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Capítulo 4 A entrevista inicial Inicialmente, os terapeutas principiantes encaram a primeira en trevista meramente como obtenção de informações sobre o problema que leva o cliente à terapia. Completada sua primeira entrevista, entretanto, os principiantes geralmente se sentem confusos e deso rientados diante dás habilidades sutis e complexas exigidas. A con dução de uma entrevista inicial eficaz envolve o domínio de duas habilidades: primeiro, estabelecer uma atmosfera agradável e de aceitação a fim de que o cliente se comunique livremente; segundo, obter as informações necessárias sobre os problemas do cliente de tal forma que se possa fazer uma avaliação adequada da situação e desenvolver um plano apropriado de tratamento. Não é possível oferecer uma orientação escrita que englobe to das as diferentes situações que você encontrará na entrevista. Esta é a principal razão que faz com que a supervisão constitua um aspecto tão decisivo do processo de aprendizagem terapêutica. Todo cliente apresentar-lhe-á diferentes desafios e cada nova situação de entrevista deverá ser encarada com flexibilidade. Temos constatado que os estudantes freqüentemente se esquecem que as exceções são quase sempre a regra, em se tratando da prática clínica. Apesar de cada entrevista solicitar um curso de ação ligeiramente diferente, apresentaremos algumas sugestões gerais sobre a entrevista inicial, comprovadamente úteis para os principiantes. A primeira entrevista: o que esperar A primeira entrevista é geralmente uma situação amedronta- dora, tanto para o cliente quanto para o terapeuta principiante. Ë um momento de avaliação mútua no qual ambos estarão extrema mente preocupados em relação àquilo que o outro pensa Os clientes geralmente não se sentem à vontade quando se trata de pedir ajuda a um profissional, mostrando-se tão ansiosos com 28 relação a este fato quanto a respeito dos próprios problemas. Ini ciam a primeira entrevista com uma grande variedade de medos e expectativas, muitos dos quais são bastante exagerados. Seu cliente poderá ter medo de ser considerado “doido” ou de ser visto como fraco ou dependente. Está geralmente inseguro sobre o que se es pera dele e pode ter receio de revelar a um estranho informações altamente pessoais e provavelmente consideradas danosas. Nas insti tuições de treinamento, os clientes poderão, ainda, se indagar a res peito da competência do terapeuta, ou se os seus problemas não serão muito sérios ou chocantes para um principiante. Para contrabalançar alguns desses medos muito envolventes, um cliente poderá desenvolver expectativas muito pouco realistas a res peito dos benefícios da terapia e dos poderes do terapeuta. Alguns clientes acreditam que o terapeuta conhece seus pensamentos. Po derão acreditar que o terapeuta possui um poder mágico para eli minar seus problemas, antecipando que a terapia exigirá apenas al gumas sessões curtas. Infelizmente, as expectativas de benefício devem, às vezes, ser bastante grandes para compensar os medos envolvidos. Estes medos e expectativas que o seu cliente traz para as sessões iniciais poderão exercer um efeito poderoso sobre você. A ampli tude dos problemas poderá aumentar seu sentimento de inadequação e ignorância, que se somará à pressão já recebida no sentido de responder de forma compreensiva e ajudar. A exigência de fazer algo se torna uma preocupação fundamental, que leva prematura mente o estudante a aconselhar, dar apoio ou estabelecer um plano de ação. Além de responder às percepções do cliente, todo terapeuta experimenta suas próprias ansiedades em relação à entrevista inicial. Seu próprio receio de ser visto como incompetente; fracasso no sen tido de controlar a entrevista; não saber o que dizer; ou se defrontar com um cliente pouco cooperativo, calado, ou, pior ainda, um cliente hostil, poderão interferir seriamente na tarefa. Somada às preocupa ções do cliente, a ansiedade na sala de entrevista inicial poderá per turbar a troca de informações de maneira considerável. É neces sário que você tenha um bom controle de suas próprias ansiedades, a fim de ser capaz de aliviar os medos dos clientes e ao mesmo tempo conduzir uma sessão produtiva de colheita de informações. Algumas sugestões para você ficar à vontade O planejamento da disposição das cadeiras e a familiaridade com o plano físico da sala antes da sessão poderão ajudá-lo a se 29 sentir mais à vontade quando se encontrar pela primeira vez com seu cliente. Assegurar a competência pessoal quanto aos mecanismos sociais da entrevista também poderá fortalecer seus sentimentos de controle e confiança. Por exemplo, identificar-se e apresentar-se sem pedir desculpas, dirigir o cliente com firmeza à sala de entrevistas e indicar o assento que ele deve tomar, geralmente proporciona ao entrevistador um sentimento maior de confiança e satisfação no de sempenho do papel profissional. Embora não recomendemos que sejam tomadas notas como ro tina durante a entrevista, isto pode ser útil para aliviar a ansiedade sobre o que fazer inicialmente. Algumas pessoas são capazes de to mar notas de forma bastante independente, sem que isto interfira na fluência do diálogo; outras, entretanto, a considerarão mais um elemento de distração do que de ajuda. Para que as anotações sejam úteis, você deverá ter condições de ouvir as verbalizações do cliente de forma suficientemente cuidadosa para ser capaz de formular co mentários importantes e, ao mesmo tempo, anotar sucintamente fatos pertinentes. Trata-se de uma tarefa um tanto difícil e que os prin cipiantes são às vezes incapazes de levar a cabo de forma tranqüila e efetiva. Costumamos dar apoio aos estudantes tornando-os conscientes de suas opções. Assim, eles não necessitam responder á cada per gunta formulada pelo cliente. É ainda útil saber que quase tudo que você disser é reparável. Terá outras oportunidades para formular as perguntas que você esqueceu para esclarecer um ponto confuso. O silêncio não é necessariamente um mal. Poderá oferecer ao cliente uma oportunidade para refletir ou encorajá-lo a se estender mais sobre determinado tópico. A expressão de estranheza quando algo lhe parece confuso é, geralmente, bastante inadequada. Até mesmo abandonar a sala para consultar o supervisor poderá ser necessário, em situações de emergência. Quando tiver dúvidas sobre o enca- ^ minhamento a ser dado a uma entrevista, poderá esperar que o cliente prossiga, repetir você mesmo ou Solicitar elaboração poste rior. Todo terapeuta já teve lapsos momentâneos de memória e es queceu a razão pela qual um cliente buscou ajuda. Não há necessi dade, nestes casos, de entrar em pânico; uma solicitação gentil feita ao cliente, rapidamente -despertará sua memória. Apenas a experiência crescente lhe dará uma sólida sensação de confiança e competência como terapeuta; entretanto, algumas destas sugestões poderão Ser úteis aos principiantes para que se sin tam mais à vontade. A discussão com supervisores ou colegas sobre o que esperar de um determinado cliente poderá com freqüência ser 30 de muita utilidade, a menos que você se deixe envolver a tal ponto pelas Suas próprias expectativas que não tenha condições de se de frontar com uma realidade diferente que o cliente talvez lhe apre sente. Desenvolvimento da entrevista inicial Conforme salientamos no segundo capítulo, existem certas con siderações práticas que deverão ser levadas em conta com um cliente que procura ajuda numa clínica de treinamento. Por exemplo, as exigências de supervisão ou de gravação deverão ser explicadas ao cliente e este deverá concordar com elas. Além disso, é importante que o cliente compreenda como funciona o processo de coleta de dados e qual é a parte que cabe à entrevista inicial neste contexto. Após os examesdestes pontos, o terapeuía poderá propor uma das seguintes indagações, para dar início à entrevista: “O que o traz aqui?” ou “Em que eu posso ajudá-lo?” Geralmente, o cliente começará falando sobre algum aspecto de suas dificuldades e o terapeuta pode pouco a pouco conduzi-lo no sentido de esclarecer e ampliar sua compreensão. Esta é a si tuação ideal. Infelizmente, entretanto, é possível que você não en contre entrevistandos ideais em seu treinamento. Alguns clientes pa recem preferir discutir outras pessoas e os problemas destas, narrar uma história descritiva, fornecer detalhes em excesso ou discutir uma variedade de tópicos que não estão diretamente relacionados à sua necessidade de terapia. Assim, os terapeutas deverão algumas vezes exercer consideráveis controle e diretividade a fim de fazer com que o cliente continue a falar sobre as áreas problemáticas. A seguir, apresentamos alguns exemplos de comentários diretivos: “Seria bom voltarmos às suas preocupações centrais” “Como isto se relaciona com os problemas que o trouxeram à clínica?” “Estou confuso. Acho que preciso saber mais a respeito de seus problemas atuais, antes de poder ajudá-lo” “Gostaria de saber algo sobre o modo pelo qual você foi criado} mas, em primeiro lugar, gostaria de compreender. . . mais detalha- mente.” “.Eu me pergunto sobre se não seria mais produtivo concentrar mos nossa atenção em sua situação atual, daqui por diante” 31 “Acho que preciso saber mais sobre seus objetivos na terapia antes de poder ajudá-lo.” A obtenção de informação relevante a respeito do cliente ou de seus componentes poderá ser algo simples e direto, ou um assunto extremamente complicado. Alguns clientes necessitam de pouca ajuda para provocar elaboração ou esclarecimento, e eles mesmos nos en caminham em direção às áreas que são mais significativas. Quando você achar que já examinou suficientemente uma área, poderá mudar para outro tópico, fazendo um comentário de transição como os seguintes: “Além de conhecer detalhes sobre a área problemática, gostaria de conhecer outros aspectos de sua vida.” “Acho que entendo a razão que o trouxe até aqui. Agora, gos taria de saber alguma coisa sobre sua situação de vida atual.” “Gostaria de saber alguma coisa sobre suas origens e sua fa mília.” Alguns clientes irão procurá-lo sem saber a razão pela qual estão intranqüilos; poderão estar muito emocionados, confusos, te merosos e calados. Nestas situações mais difíceis, poderá ser neces sário que você tranqüilize a pessoa demonstrando sua compreensão, preocupação e aceitação, e dando à entrevista alguma estrutura, an tes de tentar discutir os problemas específicos que levaram a pessoa a procurá-lo. Por exemplo: Uma jovem veio para a entrevista inicial e começou a chorai incontrolavelmente, sendo incapaz de se comunicar com clareza. Es tava preocupada com a possibilidade de ter um colapso e este ^ pen samento preocupava-a a ponto de excluir tudo o mais. Alegava não saber por que estava nesse estado, A mulher apenas se acalmou apôs considerável apoio por parte do terapeuta, dizendo-lhe que nada havia de mal com o fato de ela expressar seus sentimentos por melo do choro. Oraáativamente, e mediante perguntas sobre fatos ocor ridos com ela naquele dia, o terapeuta e a cliente descobriram que uma interação ocorrida com um professor muito crítico teria sido o evento precipltador inicial, Os clientes geralmente começam a falar de seus problemas e nlo conseguem continuar porque a experiência de simplesmente di zer a outra pessoa aquilo que os incomoda é, em si mesma, uma experiência extremamente perturbadora. É comum que um cliente 32 chore logo no início da entrevista, e isto é algo qüe deve ser espe rado por você. Nestas ocasiões, é melhor atuar dando compreensão, apoio e aceitação, e não procurar forçar a coleta de informações, a menos que o cliente o faça por si mesmo. Se este padrão persistir ao longo da entrevista, talvez seja necessário adotar a estratégia de instigar o aparecimento dos dados. Outros clientes apresentar-se-ão com preocupações específicas ou listas de problemas que poderão interferir na coleta de informa ções da entrevista. Por exemplo: Um cliente começa a entrevista narrando seus sentimentos ne gativos em relação à recepcionista na clínica e seus sentimentos muito confusos em relação à entrevista com você. Insiste que tem “procurado ajuda”, mas que as atitudes dos profissionais consultados não têm sido de muita utilidade, e que ele não sabe, na verdade, se está realmente interessado em contar qualquer coisa a você. Lidando com esta situação, o terapeuta comunicou seu respeito para com os sentimentos do cliente, e uma preocupação com as ex periências anteriores do cliente que resultaram em tais sentimentos negativos. Mais uma vez, foi decisivo para o entrevistador não forçar qualquer tipo de abertura, até que o cliente se sentisse em condições de fazê-lo. Neste caso, quando o cliente constatou que seus senti mentos estavam sendo tratados com respeito, com boa vontade, dis- pôs-se a falar mais sobre sua depressão, que era resultante de se sentir incompetente no trabalho. Aparentemente, necessitou antes de uma demonstração de respeito por parte do terapeuta, antes de per mitir a si próprio a exibição de sinais de "fraqueza”. Lidando com a ansiedade do cliente. Os estudantes geralmente encaram a tarefa de realizar a primeira entrevista como a de colocar o cliente tio à vontade quanto possível. Você poderá agir amiga velmente, manter uma interação calorosa com o seu cliente que evite todas aquelas questões que poderfio produzir ansiedade, e, ainda assim, obter muito pouca informação sobre os problemas do cliente. Propomos, neste caso, a noçlo de um grau “ótimo" de ansiedade, isto é, a busca de um estado no qual o cliente nfio seja confundido ou paralisado por ansiedade excessiva, mas se sinta suficientemente incomodado para que possa demonstrar suas habilidades de enfren ta; situações e sua emocionalidade, Você deverá tentar estabelecer um equilíbrio entre a sondagem suficiente das áreas mais sensíveis e o empenho no sentido de manter a ansiedade do cliente dentro de limites controláveis. 33 Um bom entrevistador é sensível tanto aos sinais verbais como aos não-verbais de mal-estar do cliente, investiga seu significado e apoia diretamente o cliente em relação às suas preocupações, se isto for possível e apropriado. Algumas das afirmações seguintes, por exemplo, podem tran qüilizar o cliente: t(As pessoas geralmente se inquietam com o fato de procurar ajuda profissional” “Fico satisfeito com o fato de você vir me procurar; parece que você está muito preocupado com estes problemas, e este é o pri meiro passo no sentido de se fazer alguma coisa em relação a eles.” “Ê necessária uma boa dose de coragem para falar a respeito desses assuntos íqtimos a alguém que você não conhece ” Trazendo estas preocupações para uma discussão aberta, você comunicará ao cliente que os Sentimentos deste são sensatos e com preensíveis. É importante estabelecer seu papel como de uma pessoa que aceita, que se preocupa e que dá apoio, e cujo trabalho con siste em ajudar o cliente a comunicar com precisão a natureza de sua dificuldade. Existem outras maneiras de dar assistência ao cliente. Por exemplo, uma especificação clara das espécies de informação que você deseja poderá reduzir consideravelmente a ansiedade do cliente. A transição de um tópico para outro de maneira suave e explícita, feita por você, Será também bastante útil. Esclarecer e resumir o que você já ouviu poderá igualmente assegurar ao cliente qué ele está comunicando algo compreensível. Uma entrevista inicial de co leta de informações poderá ser, em si mesma; terapêutica, ajudando o cliente a clarificar suaspróprias confusões a respeito do que está acontecendo. Idealmente, você deverá querer que o seu cliente saia da pri meira entrevista com um sentido de maior clareza e orientação. Para muitos indivíduos que estão esmagados pela ansiedade e con fusão, sua compreensão e clarificação poderão ser um aliviamento. Falar com alguém simpático e treinado sobre uma situação pertur badora poderá forçar a estruturação dos problemas, o que poderá fazer com que pareçam ser menos esmagadores. A seguir, alguns exemplos de intervenções clarificadoras que você poderá desejar fazer: 34 “Deixe-me ver se eu entendi bem . . . ” “Tenho a impressão de que você está muito aflito com. . “Acho que estou entendendo o que voce está dizendo.” (Mas não diga isso, se você “não está” entendendo). “Estou confuso quanto a este último ponto. Você poderia me esclarecer?” Alguns clientes virão para a entrevista bastante ansiosos e você poderá querer introduzi-los inicialmente através de uma conversa curta para pô-los à vontade. Entretanto, esta tática poderá aumentar a ansiedade, no caso daquele cliente que pretende “ir direto ao as sunto”. Se acha que o cliente não se sente bem quando você o olha diretamente, desvie o olhar de vez em quando. Se acredita que o nível de ansiedade do cliente em relação à entrevista está se tor nando excessivo, mude o tema, mude a sua forma de trabalhar, desacelere o processo ou mesmo termine a sessão mais cedo. Ainda que não obtenha a informação que necessita nesta sessão particular, você aumentará a possibilidade de o cliente retornar na próxima sessão. Se o seu cliente está sentado numa posição que lhe parece des confortável e tensa, se está inquieto ou constantemente desvia o pró prio olhar, evitando contato com os olhos, bloqueado, evasivo, você poderá especular que a ansiedade está interferindo na entrevista. Estas especulações poderão ser compartilhadas e confrontadas com seu cliente dizendo, por exemplo: “Você me parece tenso”. Algumas vezes, entretanto, o cliente não terá condições ou disposição para admitir os seus sentimentos de mal-estar. Sua própria frustração, con fusão e tensão poderão se constituir em pistas valiosas para demons trar que você poderá fazer bom uso, seja da discussão com ele, seja da alteração do estilo de entrevista ou do tópico que está sendo discutido. Uma nota de cautela: eventualmente você poderá encontrar clientes que aparentemente não se apresentam tensos. E poderá en contrar, também, alguma dificuldade para que eles mencionem o problema que os traz para a terapia. Nestes casos, a opção de es colha poderá ser encorajar o cliente a se sentir ansioso. Por exemplo, você poderá dizer que está confuso sobre por que ele procurou ajuda. Ou poderá tocar numa área sensível, e investigar essa área com maior profundidade, até que obtenha alguma evidência de des conforto. Agindo desta forma, poderá ter condições de determinar as áreas de dificuldade que produzem tensão no cliente. Entretanto, 35 é melhor que este expediente seja utilizado por um terapeuta mais experimentado, ou numa situação na qual você esteja sendo super visionado de perto. Conteúdo da primeira entrevista A preocupação central do terapeuta numa entrevista inicial de verá ser o problema apresentado pelo cliente. Geralmente, os prin cipiantes ficam satisfeitos com uma breve exposição da parte do cliente sobre por que procurou ajuda. Entretanto, trata-se geralmente de algo mais complexo. Você deverá compreender o desenvolvi mento dos problemas, bem como a razão que levou o cliente a procurar ajuda nesta circunstância particular. Além disso, deverá realizar uma avaliação de quaisquer riscos ou crises imediatos com os quais o cliente possa estar se defrontando. Tal informação é de cisiva, e em alguns casos poderá determinar alguma forma de ação imediata, como a hospitalização. Este tópico será tratado mais am plamente em capítulo posterior. A fim de avaliar adequadamente o problema, é também neces sário avaliar a resposta emocional do cliente às dificuldades. Exis tem dois componentes neste processo: o relato verbal do cliente sobre si mesmo e as observações do terapeuta sobre o estado emo cional ou humor do cliente. Além disso, você deverá compreender plenamente a situação de vida atual do cliente e como ele interage com os problemas que se apresentam. Finalmente, é importante de terminar o que o cliente espera e quer como forma de ajuda para estes problemas. Uma certa quantidade de informação a respeito da história pas sada é importante para avaliar a gravidade dos problemas e as ha bilidades de enfrentamento do cliente, e para compreender o desen volvimento dos problemas. Dependendo do tempo disponível, é útil obter, também, alguma informaçãp- sobre a família do paciente, sua origem Social e história médico-clínica, e quaisquer contatos tera pêuticos anteriores. Poder-se-á dispender facilmente cinco ou seis horas na coleta de informações, mas raramente este tempo é dis ponível. É da maior importância, dado o tempo limitado, obter uma avaliação detalhada e completa dos problemas atuais do paciente, tal como ele os vê. Geralmente sugerimos que o terapeuta comece com uma indagação bastante geral, do tipo “Fale-me sobre os pro blemas que você vem tendo com sua esposa”. Isto dá ao cliente a 36 oportunidade de começar a falar Sobre aquilo que parece Ser mais importante. A partir daí, o terapeuta formula perguntas mais e mais específicas, até que a situação fique clara, seja no nível emocional, seja no comportamental. Todas as áreas que o cliente traz à baila deverão ser examinadas dessa forma, ou seja, do geral para o es pecífico. No início do seu treinamento você, provavelmente, necessitará realizar uma avaliação tão ampla sobre o cliente e sua vida quanto o tempo possibilite, pois você não possui, ainda, experiência sufi ciente para desenvolver hipóteses que orientarão de modo mais efi ciente suas indagações. À medida que ganhar experiência, estará atento a pistas verbais e não-verbais que sugerirão possíveis áreas problemáticas. Por exemplo, se um cliente exibe sinais de ansiedade na discussão de um tópico ou se há manifestas contradições numa determinada área, ou ainda se o padrão de verbalização, de ento nação ou ritmo do cliente muda, quando responde a uma pergunta, estes dados poderão sugerir conflitos ou dificuldades que você de sejará explorar posteriormente. A discussão da entrevista com seu supervisor o ajudará a permanecer atento a estas pistas, mas, até que a sua experiência básica seja suficientemente ampla, é útil co brir todas as áreas tão completamente quanto o tempo o permita. Término da entrevista Devido à sua própria ansiedade com relação à necessidade de “sair-se bem”, é possível que os estudantes se esqueçam de que a entrevista inicial poderá ser um fator crítico para o cliente. Talvez seja a primeira vez que ele revela estes problemas a outra pessoa, e apresentará reações importantes ao fazê-lo. Os clientes geralmente estão preocupados com a impressão que causaram, se utilizaram bem o tempo do terapeuta e se poderão ser ajudados ou ainda o que acontecerá agora. É importante manter-se atento ao problema do tempo, para que haja oportunidade de discutir estas preocupações ao final da entre vista. Ao fazê-lo, não interrompa seu cliente no meio de uma discussão perturbadora; é melhor continuar até que ele esteja mais calmo, se possível. Ao fim da sessão, é útil para o terapeuta resumir as preocupa ções expressas pelo cliente e verificar se isso coincide com as per cepções do cliente. Apesar de ser pouco provável que você se sinta preparado para apresentar ao cliente uma avaliação do problema a 37 esta altura, alguma forma de feedback geral é freqüentemente bas tante animadora. Por exemplo, você poderádizer: “É evidente que você está bastante preocupado com estas questões e que elas estão lhe causando uma boa dose de dificuldades em sua vida” ou “É claro que você não sabe o que fazer com estes problemas e procurar alguma forma de assistência é uma decisão sábia”. Finalmente, você deverá especificar o próximo passo do pro cesso de coleta de informações tal como uma entrevista adicional ou uma sessão de feedback e também quando o cliente espera que isto ocorra. O cliente terá uma melhor sensação de fechamento se lhe foi dada a oportunidade de corrigir quaisquer distorções de percep ção da parte do terapeuta, acrescentar quaisquer dados ou formular quaisquer perguntas que porventura desejar. Erros comuns Os estudantes de psicoterapia cometem alguns erros na entre vista inicial que são suficientemente comuns para merecerem des taque. Eles ou se tornam muito orientados para a tarefa, ou dão excessivamente ênfase à pessoa. Isto é, tornam-se abertamente preo cupados com a coleta de informações e negligenciam os problemas do cliente; ou se mostram claramente preocupados com os senti mentos do cliente e, conseqüentemente, terminam a entrevista com pouca ou nenhuma informação. Um equilíbrio entre dois extremos é um objetivo que deverá ser buscado por você. Um outro erro relacionado consiste em dar pouquíssimas estru tura e diretividade à entrevista, permitindo que o cliente guie intei ramente os tópicos que estão sendo discutidos. Não é raro acontecer que o cliente confunda o entrevistador com palavras. Os estudantes que estão aprendendo terapia geralmente assumem com facilidade o papel de um ouvinte que aceita e dá apoio, mas experimentam muito maior dificuldade para estruturar a entrevista de forma a torná-la mais produtiva. Os principiantes sentem, também, alguma dificuldade em saber se exploraram uma determinada área de modo suficientemente de talhado. Geralmente formulam uma ou duas perguntas gerais sobre uma área problemática e verificam que a contribuição do cliente acaba aí. Procurando não forçá-lo, passam a examinar uma outra área-problema e continuam abordando estas questões de maneira su perficial. Como resultado da experiência em matéria de entrevista, os estudantes logo acabarão por saber quando é que compreendem 38 suficientemente bem a situação ou o problema; entretanto, no início tendem geralmente a obter informações insuficientes. Um erro semelhante, cometido por principiantes, é o de pres supor que compreendem o que o cliente está dizendo sem comprovar cuidadosamente tais pressuposições. Lembramos aos estudantes que não devem pressupor nada e sim perguntar aos seus clientes, tão cuidadosamente quanto possível, para saber exatamente o que que rem dizer. Muito embora estudantes e clientes possam acreditar que estão lidando com assuntos óbvios, é surpreendente quão freqüen temente ocorrem mal-entendidos. Por exemplo: Um senhor ansioso iniciou a terapia devido a dificuldades, va gamente relatadas, que vinha tendo em se comunicar com o chefe e em controlar seu humor no trabalho. Em certo momento, fez re ferência a “perdê-lo” e o entrevistador pressupôs que ele se referia ao humor. Uma investigação mais cuidadosa, realizada na entrevista seguinte, revelou que o cliente tinha medo de perder o controle e “endoidecer”, o que acrescentou urna dimensão inteiramente nova ao quadro clínico que ele vinha apresentando. A menos que o terapeuta pergunte ao cliente sobre o significado exato daquilo a que ele se refere, alguma forma de mal-entendido Sério poderá ocorrer. Os estudantes e os clientes poderão achar que ambos sabem o que significa sentir-se ansioso, deprimido, indeciso, desamparado, inadequado, etc. Entretanto, o que o cliente quer dizer quando usa estas palavras para descrever Sua experiência, e o que o terapeuta compreende, poderão ser coisas muito diferentes. Mal- entendidos poderão resultar da confusão sobre o grau ou intensidade de um sentimento, ou sobre os comportamentos envolvidos. Pofc exemplo, deprimido poderá significar cansado e infeliz para o tera peuta, mas poderá significar inabilidade para sair de casa e idéias suicidas para o cliente. Aspectos íntimos da vida das pessoas, como sexo e questões financeiras, poderão ser clinicamente muito importantes, mas são freqüentemente cobertos de maneira superficial pelos principiantes. Os clientes consideram estes tópicos difíceis de serem discutidos e os estudantes de terapia acabam muitas vezes achando que é extre mamente difícil fazer perguntas às pessoas sobre esses assuntos. Com a preocupação de não ofender o cliente explorando áreas “tabu” ou intrometendo-se, os estudantes poderão, implicitamente, comunicar que a discussão de tais tópicos não é permitida. O incômodo para o terapeuta quanto à “intromissão” pode esconder uma dificuldade pessoal em discutir problemas íntimos com quaisquer pessoas, a não 39 ser com a família ou amigos íntimos. Os terapeutas não estão auto maticamente preparados para serem capazes de discutir tópicos como sexo, raiva, alucinações, suicídio e homossexualidade. Esforço con centrado e prática são necessários para lidar tranqüilamente com tais áreas, e para comunicar esta tranqüilidade aos clientes; mas esta é uma parte essencial do processo de aprendizagem. Você modelará seu modo de agir nesta área sendo direto e franco, e, ainda assim, aceitando e compreendendo o constrangimento envolvido. Devido ao fato de que é o primeiro contato do cliente com o terapeuta, a entrevista inicial constitui um evento extremamente im portante. Criar um clima de aceitação e possibilitar ao cliente a oportunidade para começar a clarificar seus problemas são seus ob jetivos gerais. Uma entrevista inicial bem-sucedida é uma base im portante para você elaborar seu relacionamento terapêutico subse qüente. 40 Capítulo 5 Consulta a terceiros A fase de avaliação da psicoterapia envolve freqüentemente a realização de consultas a outros profissionais ou agências envolvidas com seu cliente. A obtenção de informações relevantes sobre um cliente junto a outras pessoas, e sua utilização criteriosa e justa é uma habilidade que requer consideráveis experiência e discernimento clínico. Neste capítulo, consideramos as razões para se obter infor mação de outras fontes além do cliente, os tipos de informação a Serem obtidos e a maneira de abordar o cliente e o consultor em relação à sua solicitação. Além disso, tratamos da tarefa mais difícil, no domínio do discernimento, que é a do uso da informação, uma vez obtida. Há muitas razões para a consulta a terceiros como fonte de informação sobre seu cliente. Pode ser extremamente útil para seu planejamento de tratamento discutir com o terapeuta anterior do cliente as impressões desse terapeuta, os objetivos e progressos da terapia e a razão para a interrupção. Além disso, a ética da maioria das profissões determina que você deverá ter em mãos tantas infor mações quanto possível sobre seu cliente. Outras opiniões profissio nais são consideradas exclusivamente informativas e deverão ser obtidas e avaliadas. Além disso, você poderá ser responsabilizado se algo imprevisto ocorre ao seu cliente durante o tratamento e você não procedeu à consulta que poderia fornecer informações rele vantes. A quem solicitar informações Terapeutas anteriores. Uma fonte óbvia de informação a res peito de um novo cliente é o seu terapeuta anterior. Provavelmente a informação mais útil que você obterá referir-se-á à atitude que o cliente demonstrou em relação à terapia e as dificuldades encon tradas pelo terapeuta. Por exemplo: 41