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Gestão Social: Perspectivas, Princípios e (De)Limitações

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See	discussions,	stats,	and	author	profiles	for	this	publication	at:	https://www.researchgate.net/publication/282648796
Gestão	Social:	Perspectivas,	Princípios	e
(De)Limitações
Conference	Paper	·	January	2010
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3	authors,	including:
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Space,	Identity	and	Power:	outline	of	a	morphogenetic	and	morfostatic	theory	to	the	sociology	of
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Why	tourism	to	the	Cataguases´s	national	historical	and	cultural	heritage	is	null?	View	project
Mariana	Pereira	Chaves	Pimentel
Instituto	Federal	de	Educação,	Ciência	e	Tec…
16	PUBLICATIONS			14	CITATIONS			
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Thiago	Duarte	Pimentel
Federal	University	of	Juiz	de	Fora
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  1
Gestão Social: Perspectivas, Princípios e (De)Limitações 
 
Autoria: Mariana Pereira Chaves Pimentel, Thiago Duarte Pimentel 
 
Resumo: O termo gestão social vem conquistando nos últimos anos uma visibilidade 
cada vez maior, tanto no cenário mundial quanto nacional, porém, essa expressão tem se 
prestado às mais variadas interpretações, o que aponta para uma falta de consenso e 
delimitação sobre o campo. Nesse sentido, partindo do questionamento de que em meio 
a tanta diversidade, conceitual e prática, o que se pode compreender a respeito do 
termo gestão social, o presente ensaio teórico realizou um levantamento teórico 
indutivo, acerca do conceito de gestão social em diferentes abordagens buscando 
identificar possíveis convergências e dissonâncias entre tais abordagens. 
Para tanto, realizou-se uma breve revisão teórica sobre as principais idéias e 
conceitos inseridos nas discussões sobre gestão social, a partir de diferentes autores e 
abordagens que trabalham o tema. A partir desta revisão, foram identificadas 9 
categorias centrais (objetivo, valor, racionalidade, esfera de atuação, protagonistas, 
comunicação, processo decisório, autonomia/poder, e operacionalização), que serviram 
para a discussão e proposição dos fundamentos da gestão social. 
Destas 9 categorias puderam ser extraídos 6 princípios, enunciados abaixo: 
P1: A gestão social tem como objetivo o interesse coletivo de caráter público. 
P2: A orientação de valor da gestão social é o interesse público. 
P3: A gestão social deve subordinar a lógica instrumental a um processo decisório 
deliberativo, enquanto busca atender às necessidade do dado sistema social. 
P4: A gestão social tem como protagonista a sociedade civil organizada, mas envolve 
todos os atores sociais, organizacionais e institucionais de um dado espaço. 
P5: A gestão social é um processo participativo, dialógico, consensual. 
P6: A gestão social se materializa pela deliberação coletiva alcançada pelo consenso 
possível gerado pela argumentação livre. 
P7: As parcerias e redes intersetoriais, tanto práticas como de conhecimentos, são 
formas de pensar e operacionalizar a gestão social. 
Porém, 2 questões apresentam-se ainda não resolvidas pelo debate acadêmico: 
(1) esfera de atuação da gestão social e (2) o consenso racional produzido pelos atores 
envolvidos, o que nos impossibilita a enunciação de um princípio. Supomos que isso 
seja em função da adoção de posturas epistemológicas distintas, o que remete o debate 
para outro nível que foge ao escopo deste trabalho, exigindo, portanto, futuros estudos. 
Como conclusão, ao se apresentar os 7 princípios buscou-se não somente 
contribuir para a delimitação mais precisa do conceito, mas também inscrevê-lo em um 
campo específico e próprio de atuação. Se o termo gestão social é um conceito em 
construção, e como tal, ainda apresenta inconsistências e carece de definições mais 
sólidas, isso parece se dever à diversidade e assistematicidade de formas em que o 
mesmo é empregado. Assim, uma reflexão sobre os elementos intrínsecos ao conceito – 
como a que foi aqui proposta – pode nos levar ao estabelecimento de bases referenciais, 
independente da abordagem em que se pensa o conceito, potencialmente úteis para a 
consolidação do conceito e delimitação mais precisa de seu campo de inserção. 
 
 
 
 
 
 
 
  2
1. INTRODUÇÃO 
O termo gestão social vem conquistando nos últimos anos uma visibilidade cada 
vez maior, tanto no cenário mundial (EME; LAVILLE, 1996i apud FRANÇA FILHO, 
2004; FRANÇA FILHO; LAVILLE, 2004; PINTO, 2006) quanto nacional 
(DOUWBOR, 1999; CARVALHO, 2001; FRANÇA FILHO, 2008; TENÓRIO, 2008). 
Porém, alguns autores (FISCHER 2002; FRANÇA FILHO 2008, entre outros) têm 
observado que a expressão tem se prestado às mais variadas interpretações, o que para 
França Filho (2008) aponta duas tendências, de um lado, a banalização do conceito e, de 
outro, a ascensão do debate sobre as formas de atuação da sociedade civil na busca de 
objetivos públicos. 
Mas, a despeito da mobilização do termo indiscriminadamente em diferentes 
sentidos, poucos estudos têm se preocupado em tentar delimitar o campo teórico em que 
se inscreve o conceito de gestão social. Assim, surge a seguinte questão: em meio a 
tanta diversidade, conceitual e prática, o que pode ser compreendido por gestão social? 
Partindo dessa questão, o presente ensaio teórico tem a finalidade de realizar um 
levantamento teórico, indutivo, acerca do conceito de gestão social em diferentes 
abordagens – a partir da sua utilização pelos principais expoentes dessa área no cenário 
nacional – de modo a identificar, propedeuticamente, possíveis convergências e 
dissonâncias entre tais abordagens, o que nos levaria a síntese e apontamento de alguns 
princípios e (de)limitações referenciais do conceitoii. 
Por se tratar de um conceito em construção (FRANÇA FILHO, 2003), este 
ensaio teórico se justifica pela tentativa de realização de um resgate e sistematização das 
contribuições dos principais pesquisadores do assunto, com o intuito de mapear o 
campo de estudos, analisá-lo e apontar pontos de encontro e desencontro conceituais. 
Deste modo, presume-se que seja possível avançar na delimitação do conceito, uma vez 
que esta sistematização – se bem aceita – pode servir para estabelecer algumas linhas 
mestras do campo, bem como delimitar fronteiras em relação às outras áreas e 
abordagens distintas, não necessariamente dissonantes, mas que fogem ao escopo 
central deste campo por lhe darem outra interpretação. 
A análise aqui empreendida foi elaborada a partir da própria revisão de 
literatura, de onde emergiram as principais categorias utilizadas para a sistematização e 
comparação das distintas abordagens e formas de pensar (e propor) o conceito de gestão 
social nos estudos organizacionais (FRANÇA-FILHO, 2008) brasileiros. Essas 
categorias foram consideradas como modelos referenciais – ou tipos ideais (WEBER, 
2004; ALVES, 2004; REALE; ANTISERI, 2003) apenas no sentido de estabelecer 
parâmetros para a orientação e classificação dos principais conceitos e formas de 
abordagem propostos por cada um dos autores. Ao final, foi possível identificar sete 
princípios norteadores a partir das categorias aqui identificadas e propostas como 
basilares do conceito de gestão social. Assim, pretende-se trazer a contribuição de uma 
delimitação potencialmente útil para os pesquisadores deste campo. 
O artigo está dividido em cinco partes, a primeira delas corresponde a esta 
introdução, onde são apresentados a problematização e a questão central deste estudo; 
seguida por uma discussão das contribuições teóricas de alguns pesquisadores tidos 
como referência no campo da gestão social no contexto brasileiro, dentre eles França 
Filho, Fernando Tenório, Tânia Fischer, Ladislau Dowbor e Maria do Carmo Carvalho. 
Na terceira seçãoapresentamos alguns princípios da gestão social identificados a partir 
da revisão de literatura. Na quarta parte são apontadas algumas limitações ainda 
presentes no campo; e por fim, são tecidas reflexões parciais acerca dos limites e 
contribuições deste estudo. 
 
 
  3
2. GESTÃO SOCIAL: TEORIAS E PERSPECTIVAS 
Ao analisar conceitualmente o termo gestão social, França Filho (2008) 
evidencia que há uma tendência do senso comum de se pensar que esta seja uma 
expressão auto-explicativa, ou seja, uma gestão direcionada ao social. Se assim o fosse, 
a gestão social se definiria antes pela sua finalidade (pelos seus objetivos teleológicos). 
Porém, sob outra ótica, diferente desta análise mais imediatista e superficial, seria 
possível pensar o conceito como meio, como processo. Segundo o autor, ao ser 
analisada como processo (pelos meios empregados no ato de gestão/fato 
administrativo), a idéia de uma gestão social convida a sua própria desconstrução, pois 
“qual gestão não é social?” (FRANÇA FILHO, 2003; 2008). 
Para o autor, contemporaneamente, não se imagina uma gestão sem 
envolvimento das pessoas, ou sem relacionamento humano. Esses meios devem inserir 
pessoas, mas a gestão social como meio não pode ser simplesmente reduzida ao 
equivalente de envolvimento de pessoas, pois toda gestão parte deste pressuposto, em 
maior ou menor grau. 
[...] se a gestão das demandas e necessidades do social sempre fora uma 
atribuição típica dos poderes públicos na modernidade, isto nunca significou 
exclusividade. O termo gestão social vêm (sic) sugerir assim que, para além 
do Estado, a gestão de demandas e necessidade do social pode se dar via a 
própria sociedade, através das suas mais diversas formas e mecanismos de 
auto-organização, especialmente o fenômeno associativo. (FRANÇA FILHO, 
2003, p.3). 
 
A gestão social então é considerada por França Filho (2008) em dois níveis: (1) 
como uma problemática da sociedade e (2) como uma modalidade específica de gestão. 
Quanto à problemática da sociedade, o termo diz respeito à gestão das demandas e 
necessidades do social, o social, neste sentido, sugere a idéia de política social, 
confundindo-se com a própria idéia de gestão pública. Aqui, há sim uma aproximação 
teleológica da gestão – como se pode pensar num raciocínio inicial de aproximação ao 
termo – voltada para um grupo social, mas, ainda sim, essa finalidade está atrelada à 
vontade da maioria, essencialmente formada, conduzida e centrada no interesse do que 
Habermas (1984) chama de esfera pública do Estado democrático de direito. Ou seja, a 
finalidade deve ser coletiva ou societal (PAES DE PAULA, 2008), deve se sobrepor à 
oligopolística ou individual. 
No que se refere à modalidade específica de gestão, a gestão social seria uma 
forma de subordinar as lógicas instrumentais a outras lógicas mais sociais, políticas, 
culturais ou ecológicas (FRANÇA FILHO, 2003). Dessa forma, o uso do termo gestão 
social se constitui num recurso a uma tentativa de contrabalanceamento aos excessos da 
lógica individualista pautada na racionalidade instrumental. Porém, não se busca apagar 
ou substituir este enclave econômico tradicional (RAMOS, 1989), haja vista a 
necessidade de sua existência, mas evitar a colonização do mundo da vida 
(HABERMAS, 1994) pelos desequilíbrios entre esses dois sistemas. De fato, esta 
modalidade específica de gestão fundamenta-se em novas formas e laços de 
solidariedade, cujos fundamentos remetem a discussão dos bens públicos e das 
externalidades decorrentes das ações individuais e organizacionais, que afetam a 
coletividade. 
Vale lembrar, também, que os princípios do Estado de bem-estar social, que 
geraria e administraria esses benefícios, são heranças de movimentos organizados pela 
sociedade civil. Neste sentido, o termo gestão social vem sugerir que para além do 
Estado, a gestão das demandas e necessidades do social pode ocorrer via a própria 
sociedade, através de diversas formas de auto-organização (FRANÇA FILHO, 2008). 
 
  4
Assim, entre o Estado e o mercado, a inserção no contexto contemporâneo de novas 
formas de mobilização, articulação e organização social vão requisitar a existência de 
um novo estatuto jurídico-institucional que seja capaz de representar as especificidades 
das novas demandas da sociedade. 
A gestão social para França Filho (2008) seria uma via alternativa de gestão, um 
tipo-ideal, e distinguir-se-ia da gestão estratégica ou privada bem como da gestão 
pública. No modo de gestão estratégica, a finalidade econômico-mercantil da ação 
organizacional condiciona sua racionalidade intrínseca, baseada num cálculo utilitário 
de consequências. Já a gestão pública diz respeito ao modo de gestão híbrido praticado 
pelas instituições públicas no seio do Estado, cujo modelo de racionalidade subjacente 
também é o de cálculo utilitário das consequências, porém, há uma diferença no 
sentido da aplicação deste modelo, uma vez que a orientação teleológica deste tipo de 
organização é pautada no bem estar coletivo. 
Assim, França Filho (2003) defende a gestão social como o modo de gestão 
próprio das organizações da sociedade civil, da esfera pública não estatal, distinto tanto 
do modo de gestão da iniciativa privada quanto do daquele utilizado pelo Estado, pois 
ambos se fundamentam na racionalidade instrumental que norteia o cálculo utilitário 
das consequências. Na gestão social há, de maneira diferente, o desenvolvimento de 
formas de gestão que se fundamentam na racionalidade substantiva, onde os valores 
sociais, as formas de solidariedade e espontaneidade, os laços sociais e a própria 
natureza da organização ou do bem a ser gerido, bem com a sua escala de abrangência 
se colocam acima dos procedimentos instrumentais de cálculo. Assim, os objetivos são, 
sobretudo, não econômicos, e estes aparecem como um meio para realização dos fins 
sociais (políticos, culturais, ecológicos). 
Outro autor contemporâneo de destaque no contexto brasileiro acerca do tema é 
Tenório (2008), cuja preocupação central reside na construção de um pensamento 
próprio sobre gestão social, que se fundamente essencialmente na noção de esfera 
pública e que possa ser aplicado a qualquer tipo de organização e em qualquer contexto. 
Para tanto, o autor recorre ao arcabouço teórico habermasiano, sobretudo da sua teoria 
comunicativa, para fundamentar a questão da esfera pública da racionalidade 
comunicativa que lhe é subjacente. Dessa forma, se demarcaria explicitamente as 
diferenças existentes entre as formas de gestão estratégica e social, onde: 
[a] Gestão social contrapõe-se à gestão estratégica à medida que tenta substituir a 
gestão tecnoburocrática (combinação de competência técnica com atribuição 
hierárquica), monológica, por um gerenciamento mais participativo, dialógico, no 
qual o processo decisório é exercido por meio de diferentes sujeitos sociais. E uma 
ação dialógica desenvolve-se segundo os pressupostos do agir comunicativo. [...] No 
processo de gestão social, acorde com o agir comunicativo – dialógico, a verdade só 
existe se todos os participantes da ação social admitem sua validade, isto é, verdade 
é a promessa de consenso racional ou, a verdade não é uma relação entre o indivíduo 
e a sua percepção do mundo, mas sim um acordo alcançado por meio da discussão 
crítica, da apreciação intersubjetiva” (TENÓRIO, 1998, p.126). 
 
Assim, o autor acrescentou à discussão do termo gestão social o conceito 
habermasiano de cidadania deliberativa. Por outro lado, Tenório (1998) acrescenta às 
teorias de Habermas para seu conceito de gestão social a noção de participação. Esta 
necessidade de acréscimo da participação para o conceito refere-se à ênfase que se faz 
primordial quando se deseja dizer que a gestão social deve ser praticada como um 
processo intersubjetivo, dialógico, onde todos têm direito à fala semcoerção. E este 
processo deve ocorrer em um determinado espaço social, na esfera pública. 
Assim, Tenório (2008a, p.54) entende gestão social como o “processo gerencial 
decisório deliberativo que procura atender às necessidades de uma dada sociedade, 
 
  5
região, território ou sistema social específico”. O entendimento do conceito de gestão 
social por Tenório (2008) foi orientado pela discussão de quatro pares de “palavras-
categoria”, sendo: Estado-sociedade, capital-trabalho, gestão estratégica e gestão social, 
bem como de cidadania deliberativa, categoria que intermedeia a relação entre estes 
pares de palavras. 
Quanto aos dois primeiros pares de palavras, Estado-Sociedade e Capital-
Trabalho, foram invertidas as posições das categorias para Sociedade-Estado e 
Trabalho-Capital. Tal inversão promove uma alteração fundamental na medida em que 
pretende sinalizar que a sociedade e o trabalho devem ser os protagonistas desta relação, 
observado que historicamente o inverso tem prevalecido. 
No que diz respeito ao par gestão estratégica e gestão social, o primeiro atua 
determinado pelo mercado, guiado pela competição, onde o outro deve ser eliminado e 
o lucro é seu motivo. Em oposição, a gestão social deve ser determinada pela 
solidariedade, guiada pela concordância, onde o outro deve ser incluído e a 
solidariedade o seu motivo. 
Para Tenório (2008a), o conceito de gestão social tem sido objeto de estudo e 
prática muito mais associado à gestão de políticas sociais, de organizações do terceiro 
setor, de combate à pobreza e até ambiental, do que à discussão e possibilidade de uma 
gestão democrática, participativa, quer na formulação de políticas públicas, quer 
naquelas relações de caráter produtivo. Tentando especificar mais o conceito, Tenório 
(2008a, p. 39 – grifo nosso) propõe que gestão social seja entendida como: 
[um] processo gerencial dialógico onde a autoridade decisória é compartilhada entre 
os participantes da ação (ação que possa ocorrer em qualquer tipo de sistema social 
– público, privado ou de organizações não-governamentais). O adjetivo social 
qualificando o substantivo gestão será entendido como o espaço privilegiado de 
relações sociais onde todos têm o direito a fala, sem nenhum tipo de coação. 
 
A noção de espaço privilegiado de relações sociais coloca ênfase na neutralidade 
ou ausência de coercitividade entre os atores e nas condições ideais de manifestação do 
discurso. Porém, do ponto de vista material essas condições de produção do discurso 
sofrem sérias restrições o que inviabiliza a manifestação do livre direito a fala e, 
principalmente, a ausência de coerção. Aqui este espaço privilegiado remete à própria 
noção de esfera pública habermasiana. 
Para o autor todos são capazes de pensar sua experiência, ou seja, capazes de 
produzir conhecimento, “[...] participar é repensar o seu saber em confronto com outros 
saberes. Participar é fazer “com” e não “para”, [...] é uma prática social” (TENÓRIO, 
2008, p.49). Assim, a participação seria um processo constante de vir a ser, trata-se, em 
essência, de uma conquista processual. A participação integra o cotidiano de todos os 
indivíduos já que atuamos sob relações sociais. 
Por isso seria necessário a associação na busca por objetivos que dificilmente 
atingiríamos individualmente. Para fazer jus à multiplicidade das formas de participação 
e comunicação, esse autor utiliza o conceito de cidadania deliberativa, o qual considera 
“que a legitimidade das decisões deve ter origem em processos de discussão, orientados 
pelos princípios da inclusão, do pluralismo, da igualdade participativa, da autonomia e 
do bem comum.” (TENÓRIO, 2008a, p.41). 
A cidadania deliberativa, argumenta Tenório (2004), é então, dependente da 
institucionalização de processos e pressupostos da comunicação, assim como das 
relações entre deliberações institucionalizadas e opiniões públicas formadas 
informalmente. 
 
  6
Assim, o autor considera que uma maior eficiência da ação governamental está 
associada, direta ou indiretamente, a transformações na dinâmica de gestão e ao 
fortalecimento de práticas que tornam legítima a participação do cidadão, 
o conceito de gestão social não está atrelado às especificidades de políticas públicas 
direcionadas à questões de carência social ou gestão de organizações do denominado 
terceiro setor, mas também, a identificá-lo como uma possibilidade de gestão 
democrática, onde o imperativo categórico não é apenas o eleitor e/ou o 
contribuinte, mas sim o cidadão deliberativo; não é só a economia de mercado, mas 
também a economia social; não é o cálculo utilitário, mas o consenso solidário; não 
é o assalariado como mercadoria, mas o trabalhador como sujeito [...] (TENÓRIO, 
2006, p.1149). 
 
A proximidade entre a autoridade pública e a população configura-se, então, 
segundo Tenório (2004), como uma das premissas que facilitam o processo de 
desenvolvimento local por meio de decisões deliberativas. Neste ponto, Fischer (2002) e 
Fischer et al. (2006) aproximam-se da perspectiva deste autor. Fischer (2002), por 
exemplo, aborda o conceito de gestão social como gestão do desenvolvimento social, 
pois se trata da transição entre modelos passados e novas formas comprometidas com 
utopias de desenvolvimento local. 
Na sua polissemia, desenvolvimento é um conceito que se amolda a interesses 
muito diversos e a todas as intenções, sendo evidenciado por distintas concepções e 
abordagens (FISCHER, 2002). Historicamente, o conceito de desenvolvimento foi 
sendo acrescido de adjetivos. Fischer (2002) considera o termo integrado o mais 
pertinente deles por incorporar dimensões sociais e preocupações ambientais. 
Desenvolvimento local, integrado e sustentável é a utopia mobilizadora do final dos 
anos 90 e início da década seguinte. 
Em meados dos anos 90, chegam ao Brasil as práticas de intervenção orientadas 
ao desenvolvimento de territórios. A articulação estratégica é o ponto focal do conceito. 
Desenvolvimento compreende ao mesmo tempo, processos compartilhados e resultados 
atingidos, utopias construídas e ações concretas de mudança. Fischer (2002) cita o 
relatório sobre o Desenvolvimento no Mundo (1999-2000) do Banco Mundial que 
aponta como diretrizes para o futuro: 
a) Os objetivos do desenvolvimento devem ser múltiplos e devem incluir maior 
participação na vida pública. 
b) As políticas de desenvolvimento devem ser interdependentes e acompanhadas. 
c) O Estado tem papel intransferível na gestão e regulação do desenvolvimento. 
d) Os métodos contam tanto quanto as políticas, pois o desenvolvimento durável 
supõe um quadro institucional sólido apoiado na transferência e participação, 
construído sobre parcerias entre a sociedade civil organizada e o setor privado. 
Embora haja consenso da ênfase no desenvolvimento local, divergências 
aparecem quando se discute o modo pelo qual se deve realizar este desenvolvimento. 
Para Gondim, Fischer e Melo (2006), gestão social exige a articulação de liderança e 
management, eficácia, eficiência e efetividade social. Trata-se de mediações sociais 
realizadas por indivíduos (gestores) e suas organizações. Assim, o desafio que demanda 
competência do gestor social é conciliar os interesses diversos (GONDIM; FISCHER; 
MELO, 2006). 
Nesse sentido, a gestão do desenvolvimento social (ou gestão social), segundo 
Fischer et al. (2006), orienta-se pela mudança e para mudança, seja de microunidades 
organizacionais, seja de organizações com alto grau de hibridização. Para ela, em ambos 
os espaços, múltiplas formas de poder são exercidas em diferentes escalas, na complexa 
construção de programas e ações de desenvolvimento que ocorrem em espaços 
territoriais e virtuais. 
 
  7
Para Gondim, Fischer e Melo (2006), a oposição da gestão social à gestão 
tradicional aparece na distinção entre aracionalidade instrumental e a racionalidade 
substantiva. A racionalidade instrumental privilegia os meios para fins de acumulação 
enquanto a racionalidade substantiva supõe uma satisfação pessoal pautada em valores 
morais do bem comum, com impactos na auto-realização e na satisfação coletiva. 
É acrescentado ainda que o agir intersubjetivo supera o agir estratégico, na 
medida em que o primeiro estabeleceria o diálogo e visaria ao consenso, ao dar voz a 
todos os atores sociais implicados, garantindo a cidadania deliberativa, enquanto o 
segundo teria como objetivo atender tão somente aos interesses privados. Para as 
autoras, a ação comunicativa estaria na base da gestão social, esta se efetivaria na 
articulação de valores, na elaboração de normas e no seu questionamento por todos os 
atores em interação social (GONDIM; FISCHER; MELO, 2006). 
Em síntese, essas autoras entendem como sendo gestão social: 
um ato relacional capaz de dirigir e regular processos por meio da mobilização 
ampla de atores na tomada de decisão, que resulte em parcerias intra e 
interorganizacionais, valorizando as estruturas descentralizadas e participativas, 
tendo como norte o equilíbrio entre a racionalidade instrumental e a racionalidade 
substantiva, para alcançar enfim um bem coletivamente planejado, viável e 
sustentável a médio e longo prazo (GONDIM; FISCHER; MELO, 2006, p.4). 
 
Assim, a gestão social é um reflexo das práticas e do conhecimento construído 
por muitas disciplinas, delineando-se uma proposta multiparadigmática e de natureza 
interdisciplinar. Como as ações mobilizadoras partem de múltiplas origens e têm muitas 
direções, as dimensões teórica e prática estão emaranhadas, “aprende-se com as 
práticas, e o conhecimento se organiza para iluminar as práticas” (FISCHER et. al. , 
2006, p.797). 
Essa perspectiva é reforçada por Carvalho (2001, p.14) que define gestão social 
como “a gestão das demandas e necessidades dos cidadãos”. Para ela a política social 
não é apenas um canal dessas necessidades, mas respostas à elas, já que as políticas 
públicas são concebidas pelo Estado, mas nascem na sociedade civil. 
A autora considera que os movimentos sociais, novos atores que emergiram em 
contrapartida ao enfraquecimento do protagonismo da classe trabalhadora frente à 
transformação produtiva recente, deslocaram para a sociedade civil um papel central na 
definição da agenda política dos Estados, alargando e revitalizando a esfera pública. 
Consideradas as resistências e ambigüidades, ressalta Carvalho (2001), as 
organizações do terceiro setor possuem características valorizadas pela gestão social, 
quais sejam: (1) capacidade de articular múltiplas iniciativas; (2) capacidade de 
estabelecer parceria com o Estado na gestão de políticas públicas; e (3) capacidade de 
estabelecer redes locais, nacionais ou mundiais. 
Assim, a gestão social estaria ancorada numa parceira entre Estado, sociedade 
civil e iniciativa privada e num valor social, a solidariedade, tendo como premissas e 
estratégias subjacentes: 
1. o direito social; repúdio ao clientelismo e valorização de uma pedagogia 
emancipatória. “Potencializa talentos, desenvolve a autonomia e fortalece 
vínculos relacionais capazes de assegurar inclusão social”; 
2. um novo equilíbrio entre universal e focal; objetiva buscar respostas às 
demandas das minorias e às questões mais universais, como a luta contra a 
pobreza; 
3. transparência nas decisões; na ação pública, na negociação e na participação, 
transparência seria a base da ética; 
 
  8
4. avaliação; espera-se controles menos burocráticos e mais eficiência, eficácia e 
efetividade (CARVALHO, 2001, p. 17). 
Assim, para Carvalho (2001), a gestão social deve ser estratégica no sentido de 
sua operacionalização. Em concordância com a autora, Perret et al. (2009) e Dowbor 
(1999) consideram que as parcerias, as redes e a descentralização são formas para 
operacionalizar a gestão social. Para estes autores, as tendências recentes da gestão 
social, a partir da descentralização política e a mudança de eixo de desenvolvimento 
para o local, forçam-nos a pensar novas formas de organização social, de relação entre o 
político, o econômico e o social, a desenvolver pesquisas combinando diversas 
disciplinas e a ouvir tanto atores estatais como empresariais e comunitários. 
Assim, realmente trata-se de um universo em construção. Além de uma área, 
composta de setores como saúde, educação, habitação, etc., o social constitui uma 
dimensão de todas as outras atividades, uma forma de fazer indústria, uma forma de 
pensar desenvolvimento urbano, uma forma de tratar os rios, uma forma de organizar o 
comércio (DOWBOR, 1999). 
A partir deste levantamento teórico-conceitual é que se pretende apontar alguns 
aspectos que se conformam fundamentais para o campo, os princípios norteadores da 
gestão social. 
 
3. PROSPECTANDO ALGUNS PRINCÍPIOS DA GESTÃO SOCIAL 
Nesta seção serão analisados alguns aspectos teóricos apresentados pelos autores 
citados na seção anterior, com relação ao conceito de gestão social. O objetivo é discutir 
tais aspectos de modo a extrair os princípios que orientam o debate sobre o tema. 
Inicialmente, partindo das considerações dos autores, foi possível construir uma 
tabela de características idealmente tipificadas dos três tipos de gestão mencionados: a 
gestão privada (estratégica), a gestão pública e a gestão social. 
 
Quadro 1 – Tipos de gestão e suas características 
Categorias de 
Análise Gestão Estratégica Gestão Pública Gestão Social 
Objetivo Lucro Interesse Público Interesse Coletivo de Caráter Público 
Valor Competição Normativo Cooperação Intra e Interorganizacional 
Racionalidade Instrumental Burocrática Substantiva/comunicativa 
Protagonistas Mercado Estado Sociedade Civil Organizada 
Comunicação Monológica, vertical, com restrição ao direito de fala 
Monológica/Dialógica, vertical 
com algumas horizontalidades; 
em tese sem restrição à fala 
Dialógica, com pouca ou nenhuma 
restrição ao direito de fala 
Processo 
decisório Centralizado/ top down 
Centralizado com possibilidade 
de participação (bottom up) 
Descentralizado, emergente e 
participativo/surge como construção 
coletiva 
Operacionalização Estratégica, com foco em indicadores financeiros 
Estratégica, com foco em 
indicadores sociais 
Social, com foco em indicadores 
qualitativos e quantitativos 
Esfera Privada Pública Estatal Pública Social (França Filho) x qualquer esfera (Tenório; Dowbor) 
Autonomia e 
poder 
Há diferentes graus de 
coerção e submissão 
entre os atores envolvidos 
Há coerção normativa entre os 
atores envolvidos 
Não há coerção, todos têm iguais 
condições de participação (Tenório) x 
As relações de poder restringem a 
capacidade de cada um se 
posicionar no debate (Fischer et al; 
Godim, Fischer e Melo) 
Fonte: elaborado pelos autores. 
 
  9
 
O quadro síntese elaborado acima expressa visualmente as principais categorias 
de análise encontradas na revisão da literatura. Para cada categoria, ao se descrever o 
que os autores defendiam em termos de gestão social, optou-se por fazer um paralelo 
em relação aos outros dois tipos de gestão: estratégica e pública, uma vez que ambos os 
tipos eram – ainda que implicitamente – relembrados, ainda que interdiscursivamente, 
para se resgatar ou se contrapor às idéias de gestão social. Destas 9 categorias de 
análise, 2 delas – esfera e autonomia/poder – não foi possível extrair claramente um 
princípio, pois as mesmas apresentaram divergências conceituais acentuadas na revisão 
da literatura. Deste modo, optou-se por tratá-las na seção seguinte, como limitações. 
 
3.1 Objetivo 
Uma das primeiras características apontadas no que tange à gestão social refere-
se ao seu objetivo. Este debate permeou quasetodas as discussões apresentadas, apesar 
de algumas divergências de perspectivas. França Filho (2008) considera que a gestão 
estratégica diferencia-se da gestão pública quanto à natureza dos objetivos, o bem 
privado e o bem público, respectivamente. Como ressalta este autor, trata-se de uma 
diferenciação feita a princípio, não considerados os possíveis desvios. 
Por se tratar de uma nova forma de gestão – pelo menos assim a defendem os 
seus autores – a gestão social visa preencher uma lacuna entre as alternativas do lucro, 
representada pelas organizações privadas, e aquelas de interesse público, representadas 
pelo aparelho institucional do Estado. Nesse sentido, a gestão social, caracterizada pelo 
objetivo de servir ao interesse coletivo de caráter público, difere-se das demais não só 
pelo foco no interesse coletivo, mas, sobretudo, pela sua não vinculação ao aparelho e 
aos mecanismos institucionais da máquina burocrática estatal, ou seja, pela sua auto-
realização. Daí segue-se o 1º princípio: 
P1: A gestão social tem como objetivo o interesse coletivo de caráter público 
auto-realizado. 
 
3.2 Valor 
Tendo o eixo axiológico como elemento subjacente àquela finalidade, a gestão 
social parte das novas formas de solidariedade enraizadas no sentido ou zona de 
proximidade (física e simbólica) como elementos centrais e estruturadores de seu raio 
de ação coletiva. Essas formas de solidariedade, por sua vez, se contrapõem àquelas que 
embasam a da iniciativa privada (solidariedade orgânica) e a da gestão pública do 
aparelho do Estado (solidariedade mecânica). Embora esta classificação seja arbitrária e 
questionável – dado que nenhuma ação é integralmente racional (instrumental ou 
substantiva) nem irracional (tradicional ou afetiva) – supõe-se aqui que ela sirva para 
ilustrar de maneira clara as diferenças entre cada tipo de gestão, contribuindo assim para 
o exercício aqui proposto. 
Na tradição de análise durkheimiana sobre os tipos de solidariedade nas 
sociedades, vê-se que quanto maior a divisão e especialização do trabalho, mais elevado 
tende a ser o nível de solidariedade, sendo que a solidariedade mecânica representaria 
aquela referente a pouca ou nenhuma reciprocidade entre os atores/ elementos 
envolvidos (ex.: proprietário e seus bens), enquanto que a do tipo orgânica estaria 
associada a uma maior reciprocidade (ou densidade moral e material) 
(QUINTANEIRO, 2003). 
Nas sociedades modernas, enquanto as organizações públicas possuem um valor 
normativo porque impõe certos padrões mecanicamente associados a estrutura da 
máquina burocrática – que implica numa rígida divisão do trabalho - as organizações 
 
  10
privadas operam com alta divisão do trabalho, por isso mesmo, com elevado grau de 
interdependência entre seus membros (i.e. densidade moral e material), embora 
recorram aos mecanismos coercitivos para fazer valer o bom funcionamento dessa 
divisão e acoplagem. Mas, é nas organizações da sociedade civil organizada em que a 
densidade moral e material, que a gestão social pode atingir seu ápice, pois incrustada 
na esfera pública, e valendo-se de pouca ou nenhuma capacidade de coação, as ações 
sociais deveriam se pautar num maior vínculo de reciprocidade e complementaridade, 
visando à manutenção do bem comum ou do que Tocqueville (1998)iii chamou de 
interesse coletivo bem compreendido. Então, colocamos como 2º princípio que: 
P2: A orientação de valor da gestão social é o interesse público bem 
compreendido. 
 
3.3 Racionalidade 
Os autores discutem também o que França Filho (2008) considera como 
problemáticas da sociedade e da gestão. Quanto à problemática da sociedade, a gestão 
social seria a gestão das demandas e necessidades do social. Sob esta perspectiva pode-
se apontar as preocupações de Carvalho (2001, p.14), pois, para a autora, “[...] a gestão 
social é, em realidade, a gestão das demandas e necessidades dos cidadãos”. A autora, 
contudo, não deixa de mencionar uma preocupação com a forma de gestão dessas 
demandas. 
Quanto à problemática da gestão, a subordinação de lógicas instrumentais a 
outras mais sociais, Fischer et al. (2006) e Dowbor (1999) preocupam-se com os 
processos, os meios pelos quais resultará a tomada de decisão, que para os autores deve 
advim de parcerias intra e intereorganizacionais. Nesse sentido, abre-se espaço para o 
questionamento de que tipo de racionalidade deveria pautar a condução da ação 
organizacional. 
França Filho (2003, p.3) defende que: 
“[...] a gestão social pode ser pensada também com um modo de orientação 
para uma ação organizacional. Ela diz respeito, portanto, a uma forma de 
gestão organizacional que do ponto de vista de sua racionalidade pretende 
subordinar as lógicas instrumentais a outras lógicas mais sociais, políticas, 
culturais ou ecológicas” (FRANÇA FILHO, 2003, p.3). 
 
Fischer et al. (2006) abordam a questão a partir da racionalidade assumida pelo 
modo de gestão. Enquanto a gestão estratégica privilegia a racionalidade instrumental, a 
gestão social está pautada numa racionalidade substantiva. Estes autores vão além, ao 
considerarem que o agir substantivo supera o estratégico, pois o primeiro visaria o 
consenso pelo diálogo, dando voz a todos os atores envolvidos, acorde com a cidadania 
deliberativa. Deste modo, a gestão social poderia ocorrer não somente no seio da 
sociedade civil, à semelhança de Tenório, mas em qualquer sistema social que assume 
tal posicionamento. 
Outra visão importante é a de Tenório (2008), que argumenta que a gestão social 
deve subordinar a lógica instrumental de gestão a um processo gerencial decisório 
deliberativo, dialógico, enquanto busca atender às necessidades da sociedade. Ou seja, 
nesse sentido, o autor desloca para o processo decisório o status de legitimação ou não 
da racionalidade inerente à gestão social. Para ele, esta racionalidade seria a 
racionalidade comunicativa tal como proposta por Habermas, pois segundo Tenório 
(2008), esta seria a condição mais adequada para se tratar das questões da esfera pública 
em uma democracia. 
Vale ressaltar que Fischer (2002) demonstra, também, sua preocupação com a 
sociedade, quando assume a gestão social como a gestão do desenvolvimento social. 
 
  11
Mas, esta autora pondera que também é necessário assegurar a efetividade em termos de 
resultados da gestão social. Ou seja, a gestão social precisa de parâmetros, os quais 
devem servir de base para avaliar o seu grau de atendimento aos objetivos propostos, da 
melhor maneira possível e com o maior grau de satisfação/retorno do público alvo 
possível (efetividade). Desta perspectiva compartilha também Dowbor (1999), ao 
sugerir que a gestão social é uma “forma de fazer”, e pode estar presente como 
dimensão de outras atividades. Esta análise permite-nos extrair indícios de que a 
eficácia, a efetividade e a eficiência da gestão não devem ser suprimidas, mas o 
processo pelo qual elas serão alcançadas deve ser participativo, dialógico e inclusivo. 
Assim, propor-se aqui o 3º princípio: 
P3: A gestão social deve subordinar a lógica instrumental a um processo 
decisório deliberativo, enquanto busca atender às necessidades do dado 
sistema social. 
 
3.4 Protagonistas 
Para a gestão social o protagonista é a própria sociedade, pois ela é o ator social 
central neste tipo de gestão, que deve se dar para e pela sociedade. O que se propõe não 
é a exclusão do Estado ou do setor privado como gestores sociais, mas a inclusão da 
sociedade e das diversas formas de organização intra e intersetoriais. 
É neste sentido que para França Filho (2003) a gestão de demandas e 
necessidades do social pode ocorrer pela própria sociedade, através da auto-
organização. O que é sugerido é uma ampliação de forças, ou melhor, uma articulação 
de forças, não restritas somente ao Estado e sim geridas por diferentessujeitos sociais. 
Por sua vez, Tenório (2008) considera que um gerenciamento mais participativo, 
dialógico, onde todos têm direito à fala sem coerção, anuncia a possibilidade de 
inversão do protagonismo do Estado na relação Estado-sociedade e de construção de 
parcerias entre a sociedade civil organizada, o setor privado e o Estado. 
Já Godim, Fischer e Melo (2006) consideram que a gestão social se efetivaria na 
articulação de valores, na elaboração de normas e no seu questionamento por todos os 
atores em interação social. Mas, para que tais interações, articulações e parcerias 
possam ocorrer é que Carvalho (2003) defende uma “pedagogia emancipatória”, pois 
ela “potencializa talentos, desenvolve a autonomia e fortalece vínculos relacionais 
capazes de assegurar inclusão social” (2001, p.17). Assim, como 4º princípio temos: 
P4: A gestão social tem como protagonista a sociedade civil organizada, mas 
envolve todos os atores sociais, organizacionais e institucionais de um 
dado espaço. 
 
3.5 Comunicação 
Os processos de comunicação tendem a se diferenciar segundo tipo de gestão em 
que eles ocorrem. De fato, parece existir evidências de que sejam inclusive esses 
processos diferenciados que sustentem a própria diversidade desses tipos de gestão, pois 
eles apresentam maior ou menor possibilidade de participação aos atores envolvidos, 
levando assim a uma maior ou menor restrição em termos de ação social no enclave em 
que está inscrito e entre esses enclaves. 
Ao passo que as formas de comunicação estratégica e pública estatal tendem a 
ser monológicas e verticalizadas, com algumas horizontalidades no caso desta última; a 
forma de comunicação na gestão social tende a ser dialógica, uma vez aceito os 
princípios habermasianos sobre os quais se fundam a racionalidade comunicativa e, 
estando pressuposto que este tipo de racionalidade guiaria a ação na esfera da gestão 
social. 
 
  12
É importante ressaltar aqui que a gestão social seria o único enclave onde o 
processo de comunicação ocorreria, de modo pressuposto, de forma dialógica, havendo 
assim a participação efetiva dos diferentes atores no processo interacional de 
comunicação. Além disso, esse processo dialógico pressupõe igualmente o amplo 
direito a fala, sem coerção, o que não aconteceria nos demais tipos de gestão em função 
da posse dos recursos concentrar-se nas mãos de um grupo que, por sua vez tenderia a 
diminuir a influência dos demais grupos no processo de gestão e uso desses recursos. 
Dessa forma, enuncia-se como 5º princípio que: 
P5: A gestão social é um processo participativo, dialógico, consensual. 
 
3.6 Processo decisório 
O processo decisório na gestão estratégica é centralizado na figura do gestor, no 
detentor do meio de produção ou naquele por ele designado para gerir. Obedece a uma 
hierarquia, quanto mais alto o nível hierárquico mais autoridade decisória, quanto mais 
baixo o nível hierárquico menor a autoridade decisória. 
Durante a década de 1990, a gestão pública brasileira passou por um processo de 
reforma administrativa, onde se propôs uma Nova Gestão Pública (PEREIRA; SPINK, 
1998). Uma das principais medidas assumidas pela reforma foi a descentralização 
administrativa, que consistiu na delegação de autoridade decisória para níveis mais 
regionais e locais. Mas, ainda sim as atividades permaneceram concentradas no setor 
público como afirmam os críticos sem ... 
Já na gestão social, o processo decisório é descentralizado e a participação e o 
diálogo sem coerção são determinantes para a construção do consenso coletivo. Tenório 
esclarece que “acorde com o agir comunicativo (dialógico), a verdade só existe se todos 
os participantes da ação social admitem sua validade, isto é, verdade é a promessa de 
consenso racional ou, a verdade não é uma relação entre o indivíduo e a sua percepção 
do mundo, mas sim um acordo alcançado por meio da discussão crítica, da apreciação 
intersubjetiva” (1998, p.126). 
Ao mencionar “todos os participantes da ação social” adiciona-se outro elemento 
característico do processo decisório da gestão social, a participação. O mesmo autor dá 
ênfase a este elemento, pois para ele quando se deseja dizer que a gestão social deve ser 
praticada como um processo intersubjetivo e dialógico, os princípios da inclusão e do 
pluralismo devem orientar a prática. E vai além, utilizando o conceito de cidadania 
deliberativa, visando sintetizar as múltiplas formas de participação e comunicação da 
gestão social, o qual inclui outros princípios ainda mais democratizantes como a 
igualdade participativa e a autonomia: “a legitimidade das decisões deve ter origem em 
processos de discussão, orientados pelos princípios da inclusão, do pluralismo, da 
igualdade participativa, da autonomia e do bem comum.” (TENÓRIO, 2008a, p.41) 
Gondim; Fischer; Melo, (2006, p.4) sintetizam: “(gestão social é) um ato 
relacional capaz de dirigir e regular processos por meio da mobilização ampla de atores 
na tomada de decisão, que resulte em parcerias intra e interorganizacionais, valorizando 
as estruturas descentralizadas e participativas (...)”. Assim, temos como 6º princípio: 
P6: A gestão social se materializa pela deliberação coletiva alcançada pelo 
consenso possível gerado pela argumentação livre. 
 
3.7 Operacionalização 
Na gestão privada a gestão estratégica utiliza-se de indicadores financeiros para 
mensurar se os rumos esperados pela gestão estão sendo seguidos, por exemplo, a 
estratégia pode ser alavancar as vendas de determinado produto ou fidelizar clientes, 
 
  13
sendo assim, determinados indicadores financeiros serão determinantes para avaliar o 
grau de acerto/erro da gestão. 
Já na gestão pública, no contexto na Nova Gestão Pública, a gestão passou a ser 
estratégica, pois há objetivos a serem alcançados, prazos a serem cumpridos e medidas 
de controle dos resultados, porém, como os objetivos não são financeiros e sim sociais, 
o foco da gestão são os indicadores sociais. 
Carvalho (2001) considera que a gestão social deve ser estratégica, na medida 
em que deve ser eficiente, eficaz e efetiva. A autora, porém, acredita que as parcerias 
entre Estado, sociedade e mercado são as formas capazes de operacionalizar a gestão 
social, o que pressupõe participação e diálogo. Neste ponto Fischer aproxima-se da 
abordagem de Carvalho, ao mencionar que a gestão social deve se orientar pela busca 
do equilíbrio entre a racionalidade instrumental e a racionalidade substantiva, “para 
alcançar um bem coletivamente planejado, viável e sustentável a médio e longo prazo”. 
Outro aspecto recorrente do debate relativo às vias de operacionalização da 
gestão são as parcerias e a intersetorialidade. Para França Filho, a gestão social sugere 
que para além do Estado, a gestão das demandas do social pode ocorrer pela própria 
sociedade, através de variadas formas de auto-organização. Segundo Tenório, gestão 
social pressupõe diálogo e tomada de decisão compartilhada entre os atores, pois para 
ele todos são capazes de pensar sua experiência e produzir conhecimento. Neste sentido, 
a proximidade entre autoridade pública e a população se configura como uma premissa 
para o desenvolvimento local por meio de decisões deliberativas. Para ele, inclusive, 
uma maior eficiência governamental está associada a transformações na dinâmica de 
gestão e ao fortalecimento de práticas mais participativas. 
Gondim, Fischer, Melo definem gestão social como um ato relacional, que 
resulte em parcerias intra e interorganizacionais que visam o bem coletivo. A 
intersetorialidade na gestão social, para Fischer, não se resume às práticas, mas se 
estendem ao conhecimento, construído por muitas disciplinas, multiparadigmático e 
interdisciplinar. Como aponta Carvalho (2001), a gestão social estaria ancorada numa 
parceria entre Estado, sociedade civil e iniciativaprivada. Dowbor (1999) considera que 
novas formas de pensar a organização social podem partir da relação entre o político, o 
econômico e o social, bem como do desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares. 
Por fim, como 7º principio, propor-se que: 
P7: As parcerias e redes intersetoriais, tanto práticas como de conhecimentos, 
são formas de pensar e operacionalizar a gestão social. 
 
Assim, tentando sintetizar a discussão realizada até aqui, elencamos sete 
princípios sobre gestão social: 
P1: A gestão social tem como objetivo o interesse coletivo de caráter público. 
P2: A orientação de valor da gestão social é o interesse público. 
P3: A gestão social deve subordinar a lógica instrumental a um processo decisório 
deliberativo, enquanto busca atender às necessidade do dado sistema social. 
P4: A gestão social envolve todos os atores sociais, organizacionais e institucionais de 
um dado espaço. 
P5: A gestão social é um processo participativo, dialógico, consensual. 
P6: A gestão social se materializa pela deliberação coletiva alcançada pelo consenso 
possível gerado pela argumentação livre. 
P7: As parcerias e redes intersetoriais, tanto práticas como de conhecimentos, são 
formas de pensar e operacionalizar a gestão social. 
Tendo em vista esta discussão, ainda é possível notar pontos de desencontro 
entre os autores, os quais serão discutidos em seguida. 
 
  14
 
4. LIMITAÇÕES DO ESTUDO 
A identificação de alguns princípios norteadores do conceito de gestão social 
não exime o campo de algumas limitações conceituais e práticas. A partir de uma 
análise teórica das idéias trazidas neste trabalho é possível visualizar pontos em que as 
perspectivas não só se diferem, mas se divergem. 
Um dos desencontros verificados refere-se à esfera de atuação da gestão social, 
que para França Filho (2008) seria a esfera pública não estatal, mais exatamente, a 
gestão social seria própria das organizações da sociedade civil. Para os demais autores 
analisados, como Tenório (2008), entretanto, ela pode ocorrer em qualquer tipo de 
sistema social, a depender do grau de participação, diálogo e deliberação envolvidos. 
Essa diferença de perspectiva remete a discussão a um olhar epistemológico, pois 
enquanto França Filho (2008) aborda a questão a partir de uma perspectiva da 
antropologia e sociologia econômica enquanto Tenório (2008) busca seu arcabouço 
teórico nas idéias dos teóricos da segunda fase da escola de Frankfurt, mais 
especificamente, em Habermas. Enquanto a primeira vertente coloca ênfase no enclave 
como elemento distintivo das práticas de gestão social, esta última acentua o caráter 
dialógico do processo decisório e de deliberação, tentando flexibilizar e transportar as 
idéias de gestão social para as organizações econômicas e estatais. 
O debate não está encerrado, mas diante dessas duas colocações é preciso 
perguntar: se a gestão social nasce de um novo fenômeno contemporâneo, a saber, as 
novas formas de solidariedade e sociabilidade de uma esfera distinta entre o mercado e 
o Estado – como a economia solidária – como fazer com que este conceito transpasse os 
limites dessa esfera? Seria pertinente falar em novas formas de solidariedade na gestão 
privada? Porque motivo ela teria interesse nisso? Por outro lado, se a essência e 
centralidade da gestão social residem no processo dialógico, como este processo pode se 
manter em distintas esferas, mesmo sob uma possível coerção hierárquica que exista em 
um dado enclave (ex.: mercado), sem perder suas características? 
Outro ponto de diferença, mas complementar ao anterior, diz respeito ao 
consenso racional. Tenório considera que o espaço da gestão social é o espaço das 
relações sociais onde todos têm direito à fala, sem coação. Isso implica desconsiderar ou 
tomar como fator pouco expressivo as disputas que os atores travam em um 
determinado campo pela posse e legitimidade da posse – manifestada por uma 
determinada ordem – dos recursos que estão em jogo. Dito de outro modo, a análise 
habermasiana da racionalidade comunicativa na esfera pública, ao supor que todos os 
atores têm igual poder de fala ou acesso a persuasão dos demais por meio do melhor 
argumento, desconsidera as inúmeras matizes dos diferentes graus de desenvolvimento 
intelectual, social, cognitivo, moral e até mesmo as circunstâncias contextuais 
(socioespaciais) de uma determinada época que molduram as possibilidades de dizer 
algo, o que traz implicações diretas na colocação real desses conceitos em prática. 
Por outro lado, autores como Godim, Fischer e Melo (2006) reconhecem e 
incluem a dimensão do poder em suas análises sobre gestão social, considerando essa 
esfera pública social de uma maneira mais plural, complexa e difícil de ser trabalhada, 
uma vez que se deve tentar levar em conta os interesses, muitas vezes antagônicos, de 
diversos atores que estão inscritos num mesmo enclave. Assim, por serem em boa 
medida ambíguos e contraditórios, esses interesses devem ser negociados coletivamente 
tentando se chegar a uma zona de sentido comum (REY, 2005), que possibilite um 
razoável grau de consenso, mas não (talvez nunca) unanimidade. 
 
  15
Há na gestão pública uma coerção normativa sobre os atores devido ao estatuto 
jurídico de representação legal do Estado que se impõe sobre a ação social e 
organizacional, tanto intra quanto interorganizacionalmente. Intraorganizacionalmente 
no que tange a limitação das possibilidades de ação às quais se restringe o gestor 
público e demais servidores estipuladas pela legislação. Ou seja, só se pode fazer o que 
está prescrito na lei, não havendo espaço para criação ou ação para o não previsto. 
Interorganizacionalmente na medida em que as relações da máquina pública com os 
demais tipos de organização devem se pautar pelos mesmos princípios, mantendo assim, 
simetricamente em relação a ação individual, cujas possibilidades são restritas. 
Porém, se ambas as coerções normativas (tanto intra quanto interorganizacional) 
ocorridas nas formas de gestão acima se voltam para o interesse público, assumindo 
posturas mais autônomas em relação a ação do indivíduo e com a dimensão do poder 
centrada na capacidade de extensão (em maior ou menor grau) da apropriação e gestão 
coletiva dos bens (comuns), no caso da gestão privada há diferentes graus de coerção e 
submissão entre os atores envolvidos, o que impede e restringe a participação de alguns 
deles tanto na comunicação quanto no processo decisório. 
Assim, enquanto Tenório (2008) defende que todos são capazes de pensar sua 
experiência, e assim produzir conhecimento, através da participação, da ação dialógica, 
seria possível conquistar o consenso racional, Fischer (2002) salienta que quando se 
discutem as formas de realizar o desenvolvimento local e social – entendendo-os como 
um bem comum – aparecem divergências de entendimento, o que implica que a 
conformação de organizações intersetoriais não se dá sem simetrias, conflitos e colisões 
de interesses. Para lidar com essas questões Gondim, Fischer e Melo (2006) sugerem 
que o desafio demanda competência do gestor social é conciliar os interesses diversos. 
Esses são alguns pontos aqui levantados, mas uma análise ainda mais minuciosa 
de outros textos e autores, cremos, poderia revelar ainda outras limitações. Estes 
apontamentos não têm o objetivo de criticar os autores, tampouco o campo de estudos, 
apenas apontar aspectos aos quais merece ser dedicada maior atenção, visando seu 
fortalecimento enquanto campo de estudos e práticas. 
 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Retomando o objetivo central deste ensaio, que foi o de realizar um 
levantamento teórico, indutivo, acerca do conceito de gestão social em diferentes 
abordagens no cenário nacional de modo a identificar, pode-se afirmar que foi possível 
identificar a existência de 7 princípios constituintes do conceitode gestão social, 
independente da abordagem ou vertente específica de análise. É preciso ressaltar que 
esta análise tem um caráter preliminar e indutivo, o que limita a sua capacidade de 
abrangência em termos de achados, devendo ser seguida de outros estudos que 
verifiquem, validem e/ou corrijam eventuais erros nos achados aqui presentes, assim 
como busquem a ampliação do quadro analítico referencial a fim de possibilitar um 
levantamento mais sistemático e completo. 
Se, por um lado, o termo gestão social é um conceito em construção, e como tal, 
ainda apresenta inconsistências e carece de definições mais sólidas, isso parece se dever 
a diversidade e assistematicidade nas formas em que o mesmo é empregado, tendendo a 
dizer coisas muito diferentes dependendo do contexto em que é utilizado. Por outro 
lado, uma reflexão sobre os elementos intrínsecos ao conceito – como a que foi aqui 
proposta – nos leva ao estabelecimento de bases referenciais, independente da 
abordagem em que se pensa o conceito, o que pode ser potencialmente útil no 
estabelecimento de bases consensuais sobre o termo e na sua consolidação. 
 
  16
Assim, ao apresentarmos os 7 princípios que identificamos como basilares do 
conceito de gestão social, buscamos não somente contribuir para a delimitação mais 
precisa do conceito, como do próprio campo, e com isso ajudar a inscrevê-lo em um 
campo específico e próprio de atuação. É claro que tal delimitação e circunscrição 
também limitam o próprio raio de ação das práticas de gestão social, mas acreditamos 
que essa perda em termos de amplitude seja superada face a profundidade adquirida em 
termos de compreensão e análise integral do termo e de suas práticas nos contextos em 
que lhe são específicos. 
Destarte, cumpre-nos explicitar a própria limitação deste texto, pois como 
mencionado, este trabalho é uma tentativa preliminar, e assim sendo não esgota, mas 
pelo contrário pressupõe a continuidade de estudos nessa direção de tentar consolidar 
abordagens e conceitos identificados a partir da análise dos textos dos pesquisadores da 
área. Ressaltamos igualmente que em nossa análise alguns aspectos podem não ter sido 
contemplados em sua acepção ou totalidade como propostos pelos autores, por isso 
desejamos a continuidade do debate a fim de aparar as arestas e avançar na constituição 
do campo, que esteja vinculado à construção de um corpo teórico mais denso e 
estruturado, de modo que teoria e prática se consolidem e desenvolvam mutuamente. 
 
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ii O raciocínio de síntese baseado nessa abordagem indutiva funda-se substancialmente na perspectiva da 
análise fenomenológica estrutural proposta por Mucchielli (1983). 
iii O conceito de interesse bem compreendido “representa um sentimento comum segundo o qual a 
promoção do bem-estar coletivo refletirá na promoção do bem-estar individual. A lógica do interesse bem 
compreendido permitia que se destinasse aos cidadãos a responsabilidade pela administraçãode uma série 
de problemas locais, estimulando a participação política via ação conjunta e reforçando os laços de 
interdependência entre os indivíduos”. GAHYVA (2006, p. 560). 
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