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Questionário 1 de EBC UFF

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Universidade Federal Fluminense
Disciplina: Economia Brasileira
Quais os fatores que explicam a rápida ascensão da produção industrial, que passa a ser o fator dinâmico principal no processo de criação da renda nos anos de 1930?
A produção brasileira era voltada para o comércio exterior, logo, a economia estava dependente da demanda dos países centrais por exportações. Sendo assim, no período da Grande Depressão, toda a produção brasileira que era concentrada praticamente no café entra em colapso, tinha-se um cenário de grandes estoques encalhados, pois o país chegou a produzir mais café do que o necessário para atender o consumo mundial. O preço acaba entrando em queda, fazendo com que o governo atue comprando café e desvalorizando o câmbio para tentar proteger o setor cafeeiro e manter o nível de renda, produto e emprego. Com isso, o processo de desenvolvimento do Brasil é fragilizado por ser tão dependente da situação externa e o setor agrário-exportador já não é mais o suficiente para ser a principal fonte de geração de renda do país. O setor industrial já existia porque o setor exportador deu condições para que a indústria iniciasse, porém, era algo básico e sem muito potencial de expansão. Encontra-se em uma situação onde é preciso fazer com que o setor industrial seja capaz de atender a demanda interna e prosseguir com o desenvolvimento. As importações também sofrem e então, começa o processo de substituição de importação (PSI) devido ao estrangulamento externo, trazendo como medida o encarecimento dos produtos importados para estimular a competitividade e a rentabilidade da produção doméstica por meio da desvalorização do câmbio. O investimento nos setores de PSI cresce rapidamente, fortalecendo a produção interna do que antes era importado e aumentando a criação de renda e a demanda. O governo passa a ter maior atuação fazendo políticas econômicas para manter o PSI, há um aumento na participação empresarial e muitos produtores cafeeiros se tornam industriais para manter seu patrimônio. Concluindo, antes de 1930 o setor industrial crescia de acordo com o crescimento e diversificação do setor agrário-exportador, a partir da década de 1930, o produto e a renda, que estavam em queda por causa da crise do setor exportador, voltam crescer por causa dos setores voltados ao mercado interno.
Qual é o significado para Cardoso de Mello da passagem do “modelo de crescimento para fora” ao “modelo de crescimento para dentro” no paradigma cepalino?
Para Cardoso de Mello a economia cafeeira consegue criar condições básicas para a criação das indústrias e do capital industrial, porque proporciona três fatores importantes: 1) gerar, previamente, uma massa de capital monetário, concentrada nas mãos de determinada classe social, passível de se transformar em capital produtivo industrial; 2) transformar a própria força de trabalho em mercadoria; 3) promover a criação de um mercado interno de proporções consideráveis. Mas o autor aponta que a industrialização teria como ponto de partida o setor de bens-salários e não pelo setor de produção. Mas quando a industrialização é apenas gerada por meio do crescimento das exportações que cria aumento de renda, depare-se com dificuldades impostas pelo aumento dos mercados derivados do setor exportador, pois quando são previamente ocupados, faz com que a atividade industrial demore a ganhar força. É isto que a CEPAL considera como a passagem do “modelo de crescimento para fora” ao “modelo de crescimento para dentro”. Necessita-se cumprir condições para garantir que isso aconteça, caminhando o setor industrial de bens de consumo básicos para o setor de bens de capital. Ao analisar o tamanho do mercado da América Latina, vê que ao ter a industrialização intensiva sem ter indústrias de bens de capital, precisa importar os equipamentos necessários de países mais desenvolvidos. Cardoso de Mello não vê que a industrialização dos países da América Latina é uma industrialização capitalista, porque mesmo que o mercado agrário-exportador tenha permitido a criação de um setor industrial básico, não permitiu a criação de forças produtivas capitalistas, que é a produção que gera um processo de acumulação capitalista que cria condições para a reprodução do capital. Sendo assim, ao tomar o paradigma cepalino está assumindo que a industrialização dos países da América Latina é uma industrialização capitalista.
Explique o processo de substituição de importação.
O processo de substituição de importação foi a passagem do foco em economia agrária-exportadora para economia industrial. Tinha como base o controle de exportações e o caráter protecionista, pensando no desenvolvimento interno e na busca pela independência do mercado externo. Antes, o Brasil dependia quase que exclusivamente da exportação para fomentar sua renda, com a Grande Depressão que desestabilizou o mercado externo, começou a trocar a fonte de renda principal do país para o setor industrial interno, onde os produtos base, que anteriormente eram importados, passaram a ser produzidos internamente. Esse processo ganha força também com a Segunda Guerra Mundial, fazendo com que no período pós-guerra o Brasil tenha uma base econômica melhor do que os países da América Latina.
Explicite as principais mudanças setoriais e estruturais, e os desequilíbrios decorrentes deste modelo de crescimento adotado na economia brasileira no período que se estende do pós-guerra aos anos de 1970.
O processo de substituição de importação proporcionou a criação de indústrias de bens no país, ajudou a expandir o efeito multiplicador de renda, mas também causou dependência pelo mercado externo por causa da substituição de bens duráveis mais baratos por bens de capital. Tinha uma tendência ao desequilíbrio externo, dificultando a criação de divisas no país. Então, para resolver esse problema, o Brasil precisava de investimento externo de forma direta ou por meio de criação de dívidas externas. O Estado passa a ter maior participação na economia porque criou a necessidade de ter entidades capazes de direcionar o capital antes agrário para a indústria, além de que, foi preciso criar condições de infraestrutura básica. Todo esse crescimento do Estado acarretou na falta de fontes adequadas de financiamento, uso de recursos inflacionários e tendência ao déficit público. E essa falta de fontes adequadas de investimentos só piorou o quadro de endividamento externo. O PSI aumentou a concentração de renda porque os poucos detentores industriais tinham uma supremacia sobre o resto da população e tinham mais condições de investir em outros setores industriais que começaram a se desenvolver. Como o setor agrário já não estava mais sendo lucrativo, a população rural passa a migrar para o meio urbano, iniciando o processo de êxodo rural. Então, nas áreas urbanas a mão de obra acaba crescendo e não existia indústria para atender toda a procura por emprego, fazendo com que os empresários controlassem os preços dos salários de forma com que estes fossem baixos. O país passa por uma série de planos e reformas para controlar os problemas gerados pelo PSI e os surgimentos de novas crises, dentre eles o Plano de Metas e o PAEG, até chegar ao milagre econômico que causou um crescimento muito acelerado na economia no período de 1968-1973. O Milagre Econômico gerou desequilíbrios que levaram a problemas na balança de pagamentos e crescimento da inflação.
Explique o PAEG
Implementado por Castello Branco, o Plano de Ação Econômica do Governo foi criado para resolver a grande crise econômica de 1960, logo, seus objetivos eram frear e inflação, acelerar o desenvolvimento econômico, corrigir a tendência ao desequilíbrio externo, aumentar o investimento e reduzir os desequilíbrios regionais. Sendo assim, atuava fazendo políticas de combate à inflação, juntamente com reformas estruturais que tentavam contornar os problemas inflacionários e solucionar as dificuldades de manter ao crescimento econômico. 
Pelo lado de combate a inflação, houve uma serie de medidascomo políticas salariais, redução dos gastos do governo e aumento da receita, restrição ao credito por meio de aumento de taxa de juros. Para os problemas institucionais foram aplicadas a reforma tributária, reforma monetária e financeira e reforma do setor externo.
A industrialização brasileira desde meados dos anos 50 se baseou no tripé formado pelas empresas do Estado, do capital privado e do capital estrangeiro. Qual foi o papel desempenhado de cada uma delas no processo de desenvolvimento da economia brasileira neste período?
Com o PSI, o país tinha dificuldades para importar bens de produção, porque esta importação era prejudicada por causa de complicações cambiais. Sendo assim, foi preciso que a indústria brasileira começasse a fornecer os bens de produção para garantir a continuidade do desenvolvimento. O segundo governo Vargas chega com este objetivo e começou investindo os capitais públicos em setores estratégicos (siderúrgica, petróleo e eletricidade). Mas não foi só isso, o governo buscou com os EUA um acordo para conseguir empréstimos públicos. O Estado passa a montar ações para consolidar as indústrias de produção, sendo assim, além de fazer as políticas econômicas necessárias, passa a assumir o papel de financiador, responsável por organizar a infraestrutura necessária e ser o produtor de materiais necessários para as indústrias pesadas. As empresas dos setores estratégicos foram instaladas, sendo elas a Petrobrás, Vale do Rio Doce e Companhia Siderúrgica Nacional. O BNDE foi criado para ampliar a infraestrutura, as importações passaram a ser alocadas de acordo com os interesses industriais por meio da Instrução 70 da SUMOC, outra instrução da SUMOC importante foi a 113, onde foi permitido que as empresas com capital estrangeiro importasse os bens de capital. O governo de JK consolidou empresas dos setores naval, automobilístico e de material elétrico pesado, o investimento do Estado em infraestrutura aumentou e também ampliou a CSN, expandiu a Petrobrás colocando num patamar de monopólio nacional de petróleo e criou as empresas de aço, a produção de insumos também cresceu, o capital privado ganhou mais proteção e o setor de bens de capital foi ampliado. O capital privado brasileiro era concentrado nas indústrias de bens não-duráveis, logo, o aumento da demanda por esses produtos gerou benefícios para o capital privado nacional. A Instrução 113 consegue atrair mais capital estrangeiro em setores tecnológicos e melhora os problemas com balança de pagamentos, através da falta de cobertura cambial e isenções fiscais. Então, os setores industriais passam a ser divididos entre nacional e estrangeiro, onde o nacional cobre os bens de consumo não-duráveis, agindo como um complemento as indústrias internacionais que predominam sobre os setores de bens de consumo duráveis.
Segundo Serra (1982) a expansão do produto manufatureiro no período do pós-guerra apresentou tais inflexões mais agudas:
- (1962-1967): redução da taxa de crescimento industrial;
- (1967-1973): milagre econômico;
Sintetize estes ciclos do crescimento industrial.
Redução da taxa de crescimento industrial: Em 1962 o ritmo industrial começa a entrar em declínio. Pode-se atribuir que parte do motivo para o declínio foi consequência do enorme investimento, tanto do setor público quanto do setor privado, feito durante o Plano de Metas. Questões naturais também agravaram o declínio, como a seca em 1963. Sendo assim, o governo fez políticas de estabilização, dentre elas o Plano Trienal de 1963 que buscava estabilizar os preços, mas ao longo do tempo, tais políticas intensificaram e adiantaram a queda por parte da demanda. O problema inflacionário foi reflexo do agravamento do setor externo da economia no final da década de 1950, fazendo com que as políticas de ajustamento fossem mais defensivas, o que agravou ainda mais a situação e direcionou o Plano Trienal para uma linha contracionista. A inflação continuou a subir também por contribuições do declínio produtivo que gerava menos produtos em diversos setores, logo, preços mais altos. A produção agrícola também caiu por causa de complicações climáticas e a indústria elétrica começou a fazer racionamento de energia no Centro-Sul por causa da seca. A crise também se agravou devido à internalização parcial dos bens de capital, que fez com que o ritmo de investimento para o exterior sofresse com a desaceleração. Contudo, o investimento público não apresentou queda no período de 1962-1966, o que sustentou o investimento global. As mudanças sofridas pela economia estavam ligadas ao rápido crescimento da dívida pública, o alto nível de receita do setor público, que causaram leve desequilíbrio do capital estrangeiro e incentivo à exportação. As politicas de estabilização de preços e as de cunho ortodoxa feitas durante o regime militar tinham como objetivo eliminar o déficit fiscal, compressão de salários e aperto do crédito, que reduziram significativamente a inflação anual.
Milagre Econômico: O crescimento econômico começa a voltar quando as condições domésticas e externas se tornam propícias para isso. O comércio mundial volta a ganhar força, a liquidez internacional é uma marca do período. No lado doméstico, as reformas de combate à inflação feitas anteriormente não causam a retomada do crescimento econômico por serem de caráter contracionista, então, durante esse período, herdou-se uma capacidade ociosa. Mesmo não retomando o crescimento, as reformas trouxeram um ambiente de menos incerteza, porque seu objetivo principal foi alcançado. Então, o quadro de recessão passa a melhorar, pois agora já tem uma base para retomar o crescimento. O Governo passa a “relaxa” na política monetária que no período anterior estava mais rígida, amplia os meios de pagamentos e o país volta a investir nas estatais de siderúrgica, petróleo e energia. Todo o investimento nas estatais retorna para o país lucro suficiente para expandir a produção e aumenta a oferta de emprego, voltando a ter o crescimento econômico por meio da indústria. Com isso, o crescimento gera aumento de renda, principalmente nas classes superiores, onde a classe média um crescimento considerável.

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