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Aula 14 – Rio, 28 de maio de 2009 TEORIA DO CRIME INFRAÇÃO PENAL TEORIA DO ERRO (Cont.) ERRO DE TIPO Erro de tipo acidental ( Divide-se em vários: erro na execução ou aberratio ictus (art. 73); erro sobre a pessoa (art. 20, § 3º); resultado diverso do pretendido ou aberratio criminis (art. 74); erro sobre o objeto; erro sobre o curso causal ou aberratio causae; Erro sobre o objeto ( Aqui, o erro incide sobre o objeto material do crime. O objeto material do crime é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. Exs.: Homicídio – a pessoa, a vida humana; Furto – coisa alheia móvel; Peculato – a coisa pública sobre a qual o agente tem a posse; Aborto – feto; Tráfico de drogas – droga. Apesar disso, no erro sobre o objeto, nunca haverá erro sobre a pessoa. O erro sobre a pessoa só existe no erro sobre a execução e no próprio erro sobre a pessoa (já vistos). Então, quando se fala em erro sobre o objeto, o erro só ocorrerá sobre a coisa que é o objeto material do crime. Falta ao agente a consciência sobre essa coisa, o que é muito fácil de enxergar nos crimes patrimoniais. Ex.: Furto – o agente tem o dolo de subtrair uma coisa, erra e subtrai outra. A princípio, o erro sobre o objeto não faz nenhuma diferença, ou seja, o agente responde da mesma forma. A conduta é típica, ilícita e culpável. Mas há hipótese em que o agente não responde por crime nenhum: no crime impossível por absoluta impropriedade do objeto. O objeto é absolutamente impróprio. Ex.1: Quero levar cocaína daqui para São Paulo, mas erro e levo farinha. O objeto é absolutamente impróprio para o crime de tráfico, logo, não há crime. Ex.2: Quero furtar o CPC do colega ao lado, mas acabo levando o meu para casa. Errei sobre o objeto e acabei não cometendo crime nenhum. Erro sobre o curso causal ou aberratio causae ( Segundo Welzel, todo crime nasce na mente do agente, por isso, a 1ª fase do iter criminis é a cogitação. No erro sobre o curso causal, o agente cogita, prepara, executa e consuma, porém, sabemos que é preciso haver, entre a conduta e o resultado, um nexo de causalidade. Este é que não ocorre. O erro sobre o curso causal incide sobre a causa daquele resultado, embora ocorra a consumação. Ex.1: Quero matar o Fábio com um tiro na cabeça. Atiro e mato o Fábio, mas por uma causa diversa da que pensei. Como de qualquer forma atinjo o resultado, respondo por ele normalmente. Ex.2: Fábio não sabe nadar. Quero matá-lo com crueldade, por afogamento. Amarro-o com pesos e o jogo da ponte Rio – Niterói, só que, na queda, ele bate com a cabeça num pilar da ponte, e morre disso, antes de chegar à água. Não importa, pois o meu dolo é atingido. Ex.3 (caiu no MPRJ): O agente queria matar a esposa, que sempre bebia aloe vera à noite. Colocou veneno na bebida. A empregada trocou os potes, então a esposa não ingeriu veneno e foi dormir. O agente, achando que a esposa estava morta, desferiu vários tiros nela para comemorar. Ele atingiu o resultado morte que queria (era seu dolo), porém por causa diversa. Dúvida: incide a qualificadora do § 2º, III (veneno) ou IV (outro recurso que torne impossível a defesa do ofendido)( A qualificadora do inciso IV não pode incidir, pois na conduta de atirar na esposa, ele não tinha o dolo de matá-la utilizando um modo que impossibilitasse a sua defesa. Fazê-lo responder por essa qualificadora é imputar-lhe responsabilidade penal objetiva. Ele não tinha consciência sobre essa qualificadora. Quanto à qualificadora do inciso III (veneno), a resposta técnica é que o agente deve responder por ela, pois o seu dolo a abrangia. Contudo, o professor aconselha que, numa prova de Defensoria, digamos que não, pois, de fato, a morte não ocorreu por veneno (logo, ele responderia por homicídio simples). A doutrina chama o dolo do agente, no erro de curso causal, de dolo geral. Dolo geral é o dolo que acompanha o agente durante todo o iter criminis (vai desde a cogitação até a consumação do crime). Assim, tudo que acontecer durante a execução, inclusive com erro, está abrangido pelo dolo geral do agente. Obs.: Erro sucessivo – caiu na prova de delegado civil do RS. É erro de curso causal. ERRO DE PROIBIÇÃO Divide-se em erro de proibição direto, erro de proibição indireto e erro de mandamento ou mandamental. Norma penal é a proibição ou o mandamento contido na lei. Binding dizia que, quando o agente pratica um crime, ele age conforme a lei e viola a norma. Ex.1: Matar alguém – norma: é proibido matar (proibição). Ex.2: Deixar de prestar socorro (art. 135) – norma: preste socorro (mandamento). � Erro de proibição direto → É aquele que incide sobre a proibição contida na norma. Há uma norma proibindo aquela conduta. O agente sabe o que está fazendo, mas não sabe que aquela conduta é proibida. Falta a ele a consciência sobre a proibição, sobre a ilicitude da conduta. Está positivado no art. 21. Erro sobre a ilicitude do fato Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. Esse artigo não é contraditório? Se o desconhecimento da lei é inescusável, como o erro sobre a proibição do fato pode isentar de pena ou diminuí-la? Lei ( É o veículo, o instrumento da norma. Ex. – lei: art. 121, “Matar alguém”; norma ( não mate, é proibido matar. A lei está no papel; a norma está na cabeça do intérprete. No erro de proibição, o agente erra sobre a proibição contida na norma. Esse erro não é sobre a lei. Na verdade, o agente pode conhecer a lei (aplicação do princípio da publicidade – a lei é publicada para que as pessoas a conheçam) e desconhecer a norma. Assim, o desconhecimento da lei realmente é inescusável, mas o erro de proibição não incide sobre a lei, mas sim sobre a norma que ela contém. Ex.: Todos conhecem a lei 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), mas nem todos sabem que maltratar uma planta (cortar um galhinho) em propriedade privada é crime (art. 49). Conhecemos a lei, mas desconhecemos a norma proibitiva contida no art. 49. Esse erro de proibição é invencível. Como verificar a vencibilidade ou a invencibilidade do erro de proibição? O próprio art. 21 responde isso. Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. Então, devem ser consideradas as condições do agente, no caso concreto. Não é o homem médio. Exemplo clássico: Um holandês vem para o Brasil e fuma maconha. Ele sabe o que está fumando, mas não tem consciência da ilicitude de sua conduta no Brasil. ► VENCÍVEL. Assim como nós sabemos que na Holanda o uso de algumas drogas é permitido, ele poderia saber que, aqui, o uso de maconha é proibido. A conseqüência é a diminuição da pena de 1/6 a 1/3. Ex.2: Em alguns países, a bi ou poligamia não é crime (art. 235). Alguém de um desses países vem para o Brasil, se apaixona por uma brasileira e se casa com ela aqui, mas já sendo casado lá com outra mulher. Ele não sabe que no Brasil é proibido estar casado com mais de uma pessoa. ► VENCÍVEL. Assim como nós sabemos que em alguns países a poligamia é permitida, ele poderia saber que, aqui, essa conduta é proibida. A conseqüência é a diminuição da pena de 1/6 a 1/3. Ex.3: Um estrangeiro (caçador) vem para o Brasil e caça um jacaré de papo amarelo, o que é crime. ► VENCÍVEL. Se ele é caçador, deveria saber o que é permitido caçar. A conseqüência é a diminuição da pena de 1/6 a 1/3. Ex.4: O porteiro do meu prédio ganha um curió e cuida dele, colocando-o numa gaiola. Mas criar curió em gaiola sem licença ambiental é crime ambiental (art. 29, §1º, III). ► INVENCÍVEL. A conseqüência é a atipicidade da conduta, pois a expressão “isenta de pena” exclui a culpabilidade, logo, falta um dos elementos do crime. Erro de proibição indireto → Incide sobre uma norma não incriminadora permissiva e justificante (já o errode proibição direto incide sobre uma norma incriminadora), ou seja, sobre as causas de exclusão de ilicitude (legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de um direito). O agente erra sobre a existência ou sobre os limites da norma permissiva. Erro sobre a existência: A norma permissiva não existe. O agente acha que existe uma norma que lhe permite agir no caso concreto. Ex.: Um assistido do professor matou um cara com 5 tiros na cabeça porque ele tinha furtado a sua casa, levando todos os objetos de valor. Ele achava que podia matá-lo porque estaria em “legítima defesa”. Erro sobre os limites da norma permissiva: A norma permissiva existe. O agente acha que ela lhe permite mais, que ele pode ir além. Isso fica muito claro na legítima defesa, cujo limite é fazer cessar a agressão. Eu penso que posso ir além, matando quem tinha me agredido. Ex.: O agente policial pensa que, além de prender em flagrante a pessoa, pode espancá-la. Erro de mandamento ou mandamental → Se a norma traz um mandamento, o agente a viola se omitindo. O erro sobre o mandamento se refere aos crimes omissivos, próprios ou impróprios. É aquele erro que incide sobre os crimes omissivos. Ex.: O agente leva o seu filho e um filho de um amigo à praia; o filho do amigo começa a se afogar, mas o agente não sabe que tem que lhe prestar socorro. Ele acha que só é agente garantidor do seu próprio filho, mas não do filho dos outros. É erro de mandamento – erro sobre o mandamento do art. 13, § 2º (b?). Obs.: RG, citando Zaffaroni (413): “‘Nos delitos omissivos deve-se distinguir o erro que recai sobre a situação objetiva de que se deriva a posição de garantidor (pai, cônjuge, médico de plantão, etc.), cujo desconhecimento dará lugar a um erro de tipo; do desconhecimento do dever de cuidado derivado dessa posição, cujo desconhecimento deve dar lugar ao erro de proibição’. O banhista que deixa de prestar socorro a uma criança que estava se afogando numa lagoa porque acreditava que, pelo fato de não saber nadar adequadamente, correria risco pessoal, quando, na verdade, a profundidade da lagoa permitia o socorro por causa de sua estatura, incorre em erro de tipo; já aquele que, podendo prestar socorro à vítima que se afogava, não o faz porque, em virtude da ausência de qualquer vínculo pessoal com ela, acreditava não estar obrigado a isto, incorre em erro de proibição.” CRB, 354: “Também pode haver erro de mandamento em crime comissivo por omissão (omissivos impróprios). Se alguém se engana sobre a existência do perigo, sobre a identidade da pessoa que tem a responsabilidade de proteger, sobre a existência dos meios, sobre a sua capacidade de utilizá-los, tudo isso constitui erro de tipo. Mas se erra sobre a existência do dever, sabendo da situação de perigo, sabendo que a pessoa é aquela a que está obrigada a proteger, sabendo que tem os meios e que pode usá-los, mas acha que não precisa, que não deve, porque, por exemplo, crê que o seu dever não envolve necessariamente risco pessoal; ou, então, o caso do plantão, cujo horário de saída é às dezessete horas – o médico imagina que a partir daí não é mais responsável, afinal, azar do outro que se atrasou. Errado, continua responsável. Erra a respeito dos limites do dever, erra sobre a norma mandamental, sobre o dever em si, e não sobre a situação fática do dever ou sobre os seus pressupostos, mas sobre o dever propriamente. Esses são erros de mandamento, erros sobre a ilicitude.” Qual o erro que incide sobre as descriminantes putativas? Erro de tipo ou erro de proibição? R.: Descriminante = causa de exclusão da ilicitude = causa de justificação (legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular do direito e estrito cumprimento do dever legal). Putatividade = situação imaginária. A situação só existe na imaginação do agente, mas não existe no mundo fenômeno. Descriminante putativa = causa de exclusão de ilicitude imaginária. Só existe na imaginação do agente. Ele pensa que está presente uma excludente de ilicitude naquela situação, mas não está. Se o agente atua pensando que há uma norma que exclui a ilicitude da conduta, o erro pode ser tanto de tipo quanto de proibição, dependendo da teoria adotada sobre a culpabilidade. Lembremos as espécies de erro: (art. 20) erro de tipo essencial invencível (exclui o dolo e a culpa) e vencível (exclui o dolo, mas pode levar à responsabilidade penal pela conduta culposa, se prevista em lei) e (art. 21) erro de proibição direto invencível (isenta de pena) e vencível (diminui a pena de 1/6 a 1/3). As teorias que veremos a seguir são subdivisões da Teoria Normativa Pura da Culpabilidade, e diferem-se unicamente no tratamento dado ao erro nas descriminantes putativas. Teoria Extremada da Culpabilidade ( Para esta, todo e qualquer erro que incidir sobre as descriminantes putativas será considerado um erro de proibição. Teoria Limitada da Culpabilidade ( Para esta, se o erro incidir sobre situação de fato, a conseqüência é o erro de tipo permissivo, pois assim como a norma incriminadora traz um tipo incriminador, a norma permissiva traz um tipo permissivo. O erro de tipo permissivo (art.20 §1°) que se difere do erro de tipo essencial (erro de tipo Incriminador art. 20 caput.) porque este incide sobre a norma incriminadora. Por outro lado, se o erro incidir sobre a existência ou os limites da norma permissiva, a conseqüência é o erro de proibição indireto, que é o erro de proibição que incide sobre uma norma permissiva. Em relação às descriminantes putativas podemos ter: Erro de Tipo Permissivo - §1° art.20 CP Erro de Proibição Indireto – 21 c/c 23 CP Qual teoria foi adotada pelo CP brasileiro, no que toca ao erro incidente sobre as descriminantes putativas? R.: A Teoria Limitada da Culpabilidade. Está no item 17 da exposição de motivos da nova parte geral do CP (reforma de 1984). Ex.1 de erro sobre situação de fato – legítima defesa: O sujeito está armado e encontra um inimigo que o jurou de morte. Vê que o inimigo abre a sua mochila. Com isso, o sujeito pensa que seu inimigo está tirando uma arma da mochila para matá-lo. Ele saca a sua arma e atira no inimigo. Só que, depois, vem a saber que seu inimigo estava apenas tirando o celular da mochila. Nesse caso, ele achou que estava numa situação de legítima defesa, defendendo-se de injusta agressão iminente, mas não estava. Isso é legítima defesa putativa. É um Erro de Tipo Permissivo 20§1° CP Ex.2 de erro de tipo sobre situação de fato – estado de necessidade: O sujeito está num cinema 3D e não entende bem como isso funciona. Vê um leão saindo da tela e sai correndo para salvar a própria vida, causando lesões corporais em algumas pessoas. É estado de necessidade putativo. É um Erro de Tipo Permissivo 20§1° CP. Ex.3 de erro de tipo sobre situação de fato – estrito cumprimento do dever legal: Dois agentes policiais, cumprindo mandado judicial de prisão, prendem o irmão gêmeo do condenado. É estrito cumprimento do dever legal putativo. É um Erro de Tipo Permissivo 20§1° CP São todas hipóteses de Erro de Tipo Permissivo, que está no art. 20, § 1º. Descriminantes putativas § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. Então, sobre as descriminantes putativas, a primeira parte traz o erro de tipo permissivo invencível – a conseqüência é a isenção de pena. A segunda parte traz o erro de tipo permissivo vencível – a conseqüência é a punição por culpa. O erro de tipo permissivo é erro de tipo ou erro de proibição? Essa pergunta não é idiota, apesar de parecer. Fundamentos para ele ser erro de tipo: Posição topográfica. O § 1º tem que se referir ao caput, que trata do erro de tipo. Conseqüências. O erro de tipo permissivo vencível pune por culpa, tal qual o erro de tipo essencial(incriminador) vencível. Fundamento para ele ser erro de proibição: 1) O erro de tipo permissivo invencível isenta de pena, tal qual o erro de proibição invencível. Então, no erro de tipo permissivo, o legislador misturou as duas espécies de erro que até então existiam na ordem jurídica brasileira (o erro de tipo e o erro de proibição). Assim, o erro de tipo permissivo, que se refere às causas de exclusão de ilicitude putativas, é as duas coisas. Configura uma terceira espécie de erro, sendo conhecido por erro misto, híbrido, eclético ou sui generis. Se for invencível, isenta de pena; Se for culposo, pune por crime culposo. Reconhecem o erro misto, híbrido, eclético ou sui generis: Jescheck, na Alemanha, e RG, CRB, LRP e LFG, no Brasil. Atenção 1: Em prova do CESPE, já foi perguntado sobre essa terceira espécie de erro com o nome de erro sui generis. ATENÇÃO 2: Os crimes culposos não admitem tentativa, à exceção da culpa imprópria (ver aula 7). A culpa imprópria é a culpa que decorre de erro de tipo permissivo vencível na descriminante putativa. O erro de tipo permissivo vencível traz a possibilidade de punição por culpa – esta é a culpa imprópria, que na verdade não tem nada a ver com culpa. No exemplo da legítima defesa putativa, o erro do sujeito (que achava que o inimigo estava tirando uma arma da mochila, quando ele estava tirando apenas um celular) é vencível. Logo, ele responde por homicídio culposo. Mas, atenção: a conduta desse agente não foi dolosa? Ele não atirou no inimigo dolosamente, querendo se defender? Foi dolosa, sim. Não há nenhuma conduta culposa aí. A conduta do agente, nas descriminantes putativas, é dolosa, por isso, essa culpa é denominada de imprópria. É uma conduta dolosa punida a título de culpa. De culposa, a conduta só tem o nome. E como seria a tentativa? Se, no exemplo da mochila, alguém percebe o erro do agente e consegue desarmá-lo antes que atire, há tentativa de homicídio culposo. É que se a conduta se tivesse consumado, a lei manda que o agente responda pela modalidade culposa. Mas como não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do agente, há tentativa de homicídio culposo. Esta é a tentativa da culpa imprópria. Mas cabe tentativa porque a conduta é dolosa. A descriminante putativa incide também no consentimento do ofendido (causa supralegal de excludente de ilicitude)? R.: O professor nunca viu isso em doutrina, mas entende que nada obsta que se faça o mesmo raciocínio. CONCURSO DE PESSOAS: art. 29 e ss. Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. Conceito mais simples: Ocorrerá o concurso de pessoas quando duas ou mais pessoas concorrerem para a prática do delito. Requisitos: são 4 reconhecidos. 1º. Pluralidade de pessoas e condutas; 2º. Relevância causal de cada conduta; 3º. Liame subjetivo; 4º. Identidade de infração penal. Conceito mais completo: Ocorre o concurso de pessoas quando várias pessoas, previamente ajustadas, concorrem para a prática da mesma infração penal com condutas relevantes. 2º. Relevância causal de cada conduta Relevância causal é a conduta do agente influenciar o resultado. Se conseguimos suprimir mentalmente aquela conduta e verificarmos que, ainda assim, o resultado aconteceria, ela não foi relevante para o mesmo. Ex.: Quero matar o Fábio e peço emprestada a arma de Anielle (que me empresta a arma sabendo o que vou fazer com ela). Mas acabo lembrando que tenho uma arma em casa. Mato o Fábio com a minha arma. A conduta de Anielle não teve relevância causal para o resultado, logo, ela não é partícipe do homicídio que cometi. Quando verificar a relevância causal da conduta do sujeito? Quando do ato executório do crime, realizado pelo autor. Obs.: A instigação pode ter relevância causal, embora seja difícil de se verificar isso, na prática. Instigar é ato de participação, e não de execução. A execução é do autor; a instigação é do partícipe. 3º. Liame subjetivo Deve ser bilateral? Devem os agentes estar previamente combinados? Ou pode ser unilateral? Pode acontecer que um agente venha a aderir à conduta do outro, sem que este saiba? O liame subjetivo pode ser unilateral, ou seja, pode ser que um agente execute a conduta e nem saiba que há outro auxiliando. Ex. clássico: O jardineiro tem raiva dos patrões e sabe que há um furtador rondando as redondezas. Deixa a porta da casa aberta à noite e o furtador furta a casa. O furtador é o autor do crime e o jardineiro é partícipe, ainda que o furtador nem saiba da existência do jardineiro. Não houve liame subjetivo recíproco entre ambos, mas tão-somente do jardineiro em relação ao furtador. O jardineiro aderiu à conduta do furtador e é partícipe (participação material – deixar a porta aberta). 4º. Identidade de infração penal Todos os concorrentes respondem pela mesma infração penal. Todos respondem pelo todo. Ex. do Zaffaroni: Gabriel e Bernardo combinam um roubo a um banco. Gabriel rende os guardas e Bernardo retira o dinheiro do cofre. Gabriel responde por ameaça e Bernardo por furto? Claro que não. Ambos respondem por roubo, pela mesma infração penal. Quantas são as infrações praticadas no concurso de pessoas? Três teorias foram elaboradas para responder a essa indagação. 1ª)Teoria Monista ou Unitária ( Um delito só é praticado, independentemente do número de concorrentes. Podem ser 50 pessoas praticando um único crime de roubo. 2ª) Teoria Dualista ( Dual. Dois delitos são praticados: um é praticado pelos autores; outro é praticado pelos partícipes. 3ª) Teoria Pluralista ( Haverá tantos crimes quantos forem os concorrentes. Se são 50 pessoas, haverá 50 roubos. O CP brasileiro adotou a teoria monista, mas interpretada com reservas. Em algumas hipóteses, ela não é adotada, dando-se preferência à teoria pluralista (um delito para cada concorrente). A doutrina diz, por isso, que a teoria monista não foi adotada em sua formação pura. É uma Teoria Monista Temperada, Mitigada ou Matizada. Ex.1: A mulher consente que um médico lhe pratique um aborto. Ela responde pelo art. 124 (sempre, em qualquer tipo de aborto). O médico responde pelo art. 126. Ex.2: Um agente público e um particular estão previamente ajustados. O particular oferece dinheiro e o agente público o recebe. O particular responde por corrupção ativa, art. 333. O agente público responde por corrupção passiva, art. 317. Ex.3: Um particular e um fiscal alfandegário previamente ajustados. O particular avisa ao fiscal que vai chegar ao Brasil com mercadorias proibidas na hora tal. O fiscal deixa ele passar. O particular responde por contrabando, art. 334. O fiscal alfandegário responde facilitação de contrabando, art. 318. Nessas exceções, adota-se a teoria pluralista, pois cada sujeito responde de uma forma. O 4º requisito do concurso de pessoas (identidade de infração penal) fica mitigado. AUTORIA Quem é o autor do crime? Existem três teorias que tentam explicar o conceito de autor. TEORIA RESTRITIVA ( Autor é quem pratica a conduta descrita no tipo penal. No roubo, é aquele que subtrai a coisa alheia, utilizando-se de violência ou grave ameaça. No homicídio, é aquele que mata. Na ameaça, é quem promete o mal injusto e grave. No peculato-apropriação, é quem se apropria da coisa de que tem a posse. Os demais (quem concorre para o crime sem praticar a conduta típica) são partícipes. TEORIA EXTENSIVA ( Para esta, autor é quem, de qualquer forma, concorre para a prática do delito, independentemente de praticar a conduta descrita no tipo ou não. O grande erro dessa teoria, que é muito criticada, é não diferenciar autor de partícipe. TEORIA DO DOMÍNIO FINAL SOBRE O FATO ( Criada por Hans Welzel em 1931. Para ela, autor é quem o domínio final sobre o fato criminoso.É quem tem “as rédeas” do fato criminoso sobre as mãos. É quem faz o fato criminoso nascer, se desenvolver e cessar, de acordo com o seu entendimento. É quem tem o domínio do fato, finalisticamente. Para essa teoria, não se exige que o agente pratique a conduta típica. Ele pode até não praticá-la, e ainda assim ser o seu autor. Ele pode até estar distante do local onde o fato criminoso ocorreu. Basta que tenha o domínio intelectual sobre o fato. Ex.1: O professor pode estar aqui, dando aula, e estar praticando, ao mesmo tempo, um crime de roubo na Caixa Econômica Federal de São Paulo. Ex.2: Fernandinho Beira-Mar, que de dentro da penitenciária controla o tráfico de drogas, pelo telefone celular. Para Zaffaroni, o autor é aquele que tem o “se” e o “como” o crime será praticado, de acordo com a sua vontade. “Se” ( O crime vai ser praticado? Sim, porque eu quero. Não, porque não quero. “Como” ( De que forma o crime vai ser praticado? Como o autor quiser. Espécies de autoria: Para a teoria do domínio final do fato, existem duas espécies de autoria. 1. Autoria direta ou imediata ( O autor domina o fato, finalisticamente, e, pessoalmente, pratica o que está descrito no tipo penal. 2. Autoria indireta ou mediata ( O autor domina o fato, mas não o pratica pessoalmente, utilizando-se de um instrumento para praticá-lo. Quem pratica o fato criminoso é o instrumento. Por isso, o autor mediato é chamado também de “homem de trás”. É como o diretor do filme. No Direito Penal brasileiro, por muitos anos, adotou-se a teoria restritiva. Entretanto, de uns anos para cá, no Brasil e no mundo, passou-se a adotar esmagadoramente a teoria do domínio final do fato. Só três autores não adotavam essa teoria no Brasil, mas eles já morreram: Mirabete, HCF e Magalhães Noronha. Talvez tenham morrido antes de terem oportunidade de mudar de idéia. Todos os outros autores a adotam. Espécies de autoria mediata: são quatro. Coação moral irresistível: vista na aula de culpabilidade. É espécie de inexigibilidade de conduta diversa e autoria mediata. Tudo o que se falou lá se aplica para cá. O autor da coação moral é o autor mediato. Obediência hierárquica: vista na aula de culpabilidade. É espécie de inexigibilidade de conduta diversa e autoria mediata. Tudo o que se falou lá se aplica para cá. O autor da ordem não manifestamente ilegal é o autor mediato. Erro provocado e determinado por 3º: O 3º é o autor mediato. É quem tem o domínio do fato. Ele planta na mente de alguém, que é seu instrumento, um erro, uma falsa noção da realidade. O instrumento, por estar com uma falsa noção da realidade, acaba produzindo o resultado criminoso que o 3º quer alcançar. Ex. clássico: O médico quer matar o seu paciente. Dá ao enfermeiro uma injeção, dizendo que é morfina, e pede para que ele a injete no paciente. Na mente do enfermeiro, é morfina, só que, na verdade, o médico tinha colocado veneno ali dentro. O instrumento não responde pelo crime, pois não age com dolo (vontade + consciência, de praticar as elementares do tipo), nem agiu com culpa, no caso dado. Quem responde penalmente é o autor mediato. Art. 20 - Erro determinado por terceiro § 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. Casos de inimputabilidade: O autor mediato se utiliza de inimputáveis para praticar um crime. Ex.1: Ele reúne um grupo de trombadinhas para que eles roubem e furtem celulares na Candelária. Eles não respondem por crime nenhum, apenas por atos infracionais. O autor mediato responde pelos roubos e furtos praticados. Autoria colateral ( Duas pessoas querem praticar o mesmo delito, entretanto, uma não sabe da outra. Ex.: Márcia e Bruno querem matar Paulo Pinho, mas um não sabe da intenção do outro. Ambos esperam, escondidos e em locais diferentes, que ele saia do consultório, e atiram. Um não sabe da conduta do outro. Há concurso de pessoas aí? NÃO, POIS FALTA O PRÉVIO AJUSTE, O LIAME SUBJETIVO. Na autoria colateral, não há concurso de pessoas, pela ausência de liame subjetivo (= vínculo psicológico prévio). Autoria incerta ( “É a autoria incerta.” Nela, que decorre da autoria colateral, não se pode precisar quem produziu o resultado criminoso. No exemplo acima, se o laudo de exame cadavérico diz que não se pode afirmar qual projétil matou Paulo Pinho (se o que saiu da arma de Márcia ou se o que saiu da arma de Bruno), a autoria é incerta. Qual a solução jurídica para o caso? R.: CRB diz que ambos respondem por homicídio consumado. Mas ele é isolado. Se não se pode dizer quem é o autor do crime, não se pode atribuir o crime consumado a ninguém. Ambos respondem, portanto, por tentativa de homicídio. complementares explicativas exculpantes justificantes permissivas que trazem um mandamento que trazem uma proibição não incriminadoras incriminadoras normas penais �PAGE � �PAGE �17�
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