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Estudos sobre interpretação constitucional

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Estudos sobre interpretação constitucional 
 
1. NOTAS DE INTRODUÇÃO 
Toda norma jurídica é objeto de interpretação, seja a lei escrita (seu campo mais 
freqüente), seja a decisão judicial, seja o direito consuetudinário, seja o tratado 
internacional. [01] Assim, a norma costumeira, a jurisprudência, os princípios gerais de direito 
podem, e devem, ser interpretados, para se esclarecer o seu real significado e alcance. [02] Mas 
vamos nos ater ao objeto deste trabalho monográfico que é a interpretação da norma 
constitucional. 
A interpretação legal é responsável pela criação da norma e sua evolução. Toda lei 
enseja interpretação, e o processo hermenêutico tem, sem dúvida, relevância superior ao 
próprio processo de elaboração legislativa, uma vez que será através da interpretação da lei 
que esta será aplicada e inserida dentro de um contexto fático específico, sendo adequada a 
toda uma realidade histórica e os valores dela decorrentes. 
Tecendo analogia entre a interpretação musical e a judicial Cássio Scarpinella diz que 
a música é aquela que se ouve ao vivo, naquele dia, naquela hora, naquele momento. 
Impossível ouvi-la gravada. E isso porque a interpretação da música relaciona-se de maneira 
intrínseca com o momento em que é executada. A acústica da sala, a predisposição dos 
músicos, da platéia, do próprio maestro. A música realiza-se em concreto; nunca em abstrato. 
A música não corresponde àquelas bolinhas, brancas ou pretas, com ou sem hastes, nas cinco 
linhas chamadas de pentagrama. Não é, também, o disco que se comprou em determinada 
loja. Música é aquela que se ouve na sala de concerto. Com os defeitos e as qualidades 
inerentes a uma interpretação ao vivo. [03] As leis não são somente aquilo que consta dos 
‘Códigos’; não são sinônimos dos textos que as reproduzem, mesmo quando recém-publicadas 
no Diário Oficial. Não são as leis aquilo que os ‘Códigos’ ou suas meras reproduções gráficas 
dizem que elas, leis, são. [04] 
Os textos legais são meras representações gráficas de ordens de conduta na 
sociedade, aptas a regular relações intersubjetivas. Diferentemente, as anotações doutrinárias 
e jurisprudenciais em uma lei são, assim como a música que ouvimos, interpretações. E, como 
toda interpretação, sujeita a um momento específico, que é a combinação de vários e diversos 
elementos – voluntários ou involuntários – interagindo sobre ela. Resultado dessa combinação 
e interação de elemento? Diferenças e distinções de resultados em igual proporção 
às interpretações. A lei e o direito dependem de sua interpretação 
se realizarem. [05] Sem interpretação, direito (norma jurídica) não há; só texto. 
Iniciaremos este trabalho com uma breve introdução à hermenêutica, procurando 
estabelecer uma distinção entre esta e a interpretação. Em seguida discorreremos sobre 
a interpretação em si, suas escolas, seus métodos. Somente então adentraremos com maior 
atenção na interpretação constitucional propriamente dita, expondo algumas de suas 
características, e enfrentando algumas questões de relevância. 
Não temos a pretensão de exaurir os tópicos aqui abordados, e muito menos de 
abordar todos os tópicos abrangidos pelo tema. Como o próprio título indica, pretendemos 
apenas traçar linhas gerais, tratando dos assuntos que entendemos ser mais pertinentes ou 
importantes na atualidade, procurando deixar de lado questões bizantinas ou já superadas. 
 
2. HERMENÊUTICA JURÍDICA 
Hermenêutica – do grego hermeneutiké, scilicet téchne, a arte de interpretar [06] – 
deriva de Hermes, deus grego, filho de Zeus e da ninfa Maia, a quem, dentre suas diversas 
atribuições, cabia servir de arauto dos olímpicos, intermediário entre homens e deuses, 
intérprete da vontade divina. 
Inicialmente, hermenêutica pode ser definida, adotando-se um enfoque mais 
tradicional, como a ciência da interpretação das fontes documentais. Tendo por fim fazer 
compreender um texto na sua verdade, em toda a sua força expressiva. 
Podemos dizer ainda que a hermenêutica é uma arte que visa o indispensável 
entendimento da lei, sendo formada de regras e técnicas próprias, que variam do simples ao 
complexo, desde a indagação pelo intérprete quanto à vontade legislativa, através dos termos 
escritos em que é redigida a norma, até às investigações sociológicas mais profundas. Escolas e 
métodos de interpretação disputam as preferências, inspirados em idéias fundamentais 
diferentes, e mediante o emprego de técnicas e processos diversos. O que todos procuram é o 
entendimento da norma a ser aplicada, espraiando-se com maior ou menor desenvoltura na 
pesquisa, ou prendendo-se à mais acanhada elaboração mental. 
Nas palavras de Celso Bastos, a hermenêutica se trata de conjunto de regras sobre 
regras jurídicas, de seu alcance, sua validade, investigando sua origem, seu desenvolvimento, 
etc., preordenando-se a uma atividade ulterior de aplicação, existindo autonomamente do uso 
que depois se vai fazer deles. Conclui afirmando que a hermenêutica é a responsável pelo 
fornecimento de subsídios e de regras utilizados na atividade interpretativa.[07] 
Para José Lamego, a hermenêutica é o rompimento do hermetismo do universo dos 
signos, abrindo o texto e o discurso ao mundo. Para a hermenêutica, o intérprete não 
‘descodifica’ apenas um sistema de signos, mas ‘interpreta’ um texto. Subjacente a este 
conjunto de idéias está a rejeição pela hermenêutica de uma concepção de linguagem com 
função meramente instrumental – a linguagem como ‘signo’ ou mera ‘forma simbólica’ – 
considerando-a, ao invés, como uma instituição social complexa. As expressões têm sentido 
apenas no contexto dos distintos jogos de linguagem, que são complexos de discurso e de 
ação. A aprendizagem de uma linguagem natural implica a participação em práticas e a 
comparticipação de critérios que regem o seu desempenho. A gramática da linguagem só 
poderá ser elucidada de dentro, a partir do conhecimento das regras constitutivas do jogo e 
não mediante apelo a metalinguagens. [08] 
Na definição de Carlos Maximiliano, é o estudo e a sistematização dos processos 
aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito; é a teoria científica 
da arte de interpretar. [09] 
2.1 DISTINÇÃO ENTRE HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO 
Pode-se dizer que interpretar [10] é atribuir [11] um sentido ou significado a signos ou a 
símbolos, dentro de determinados parâmetros. A linguagem normativa não tem significações 
unívocas. 
Ainda que o texto não apresente ambigüidades de qualquer natureza, ainda assim a 
atividade interpretativa se faz necessária por outros motivos. Ao intérprete cabe mediar o que 
está para ser interpretado (objeto da interpretação) e os destinatários do objeto interpretado. 
A doutrina não é uníssona quanto à existência de uma distinção 
entre hermenêutica e interpretação. Para alguns se tratam de sinônimos. E há os que 
entendam que a interpretação é inteiramente submissa às normas da hermenêutica, que seria 
formada apenas pelas normas que regem a atividade interpretativa, mas não pela 
interpretação em si mesma. Sendo que para estes é certo afirmar o caráter científico da 
hermenêutica. 
Neste mesmo sentido escreve Carlos Maximiliano, defendendo que a interpretação 
nada mais é que a aplicação da hermenêutica, sendo esta um ramo da ciência dedicado ao 
estudo e determinação das regras que devem presidir o processo interpretativo de busca do 
significado da lei, e não a sua aplicação, a busca efetiva deste significado em cada caso, sendo 
mais ampla que a interpretação e se situando em um momento lógico anterior. A 
hermenêutica é a teoria da arte de interpretar. [12] 
A interpretação é a atividade que procura imprimir uma vontade ao texto a ser 
interpretado, de modo que esse possa incidir no caso concreto. Para os que não vêem 
distinção entre hermenêutica e interpretação não haveria duas realidadesdiversas, pois eles 
acentuam o caráter artístico da hermenêutica, no sentido de uma manipulação para imprimir 
o seu conteúdo na lei. Esta, portanto, não seria erigida como ciência. [13] 
Nas palavras de Emilio Betti, a hermenêutica seria uma teoria geral da ciência do 
espírito que engloba o estudo da atividade humana de interpretar, estando a interpretação 
jurídica dentro de uma Hermenêutica Geral.[14] Havendo quem entenda que tal distinção não 
tem qualquer aplicação prática. [15] 
Enfim, o hermeneuta oferece os enunciados que servirão à interpretação. O 
intérprete os toma como um dado prévio, e deles se utilizará segundo sua arte interpretativa. 
 
3. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO 
A lei, como fonte essencial do direito, exprime em linguagem a palavra de comando, 
que deve então ser captada pelo aplicador, o que exige o trabalho de entendimento de seu 
conteúdo. Na sua finalidade normativa de comportamento, a lei abraça a atividade social e 
regula as ações humanas segundo o paradigma corrente ao tempo de sua votação, mas tem 
ainda um sentido de previsibilidade natural, que na direção do futuro, pretende conter a 
normação das relações jurídicas e se empreender no tempo vindouro. 
A interpretação é uma atividade criadora. Em toda a interpretação existe, portanto, 
uma criação de direito. Trata-se de um processo no qual entra a vontade humana, onde o 
intérprete procura determinar o conteúdo exato de palavras e imputar um significado à 
norma. Nesse sentido, a interpretação é uma escolha entre múltiplas opções, fazendo-se 
sempre necessária por mais bem formuladas que sejam as prescrições legais. A atividade 
interpretativa busca, sobretudo, reconstruir o conteúdo normativo, explicitando a norma em 
concreto em face de determinado caso. Pode-se afirmar, ainda, que a interpretação é uma 
atividade destinada a expor o significado de uma expressão, mas pode ser também o resultado 
de tal atividade. 
Para Hans Kelsen, a interpretação é uma operação mental que acompanha o 
processo da aplicação do Direito no seu progredir de um escalão superior para um escalão 
inferior. [16] 
De forma semelhante, para Caio Mário da Silva Pereira a interpretação da lei, como 
processo mental de pesquisa de seu conteúdo real, permite ao jurista fixá-lo tanto em relação 
com a forma do comando contemporâneo de seu aparecimento como ainda nas situações que 
o desenvolvimento das atividades humanas venha a criar, que embora inexistentes quando de 
sua elaboração, são suscetíveis de subordinação à sua regra em tempo ulterior. Esta pesquisa 
da vontade legal, que, de tão importante e construtiva, não falta quem classifique como última 
fase da elaboração normativa, sob fundamento de que a lei contém na verdade o que o 
intérprete nela enxerga, ou dela extrai, afina em essência com o conceito valorativo da 
disposição, e conduz o direito no rumo evolutivo que permite conservar, vivificar e atualizar 
preceitos ditados há anos, há décadas, há séculos, e que hoje subsistem somente em função 
do entendimento moderno de seus termos. Para o ilustre mestre, só o esforço hermenêutico 
pode dar vida ao nosso Código Comercial, publicado em 1850, diante da complexidade da vida 
mercantil de nossos dias; só pela atualização do trabalho do intérprete é possível conceber-se 
o vigor do Code Napoleón, que vem de 1804, ou a sobrevivência dos cânones da Constituição 
americana, que é de 1787. E exatamente por ser a hermenêutica a arte de rebuscar aquele 
sentido vivo do preceito, é que a interpretação realiza a vivência permanente da disposição 
legal por um tempo que largamente se distancia do momento em que nasce. [17] 
O programa normativo não é apenas a soma dos dados lingüísticos normativamente 
relevantes do texto, captados a nível puramente semântico. Outros elementos a considerar 
são: a sistemática do texto normativo, o que corresponde tendencialmente à exigência de 
recurso ao elemento sistemático; a genética do texto; a históriado texto; a teleologia do texto. 
Este último elemento "teleologia do texto normativo" aponta para a insuficiência da semântica 
do texto: o texto normativo quer dizer alguma coisa a alguém e daí o recurso à pragmática. As 
palavras e expressões do texto da norma constitucional (e de qualquer outro texto normativo) 
não têm significado autônomo, em si, se não se tomar em conta o momento de decisão dos 
juristas e o caráter procedimental da concretização de normas. [18] 
Para Gadamer, a interpretação do texto equivale a um diálogo entre o autor e o 
intérprete sobre aquilo que no texto é mencionado. Nesse diálogo o intérprete apropria-se do 
discurso expresso no texto e prossegue a elaboração intelectiva do objeto feita pelo autor. Ao 
retomar a noção da hermenêutica de applicatio, Gadamer tem em vista a interpretação que 
constitui um aditamento de sentido: todo o ato de interpretação constitui um aditamento de 
sentido ao texto. [19] 
A aplicação do Direito consiste em enquadrar um caso concreto à norma jurídica 
adequada. Submete às prescrições da lei uma relação da vida real; procura e indica o 
dispositivo adaptável a um fato determinado. Por outras palavras: tem por objeto criar o modo 
e os meios de amparar juridicamente um interesse humano. [20] 
O objetivo primeiro da interpretação deverá ser a criação de condições para que a 
norma interpretada tenha eficácia sempre no sentido da realização dos princípios e valores 
constitucionais, e principalmente, sempre, da ideologia constitucionalmente adotada. 
Toda norma jurídica tem de ser interpretada, porque o direito objetivo, qualquer que 
seja a sua roupagem exterior, exige seja entendido para ser aplicado, e neste entendimento 
vem consignada a sua interpretação. Inexato é, portanto, sustentar que somente os preceitos 
obscuros, ambíguos ou confusos, exigem interpretação, e que a clareza do dispositivo a 
dispensa, como se repete no velho aforismo "in claris cessat interpretatio". E já em Roma era 
esse o entendimento, havendo inclusive brocardo rezando que: embora claríssimo o edito do 
pretor, contudo não se deve descurar da interpretação respectiva. [21] 
Poder-se-á dizer que o esforço hermenêutico é mais simples ou mais complexo, 
conforme a disposição seja de entendimento mais ou menos fácil, pois que sustentar a clareza 
do preceito é já tê-lo entendido e interpretado, tanto mais quanto a própria clareza é em si 
muito relativa, dependendo do grau de acuidade de quem o lê ou aplica, de seus 
conhecimentos técnicos, de sua experiência. Há sempre necessidade de investigar a essência 
da vontade legislativa, não apenas na exteriorização verbal, mas naquilo que é a sua força 
interior e o poder de seu comando. Interpretar não é tão-somente contentar-se com o que 
a letra da lei revela, pois que, na sociedade animada pela civilização jurídica, a fórmula 
sacramental perdeu a validade que era o seu prestígio num estágio primitivo, em que 
dominava a escravidão da forma. Por isso mesmo já o romano sentenciava que saber as leis 
não é conhecer-lhes palavras, mas a força e o poder [22]. [23] 
Hans Kelsen, ao dissertar sobre a necessidade da ação do intérprete, ressalta a 
indeterminação do ato de aplicação do direito, que pode dizer respeito tanto ao fato 
(pressuposto) condicionante como à consequência condicionada. Kelsen aponta não só a 
indeterminação não-intencional – como é o caso da não univocidade do sentido verbal da 
norma, a discrepância entre vontade e expressão tão natural tanto na lei como nos negócios 
jurídicos – mas também casos de indeterminação intencional, como quando a lei confere 
discricionariedade ao aplicador do direito. Havendo ainda indeterminação do ato jurídico a pôr 
como consequência do fato de duas normas, que pretendem valer simultaneamente, 
contradizerem total ou parcialmente. [24] 
Através de processo lógico o intérprete procura estabelecer a vontade da lei, que não 
é, necessariamente,a vontade do legislador. A lei deve ser considerada como entidade 
objetiva e independente e a intenção do legislador só deve ser aproveitada como auxílio ao 
intérprete para construir o sentido da norma jurídica. Na interpretação se deve desenhar o 
exato alcance e real significado da norma. Deve-se buscar a vontade da lei, não importando a 
vontade de quem fez. [25] 
Ao fixar o sentido e o alcance das normas jurídicas o intérprete não atua como um 
autômato, fazendo simples constatações. Seu papel não é o de revelar algo que já existia com 
todos os seus elementos e contornos. A interpretação do Direito exige, de certa 
forma, criatividade. Ao interpretar os textos jurídicos o intérprete não se vincula à vontade do 
legislador, pois o moto-contínuo da vida cria a necessidade de se adaptar as velhas fórmulas 
aos tempos modernos. [26] 
Quanto ao resultado obtido pela ação do intérprete, diz Kelsen que se 
por interpretação se entende a fixação por via cognoscitiva do sentido do objeto a interpretar, 
o resultado de uma interpretação jurídica somente pode ser a fixação da moldura que 
representa o Direito a interpretar e, conseqüentemente, o conhecimento de várias 
possibilidades que existem dentro desta moldura. Sendo assim, a interpretação de uma lei não 
deve necessariamente conduzir a uma única solução como sendo a única correta, mas 
possivelmente a várias soluções que – na medida em que apenas sejam aferidas pela lei a 
aplicar – têm igual valor, se bem que apenas uma delas se torne Direito positivo no ato do 
órgão aplicador do Direito – no ato do tribunal, especialmente. Dizer que uma sentença 
judicial é fundada na lei, não significa senão que ela se contém dentro da moldura ou quadro 
que a lei representa – não significa que ela é a norma individual, mas apenas que é uma das 
normas individuais que podem ser produzidas dentro da moldura da norma geral. [27] 
Ainda para Kelsen, a idéia de que a determinação do ato jurídico a pôr, não realizada 
pela norma jurídica aplicanda, poderia ser obtida através de qualquer espécie de 
conhecimento do Direito preexistente, é uma auto-ilusão contraditória, pois vai contra o 
pressuposto da possibilidade de uma interpretação. [28] 
A questão de saber qual é, dentre as possibilidades que se apresentam nos quadros 
do Direito a aplicar, a "correta", não é sequer – segundo o próprio pressuposto de que se parte 
– uma questão de conhecimento dirigido ao Direito positivo, não é um problema da teoria do 
Direito, mas um problema de política do Direito. A tarefa que consiste em obter, a partir da lei, 
a única sentença justa (certa) ou o único ato administrativo correto é, no essencial, idêntica à 
tarefa de quem se proponha, nos quadros da Constituição, criar as únicas leis justas 
(certas). [29] Assim como da Constituição, através de interpretação, não podemos extrair as 
únicas leis corretas, tampouco podemos, a partir da lei, por interpretação, obter as únicas 
sentenças corretas. [30] 
Kelsen não repugna totalmente a ficção de que uma norma jurídica apenas permite 
uma só interpretação: a interpretação "correta". Ele reconhece que tal ficção de univocidade 
possui certas vantagens políticas, como a busca da consolidação da segurança jurídica. Mas 
segue afirmando enfaticamente que nenhuma vantagem política pode justificar que se faça 
uso desta ficção numa exposição científica do Direito positivo, proclamando como única 
correta, de um ponto de vista científico objetivo, uma interpretação que, de um ponto de vista 
político subjetivo, é mais desejável do que uma outra, igualmente possível do ponto de vista 
lógico. [31] 
A interpretação não pode ser considerada um ato isolado, mas correlacionado, sem o 
que não haveria ordem jurídica, na medida em que cada intérprete pudesse, sem fronteiras, 
impor a sua opção motivada por fatores subjetivos condicionados a fatores os mais diversos, 
até mesmo psicológicos. A correlação se daria em função do sistema jurídico operante, limite 
da liberdade interpretativa. [32] 
Porém, o ato interpretativo não deve ser puramente formal sob pena de se distanciar 
da realidade da vida, mas não pode ser, também, exclusivamente subjetivista, sob os mesmos 
riscos. Há um conjunto de valores presentes nos ordenamentos jurídicos e que servem de 
faróis que guiam a trajetória do intérprete. [33] 
Temos, portanto, que a qualidade do direito será proporcional à qualidade da técnica 
legislativa somada à qualidade da intervenção do intérprete ao aplicar a norma. 
Eros Roberto Grau alerta para o equívoco de que se interpreta norma. O que se 
interpreta é o texto normativo, e desta interpretação resulta a norma. A interpretação é, pois, 
atividade que se presta a transformar textos em normas. Daí, o ordenamento ser um conjunto 
de interpretações, isto é, um conjunto de normas. 
O conjunto de textos é apenas ordenamento em potência, um conjunto de 
possibilidades de interpretação, um conjunto de normas potenciais. [34] 
Para Grau, o intérprete não cria literalmente a norma. Ele não é um criador ex nihilo; 
ele produz a norma no sentido de reproduzi-la. O produto da interpretação (a norma) já se 
encontra potencialmente no invólucro do texto normativo. E se encontra assim apenas 
parcialmente, porque os fatos também a determinam, pois a norma é produzida pelo 
intérprete a partir de elementos que se desprendem do texto (mundo do dever-ser) e de 
elementos do caso ao qual será aplicada (mundo do ser). [35] 
A interpretação do direito tem caráter constitutivo – e não meramente declaratório – 
e consiste na produção, pelo intérprete, a partir de textos normativos e dos fatos atinentes a 
um determinado caso, de normas jurídicas a serem ponderadas para a solução desse caso, 
mediante a definição de uma norma de decisão [36]. Interpretar é dar concreção (=concretizar) 
ao direito. A interpretação (=interpretação/aplicação) opera a inserção do direito na realidade; 
opera a mediação entre o caráter geral do texto normativo e sua aplicação particular; em 
outros termos, ainda: opera a sua inserção na vida. [37] 
3.1 ESCOLAS DE INTERPRETAÇÃO 
O direito romano, a princípio, não se valia senão dos elementos literais, restringindo 
a interpretação à procura do que se achava fixado na palavra. Este apego à forma é natural em 
todos os povos que atravessam fase menos desenvolvida de sua evolução, não apenas no 
tocante ao direito, mas a todas as manifestações de inteligência. Somente quando o romano 
atingiu mais adiantado grau de cultura, ao alcançar o estágio de plenitude de seu 
florescimento, e conseguiu expressar-se na criação de conceitos abstratos, pôde formular 
regras de hermenêutica sob a dominação do elemento lógico, e assentou, então, que a 
interpretação é algo mais do que conhecimento literal da linguagem da lei, por envolver 
também a perquirição da sua força e da sua vontade. [38] 
O fenômeno se repetiu da Idade Média: com a recepção do direito romano, coetânea 
da escola de Bolonha, os juristas partiram do pressuposto da perfeição técnica dos seus 
princípios e dotados os textos duma espécie de infalibilidade, limitavam-se a explicar 
literalmente as regras, logo passando à glosa, espécie de comentário marginal ou interlinear 
sob vinculação dominadora da expressão linguística. Com Irnério e seus seguidores, formou-se 
a escola denominada exegética. Mais tarde, quando os estudos jus-romanísticos se 
desenvolveram iluminados pelo espiritualismo cristão e influenciados pela filosofia escolástica, 
a técnica do comentário se apurou, e os pós-glossadores (Cino di Pistola, Bártolo, Accursio) 
desceram mais a fundo, impregnando os seus comentários de cogitações científicas mais 
desenvolvidas. 
Na obra de Cujacio, já liberada da glosa, encontram-se a exposição e o estudo 
do direito romano sem a escravização à letra do texto, porém mais sabiamente planejada. [39] 
3.1.1 ESCOLA EXEGÉTICA 
Promulgadoo Código Civil francês em 1804, criou-se uma escola de 
interpretação [40] que se deixou encantar pelas excelências do Code Napoleón, parecendo aos 
seus corifeus que nada mais seria possível fazer em matéria de elaboração legislativa, pois esse 
monumento seria a palavra derradeira, a expressão máxima da civilização jurídica ocidental. 
Seus comentaristas se deixaram dominar por esta idéia preconcebida, corroborada pela 
convicção de que o Código era o triunfo da razão, filho do pensamento racionalista que o 
movimento enciclopedista do século XVIII havia difundido. 
Toda a chamada escola exegética, ou dos intérpretes do Código Civil, consolidou a 
idéia de que a hermenêutica deve consistir na explicação da lei escrita, subordinando toda a 
técnica interpretativa à regra de que não pode haver direito fora da lei. Interpretar é indagar a 
vontade do legislador, a intenção do legislador, a mens legislatoris, não podendo o jurista 
desprender-se do texto. A lei é a fonte exclusiva do direito e na sua palavra está expressa 
a soberania legislativa. Ao entendimento da norma não devem contribuir quaisquer fatores 
extrínsecos, nem há cogitar das necessidades econômicas ou sociais, como não podem 
penetrar idéias renovadoras, nem a inspiração da equidade, nem o conceito abstrato de boa-
fé. 
A hermenêutica, como processo lógico, cinge seu trabalho às construções silogísticas, 
para as quais os elementos básicos situam-se na própria lei, de que a interpretação é apenas 
uma conclusão necessária, como a demonstração de um teorema em matemática. 
Erigido o mito da lei, o fetichismo da lei, e assentado que esta é, ao mesmo tempo, a 
expressão do Estado soberano e a construção lógica do legislador perfeito, todo o trabalho do 
intérprete é enfeixado na concepção de que acima de tudo está o texto, continente do direito, 
do qual não pode o jurista fugir. O juiz não aplica o direito, aplica a lei, e, como esta é 
concretizada na forma escrita, seu entendimento mora na sua expressão vocabular. [41] 
3.1.2 ESCOLA CIENTÍFICA (DO DIREITO LIVRE) 
Em oposição à corrente exegética se levanta Bufnoir, seguido de Saleilles, mais 
profundamente com François Gény, ao mesmo tempo em que na Alemanha, Ehrlich, e mais 
filosoficamente Stammler, a partir do século XIX, difundindo-se a tese de que o direito não 
está congelado no texto, e, ainda, que a lei não é a sua fonte exclusiva. A ciência jurídica deve 
dobrar-se às exigências da vida, amoldando-se a norma aos fatos novos. A lei, redigida em 
atenção aos acontecimentos e injunções que lhe são contemporâneos, tem de receber uma 
interpretação capaz de abranger o que surgir depois. Uma vez votada, desprende-se de quem 
a redigiu, para ter existência própria. Interpretar a lei não é perquirir o que quis o legislador. O 
que é, na verdade, o legislador? Elaborada a lei pelas assembléias competentes, ela se 
despersonaliza, resultando a norma não como expressão do que alguém disse ou quis, mas 
como a manifestação de uma vontade coletiva, mas indagar o que objetivamente aparece na 
própria lei, o que se contém nela. Interpretar um texto legal não é pesquisar o que foi o 
pensamento dos seus autores há 10, 50, 100 atrás, mas apurar o que seria este mesmo texto, 
se tivesse sido redigido hoje. A hermenêutica não se compraz com a indagação de uma 
hipotética intenção, mas tem de jogar com os mandamentos da justiça e da razão, tem de 
iluminar a lei com um sentido liberal e humano, e cogitar da realidade social ambiente. [42] Diz 
Lega y Lacambra que só se poderia cogitar a vontade do legislador, porque a lei não possui 
vontade e ainda pregava a quebra do mito da mens legislatoris, pois não se sabe o que quis o 
legislador, senão através do sistema da ordem jurídica. [43] 
A norma jurídica é votada com uma finalidade social; logo, a sua interpretação deve 
ser dominada pela pesquisa daquele objetivo. Mas, por outro lado, se a lei é a principal fonte 
do direito, não é a única, o que impõe ao aplicador a indagação da força criadora da 
jurisprudência, dos costumes, da equidade. O fator psicológico não pode ser delgado, em 
razão do conteúdo de utilidade social do dispositivo interpretando. 
Dentro desta mesma linha de raciocínio, na Alemanha, Kohler, Windscheid, Bülow 
sustentam que o intérprete deve extrair da lei as consequências atuais, mesmo aquelas que 
não podiam ter estado presentes à mente do legislador. 
A escola hermenêutica moderna veio criar, então, a idéia da livre investigação 
científica, que os adversários preferiram cognominar de escola do direito livre (Freiesrecht), 
que culminou no combate à idéia da mens legis como finalidade da interpretação. A melhor 
forma de aplicar a lei é adaptá-la às necessidades do caso, conforme o arbítrio do juiz, 
desprendido este do conceito de que a lei seja todo-poderosa, idéia que substitui pela 
concepção de uma elaboração constante do direito sob a injunção realista da sua criação 
permanente, para a qual o juiz contribui com a sua experiência e a captação das influências 
nascidas das forças sociais em constante desenvolvimento, armado do poder de construir ou 
criar o direito. Mais recentemente tem surgido o conceito de "direito alternativo", que, a 
modo do Freiesrecht, sustenta a liberdade judicante à vista apenas dos fatos, o que pode 
conduzir à plena subversão da ordem constituída. 
A escola da interpretação científica suscitou polêmicas intermináveis, e críticas 
severas, dirigidas no sentido de ter incorrido nos mesmos erros da hermenêutica tradicional 
(exegética). Se esta peca por um excessivo subjetivismo da vontade do legislador, não menos 
falha é aquela quando pretende substituí-lo por um exagerado subjetivismo do juiz, sem 
controle e sem limites. 
Diante desta divergência de conceitos, e da própria inconsistência dogmática da 
escola científica, cujos maiores adeptos não se põem de acordo no definir até onde vai a livre 
indagação, qual seria a posição real do intérprete? 
Há procedência na crítica dirigida à escola tradicional (exegética), especialmente no 
seu excesso de amor ao texto, à intenção e à vontade do legislador, e na idéia preconcebida de 
negar sistematicamente todas as outras fontes do direito além da lei. Há procedência, 
igualmente, na crítica à escola da livre indagação científica, ou de direito alternativo, 
principalmente em razão de instituir certa instabilidade decorrente da maior dose de arbítrio 
conferida ao aplicador, a pretexto de interpretar a lei. A posição correta do intérprete há de 
ser uma posição de termo-médio. Sem negar a supremacia da lei escrita como fonte jurídica, 
pois nisto está a idéia fundamental do ordenamento jurídico regularmente constituído, deverá 
tomar da escola científica a idéia de que a lei é um produto da sociedade organizada, e tem 
uma finalidade social de realizar o bem comum. A pretexto de interpretar, não pode o 
aplicador pender para o campo arbitrário de julgar a própria lei, de recusar-lhe aplicação ou de 
criar um direito contrário ao seu texto. Se interpretar a lei não é indagar o que alguém disse, 
mas o que está objetivamente nela consignado, e se na omissão do texto devem-se invocar as 
forças criadoras dos costumes sociais, da equidade, da jurisprudência, das necessidades sociais 
– a sua aplicação há de atender à sua finalidade social e às exigências do bem comum. Nem o 
fetichismo da lei e a proclamação da sua perfeição como obra completa de um legislador todo-
poderoso e onisciente, nem o excesso oposto do direito livre. Partidário e mesmo iniciador do 
movimento científico da moderna hermenêutica, intitulado método histórico evolutivo, já 
Saleilles precisava, numa fórmula sucinta ("Au delà du Code Civil, mais par le Code Civil"), um 
pensamento moderado, em cujo desenvolvimento o intérprete avança além da lei, mas sem 
perdê-la de vista. [44] 
Nesta mesma linha moderada, inscreve-se o Código Civil suíço (Art.1º), o qual, sem 
render excessiva homenagem ao texto, sustenta o primado da lei, em cuja omissão, porém, 
arma o juiz de poderes criadores. Numa linha de equilíbrio, a que se filiou o art. 5º da nossa Lei 
de Introdução ao Código Civil; inspirado pela modernização da hermenêutica, o intérprete há 
de buscar o entendimento real da norma jurídica em função da sua utilidade e da sua 
adaptação às injunções da vida social contemporânea de sua aplicação e, quando autorizado o 
juiz a decidir por equidade, aplica uma norma que estabeleceria se fosse legislador (CPC/39, 
art. 114). Orientação idêntica vem consignada no Anteprojeto da Lei Geral de Aplicação das 
Normas Jurídicas, cujo art. 2º invoca a inspiração do bem-comum, da justiça social e da 
equidade. [45] 
3.1.3 Escola histórica 
Em fins do século XIX surge uma nova corrente, atribuindo ao intérprete papel 
relevante, em resposta à imobilização criada pelos critérios da Escola da Exegese. Cumpria ao 
Judiciário manter o Direito sempre vivo e atual, de acordo com as exigências sociais. Não se 
concebia que o Direito ficasse estratificado na forma e no conteúdo, em fórmulas úteis 
somente ao passado. 
O Direito decorre de um processo evolutivo. Há necessidade de se analisar, na 
evolução histórica dos fatos, o pensamento do legislador não só à época da edição da lei, mas 
também de acordo com a sua exposição de motivos, mensagens, emendas, as discussões 
parlamentares etc. O Direito, portanto, é uma forma de adaptação do meio em que vivemos 
em função da evolução natural das coisas. [46] 
Savigny e outros adeptos desta Escola chamavam a atenção para a importância do 
pensamento social na formação do Direito, bem como o caráter evolutivo deste. A lei não seria 
produto de uma só vontade, mas resultado de um querer social. O legislador não cria a lei em 
seu intelecto, apropria-se das fórmulas que a organização social sugere, para transfundi-las 
nos textos. 
Considerando que o direito é um fenômeno histórico-cultural, é claro que a norma 
jurídica somente se revela por inteiro quando colocada a lei na sua perspectiva histórica, com 
o estudo das vicissitudes sociais de que resultou e das aspirações a que correspondeu. [47] 
Quem quiser compreender qualquer ordenamento jurídico deverá desdobrar o seu 
estudo em várias etapas: deverá dirigir sua atenção para o conteúdo de suas normas e 
instituições; para as condições temporais em que esse ordenamento surgiu; e para a questão 
da efetividade desse ordenamento na sociedade que lhe corresponde, isto é, deverá certificar-
se de que aquelas normas e instituições ainda de encontram atuantes; se não, porque 
deixaram de prevalecer; ou ainda, porque não exercem a sua influência com igual 
intensidade. [48] 
Caio Mário da Silva Pereira sublinha que o elemento histórico, e não método 
histórico, é invocado para coadjuvar o trabalho do intérprete. Ressalva, porém, que tal 
retribuição deve ser recebida cum grano salis, pois, se é certo que a votação de uma lei 
decorre das injunções políticas, econômicas e sociais num dado período, e, por outro lado, 
obedece a um processo de tramitação pelas Casas do Congresso, onde é discutida e recebe, 
então, a contribuição dos que na sua elaboração participaram, certo é também que o 
pensamento ou vontade do legislador, como ente abstrato, não se vincula à sua manifestação 
de um membro do parlamento, ou ao voto enunciado no seio de alguma Comissão ou em 
discurso proferido em plenário, em defesa da disposição em foco. A origem histórica de uma 
lei é fator às vezes ponderável na apuração das modificações por que passa a legislação num 
dado momento, e ajuda a extrair o seu pensamento dominante, ou a fixar a adoção de um 
novo critério, o abandono de uma corrente doutrinária, a indicação de circunstâncias ligadas à 
construção do sistema adotado pelo legislador. [49] 
Carlos Maximiliano defende que ao intérprete moderno incumbe determinar o 
sentido objetivo do texto, a vis potestas legis; ele deve olhar menos para o passado e mais 
para o presente, adaptar a norma à finalidade humana, sem inquirir da vontade inspiradora da 
elaboração primitiva. [50] 
3.1.4 TÓPICA 
A tópica consiste em uma técnica do pensamento que se orienta para o problema. É 
uma técnica de pensamento problemático. Para Theodor Viehweg "a tópica é uma técnica de 
pensar por problemas, desenvolvida pela retórica". [51] 
Podemos dizer que a tópica é a técnica do pensamento que se orienta para o 
problema e, em razão deste, mediante uma legitimação de premissas, busca oferecer uma 
solução justa para qualquer caso que seja apresentado ao jurista. [52] 
A tópica não é uma técnica de pensar moderna, embora raramente dela se escute 
falar. Ao revés, é um modo de pensar muito antigo que vem desde antes de Aristóteles, junto 
dele, e depois. Este antigo modo de pensar foi retomado por Theodor Viehweg, em sua 
obra Topik und jurisprudenz, publicado pela primeira vez em 1953, onde sugere a utilização da 
tópica como técnica de interpretação do Direito. 
Antes disso, Calamandrei já lecionava que, embora se continue a repetir que a 
sentença pode se reduzir esquematicamente a um silogismo no qual, a partir de premissas 
dadas, o juiz tira a conclusão apenas em virtude da lógica, às vezes acontece que o juiz, ao 
formar a sentença, inverta a ordem normal do silogismo; isto é, encontre antes a conclusão e, 
depois, as premissas que servem para justificá-la. Essa inversão da lógica formal parece ser 
oficialmente aconselhada ao juiz por certos procedimentos judiciários, como aqueles que, 
enquanto lhe impõem tornar público, no fim da audiência, o dispositivo da sentença (isto é, a 
conclusão), consentem que retarde por alguns dias a formulação dos fundamentos (isto é, das 
premissas). A própria lei, portanto, parece reconhecer que a dificuldade de julgar não consiste 
tanto em achar a conclusão, que pode ser coisa a se resolver no mesmo dia, quanto em achar 
depois, com mais longa meditação, as premissas de que essa conclusão deveria ser, segundo o 
vulgo, a consequência. 
As premissas, não obstante seu nome, frequentemente são elaboradas depois – em 
matéria judiciária, o teto pode ser construído antes das paredes. Com isso, não se quer dizer 
que o dispositivo surja às cegas e que a fundamentação tenha o único objetivo de mostrar 
como fruto de rigoroso raciocínio o que, na realidade, é fruto do arbítrio; quer-se dizer apenas 
que, no julgar, a intuição e o sentimento muitas vezes têm um papel bem maior do que parece 
a quem vê as coisas de fora. [53] 
Viehweg inicia sua obra pelos fundamentos do pensar tópico, deixando de lado uma 
investigação histórica independente. Parte o autor, primeiramente, das considerações 
relativas aos procedimentos científicos (scientiarum instrumenta) feitas por Gian Battista Vico, 
em 1708, em sua dissertatio denominada De nostre temporis studiorum ratione (O caráter dos 
estudos de nosso tempo), onde na realidade Vico procura analisar a conciliação entre dois 
métodos científicos de estudo, a saber: o antigo (tópico) e o moderno (crítico). 
O primeiro é uma herança da antiguidade, transmitida por Cícero, sendo seu ponto 
de partida o senso comum, que manipula o verossímil (verissimila) mediante a contraposição 
de pontos de vista, segundo os cânones da tópica retórica, trabalhando, sobretudo, com uma 
rede de silogismos. Por sua vez, o método crítico tem como ponto de partida um primum 
verum, que não pode sequer ser posto em dúvida. O seu desenvolvimento se dá através de 
uma longa cadeia dedutiva, à maneira da geometria. Segundo Vico, as vantagens deste novo 
método estariam na agudeza e na precisão da conclusão, caso o primum verum seja 
mesmo verum. As desvantagens, entretanto, predominam, consistindo na "perda em 
penetração, estiolamento da fantasia e da memória, pobreza da linguagem, falta de 
amadurecimento do juízo, em umapalavra: depravação do humano." [54] Tudo isto, aduz Vico, 
pode ser evitado pela tópica retórica, pois esta "proporciona sabedoria, desperta a fantasia e a 
memória e ensina como considerar um estado de coisas de ângulos diversos, isto é, como 
descobrir uma trama de pontos de vista". [55] Em decorrência disto, conclui Vico que deve 
haver uma intercalação entre os dois métodos, pois um sem o outro não se efetiva. 
Após a "alusão de Vico", Viehweg passa a examinar os fundamentos da tópica em 
Aristóteles e Cícero. 
O nome "tópica", que significa técnica de pensar por problemas, foi atribuído por 
Aristóteles no seu famoso texto Tópica. Nesta obra o autor se ocupa da antiga arte da disputa, 
domínio dos retóricos e sofistas, que constitui o campo do meramente oponível, da dialética. 
No Livro I da Tópica, Aristóteles afirma que o seu "tratado se propõe encontrar um 
método de investigação graças ao qual possamos raciocinar, partindo de opiniões geralmente 
aceitas, sobre qualquer problema que nos seja proposto, e sejamos também capazes, quando 
replicamos a um argumento, de evitar dizer alguma coisa que nos cause embaraço." Para isto, 
Aristóteles classifica os raciocínios em demonstrativo, dialético e erístico. Diz-se que o 
raciocínio é uma demonstração quando as premissas das quais parte são verdadeiras e 
primeiras, ou quando o conhecimento que delas temos provém originariamente de premissas 
primeiras e verdadeiras; por sua vez, dialético é o raciocínio que parte de opiniões geralmente 
aceitas; o raciocínio erístico é aquele que parte de opiniões que parecem ser geralmente 
aceitas, mas não o são realmente. Segundo Aristóteles, são "verdadeiras" e "primeiras" 
aquelas coisas nas quais acreditamos em virtude de nenhuma outra coisa que não seja ela 
própria. Por outro lado, "opiniões geralmente aceitas" são aquelas que todos admitem, ou a 
maioria das pessoas, ou os filósofos, em outras palavras: todos, ou a maioria, ou os mais 
notáveis e eminentes. [56] Posto desta forma qualquer problema, basta pensar corretamente 
conforme as opiniões que pareçam adequadas () para atacar ou defender. 
Desta forma, o que diferencia o raciocínio dialético do raciocínio analítico 
(demonstrativo) não é o aspecto formal, mas sim o material, é dizer, pela natureza das 
premissas de que se utilizam. O raciocínio dialético utiliza-se de premissas verossímeis, ou seja, 
de opiniões geralmente aceitas, ao passo que o analítico utiliza-se de premissas verdadeiras e 
primeiras, que não podem sequer ser postas em dúvidas. 
No que tange ao vocábulo "topoi", este aparece pela primeira vez no final do 
primeiro livro da Tópica, mas sua explicação encontra-se na Retórica. Aduz Aristóteles que 
os topoi são pontos de vista utilizáveis e aceitáveis em toda parte, que se empregam a favor ou 
contra o que é conforme a opinião aceita e que podem conduzir à verdade. Mutatis mutandi, 
pode-se dizer que na tópica jurídica, os topoi podem ser entendidos como os diversos pontos 
de vista compreendidos, ou comportados, pela norma. 
Por sua vez, a tópica de Cícero teve maior influência histórica do que a aristotélica. 
Pretendeu Aristóteles construir uma teoria da tópica, situada no campo filosófico, ao passo 
que a tópica de Cícero estava totalmente vertida para a sua utilização prática. O trabalho de 
Cícero consiste em uma coletânea de topoi voltados para sua aplicação prática, e não de uma 
ordenação teórica dos topoi, como fez Aristóteles. Para Cícero a tópica consiste na arte de 
buscar argumentos. A tópica ciceroniana está voltada para a práxis. 
Após um longo período de esquecimento, a tópica jurídica surge na Alemanha alguns 
anos após a Segunda Guerra Mundial, com o intento de responder à crise 
do positivismo desencadeada pela implantação de regimes totalitários. Neste mesmo sentido, 
explica Paulo Bonavides que "a insuficiência do positivismo explica o advento da tópica na 
medida em que lhe foi possível abranger toda a realidade do direito, valendo-se, conforme 
ressaltou Kriele, de normas positivas, escritas ou não escritas, em vinculação com as regras de 
interpretação e os elementos lógicos disponíveis." [57] 
Segundo a lição de Canotilho, a tópica é método cujas premissas para aplicação são o 
caráter prático da interpretação constitucional (já que o objetivo de qualquer interpretação é 
deslindar as situações concretas postas), o caráter aberto, fragmentário ou indeterminado da 
lei constitucional e a preferência pela discussão do problema em virtude da abertura de 
normas constitucionais que coíbem a dedução subsuntiva a partir delas mesmo. [58] 
O método tópico de interpretação constitucional pressupõe uma pluralidade de 
intérpretes, haja vista que o mesmo situa-se no campo da retórica, ou seja, na arte da 
discussão. É, no dizer de Canotilho, um processo aberto de argumentação entre os vários 
participantes (pluralismo de intérpretes) através da qual se tenta adaptar ou adequar a norma 
constitucional ao problema concreto. Posto um problema constitucional concreto, os 
intérpretes utilizam-se de vários topoi ou pontos de vista, sujeitos a serem legitimados como 
premissas (caso venham a ser aceitos pelo interlocutor), visando resolver o problema por meio 
da interpretação mais adequada ao problema ou, noutras palavras, mais razoavelmente justa. 
Desta forma, percebemos que os topoi servem de auxiliar de orientação ao intérprete; 
constituem um guia de discussão dos problemas e; permitem a decisão do problema jurídico 
em discussão. 
Sobre a necessidade do método tópico de interpretação na seara constitucional, 
adverte Bonavides que a Constituição representa o campo ideal de intervenção ou aplicação 
do método tópico em virtude de constituir na sociedade dinâmica uma "estrutura aberta" e 
tomar, pelos seus valores pluralistas, um certo teor de indeterminação. Dificilmente uma 
Constituição preenche aquela função de ordem e unidade, que faz possível o sistema se 
revelar compatível com o dedutivismo metodológico. Conclui que diante desses obstáculos, só 
a tópica, como hermenêutica específica, estaria adequada metodologicamente a resolver 
dificuldades inerentes à Constituição nos seus fundamentos. 
Feitas estas considerações, analisemos cada um dos três elementos característicos da 
tópica, a saber: o problema, os topoi e a legitimação das premissas. 
O problema é o ponto de partida do pensar tópico. Problemas são aquilo em torno 
do que os raciocínios giram ou, segundo Viehweg, significa toda questão que, aparentemente, 
permite mais de uma resposta e que requer necessariamente um entendimento preliminar, de 
acordo com o qual toma o aspecto da questão que há que levar a sério e para a qual há que 
buscar uma resposta como solução. O ponto de partida é uma aporia, ou seja, um problema 
concreto. 
O termo "problema" pode ser substituído pelo sinônimo "aporia", que significa 
precisamente uma questão que é estimulante e iniludível, designa a falta de um caminho, a 
situação problemática que não é possível eliminar. A aporia fundamental do direito é a aporia 
da justiça. O que é o justo aqui e agora? Eis um problema que o direito busca 
permanentemente resolver, e que por isso Viehweg o caracteriza como tópico. 
Onde há sociedade há problema, onde há problema há direito, de modo que 
podemos concluir que o direito só existe em função dos problemas. Onde não houver 
problemas, conflitos de interesses, não haverá razão de existir o direito. A sociedade precisa 
do direito para pôr termo aos problemas que se lhe apresentam diariamente. Não há como 
conceber uma sociedade vivendo harmonicamente sem a presença do direito regulando as 
condutas intersubjetivas. O direito surge em razão de problemas oriundos da convivência 
entre humanos, e apenas retira sua razão de ser a partir destes mesmos problemas. O direito é 
feito pela sociedade e para esta mesma sociedade. Ou seja,o direito é feito para dizer o justo 
aqui e agora. É um meio a serviço de um fim. O direito é técnica, instrumento que serve ao 
problema fundamental da justiça. Eis a razão de ser do direito: a aporia fundamental da 
justiça. 
O problema está à frente de tudo, é a partir dele que será feita a seleção do sistema, 
ou seja, o acento no problema opera uma seleção de sistema. Partindo de determinado 
problema, busca-se uma solução em um sistema A, caso o sistema A não ofereça a solução 
adequada passa-se ao sistema B, e assim por diante, até que se ache uma solução adequada 
em um determinado sistema. Por isto a afirmação feita no início de que o acento no problema 
opera uma seleção de sistema. Ao revés, o acento no sistema opera uma seleção de 
problemas. Cada sistema busca nele próprio os seus problemas. Caso no sistema não seja 
encontrada uma resposta para o que se denominou de problema, então se conclui que aquilo 
não é um verdadeiro problema, mas sim um falso problema. 
O segundo elemento característico do pensar problemático é o topoi. Os topoi devem 
ser entendidos de um modo funcional, como possibilidades de orientação e como fios 
condutores do pensamento. [59] Servem eles a uma discussão de problemas. Conforme 
os topoi sejam escolhidos arbitrariamente ou estejam previamente dispostos sob a forma de 
catálogos, podemos classificar a técnica do pensamento problemático em tópica de primeiro 
grau e tópica de segundo grau. Desta forma, os topoi são pontos de vista que servem a uma 
discussão do problema. São instrumentos auxiliares. 
Os topoi adquirem sentido em razão do problema. Toda proposição ou conceito que 
sirva a uma discussão de problemas e que leve a busca de uma solução adequada para o caso 
concreto pode ser considerada como topoi. Em se tratando do Direito Constitucional podem 
ser caracterizados como topoi: os métodos de interpretação constitucional; as normas 
constitucionais; os argumentos da doutrina juspublicista; decisões do judiciário, etc. 
Pode parecer espantoso, mas como o problema está à frente de tudo, as normas 
jurídicas passam para um segundo plano, adquirindo a natureza de topoi. Em se tratando da 
Constituição esta perde em muito o seu aspecto formal. Assim esclarece Paulo Bonavides: "A 
invasão da Constituição formal pelos topoi e a conversão dos princípios constitucionais e das 
próprias bases da Constituição em pontos de vista à livre disposição do intérprete, de certo 
modo enfraquece o caráter normativo dos sobreditos princípios, ou seja, a sua juridicidade. A 
Constituição, que já é parcialmente política, se torna por natureza politizada ao máximo com a 
metodologia dos problemas concretos, decorrentes da aplicação da hermenêutica 
tópica." [60] No mesmo sentido alerta Celso Bastos, advertindo que o emprego da tópica na 
interpretação da Constituição resultaria em um enfraquecimento desta, de maneira que o 
poder estaria todo na mão do intérprete, que poderia, ao seu bel prazer, alterar o real 
significado e intuito das normas constitucionais. [61] 
A validação das premissas pela aceitação do interlocutor constitui a terceira 
característica da tópica. Como é sabido, a tópica é uma técnica de pensar por problemas. 
Posto um problema, o intérprete busca auxílio nos topoi, que servem para afirmar ou 
contrapor um outro argumento. A partir do momento em que o interlocutor for aceitando as 
argumentações contrárias, vão-se formando as premissas em busca de uma solução que seja 
razoavelmente justa. Desta forma, as premissas se legitimam pela aceitação do interlocutor. 
Firmam-se como premissas legítimas os pontos de vista aceitos pelas partes, depois de postos 
em discussão. 
A tópica é, assim, uma técnica aberta de pensar por problemas, podendo servir de 
recurso interpretativo das normas jurídicas, estabelecendo uma forma de raciocínio, que 
procede por questionamentos sucessivos, em torno da relação pergunta x resposta. Assim, 
quando os meios convencionais para a resolução das questões concretas da vida forem 
insuficientes, o juiz diante da situação sub judice, poderia valer-se dos topoi, isto é de pontos 
de vista que facilitam e orientam a sua argumentação, à luz daquilo que está inserido nos 
autos do processo. A partir daí discute-se o problema, analisando cada uma das soluções 
imagináveis e fundamentações para o caso concreto. A conclusão se forma pela avaliação das 
fundamentações dos prós e contras das distintas soluções, após o que se deve escolher a 
interpretação mais adequada para o problema. Todos os meios interpretativos podem ser 
utilizados para a formação dos pontos de vista. [62] 
Pela deficiência quanto à visão de sistema e pelo excessivo casuísmo, este método é 
refutado pela doutrina, sendo proveitosa a afirmação de Canotilho: "A concretização do Texto 
Constitucional a partir dos tópoimerece sérias reticências. Além de poder conduzir a um 
casuísmo sem limites, a interpretação não deve partir do problema para a norma, mas desta 
para os problemas. A interpretação é uma atividade normativamente vinculada, constituindo 
a constitutio scripta um limite ineliminável, que não admite o sacrifício da primazia da norma 
em prol da prioridade do problema". [63] 
Ilação em igual sentido pode ser feita do comentário de Eros Roberto Grau: "Não se 
interpreta a Constituição em tiras, aos pedaços. A interpretação de qualquer norma da 
Constituição impõe ao intérprete, sempre, em qualquer circunstância, o caminhar pelo 
percurso que se projeta a partir dela – da norma até a Constituição. Uma norma jurídica 
isolada, destacada, desprendida do sistema jurídico, não expressa significado normativo 
nenhum". [64] 
3.2 CLASSIFICAÇÕES 
Interpretar a lei consiste em determinar o seu significado e fixar o seu alcance. 
Compreendendo diversos momentos e aspectos, a tarefa interpretativa apresenta, contudo, 
um tal caráter unitário, que não atinge o seu objetivo senão na sua inteireza e complexidade. A 
esses diversos aspectos da atividade do intérprete, que mutuamente se completam e se 
exigem, alude-se tradicionalmente com o nome de métodos de interpretação. [65] 
Inobstante, o escol de Francesco Ferrara nos ensina que não há, a rigor, várias 
espécies de interpretação, mas uma interpretação única, combinando-se os diversos meio 
empregados, interpretando-se reciprocamente, para obtenção do acertamento do sentido 
legislativo. [66] 
É sabido que o Direito não milita com signos exatos e em razão disso surge uma certa 
imprecisão em suas normas jurídicas. Todavia, esta imprecisão não pode ser tomada como 
sendo fruto de uma desvalia da Ciência Jurídica, mas tão-somente como um elemento 
imprescindível de que se vale o Direito para formular as suas normas de molde a serem 
dotadas de abstratividade e generalidade e, por consequência, abarcarem uma multiplicidade 
de situações. Isso significa que em todo o processo de elaboração das leis chega-se a um ponto 
em que elas passam a conter dentro de si a condição de incerteza. 
Ademais, se não fossem essas zonas de aparente imprecisão, não seria possível ao 
Direito evoluir no tempo. Não se pode considerar essa imprecisão como algo negativo, pois na 
verdade ela é um instrumento de que se vale o Direito para se manter atual e dinâmico. Há 
que se deixar consignado também que essa abstratividade e imprecisão permeiam toda a 
ordem jurídica. [67] 
Adotamos aqui parcialmente a classificação sistemática de Tito Fulgêncio [68] da 
interpretação em dois grupos, quanto à origem e quanto aos elementos, acrescentando um 
terceiro, quanto aos efeitos, adotada por alguns doutrinadores, notadamente Cintra, Grinover 
& Dinamarco. [69] Já em relação aos itens de cada um desses grupos, achamos por bem 
promover certas alterações, conciliando o posicionamento de diferentes doutrinadores. 
A escolha entre este ou aquele método interpretativo não é uma atividade gratuita, é 
dizer, ela é feita,em última análise, de acordo com a ideologia do intérprete. Este último 
escolherá aqueles métodos que forneçam elementos favoráveis ao seu interesse, que guarde 
consonância com a sua ideologia ou, como preferem alguns autores a "pré-compreensão do 
intérprete" que faz com que por ocasião da escolha do método já se tenha uma noção das 
múltiplas significações que a norma comporta. [70] 
Ainda, cabe ressaltar que a norma interpretativa tem efeito ex tunc, uma vez que 
apenas esclarece o sentido da lei. [71] 
3.2.1 QUANTO À ORIGEM 
Quanto à origem, a interpretação será autêntica, judicial ou doutrinária. 
Cabe sublinhar que a interpretação dada à norma em determinado caso concreto não 
vincula o intérprete, mesmo que em exercício de função jurisdicional, podendo ele e os demais 
órgãos judicantes interpretar livremente a norma em casos análogos. 
3.2.1.1 AUTÊNTICA 
É chamada de ‘autêntica’ – e também de ‘legal’, ‘legislativa’ ou ‘pública’ – a 
interpretação realizada pelo próprio órgão que editou a norma a ser interpretada, declarando 
seu sentido, alcance e conteúdo, por meio de outra norma jurídica. 
É chamada de contextual quando vem inserida no próprio texto interpretado, 
ou posterior, quando elaborada para esclarecer o sentido duvidoso da lei já publicada. 
Ressalte-se que a própria lei interpretativa, sendo norma de direito objetivo, norma 
da mesma natureza da interpretada, está sujeita a interpretações. 
Também deve ser observado o escalonamento hierárquico das leis. Assim, uma 
norma constitucional somente poderá receber interpretação autêntica por outra norma 
constitucional. Não pode o Executivo baixar decreto interpretativo de uma lei, nem é possível 
à União votar lei interpretativa de lei estadual ou municipal ou vice versa. [72] 
Para Kelsen, sempre é autêntica a interpretação feita pelo órgão aplicador do Direito, 
pois ele cria Direito. Pouco importa se cria uma norma geral, ou se cria Direito apenas para um 
caso concreto. [73] 
3.2.1.2 JUDICIAL 
Será ‘judicial’ ou ‘jurisprudencial’ a interpretação realizada por órgão jurisdicional, 
demonstrando a orientação que os juízos e tribunais vêm dando à norma. 
Não é a função judicial especificamente, mas resulta como via de consequência, da 
fixação do conteúdo do dispositivo invocado, que o juiz esclarece em que termos compreende. 
Por isso mesmo, não se pode emprestar sentido normativo à interpretação judicial, cujo 
prestígio depende da autoridade intelectual do prolator. [74] 
3.2.1.3 DOUTRINÁRIA 
Este método, também chamado de interpretação ‘científica’, se refere à 
interpretação feita por estudiosos e cultores do direito (communis opinio doctorum). Alguns 
doutrinadores defendem que as exposições de motivos devem ser tomadas como 
interpretação doutrinária, e não autêntica, uma vez que não são leis. [75] 
3.2.2 QUANTO AOS ELEMENTOS 
Para criar a norma em concreto, o aplicador do direito recorre a diferentes técnicas 
de interpretação do sentido da norma em abstrato. 
Quanto aos elementos, a interpretação é classificada em gramatical, lógica, 
ou teleológica. 
Ressalte-se que todos os métodos de interpretação conduzem sempre a um 
resultado apenas possível, nunca a um resultado que seja o único correto. Fixar-se na vontade 
presumida do legislador desprezando o teor verbal ou observar o estritamente o teor verbal 
sem se importar com a vontade do legislador tem valor absolutamente igual. Se for o caso de 
duas normas da mesma lei se contradizerem, então as possibilidades lógicas de aplicação 
jurídica se encontram sobre um e o mesmo plano. É um esforço inútil querer fundamentar 
juridicamente uma, com exclusão da outra. [76] 
3.2.2.1 GRAMATICAL 
Também chamado de método ‘filológico’, ‘literal’ ou ‘verba legis’, consiste em 
verificar o sentido do texto legal, analisando-se o alcance das palavras utilizadas pelo 
legislador, tanto individualmente como na sua sintaxe. O intérprete precisa a significação dos 
vocábulos, a sua colocação na frase, o uso de partículas e cláusulas, o emprego de expressões 
sinônimas. 
Já que o comando estatal se revela pela palavra, é do seu emprego, da sua utilização 
que o intérprete se vale, num primeiro grau do entendimento hermenêutico para definir o seu 
conteúdo. 
Há quem considere o processo de interpretação meramente literal de maliciosa 
perversão da lei. [77]Eduardo Espínola expõe que a letra em si é inexpressiva; a palavra, como 
conjunto de letras ou combinações de sons, só tem sentido pela idéia que exprime, pelo 
pensamento que encerra, pela emoção que desperta. [78] E esse cuidado já tomavam os 
romanos, tendo o jurisconsulto Paulus se pronunciado no sentido de que age em fraude à Lei 
quem, respeitadas as suas palavras, contorne o seu sentido. [79] 
3.2.2.2 LÓGICO-SISTEMÁTICO 
Os dispositivos legais não têm existência isolada – não se interpreta o direito em 
tiras [80] –, mas se inserem organicamente em um sistema, que é o ordenamento jurídico, em 
recíproca dependência com as demais regras de direito que o integram. [81] Desse modo, para 
serem entendidos devem ser examinados em suas relações com as demais normas que 
compõem o ordenamento e à luz dos princípios gerais que o informam. [82] 
Também deve ser notada a distinção feita pela doutrina entre lógica interna e lógica 
externa. 
A primeira trata da inteligência do próprio texto legislativo, alheando-se dos 
elementos de informação extra legem, estudando a lei dentro de sua unidade de pensamento, 
através dos métodos dedutivo, indutivo e dos raciocínios silogísticos. A crítica deste método 
diz que ele oferece aparência de certeza, exterioridades ilusórias, deduções pretensiosas; 
porém no fundo, o que se ganha em rigor de raciocínio, perde-se em afastamento da verdade, 
do Direito efetivo, do ideal jurídico. [83] 
Pela lógica externa, procura-se completar o sentido da lei observando os 
acontecimentos que provocam o fenômeno jurídico (occasio legis), indagando os fins que 
ditaram a regra jurídica (ratio legis). Nas palavras de Holbach, toda ciência que se limita aos 
textos de um livro e despreza as realidades da vida é ferida de esterilidade. [84] 
Alguns doutrinadores desmembram este método, apresentando classificações 
distintas para o método ‘lógico’ e para o ‘sistemático’, o que nos parece redundante, pois em 
ambos os casos o texto interpretado é analisado em conjunto com o sistema onde está 
inserido. A diferenciação estaria em que no primeiro também é incluído o método teleológico. 
Com a devida vênia, entendemos que a classificação aqui proposta é melhor dividida. 
3.2.2.3 TELEOLÓGICO 
A par desta lógica formal (logos do racional), há que se falar da lógica do razoável a 
que se refere o guatemalteco Luis Recasèns Siches, que apresenta certas características 
referentes à lógica (logos) do humano que: está condicionado pela realidade concreta do 
mundo social-histórico e particular no qual, com o qual e para o qual se elaboram as normas 
jurídicas; está impregnado de valorações, de critérios estimativos ou axiológicos referidos a 
uma determinada situação humana real, e que constituem a base para uma formulação de 
finalidades; é regido por razões de congruência ou adequação entre a realidade social e 
valores, entre valores e fins, entre fins e realidade social concreta, entre fins e meios em vista 
da correção ética dos meios; entre fins e meios naquilo que se refere à eficácia dos meios 
etc. [85] 
Como bem resume Elcio de Cresci Sobrinho, a interpretação das normas jurídicas 
inclusive das que parecem mais claras e mais completas, requer referência a princípios 
axiológicos, a critérios valorativos que muitas vezes não estão expressos no texto da lei. Os 
termos de uma norma jurídica devem ser interpretados em função do propósito para o qual foi 
emitida e sempre em relação com o sentido e o alcance dos fatos particulares, em questão,referidos àquela finalidade da norma. [86] Há, pois, que se indagar, por vezes, do sentido 
teleológico da lei, com vista na apuração do valor e finalidade do dispositivo. [87] 
A lei tem em vista um objetivo e se justifica por uma razão; a lei foi votada em um 
determinado momento e não em outro; a lei traduz as idéias políticas, filosóficas e econômicas 
dominantes no meio social de que se destina a regular as atividades. O intérprete não pode 
desprezar todos esses fatores, ao precisar o que a lei deve conter efetivamente. Tem de 
indagar qual a sua ratio isto é, o motivo ou causa determinante do dispositivo, o que lhe 
permite abarcar, no preceito, todo o fenômeno compreendido na mesma ordem racional; tem 
de perquirir a occasio legis, a saber o momento histórico do seu aparecimento, o subsídio para 
reconstrução da sua força; tem de isolar a expressão da vontade legislativa, não no sentido da 
emissão volitiva do proponente, ou da exteriorização psíquica de uma pessoa, mas de uma 
vontade objetiva, da própria lei, encarada como entidade jurídica de existência autônoma. [88] 
3.2.3 QUANTO AOS RESULTADOS 
Conforme o resultado da atividade interpretativa, esta 
será declarativa, extensiva, restritiva ou ab-rogante. 
A interpretação ‘declarativa’ atribui à lei o exato sentido proveniente do significado 
das palavras que a expressam. 
É considerada ‘extensiva’ sempre que se considera que a lei é aplicável a casos que 
não estão abrangidos pelo teor literal (lexplus voluit quam dixit), alargando o campo de 
incidência da norma, em relação aos seus termos. 
‘Restritiva’ é a interpretação que limita o âmbito de aplicação da lei a um círculo mais 
estrito de casos do que o indicado pelas suas palavras (minus voluit quam dixit). 
Diz-se ‘ab-rogante’ a interpretação que, diante de uma incompatibilidade absoluta e 
irredutível entre dois preceitos legais ou entre um dispositivo de lei e um princípio geral do 
ordenamento jurídico, conclui pela inaplicabilidade da lei interpretada. 
4. PECULIARIDADES DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL 
Uma Constituição democrática se baseia em princípios que permitem uma constante 
evolução interpretativa, condicionada pelos princípios universais de direitos humanos, 
processos e procedimentos democráticos constitucionalmente previstos, e pela livre expressão 
da vontade consciente dos cidadãos. 
A questão que nos interessa diretamente neste momento do trabalho é a da 
interpretação da Constituição vislumbrando como se dá a relação entre suas regras e 
princípios. Em outras palavras, pergunta-se se há hierarquia entre as diversas normas 
constitucionais. 
O princípio da unidade da constituição determina que a constituição deve ser 
interpretada de maneira sistemática, de modo a evitar contradições entre suas normas. Não é 
aconselhável interpretar um dispositivo constitucional isoladamente, mas sim integrado com 
outras normas que compõem o sistema interno da constituição. Explica Canotilho que este 
princípio "obriga o intérprete a considerar a constituição na sua globalidade e a procurar 
harmonizar os espaços de tensão existentes entre as normas constitucionais a concretizar" [89]. 
Canotilho defende como pontos básicos para a interpretação constitucional: a) 
rejeição de qualquer interpretativismo extremo vinculado a premissas teóricas insustentáveis: 
a interpretação como revelação da "vontade de um poder" constituinte histórico, identificação 
do texto com a norma, limitação da interpretação aos preceitos constitucionais 
transportadores de regras jurídicas precisas e concretas; b) rejeição do "desconstrucionismo" 
ou "pós-estruturalismo interpretativo", conducente a uma jurisprudência política, disfarçada 
na necessidade de mediação e integração dos valores presentes numa ordem constitucional; c) 
articulação da concepção substantiva de constituição com o princípio democrático: os 
parâmetros substantivos da constituição são concretizados político-jurídico-valorativamente 
pelo legislador e controlados jurídico-valorativamente pelos tribunais; d) arrimo da 
interpretação da constituição numa teoria constitucionalmente adequada que postula o apelo 
simultâneo a "valores" substantivos (igualdade, liberdade, justiça), a "valores" procedimentais 
(processo democrático, eleições), a "valores" formais (forma de lei, do contrato) – dar 
operacionalidade prática à concepção de constituição como sistema normativo aberto de 
princípios e regras; e) a interpretação da constituição é interpretação-concretização de 
uma hard law e não de uma soft law: as regras e princípios constitucionais são padrões de 
conduta juridicamente vinculantes e não simples "diretivas práticas". [90] 
Ivo Dantas entende que, uma vez tendo o texto constitucional estabelecido a divisão 
dos princípios em gerais e setoriais, poder-se-á estabelecer uma nova hierarquia entre estes 
princípios, colocando no ápice da pirâmide os princípios fundamentais, e abaixo os princípios 
gerais voltados para determinado setor na Constituição. [91] 
Ao falar-se em hierarquia de normas constitucionais, esta hipótese poderá sugerir 
uma possível inconstitucionalidade de normas constitucionais oriundas do poder 
constituinte originário, [92] tese com a qual não concordamos; primeiro porque os princípios 
constitucionais podem facilmente superar possíveis inconstitucionalidades de regras em 
sentido restrito, e em segundo lugar porque a ideologia constitucionalmente adotada, 
juntamente com o princípio da economicidade, ajuda-nos a superar qualquer antagonismo no 
texto. 
Desta forma, no lugar de hierarquia, é preferível visualizar nas normas constitucionais 
diversos graus de abrangência, onde se poderia acrescentar uma diferenciação entre os 
princípios fundamentais e os princípios gerais setoriais. Temos então: a) regras em sentido 
restrito; b) regras deduzidas em sentido amplo; c) regras expressas em sentido amplo setoriais; 
d) regras expressas em sentido amplo fundamentais; e) ideologia constitucionalmente 
adotada. 
Para a boa interpretação constitucional é preciso verificar, no interior do sistema, 
quais as normas que foram prestigiadas pelo legislador constituinte a ponto de convertê-las 
em princípios regentes desse sistema de valoração. Impende examinar como o constituinte 
posicionou determinados preceitos constitucionais. Alcançada, exegeticamente, essa 
valoração é que teremos os princípios. Estes, como assinala Celso Antônio Bandeira de Mello, 
são mais do que normas, servindo como vetores para soluções interpretativas. De modo que é 
preciso, para tal, conhecer cada sistema normativo. A interpretação da norma constitucional 
levará em conta todo o sistema, tal como positivado, dando-se ênfase, porém, para os 
princípios que foram valorizados pelo constituinte. [93] 
Este conjunto de regras constitucionais se apresentam ao intérprete, que poderá 
com os elementos oferecidos pela hermenêutica, adequá-las, sistematiza-las e inseri-las a na 
realidade social, política e econômica. Este processo de interpretação não ocorrerá pela 
vontade de um intérprete, mas de vários intérpretes, que para a correta interpretação da 
vontade da Constituição, e sua justa aplicação, deverão estar atentos às indicações advindas 
das aspirações populares adequadas aos valores do texto constitucional. 
Ora, se a Constituição é um sistema de normas, um lucidos ordo, como era sempre 
advertido por Ruy Barbosa, que confere unidade a todo o ordenamento jurídico, disciplinando 
de forma unitária e congruente as estruturas fundamentais da sociedade e do Estado, é mais 
do que razoável concluir não haver hierarquia entre estas normas constitucionais. Não existe 
nem mesmo hierarquia (jurídica) entre os princípios e as regras constitucionais, o que se 
afasta, de logo, a ocorrência de normas constitucionais inconstitucionais, ou melhor, normas 
constitucionais do poder constituinte originário inconstitucionais,uma vez que o STF admitiu a 
possibilidade de inconstitucionalidade de normas emanadas pelo poder constituinte derivado 
(ADIn 939), desde que feridas as garantias enumeradas no art. 60, §4º. [94] 
É forçoso admitir que não há hierarquia entre os princípios constitucionais. Ou seja, 
todos as normas constitucionais têm igual dignidade; em outras palavras: não há normas 
constitucionais meramente formais, nem hierarquia de supra ou infra-ordenação dentro da 
Constituição, conforme asseverou Canotilho. Existem, é certo, princípios com diferentes níveis 
de concretização e densidade semântica, mas nem por isso é correto dizer que há hierarquia 
normativa entre os princípios constitucionais. Com efeito, como decorrência imediata do 
princípio da unidade da Constituição, tem-se como inadmissível a existência de normas 
constitucionais antinômicas (inconstitucionais), isto é, completamente incompatíveis, 
conquanto possa haver, e geralmente há, tensão das normas entre si. 
Já lecionava José Afonso da Silva que toda constituição é feita para ser aplicada. 
Nasce com o destino de reger a vida de uma nação, construir uma nova ordem jurídica, 
informar e inspirar um determinado regime político-social. [95] E nesta constante tarefa de 
interpretação do texto constitucional para sua aplicação e transformação da realidade, ou em 
sentido contrário, a transformação ou mutação do texto imposta pela realidade, o jurista irá 
trabalhar com regras que não têm hierarquia, mas sim graus de abrangência diferentes. Desta 
forma, a interpretação de uma lei poderá ser bastante diferenciada em situações também 
diferentes, onde seguindo valores fundamentais, princípios aplicáveis a uma situação não 
poderão ser usados em outra condição. 
Linares Quintana formula sete regras que devem ser aplicadas quando do momento 
da interpretação de normas constitucionais, são elas: a) na interpretação constitucional deve 
sempre prevalecer o conteúdo teleológico ou finalista da Constituição, que se é instrumento 
de governo, também e principalmente é restrição de poderes em defesa da liberdade 
individual; b) a Constituição deve ser interpretada com um critério amplo, liberal e prático; 
nunca estreito, limitado e técnico, de modo que na aplicação de suas disposições se cumpram 
cabalmente os fins que a orientam e informam; c) as palavras que a Constituição emprega 
devem ser entendidas em seu sentido geral e comum, a menos que resulte claramente de seu 
texto que o constituinte quis referir-se a seu sentido técnico, e em nenhum caso há de supor-
se que um termo constitucional é supérfluo ou está demais, senão que sua utilização 
obedeceu a um desígnio preconcebido dos autores da lei suprema; d) a Constituição deve ser 
interpretada como um conjunto harmônico, no qual o significado de cada parte deve 
determinar-se em harmonia com o das partes restantes; nenhuma disposição deve ser 
interpretada isoladamente, e sempre deve preferir-se a interpretação que harmoniza e não a 
que coloque em confronto as distintas cláusulas da lei suprema; e) a Constituição, enquanto 
instrumento de governo permanente, cuja flexibilidade e generalidade lhe permite adaptar-se 
a todos os tempos e circunstâncias, deve ser interpretada tendo em conta não somente as 
condições e necessidades existentes ao momento de sua sanção, mas também as condições 
sociais, econômicas e políticas que existem ao tempo de sua interpretação e aplicação, de 
modo que nem sempre seja possível o cabal cumprimento dos grandes fins e propósitos que 
informam e orientam a lei fundamental do país; f) as exceções e os privilégios devem ser 
interpretados restritivamente; g) os atos públicos se presumem constitucionais enquanto, 
mediante uma interpretação razoável da Constituição, possam ser harmonizados com esta. [96] 
Também Canotilho arrola os princípios que devem reger a atividade do intérprete da 
constituição, quais sejam: princípio da unidade da constituição, a constituição deve ser 
interpretada de forma a evitar contradições, considerando-a em sua globalidade e 
harmonizando os espaços de tensão existentes entre as normas constitucionais a 
concretizar; princípio do efeito integrador, na solução de problemas jurídica constitucionais 
deve se dar primazia aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a integração política e 
social e o reforço da unidade política; princípio da máxima efetividade, a uma norma 
constitucional deve ser atribuído o sentido que maior eficácia lhe dê; princípio da ‘justeza’ ou 
da conformidade funcional, o órgão (ou órgãos) encarregado da interpretação da lei 
constitucional não pode chegar a um resultado que subverta ou perturbe o esquema 
organizatório-funcional constitucionalmente estabelecido; princípio da concordância ou da 
harmonização, impõe a coordenação e combinação dos bens jurídicos em conflito de forma a 
evitar o sacrifício (total) de uns em relação aos outros; princípio da força normativa da 
constituição, na solução dos problemas jurídico-constitucionais deve se dar prevalência aos 
pontos de vista que, tendo em conta os pressupostos da constituição (normativa), contribuem 
para uma eficácia ótima da lei fundamental, dando-se primazia às soluções hermenêuticas 
que, compreendendo a historicidade das estruturas constitucionais, possibilitam a 
"atualização" normativa, garantindo, ao mesmo tempo, a sua eficácia e permanência. [97] 
4.1 FINALIDADE 
A interpretação da Constituição deve ter sempre em vista certos objetivos, que 
devem acompanhar a concretização da norma constitucional. Peter Häberle expõe em sua 
obra que tais objetivos (e tarefas) da interpretação constitucional são a justiça, equidade, 
equilíbrio de interesses, resultados satisfatórios, razoabildiade, praticabilidade, justiça 
material, segurança jurídica, previsibilidade, transparência, capacidade de consenso, clareza 
metodológica, abertura, formação de unidade, "harmonização", força normativa da 
Constituição, proteção efetiva da liberdade, igualdade social, e ordem pública voltada para o 
bem comum. [98] 
4.2 CONFLITO DE NORMAS 
A situação de regras incompatíveis entre si é denominada antinomia. Há três critérios 
clássicos, apontados por Norberto Bobbio e aceitos quase universalmente, para solução de 
antinomias: o critério cronológico (lex posterior derogat priori), o critério hierárquico (lex 
superior derogat inferiori) e, por último, o critério da especialidade (lex specialis derogat 
generali). Assim, no caso de duas regras em conflito, aplica-se um desses três critérios. 
No caso de colisão de princípios constitucionais, porém, não se trata de 
antinomia, [99] vez que não se pode simplesmente afastar a aplicação de um deles. Portanto, 
não há que se falar em aplicação destes critérios para solucionar eventual colisão de princípios 
constitucionais. Como assevera Canotilho: "Assim, por ex., se o princípio democrático obtém 
concretização através do princípio maioritário, isso não significa desprezo da proteção das 
minorias (...); se o princípio democrático, na sua dimensão económica, exige a intervenção 
conformadora do Estado através de expropriações e nacionalizações, isso não significa que se 
posterguem os requisitos de segurança inerentes ao princípio do Estado de direito (princípio 
de legalidade, princípio de justa indenização, princípio de acesso aos tribunais para discutir a 
medida da intervenção)". [100] 
Também, as práticas político-sociais geram precedentes políticos que interferem no 
significado de certos preceitos da Constituição. Não é raro que uma prática constitucional 
introduza regra em desacordo com normas constitucionais. 
Em princípio é preciso observar que as forças que provocam a mudança nas 
constituições podem atuar de duas formas. Primeiramente podem originar uma mudança nas 
circunstâncias que, de por si, não conduza a qualquer mudança efetiva no texto constitucional 
mas que, no entanto, faça com

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