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Linhas evolutivas do Direito Processual

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Linhas evolutivas do Direito Processual 
 
1. Sincretismo → seria a “pré-história” do Direito Processual. ​Nessa primeira fase, o campo  
processual era misturado, ele não estava afirmado como ciência autônoma. Não havia 
distinção entre direito material e direito processual​, visto que o último não era objeto de 
estudo. ​As normas processuais não haviam sido abordadas como objeto de estudo. É 
importante ressaltar, no entanto, que não se trata de dizer que essa fase não tinha a noção 
do Direito Processual. O que não existia, de fato, era a profundidade dessa compreensão, 
devido à falta de estudo sistemático. 
A primeira referência para a evolução dessa fase no caminho da emancipação da ciência 
processual é uma discussão entre ​Windscheid e Mutler a respeito da ​actio romana​. Não 
havia ainda um intuito de explorar como fenômeno tipicamente processual, como um objeto 
isolado, mas era um tema ligado ao processual. Windscheid afirmava que a ação se 
desenvolvia perante o Estado, buscando uma prestação desse, e não diretamente com o 
obrigado na relação discutida. O cidadão romano não tinha a ideia de buscar alguma coisa 
perante o Estado. Mutler, entretanto, afirmava que eles tinham essa ideia, pois quando um 
cidadão procurava o pretor para pedir a actio, ela era uma fórmula, uma linha sequencial a 
ser seguida. A actio possessionis era uma fórmula que era uma espécie de ação que o 
indivíduo faria naquele conflito e ia seguir as etapas do Estado dentro do que fosse previsto. 
No caso do pretor negar essa actio, o cidadão tinha um recurso chamado intercessio, que 
era contra a negativa da actio pelo pretor. Logo, Mutler dizia que esse recurso revela que o 
indivíduo via uma obrigação do Estado, tanto que se ele negasse, o cidadão tinha um 
recurso contra essa decisão, mostrando que eles tinham consciência que estavam em busca 
de um dever do Estado. 
No entanto, o grande marco decisório foi afirmado por ​Oskar Bullon​, o pai da ciência 
processual. O trabalho dele era voltado sobre o fenômeno processual, a relação processual, 
e com a preocupação metodológica de distinguir essa realidade processual da realidade de 
direito material. A relação processual passa a ser explorada como um fenômeno próprio, 
com objeto próprio e esforço de distinção com outros objetos de outras ciências jurídicas. 
Com esse trabalho, sai-se definitivamente do sincretismo, da mistura, iniciando agora a 
ciência autônoma. 
 
2. Autonomia (conceitual) ​→ também chamada de fase conceitual, onde se apuram os      
conceitos em torno do fenômeno processual (princípios etc). ​Consegue identificar as 
diferenças entre direito material e direito processual. Conhecendo o objeto, a ciência pode 
devolver a esse objeto o produto desse conhecimento, e enriquecido o conhecimento, 
podemos nos voltar a esse objeto e trabalhar de uma forma mais aprimorada. Oskar isolou o 
objeto e emancipou a relação processual como ciência. Ele dizia que o que ocorre no 
processo quando alguém procura o Estado para resolver um conflito é uma relação entre 
sujeitos, entre autor, juiz e réu. ​O direito processual, portanto, regula uma atividade em que 
o Estado exerce uma função de poder. A relação no processo é uma relação jurídica de 
natureza pública e essa relação processual não se confunde com a relação de direito 
material que nela se discute, que pode ser pública ou privada. Na relação processual 
discute-se uma relação de direito material. 
O direito processual passou a ser muito técnico (tecnicismo) e formal, sendo exagerado e 
distanciando a característica instrumental do processo. Por isso, a partir de certo momento, 
começa-se a fazer uma crítica de fora, questionamentos à respeito da realidade processual 
como um todo. Por que se diz que está falhando a prestação jurisdicional do Estado? O que 
essa jurisdição deve propiciar? Questionamentos à respeito de um dever-ser. Ocorreu, 
então, uma postura crítica (deontológica). É preciso definir, portanto, quais são os objetivos 
do direito processual para saber se isso está sendo realmente efetivado. 
 
3. Instrumentalismo → procurou buscar a plena instrumentalidade, explorando toda essa  
dimensão no direito processual. No Brasil, já tivemos uma Constituição com o influxo dessas 
ideias. A partir das constituições, a preocupação de hoje é com garantir a efetividade, a 
plena realização dos direitos. Coincide com a preocupação simultânea com o tema do 
acesso à justiça. 
 
Acesso à justiça → o acesso à justiça não é o simples acesso ao processo, mas sim à 
ordem jurídica justa em sua amplitude. Da tutela jurisdicional resultam deveres do Estado, 
como educação e saúde. Se nós temos o acesso a uma ordem jurídica justa do ponto de 
vista normativo, será que temos do ponto de vista da estrutura, do cumprimento dos 
deveres, da efetividade? A resposta é não. 
Um país se diz inserido numa ordem efetivamente justa se o seu cidadão tem instrumentos 
de conhecimento dos seus direitos e deveres, onde na medida em que se conhece, essa 
tutela jurídica é implementada cada vez mais. ​A primeira nota dessa preocupação com o 
acesso à justiça é exatamente o acesso efetivo à justiça, portanto, a plena realização dos 
caminhos da justiça. As ondas renovatórias são movimentos que buscam assegurar esse 
acesso efetivo à justiça. A primeira onda renovatória tinha em vista a assistência judiciária 
aos necessitados. A segunda onda tinha a preocupação dos interesse metaindividuais 
(difusos e coletivos). No Brasil, entidades foram legitimadas para representar esses 
interesses coletivos, entre eles: o Ministério Público federal e estadual, as entidades 
privadas que atuam nessa área desde que atuem há mais de um ano, e, paralelamente, 
também foi criada uma ação chamada de Ação Civil Pública, um remédio processual para a 
discussão e proteção desses interesses. A terceira onda renovatória tinha o conceito 
revisionista, se voltando para a correção dos problemas, reorganização da estrutura do 
Estado e aprimoramento das normas instrumentais. ​Busca a efetividade do processo em 
relação aos objetivos que o direito processual deve atingir. ​Dessa terceira onda, houveram 
dois segmentos: em relação à jurisdição estatal (onde o cidadão pode resolver seus conflitos 
por outros meios, como a arbitragem e a autocomposição) e dentro da própria jurisdição 
(onde se pensa numa estrutura judiciária melhor voltada para a realidade do conflito material 
que é trazido, onde pensou-se, então, no juizado de pequenas causas). 
OBS​: mediação e conciliação por si só não resolvem conflitos, pois são instrumentos para 
propiciar essa resolução, não sendo, portanto, meios alternativos de solução de conflitos.

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