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Avaliação Psicomotora Anamnese Psicomotora 2 O primeiro contato terapêutico com o paciente, ou responsável, durante o qual anotamos o relato da seqüência de fatos importantes sobre a situação atual e pregressa do paciente e de sua história clínica, denomina-se anamnese; A anamnese deve ser conter o histórico do paciente, histórico da doença e a queixa principal; Durante este primeiro contato o terapeuta deve demonstrar, além de segurança em seus conhecimentos profissionais, interesse e compreensão pela história do paciente, de forma que este se sinta o mais à vontade possível, criando assim uma relação de harmonia e confiança entre ambos; Caso isso não ocorra, será muito difícil obter as informações mais pertinentes sobre a relação desta criança consigo e com o mundo; 3 Além dos dados básicos e informações objetivas sobre o paciente (nome, endereço, telefone, idade etc.) o terapeuta deve estar preocupado em conhecer: Queixa principal; Informações sobre a dinâmica familiar; Histórico familiar; Histórico do paciente; Exames. 4 O que observar num primeiro contato? 5 A qualidade na avaliação A avaliação em Psicomotricidade é um momento importante para o processo terapêutico, porém acreditamos que mesmo a avaliação mais completa e abrangente não será suficiente para conhecermos o que está por trás do sintoma psicomotor; Então, como avaliar, que instrumentos utilizar, quais situações iniciais com a criança nos serão necessárias para conhecê-la melhor? A anamnese, realizada anteriormente com os pais da criança, nos traz dados sobre todo seu desenvolvimento, suas atividades atuais, suas relações, sua forma de enfrentar as dificuldades etc. 6 Mas sabemos, que o sintoma é o que a criança nos dá a ver, o que ele se desenvolve com, para e pelo outro, por isso que a queixa do sintoma psicomotor, não vem da própria criança e sim do outro, e isto também deve ser considerado durante a avaliação; Após a anamnese é necessário definir quais os instrumentos de avaliação seriam indicados para determinado caso; Acredita-se que o que faz a diferença não é o instrumento utilizado, mas sim o olhar lançado sobre o que a criança nos dão a ver; Desta forma uma avaliação bem estruturada pode ser de grande riqueza se olhada de forma qualitativa. Voltamos a lembrar a importância de se estabelecer um vínculo de confiança, primeiramente com os pais e, em seguida com a criança, pois só assim poderemos acreditar naquilo que esta nos dá a ver. 7 A avaliação psicomotora é realizada para que possamos investigar as possíveis alterações que estariam sendo obstáculo para o bom desenrolar do desenvolvimento infantil nos aspectos sensoriais, motores, cognitivos, psicoafetivos e sociais; É importante ressaltar que as avaliações psicomotoras não conseguem nos informar o que está por trás do sintoma psicomotor. Elas nos mostram como está o sintoma, como ele se apresenta para o mundo, como ele se dá a ver aos olhos do outro; Para a Psicomotricidade o corpo da criança é um corpo em relação não só com o outro, com o mundo dos objetos, mas também e, acima de tudo, uma relação consigo. 8 Estruturas do Sistema Nervoso – Unidades Funcionais de Luria Para que possamos utilizar um instrumento de avaliação psicomotora, é primordial que tenhamos acesso aos conhecimentos da Neuropsicologia fornecidos por Luria que irão sustentar a escolha das provas pertinentes à nossa avaliação ; Luria (1973), de acordo com Vygotsky (apud Fonseca, 1995) aborda a noção de função como um sistema complexa e plástico. As funções psicomotoras e os substratos neurológicos que são por elas utilizados passam a ser vistos como sistemas organizados, dinâmicos e complexos; 9 As funções cerebrais têm a partir desses estudos, uma localização dinâmica e não restrita e estática com tinham até então; As capacidades cognitivas são analisadas e distribuídas em zonas ou centros corticais, que, apesar de serem diferentes anatomicamente e funcionalmente, estabelecem entre si um trabalho sincronizado e dinâmico; As tarefas são conseqüências de uma harmoniosa e complexa atividade de estruturas corticais e subcorticais que, por um sistema de retroalimentação e reaferência, caracterizam o “córtex operário”; Ausente no instante do nascimento, as zonas de trabalho responsáveis pela atividade cognitiva complexa, seja ela psicomotora ou simbólica, são encadeadas estruturalmente durante o processo de desenvolvimento; 10 Toda aquisição cognitiva da criança – postura bípede, manipulação práxica, compreensão auditiva, fala, leitura, escrita, etc. – é conseqüência de uma atividade simultânea e integrada dos centros de trabalho dispersos no cérebro; Inicialmente, são os centros mesencefálicos os responsáveis pelo comportamento motor do indivíduo que produzem os reflexos não-condicionados; Não podemos desvincular a linguagem gestual, a comunicação não-verbal emocional e mímica, a atenção, a percepção, a memória e o pensamento da linguagem falada; Da mesma forma, não podemos estudar de forma isolada a motricidade humana sem levar em conta a organização do tônus de repouso e de ação, o controle postural, a regulação vestibular e espacial, a noção do corpo e sua relação com o espaço, a memória e as aferências do meio; 11 O cérebro funciona, segundo a teoria luriana, como um sistema totalizador que opera várias unidades funcionais consideradas como subsistemas; Para Lúria, o cérebro é composto de múltiplas estruturas funcionais fundamentais; As três unidades funcionais participam de todo tipo de atividade mental, quer no movimento voluntário, na elaboração práxica e psicomotora, quer na produção de linguagem falada ou escrita; 12 A Primeira unidade funcional As estruturas do sistema nervoso, responsáveis pelo funcionamento da primeira unidade funcional são o tronco cerebral, o diencéfalo e as regiões médias do córtex. Sua função é a regulação do tônus cortical e postural e os estados de alerta (sono e vigília); A formação reticulada, no tronco cerebral, é a estrutura responsável pelo tônus cortical, portanto, corporal, e, além de regular a atenção seletiva das atividades conscientes, ainda é responsável pela regulação de todas as funções vitais do ser humano durante o sono; A formação reticulada assume, segundo Luria, um papel fundamental na motivação e na aprendizagem. Transforma, por meio de seu poder de integração com os centros superiores, as sensações vindas de várias modalidades sensoriais em uma percepção; 13 A primeira unidade trabalha interligada aos sistemas corticais durante as atividades conscientes do homem, sejam elas ligadas à programação da ação voluntária, de processo e de codificação simbólica; Está em atividade desde antes do nascimento, desempenhando participação decisiva durante o parto e durante os processos iniciais de maturação motora; 14 A Primeira unidade funcional 15 A Segunda Unidade Funcional As estruturas do sistema nervoso, responsáveis pelo funcionamento desta unidade, estão localizadas nas regiões posteriores e laterais no córtex cerebral (zonas responsáveis pela recepção dos órgãos sensoriais), isto é, a região occipital – análise visual; a região temporal superior – análise auditiva, e a região pós-central parietal – analisador tátil e cinestésico (ligado ao movimento); Sua função é específica e suas células nervosas também. Esta especificidade celular faz estas zonas sensoriais serem capazes de processar diferenças sensoriais mínimas, garantindo uma percepção integrada, seletiva e complexa. 16 A Segunda Unidade Funcional 17 A Terceira Unidade Funcional Esta última implica a organização da atividade consciente, ou seja, a programação, regulação e verificação desse tipo de atividade. Está localizada nas regiões anteriores do córtex, à frente do sulco central (áreas pré-central e frontal), região denominada lóbulos frontais; Essas regiões formam um complexo cinestésico único no córtex e possuem sistemas aferentes de projeção com as regiões do córtex e subcórtex, responsáveis pela alimentaçãodos sistemas extrapiramidais e por todo sistema de programação, regulação e verificação das atividades humanas (sistema cérebro-córtico-cerebelar); O desenvolvimento e a perfeição da motricidade humana estão diretamente associados com a formação de áreas terciárias do córtex frontal. 18 A Terceira Unidade Funcional 19 Unidades Funcionais de Luria 20 Que instrumentos usar na avaliação? 21 Verificação da primeira unidade funcional de Lúria 1 – Tonicidade Serão avaliadas duas formas de tonicidade: a de fundo e a de ação. Na primeira, vamos verificar o aspecto da passividade (capacidade de relaxamento passivo dos membros e suas extremidades distais perante mobilizações, oscilações e balanceios promovidos pelo observador) e o aspecto da extensibilidade (maior comprimento possível que podemos imprimir a um músculo afastando suas inserções). 22 Após a observação do tônus de fundo, de base ou repouso, devemos seguir nossa observação do tônus de ação ou de atitude investigando: As paratonias – incapacidade de relaxamento voluntária; As disdiadococinesias – dificuldades na função motora que permite a realização de movimentos simultâneos e alternados, que põe em cena a coordenação cerebelar; As sincinesias – quando um grupo muscular que não foi convidado para a ação, vem participar dela – reações parasitas de imitação ou praxias; Para a avaliação de tão importante aspecto psicomotor existe o exame de tônus de Ajuriaguerra e Bérges (1963). 23 Prova 1 – Exame de tônus Provas de passividade; Provas de extensibilidade; Sincinesias; Controle tônico postural; 24 Prova 2 - Equilibração A observação do equilíbrio também é o fator de interesse da primeira unidade funcional, uma vez que envolve ajustamentos posturais antigravitários que dão suporte a qualquer ato motor; O equilíbrio é resultante de uma ação coordenada e simultânea da proprioceptividade, da tonicidade e da exteroceptividade, sendo o ponto de partida para todas as ações coordenadas intencionais; Prova do equilíbrio estático; Prova do equilíbrio dinâmico; 25 Prova 3 – Conhecimento do corpo A noção de corpo também deve ser observada e é da responsabilidade da segunda unidade funcional de Lúria; Investigação sobre o conhecimento que a criança pode ter de seu corpo (Bateria psicomotora de Vitor da Fonseca); Imitação de gestos e verbalização e demonstração das partes do corpo (Bérges e Lézine, 1978). Prova de Cinestesias; Prova de Imitação de gestos. Prova de Conhecimento das partes do corpo; Prova de Desenho da figura humana (desenho de si). 26 Prova 4 – Organização perceptiva e estruturação espaço-temporal A organização perceptiva abarca a organização espacial que, segundo Fonseca, compreende a capacidade espacial concreta de calcular as distâncias e ajustamentos dos planos motores, pondo em cena as funções de análise espacial, processamento e julgamento das distâncias, direção projeto motor e verbalização da experiência; Envolve as áreas parietais e occipitais (5 e 7) e fornece as informações necessárias para os centros motores piramidais e extrapiramidais; Provas: tabuleiro vazado com três formas (círculo, triângulo e quadrado); formação de um retângulo; representação topográfica e estruturação rítmica. 27 Prova 5 - Lateralização Segundo Luria, a lateralização humana respeita a progressiva especialização dos dois hemisférios, resultante das experiências da motricidade laboral e da linguagem; Sabemos que a lateralização tem componente inato, mas pode ser alterada por fatores sociais e que a função manual surge no final do primeiro ano de vida, mas se estabelecerá por volta dos 4 ou 5 anos. É importante ressaltar que a integração bilateral é indispensável ao controle postural; Na análise da lateralidade, devem ser investigadas não somente a predominância manual mas também a ocular, a auditiva, a podal e a expressiva. 28 Prova 6 – Praxia global Está mais relacionada com as áreas 4, 6 e 8, responsáveis, segundo Lúria, pela realização e automação dos movimentos globais complexos. Estas áreas antecipam ou preparam o movimento propriamente dito e são ricamente conectadas com as estruturas subcorticais; 29 Prova 7 – Praxia fina Compreende a micromotricidade e a perícia manual, estando mais relacionada com a área 8, no lóbulo frontal, nas regiões anteriores do córtex, e está intimamente ligada às áreas visuais; Coordenação dinâmica manual: refere-se a destreza bimanual e agilidade digital, envolvendo o planejamento motor das extremidades distais em integração completa com a atenção, a fixação e a captação visual de objetos. 30 31 FIM 32
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