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Int. ao Est. da História Aula 10

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Int. Ao Est. da História Aula 10
 Embora esta aula vá trabalhar mais com a memória coletiva do que com a memória individual, é de fundamental importância que apresentemos a questão da memória no campo científico global. Segundo Myers, a memória funciona como uma espécie de arquivo da mente, onde as informações e tudo o que aprendemos fica armazenado. Sem a memória não seríamos capazes de recordar nossas alegrias ou tristezas, de desenvolver sentimento de culpa ou angústia. E até mesmo nossas atividades cotidianas como vestir, cozinhar, andar e etc., seriam percebidas como um desafio, teríamos que reaprendê-las todos os dias. MYERS, David. Introdução à psicologia geral. São Paulo: LTC, p.191. 
 Além de arquivar as informações, a memória também é entendida, dentro da psicologia, como o sinal pelo qual percebemos que aprendemos algo, a nossa capacidade de recuperar as informações, ou seja, a persistência da aprendizagem. A nossa memória funciona como um sistema de computador. Para atingirmos a fase de recuperação de uma memória, precisamos “dar entrada” na informação, depois conservá-la para então recuperá-la. Somos capazes de arquivar memórias de longo e curto prazo, e depois de um tempo de inatividade, as memórias “não consultadas” são eliminadas. Para que se mantenham ativas, é necessário que elas sejam utilizadas ou reconstruídas. 
 O processo de codificação da memória ocorre de duas maneiras: automaticamente ou com esforço. As atividades mais básicas e cotidianas, como o caminho que você utiliza para ir ao trabalho, são processadas de forma automática. Basicamente, as noções de tempo, espaço e frequência. Constantemente somos capazes de recordar a página de um livro do qual esquecemos a matéria principal. Esse tipo de processamento ocorre com pouco ou nenhum esforço e é algo que escapa à nossa percepção. Já o entendimento de um livro ou aula caracteriza um processamento de esforço. Ou seja, novas ideias, nomes, atividades recentes, inclusive a maior parte do processamento de significado, imagem e organização, exigem um esforço e concentração do qual estamos conscientes, intencional. Para esse tipo de memória fixar em nossa mente é comum recorrermos ao ensaio, onde ficamos repetindo a informação desejada até que ela seja lembrada automaticamente. O ensaio, quando repetimos as informações até que seja lembrada automaticamente, pode ocorrer a curto prazo ou a longo prazo, quando, por exemplo, estamos em um novo ambiente de trabalho e precisamos decorar o nome de nossos colegas e superiores. 
 Em um estudo realizado por Elizabeth Loftus e John Palmer, ficou determinado como testemunhas oculares reconstroem suas memórias de forma semelhante quando interrogadas. Foi apresentado um vídeo de um acidente de trânsito seguido de uma pergunta sobre o acidente. O grupo teve de responder à pergunta “Com que velocidade iam os carros quando se arrebentaram um contra o outro?”. As respostas a esta pergunta apresentaram estimativas de velocidade bem maiores que as respostas à pergunta “Com que velocidade iam os carros quando bateram um no outro?”. Além disso, uma semana depois foi perguntado aos espectadores se haviam visto vidro quebrado no filme. E embora o vídeo não mostrasse vidro quebrado, os que responderam à pergunta com arrebentar mostraram mais probabilidade de recordar do vidro do que os que responderam à pergunta com bater. Além das nossas memórias individuais, existe a memória social. O autor Le Goff trabalha com a ideia de memória social, seu estudo é um dos meios para abordar questões do tempo e da história, mesmo porque a memória ora está em retraimento e ora em transbordamento. GOFF, Jacques Le. História e memória. Campinas: Ed. Da Unicamp, 1994. P. 426. 
 A origem de várias ideias, reflexões, sentimentos, paixões que atribuímos a nós são, na verdade, inspiradas pelo grupo. A questão central na obra de Halbwachs consiste na afirmação de que a memória individual existe sempre a partir de uma memória coletiva, posto que todas as lembranças são constituídas no interior de um grupo. A origem de várias ideias, reflexões, sentimentos, paixões que atribuímos a nós são, na verdade, inspiradas pelo grupo. Essa análise tem sempre que levar em consideração o lugar que o sujeito ocupa no grupo e, portanto, refere-se a um ponto de vista da memória coletiva. Segundo Maurice Halbwachs, as lembranças poderiam ser reconstruídas ou simuladas. Ou seja, o indivíduo pode criar representações do passado assentadas na percepção de outras pessoas, no que imaginamos ter acontecido ou pela internalização de representações de uma memória histórica. Assim, a lembrança “é uma imagem engajada em outras imagens”. Em Halbwachs, a memória histórica é compreendida como a sucessão de acontecimentos marcantes na história de um país. A memória coletiva é pautada na continuidade e deve ser vista sempre no plural (memórias coletivas), justamente porque a memória de um indivíduo ou de um país estão na base da formulação de uma identidade, que a continuidade é vista como característica marcante. 
 Os escritos de Halbwachs foram de extrema importância na década de 1920 e, para dialogar mais profundamente com ele, o historiador Pierre Nora escreveu em 1984 a obra Entre memória e História. Na obra Entre memória e História Pierre Nora desenvolve a problemática dos lugares: a afirmativa de que não existe mais memória, que esta só é revivida e ritualizada numa tentativa de identificação por parte dos indivíduos e que a sociedade utiliza-se hoje da história para lhe conferir lugares onde pode pensar que não somos feitos de esquecimentos, mas de lembranças: "Os lugares de memória são, antes de tudo, restos. A forma extrema onde subsiste uma consciência comemorativa numa história que a chama, porque ela a ignora". Para Pierre Nora, a memória se enraíza no espaço, no gesto, na imagem e no objeto.  A história só se liga a continuidades temporais, às evoluções, e às relações das coisas. A memória é o absoluto e a história o relativo". 
 Para Michael Pollak, as memórias marginalizadas abriram novas possibilidades no terreno fértil da História Oral. Não se trata de historicizar memórias que já deixaram de existir, e sim, trazer à superfície memórias “que prosseguem seu trabalho de subversão no silêncio e de maneira quase imperceptível” e que “afloram em momentos de crise em sobressaltos bruscos e exacerbados”. POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.2, nº 3, 1989.

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