sua obra mais madura: Para ele, é a organização social mais desenvolvida e mais variada de todas já existentes. Sua análise ajuda a compreender formações anteriores – existência de vestígios ainda não apagados. Mercadoria: unidade analítica mais simples da sociedade capitalista. Produto + força de trabalho: Valor de uso: utilidade e propriedades físicas do objeto. Valor de troca: tempo de trabalho gasto na produção em dada sociedade e em dado período. A força de trabalho também é mercadoria: negociação do valor do trabalhador livre pelo capitalista. A economia capitalista A força de trabalho não foi sempre mercadoria, pois o trabalho não foi sempre assalariado (livre). O escravo não vendia sua força de trabalho, ele era em si uma mercadoria. O servo só vendia uma parte de sua força de trabalho, paga em tributos. O trabalhador livre vende sua força de trabalho em partes (horas de trabalho). A sociedade capitalista baseia-se na ideologia da igualdade, cujo parâmetro é o mercado (oferta e procura): A troca se daria de uma forma equivalente: empregado e empregador. Ideia crucial para a estabilidade da sociedade capitalista. Os homens aparecem como iguais diante das leis, do Estado, no mercado etc. A economia capitalista Embora o processo de venda da força de trabalho por um salário apareça como um intercâmbio entre equivalentes, o valor que o trabalhador pode produzir durante o tempo em que trabalha para aquele que o contrata é superior àquele pelo qual vende suas capacidades. Tempo de trabalho excedente: atividade produtiva que vai além do equivalente ao salário pago pelo capitalista (trabalho não pago). Acúmulo = mais-valia (grau de exploração da força de trabalho pelo capital). Questões para revisão Identifique o período em que viveu Karl Marx e alguns acontecimentos de seu tempo. Explique a principal diferença entre o pensamento de Marx e o de Hegel. Como Marx explicou a dinâmica da transformação social? Qual a importância, para Marx, da produção e do trabalho na análise das sociedades? Defina os seguintes conceitos: A) Forças produtivas e relações sociais de produção B) Estrutura e superestrutura C) Modo de produção D) Classes E) Luta de classes