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- Junho de 2002 - ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Antonio Tadeu Lyrio de Almeida (Edição Preliminar) ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 1: Conceitos Gerais e Definições - 1 CAPÍTULO 1: CONCEITOS GERAIS E DEFINIÇÕES "Não se pode ensinar alguma coisa a alguém, pode-se apenas auxiliar a descobrir por si mesmo.” Galileu Galilei RESUMO Este texto apresenta de forma sucinta, o principio de funcionamento de vários tipos de transformadores, bem como, algumas de suas particularidades especificas 1.0 - INTRODUÇÃO Chama-se “transformador” a um equipamento elétrico, sem partes necessariamente em movimento, que transfere energia elétrica de um ou mais circuitos (primário) para outro ou outros circuitos (secundário, terciário) através da indução eletromagnética. Nesta transferência, poderá ocorrer uma alteração dos valores das tensões e das correntes em cada circuito, porém as suas freqüências são sempre as mesmas. 2.0 – TIPOS E APLICAÇÕES De uma maneira geral, existem múltiplas aplicações e, para cada uma, tem-se um tipo diferente de transformador. O princípio de funcionamento, porém,. mantêm-se o mesmo em todos os casos. Os principais tipos e aplicações são: 2.1 - Transformadores de Potência São classificados como transformadores de potência os de: a) Força, o qual é utilizado, normalmente, em subestações abaixadoras e elevadoras de tensão. Podem ser consideradas como transformadores de força, aqueles com potência nominal superior a 500KVA; e, de b) Distribuição, cuja função é a deabaixar tensão para a distribuição a centros de consumo. São aqueles com potência nominal inferior a 500 KVA. Os quais, considerando-se o número de fases, podem ser monofásicos ou polifásicos (em geral, trifásicos). Figura 1 – Transformador de distribuição monofásico Figura 2 – Transformador de distribuição trifásico Figura 3 – Transformador de força trifásico ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 1: Conceitos Gerais e Definições - 2 Estes transformadores também podem ser do tipo a seco, alternativamente aos imersos em óleo isolante mostrados nas figuras 1 a 3. Figura 4 – Transformador de distribuição a seco 2.2 - Transformadores para Instrumentos Os transformadores de instrumentos são os de Potencial (TP) e os de Corrente (TC), os quais são empregados para isolar circuitos de altas tensões e/ou altas correntes, reduzindo-os a valores compatíveis com a segurança de operadores e tornando viável a instalação de aparelhos de medida e proteção. Figura 5 – Transformador de corrente (TC) Figura 6 – Transformador de potencial (TP) 2.3 - Transformadores de comando e sinalização São empregados para alimentar circuitos de controle e proteção de máquinas elétricas, como, por exemplo, bobinas de contatores, relés e outros equipamentos. Figura 7 – Transformador de comando 2.4 - Transformadores de Isolamento Aplicado para a proteção contra contatos à massa em máquinas elétricas como fornos e máquinas de solda. Figura 8 – Transformador de isolamento 2.5 - Transformador de Aterramento São utilizados transformadores de aterramento em alguns sistemas para os quais é desejável possuir ponto de terra acessível em local onde não existe transformador que possa ser aterrado. Somente no caso de desbalanceamentos, tais como curtos fase-terra, circula corrente por este tipo de transformador e, portanto, destinam-se a limitar a corrente nos casos de falta à terra e a manter o deslocamento do potencial de neutro dentro de limites pré-fixados. ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 1: Conceitos Gerais e Definições - 3 Figura 9 – Transformador de aterramento 2.11 – Outros Tipos de Transformadores Existem outros tipos para aplicações específicas tais como os autotransformadores, transformadores de três circuitos, transformadores para fornos e subterrâneos, entre outros. Figura 10 – Autotransformador (Chave compensadora) Figura 11 – Transformador para fornos a arco Figura 12 – Transformador para instalações subterrâneas Figura 13 – Transformador enclausurado Figura 14 – Transformadores de pequena potência 3.0 - PARTES COMPONENTES Os componentes fundamentais de qualquer transformador localizam-se na chamada “parte ativa”, ou seja, núcleo e enrolamentos. Dependendo do tipo de construção, finalidade e potência, os transformadores apresentam outros componentes e acessórios. ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 1: Conceitos Gerais e Definições - 4 Nos imersos em óleo isolante, por exemplo, obrigatóriamente existe um tanque e buchas para ligar os enrolamentos a um circuito externo. A figura 15 apresenta uma vista explodida de um transformador trifásico, enquanto a figura 16 mostra a parte ativa de um transformador monofásico. Figura 15 – Vista explodida de um transformador trifásico Figura 16 - Parte ativa de um transformador monofásico 4.0 - NÚCLEO O núcleo é utilizado como circuito magnético para a circulação do fluxo criado nas bobinas primárias. Compõe-se por chapas de aço silício laminado com espessuras variáveis, sendo estas agrupadas de tal modo que resultem em pernas e culatras (jugo). Essas chapas são isoladas entre si por verniz isolante. Existem dois tipos básicos, ou seja. a) Núcleo envolvido (Core type ou tipo núcleo) Utilizado para altas tensões, as quais requerem muitas espiras e boa isolação. Caracterizaram-se e por correntes relativamente baixas e pequeno fluxo magnético Este tipo é ilustrado na figura 17. Figura 17 - Núcleo de transformador trifásico b) Núcleo envolvente (Shell type ou encouraçado) Usados em transformadores com tensões baixas, onde há poucas espiras, baixa isolação. elevadas correntes, altas freqüências e fluxos magnéticos. O corte das capas pode se feito a 90o ou 45o, dependendo da montagem do núcleo e da potência do transformador. Observa-se que o corte a 45o permite que o fluxo circule com menor relutância. Figura 18 - Corte da chapa a 45o ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 1: Conceitos Gerais e Definições - 5 O corte a 90o permite os formatos UI, EI, L. ou 1 como mostra a figura 19. Figura 19 - Corte de chapa a 90o Outro aspecto construtivo importante é a seção transversal do núcleo, sendo que esta, idealmente, deveria ser circular para uma melhor distribuição do fluxo. Como este tipo de construção e antieconômico, emprega-se. a) Seção quadrada ou retangular para pequenos transformadores; b) Seção tipo cruz para médios e grandes transformadores. Neste caso, cortam-se as chapas em dois ou mais tamanhos escalonados, de forma que a seção fique inscrita em uma circunferência. Desta maneira, aproveita-se melhor as chapas e aumenta-se a superfície de refrigeração do núcleo. Pode-se ter cruz com 3, 4; 5 ou mais dentes e, no caso de transformadores de grande potência, cruz com canais de óleo. Figura 20 - Seções transversais de núcleo: a) quadrada; retangular; c) cruz com três dentes d) cruz com quatro dentes Figura 21 - a) Seção transversal tipo cruz com 3 dentes e canais de óleo; b) montagem donúcleo com este tipo de seção transversal 5.0 - ENROLAMENTOS 5.1 – Generalidades As bobinas são montadas sobre tubos isolantes de papel baquelitizado ou envernizados, como ilustra a figura 22. Figura 22 – Montagem do Enrolamento Existem diversos tipos de enrolamentos que podem ser utilizados em transformadores, porém pertencem a três grandes grupos básicos, ou seja, helicoidais, discoidais e camadas. 5.2- Enrolamento helicoidal Usados na tensões inferiores (altas correntes). Normalmente, constituídos por condutores retangulares e se desenvolvem em hélice continua. ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 1: Conceitos Gerais e Definições - 6 Entre as espiras existem canais de transposição onde os condutores são invertidos; sendo assim, cada um deles ocupa todas as posições possíveis, conseguindo-se uma repartição equilibrada de correntes (mesma resistência ôhmica) e reduzindo-se as perdas no cobre e por correntes parasitas. Com dois condutores haverá pelo menos uma transposição. Figura 23 - Enrolamento helicoidal com hélice indicando a transposição. 5.3 - Enrolamentos discoidais (panqueca) Usados na tensão superior. O enrolamento completo consiste de um número de discos superpostos uns aos outros. Na realidade, compõe-se de espiras circulares dispostas paralelamente uma a outra no sentido radial, podendo ou não possuírem canais para refrigeração. Os condutores a cada volta entrelaçam-se, pois desta forma, o comprimento médio de cada espira, e. consequentemente sua resistência ôhmica é igual. Os discos são separados por calços isolantes e são dispostos concentricamente com o secundário ocupando, normalmente, a parte externa por facilidade de isolamento e retirada das derivações. Figura 24 – Bobina em disco 5.4 - Enrolamentos em camadas Dividem-se em diversas camadas concêntricas largas, cilíndricas e de pequena espessura conectadas em série. Possuem excelente comportamento às sobretensões. 6.0 - DISPOSITIVOS DE PRENSAGEM E CALÇOS Para dar consistência mecânica à parte ativa utiliza-se vigas dispostas horizontalmente, fixadas por tirantes. Por outro lado, emprega-se calços em muitos pontos da parte ativa, os quais têm por finalidade: a) Dar rigidez às bobinas, b) Isolar as bobinas do núcleo, c) constituir vias para a circulação óleo e, d) nivelar as janelas entre outras. Com freqüência utiliza-se do fenolite, presspan ou madeira na sua confecção. 7.0 - ISOLAMENTO O isolamento existente nos transformadores é feito, basicamente, entre camadas de espiras, bobinas, enrolamentos e em relação à carcaça (massa). O isolamento entre enrolamentos e o isolamento em relação à massa denominam-se isolamento principal. Ele é constituído por um ou mais cilindros isolantes de papelão, de papel impregnado com resinas sintéticas e outros materiais, colado(s) entre ambos enrolamentos e entre os enrolamentos e culatra. O isolamento entre camadas é formado por duas camadas de papel. Por outro lado, o isolamento entre espiras emprega várias camadas de papel enrolados sobre os condutores. O papel normalmente utilizado é o Kraft. Os condutores ainda podem ser esmaltados. O isolamento entre bobinas no sentido axial é feito empregando-se madeira impregnada (madeirite) e/ou camadas de presspan ou baquelite. No sentido radial, quando as espiras dividem-se em muitos grupos, utiliza- se tubos isolantes. De um modo geral, existem espaçadores de presspan com vários milímetros entre elas, de modo a permitir a livre circulação de óleo. 8.0 - BUCHAS 8.1 - Generalidades As buchas possuem a função básica de acoplar os terminais dos enrolamentos ao circuito externo, bem como, manter isolado eletricamente estes enrolamentos e cabos do tanque. Entre elas há um certo espaçamento, devido a necessidade de se isolar as entradas e saídas uma das outras, onde o meio ambiente age como dielétrico. Este fato caracteriza a eficiência da bucha ou se a o melhor uso possível do poder dielétrico do ar a fim de assegurar isolamento adequado. ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 1: Conceitos Gerais e Definições - 7 São constituídas basicamente por: a) Corpo isolante de porcelana vitrificada; b) Condutor passante de cobre eletrolítico ou latão; c) Terminal de latão ou bronze; d) Vedações de borracha e papelão higroscópico. As formas e as dimensões variam com a tensão e a corrente de operação. Os tipos mais comuns são as buchas a óleo e as condensivas. 8.2 - Buchas a óleo Consiste numa haste condutora envolvida por um determinado número de finos cilindros concêntricos de material isolante, separados por calços de madeira tratada, onde a haste e os cilindros isolantes são fixados dentro de dois cones ocos de porcelana. Completa-se os espaços vazios com óleo isolante. Utilizados até 400 KV. Figura 25 - Exemplo de buchas à óleo - a) Instalação exterior; b) Instalação interior 8.3 - Buchas Condensivas Compõe-se de um corpo isolante de papel baquelitizado enrolado sobre um tubo de cobre (ou estanho). No isolamento são colocadas armaduras semicondutoras de forma a constituírem capacitores cilíndricos e coaxiais. São usadas a partir de 30 KV. Figura 26 - Exemplo de buchas condensivas 9.0 - TANQUE Destinado a servir de invólucro da parte ativa e de recipiente do liquido isolante. Na utilização destes tanques, é necessário precaver-se quanto à expansão e contração do óleo com as variações de temperatura. Assim, nos transformadores de distribuição é usual utilizá-lo completamente selado, contendo apenas um espaço livre entre a tampa e o óleo. Em grandes transformadores. devido ao fato de que a pressão interna pode assumir altos valores, utiliza- se o conservador. Estes dois tipos de tanques podem ser providos de flanges nos terminais de alta e/ou baixa tensão. O tanque pode conter radiadores constituídos por tubos ou elementos, visando a aumentar a área de dissipação do calor gerado pelas perdas. Figura 27 - Transformador com radiadores e ventilação forçada 10.0 - ACESSÓRIOS Existem diversos acessórios, tais como: radiadores, conservadores, comutador de tap’s, termostatos e muitos outros, os quais dependem da potência do transformador para serem utilizados. A figura 28 mostra alguns deles. 1 – Diafragma de alívio; 2 – Tubo de descarga; 3 – Bucha de alta tensão; 4 – Manivela de controle do comutador; 5 – Tampa de visita e abertura; 6 – Relé detetor de gás; 7 – Bucha de baixa tensão; 8 – Termômetro; 9 – núcleo e bobina do transformador; 10 – Válvula de dreno de óleo; 11 – Chave do comutador de tap’s; 12 – Bomba de óleo; 13 – Ventoinha; 14 – Radiador; 15 – Suspiro; 16 – tanque conservador de óleo; 17 – Indicador; 18 – Placa terminal; 19 – Poço. Figura 28 –Localização de acessórios ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 1: Conceitos Gerais e Definições - 8 11.0 - TERMINOLOGIA USUAL Alguns dos termos bastante utilizados no jargão técnico do setor são relacionados a seguir. Outros mais, entretanto, serão citados nos capítulos subsequentes. a) Os transformadores são “abaixadores” se alimentados pelo lado de maior tensão e, caso contrario, são “elevadores”; b) O circuito, ou enrolamento, primário sempre é o que recebe energia da rede; o secundário, terciário, etc., são aqueles que fornecem energia à carga do transformador. Observe-se que nem sempre, o primário é o lado de maior tensão; c) O enrolamentode maior tensão chama- se, genericamente, de AT (alta tensão) ou TS (tensão superior); o de menor, BT (baixa tensão) ou TI (tensão inferior). Na existência de um terceiro enrolamento, tem-se MT (média tensão) ou TM (tensão média); d) A carga de um transformador é um conjunto dos valores das grandezas elétricas que caracterizam as solicitações a ele impostas em cada instante pelo sistema elétrico alimentado; e) A característica nominal é um conjunto de valores nominais atribuídos às grandezas que definem o funcionamento de um transformador, em condições especificadas por norma, e que servem de base às garantia de fabricante e aos ensaios; elas sempre se refere à derivação principal; f) Derivação ou tap é a ligação feita em qualquer ponto de um enrolamento, de modo a permitir a mudança de tensões e de cor rentes através da mudança da relação de espiras. ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 2: Princípio de Funcionamento dos Transformadores Monofásicos - 9 CAPÍTULO 2: PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DOS TRANSFORMADORES MONOFÁSICOS "Não se pode ensinar alguma coisa a alguém, pode-se apenas auxiliar a descobrir por si mesmo.” Galileu Galilei RESUMO Este capítulo trata do princípio de funcionamento do transformador monofásico e apresentando várias grandezas e aspectos de sua operação. 1.0 - PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO O transformador monofásico, em sua forma mais elementar, constitui-se de um núcleo de material magnético e enrolamentos, como mostra esquematicamente a Figura 1. Figura - 1 – Transformador monofásico elementar O funcionamento do transformador monofásico baseia-se no principio de. que a energia elétrica pode ser transferida entre dois circuitos devido ao fenômeno da indução magnética. Aplicando-se a tensão U1, no primário do transformador, circulará uma pequena corrente denominada “corrente em vazio”, representada neste texto por I0 . Se a tensão aplicada é variável no tempo, a corrente I0 também o é. Desta forma, de acordo com a lei de Ampère, tem-se: 01 INHl = (1) onde: H - é a intensidade do campo; l - é o comprimento do circuito magnético; N1I0 - é a força magnetomotriz. A expressão (1) pode ser rescrita como: 01e INR =φ (2) onde: Re - relutância do núcleo; φ - fluxo magnético. Desta forma, verifica-se que a força magnetomotriz impulsiona o fluxo magnético pelo núcleo, sendo limitado pela relutância.. Naturalmente, se a corrente é variável no tempo, o fluxo magnético também o é. Por outro lado, sabe-se pela lei de Faraday, que “sempre que houver movimento relativo entre o fluxo magnético e um circuito por ele cortado., serão induzidas tensões neste circuito”. Pelo exposto, no transformador da Figura 1, existirão tensões induzidas no primário (E1) e no secundário (E2) , devido à variação do fluxo em relação às espiras. Os valores eficazes das tensões induzidas são dados por: fSBN44,4E 11 = (3) fSBN44,4E 22 = (4) onde: E1, E2 - valores eficazes das tensões induzidas no primário e secundário, em[V]; N1, N2 - número de espiras dos enrolamentos primário e secundário f - freqüência, [Hz]; S - seção transversal do núcleo do transformador, [m2 ]; B - valor da indução magnética no núcleo, [wb/m 2]. Observe-se que: BS=φ (5) sendo φ o fluxo magnético (mútuo) do núcleo do transformador. ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 2: Princípio de Funcionamento dos Transformadores Monofásicos - 10 Deve-se observar que o transformador não é ideal e, sendo assim, os enrolamentos possuem resistência e capacitância (além, naturalmente, da indutância) e existem fluxos de dispersão. Os efeitos capacitivos tornam-se importantes em transformadores acoplados à circuitos eletrônicos com freqüências mais elevadas (em geral até 400 Hz, tais efeitos são desprezíveis) ou tensões com altos valores. Por outro lado, as bobinas, geralmente, são montadas concêntricamente, para aproveitamento de uma parcela do fluxo de dispersão; como dado prático, normalmente realiza-se esta montagem com as bobinas de maior tensão envolvendo as de menor. Tal disposição não altera o funcionamento do transformador, apenas otimiza o aproveitamento do fluxo. Figura 2 – Núcleo do transformador – Representação esquemática 2.0 - CORRENTE EM VAZIO 2.1- Considerações Gerais A função da corrente em vazio é suprir as perdas do transformador quando opera sem carga e produzir o fluxo magnético, como mostrado no item anterior. Considerando-se estes aspectos, esta corrente pode ser subdividida em duas parcelas distintas, ou seja: a) Ip - Corrente ativa ou de perdas, responsável pelas perdas no núcleo e está em fase com a tensão aplicada ao primário U1; e, b) Im — Corrente magnetizante ou reativa, responsável pela criação do fluxo magnético (φm) e está atrasado de 900 em relação à U1. A Figura 3 esclarece o citado Figura 3 – Diagrama fasorial do transformador em vazio Do diagrama tem-se: 22 0 mp III += (6) 00 cosϕII p = (7) 00 senϕIIm = (8) As perdas em vazio são: pIUIUP 1001 cos == ϕ (9) onde ϕ0 é a defasagem entre U1 e I0. Naturalmente, é de interesse prático que as perdas sejam as menores possíveis. Para que tal ocorra, a corrente a vazio deve ser, em quase sua totalidade, utilizada para a magnetização do núcleo; em conseqüência: pm II >> (10) Assim, o valor do ângulo ϕ0 deve ser o maior possível e o cosϕ0 (fator de potência em vazio) possuirá baixos valores. É comum considerar-se que a corrente em vazio é igual à de magnetização, pois, devido a expressão (10), o erro cometido não é significativo. 2.2 - Forma de Onda da Corrente em Vazio A corrente em vazio assume valores bastante baixos situando-se na faixa de 1 a 7% da corrente nominal do circuito primário. Desta forma, a queda de tensão no primário é pequena nesta condição; isto leva a considerar que: 11 EU = (11) Se a tensão aplicada ao primário U1 possuir forma de onda senoidal, E1 também possuirá. Por outro lado, considerando-se as express5es (3) e (5), tem-se que o fluxo tem a mesma forma de onda de E1 (ou seja, senoidal no caso), porém com defasagem de 900 elétricos. Por outro lado, considerando-se a expressão (2), tem-se que: 1N R I em φ = (12) Observe-se que o fluxo magnético é senoidal, N1 é constante, porém a relutância varia devido aos diferentes estados de saturação que ocorrem no núcleo. ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 2: Princípio de Funcionamento dos Transformadores Monofásicos - 11 Com tais considerações, conclui-se que a corrente de magnetização, obrigatoriamente, não é senoidal, o que resulta em uma corrente em vazio igualmente não senoidal. A Figura 4 explica o exposto de forma gráfica. Figura 4- Processo gráfico para a determinação da forma de onda da corrente de magnetização. Para a construção da forma de onda, adotar o seguinte procedimento:a) Para um determinado instante, determina- se o valor de φm; b) Para este valor de φm (crescente ou decrescente), verifica-se na curva de Histerese o valor de i0; c) Transporta-se para o dado t, o valor de i0 correspondente e, assim, tem-se um ponto da curva de i0; d) Repetir o processo para outros pontos e traçar a forma de onda da corrente. Como conseqüência do formato não senoidal da corrente em vazio, há a produção de harmônicos, principalmente os de terceira ordem. 2.3 – Corrente Transitória de Magnetização (inrush) Tal fenômeno foi observado por Fleming em 1892, mostrando que quando um transformador é conectado à rede, uma grande corrente transitória de magnetização (corrente inrush) é comumente observada. O seu efeito é causar momentaneamente uma queda de tensão e poderá provocar a atuação de relés instantâneos. A amplitude desta corrente depende de dois fatores: a) ponto do ciclo da tensão no qual a chave para energização foi fechada ; b) Condições magnéticas do núcleo, nas quais inclui-se a intensidade e a polaridade do fluxo residual. Convêm lembrar que o transitório da corrente de energização dura alguns ciclos nos pequenos transformadores, podendo atingir até vários ciclos nos transformadores de força. Um oscilograma típico para os regimes transitório e permanente da corrente a vazio é mostrado na Figura 5. Figura 5 –Forma de onda da corrente de energização 3.0 - O TRANSFORMADOR EM OPERACÂO Considere-se a figura 6. Figura 6 – Transformador monofásico em operação Com o transformador operando em vazio, ou sem carga, a corrente I0 magnetiza o transformador e induz as tensões E1 e E2. Fechando-se a chave S do circuito secundário do transformador, haverá circulação da corrente I2 em seu enrolamento, cujo valor depende exclusivamente da carga. Como visto, de acordo com a lei de Ampère, I2 criará o fluxo de reação φ2 e de dispersão φdisp2 , sendo que o primeiro tende a anular φm. Para que o transformador continue magnetizado, haverá uma compensação de fluxo no primário, ou seja: para manter a magnetização, o transformador exigirá da rede uma corrente suplementar a I0, de modo a compensar φ2 ; esta corrente receberá a denominação de I’2, a qual cria o fluxo φ1. Assim, a corrente primária I1 é: 2 2 2 01 III += (13) de onde: 2 2 2 10 III −= (14) ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 2: Princípio de Funcionamento dos Transformadores Monofásicos - 12 Da expressão (14) é possível concluir que, em qualquer condição de operação do transformador, sempre existirá a corrente I0 e que somente ela é responsável pela indução de E1 e E2, em outras palavras, E1 e E2 independem do regime de carga. 4.0 - RELACÃO DE TRANSFORMACÃO A relação de transformação das tensões de um transformador monofásico é definida de duas formas: 4.1 - Relação de Transformação Teórica ou Relação de Espiras. Definida por: SBfN SBfN E E K N ..44,4 ...44,4 2 1 2 1 == (15) Portanto: 2 1 2 1 N N E E K N == (16) Porém, sabe-se que: 2 1 2' 2 IN N I = (17) e, I1= 2 2 2 0 II + (18) Como 0 ' 2 II >> (19) tem-se que: ' 21 II = (20) Assim: 2 1 1 2 N N I I K N == (21) Desta forma: 1 2 2 1 2 1 I I N N E E K N === (22) No funcionamento em vazio: 01 II = (23) Devido a este fato, como citado anteriormente, a queda de tensão primária é mínima; assim: 11 EU ≅ (24) Além disto, nesta condição: 22 EU = (25) Assim: 2 1 2 1 U U E E KN ≅= (26) A expressão (26) é importante, pois E1 e E2 são acessíveis a uma medição. Assim, utilizando-se um voltímetro no primário, obtêm-se U1 e, no secundário, estando o transformador em vazio, U2. Desta forma, determina-se a relação do número de espiras com pequeno erro. 4.2 - Relação de Transformação Real Ao aplicar uma carga ZC ao secundário, a corrente I2 circula pelo secundário e I1 assume valores superiores a I0 assim, haverá queda de tensão no primário e no secundário e, portanto: 22 EU ≠ (27) Nestas condições, define-se a relação de transformação real, ou a relação entre as tensões primárias e secundárias quando do transformador em carga; ou seja: 1 2 2 1 I I U U K ≅= (28) Eventualmente, se a queda de tensão secundária for pequena (o que acontece para transformadores bem projetados) pode-se supor que: KK N = (29) Observe-se que: a) se K > 1, o transformador é abaixador; e, b) se K < 1, o transformador é elevador. 5.0 - PARÂMETROS REFERIDOS Em sistemas elétricos com várias tensões de serviço, normalmente se emprega a redução de todas elas a uma mesma base. Desta maneira, todos os cálculos podem ser realizados como se houvesse apenas um circuito (é o caso da representação pu). ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 2: Princípio de Funcionamento dos Transformadores Monofásicos - 13 Na teoria dos transformadores reduz-se (ou refere-se ) os valores de correntes e tensões do secundário para o primário (ou vice-versa); em outras palavras, as grandezas secundárias (ou primárias) são substituídas por outras no primário (ou secundário) que produzam os mesmos efeitos que as anteriores. Observe-se que, referindo-se um dos lados ao outro constrói-se um circuito elétrico equivalente ao transformador sem a presença de enrolamentos e núcleo. Estes circuitos podem ser aplicados diretamente em sistemas de potência, facilitando quaisquer tipos de cálculos. Neste texto, as grandezas secundárias serão referidas ao primário. ? Tensões 22 2 1 2 .' EKEN N E == (30) 22 2 1 2 .' UKUN N U == (31) ? Correntes K I I 22 '= (31) ? Impedâncias 2 2 2 2 2 2 2 /' . ' ' ' K I U KI KU I U ZC === (32) Portanto: 2' ZKZ = (33) Naturalmente, a resistência e reatância referidas são calculadas de maneira análoga, ou seja: 2' RKR = (34) 2' XKX = (35) Observe-se que o fato de referir grandezas secundárias ao primário, não altera o ângulo de fase e potência fornecida a carga. 6.0 - CIRCUITO EQUIVALENTE O transformador pode ser representado através de um circuito equivalente, o qual permita analisar seus efeitos sobre o sistema. A análise física do equipamento permite concluir que o primário e secundário possuem resistência e reatância; assim é possível representá-lo através de parâmetros concentrados como mostra a Figura 7. Figura 7 – Transformador com parâmetros concentrados Com as grandezas secundárias referidas ao primário tem-se o circuito da Figura 8. Figura 8 – Transformador com as grandezas secundárias referidas ao primário O circuito anterior pode ser representado pelo da Figura 9. Figura 9 – Transformador com ramo magnetizante substituindo o núcleo Na Figura 9, o núcleo é representado por uma reatância fictícia (Xm) responsável pelo fluxo magnético euma resistência fictícia (Rm) responsável pelas perdas no núcleo. Por outro lado, a representação do ramo é desprezada devido aos baixos valores da corrente da corrente de magnetização, como mostra a Figura 10. Figura 10 – Circuito equivalente sem o ramo magnetizante O circuito ainda pode ser o da Figura 11, onde se tem: ' 21 RRRcc += (37) ' 21 XXX cc += (38) sendo RCC e XCC chamados, respectivamente, de resistência e reatância de curto-circuito. ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 2: Princípio de Funcionamento dos Transformadores Monofásicos - 14 Figura 11 – Circuito equivalente do transformador Como se observa, a corrente de carga (no caso, I2’) é limitada apenas por RCC e XCC quando há um curto- circuito no secundário do transformador; desta forma, define-se “impedância de curto-circuito” como: 22 CCCCCC XRZ += (39) Em termos práticos, verifica-se que: cccc RX >> (40) Assim: cccc XZ ≅ (41) de onde, é comum representar o transformador como na Figura 12. Figura 12 – Representação simplificada do transformador O circuito da figura 12 facilita enormemente a montagem de rotinas computacionais em sistemas de potência. Como por exemplo, programas para análise do fluxo de carga e estabilidade sistemas. 7.0 - PARÂMETROS PORCENTUAIS A impedância de curto-circuito normalmente é fornecida em porcentagem de uma impedância base, ou seja: 100% B CC Z Z Z = (41) onde: 2 N N B U S Z = (42) sendo: SN – potência nominal do transformador UN – tensão nominal do transformador É possível demonstrar que a impedância percentual possui o mesmo valor se calculada pelo lado primário ou secundário. Por outro lado, define-se “tensão de curto- circuito (UCC)” a tensão que é necessário aplicar a um transformador, de modo que circule a corrente nominal no secundário, quando este está curto-circuitado. Figura 13 – Curto-circuito em transformadores Na prática, as tensões de curto-circuito são expressas por seus valores percentuais em relação a UN. Desta maneira, a “tensão de curto-circuito percentual” é expressa por: 100% N CC U U U = (44) Pode-se mostrar que: %% ZUcc = (45) Da mesma forma, é possível definir a resistência e reatância percentual como segue: 100100% N JT B CC S P Z R R == (46) onde PJT são as perdas em carga e, 22 %%100% RZ Z X X B CC −== (47) ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 3: Princípio de Funcionamento dos Transformadores Trifásicos - 15 CAPÍTULO 3: PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DOS TRANSFORMADORES TRIFÁSICOS "É impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já sabe." Epíteto RESUMO Este capítulo trata do princípio de funcionamento do transformador trifásico e apresentando várias grandezas e aspectos de sua operação. 1.0 - INTRODUÇÃO A transformação trifásica pode ser realizada com um transformador específico, destinado a este fim. Neste caso, o custo inicial é mais baixo que os dos bancos, pois existirá apenas uma unidade. Entretanto, exige um outro transformador de mesma potência como reserva. 2.0 - NÚCLEO Partindo do princípio que o transformador trifásico agrupa três monofásicos em um, a composição entre os núcleos mais evidente é a mostrada na figura 1. Figura 1 - Núcleos monofásicos compondo o trifásico. Um sistema trifásico simétrico e equilibrado possui três correntes com mesmo módulo, porém defasadas de 120º elétricos uma das outras. Pela lei de Ampère, elas originam fluxos nos núcleos monofásicos, também defasados de 120º. Analogamente às correntes trifásicas, quando os fluxos juntarem-se em um ponto, sua soma será nula, o que ocorre no local de união dos três núcleos. Sendo assim, não há necessidade de sua utilização é, portanto, é conveniente retirá-lo do circuito como medida de economia de material. Figura 2 - Núcleo trifásico ideal. O núcleo trifásico da figura 2 é o ideal; entretanto, tem uma forma inconveniente e há uma utilização excessiva de material em sua construção, o que se reflete nos custos e inviabiliza a sua utilização. A solução que se adota, em termos práticos, é bastante simples, ou seja: retira-se um dos núcleos, inserindo entre as colunas (ou pernas) laterais, uma outra com as mesmas dimensões. Figura 3 - Núcleo trifásico real. O circuito magnético das três fases, neste caso, resulta desequilibrado. A relutância da coluna central é menor que as outras, o que origina uma pequena diferença nas correntes de magnetização de cada fase. ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 3: Princípio de Funcionamento dos Transformadores Trifásicos - 16 Existem diversos tipos de núcleo, entretanto o mostrado na figura 3 é o mais comum devido à sua facilidade construtiva e de transporte. Este tipo de núcleo, em relação a três monofásicos, apresenta como vantagem o fato de que, qualquer desequilíbrio magnético causado pelas diferentes condições elétricas das três fases, tendem desaparecer graças à interconexão magnética existente entre elas; assim, a fluxo de cada perna distribui-se obrigatoriamente pelas outras duas. Além disso, existe a economia de material em relação aos três monofásicos e conseqüente diminuição das perdas em vazio. Como desvantagem, tem-se que as unidades reservas são mais caras, pois deverão ter a potência total do transformador a ser substituído; o monofásico de reserva, por outro lado, pode ter apenas um terço da potência do conjunto. 3.0 - ENROLAMENTOS Os enrolamentos de um transformador trifásico podem ser conectados em estrela (Y), delta (∆) ou zig- zag, conforme mostra a figura 4. Figura 4 - Conexões possíveis dos enrolamentos de um transformador trifásico. As ligações delta e estrela são as mais comuns. A ligação zig-zag é secundária típica; a sua característica principal é sempre afetar igual e simultaneamente duas fases primárias, pois os seus enrolamentos são montados em pernas distintas seguindo uma ordem de permutação circular. Naturalmente, este fato a torna mais adequada para ser utilizada em presença de cargas desequilibradas. Adotando-se a notação de designar-se a ligação primaria através de letras maiúsculas e secundária através de minúsculas, tem-se: Primário D D D Y Y Y Secundário d y z d y z Tabela 1 - Conexões dos enrolamentos. 4.0 - PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO O princípio de funcionamento é basicamente o mesmo do monofásico, tanto em vazio como em carga. A figura 5, mostra o núcleo do transformador trifásico com seus enrolamentos utilizando a conexão Dy. Os terminais H1, H2 e H3 são os de maior tensão e os de menor tensão são X1, X2 e X3, considerados nesta análise como primário e secundário, respectivamente. Figura 5 - Transformador trifásico em vazio. Ao aplicar as tensões UAB, UBC e UCA ao primário, as correntes de magnetização de cada fase (I0AB, I0BC e I0CA) circularão pelos respectivos enrolamentos. O efeito resultante será, o surgimento de três fluxos magnéticos alternados e defasados de 120º elétricos entre si e, pela lei de Faraday, serão induzidas tensões nos enrolamentos primários (EAB, EBC e ECA) e secundários (Eab, Ebc e Eca) Observe-se que, nos pontos A e B do núcleo, a soma dos fluxos é nula; isto significa que cada ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 3: Princípio de Funcionamentodos Transformadores Trifásicos - 17 trecho entre A e B age como um transformador monofásico. Naturalmente, ao acoplar cargas ao secundário, surgirão correntes opondo-se à variação do fluxo mútuo φM e, em conseqüência, tentam desmagnetizar o núcleo. Assim, essas correntes são compensadas por parcelas adicionais de corrente absorvidas junto à rede, mantendo- se φM constante e as tensões induzidas nos enrolamentos. 5.0 - RELAÇÃO DE TRANSFORMAÇÃO Como se sabe, a relação de transformação real é definida como a relação entre as tensões primárias (U1) e secundárias (U2), ou seja: 2 1 2 1 E E U U K == (1) No transformador trifásico a relação de transformação tem a mesma definição, sendo as tensões entre fases; porém, devido à conexão dos enrolamentos (E1 e E2 são tensões induzidas entre os terminais dos enrolamentos), ela não será, em todos casos, igual à relação de espiras. A figura 6 mostra duas conexões de transformadores trifásicos. a) b) Figura 6 - Conexões dos transformadores trifásicos. Sendo assim, as relações de transformação K e KN para cada caso seriam: a) Na figura 6a: 2 1 U U K = e 2 1 2 1 N N N E E K == (2) e, estando o transformador em vazio, tem-se: 11 EU ≅ e 22 EU = então, NKK = (3) b) Na figura 6b: 2 1 U U K = (4) Como os enrolamentos podem estar conectados de diversas maneiras, nota-se que para cada modo de ligação haverá uma diferença entre a relação de transformação e de espiras; a tabela 2 mostra os valores de K em função de KN para cada ligação: Ligação Dd Dy Dz Yy Yd Yz K = KN 3 KN NK3 2 KN NK3 NK3 2 Tabela 2 - Valores de K em função de KN para as diversas conexões. 6.0 - CORRENTE EM VAZIO Nos transformadores trifásicos, com a montagem de núcleo mostrada, as correntes de magnetização devem ser iguais entre si nas fases laterais e ligeiramente superiores a da central. Isto se deve ao fato de que as relutâncias das pernas correspondentes são maiores. Desta forma, adota-se um valor médio para a corrente em vazio, ou seja: 3 III I C0B0A00 ++ = (5) 7.0 - CIRCUITO EQUIVALENTE E PARÂMETROS De uma forma geral, os sistemas de potência são representados por apenas uma fase e um neutro, considerando as restantes como simétricas; evidentemente, consegue-se isto com a ligação Y. No caso dos parâmetros porcentuais, tal fato é irrelevante, pois independem das conexões dos enrolamentos; enquanto que nos magnetizantes, ocorre exatamente o contrário. Assim no caso do primário em ligação delta, utiliza-se transformá-la na estrela equivalente. Desta forma, o transformador trifásico será representado pelos parâmetros de uma fase, supondo as conexões primárias em estrela e carga trifásica simétrica e equilibrada. ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 4: Polaridade e Defasamento Angular - 18 CAPÍTULO 4: POLARIDADE E DEFASAMENTO ANGULAR “O conhecimento pode ser comunicado e ensinado, mas não a sabedoria” Hermann Hesse RESUMO Este capitulo apresenta os conceitos de polaridade e defasamento angular de transformadores. 1.0 - INTRODUÇÃO Geralmente o conceito sobre polaridade de transformadores é encarado com dificuldade. Porém, por vezes, conhecê-la é fundamental pelos seguintes motivos: a) Ao acoplar dois ou mais transformadores em paralelo, seus secundários formarão uma malha. Se todos possuírem a mesma polaridade, as forças eletromotrizes anulam-se; caso contrário, somam-se Nesta última condição, surgirá uma corrente de circulação com valores elevados, pois é limitada apenas pelas impedâncias secundárias. Sendo assim, nota-se que uma das principais condições para o paralelismo de transformadores é a de possuírem a mesma polaridade. b) Utiliza-se transformadores de corrente (TC) e transformadores de potencial (TP) em circuitos de altas correntes e/ou tensões. A finalidade é reduzir as grandezas primárias à níveis compatíveis com a segurança de operadores e possibilitar a utilização de aparelhos de proteção e medição menos robustos. Nos circuitos de medição, principalmente nos de energia, as leituras poderão ser totalmente enganosas caso a polaridade de um dos transformadores estiver invertida. Quanto à proteção, seja o caso de um relé diferencial, por exemplo, ao inverter-se a polaridade de um dos TCs ao qual está conectado, poderá haver uma corrente de circulação através da bobina de operação e. portanto, uma atuação indevida. Para os transformadores trifásicos apenas o conceito de polaridade é insuficiente para apresentar uma relação definida entre as tensões induzidas nos enrolamentos primário e secundário. Isto se deve aos diversos tipos de conexões dos enrolamentos (deita, estrela ou zig-zag), como explanado adiante. Nestes casos, utiliza-se a diferença de fases (defasamento) ou deslocamento angular entre as tensões dos terminais de tensão inferior (XI-X2) e tensão superior (H1-H2), contado no sentido anti-horário. 2.0 - POLARIDADE DE UM TRANSFORMADOR A figura 1 mostra duas situações distintas para as tensões induzidas em um transformador monofásico. Na figura 1a, as tensões induzidas E1 e E2 dirigem-se para os bornes adjacentes H1 e .X1. Na figura 1b, a marcação é feita de maneira diferente da anterior. sendo que as tensões induzidas continuam dirigindo-se para os mesmos bornes, porém não mais adjacentes. Nota-se que, na figura 1a, as tensões possuem mesmo sentido (estão em fase) ou com a “mesma polaridade instantânea”. Na outra estão em oposição (defasadas de 180o) ou com polaridades opostas. Figura 1 - Sentidos instantâneos de E1 e E2 Pelo exposto, a polaridade refere-se ao sentido relativo entre as tensões induzidas nos enrolamentos secundários e primários, ou da maneira como seus terminais são marcados. Quando ambos enrolamentos possuem a mesma polaridade, o transformador é de polaridade subtrativa e, em caso contrário, polaridade aditiva. A terminologia utilizada origina-se das situações mostradas na figura 2. a) b) Figura 2 - Verificação da polaridade ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 4: Polaridade e Defasamento Angular - 19 Na figura 2a, a leitura do voltímetro fornece: V = E1 – E2 portanto, polaridade subtrativa Na figura 2b, tem-se: V = E1 + E2 portanto, polaridade aditiva 3.0 - CONSIDERAÇÕES SOBRE CONEXÕES DOS ENROLAMENTOS E DEFASAMENTO ANGULAR Seja, por exemplo, um transformador conectado em delta no primário e estrela no secundário representado na figura 3. Figura 3 - Transformador trifásico ∆ -Y Note-se na citada figura que, no enrolamento em delta, as tensões são induzidas entre fases e, portanto, iguais a tensão na linha. No enrolamento estrela são induzidas entre fase e neutro. Adotando-se uma referência comum para ambas as tensões, verifica-se que há uma diferença de fase de 30o elétricos entre elas. Desta forma, para analisar o relacionamento entre tensões primárias e secundárias não basta a indicação de polaridade, também e preciso indicar “a diferença de fases ou deslocamento angular entre elas. Como os enrolamentos em delta não possuem neutro real e as tensões de linha são sempre disponíveis, é conveniente definir o defasamento angular como o angulo entre as tensões induzidas em XI - X2 e H1 - H2 no sentido anti-horário. Pelo exposto, observa-se que o deslocamento angular depende: a) do sentido de enrolamento das bobinas,b) da marcação dos terminais dos enrolamentos (H1, H2, etc.): c) das conexões dos enrolamentos. Justifica-se, pois o sentido das tensões depende do sentido dos enrolamentos. Utilizando-se uma marcação dos terminais do secundário diferente da adotada para o primário, pode-se alterar a seqüência de fases das tensões e, evidentemente, não obter-se o deslocamento angular correto (note-se que os dois itens definem a polaridade do transformador). As conexões do enrolamento (deita, estrela ou zig-zag) são fundamentais, como o próprio texto esclarece. Observe-se que um transformador não pode alterar a seqüência de fases do primário e secundário. Evidentemente, pode-se alterá-la invertendo-se a marcação dos terminais em dois condutores de saída, mas, não será o transformador (conexões internas) responsável por esse fato. A tabela 1 fornece os deslocamentos angulares de transformadores normalizados, sendo que outros são possíveis de obtenção através da variação do número de espiras da ligação zig-zag. Defasamento AngularConexões dos Enrolamentos Subtrativo Aditivo Dd, Yy, Yz 0° ou 0 180° ou 6 Dy, Yd, Yz 30° ou 1 210° ou 7 Dd, Dz 60° ou 2 240° ou 8 Dd, Dz 300° ou 10 120° ou 4 Dy, Yd, Yz 330° ou 11 150° ou 5 Tabela 1 – Conexões e defasamentos angulares É bastante comum indicar as ligações transformador acrescido do DA., ou seja: Dy 210°°°°, ou, Yd 150°°°°, ou Dz 60°°°° Onde: D ou Y - ligação delta, estrela no primário d, y ou z - ligação delta, estreia ou zig-zag no secundário. Como se sabe, as horas relacionam-se com os ângulos formados pelos ponteiros de um relógio, ou seja: 1 hora = 30°°°° Sendo assim, os exemplos anteriores são, usualmente, denotados por. Dy7, Yd5, Dz2 Observe-se que, conhecido o D.A. do transformador, sabe-se qual é a sua polaridade, como mostra a figura 4. Figura 4 - Polaridade e Defasamento Angular - Relacionamento. ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 5: Banco de Transformadores Monofásicos - 20 CAPÍTULO 5: BANCO DE TRANSFORMADORES MONOFÁSICOS "Não creias impossível o que apenas improvável parece.” William Shakespeare RESUMO Este capítulo analisa a transformação trifásica executada através de bancos de transformadores monofásicos. 1.0 - INTRODUÇÃO Considera-se como transformação trifásica aquelas em que há transferência de energia elétrica de um circuito elétrico trifásico (primário) a outro (secundário e, eventualmente, terciário), alterando-se ou não os níveis de tensões e correntes, porém mantendo-se a freqüência constante. Há várias possibilidades de se executar tal transformação. A forma mais básica para tanto é a de utilizar dois ou três transformadores monofásicos independentes, unidos entre si sem nenhuma interferência ou interação entre os seus fluxos magnéticos, formando um banco. 2.0 – BANCO COM TRÊS TRANSFORMADORES Para executar a ligação dos três transformadores monofásicos independentes é necessário conectar os primários e os secundários entre si. Nesta situação, há a possibilidade de conectá-los ou em delta (triângulo) ou em estrela. Figura 1 – Ligações delta e estrela Desta forma, combinando-se estes tipos de ligações, a transferência de energia realiza-se através das seguintes conexões: Primário D D Y Y Secundário d y d y Sendo “D” e “Y”, respectivamente, as ligações delta e estrela do lado primário e “d” e “y” as equivalentes no secundário. A figura 2 mostra algumas maneiras de conectá- las a título de exemplo. H1 e H2 são os terminais iniciais e finais do primário X1 e X2 são os terminais iniciais e finais do secundário Figura 2 – Conexões em banco com três transformadores monofásicos Este sistema apresenta custo maiores em relação a uma unidade trifásica. Entretanto, possibilita a existência de apenas um transformador monofásico de reserva com 1/3 da potência total para os três, enquanto o trifásico exige outro de igual potência. A ligação de bancos monofásicos é freqüentemente empregada em instalações de grande potência, onde o custo da unidade reserva resulta significativo. Além disto, em caso de falha de uma unidade, o banco ainda pode operar em uma conexão especial, porém com capacidade reduzida, mas sem interrupção de fornecimento. ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 5: Banco de Transformadores Monofásicos - 21 3.0 – CONEXÃO DELTA ABERTO OU DUPLO V Se um dos transformadores de um banco com conexão ∆∆ for retirado, mesmo assim é possível a transformação trifásica sem alteração nas tensões. Obtêm- se, assim, uma conexão conhecida como duplo V ou ∆ aberto ou, ainda, conexão Aaron. A figura 3 ilustra. Figura 3 – Remoção de um transformador em conexão Dd para obtenção do banco duplo V. A figura 4 mostra com mais detalhes a conexão. Figura 4 - Conexão delta aberto ou duplo V Na figura 4, verifica-se que o sistema duplo V produz três tensões de linha defasadas de 120º. Observe-se, entretanto, que cada transformador fornece a corrente de linha (e não a de fase). Sendo assim, a potência suprida por um transformador num delta aberto, comparada à potência total trifásica, é: 577.0 3 1 cos3 cos cos3 cos === == ϕ ϕ ϕ ϕ LL LL FF FF IU IU IU IU trifásicatotalPotência dortransformaporPotência (1) De onde se conclui que a potência suprida por transformador neste sistema é 57,5% da potência total. Por outro lado, a expressão (1) também mostra que, se três transformadores em Dd estão suprindo a carga nominal e um transformador é removido, a sobrecarga em cada um dos transformadores que permanece seria de 173%, uma vez que a recíproca da expressão (1) é a relação da carga total para a carga por transformador. Naturalmente, esta relação implica em que, se dois transformadores estão operandos em duplo V e com carga nominal, a adição de um terceiro transformador aumenta a capacidade total de 173,2% (ou de 3 ). Assim, um aumento no custo de 50%, correspondente ao terceiro transformador, permite um acréscimo da capacidade do sistema em 73,2%, ao convertê-lo de duplo V em ∆∆. Esta estratégia é interessante em sistemas de distribuição, onde se espera uma ampliação futura. Em outras palavras, em um primeiro momento instala-se os transformadores conectados em duplo V e, se a demanda aumentar com o passar do tempo, instala-se o terceiro transformador. Com tal atitude, o custo inicial é menor. 4.0 – CONDIÇÕES PARA REALIZAR A CONEXÃO Analisando-se a figura 3, verifica-se que é interessante que os transformadores possuam relações de transformação iguais e sejam conectados com as polaridades indicadas. Em caso contrário, as tensões no secundário ficarão desbalanceadas. A título de exemplo, se o transformador 1 possuir uma relação 13.800/127 V e o segundo, 13.800/115 V, a tensão secundária entre as fases “a” e “c” será: VU ca 000 6,1516,2091201150127 ∠=∠−∠−= Observe-se que ocorrerá, adicionalmente, uma sobretensão entre as fases “a” e “c”. ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 06: Paralelismo de Transformadores - 22 CAPÍTULO 6 – PARALELISMO DE TRANSFORMADORES “Não se preocupe com o pai da idéia, escolha as melhores e vá em frente” Steve Tobs RESUMO Este capítulo analisa as condições para a colocação de transformadores em paralelo. 1.0 - INTRODUÇÃO A operação em paralelo de doisou mais transformadores tem sua importância ligada, principalmente, ao aumento da disponibilidade de potência para uma determinada carga, onde apenas um seria insuficiente. Neste sentido, tal operação apresenta alguns aspectos positivos, ou seja: a) Aumento da confiabilidade, pois, em caso de problemas com um dos transformadores, as cargas, ou, pelo menos uma parte delas, serão alimentadas pelas unidades restantes; b) Há uma maior facilidade de se estabelecer programas adequados de manutenção das unidades; e, c) Como a carga total é dividida entre vários transformadores, os seus tamanhos e custos são menores, bem como, o transporte fica facilitado. 2.0 – CONDIÇÕES BÁSICAS PARA O PARALELISMO 2.1 – Generalidades A figura 1 apresenta, esquematicamente, a operação de dois transformadores monofásicos em paralelo, porém a análise efetuada a seguir é válida também para os trifásicos.. Como se observa, existirá uma corrente de circulação, independentemente da presença de cargas, se as tensões induzidas nos secundários de ambos forem diferentes, ou seja 2 . 1 . TT EE ≠ (1) O valor desta corrente será: 2 . 1 . . 2 . 1 . TT TT CIR ZZ EE I + − = (2) Figura 1 – Transformadores monofásicos em paralelo. Note-se que, como a malha formada pelos secundários dos dois transformadores possui uma baixa impedância, o nível da corrente de circulação será elevado e dependente da diferença das tensões induzidas no secundário de ambos. Considerando-se que o primário é comum a ambos os transformadores, para que suas tensões induzidas sejam rigorosamente iguais em módulo e em fase, necessariamente deve-se ter a: a) Mesma Relação de Transformação; e, a b) Mesma Polaridade (monofásicos) ou Mesmo Defasamento Angular (trifásicos) A figura 2 exemplifica as duas situações em que as tensões secundárias são diferentes. Figura 2 – Formas de onda das tensões dos secundários de dois transformadores em paralelo. ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 06: Paralelismo de Transformadores - 23 2.2 – Mesma Relação de Transformação De forma a exemplificar a necessidade das relações de transformação possuírem o mesmo valor na operação em paralelo de transformadores, considere-se o seguinte caso em relação à figura 1: a) Tensão primária: 13.800 V; b) Transformador T1: 45 kVA, 13.800/254 V, Z% = 2,5 %; c) Transformador T2: 45 kVA, 13.800/220 V, Z% = 2,5 % Desta forma, aplicando-se 13.800 V ao primário de ambos, no secundário de T1 a tensão induzida será 254 V e, no de T2, 254 V. Adotando-se que a polaridade é a mesma para ambos os transformadores (defasamento angular para os trifásicos), resulta em uma diferença de potencial na malha formada pelos secundários de: V 3422025421 =−=−= EEUR Adotando-se como base as grandezas nominais do transformador T1, tem-se: puZT 025,0100 5,2 1 == 018,0) 254 220 ( 100 2,5 2 2 puZT == e: pu U U U base R R 134,0254 34 === Assim: pu ZZ U I TT R circ 12,3018,0025,0 134,0 21 ≅ + = + = Este resultado mostra que para uma diferença de apenas 34 V (ou, 13,4% na base do sistema) entre as tensões, com impedâncias de 2,5% (valor máximo normalizado para estes tipos de transformadores), circula uma corrente 312 % maior que a nominal de T1 entre os transformadores sem carga. Admite-se como dado pratico, entretanto, cerca de 0,5% de diferença entre as relações. Note-se que, mesmo assim, a corrente de circulação existirá, porém em valores mais razoáveis. No exemplo anterior, a corrente, nestas condições, será: puIcirc 12,0018,0025,0 005,0 ≅ + = Ou seja, aproximadamente 12 % da corrente nominal do transformador T1. Nos acoplamentos distantes eletricamente deve- se também considerar as impedâncias dos cabos de interligação. Neste caso, seria interessante uma pequena diferença entre as relações, que poderiam compensar as quedas de tensão nas impedâncias da interligação, porém sempre respeitando-se o limite de 0,5%. 2.3 - Mesma Polaridade (Monofásicos) ou Mesmo Defasamento Angular (Trifásicos) Como as tensões nos secundários são alternadas são alternadas, apenas os mesmo valores dos módulos das tensões induzidas não garante uma diferença de potencial nula na malha. Considerando-se, por exemplo, dois transformadores em paralelo com as seguintes características: a) Tensão primária: 13.800 V; b) Transformador T1: 45 kVA, 13.800/220 V, Z% = 3,5 %, Dy 1; e, c) Transformador T2: 45 kVA, 13.800/220 V, Z% = 3,5 %, Dy 11 Tem-se que, conforme a expressão (1), a corrente de circulação em pu será: pu ZZ EE I TT TT circ 3,14035,0035,0 301301 00 21 _____ 2 ____ 1 ≅ + −∠−∠ = + − = Este resultado mostra a completa inexequibilidade do acoplamento em paralelo de transformadores com defasamentos diferentes, ou seja, circula uma corrente 1430 % maior (níveis de curto- circuito) que a nominal entre os transformadores sem carga. 3.0 – PARALELISMO DE TRANSFORMADORES COM DEFASAMENTOS ANGULARES DIFERENTES Embora a condição de mesmo defasamento angular ser restritiva para a inserção de transformadores em paralelo, há alguns casos em que isto será possível com algumas modificações externas. Uma regra prática para verificar a possibilidade de paralelismo nesta situação é: a) A conexão deve ser a mesma e possuir a ligação delta e/ou zig-zag; b) A soma dos angulos de defasagem deve ser igual a 3600, ou seja, a soma dos valores da representação horária deve ser igual a 12. Desta forma, visando o paralelismo, é possível adequar os defasamentos dos seguintes pares: ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 06: Paralelismo de Transformadores - 24 a) Dy1 com Dy11 ou Dy11 com Dy1; b) Yd1 com Yd11 ou Yd11 com Yd1; c) Yz1 com Yz11 ou Yz11 com Yz1; d) Dd2 com Dd10 ou Dd10 com Dd2; e) Dz2 com Dz10 ou Dz10 com Dz2; f) Dd4 com Dd8 ou Dz8 com Dz4; g) Dz4 com Dz8 ou Dd8 com Dd4; h) Dy5 com Dy7 ou Dy7 com Dy5; i) Yd5 com Yd7 ou Yd7 com Yd5; j) Yz5 com Yz7 ou Yz7 com Yz7; O procedimento é simples e consiste na mudança de fases nas buchas de mesmo nome na ligação delta e/ou zig-zag, conforme exemplifica a figura 3 para as conexões Dy1 e Dy11. Figura 3 – Mudança de fase para adequar o defasamento angular Note-se que, internamente, o transformador TR2 continua com o mesmo defasamento, porém, para o sistema, ele se alterou para 300 devido à mudança da seqüência de fases. Naturalmente, este procedimento permite o paralelismo de outras conexões, a priori incompatíveis. É possível, por exemplo, conectar-se um transformador Yd11 com Dy1, desde que a relação de transformação seja a mesma. Para tanto, deve-se alterar o Yd11 para Yd1 mudando-se a sequência de fases. 4.0 – CONDIÇÕES DE OTIMIZAÇÃO Algumas condições operacionais podem assegurar que se obtenha o máximo proveito (otimização) da operação em paralelo, mesmo não sendo imprescindíveis, ou seja: a) Mesma Impedância Percentual; e, b) Mesma Relação entre Resistência e Reatância Percentuais. 4.1 - Mesma Impedância Percentual Para dois transformadores operando em paralelo, verifica-se que a distribuição de potência entre os mesmos é inversamente proporcional às impedâncias, ou seja: % % % % 1 2 2 1 Z Z S S = (3) Ou, em pu.: − − − − = 1 2 2 1 Z Z S S (4) Da expressão (3) verifica-se que a condição ideal (ótima) ocorre quando Z2% Z1% = pois, neste caso, S2% S1% = ouseja, ambos assumirão um carregamento proporcional às suas capacidades. 4.2 - Mesma Relação entre Resistência e Reatância Mesmo que impedâncias possuam um mesmo módulo, ou seja, Z1% = Z2%, os seus ângulos podem ser distintos, como ilustra a figura 4. Figura 5 – Impedâncias iguais com ângulos diferentes Como em paralelo a tensão dos transformadores é única, as correntes possuirão defasamento diferentes em relação a ela. Portanto, haverá um defasamento αααα entre as correntes, dado pela diferença entre os ângulos das impedâncias, ou seja: 21 φφα −= e, naturalmente, também entre as potências. ECA 34 – MÁQUINAS ELÉTRICAS PARA AUTOMAÇÃO Parte II: Transformadores ________________________________________________________________________________ Capítulo 06: Paralelismo de Transformadores - 25 Figura 6 – Soma das Potências 1S? - Potência do transformador 1; 2S? - Potência do transformador 2; TS? - Potência total para a carga A potência TS? só será máxima quando α = 0 (soma algébrica). Para que α = 0, necessariamente: % % % % 2 2 1 1 21 X R X R =⇒=φφ ou ainda: 2 2 1 1 X R X R = Portanto, para que a potência entregue a carga seja a máxima possível, os transformadores devem ter a mesma relação entre resistências e reatâncias. Transformadores (Capa) CAPÍTULO 1: CONCEITOS GERAIS E DEFINIÇÕES Galileu Galilei RESUMO 1.0 - INTRODUÇÃO 2.0 – TIPOS E APLICAÇÕES 2.1 - Transformadores de Potência 2.2 - Transformadores para Instrumentos 2.3 - Transformadores de comando e sinalização 2.4 - Transformadores de Isolamento 2.5 - Transformador de Aterramento 2.11 – Outros Tipos de Transformadores 4.0 - NÚCLEO 5.0 - ENROLAMENTOS 5.1 – Generalidades 5.2- Enrolamento helicoidal 5.3 - Enrolamentos discoidais (panqueca) 5.4 - Enrolamentos em camadas 6.0 - DISPOSITIVOS DE PRENSAGEM E CALÇOS 7.0 - ISOLAMENTO 8.0 - BUCHAS 8.1 - Generalidades 8.2 - Buchas a óleo 8.3 - Buchas Condensivas 9.0 - TANQUE 10.0 - ACESSÓRIOS CAPÍTULO 2: PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DOS TRANSFORMADORES MONOFÁSICOS Galileu Galilei RESUMO 1.0 - PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO 2.0 - CORRENTE EM VAZIO 2.1- Considerações Gerais 2.2 - Forma de Onda da Corrente em Vazio 2.3 – Corrente Transitória de Magnetização (inrush) 3.0 - O TRANSFORMADOR EM OPERACÂO 4.0 - RELACÃO DE TRANSFORMACÃO 4.1 - Relação de Transformação Teórica ou Relação de Espiras. 4.2 - Relação de Transformação Real 5.0 - PARÂMETROS REFERIDOS 6.0 - CIRCUITO EQUIVALENTE 7.0 - PARÂMETROS PORCENTUAIS CAPÍTULO 3: PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DOS TRANSFORMADORES TRIFÁSICOS Epíteto RESUMO 1.0 - INTRODUÇÃO 2.0 - NÚCLEO 3.0 - ENROLAMENTOS 4.0 - PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO 5.0 - RELAÇÃO DE TRANSFORMAÇÃO 6.0 - CORRENTE EM VAZIO 7.0 - CIRCUITO EQUIVALENTE E PARÂMETROS CAPÍTULO 4: POLARIDADE E DEFASAMENTO ANGULAR Hermann Hesse RESUMO 1.0 - INTRODUÇÃO 2.0 - POLARIDADE DE UM TRANSFORMADOR 3.0 - CONSIDERAÇÕES SOBRE CONEXÕES DOS ENROLAMENTOS E DEFASAMENTO ANGULAR CAPÍTULO 5: BANCO DE TRANSFORMADORES MONOFÁSICOS William Shakespeare RESUMO 1.0 - INTRODUÇÃO 2.0 – BANCO COM TRÊS TRANSFORMADORES 3.0 – CONEXÃO DELTA ABERTO OU DUPLO V 4.0 – CONDIÇÕES PARA REALIZAR A CONEXÃO CAPÍTULO 6 – PARALELISMO DE TRANSFORMADORES Steve Tobs RESUMO 1.0 - INTRODUÇÃO 2.0 – CONDIÇÕES BÁSICAS PARA O PARALELISMO 2.1 – Generalidades 2.2 – Mesma Relação de Transformação 2.3 - Mesma Polaridade (Monofásicos) ou Mesmo Defasamento Angular (Trifásicos) 3.0 – PARALELISMO DE TRANSFORMADORES COM DEFASAMENTOS ANGULARES DIFERENTES 4.0 – CONDIÇÕES DE OTIMIZAÇÃO 4.1 - Mesma Impedância Percentual 4.2 - Mesma Relação entre Resistência e Reatância